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ROSÂNGELA RENNÓ
ANA MARIA TAVARES
SÉRVULO ESMERALDO
MISSÃO FRANCESA
FRIEZE WEEK LONDON
DIRETORA
Liege Gonzalez Jung
CONSELHO
EDITORIAL
Agnaldo Farias
Artur Lescher
Guilherme Bueno
Marcelo Campos
Vanda Klabin
Capa: Maurizio Cattelan,
PRODUÇÃO Novecento, 1997 (Suspenso)
André Fabro e Sans titre, 2007. Foto: Zeno
Zotti. Vista da exposição no
PUBLICIDADE Monnaie de Paris.
publicidade@dasartes.com
SUGESTÕES E CONTATO
dasartes@dasartes.com
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em recorrente.benfeito
ria.com/dasartesdigital
Doe ou patrocine Contracapa: Maurizio
pelas leis de incentivo Cattelan, Sans titre, 2001.
Rouanet, ISS ou ICMS/RJ Photo : Zeno Zotti.
ROSÂNGELA
RENNÓ
24
08 De arte a z
MAURIZIO
62 Livros CATTELAN 32
64 Resenhas
66 Garimpo
70 Coluna do
meio
SÉRVULO
ESMERALDO 42
72 Alto-falante
FRIEZE WEEK 48
LONDON
MISSÃO
FRANCESA
54
DE ARTE A Z
Notas do circuito de arte
COLEÇÃO DE TOMMY
HILFIGER EM LEILÃO
Obras da coleção privada do icônico
estilista americano Tommy Hilfiger,
estarão no leilão Evening Sale na 20th
Century & Contemporary Art a ser
conduzido pela Phillips em Nova York
dia 16/11. Entre elas, estão pinturas de
Jean -Michel Basquiat, Andy Warhol,
Jean Dubuffet, Keith Haring e Damien
Hirst (foto) com a obra "Disintegration -
The crown of life" de 2006 avaliada em
1,5 milhão de dólares.
GIORGIO OLAFUR
VASARI ESCULTURA ELIASSON
RESTAURADO SUSTENTÁVEL EM SEUL
Em Florença Prêmio para Marcos Amaro Individual na Ásia
Cinqüenta anos após a A obra “There’s Always a O Leeum, Samsung
inundação em Florença, a Way Out” (2016), de Museum of Art em Seul
obra-prima recém- Marcos Amaro, feita com inaugurou individual com
restaurada de Giorgio fuselagem aeronáutica, 22 obras do dinamarquês-
Vasari retorna ao Museu ganha prêmio de Escultura islandês Olafur Eliasson.
de Opera de Santa Croce. Sustentável na 2ª Bienal Obras famosas incluem
A pintura “A última ceia”, de Salerno. O Prêmio de "Parede de musgo", criada
de 1546, que foi destruída Escultura Ecosustentável usando musgo da Islândia,
no dilúvio de 1966, foi entregue em uma e a escultura "Seu
recebeu a contribuição da cerimônia durante o caminho imprevisível"
Prada, Fundação Getty e evento, que acontece até (foto), feita de vidro com
Protezione Civile para sua 20/11 no Fruscione mais de 1000 esferas. Até
restauração. Palazzo. 26/2/2017.
8
EDIÇÕES SESC GIRO NA CENA
GANHAM 30º
PRÊMIO DE DESIGN
No Museu da Casa Brasileira
Para ver
Funarte e o
Cerrado
Obras de nove artistas, atuantes na
região Centro-Oeste e familiarizados
com a vegetação do Cerrado, foram
selecionadas por uma curadoria
formada pela Fundação Nacional de
Artes – Funarte/MinC para integrar
VISTO Mais de 100 pinturas de
o projeto Natureza Viva Artes
Visuais/Ambiente Cerrado. As obras POR AÍ Jackson Pollock na
exposição “O figurativo
em formato de bancos, foram criadas
pelos artistas Bené Fonteles, Carlos Pollock” no
Lin, Cecília Bona, Felipe Cavalcante Kunstmuseum Basel na
& Pedro Ivo Verçosa, Ligia de
Medeiros, Lourenço de Bem, Nina Suiça. Até 22/1/2017.
Coimbra e Yana Tamayo.
