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A TOPONÍMIA COMO CONSTRUÇÃO


HISTÓRICO-CULTURAL:
o exemplo dos municípios do estado do Ceará

Jörn Seemann
Professor do Departamento de Geociências da Universidade Regional do Cariri (URCA).

Resumo
A toponímia é definida como estudo etimológico dos nomes de
lugares. A análise dos topônimos, portanto, costuma se restringir
aos aspectos lingüísticos e históricos da sua origem sem levar em
conta que a denominação dos lugares é, de fato, um processo
político-cultural que merece uma abordagem além do nome
atribuído a uma localidade. Sob uma perspectiva histórica na
Geografia Cultural, sugerem-se diferentes focos de pesquisa para o
estudo da toponímia que serão ilustrados através de exemplos
concretos: 1) A análise dos nomes dos lugares, suas diferentes
origens (por exemplo, tupi, português) e sua distribuição espacial,
levando-se em conta as diferentes escalas de análise desde locais
isolados como fazendas, municípios, regiões ou estados; 2) A
pesquisa histórica contextualizada dos nomes dos lugares para
revelar a dinâmica da sua denominação e renominação no tempo e
no espaço e os motivos e agentes político-culturais atrás desse
processo (o exemplo da política territorial de Getúlio Vargas); 3) A
correlação entre a toponímia e o mapa como legitimador da
validade dos nomes; 4) A interpretação do significado dos nomes
dos lugares no processo de construir identidades e territorialidades
em face do simbolismo e da iconografia do lugar. A tarefa da
Geografia Cultural seria investigar, comparar e interpretar o
significado dos nomes dos lugares e as diferentes versões e visões
da sua topogênese para contribuir para uma melhor compreensão
da relação entre espaço e cultura no passado e no presente.

Palavras-chave: toponímia brasileira; geografia cultural; geografia


histórica.

Abstract
Toponymy is defined as the etymological study of place names.
However, the analysis of toponyms used to be confined to
linguistical and historical aspects of their origin, without taking into
account that the denomination of places is, in fact, a political and
cultural process that deserves an approach beyond the names
given to a locale. Under a historical perspective in Cultural
Geography, different research lines for toponymy studies can be
proposed: 1) the analysis of place names, their different origins and
their spatial distribution in respect to the different scales of analysis,
from isolated places as farms to cities, counties, regions or states; 2)
the research within the historical context of place names in order to
reveal the dynamics of its naming and renaming in time and space
and the reasons as well as political and cultural agents behind this
process (the example of the territorial policies of the Vargas
government between 1930-1945); 3) the correlation between the

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toponymy and the map as a legitimizer of name validities; 4) the
interpretation of the meaning of place names in the process of
identity and territory shaping in respect to symbolism and place
iconography. The task for cultural geographers should be the
investigation, comparison and interpretation of the meanings of
place names and the different versions and visions of their
topogenesis in order to contribute to a better understanding of the
relation between space and culture in the past and in the present.

Keywords: Brazilian place names; cultural geography; historical


geography.

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Introdução

Espaço e cultura são indissociáveis, porque não há sociedades que


vivam sem espaço para lhes servir de suporte (Claval, 2001, p.207). O ser humano
se compreende pelo ambiente que habita, e habitar um lugar significa conhecê-lo,
transformá-lo e humanizá-lo (Bonnemaison, 2000, p.39). Trata-se de um espaço
cultural, “que se determina tanto por sua dimensão territorial como por sua
dimensão histórica” (Bonnemaison, 1981, p.255).

Para organizar esse espaço humanizado para fins de orientação,


organização e referência, é necessário registrar e mapear as localidades,
atribuindo-lhes nomes. Dessa maneira, o “batismo” dos lugares e o estudo dos
nomes dos lugares se tornam um “empreendimento de muitas facetas com
grandes e excitantes potencialidades intelectuais” (Zelinsky, 1997, p.465), que vão
além da toponímia como estudo etimológico dos nomes de lugares. A análise dos
topônimos costuma se restringir aos aspectos lingüísticos e históricos da sua
origem, sem levar em conta que a denominação dos lugares é, de fato, um
processo político-cultural que merece uma análise mais detalhada do que o
registro dos nomes atribuído às localidades. Como observa Fair (1997, p.467),
“muitos estudos de nomes de lugares, portanto, continuam com a abordagem
antiquada, coletando topônimos como objetos, utilizando um método tipo 'alfinete
no mapa' que enfatiza uma coleta desamparada do contexto ou da textura profunda
de uma perspectiva por dentro”. Os nomes das localidades definem tanto os
lugares quanto as pessoas, mas “os esforços dos pioneiros tinham basicamente
como foco coletar, classificar e procurar origens para os nomes, apenas com
provas ocasionais das ligações com a totalidade acompanhante dos fenômenos
humanos” (Zelinsky, 1997, p.465).

Neste sentido, a análise da toponímia merece mais atenção a respeito do


seu significado cultural e como campo de pesquisa interdisciplinar (Tort, 2001). O
objetivo deste artigo é mostrar as facetas político-culturais da toponímia, utilizando-
se como exemplo recortes ilustrativos da toponímia brasileira. Após uma discussão
mais geral sobre os nomes de lugares inseridos no contexto do tempo e do espaço,
serão apontadas algumas abordagens como a distribuição espacial dos
topônimos, seu contexto histórico-político e seu significado na representação
cartográfica para apresentar caminhos para uma possível agenda de pesquisa.

Toponímia além do seu estudo lingüístico

Sob uma perspectiva histórico-cultural, Claval (2001, p.189) considera a


denominação de lugares como tomada de posse do espaço e como referência e
orientação, afirmando que

“todos os lugares habitados e um grande número de sítios


característicos na superfície da Terra têm nomes –
freqüentemente há muito tempo. A toponímia é uma
herança preciosa das culturas passadas. Batizar as costas
e as baías das regiões litorâneas foi a primeira tarefa dos
descobridores [...]. O batismo do espaço e de todos os
pontos importantes não é feito somente para ajudar uns
aos outros a se referenciar. Trata-se de uma verdadeira
tomada de posse (simbólica ou real) do espaço”.

