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Inequidade de Gênero Na Engenharia Florestal No Brasil Sob A Perspectiva Da Divisão Sexual Do Trabalho - 2
Inequidade de Gênero Na Engenharia Florestal No Brasil Sob A Perspectiva Da Divisão Sexual Do Trabalho - 2
Introdução
O setor florestal é há muito tempo considerado um reduto masculino, no qual as oportunidades
de participação das mulheres raramente equivalem as oportunidades de participação
masculinas.
40,00%
20,00%
,00%
Mulheres Homens
1995 2015
Figura 1 - Gráfico de atividade global da população comparando mulheres e homens. Fonte: OIT, 2016
25% 35%
75% 65%
Figura 2 - 1) Grafico de trabalho porcentagem de trabalho não remunerado comparando mulheres e homens. 2)
Grafico de trabalho porcentagem de trabalho remunerado comparando mulheres e homens. Fonte: OIT, 2016.
6,200%
6,00%
5,800% 5,500%
5,600%
5,400%
5,200%
5,00%
Mulheres Homens
Figura 3 - Gráfico da taxa de desemprego global comparando mulheres e homens. Fonte: OIT, 2016.
Diferença salarial
100
77
100
80
60
40
20
0
Mulheres Homens
Figura 4 - Gráfico da diferença salarial entre mulheres e homens. Fonte: OIT, 2016.
A diferença salarial entre homens e mulheres já foi maior e houveram tímidas melhorias nos
últimos anos em virtude de recentes políticas de contraposição a inequidade de gênero
distribuídas pelo mundo. Contudo, se a tendência atual for mantida, serão necessários mais 70
anos para que as diferenças salariais entre homens e mulheres sejam extintas (OIT, 2016).
A existência de políticas de equidade de gênero não significa que elas sejam efetivas,
representativas e muito menos suficientes. Uma vez que a liderança feminina influencia a ênfase
da equidade de gênero nas políticas e ações afirmativas (Clots-Figueras, 2012; Smith, 2014), a
sub representação das mulheres nos espaços e posições de decisão interfere nos avanços desta
esfera. A hegemonia masculina em posições de tomada de decisão limita as vozes das mulheres
e sua capacidade de influenciar a concepção de políticas governamentais em nível internacional
e local (UNESCO, 2018).
As mulheres estão sub representadas em cargos de liderança, os números apontam que apenas
22% ocupam cargos de liderança e 32% das empresas não contam com administradores do sexo
feminino (Figura 5Figura 6). A segregação prevalece ao longo do tempo e é transversal aos níveis
econômicos, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento (PNUD, 2015). No
Brasil, quanto mais alto o cargo é menor a proporção de mulheres (Figura 6Figura 5) (TANURE,
CARVALHO NETO; ANDRADE, 2007; SANTOS et al., 2014).
A sub representação feminina em espaços de decisão pode ser ilustrada pelo fenômeno do “teto
de vidro” que significa uma representação simbólica de uma barreira transparente e sutil, mas
ao mesmo tempo forte, porque não é nítida, que dificulta muito a ascensão de mulheres aos
cargos de liderança e tomada de decisão (ANDRADE, 2010; DAVIDSON; COOPER, 1992;
MORRISON; GLINOW, 1990; MORRISON et al., 1994; MOORE; BUTTENER, 1997; NEWMAN,
1993; STEIL, 1997; WRIGHT; BAXTER, 2000; MADALOZZO, 2013; SANTOS et al., 2014).
15%
10%
6%
5%
0%
Figura 5 - Gráfico de mulheres em cargos de liderança. Fonte: TANURE, CARVALHO NETO; ANDRADE, 2007; SANTOS
et al., 2014
O fenômeno do “teto de vidro” pode ser entendido de acordo com dois aspectos, a
discriminação e a diferença comportamental (COELHO, 2006; SANTOS et al., 2014). O aspecto
da discriminação destaca 2 modelos: a discriminação por preferência e a discriminação
estatística, nos quais são levados em consideração a preferência por homens, mesmo que a
produtividade entre os gêneros seja a mesma devido a fatores culturais e psicológicos e o
estigma social de que as mulheres são menos produtivas que os homens, respectivamente. O
aspecto da diferença comportamental segue 2 outros modelos: primeiro que as mulheres estão
envolvidas em demasiado com atividades da esfera reprodutiva e não são capazes de
estabelecer vínculos estáveis com o trabalho e o segundo que afirma que o fenômeno só atinge
mulheres que não estão em cargos de liderança, nos quais a compensação pelo rendimento não
é capaz de fazer com que as mulheres estejam vulneráveis às tarefas relacionadas a esfera
reprodutiva (ARROW, 1998; BECKER, 1971; COELHO, 2006; SANTOS et al., 2014). No segundo
modelo do aspecto da diferença comportamental, no qual o fenômeno desaparece após as
mulheres alcançarem determinada posição de liderança, deve ser ressaltado que, mesmo que
ocorra uma mudança no paradigma do fenômeno, ela está posicionada dentro dos limites de
outras hierarquias e formas de exploração e seu benefício é restrito a uma parcela distinta das
trabalhadoras (BIROLI, 2018).