10 DE ARTE A Z
Outras NOTAS
Arte na Fábrika
À esquerda: Obras de Nazareno e Flávio Cerqueira. Acima: Obras de Daniel Duda e Lucas Simões.
NO LUGAR MESMO:
14 ALTO RELEVO
POR FERNANDA PITTA
Eden. Desviante Double_Dia Solo L da série Hieróglifos Sociais, 2011. Galeria Vermelho.
instalação provocando o visitante ao …por meio de uma
oferecer repouso à custa do seu
cegamento.
superfície reluzente
O percurso das salas subsequentes que verde-metálica, que
se abre a partir de "Atlântica Moderna"
tem sua linearidade quebrada pelo
atrai o olhar a
constante embaralhamento da mergulhar, mas que
cronologia dos trabalhos. Se o visitante
se voltar para a sala da esquerda (sala
nos é vedada pelo
3), vai se deparar com séries recentes, anteparo do corrimão,
como "Desviantes (Hieróglifos Sociais)”, obrigando a nos
que fazem uso das superfícies
espelhadas e das imagens em labirinto posicionarmos um
para explodir a malha modernista, ou passo atrás dessa
ainda "Sinfonia Tropical Para Loos"
(2014) e o projeto "Pavilhão para Burle- imersão.
Marx: Observatório das Águas. Ensaio
para o rio Guaíba" (2009), que trazem a
imagem da vitória-régia como elemento
de contaminação das estruturas
encapsuladas do moderno. Percorrendo
as salas à direita da instalação "Atlântica
Moderna", o público vai encontrar, na
sala 5, trabalhos e estudos dos anos
1980, organizados em torno da obra
"Tapetes pretos para paredes brancas"
(1982), feita para a primeira individual da
artista, na Pinacoteca. Neles, a questão
da contaminação já se faz presente pela
investigação das formas de distorção do
18 ALTO RELEVO
À esquerda: Mesa Curva, 1989 e Bico de Diamantes, 1990. Foto: Romulo Fialdini.
Acima: Vista da exposição no MuBE.
"grid" e pela figura do ornamento, nos gesto, pelo volume, pela cor, ou
estudos de composição feitos com simplesmente pelo vazio de sua
Amílcar de Castro, em Minas, nas interrupção, posteriormente se tran-
investigações das bolhas, escovas, substanciaria na tridimensionalidade
almofadas, "headphones" e sandálias. dos objetos "deformados" e
Os objetos estranhos que a artista foi "distorcidos" por sua ausência de
criando nessa década desafiavam as funcionalidade, apresentados na sala
noções do espaço ortogonal. Eles se 2 da exposição, dedicada a trabalhos
conectam aos desenhos apresentados icônicos como "Mesa Curva (1989),
na sala 2, feitos sobre deliciosas folhas "Pendurador" (1990), "Pergaminho"
pautadas em perspectiva do mesmo (1991) e "Dois Rosários" (1991). Neles, o
período que tencionavam e por vezes "ornamento", o "crime do excesso",
arrebentavam literalmente a malha do libertava-se da prisão do "grid", vindo
espaço abstrato e infinito modernista, povoar o espaço real de esculturas,
tal como o faz a obra "Chuveiro" (1987), quase-objetos, ao mesmo tempo
que ganha desenho realizado sedutoras e repulsivas.
especialmente para essa antologia, "Bico de Diamante" (1990", feita para a
além da instalação "Duas Noites sobre exposição no Paço das Artes, ocupa
o sol", obra de estreia da artista na 19a toda a sala 1 e arremata um possível
Bienal Internacional de São Paulo, percurso. Pertencente ao acervo da
documentada naquela mesma sala. Pinacoteca, obra que impulsiona a
Nos estudos da década de 1980, a realização dessa antologia, faz a
contaminação dessa malha, seja pelo síntese da pesquisa do potencial de
Instalações no Octógono da Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2016.
Acima: Fortuna, 2008. À direita: Vitrines III, 2009. Fotos: Cia de Fotos.