Paul Carter (apud Jackson, 1992, p.168) considera o batismo dos lugares
como “fazer história espacial” que começa e termina com a língua. Pelo ato de
nomear, o espaço é simbolicamente transformado em lugar, que, por sua vez, é um
espaço com história. Para ilustrar essas reflexões, Carter cita o exemplo da
colonização da Austrália:

“Nos setenta anos e tanto depois da chegada da Primeira


Frota, o contorno da costa australiana foi mapeado, seus
vazios no mapa sobrescritos, riscados com as trilhas dos

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exploradores, gradualmente habitados por uma rede de
nomes; a faixa litorânea da Austrália [...] foi
progressivamente sulcada e marcada com limites, suas
planícies dos estuários e dos rios demarcadas para
cidades. Os descobridores, exploradores e colonizadores
[...] estavam fazendo história espacial. Eles estavam
escolhendo direções, empregando nomes, imaginando
destinos, habitando o país” (apud Jackson, 1992, p.168).

Para confirmar esses laços entre os observadores e a paisagem


reconhecida, a “história espacial” recorre à denominação de referências espaciais.
Deve-se entender essa “história espacial” como uma “história social do espaço”, isto
é, uma preocupação com as formas espaciais (nesse caso os nomes de lugares)
através de que uma cultura expressa a sua presença. Sua função principal é

“[criar] um 'novo' espaço, ou melhor, desvendar ou


recuperar um espaço de além da grade discursiva do
processo de mapeamento colonial e descrevê-lo. Esse
novo espaço de possibilidades (de reescrever) interrompe
o espaço histórico fechado, ele tem a forma e função de
uma arqueologia, ele reentra na história e, fazendo assim,
articula a possibilidade de reescrevê-la” (Roe, 1992).

Como os nomes próprios de pessoas, o batismo dos lugares depende


muito dos critérios do observador que decide o que tem destaque ou não na
paisagem e o que merece menção. Segundo a Encyclopaedia Britannica (1964,
p.63D), denominar um lugar geográfico depende de dois fatores: a) o sentimento
que um lugar é uma entidade que possui uma individualidade que a distingue de
outros lugares; e b) a sensação de que um lugar é útil e vale a pena ser
denominado. Em resumo, o que é efêmero, “comum” demais ou igual a outros
lugares não valeria a pena ser registrado.

Essas observações se referem às sociedades sedentárias,


principalmente às “ocidentais” que precisam ter uma “toponímia fixa” (Claval, 2001,
p.201). Portanto, nem todas as sociedades precisam nomear os seus lugares,
como foi mostrado por Collignon (1996) através do exemplo de um grupo inuit
(esquimó) no Canadá que, em vez de mapear os vastos espaços do Ártico,
“fotografa” os detalhes do espaço no espírito, atrelando-os à memória das
pessoas. Dessa maneira, a denominação dos lugares não é uma referência
(d)escrita, mas se confunde com a percepção e a história de vida das pessoas.
Rundstrom (1990) também afirma que povos como os inuit apenas começaram a
confeccionar mapas a pedido dos ingleses na metade do século XIX e não por
necessidade própria:

“Durante a [minha] pesquisa de campo em 1989, um dos


anciões dos inuit me contou que ele tinha desenhado
mapas detalhados de Hiquligjuaq pela memória, mas ele
sorriu e disse que há muito tempo os tinha jogado fora. Foi o
ato de fazê-los que era importante, a recapitulação de
características ambientais e não os objetos materiais por si
mesmos” (Rundstrom, 1990, p.165).

Essas perspectivas não-cartesianas, portanto, são raramente abordadas


na sociedade moderna e mereceriam uma atenção maior nas pesquisas
(Seemann, 2003).

Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (s/d, mas


provavelmente publicada no início da década de 60), é enfatizada a importância da
toponímia nos domínios lingüístico e histórico, cujos estudos científicos podem ser
feitos “metodicamente segundo vários pontos de vista, desde a classificação por
línguas até as causas que promoveram o aparecimento dos topônimos, isto é, seu
sentido” (p.70). Leite de Vasconcelos (citado na mesma Enciclopédia) propõe uma

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divisão da toponímia em três seções: 1) lingüística toponímica, 2) gramática
toponímica e 3) proveniência. O primeiro campo trata dos nomes de lugares
classificados por línguas, levando-se em conta que “os nomes de lugar, por isso
que fazem parte do léxico português, se sujeitam às mesmas leis que as palavras
da língua comum” (p.82). No segundo campo, o da gramática toponímica, objetiva-
se uma análise dos modos de formação dos nomes de lugares. Enquanto essas
primeiras duas áreas se ocupam com os aspectos formais dos topônimos, o
terceiro campo, o estudo da proveniência toponímica, ganha um caráter mais
histórico (e geográfico) ao analisar os topônimos “segundo as causas que os
originaram, que é o aspecto sob que um topônimo tem interessado mais aos que os
pretendem explicar, desde o povo aos eruditos” (p.73).

O estudo da toponímia deve ser visto como um projeto interdisciplinar,


como mostrado nos trabalhos de Dick (1997, 1999), que pesquisou a dinâmica dos
nomes na cidade de São Paulo (1554-1897) e analisou, a partir de 573 cartas
municipais, a nomenclatura geográfica dos municípios paulistas e seus aspectos
semânticos, morfológicos e históricos, objetivando a elaboração de um banco de
dados de topônimos estaduais e a preservação da memória onomástica.

A toponímia de um lugar deriva de diferentes proveniências, resultantes


de determinantes como aspectos geográficos, flora e fauna dominantes ou
características, nomes de pessoas etc. Siderius e Bakker (2003), por exemplo,
mostram a relação muito estreita entre a toponímia e a nomenclatura dos solos na
Holanda antes da introdução das taxonomias internacionais, enquanto Waibel
(1943), em um estudo pioneiro na área de Geografia, realizou uma “reconstrução
da vegetação original de Cuba”, a partir de uma abordagem toponímica.

Nesse contexto, a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (s/d)


propõe uma subdivisão dos nomes dos lugares em seis diferentes categorias
toponímicas, mostradas na Tabela 1.

Essa classificação não deve ser lida como um conjunto de categorias


fixas. Há muitos exemplos para mostrar que um nome de um lugar pode ser um
biogeotopônimo (Poço das Antas, RS) ou um geoagiotoponômino (São José do Rio
Preto, SP). Nem todos os autores utilizam o termo toponímia para analisar a
etimologia dos lugares. Laverdière (1996) fala de coronímia nominativa, enquanto
Costa, Rodrigues, Pinto e Nobre (1975), no Atlas Mirador Internacional, usam a
expressão nomenclatura geográfica ou o neologismo geonímia, que abrange os
nomes próprios de lugares e acidentes geográficos e que podem ser subdivididos,
entre muitos outros “ônimos”, em curiosidades eruditas como nesônimos (ilhas,
arquipélagos), eremônimos (desertos) ou quersonesônimos (penínsulas). Cientes
dessa burocratização da toponímia, os próprios autores admitem que “malgrado a
utilidade dessa terminologia para certos fins, esta geonímia [do Atlas Mirador] fez
pouco uso dela” (p.152).

