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BrazilianJournal of Development

O design thinking como metodologia de projeto aplicada ao ensino de


engenharia: o projeto “openfab” na disciplina de introdução à engenharia

Thinking design as a project methodology applied to engineering


education: the “openfab” project in the introduction engineering discipline
DOI:10.34117/bjdv5n9-169

Recebimento dos originais:17/08/2019


Aceitação para publicação:24/09/2019

Claudia Alquezar Facca


Mestre e Doutoranda em Design pela Universidade Anhembi Morumbi
Instituição: Instituto Mauá de Tecnologia
Endereço: Praça Mauá, 01 – São Caetano do Sul-SP, Brasil
E-mail: claudiafacca@maua.br

Patrícia Antonio de Menezes Freitas


Doutora em Química pela Universidade de São Paulo
Instituição: Instituto Mauá de Tecnologia
Endereço: Praça Mauá, 01 – São Caetano do Sul-SP, Brasil
E-mail: pantonio@maua.br

Hector Alexandre Chaves Gil


Doutor em Ciências (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo
Instituição: Instituto Mauá de Tecnologia
Endereço: Praça Mauá, 01 – São Caetano do Sul-SP, Brasil
E-mail: hector.gil@maua.br

Felipe Peres Guzzo


Estudante do Curso de Design
Instituição: Instituto Mauá de Tecnologia
Endereço: Praça Mauá, 01 – São Caetano do Sul-SP, Brasil
E-mail: felipepguzzo@uol.com.br

Ana Mae Tavares Bastos Barbosa


Doutora em Humanistic Education pela Boston University
Instituição: Universidade Anhembi Morumbi
Endereço: Rua Jaceru, 247 - São Paulo-SP, Brasil
E-mail: anamaebarbosa@gmail.com

RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise da aplicação da metodologia do Design Thinking na


disciplina de Introdução à Engenharia com o objetivo de integrar as áreas do conhecimento –
Design e Engenharia – e alcançar a inovação no processo de desenvolvimento de novos
projetos. O Design Thinking é uma metodologia para solucionar problemas complexos que
utiliza e aplica ferramentas do Design, centralizando o processo nas pessoas e em suas
necessidades, por meio do raciocínio associativo e do pensamento analítico. Por meio da
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descentralização da prática do Design das mãos de profissionais especializados – no caso os
Designers - é uma abordagem que permite que seus princípios sejam adotados por pessoas
atuantes em diversas áreas profissionais – como a Engenharia, por exemplo. Como objeto de
estudo da pesquisa foi abordado o Projeto “OpenFab”, integrado à disciplina Introdução à
Engenharia, ministrada durante o 1º semestre de 2018 aos alunos da 1ª série dos cursos de
Engenharia do Instituto Mauá de Tecnologia. O objetivo deste estudo é observar o processo
de desenvolvimento de um projeto de Engenharia utilizando uma metodologia de Design,
analisando seus efeitos e impactos como estratégia de ensino na aprendizagem dos
estudantes, logo no início do curso, considerando as dimensões relativas às competências
técnico-científicas e os conhecimentos interdisciplinares possíveis e existentes.

Palavras chave: Metodologia do projeto. Ensino de Engenharia

ABSTRACT

This paper presents an analysis of the application of the Design Thinking methodology in the
Introduction to Engineering discipline in order to integrate the areas of knowledge - Design
and Engineering - and achieve innovation in the process of developing new projects. Design
Thinking is a methodology for solving complex problems using and applying Design tools,
centering the process on people and their needs through associative reasoning and analytical
thinking. By decentralizing Design practice from the hands of specialized professionals - in
this case Designers - it is an approach that allows its principles to be adopted by people
working in various professional areas - such as Engineering, for example. As object of study
of the research was approached the Project “OpenFab”, integrated to the discipline
Introduction to Engineering, taught during the 1st semester of 2018 to the students of the 1st
series of Engineering courses of Instituto Mauá de Tecnologia. The aim of this study is to
observe the development process of an Engineering project using a Design methodology,
analyzing its effects and impacts as a teaching strategy in the students learning, at the
beginning of the course, considering the dimensions related to the technical-scientific
competences. and possible and existing interdisciplinary knowledge

Keywords: Design Thinking. Project methodology. Engineering Teaching

1 INTRODUÇÃO
Com a potencial retomada do crescimento econômico no Brasil nas próximas décadas,
apontada por diversos indicadores, um bom suporte dos engenheiros que atuam no país será
fundamental para o aumento do desempenho dos meios de produção (CAVALCANTE;
EMBIRUÇU, 2013). E, portanto, a formação desse engenheiro é um assunto de grande
importância.