Em ambos os aspectos, percebemos que existe um estigma relacionado a mulher e ao seu lugar
na estrutura social, no qual a hierarquia e a separação de gêneros, bases da divisão sexual do
trabalho, limita e conduz a trajetória feminina no mercado de trabalho.
Cargos de liderança
22%
78%
Mulheres Homens
Figura 6 - Gráfico da representatividade em cargos de liderança comparando homens e mulheres. Fonte: PNUD, 2015.
No tocante a pesquisa científica, os números são ainda mais desafiadores, já que menos de 30%
dos pesquisadores, em todo mundo, são mulheres (Figura 7). Entretanto, com o cenário
histórico de inequidade entre gêneros e com os inúmeros fatores que comungam para a
perpetuação das enormes disparidades denunciadas nos últimos anos, torna-se mais fácil
entender o porquê apenas 17 mulheres receberam o prêmio Nobel em física, química ou
medicina desde Marie Curie, em 1903, em comparação a 572 homens (UNESCO, 2018a).
Pesquisadores em todo mundo
28%
72%
Mulheres Homens
Figura 7 - Gráfico da representatividade em pesquisa científica comparando homens e mulheres. Fonte: UNESCO,
2018a.
A situação de desequilíbrio entre gêneros no setor florestal ocorre devido aos fatores já
discutidos anteriormente, como a influência de fatores culturais, sociais e históricos que são
sustentados por estereótipos dos papéis masculinos e femininos responsáveis pela
padronização de funções de trabalho. Tais estereótipos criam barreiras que vão desde a
formação nos cursos de graduação e pós-graduação até a disputa por um emprego na área. O
número de mulheres nos cursos de engenharia florestal tende a ser inferior ao número de
homens, padrão que ainda não foi revertido. Contudo, as mulheres que ingressam nos cursos
de engenharia florestal, são tão bem sucedidas quanto os homens (FAO, 2006).
A pouca flexibilidade nas jornadas e nos cargos, impacta as mulheres que ainda são
responsabilizadas pela maior parte dos cuidados infantis. Ainda assim, as mulheres relutam em
solicitar trabalho flexível devido a preocupações sobre suas perspectivas de carreira, resultando
em abandono do mercado de trabalho (FAO, 2006).
O desequilíbrio entre os gêneros é considerado maior no nível sênior, mesmo não havendo
diferença na qualificação de mulheres e homens. Tal fenômeno já discutido como “teto de
vidro” sugere uma discriminação prévia e contínua em níveis explícitos e implícitos (FAO, 2006).
No setor florestal mundial a desigualdade de gênero é de grandes proporções, mesmo com leis
e políticas centradas na igualdade de gênero, os homens dominam o setor (FAO, 2006). Como
exemplo, a formulação de políticas de manejo florestal formal são áreas dominadas por homens,
assim as mulheres raramente contribuem para a tomada de decisão na área florestal (FSC,
2016).
A hierarquia de gênero se faz presente, mais uma vez, quando a força de trabalho feminina é
remunerada com apenas 75% do valor que os homens que possuem a mesma qualificação e
ocupam o mesmo cargo. Neste caso, podemos caracterizar o cenário de diversidade como sendo
uma estratégia econômica, no qual o empregador diminui seus custos sem perder em qualidade.
O protagonismo feminino nas discussões e decisões que devem conduzir a política e todas as
diretrizes de combate a inequidade de gênero no setor florestal é o alicerce para que as
demandas da engenheira florestal sejam atendidas. Tal protagonismo é o rompimento com a
posição de subordinação, na qual a mulher se encontra no setor florestal.
Conclusões
A engenharia florestal continua sendo um reduto masculino, explícito pela hegemonia
masculina nas esferas onde ocorrem as decisões e as negociações das políticas fundamentais do
setor. Contudo, é inegável que a participação das mulheres, ainda que na maioria das vezes, em
posição de subordinação nos espaços de decisão, tem direcionado o setor para a discussão de
novos paradigmas.
Contudo, não existe ajuste rápido das demandas de gênero dentro do setor florestal, uma vez
que existe uma miríade de questões a serem equacionadas e que influenciam de maneira direta
e indireta a equidade de gênero no setor.
Bibliografia
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