A denominação de lugares acontece em diferentes escalas e pode afetar


um país inteiro ou apenas uma rua, um morro insignificante ou uma casa. Claval
(2001, p.203) usa o termo regionímia para indicar diferentes níveis de percepção
do espaço devido à mudança de escala, desde os nomes da comunidade e dos
microacidentes do relevo até as vilas e cidades e as denominações de regiões e
estados. Dessa maneira, o nome oficial da República Centro-Africana foi apenas
oficializado em 1979 depois de ter passado pelos nomes Ubangi-Chari e Império
Centro-Africano (do coronel golpista e “imperador” Jean Bédel Boukassa),
enquanto Alto Volta tinha seu nome mudado para Burkina Fasso (república de
pessoas íntegras, corajosas e dignas de respeito) depois de um golpe militar em
1984. Até no Brasil podem ser encontrados vários exemplos como Guaporé
(Território Federal de Rondônia em 1943, Estado em 1956) e Rio Branco (Território
Federal de Roraima em 1943, Estado em 1962). Na Alemanha reunificada depois
da queda do Muro de Berlim, as mudanças políticas também trouxeram topônimos
novos como, por exemplo, Karl-Marx-Stadt (Cidade de Karl Marx), que voltou a ser
chamada de Chemnitz. No processo de renomear localidades para eliminar a
memória do socialismo, houve também mudanças na escala local: muitos nomes

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de ruas da antiga Alemanha Oriental, que antigamente tinham referências a datas
comemorativas e heróis socialistas, foram “neutralizados” e substituídos por outros
nomes de acordo com o sistema capitalista e inseridos no discurso de uma
identidade nacional alemã que é articulada em termos de uma “canonização de
uma herança histórico-democrática” (Azaryahu, 1997). Nesse sentido, os nomes
de ruas fazem parte de um processo de criar “novas paisagens públicas
iconográficas” (Light, 2004), e o estudo da sua dinâmica poderia revelar como os
países pós-socialistas estão redefinindo identidades e passados nacionais.

Tabela 1. Categorias toponímicas


CATEGORIA EXEMPLOS
TOPONÍMICA DEFINIÇÃO BRASILEIROS

Antroponímia Nomes de lugares João Pessoa (PB)


provenientes de pessoas Dom Pedro (MA)
Bento Gonçalves (RS)

Biotoponímia Animais ou vegetais dominantes Jacareí (SP)


ou característicos na região; Formiga (MG)
fauna = zootoponímia, flora = fitotoponímia Não-Me-Toque (RS)

Geotoponímia Orotoponímia = nomes relativos ao relevo Serra Talhada (PE)


e formas do terreno (cabeceiras, serras); Cachoeira de
hidrotoponímia (rios, nascentes, riachos); Itapemirim (ES)
litotoponímia (rochedos, aspectos Riachão (MA)
geológicos) Morrinhos (CE, GO)
Pedra Branca (CE)

Arqueotoponímia Nomes de sentido arqueológico, Esta categoria


alusivos a objetos materiais merece pesquisas
(pedras, fortificações, utensílios) toponímicas mais
ou fatos costumeiros e institucionais aprofundadas em
(propriedades rústicas, povoado parceria com a
indígena antigo) arqueologia

Hagiotoponímia Devoção e cultos cristãos; Santa Maria (RS)


deve ser diferenciado das designações São Paulo (SP)
puramente eclesiásticas e paroquiais Aparecida (SP)
São José dos
Campos (SP)

Etnotoponímia Correspondente a nomes pátrios Nomes indígenas


ou étnicos; fatos de colonização anterior antes do
à nacionalidade “descobrimento”
como
Campos dos
Goytacazes (RJ)
Quixadá (CE)

Fonte: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, s/d.

No Brasil, por sua vez, é muito corriqueiro homenagear pessoas vivas:


prefeitos se auto-homenageiam em avenidas e ruas de importância, enquanto
deputados e senadores “emprestam” seus nomes para bairros e conjuntos
habitacionais que receberam financiamento graças ao esforço desses
“patrocinadores”.

Diante dessas observações iniciais, fica evidente que a análise dos


topônimos, sua etimologia e as razões da sua origem não são uma tarefa
exclusivamente lingüística, mas também sociocultural e geográfica, como será
mostrado em seguida através do exemplo dos nomes dos municípios no Ceará.

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Topônimos e sua distribuição espacial: os municípios do Ceará

Um trabalho curioso sobre a toponímia brasileira é o artigo “As origens


psicossociais dos topônimos brasileiros” de Oliveira (1970), no qual o autor “visa
mostrar quais os nomes que o povo brasileiro dá preferência [sic] para a
denominação geográfica, sendo essa escolha um resultado, em nosso modo de
entender, do complexo cultural de que ele é parte integrante” (p.61). Através de
nada menos do que 51 tabelas, Oliveira analisa as origens (português, indígena,
africano etc.) dos 35 326 vocábulos topográficos do índice dos topônimos contidos
na Carta do Brasil 1:1.000.000, apontando as preferências regionais pelos nomes
religiosos, pela hidrografia, vegetação, solos, relevo, animais etc., chegando à
conclusão (não muito científica) de que “de acordo com a toponímia brasileira, o
nosso povo é essencialmente católico, bucólico, otimista e nacionalista” (p.70). Os
nomes de lugares podem ser associados a emoções, visões de mundo e uma
identidade local, regional ou nacional e não se restringem às pesquisas
acadêmicas como mostra a artista irlandesa Kathy Prendergast, que criou um
projeto de um “atlas emocional do mundo, confeccionando um mapa topográfico do
Estados Unidos do qual ela removeu todas as referências de lugares, substituindo-
os como todos os topônimos que contêm o adjetivo lost (perdido em inglês) como
Lost Creek (Riacho Perdido), Lost Island (Ilha Perdida) etc. (Prendergast, 1997).

Os nomes de lugares têm origens etimológicas diferentes e podem


obedecer a um padrão espacial dentro de um contexto histórico-político. Enquanto
lugares pequenos e insignificantes como pequenas elevações ou riachos, muitas
vezes, preservam seus nomes populares, ruas, municípios, estados e países não
ficam livres de um batismo intencional, de modo que se torna necessário levantar
as seguintes questões: Quem nomeia os lugares? Por que nomeia? Quais são os
efeitos da denominação? A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (s/d)
utiliza o termo Geografia toponímica (distribuição de um topônimo) para uma
abordagem espacial e afirma que “a existência de um topônimo implica sempre a
existência de quem o aplicou e de quem o conserve; e, se ele é de incontestável
antiguidade, fica manifesta a sua alta importância como lídimo documento
histórico, tantíssimas vezes o único capaz de lançar alguma luz sobre o princípio
histórico de um lugar ou povoado” (p.83).