26 DESTAQUE
"Lanterna mágica" (2012), realizadas em Pensadora e artífice
laboratório fotográfico, em papel à
base de sais de prata e gelatina. Elas em uma só pessoa,
são acompanhadas por oito "lanternas
mágicas" - projetores antigos do século
manuseia a teoria e
19 e do início do século 20. No a prática em um só
laboratório, durante o processamento,
as fotografias foram expostas a uma luz
movimento, deixando
muito intensa e pontual, afetando a ainda assim um
reprodução correta do negativo, como
se uma mancha consumisse a paisagem imenso espaço para
representada, tal qual um buraco, a sutileza.
negro e inescapável. Originalmente,
cada negativo em preto e branco
usado no laboratório gerou quatro
À esquerda: Mi mo, kokoro mo, 2012. Série Turista Transcendental, 2006-2016. Acima: Lanterna
Mágica e Per Fumum Aceso.
imagens distintas, de acordo com a As lanternas mágicas,
intensidade e o tamanho do buraco
negro produzido sobre a superfície do por sua vez, revelam, por
papel fotográfico durante sua meio da projeção
exposição à luz.
As lanternas mágicas, por sua vez, luminosa, detalhes
revelam, por meio da projeção daquelas mesmas
luminosa, detalhes daquelas mesmas
paisagens consumidas pela luz do
paisagens consumidas
laboratório fotográfico. O projeto se pela luz do laboratório
apresenta como um exercício no qual
dois tipos de emissão de luz
fotográfico.
interferem e produzem imagens de
características opostas a partir das
mesmas matrizes. Na contramão da
documentação de base digital, esse
exercício visual abre caminho para a
discussão sobre a ontologia da imagem
fotográfica original e sua relação
filosófica com um possível capítulo da
história da humanidade, eclipsado,
hoje em dia, por um excesso de
racionalismo, que inclusive esquece seu
relacionamento antigo com o mistério e a
fantasmagoria.
Em "As horas viajantes", frascos de
perfume são colocados dentro das vitrines
já existentes, na passagem entre dois
andares, compartilhando o espaço com os
aparelhos de telecomunicação já
existentes no local. Os vidros das vitrines
aparecem cobertos por uma película
semileitosa e alguns cortes circulares nela
nos deixam ver apenas os frascos, vazios
ou com um pouco de perfume. Os objetos
originais ficam distantes do olhar. Nos
letreiros luminosos que acompanham esse
pequeno museu vertical, Rosângela
registra o nome dos perfumes expostos,
formando um poema visual cheio de
assonâncias e referências.
O perfume que evoca a memória. Ademais,
remete a um tempo muitas vezes passado
que é trazido ao presente de uma epifania.
Ele também é intensamente proustiano e
se soma ao discurso concreto da arte de
Rosângela Rennó, podendo, inclusive, ser
mais nítido do que sua fotografia evasiva,
no anacronismo aparente que também
distingue as obras da artista.
Na Sala II, do chamado "Turista
transcendental", um alter ego criado por
Rosângela Rennó documenta suas viagens
de maneira bastante peculiar, em imagens
e textos. Ele é um tipo de turista muito
especial, que viaja, absorve a cultura dos
outros e embaralha imagens, tradições,
cultos e memórias. Dez projetores e
monitores exibem vídeos feitos em lugares
como a ilha da Reunião, no oceano Índico;
a ilha Gomera, do arquipélago das
Canárias; o Salar do Uyuni, na Bolívia; o
estreito de Bósforo e cidades místicas da
Índia. Todos, mas cada um à sua maneira,
parecem mostrar as transições e as
transações entre o material e o imaterial, a
partir da documentação em vídeo de
lugares pouco conhecidos e paisagens
À esquerda: Bouk Ringloup, 2006. Série Turista Transcendental, 2006-2016. Acima: Círculo Mágico.
peculiares, manipulada posteriormente, o sarcástico, não deixando de adentrar
durante a edição. Viagens ao mesmo livremente o religioso e o místico. A
tempo físicas e metafísicas. cor envolve toda essa energia como
Na Sala III, Rosângela Rennó apresenta um manto, e se Carlos Fuentes fala em
dois espaços, o "Círculo mágico" e o sua novela "Aura" que o verde se
"Realismo fantástico". "Realismo relaciona ao chacra do coração, isso
fantástico" exibe espectros de luz que ajuda a explicar sua presença etérea e
se projetam na parede, ocupando a sala ao mesmo concreta na obra de
em eterno movimento. O vídeo Rosângela Rennó.