“O Conselho Nacional de Educação (CNE) vai mudar as diretrizes


curriculares das graduações de Engenharia do país, com o objetivo de tornar os
cursos mais atrativos. A proposta é que a carreira – em que metade dos ingressantes
abandona a faculdade antes de se formar – tenha maior número de atividades

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práticas, organização mais flexível, interdisciplinar e focada em inovação”
(PALHARES, 2018).

O número de matriculados e concluintes em cursos de Engenharia em todo o país tem


aumentado significamente nos últimos anos. Entretanto, de acordo com dados do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2018), em 2017 cerca
de 270 mil estudantes ingressaram nos cursos presenciais de Engenharia, Produção e Civil e
quase 140 mil graduaram-se nesses cursos em todo o país. Observa-se, neste caso, que o
número de concluintes no curso representa quase metade (51,48 %) do número de
ingressantes no mesmo ano. De acordo com Lobo (2017) a área de Engenharia e profissões
correlatas apresentou uma taxa de evasão de curso de 23 % (no período de 2014/2015).
Entende-se por evasão de curso aquela que ocorre quando o estudante se desliga do curso
superior em situações diversas, deixando-se de se matricular, desistindo oficialmente do
curso, mudando de curso ou sendo excluído por norma institucional (ROSSA et al, 2017). Os
motivos pelos quais muitos alunos acabam desistindo do curso de Engenharia variam desde a
falta de um conhecimento prévio sobre a profissão até o desestímulo causado pela abstração e
falta de aplicação prática das disciplinas das primeiras séries e as sucessivas reprovações nas
disciplinas fundamentais (CARDOSO & SCHEER, 2003 apud FREITAS, 2018).
De acordo com o estabelecido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Engenharia, instituídas pelo Ministério da Educação (MEC) e Conselho
Nacional de Educação (CNE) e recentemente revisadas e homologadas,

“A formação em Engenharia deve ser vista principalmente como um processo.


Um processo que envolve as pessoas, suas necessidades, suas expectativas, seus
comportamentos e que requer empatia, interesse pelo usuário, além da utilização de
técnicas que permitam transformar a observação em formulação do problema a ser
resolvido, com a aplicação da tecnologia” (BRASIL, 2019).

Associa-se a isso a capacidade adquirida para absorver e desenvolver tecnologias numa


atuação criteriosa e criativa na identificação e resolução de problemas (CAVALCANTE;
EMBIRUÇU, 2013). Assim exposto, fica visível a necessidade de se encontrar uma forma de
aumentar a aderência dos estudantes de Engenharia desde o início do curso criando um eixo
motivacional e formativo de habilidades específicas e que continue atendendo às demandas
tanto educacionais como sociais, culturais, políticas e econômicas.
Nesse cenário de exigentes demandas e necessidade de inovadoras ofertas insere-se então
o Design. Desde 2007, vislumbrando um cenário de um mundo globalizado, o Centro