Para ilustrar este trabalho de Geografia toponímica, será analisada a


toponímia dos municípios do Estado do Ceará em sua distribuição espacial, tendo
como base as enciclopédias de Martins Filho e Girão (1966) e do IBGE (1959), os
Perfis Básicos Municipais do Instituto de Planejamento do Ceará (IPLANCE, 2003)
e a minha própria interpretação, não objetivando fornecer uma cobertura completa
(e única) do assunto.

A Figura 1 mostra as origens dos nomes atuais conforme as suas


proveniências (nome indígena, português, nome de pessoa, religião), permitindo
as seguintes observações. Quase a metade dos 184 municípios cearenses tem um
nome indígena (tupi-guarani) que se refere à geografia local, o que se manifesta,
entre muitos outros casos, nas sílabas i- (= água, exemplos: Icó, Iguatu, Ipu), ita- (=
pedra, exemplos: Itapagé, Itapipoca, Itarema etc.) ou -tama (= abrigo, exemplos:
Uruburetama, Jaguaretama, Pindoretama). Além dos acidentes geográficos, as
denominações também podem expressar o território de antigas tribos indígenas
(como os municípios com a sílaba quix- = queixada, ou jaguar- = onça), extintas
pelos europeus e homenageadas postumamente. Ter um nome indígena não
significa necessariamente que o município seja muito antigo. Muitos nomes
indígenas são resultado da “tupinização” da Era Vargas, o que será mostrado mais
adiante. Quanto aos significados dos nomes indígenas, há muito espaço para
adivinhação e interpretação. O próprio nome do Ceará foi sujeito a inúmeras
interpretações desde a “Terra dos Papagaios” ou “Andar para trás” (caranguejar)
até a alusão ao grande deserto africano do Saara, tanto que o jornalista e escritor
Antônio Bezerra (apud Martins Filho e Girão, 1966, p.10) chegou à conclusão de
que “o etimologista decompõe a palavra a seu jeito, inventa radicais e os coloca
como bem lhe parece sem se importar se esse arranjo era o seguido na língua
indígena”.

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Figura 1. Proveniência dos nomes atuais dos municípios do Ceará

Um quarto dos municípios cearenses tem um nome com origem na língua


portuguesa. Esta classe inclui nomes próprios de localidades em Portugal como,
por exemplo, Arneiroz, Chaval ou Crato (para uma análise mais detalhada sobre os
topônimos de Portugal no Ceará, veja Seraine, 1987), fenômenos geográficos
(entre outros, Pedra Branca, Salitre, Massapê, Granja) ou eventos históricos
(Independência, Redenção). Muitas vezes trata-se do nome de um sítio ou uma
fazenda que representava o núcleo inicial de um povoado.

19 municípios cearenses possuem um nome de uma pessoa ou suas


modificações. Constam municípios em homenagem a personalidades públicas
como políticos (Senador Sá, Senador Pompeu, Campos Sales, Deputado Irapuan
Pinheiro, Eusébio etc.), historiadores e escritores (Catunda, Farias Brito,
Solonópole = Solon Pinheiro) ou clérigos (Monsenhor Tabosa, Penaforte,
Martinópole = Monsenhor Martins), fundadores do povoado (Quiterianópolis,
Palhano), famílias importantes (Alcântaras, Moraújo = Morais + Araújo) ou até
engenheiros da Via Férrea (Pires Ferreira, Piquet Carneiro).

14 municípios cearenses têm uma conotação religiosa, aludindo-se ou ao


símbolo da Igreja (Cruz, Bela Cruz) ou a santos que muitas vezes também são os
padroeiros do município. Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
(s/d), deve-se distinguir entre hagiotoponímia (devoções e cultos cristãos) e as
designações puramente eclesiásticas ou paroquiais. Seguindo essa divisão, o
Ceará tem municípios hagiotoponímicos como São Benedito, Santa Quitéria,
Milagres (Nossa Senhora dos Milagres), Boa Viagem (Nossa Senhora da Boa
Viagem), Catarina (Santa Catarina) e Graça (Nossa Senhora das Graças) e
também designações paroquiais como Santana do Acaraú, Santana do Cariri ou
São João do Jaguaribe, entre outros.

Os municípios restantes não se enquadram nas categorias supracitadas:


Chorozinho, por exemplo, é uma criação do tupi choró (= rio murmurante) com o
diminutivo zinho do português. Mocambo (às vezes, Mucambo = esconderijo de
escravos), Mulungu (planta) e Mombaça (cidade no Quênia) têm origem africana.
O nome Hidrolândia (nome oficial desde 1965, antigamente Cajazeiras do Timbó e
Batoque) “é de formação erudita, para lembrar que o local é a região da água, no
caso as águas medicinais, magnesianas e sulforosas recentemente ali

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descobertas e objeto de numerosa afluência de pessoas de municípios vizinhos ou
de mais distância na esperança de cura para suas enfermidades” (Martins Filho e
Girão, 1966, p.285). Este último exemplo mostra que as prefeituras também
pensam em uma representação positiva do seu município, começando com o
próprio nome. Outros exemplos de como o nome pode transmitir uma imagem
positiva do lugar são Várzea Alegre e Irauçuba (=amizade, em tupi-guarani), sendo
este último um “nome muito bem aplicado por serem os habitantes da povoação
dotados de bons sentimentos, alheios a intrigas, progressistas e amigos da paz”
(p.308) - virtudes que quase todos os povoados reclamam ser as suas!

Por outro lado, também há nomes negativos. O município Jaguaretama,


por exemplo, tinha o apelido nada convidativo de Riacho do Sangue, “em virtude
das horríveis carnificinas aí verificadas entre os índios das duas parcialidades
Montes e Feitosa, famílias que durante muitos anos se digladiaram no interior do
Estado” (p.318s). O “buraco da mosca” esconde-se atrás do nome Meruóca;
Itarema significa pedra malcheirosa, mas os próprios moradores omitem o adjetivo;
Baixio resultou de uma fazenda de criar gado e “tem sido lembrada a conveniência
de mudar-se esse nome, porém sem melhor resultado” (p.76).