intitulado "Círculo mágico" mostra A exposição de Rosângela Rennó
objetos que falam sobre sua própria promove um turbilhão de conexões e
existência para um provável coerências, uma voragem de
espectador, consolidando o projeto da recorrências que adentram todos os
ocupação promovida pela artista na âmbitos da arte e do mundo concreto
Fundação Eva Klabin. Esses objetos de e inclusive abstrato. Os sentidos são
coleção, às vezes bem antigos e de evocados: a visão primordial e central;
formas ancestrais, parecem a audição, via os diversos sons do
movimentar suas sólidas bocas em mundo, e o olfato, aparentemente
fulgores de luz, que tocam o humor, até distante da obra de arte usual. Tudo
remete a tudo: ambiente, iluminação,
imagem, som, perfume em um
intercâmbio geral. Até mesmo o
mobiliário da sala de leitura e a vitrine
são usados escultoricamente como
suporte. Esse movimento circular, de Rosângela Rennó • O espírito
transição intensa entre o mágico e o
lógico, entre o misterioso e o preciso, de tudo • Oi Futuro Flamengo
entre o esotérico e o realista já começa 21/11 a 29/1/2017
nos títulos cheio de movimento de suas
obras. Até neles tudo remete a tudo,
porque na obra de Rosângela Rennó
não há fraturas, a não ser aquelas que Evangelina Seiler é curadora e
se prestam a costurar melhor a sua consultora de arte. De 2009 a
2014 foi diretora da Casa
própria capacidade narrativa. Tudo França-Brasil.
tem o espírito de tudo.
À esquerda: Charlie don’t surf, 1997. Acima: Sans titre (Gérard), 1999.
La Nona Ora, 1999.
O que o faz feliz? Você trabalhou como jardineiro e em
um necrotério. Como isso se traduz
Creio firmemente que a insatisfação é em seu trabalho?
necessária para progredir, e isso é
válido tanto para o indivíduo quanto 1. As flores e as obras de arte têm em
para o conjunto da humanidade. A comum o fato de precisarem de um
felicidade não está na acumulação, ambiente adaptado para florescer
trata-se mais de se livrar das zonas de naturalmente; 2. As coisas vulneráveis
sombra que acumulamos. Cada peça são bem mais interessantes que as
que criei é uma parte de mim da qual imutáveis; 3. Tudo tem um fim e não
me livrei ao criá-la. podemos fazer nada sobre isso.
Others, 2011.
Você já declarou que não se considera mim mesmo e sobre tudo o que faço;
um artista conceitual, que não você isso me ajuda a não me levar tão a
não reflete. É uma piada? sério. De tempos em tempos, faço um
papel diferente atrás de uma máscara
Com o tempo, cheguei à conclusão de nova: é uma questão de personagem.
que posso usar todas as etiquetas Minha interpretação do papel do
porque eu mudo e me questiono todos artista só faz sentido quando eu
os dias. Eu finjo ser alguém que consigo ir além, quando meu trabalho
gostaria de ser até que finalmente me tem um impacto que perturba, que
torno essa pessoa. Ou é esta pessoa permite ver as coisas de outra forma
que toma meu lugar. Eu me coloco ou que faz perceber a vida cotidiana
permanentemente em dúvida sobre de um modo diferente.
Acima: Vista da exposição “All, Solomon” no Guggenheim Museum, 2011-2012. Foto: David Heald.
À direita: America, 2016. Foto: Kris McKay © Solomon R. Guggenheim Foundation.
Por que você se retirou oficialmente
do mundo artístico em 2011?
42 REFLEXO
“Ao acompanhar a montagem destas três pirâmides, transportei-me no tempo e me vi
criança no Crato, queimando pestanas nos compêndios "Tesouros da Juventude", nas
intermináveis pesquisas sobre o Egito e seus faraós. Eu, naquela época, um "construtor" de
sarcófagos (feitos com madeira e material inventado), estava longe de pensar que um dia
poderia projetar pirâmides. É verdade: durante muito tempo da minha infância e
adolescência, eu só pensava no Egito (talvez outras crianças do mundo pensassem o
mesmo; o entre guerras nos levava ao mundo antigo e
misterioso). Vendo agora o trabalho dos
operários no encaixe das peças, enquanto
oriento a situação de cada pirâmide
em relação ao espaço, veio-me à
mente aquela fixação do menino,
e me dei conta de que
passamos a vida inteira a
realizar coisas que sempre
estiveram no nosso
pensamento. Uma doidice.
