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NYC, Hell's Kitchen.

Raiden saía daquele bar, agasalhado, com as mãos dentro dos


bolsos, tentando esquentar as mesmas, por mais que estivesse com luvas. Lentamente
subia as escadas, observando o movimento das ruas. Vazio. Todos em suas casas,
aproveitando a folga para ficar com suas famílias e amigos; ou até mesmo em bares, para
se esquentar com a adrenalina de um bom jogo de futebol americano. A verdade é que
Raiden não se importava com isso, sua ida ao bar foi para pensar um pouco, ouvir os
encontros de amigos e opiniões alheias. Há muito tempo Raiden pensava em abandonar o
seu manto, Nephila, um anti-herói que costumava sujar suas mãos de sangue, deixava seus
inimigos em estado de coma, talvez pegasse pesado, mas era necessário, até matar
alguém. Seguiu para direita, arrumando a bolsa que carregava com si, lá estava seu
uniforme, pela primeira vez em muito tempo não estava com ele em seu corpo, se fosse
como antes, estaria por aí, saltando entre os prédios, impedindo assaltos, mas não, desta
vez, estava quieto, desta vez ele era só o Raiden. Sua caminhada era lenta, neve em suas
botas, exigia um certo trabalho, por mais que fosse um super humano. Ou só super, o
senso de humanidade já foi perdido à muito tempo. Depois de uma longa caminhada
chegava à um posto de gasolina, indo até a loja de conveniência e abrindo a porta,
deixando que se fechasse sozinha.

— Merda. — Murmurou.

Era quase um milagre que o aquecedor do local estivesse ligado, não estava tão frio como o
resto da cidade, era o bastante para tirar a luva da mão esquerda. Moveu-se até a
atendente, pedindo um copo de café, preto, o mais quente que pudesse estar, enquanto ele
mesmo se movia para o balcão, pegando uma garrafa de whisky, sentando-se num dos
bancos e esperando ser atendido. Deitou a cabeça sobre a mesa, encarando a garrafa de
whisky, em momento algum pensou em beber, não era para isso, não era pra encher a cara
e sair bêbado dali, mas era algo que viria a ser útil naquela noite. A atendente veio,
deixando o café sobre a mesa, Raiden sorriu como forma de agradecimento, trazendo o
copo até o nariz, cheirando o conteúdo. Respirava aliviado, desde os quinze o café não
fazia mais efeito nele, mas gostava de beber. Cafeína era um dos, se não ​o seu maior vício,
a tentação era grande, mas não bebia tudo de vez, apenas deu um gole, dos grandes,
estava quente, queimava um pouco sua língua, mas era satisfatório de certa forma, aos
poucos tornava a beber, sem muita pressa de sair dali. Quem estava na área de pães e
lanches ligou a televisão, e lá estava no noticiário: "Pedófilo é marcado por Nephila."; se
tratava sobre a última noite, seu último caso, garotas e garotos entre 8 e 10 anos
desapareciam misteriosamente pela cidade, as investigações de Raiden levaram até Ethan
Jones. Um senhor de estatura média, cheirava a álcool e a charutos velhos, Ethan levava
as crianças para a sua casa, as estupravam, e depois queimava os seus corpos. Quando
Raiden descobriu o processo, arrastou o rosto dele contra cacos de vidro, deixando o
mesmo cortado, depois queimou o nome "Nephila" de um canto da orelha ao outro. Os
rostos alheios eram uma mistura de sentimentos, não sabia identificá-los, mas sabia que
não era de completa aprovação.

— O que vocês acham dele? Do Nephila? Estou fazendo uma matéria sobre a opinião
popular do anti-herói. — Questionou aos atendentes, uma mentira. Mais uma delas.
A mulher que estava no caixa se virou para Raiden, o respondendo quase de imediato. —
Se eu disser que não concordo com o que ele fez, estaria mentindo. Mas ele tem que pegar
mais leve, não é como se fosse um caso em um milhão. Toda vez que esse cara aparece, o
hospital fica lotado de vagabundos. — A mulher finalizou, voltando a fazer o seu trabalho.

O rapaz da área de lanches o respondeu logo em seguida. — Não julgo ele por fazer isso,
admiro por ele ter mantido o controle e não ter matado ele. Mas não acho que ele seja muito
diferente de bandidos, sendo que na maioria dos casos, esse cara persegue criminosos e
não se preocupa em salvar pessoas. — O homem finalizou.

O asiático nunca se importou com opiniões alheias, sempre foi dono de si e se existisse
alguém que pudesse impedi-lo de fazer algo era Hazel Storm, sua melhor amiga, mas
aqueles dias foram difíceis, dessa vez não podia dar atenção apenas para si, não podia
escutar apenas sua mente. Tinha que mudar tudo, alguém tinha que morrer naquele dia.
Raiden respirou fundo, terminando de beber o café, deixando uma gorjeta gorda e indo até
o caixa para pagar pelo Whisky. Voltando para o frio de Nova York, continuando a
caminhar, como já foi repetido, alguém tinha que morrer naquele dia, sendo assim, Raiden
entrou num beco, cheio de mendigos, colocando sua bolsa na lata de dentro da lixo,
colocando quase toda a bebida ali, pegando um isqueiro do bolso e colocando fogo ali.
Alguém morreu naquele dia. Nephila morreu naquele dia.

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