A análise geográfico-cultural dos nomes dos municípios cearenses,


portanto, mostra algumas fraquezas metodológicas, sobretudo quando o geógrafo
não consegue descobrir um determinado padrão na distribuição dos nomes. A
Figura 1 mostrou os nomes atuais dos municípios cearenses, sem levar em conta
que a toponímia é, de fato, um processo dinâmico. Há municípios várias vezes
rebatizados antes de terem recebido os seus nomes atuais como Acopiara (=
lavrador) que se denominava Lages e Afonso Pena, Aratuba (antigamente Coité e
Santos Dumont), Campos Sales (antigamente Várzea da Vaca e Nova Roma) ou
Palmácia (antes Palmeiras e Silva Jardim) que rejeitou o nome proposto Pindobal.
Outros lugares, por sua vez, mantiveram seu nome original como o caso de Aquiraz
(São José de Ribamar de Aquiraz), fundado em 1699. Por isso, uma mera análise
da toponímia do presente não permite conclusões profundas, se não for levado em
conta o contexto histórico-político.

Topônimos no seu contexto histórico-político: a era Vargas

Zelinsky (1997, p.465) afirma que “a toponímia é inextricavelmente


amarrada na biota, na fisiografia, na hidrologia e no clima local, nos espaços-ações
diários ou sazonais e na ecologia humana em geral, bem como nas estruturas
intrínsecas das línguas em questão”. De certa maneira, essa observação mostra o
batismo dos lugares como decisão espontânea e livre. A análise da toponímia
brasileira, portanto, mostra um constante conflito entre nomes tradicionais e
populares de um lado e denominações (às vezes, imposições) oficiais de outro, o
que leva a pensar que “nomear os lugares é impregná-los de cultura e de poder”
(Claval, 2001, p.202; grifo meu), porque os nomes vêm a mudar brutalmente todo o
espaço após a instauração de um novo poder, de uma invasão, ou do triunfo de
novas modas.

Através de um exemplo da História do Brasil, será mostrada a importância


da pesquisa histórica contextualizada dos nomes dos lugares para revelar a
dinâmica da sua denominação e renominação no tempo e os motivos e agentes
político-culturais por trás desse processo.

A era Getúlio Vargas (1930-1945) pode ser considerada a iniciativa mais


bem sucedida de formular as regras básicas nacionais de divisão territorial que
ainda hoje continuam em vigor (Veiga, 2001). Getúlio Vargas defendia um
nacionalismo ferrenho, tendo como base um Estado brasileiro centralizado e
monolítico “para dominar os regionalismos extremados, para conter o influxo
perigoso das ideologias estrangeiras que ameaçavam corromper o espírito cívico,
para assegurar a unidade do país e lhe coordenar as forças vivas em lamentável
dispersão, devia ter o governante um ardente sentimento não só patriótico, mas
sobretudo nacionalista” (Schwartzman, 1983, p.26). Getúlio Vargas se opunha ao
extremo regionalismo de alguns estados brasileiros e, como observa o brasilianista
Skidmore (1969, p.59-60), “apelava para o sentimento mais alto do nacionalismo,
colocando-se assim em posição de superar as paixões regionais em conflito.”

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Depois do golpe de 1937, Vargas adotou uma tática mais direta: em fins de
novembro de 1937, o ditador realizou uma cerimônia pública, na qual chegou a
mandar queimar as tradicionais bandeiras dos estados.

As conseqüências do nacionalismo getuliano se refletiram no


ordenamento do território brasileiro. Quanto à nomenclatura dos lugares, foi
constatado, entre outras “irregularidades”, um “regime de confusão e arbítrio”,
verificando-se a identidade de denominações no mesmo estado, a extensão
exagerada de muitos topônimos oficiais completos de sete e mais palavras e a
diversidade de designação entre muitas circunscrições e as respectivas sedes
(Schwartzman, 1983, p.182).

O caso brasileiro não é o único dessa época. Tort (2003), por exemplo,
analisou as mudanças dos nomes dos municípios e seu caráter transitório na
Catalunha durante a revolução e a guerra civil na Espanha (1936-1939), chegando
à conclusão de que 11,6 % dos nomes tradicionais tinham sido substituídos por
topônimos que refletiam, de algum modo, as “inquietudes reformadoras da nova
época”.

O governo Vargas visava a uma normalização, sistematização e


padronização da toponímia brasileira, para estabelecer normas precisas para a
racionalização do quadro territorial brasileiro, cuja referência mais relevante é o
Decreto-lei n.311 de 02.03.1938 que dispõe sobre a divisão territorial do país. Essa
revisão toponímica tinha os seguintes objetivos a respeito da denominação das
cidades e vilas:

• a eliminação das duplicatas de nomes em todo o país;

• a redução dos nomes extensos;

• a possível eliminação dos nomes estrangeiros ou de pessoas vivas,


respeitados os imperativos da tradição e da vontade popular, bem como
as legítimas homenagens;

• a preferência pela adoção de nomes indígenas ou relacionados a fatos


históricos da região, no caso de substituição de topônimos;

• a conservação dos nomes já consagrados pelas populações das


localidades respectivas, desde que não contrariasse as disposições
acima (Schwartzman, 1983, p.189).

• Pompeu Sobrinho (1944) aplica a legislação federal no Ceará (Decreto-


lei n. 448 de 20.12.1938, Decreto-lei n. 1.114 de 30.12.1943) e relata o
trabalho da Comissão de Revisão da Divisão Administrativa no Estado do
Ceará, no qual foram mudados “14 das nossas 79 cidades e 114 das 310
vilas do Estado” (p.30), seguindo as diretrizes nacionais, já que

“a idéia da modificação do quadro toponímico, sem dúvida,


traz, além de um resultado prático, certa dose de sadia
brasilidade porque: concorre para aumentar o espírito de
coesão nacional, lembrando aos brasileiros mais bairristas
de cada província que o seu Estado não está só na
comunhão brasileira, que outros existem com os mesmos
direitos políticos, igualmente dignos de todos os respeitos”
(Pompeu Sobrinho, 1944, p.30).

Desta maneira, “qualquer cidade ou vila ganha um pouco mais de


personalidade em detrimento do prestígio provinciano; qualquer delas antes de ser
deste ou daquele Estado é brasileira” (Pompeu Sobrinho, 1944, p.30). Conforme
essa política, os topônimos se tornaram partes integrantes da formação da
nacionalidade brasileira.

Para o fortalecimento deste “espírito nacional”, a Comissão seguiu as


recomendações federais para “crismar” as vilas e cidades: dava-se preferência aos

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217
nomes indígenas que deveriam pertencer à língua dos índios que habitavam a
região e “ter significação adequada, ligada a qualquer circunstância local, tal como
sabiam fazer excelentemente os ameríndios”. Ademais, os vocábulos novos
preferivelmente deveriam ser dissílabas, evitando-se “expressões chocantemente
cacofônicas” (Pompeu Sobrinho, 1944, p.30).