Vou doar esta obra para a
cidade do Crato. Um presente
meu para a juventude de hoje.”
durante muito tempo da minha infância e
adolescência, eu só pensava no Egito (talvez outras
crianças do mundo pensassem o mesmo; o entre
guerras nos levava ao mundo antigo e misterioso).
As pinturas descrevem o processo de
produção das peças em madeira: a árvore era
cortada, a madeira era derrubada,
transportada…
46 SÉRVULO ESMERALDO
“Convidado em 1994, a construir
uma escultura na Ponte dos
Ingleses, na Praia de Iracema, em
Fortaleza, chegando ao local, fui
tomado por uma lembrança e de
imediato vi o que eu faria ali.
Participando da exposição "Les
Coordonnée Nouvelles" (1971), no Musée
de Nantes, a convite de Jacques Castex
fomos a Saint-Nazaire, onde ele vivera na
infância. A decepção do colega no reencontro
com a cidade, destruída pela Segunda Guerra,
levou-nos até o porto, cujo cenário era também
desanimador, até que um pequeno vapor surgisse no horizonte.
Um Castex entusiasmado disse-me: "Um barco". Ao que refutei: "Não, não é um
barco, é uma 'Femme Bateau', veja a sua cabeleira". Apontei ao amigo o chumaço
de fumaça deixado pelo barco. Com esse pensamento, "La Femme Bateau" foi
construída e fincada sobre um dos esteios da antiga ponte. Impulsionada por um
rolamento, ela "navega" ao sabor dos ventos. Nesta serigrafia, transposta para o
papel, ela continua como miragem, uma visão inesperada.”
FRIEZE WEEK
LONDON
48 DO MUNDO
POR SYLVIA CAROLINNE Tarefa difícil para iniciantes é saber o
Visitar Londres em outubro significa que escolher após a visita obrigatória
não escapar de ver arte por onde quer às feiras principais. É mais uma grande
que se passe. Apesar de ser sempre oportunidade, no circuito
uma cidade culturalmente internacional de arte, de ver de perto
borbulhante, particularmente nesta o trabalho de artistas reconhecidos,
época, a Frieze Week - semana em que ter aulas de história da arte, conhecer
acontecem a Frieze London e a Frieze a nova leva de artistas emergentes,
Masters - é responsável por alavancar deparar-se com antigos mestres,
eventos que invadem a cidade, como descobrir nomes consagrados ao qual
feiras, aberturas, palestras, festas e nunca tivemos acesso e colher dados
outros, muito acima da capacidade de para pesquisas futuras. Dentre alguns
assimilação de qualquer um de nós. destes atuais destaques, podemos
Independentemente de interesses citar Philippe Parreno e Bhupen
particulares, consumir arte se torna Khakar, na Tate Modern; Opavivará,
quase equivalente a respirar, já que, no n'A Gentil Carioca; Lygia Pape, na
período, é impossível não se deparar Hauser & Wirth; Willys de Castro, na
com alguma novidade ou cumprir Cecilia Brunson Projets; Montez
algum tipo de agenda. Magno no stand da Galeria Pilar;
À direita: Móvel com 48 relevos em cera de Caspar Benhard Hardy, 1795 na Kunstkammer Georg
Laue de Munique. Acima: Prem Sahib na Galeria Lorcan O’Neill de Roma. Fotos: Sylvia Carolinne.
Guerrilla Girls, na Whitechapel Gallery; e Vermelho, na seleção de Marta
e Paula Rego, na Marlborough Gallery e Ramos-Ysquierdo na Crossroads Art.
na Galeria Sala Branca. No caso da Vermelho, a galeria acabou
Destacando a participação brasileira na por participar de duas feiras com
Frieze London, tivemos as galerias diferentes propostas.