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Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia (CEUN-IMT) oferece o curso de Design,
aproveitando sua vocação tecnológica e industrial tanto na área de gestão como Engenharia
compondo, desde o início, o tripé da inovação, mote estratégico da instituição, integrando
suas atividades com os cursos de Administração e Engenharia. O tripé da inovação representa
da melhor forma possível o entendimento institucional de que essas três áreas do
conhecimento, trabalhando juntas, conseguem alcançar um resultado melhor e mais completo
frente às soluções dos problemas complexos da atualidade. A Administração, responsável
pela viabilidade dos negócios, a Engenharia, responsável pela factibilidade técnica e o Design
como responsável pela “desejabilidade” e foco nas necessidades das pessoas compõem essa
trilogia baseada fundamentalmente nos preceitos da metodologia do DesignThinking (DT) -
Viability, Feasibility e Desirability (BROWN, 2009).
Segundo Melo e Abelheira (2015) o DesignThinking pode ser considerado como uma
metodologia que disponibiliza ferramentas do Design para solucionar problemas complexos
equilibrando o raciocínio associativo, que alavanca a inovação, e o pensamento analítico, que
reduz os riscos, posiciona as pessoas no centro do processo, do início ao fim, compreendendo
a fundo suas necessidades. Ao possibilitar que seus princípios sejam adotados por
profissionais que atuam em diversas áreas o DT acaba descentralizando a prática do Design
das mãos de profissionais especializados (CAVALCANTI; FILATRO, 2016) e possibilitando
novas formas de olhar e agir, complementando a formação do engenheiro.
A integração entre as disciplinas e o trabalho em equipe multidisciplinares têm se
tornado cada vez mais necessários frente à complexidade dos desafios a que estamos
expostos atualmente. Assim, ao aproximar o DesignThinking da Engenharia, tanto a
amplitude das competências interdisciplinares como a profundidade da especialização
disciplinar podem ser consideradas. Compreender o problema das pessoas, projetar soluções,
implementar a melhor opção e prototipar para testar e validar o melhor caminho são etapas
adotadas no DesignThinking num processo iterativo e recursivo (GUZZO; FACCA, 2018).
Pensamentos como divergência e convergência, análise e síntese, dedução, indução e
abdução, materialização e experimentação, individualidade e colaboração podem representar
caminhos alternativos para produzir novas ideias e projetar soluções inovadoras. A grande
contribuição da utilização do Design como modo de pensar está no seu aspecto holístico, de
pensar no todo, contrapondo conceitos que, trabalhados juntos, podem enriquecer o processo
de desenvolvimento de projetos e soluções inovadoras.

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O objetivo deste trabalho é analisar como a metodologia de projeto do DesignThinking
(DT) pode ser aplicada na Engenharia como forma de melhorar a aprendizagem geral nas
disciplinas do curso a fim de alcançar a inovação e a interdisciplinaridade entre as áreas.
Como objeto de estudo da pesquisa foi abordado o Projeto “OpenFab”, que fez parte da
programação da disciplina de Introdução à Engenharia (INTENG), ministrada durante o
primeiro semestre de 2018 aos alunos da 1ª série dos cursos de Engenharia do CEUN/IMT.

2 A DISCIPLINA DE INTRODUÇÃO À ENGENHARIA (INTENG)


Há algum tempo que as instituições têm buscado formas de compensar as dificuldades
referentes ao início dos cursos de Engenharia com atividades e disciplinas de caráter
formativo, vocacional e motivacional no âmbito do curso. Assim se compõe a disciplina de
INTENG, uma disciplina obrigatória, como no caso do ciclo básico dos cursos de Engenharia
do CEUN-IMT cujo papel principal, conforme definição da coordenação do ciclo básico dos
cursos de Engenharia, é nortear um eixo profissional e formativo de habilidades específicas
protagonizando e tornando-se a linha mestra condutora e estruturante das demais disciplinas
regulares (Cálculo, Física, Desenho, Algoritmos e Programação, Geometria Analítica e
Química) baseada em projetos em grupos, utilizando estratégias de aprendizagem ativa, com
forte ligação entre teoria e prática e na contextualização do trabalho do engenheiro já na 1ª
série (FREITAS et al, 2018).
A disciplina de INTENG, vem sendo avaliada como regular pelos alunos do ciclo básico
de Engenharia há vários anos, de acordo com dados fornecidos pela Comissão Própria de
Avaliação (CPA) do CEUN-IMT: os alunos não enxergavam a necessidade e importância da
disciplina, não viam a integração entre os temas abordados e os próprios professores
consideravam a forma como o conteúdo era abordado muito teórico, extenso e desmotivante
(FREITAS et al, 2018). Esse cenário, aliado à demanda do mercado por novas competências,
à reforma curricular da própria instituição a fim de tornar os cursos mais flexíveis e à
necessidade de redução da evasão clamaram por um redesenho da disciplina.
Assim, algumas mudanças foram implantadas, como: alteração do corpo docente, uso de
metodologia ativa de aprendizagem, definição de conteúdo com temas atrelados entre si,
evitando fragmentação, busca de suporte nos conteúdos nas disciplinas regulares, definição
de um plano de trabalho fundamentado em projetos, adequação do volume de trabalho e
transparência nos objetivos e processos avaliativos. Dessa forma, segundo ainda Freitas et al
(2018):

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“A INTENG assume um papel de linha mestra da 1ª série dos cursos de
Engenharia, tendo a importante função de ser o eixo profissional e formativo de
habilidades específicas. Todas as disciplinas regulares da 1ª série não deverão mais
atuar isoladamente, mas sim, ligarem-se ao eixo condutor da INTENG, dando a esta
os subsídios necessários ao início da formação profissional do estudante”.