No decorrer dessa campanha de tupinização, alguns nomes foram


literalmente traduzidos para o tupi-guarani como Alagoinha para Ipaumirim (1943),
Pedro II para Abaiara (1943, a palavra indígena quer dizer “homem-rei”, embora
populares do município se baseiem em um “mito fundador” que deriva o nome do
município de um casal de índios, Aba e Iara), Bebedouro para Aiuaba (1943),
Passagem das Pedras para Itaiçaba (1938), Cachoeirinha para Parambu (1943) e
Várzea Formosa para Poranga (= Formosa, 1943). Em outros casos, os nomes
sugeridos enfrentaram uma resistência mais forte da população e da política local.
O município de Poranga, por exemplo, recebeu propostas alternativas para sua
denominação: Feitosa e Varmosa (contração esquisita de Várzea e Formosa). O
município de Itatira se opôs aos nomes Braga (primeiros colonizadores) e Deovila
(“Cidade de Deus”, tradução esdrúxula do nome Belém, denominação anterior do
povoado). Outras sugestões “cacofônicas” como Tamboatá (Paramoti),
Monteirópolis ou Irapuru (Potengi) ou Rochalândia ou Valdelândia (Uruburetama)
eram resultado de “propostas, insistentes dos prefeitos e pessoas influentes do
lugar, em geral impressionados com uma pretendida eufonia dos vocábulos
propostos” (Pompeu Sobrinho, 1944, p.34). Embora os documentos oficiais não
revelem quem era o autor das propostas e como os nomes foram votados, fica
evidente um conflito entre autoridades federais, estaduais e a população para
exercer o direito e o poder de nomear as localidades.

Não apenas o ordenamento do território brasileiro, mas também a


questão dos topônimos se tornou um assunto mais burocrático, que, portanto,
deveria obedecer a uma padronização oficial. Não importava apenas a
denominação das localidades, mas também a sua grafia, que já era assunto
durante a Conferência de Geografia, realizada no Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro em 1926. O “Formulário Ortográfico” de 1945, aprovado pela Academia
Brasileira de Letras e pela Academia de Ciências de Lisboa, visava a regulamentar
a ortografia dos topônimos, enquanto a Lei n° 5.765 de 1971 atribuía à Academia
Brasileira de Letras a organização do vocabulário onomástico. Ainda hoje, o tema
está ocupando a Academia Brasileira de Letras, que tinha como pauta da sua
reunião cultural em 08.04.2000 a questão da normalização dos nomes
estrangeiros no Brasil, pleiteando uma uniformização da nomenclatura
toponomástica nacional e estrangeira em língua portuguesa (Academia Brasileira
de Letras, 2000). A questão dos topônimos não se restringe aos lugares no território
nacional, mas também inclui nomes estrangeiros. No Brasil, há uma tendência de
adotar os endônimos (nomes da língua original) dos lugares, enquanto “até agora o
Portugal continental em geral tem resistido a uma internacionalização da
nomenclatura” (Gade, 1990).

Nunes (1951) observa que a questão da grafia dos topônimos brasileiros,


particularmente dos de origem tupi-guarani, é parte integrante da questão
geográfica, que é só “balbúrdia ortográfica” para os “rotineiros” e “caturras”, já que
se trata de um assunto “em que toda a gente mete a sua colherada, mesmo sem
conhecer os preceitos que a história da Língua impõe”. (P.118)

Ainda em 1980, Barbosa (1980, p.151) insiste em uma solução nacional


para a padronização de nomes geográficos no Brasil, exigindo a fundação de uma
autoridade nacional em nomes geográficos, legalmente constituída, “já que os
nomes geográficos são partes integrantes da formação da nossa nacionalidade”.
Por conseqüência, deve ser estabelecida uma autoridade nacional para oficializar
os nomes geográficos. Conforme essa posição, a sociedade organizada tem que
reconhecer e ordenar esses processos normativos:

“Embora considerado inconstitucional, a justificativa do


projeto realça, muito propriamente que não temos ainda,
neste grande País, uma consciência toponímica. Qualquer
expressão, por mais absurda que seja, se presta para

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designar um acidente geográfico ou uma comunidade.
Nesse particular, a impropriedade vem se constituindo em
tradição onde impera o mau gosto e a indiferença dos
toponimistas que não conseguiram superar o tempo de
renovação ético-social do setor” (Barbosa, p.152; grifo meu).

Pompeu Sobrinho (1944) observa que a denominação ou renominação


dos lugares nem sempre é uma tomada de decisão em unanimidade, porque

“[e]videntemente, o novo topônimo vai encontrar uma


natural resistência para firmar-se; o fenômeno é a
conseqüência de uma força social conservadora, a inércia
social, tão legítima e operante como a inércia em mecânica.
Mais ou menos forte ou resistente, o seu valor proporcional
ao peso da tradição local pode ser capaz de neutralizar a
iniciativa do Departamento de Geografia ou pelo menos
modificar a denominação proposta e aceita, mau-grado
[sic] qualquer razoável justificação” (p.34; grifo no original).

Mais uma vez precisa ser salientado que a denominação de um lugar se


torna uma prova de poder entre as autoridades federais e locais e a população.

À primeira vista, essa tentativa de padronização toponímica parece ser


uma herança do centralismo nacionalista getuliano e da organização “prussiana”
da ditadura militar, mas o quadro atual dos mais do que 5.500 municípios brasileiros
mostra que a toponímia continua com as suas ambigüidades. Analisando-se os
nomes, depara-se com denominações repetitivas como Bom Jesus (nos Estados
PB, PI, RN, RS) ou Bonito (BA, MS, PA, PE), nomes excessivamente compridos
como Senador Modestino Gonçalves (MG) ou Vila Bela da Santíssima Trindade
(MT) e denominações de várias palavras como São Sebastião de Lagoa de Roça
(PB) ou São José do Vale do Rio Preto (RJ). Surpreende também que a capital
recém-construída do Estado do Tocantins, Palmas, recebeu o nome de um
município paranaense já existente. Por outro lado, há apenas um município com o
nome São José, enquanto existem mais do que 40 cidades que incluíam o nome do
seu padroeiro no seu topônimo, com variações como da Coroa Grande (PE), da
Lagoa Tapada (PR), do Calçado (ES), dos Cordeiros (PB) e do Egito (PE). Outras
curiosidades são os nomes de cidades estrangeiras como Nova Iorque (MA),
Barcelona (RN), Buenos Aires (PE), Witmarsum (SC) ou Mar Vermelho (AL, longe
do mar) ou imperativos como Passa e Fica (RN) e Venha-Ver (RN).