Fortes Vilaça, Mendes Wood DM, Luisa A Crossroads Art Show, primeira
Strina, Vermelho, Jaqueline Martins e A edição da antiga Pinta London, trouxe
Gentil Carioca (que marcou ponto com para esta semana projetos curatoriais
mostra do Opavivará em sua proposta com grande presença brasileira. Vimos
"portátil" do universo do coletivo). Na a seleção de cinco galerias, sendo duas
Frieze Masters, nossa participação paulistanas, sob curadoria de Marta
diminuiu e apenas DAN Galeria e Ramos-Yzquierdo: Àngels (Barcelona),
Marilia Razuk se mantiveram. Para além Vermelho e Galeria Pilar (ambas de
das participações nos stands, é São Paulo), Galleria Macca (Cagliari) e
interessante ressaltar o fato de que Isla Flotante (Buenos Aires).
algumas galerias brasileiras foram Completando a representatividade do
selecionadas para projetos curatoriais time nacional, tivemos a Baró, o Espaço
das feiras londrinas: Jaqueline Martins Alê e a Ybakatu na área das galerias, e
na seção LIVE, na Frieze London; Pilar a participação do VideoBrasil na
Acima: Montez Magno, Galeria Pilar na CrossRoads. Foto: Gil Riquelme. À direita: Estande da
Simon Lee Gallery.
Consumir arte se
torna quase
equivalente a respirar,
já que, no período, é
impossível não se
deparar com alguma
novidade ou cumprir
algum tipo de
agenda.
51
À esquerda: Portia Muson, Galeria PPOW para o Pink Project e à direita Seventeen Project.
(Frieze Art Fair). Fotos: Sylvia Carolinne.
Niura Bellavinha
Texto: Paulo Herkenhoff
Editora Cobogó - 280 p. - R$ 132,00
Com organização do curador Paulo Herkenhoff,
publicação reúne uma seleção de obras realizadas ao
longo de 25 anos de carreira da artista plástica.
Pintura, desenho, fotografia e filmes são algumas das
ferramentas utilizadas por Bellavinha e que são retratadas
no livro por meio de imagens e textos críticos do autor.
Ao abrir o livro, o leitor pode entrar e conhecer um pouco
mais o universo de Niura, suas influências barrocas e
contemporâneas. “O projeto mostra as minhas influências,
minha ligação com os fluídos, com a natureza, o fascínio
que tenho pela constituição da vida e o quanto essa
poética me conduz”, diz a artista.
RESENHAS exposições
BASQUIAT
O nome de Jean-Michel Basquiat vem aparecendo
cada vez com mais frequência nas notícias do mercado
de arte. No Brasil, obras do artista causaram alvoroço
nos estandes da Almeida e Dale na SP-Arte e
Colecionador na ArtRio, rapidamente negociadas. Nos
leilões internacionais, os preços escalam e boas obras
não param de aparecer. No leilão da Christie's em
Londres, em outubro, uma tela estimada em US$ 4,4
milhões foi arrematada por US$ 13,1 milhões. Em
novembro, as expectativas são altas para as obras de
Basquiat provenientes das coleções de David Bowie e Tommy Hilfiger. Outros artistas
que se mantêm no topo são Peter Doig e Gerhard Richter, este último tendo
afugentado especulações de desaquecimento da demanda com duas vendas muito
acima das estimativas altas nesse mesmo leilão.