A disciplina INTENG passa a ser dividida em quatro módulos bimestrais, sendo cada um
referente a um tema de relevância na Engenharia, fundamentando-se em 4 pilares: otimização
de um processo; desenvolvimento de um produto; desenvolvimento de um projeto ambiental
e estudo de caso na área de segurança, conforme a Figura 1.

Figura 1: Nova estrutura da disciplina INTENG baseada em projetos

Fonte: FREITAS et al (2018)

O Projeto “OpenFab”, objeto de estudo deste trabalho, encaixa-se no módulo 2 da


disciplina INTENG onde os alunos da 1ª série do ciclo básico de Engenharia do CEUN-IMT
deveriam desenvolver um novo produto, inovador e sustentável, aplicando a metodologia do
DesignThinking, utilizando algumas ferramentas de Design e passando por todas as etapas de
projeto, sob a orientação de uma equipe de 5 professores.

3 METODOLOGIA - O PROJETO “OPENFAB”


No Projeto “OpenFab” os alunos foram desafiados a desenvolver produtos inovadores e a
cultivar aptidões para a solução de problemas desenvolvendo o raciocínio lógico onde a
premissa básica do projeto foi a utilização de materiais recicláveis como matéria-prima
principal, construindo protótipos funcionais em escala real. Protótipos estes que foram
desenvolvidos nas instalações do FabLab Mauá, espaço recém instalado, que oferece recursos
(equipamentos e apoio técnico) para que os próprios alunos possam construir seus modelos,

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transformando suas ideias em produtos reais por meio da fabricação digital (GUZZO;
FACCA, 2018).
O projeto foi desenvolvido seguindo as seguintes instruções:
1. Cada equipe (formada por no máximo 4 alunos) deverá desenvolver um produto a
partir de algum material reciclável: MDF, PVC, acrílico, papelão, entre outros;
2. As atividades ocorrerão fora do horário regular de aula e terão o apoio dos
professores da disciplina, professores do ciclo básico, monitores de Design e
Engenharia e facilitadores da Enactus1;
3. A construção do protótipo será realizada no laboratório FabLab Mauá em horários
previamente agendados;
4. Cada equipe executará as atividades dentro dos horários que julgar conveniente,
de acordo com o cronograma estipulado;
5. Cada equipe deverá trazer o seu material para a confecção do produto no
laboratório.
Para o desenvolvimento do Projeto “OpenFab” foi aplicada a metodologia do
DesignThinking, composta pelas fases de Imersão, Ideação, Análise e Síntese e Prototipação
(VIANNA, 2013), de acordo com o seguinte cronograma de atividades definido no plano de
ensino da disciplina (Tabela 1):

Tabela 1: Etapas e atividades do projeto “OpenFab”

APRESENTAÇÃO DO Definição dos objetivos do projeto / introdução ao


PROJETO Design Thinking
Identificação de um problema / estudo detalhado
IMERSÃO do material escolhido / estudo das necessidades
dos usuários
Apresentação de uma solução para a resolução do
IDEAÇÃO
problema
APRESENTAÇÃO
Modelagem digital
DIGITAL
PLANEJAMENTO DO
Desenho técnico das vistas com dimensões e cotas
MODELO
PROTOTIPAÇÃO Confecção do mockup / protótipo
APRESENTAÇÃO
Vídeo / protótipo / apresentação digital / pitch
FINAL

Fonte: Adaptado pelos autores

1Rede de estudantes, líderes executivos e líderes acadêmicos, que fornece uma plataforma para os universitários criarem projetos de
desenvolvimento comunitário, colocando capacidade e talento das pessoas em foco. Disponível em < http://brazil-dev.enactus.org/about-
us/>. Acesso em 25 de janeiro de 2019.