A renomeação de lugares continua sendo uma prática dinâmica em


diferentes escalas. Mudam-se não apenas os nomes de municípios e distritos, mas
também nomes de bairros, avenidas, ruas, praças, sítios etc. A Tabela 2 mostra o
exemplo da topogênese do município de Santana do Cariri no Ceará, que
representa uma realidade que poderia existir em qualquer outro município
brasileiro.

A denominação dos distritos de Santana do Cariri mostra a diversidade


das origens dos topônimos como a tupinização getuliana (Araporanga), a lenda
popular (Anjinhos) ou a religiosidade (Dom Leme, Pontal da Santa Cruz). Quanto à
denominação de ruas e praças na sede do município, mostra-se uma preferência
pelas personagens locais ou regionais, nem sempre livres de intenções políticas e
sujeitas a mudança quando um prefeito de outro partido assume o poder. Dessa
maneira, a planta urbana revela um quebra-cabeça de nomes, como mostram os
seguintes exemplos: há uma praça em homenagem a um agricultor do município
(que, por sinal, era o pai do então prefeito), que foi destruída pela nova
administração da prefeitura para se construir outra; outra praça, construída entre
1977 e 1980, foi reservada para o nome de um ex-prefeito que ainda não tinha sido
homenageado, mas, “por contingência política” (Cidrão, 2001), foi dado o nome do
então governador do estado; uma rua foi batizada com o nome de um político do
município, que “representou nossa terra e nossa gente durante 32 anos na Câmara
dos Deputados do Estado do Ceará” (Cidrão, 2001), tendo como argumento que
“nada [é] mais justo do que a denominação da rua onde este nasceu, com seu
nome, em sinal de reconhecimento e profunda gratidão” (Cidrão, 2001).

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Tabela 2: Topogênese do município cearense Santana do Cariri

DISTRITO TOPOGÊNESE

Anjinhos Segundo contam os mais idosos, no final do século XIX, foram


encontradas duas criancinhas mortas dentro de dois caçuás num
animal, perto do local onde é hoje o Distrito (distrito desde 1963).

Araporanga O nome antigo do distrito era Boa Saúde, que foi tupinizado
para Araporanga na Era Getúlio Vargas. O nome popular é Estiva,
porque havia uma ponte de madeira e pau (= estiva) que servia de
passagem para as pessoas que vinham do Piauí e Maranhão em
direção a Crato (distrito desde 1951).

Brejo Grande Denominação do vale inteiro. Houve um movimento para a


emancipação do distrito para criar um novo município com o nome
Roquelândia (distrito desde 1951).

Dom Leme Antigamente chamado de Rogério, em homenagem ao seu


fundador. A pedido do “santo peregrino” Frei Damião houve uma
mudança de nome para Dom Leme, bispo de importância regional
(distrito desde 1985).

Inhumas Distrito desde 1941. O nome significa “pássaro noturno”.

Pontal da Antes conhecido por Sítio Cancão, ponto mais alto do município.
Santa Cruz Segundo populares, uma capela foi construída e uma cruz
erguida no alto da serra para afugentar o demônio e outros
“mal-assombros” nas zonas limítrofes com Pernambuco.
Alguns dizem que uma espécie de vulcão vomitava chamas
do alto da serra (Cidrão, 2001) (distrito desde 1991).

Santana do Cariri Distrito-sede do município. Desde a criação do povoado na


primeira metade do século XIX, o nome mudou várias vezes:
como freguesia e vila (Santana do Brejo Grande, 1896);
Santanópole na Era Vargas (1938) para ser chamado de
novo de Santana do Cariri, em 1951.

Fonte: Cidrão (2001).

Essa dinâmica toponímica pode ser observada em qualquer município


brasileiro. Os nomes não são simples escolhas aleatórias, mas representações
simbólicas, política e ideologicamente planejadas, que ganham seu pleno poder
quando se ostentam nos mapas oficiais.

Toponímia e mapas

Nomear lugares e registrá-los exigem a ajuda de mapas que permitem


transferir experiências diretas dos lugares para a representação cartográfica,
oficializando a existência dos topônimos. Harley (1990, p.4) observa que publicar o
nome não é apenas torná-lo permanente, mas também lhe atribuir autoridade e
legitimação com direito a coordenadas nos mapas oficiais. Uma vez confirmados
esses nomes, denominações alternativas ou populares permanecem apenas
como oralidades. Um exemplo histórico é o mapeamento da Irlanda pelo serviço
topográfico da Grã-Bretanha (British Ordinance Survey) no século XIX, cuja missão

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não era apenas mapear o país, mas também anglicizar os nomes dos lugares
(Friel, 1980). Nesse caso, a denominação de lugares tinha várias funções: além de
ser uma maneira de identificar e marcar, era um modo de compreender e uma ação
para “segurar” um local e prendê-lo firmemente no tempo e no espaço (Bullock,
2004).

Os nomes nos mapas estruturam a consciência e chegam a construir ou


destruir identidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, apesar da legislação de
1962, que proibia qualquer tipo de nome ofensivo, existem ainda hoje topônimos
que são testemunhas de preconceitos raciais, como “Niggerhead Creek” (Riacho
Cabeça de Negro) no Alasca ou “Squaw Nipple” (Bico de Peito de uma Índia) no
Estado de Montana.