68
COLUNA DO MEIO
Quem e onde no meio da arte
Fotos: Lucas Malkut
Diana Motta, Carla Chaim, Nino Cais, Fernanda Pavao, Rosana Boaventura,
Mano Penalva e Marcelo Amorim Mano Penalva e Leda Catunda
Mano Penalva
Galeria Central
São Paulo
Eduardo Oliveira, Cesar Fraga Mike Simko, Mano Penalva e
eMarco Maria Zanin e Tchelo
Gina Elimelek Fernanda Pavao
Eduardo Berliner
Casa Triângulo
São Paulo
Rogerio Barbosa e Elisio Yamada Silene Zepter, Andre Mello e Monica Piloni
Fotos: Geraldo Valadares
Ira Etz, Maria Vasco e Chico Caruso Maria Cortez e Tania Caldas
Maria Vasco
H.Rocha Galeria
Rio de Janeiro
Eduardo Oliveira, Cesar Fraga
Moraes Moreira
e Gina Elimelek Ziraldo e Marcia Martins
Mirtis Moraes
Museu de Arte Sacra
São Paulo
José Oswaldo de Paula Santos e
José Henrique Fabre Rolim Ricardo von Brusky
Alta Performance
Das muitas linguagens que integram e conformam o repertório cada vez mais plural e híbrido da arte
contemporânea, chama atenção a notoriedade que vem sendo conferida à "performance art" nos últimos
anos. Tal fato se destaca, sobretudo, por se tratar de uma categoria historicamente relegada a segundo
plano em relação a modalidades mais canônicas, como pintura, escultura, fotografia, videoarte ou instalação
- desde sua difusão massiva a partir de meados de 1960 (principalmente por meio de proposições do Fluxus,
na Europa, e movimentações correlatas nos EUA). Marcada em suas origens por propostas pautadas em
uma radicalização da ideia do corpo como suporte e pela sua tendência a resistir à cooptação pelo mercado,
não é difícil entender essa posição, vá lá, secundária da performance. O motivo central, naturalmente,
estaria na inadequação ou na falta de vocação mercadológica que as premissas de seu formato impõem -
há que se ter em mente a natureza fugaz e eminentemente imaterial da performance. O sistema, contudo,
viria, como sempre, desenvolver estratégias de assimilação e incorporação (leia-se "mercantilização") dessa
modalidade, para aflição de alguns de seus praticantes. Isso se dá, sobretudo, a partir de meados de 1979,
momento em que ações performáticas passaram a ser registradas - quando não mesmo já concebidas de
saída com essa orientação -, e a instância da documentação permite uma revisão de seu estatuto enquanto
obra de arte, fazendo com que seja absorvida em termos mais convencionais. Sua efemeridade é
amortecida por uma nova qualidade de permanência, tornando, portanto, uma peça de performance
passível de ser consumida/comprada; uma movimentação que viria a gerar o que mais adiante será visto
como uma "institucionalização da performance", quando as questões "Como comprar uma performance?",
e "Como o museu lida com a performance?" passam a ser debatidas mais seriamente no "art world".
De uns anos para cá (últimos dez anos), no entanto, houve uma guinada sensível, e a performance passou a
ser um gênero altamente valorizado no sistema da Grande Arte (leia-se o circuito internacional da arte
contemporânea e o mercado que o estrutura). A consolidação de tal tendência pôde ser observada quando
o grande prêmio da Bienal de Veneza de 2013 - o cobiçado Leão de Ouro - foi para o britânico Tino Sehgal,
um dos expoentes máximos da linguagem na atualidade. Seu trabalho compreendia um grupo de pessoas
que, sentadas ou deitadas no chão, faziam sons e música improvisada com suas próprias vozes. Havia algum
movimento, por vezes quase dançante; após alguma observação, a organização temporal, musical e
suavemente coreográfica da peça sugeria uma estrutura prévia mais complexa do que se poderia imaginar
à primeira vista. Como em tantas peças de Sehgal, o trabalho é quase invisível de saída, assim como não é
clara a lógica ou regra - se é que há alguma - que rege os acontecimentos que ali se desenrolam. A decana
Marina Abramovi? já havia também ganhado um Leão de Ouro na Bienalle de 1997, com sua peça "Balkan
Baroque", uma performance que durava cerca de quatro dias; mas o contexto era outro, e aquele prêmio
para a artista sérvia, já consagrada à época, soava mais como o justo reconhecimento e tributo a uma
extensa e influente trajetória (ainda não maculada pelas "egotrips" superlativas mais recentes da artista).
No caso de Sehgal - cujo trabalho muitas vezes parece não se ajustar bem à terminologia "performance",
sendo a expressão "live piece" mais adequada para muitas de suas proposições singulares -, o que parecia
estar em jogo era diferente. Qualidade artística à parte, o prêmio para uma performance no mais tradicional
e prestigioso evento de arte do mundo parece, na verdade, ser também uma forma de o "art system"
sinalizar ou oficializar a assimilação do novo estatuto da performance. Uma espécie de legitimação
maiúscula para uma modalidade que, de modo geral, corria à sombra de outras práticas artísticas. E não só,
e talvez o mais importante: a premiação para Sehgal se configura também em um poderoso indicador de
uma movimentação do Mercado em direção a esse segmento artístico, agora ainda mais legitimado e
portanto valorizado - mesmo que se trate, como nas peças de Sehgal, de trabalhos que levam ao extremo
postulados de base da performance, como a imaterialidade e a impermanência.