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Como o número de alunos matriculados na disciplina era alto, cerca de 510, divididos em
12 turmas, e não havia tempo hábil nem número de professores de Design suficientes para
apresentar a metodologia do DesignThinking individualmente a cada turma, foi desenvolvida
a seguinte estratégia: a coordenadora do curso de Design, especialista em DesignThinking,
preparou as aulas com todo o conteúdo relacionado à nova metodologia e treinou os
professores da disciplina de Engenharia para que replicassem o conteúdo e orientassem os
alunos sobre como utilizar as ferramentas do Design no desenvolvimento do projeto. Dessa
forma, a cada etapa os professores recebiam uma nova aula com as devidas explicações e
orientações e multiplicavam o conteúdo a todos os alunos.
As aulas e conteúdos foram disponibilizados online na plataforma digital Moodlerooms
aos alunos, contemplando as definições dos conceitos, explicações sobre cada etapa,
orientações sobre as ferramentas, apresentação de exemplos e indicação de referências
bibliográficas e eletrônicas, incluindo uma explicação oral de cada aula. As aulas estavam
disponíveis todo o tempo para que os alunos pudessem acessar quantas vezes fossem
necessárias. Além disso, também foi disponibilizado aos alunos o atendimento dos monitores
tanto de Design como da própria disciplina para que pudessem tirar dúvidas e obter apoio
técnico fora do horário das aulas.
A etapa final do projeto referente à construção de um protótipo poderia ser desenvolvida
nos laboratórios de prototipagem (FabLab) da instituição. Nesse espaço os alunos teriam
disponíveis equipamentos (cortadeira a laser, usinagem em CNC, cabine de pintura etc.),
máquinas de corte e acabamento (serras, lixadeiras, furadeiras etc.) e materiais como madeira,
MDF, isopor, acrílico etc. Todo o suporte técnico seria dado pelos técnicos e colaboradores
dos laboratórios durante e fora o horário das aulas. Cada grupo deveria agendar previamente
um horário de atendimento e utilização do espaço.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao término do semestre, após a finalização dos projetos, foi realizada uma pesquisa
online com os alunos da disciplina INTENG com o objetivo de obter um feedback e avaliar o
impacto da utilização da nova metodologia de projeto baseada no DesignThinking nos
resultados do projeto, na percepção dos próprios alunos, na relação ensino-aprendizagem e na
interdisciplinaridade entre as áreas de Design e Engenharia. A pesquisa foi disponibilizada no
Moodlerooms, ambiente digital já bem familiarizado pelos alunos. O questionário era
composto por 15 perguntas (13 objetivas e 2 subjetivas) e foi respondido por uma amostra de
189 alunos da 1ª série do ciclo básico, ao final do 1º semestre de 2018.

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De maneira geral pode-se observar que a receptividade da nova metodologia nas aulas foi
muito boa. Apesar de 72% dos respondentes não saber o que era DT antes da participação do
projeto, 84% classificou como excelentes, ótimas e boas as aulas de projeto baseadas na
metodologia do DT. Em praticamente todas as questões as respostas foram, em sua maioria,
positivas demonstrando que 93% dos alunos acharam interessante aprender essa nova
metodologia, 88% concordam que essa metodologia mudou sua visão de projeto, 83%
gostariam de ter mais aulas, 93% gostariam de continuar aplicando o DT e 94%
recomendariam seu uso para algum amigo.
Sobre a formação do engenheiro, 90% dos alunos acham que esta melhorou depois da
utilização do DT e 99% concordam que ter uma visão diferenciada e integrada com o Design
é importante também. Desenvolver o projeto fora do horário de aula não agradou 34% dos
respondentes, mas esse fato foi recompensado positivamente pelo atendimento dos monitores
de Design (para 75% dos alunos) que puderam auxiliar de alguma forma durante todo o
processo.
Após a inserção da metodologia de DT na disciplina INTENG em 2018 ficou visível a
percepção dos alunos sobre a elevada relação entre os conhecimentos abordados com outras
disciplinas passando de 11% em 2015 para 58% em 2018. E os alunos passaram a considerar
que seu aprendizado geral na disciplina também aumentou passando de 46% em 2015 para
68% em 2018, nos conceitos muito bom e bom, de acordo com o Gráfico 1.

Gráfico 1: Percepções dos alunos sobre a disciplina INTENG

Fonte: Os autores

Quanto ao uso dos laboratórios de prototipagem (Fab Lab), os alunos foram


orientados pelos professores da disciplina a agendar previamente com os técnicos
responsáveis os horários para que pudessem utilizar o espaço, os equipamentos e materiais

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disponíveis durante o desenvolvimento do projeto. Apesar de todos terem acesso, cerca de
17% dos alunos não utilizou o espaço porque não precisou ou não quis e a maioria dos
respondentes (71%) achou que o Fab Lab contribuiu muito ou um pouco para o
desenvolvimento do projeto. A principal dificuldade para a utilização dos laboratórios foi em
relação aos horários; 37,8% dos respondentes tiveram problemas de agendamento ou falta de
disponibilidade de tempo, de acordo com o Gráfico 2.