No decorrer de uma maior conscientização toponímica, povos e nações,


que se referenciavam e orientavam sem mapas, ganharam o direito de expressar
sua toponímia nos mapas oficiais de vários países. Rundstrom (1993) retrata
alguns exemplos dessas “cartografias culturais” nos Estados Unidos. No caso do
Zuni (índios pueblo) no Novo México, os órgãos governamentais pediram
expressões toponímicas dos índios para serem incluídos nos mapas com a
finalidade de melhorar o atendimento pelo sistema de saúde rural. Poucas
estradas, portanto, tinham nomes antigos, a maioria deles em inglês. Alguns
nomes indígenas obtidos foram substituídos por equivalentes toscos em inglês,
porque o nome original foi declarado “cômico demais para um nome de estrada
apropriado” (p.22). No caso dos índios Hopi, objetivava-se uma atualização da
carta topográfica da reserva indígena. Como hopi não é uma língua escrita, foi feita
uma adequação dos topônimos hopi à tipografia romana que continha inúmeros
diacríticos que se confundiam com os símbolos no mapa. Os topônimos também
era mais compridos do que permitido pela norma, de modo que havia texto em
excesso no mapa. Um caso extremo dessa “toponimização” indígena é contado por
Laverdière (1996, p.271s) quando se refere a uma edição de uma carta topográfica
regional do Canadá, onde se encontrou uma abundância de nomes indígenas
criados em um espaço tão pequeno: “Essa distribuição singular bem como suas
formas perifrásticas nos deixam céticos quanto ao seu valor nominativo: os riachos
Ministikukupaau Kauchipasheyach, Uspiseukan Kawimeikacht Utapepichun Sipi
Waskakikaniw, ou o rochedo Kanimitawepapachipiskach.” Esse exemplo mostra
que não existem apenas topônimos registráveis e localizáveis nos mapas, mas
também outras maneiras de denominar o espaço que se escondem atrás de
“topografias escondidas” (Huber, 1979). No Brasil poderia se abrir uma nova
perspectiva para repensar a toponímia dos povos indígenas em parceria com uma
geografia e cartografia indígenas (Almeida, 2001).

Considerações finais

Pesquisar a toponímia inevitavelmente inclui investigações históricas.


Pelo próprio nome do lugar não será possível compreender a dinâmica e o poder da
toponímia. Por essa razão, torna-se imprescindível coletar informações além dos
dados oficiais dos anuários estatísticos e dos livros de história. Atrás dos nomes de
lugares escondem-se pessoas ou grupos que os inventam, decretam, aceitam,
rejeitam ou mudam. Tanto os acidentes geográficos quanto os topônimos
constroem territórios, territorialidades e identidades, e a tarefa da Geografia
Cultural será investigar, comparar e interpretar o significado dos nomes dos lugares
e as diferentes versões e visões da sua topogênese, sejam do ponto de vista oficial
(por exemplo, decretos e leis), sejam a partir da cultura de um povoado com as suas
crenças populares, lendas e “mitos fundadores”, que mesclam a reconstrução do
passado com a (re)invenção de tradições. Ao mesmo tempo, essas pesquisas não
buscam, ainda menos encontram a “verdade única” dos nomes, mas precisam
viver com versões contraditórias como os dois seguintes exemplos. O município de
Alto Santo (desmembrado em 1957 de Limoeiro do Norte) tem dois mitos
fundadores do seu nome: Alto Santo da Viúva (em homenagem à viúva de um
coronel) e Utuva (= água abundante). Enquanto isso, a fazenda Quixo-Açu (= caça
grande) ganhou a corruptela Quixoxó que se tornou Caixa-Só, porque “a tradição

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explica esta última forma com o fato de ter sido encontrado, debaixo de um pau-
d'arco, uma caixa sem coisa alguma dentro” (Martins Filho e Girão, 1966, p.307).
Em 1890, talvez para evitar confusões, o lugar foi renomeado com o nome Iracema,
em homenagem ao escritor cearense José de Alencar.

Nash (2002), por ocasião do Projeto Landing (Royal Holloway College,


University of London), que tinha como objetivo a aproximação entre artistas e
geógrafos, comenta que a análise dos topônimos abre uma vasta gama de
reflexões e investigações, que mostram que a toponímia sempre trata de pessoas e
lugares ao mesmo tempo:

“Eu estou interessada na habilidade dos nomes de lugares


em sugerir narrativas parciais do povoamento, do
deslocamento, da migração, da posse, perda e autoridade.
Eu gosto da sua natureza tomada como certa e seu peso de
significados. Há algo claro, calmo e sensato na sua
referência a locais, mas também há algo indefinível e
infinito sobre eles. Eu gosto da maneira em que eles fazem
parte tanto em histórias pessoais quanto nas grandes
narrativas e como eles relacionam a intimidade de um lugar
bem conhecido com a racionalidade do governo oficial,
guardiões dos nomes estandardizados. Eu também estou
interessada em como eles circulam na fala ou como são
escritos, mapeados e catalogados, como eles viajam,
mudam ou são substituídos por códigos e números; sua
carga ambígua como foco de um intenso debate local; sua
potência como dispositivo para imaginar lugares distantes;
sua existência na memória. Dizer que eles têm poética e
política apenas é o começo de traçar seus diversos
registros de significados”.

Essa longa citação resume muito bem como poderia ser a “consciência
toponímica”. Os nomes de lugares nunca devem se restringir à sua função de mera
referência, porque há uma identidade ou identidades múltiplas amarradas a cada
topônimo. Dessa maneira, a análise da toponímia se aproxima dos valores
humanos (ou melhor, humanísticos), porque os nomes de tornam “um armazém
histórico, social e cultural através das suas associações e valores variados”, no
contexto do seu fundo ontológico (Bullock, 2004).

Esse artigo tinha como objetivo indicar caminhos para uma análise da
toponímia brasileira sob uma perspectiva histórica na Geografia Cultural. Vale
salientar que o tema mostra uma grande complexidade, já que “um verdadeiro
tapete de nomes recobre a terra que se torna assim objeto de discurso” (Claval,
2001, p.189). Os nomes se tornam quebra-cabeças, enigmas ou expressões de
posse, poder ou potência. Batizar um lugar não significa apenas posse (captação
mental/física), referência, orientação, mas também ideologia e visão do mundo, e a
Geografia Cultural encontra seu campo de pesquisa na dinâmica do processo da
nomeação e renomeação dos lugares, ligando o passado ao presente. Em resumo,
“topônimos são veículo e símbolo de ideologia cultural bem como artefatos por si
mesmos” (Fair, 1997, p.468). Ou em outras palavras, “os nomes dos lugares e das
categorias de paisagem permitem falar do mundo e discorrer sobre ele. Eles
transformam o universo físico em um universo socializado” (Claval, 2001, p.207).

Ao mesmo tempo, a análise de topônimos sob uma perspectiva


geográfico-cultural não deve ser sobreestimada nem menosprezada como afirma
Jett (1997, p.491): “é fácil omitir o que nomes de lugares podem revelar. Também é
possível ser excessivamente otimista no que concerne quanto pode ser aprendido
dos nomes de lugares”.

Ao prestar mais atenção nos nomes, será possível adquirir mais


conhecimentos sobre os lugares e suas culturas vigentes. Nas palavras do

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geógrafo cultural Wilbur Zelinsky, as pesquisas não devem se restringir aos
topônimos, mas também devem incluir a exploração dos nomes de todos os tipos
de atividades e artefatos humanas e, muito especialmente, de perscrutar atrás das
superfícies para pegar implicações e questionamentos mais amplos” (Zelinsky,
1997, p.466).

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