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I. Regime aplicável
Só em 2018, com a Lei 13.709 (agosto), é que o Brasil passou a fazer parte dos países
que contêm uma legislação específica para a proteção de dados e para a privacidade dos
seus cidadãos.
A aprovação desta Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD ou LGPDP) vem, no
fundo, adaptar a realidade às necessidades que foram surgindo na última década,
alterando, assim, vários artigos do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), que regula
o uso da Internet no Brasil por meio da previsão de princípios, garantias, direitos e deveres
para quem usa a rede, bem como da determinação de diretrizes para a atuação do Estado.
Todavia, tendo em conta que, no Brasil, segundo dados de 2017/2018, foram apresentados,
nas Cortes brasileiras, cerca de 80 milhões de casos relacionados com IA que, há cerca de
16 dias, se apresentou o Projeto de Lei 50/51 que vem regular o uso da Inteligência
Artificial no Brasil.
Ora, se não existiam, até ao momento, regras especiais aplicáveis, cabia aplicar as regras
de responsabilidade objetiva, na medida em que, veja-se, se Robot não é uma pessoa,
não é possível que a estes seja imputada qualquer responsabilidade diretamente, tendo,
para tanto, que imputá-la a alguma pessoa.
Quanto a isto vem, o novo projeto de lei estabelecer que a responsabilizade cabe
supervisor da máquina, seja ele quem for. Embora, para a professora, a lei mais
importante continua a ser a Lei do consumidor.
Quanto a isto, começa a Professora Judith por definir o que deve ser considerado, para
efeitos da aplicação da Lei, como “defeito do produto”.
Ora, sendo que a responsabilidade não é da coisa, mas sim do produto da coisa, o
defeito do produto carateriza-se por ser um fator adicional ao risco, que é o fator de
imputação primário.
Numa comparação com o tabaco, uma vez que é apto a provocar riscos, deve este
considerar-se como defeituoso ou não?
Quanto a isto, afirma a Prof. Judith que, a Lei do Consumidor não pode, utopicamente,
proteger o risco, isto porque, é algo normal em tudo. É, aliás, por esta razão que os
artigos 8º e 9º, falam em riscos que legitimamente, ou seja, em razão da segurança, são
expetáveis. Isto numa dicotomia entre perigosidade inerente (normal e previsível),
ligada a um problema de informação, em primeira linha, aos limites deste dever de
informação, versus perigosidade, em sentido estrito.
Na lógica Código Civil, e uma vez que a responsabilidade objetiva é regra geral no Brasil,
ao aplicarmos o artigo 907º caberá desvendar quem responde pelo risco.
Nesta senda, que tipo de risco devemos aqui a considerar?
Todavia, outros riscos podem aqui ser considerados, como por exemplo, o risco
desenvolvimento (risco cognoscível).
Embora a maior parte dos autores considerem que estes riscos não são integrantes da
responsabilidade civil, a verdade é que a classificação do risco é a ponta do iceberg.
Nas palavras da Professora, embora sendo o Direito uma experiência permanente, que
trabalha com conceitos, a questão primeira, no caso, é a de saber se temos já um regime
que pode ser aplicado ou precisamos de novas leis.
Em 2003, uma pessoa é condenada em 6 anos de prisão por furto de veículo, tiroteio,
tendo já antecedentes de coação sexual.
O patamar da pena foi definido por uma máquina privada que funciona com um
algoritmo secreto que nem os juízes têm acesso.
Houve recurso, pede-se acesso aos algoritmos. Acontece que, estes se encontram
abrangidos pelo segredo industrial e embora saibamos já que este tipo de soluções
baseadas em algoritmos estejam já a ser praticadas a nível da seleção de empregos, dos
respetivos trabalhadores, na área dos seguros, cartão multibanco, a verdade é que aqui
estamos a falar de justiça, mais propriamente, da restrição de direitos fundamentais.
A questão é, não estaremos a ser demasiados levianos?
O problema, na realidade, é que o algoritmo é tão bom quanto bons sejam os dados
que o Estado lhe fornecer, ou seja, a responsabilidade tal como inicialmente a
“desenhámos” não nos dá resposta, sendo necessário, por isso, olhar para o sistema
inicial, o de compliance.
Quanto ao conceito de risco, deve ter-se em consideração que não estamos aqui
perante um risco fundado na estatística, mas na gravidade do que pode causar.
Nesta lógica, o Professor, defende que o sistema, tal como está construído, é adequado
para dar resposta, talvez seja apenas necessário adaptar a responsabilidade do
produtor. Isto para que, numa fase em que os seguros comandarão o ressarcimento, se
consiga definir o que proteger/como/valor dos prémios.
Quanto a isto, o que agora se tem debatido é: poderá o Estado obrigar, legislativamente,
à existência de seguro?
O cuidado a ter, reside no facto das pessoas verem, nesta zona cinzenta, uma forma de
fraude à lei, agindo em nome da atribuição de personalidade jurídica