Gráfico 2: Qual a principal dificuldade para a utilização do laboratório Fab Lab no projeto?

Fonte: os autores

E, finalmente, na pesquisa pode-se observar também que a maior contribuição da


utilização do FabLab no desenvolvimento do projeto foi em relação aos equipamentos,
ferramentas, materiais, espaço e técnicos disponibilizados para a prototipagem do produto
durante todo o processo, de acordo com o Gráfico 3.

Gráfico 3: Qual a principal contribuição do laboratório Fab Lab no projeto?

Fonte: os autores

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Na pesquisa final da disciplina INTENG realizada pela Comissão Própria de Avaliação
(CPA) em dezembro de 2018, e publicada ao término de cada semestre, pôde-se observar a
evolução do resultado da avaliação dos quatro últimos anos, de 2015 a 2018, de acordo com
os gráficos a seguir. O conceito geral da disciplina tem melhorado significamente passando
de 40% em 2015 para 68% em 2018 (nos conceitos muito bom e bom), conforme apresentado
no Gráfico 4.

Gráfico 4: Avaliação final da disciplina INTENG

Fonte: Adaptado pelos autores (CPA, 2018)

5 CONCLUSÕES
Diante dos resultados, pode se dizer que a experiência de integrar a metodologia do
Design à disciplina de INTENG foi fundamental para o entendimento do processo de
desenvolvimento de um produto, onde o consumidor é o principal foco. Houve uma positiva
receptividade dos professores e alunos e ficou um pouco mais visível que o Design com
certeza pode contribuir para o desenvolvimento de projetos na Engenharia. Esta pesquisa
mostra que os fundamentos do DesignThinking podem ser utilizados amplamente, desde o
início da formação do engenheiro, tornando o processo de criação mais integrado.
Em 2018 buscou-se tornar a disciplina Introdução à Engenharia mais abrangente,
consolidando o seu papel de eixo estruturante das demais disciplinas do ciclo básico dos nove
cursos de Engenharia do CEUN-IMT, como “Fundamentos em Engenharia”. Esta,
atualmente, engloba inclusive ações práticas e conteúdos de outras disciplinas, como Física,
Química, Desenho e Algoritmos e Programação. “É aí que entra o Design... o engenheiro
pensa somente no produto e, às vezes, esse produto não irá se aplicar em lugar nenhum.
Precisamos pensar nos desejos e necessidades do consumidor. Os Designers têm esse
conhecimento e o aplicam em tudo desde o primeiro dia de aula. Com esse conhecimento será

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possível criar mais produtos que vão atender mais pessoas. O Design é essencial nesse
processo” (FREITAS et al, 2018).
É importante reforçar que o processo estruturante aqui descrito, é dinâmico e, portanto,
ainda um processo em construção. Envolve um árduo trabalho de estabelecimento do maior
número possível de interfaces entre a atual disciplina de Fundamentos de Engenharia e as
disciplinas regulares, a colocação dos temas em contexto, a proposição de projetos relevantes
e plausíveis, a identificação das habilidades e sua pertinência, e o agrupamento em
competências. Certamente, com a evolução da disciplina, e com o trabalho de formação das
competências, serão identificadas habilidades ausentes que merecerão sua inserção. Levando-
se em conta a rápida evolução da sociedade e da Engenharia, esse caráter sinérgico da
disciplina, como um processo de construção e estudo nos parece bastante desafiador e
motivador.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia pelo
apoio às ações desenvolvidas, materiais e infraestrutura disponibilizada e aos professores e
alunos que participaram das atividades de INTENG e colaboraram nesse relato de
experiência. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento
001.

REFERÊNCIAS
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Superior. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia.
2019. Parecer homologado. Despacho do Ministro, publicado no D.O.U. de 23/4/2019, Seção
1, Pág. 109. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=109871-
pces001-19-1&category_slug=marco-2019-pdf&Itemid=30192>. Acessoem 29 de abril de
2019.

BROWN, Tim. Change by Design: How Design Thinking Transforms Organizations and
Inspires Innovation. Harper Business, 2009. 272 p.

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