De uns anos para cá (últimos dez anos), no entanto, houve uma
guinada sensível, e a performance passou a ser um gênero
altamente valorizado no sistema da Grande Arte
No âmbito desse "boom" da performance, percebe-se também uma curiosa tendência: a dos "re-
enactements", ou performances reencenadas. Na mesma edição da Biennalle em que Sehgal foi premiado
(2013), os artistas romenos Alexandra Pirici e Manuel Pelmu? apresentaram "An Immaterial Retrospective
of the Venice Biennale", espécie de performance contínua em que, como o título revela, cinco "performers"
"encenavam" trabalhos presentes em edições passadas do evento. No amplo pavilhão branco que abrigava
a peça, só havia a presença dos, digamos, atores e do público; para cada um dos trabalhos históricos, um
performer anunciava o título, o autor da peça e a data de criação e exibição da obra e então se procedia à
reencenação. Alguns anos antes, a mesma Abramovi? já havia incursionado pelo terreno dos "re-
enactements", quando protagonizou, em 2005, no Guggenheim de Nova Iorque, o ambicioso evento "Seven
easy pieces", em que reencenava pessoalmente cinco peças seminais da arte performática dos anos 1960 e
1970 (de Vito Acconci, Valie Export, Gina Pane, Bruce Nauman e Beuys) além de duas de sua própria lavra
(como não podia deixar de ser), uma delas inédita. E aqui não há como não lembrar, algo maldosamente,
que se trata da mesma artista que, no início de sua carreira, postulou de modo famoso as regras que
definiriam sua ideia de performance: "no reherseal, no repetition, no predicted end", "sem ensaio, sem
repetição, sem final previsto". É possível que o interesse da artista por atribuir uma "nova interpretação" às
peças ajude a explicar tal flexibilização de seu código ético, mas fica também a dúvida: para além da pulsão
experimental, seria este projeto um reflexo da já citada movimentação mercadológica desencadeada em
torno da performance?
Em 2007, em uma abordagem mais provocativa do mote da reencenação e citando diretamente essa
iniciativa de Abramovi?, o subversivo duo composto pelos artistas italianos Eva e Franco Mattes (um casal
anteriormente conhecido como o coletivo 0100101110101101.org, autores de uma das mais fascinantes farsas
já perpetradas no circuito da arte contemporânea, com o projecto "Darko Maver") tem um dos projetos
mais radicais e interessantes a esse respeito: em suas "Synthetic performances - Reenactements", acenavam
para uma experiência de suspensão e suspensão da experiência. Nessa proposta [2007-2010], algumas
peças marcantes de artistas seminais da performance - como Chris Burden, Vito Acconci, Valie Export e
Abramovi? - eram reencenadas no âmbito da plataforma virtual "Second Life". Elementos-chave na
constituição dessa linguagem como corpo, espaço e temporalidade são inevitavelmente repensados
quando transpostos para a experiência-limite desse mundo digital, à medida em que avatares da dupla de
propositores reinterpretam alguns trabalhos canônicos dessa modalidade, como "Shoot" , de Burden,
"Seedbed", de Acconci ou "Imponderabilia", de Abramovi? e Ulay. A ação decorre em um registro ambíguo
que oscila entre a homenagem e a paródia, promovendo o tensionamento de aspectos tradicionalmente
caros à definição da performance como gênero ou modalidade artística desde seus primórdios, como
originalidade e repetição, efemeridade e permanência, realismo e simulação, a [não] representação e o
registo da presença, o papel e o grau de participação da audiência e a problemática em torno da
documentação das ações. E, em última instância, se quisermos, evoca-se ainda a própria condição de
inefabilidade que permeia seu estatuto enquanto linguagem autônoma no contexto da arte
contemporânea. Uma reflexão pertinente, com se vê, em torno de um gênero que vem se reinventando e
se readaptando à nova dinâmica. Seja como for, constata-se ao fim que a performance artística na
atualidade segue a todo vapor, reinventando-se e apresentando índices de alta performance.
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