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CAMINHADA

LITERARIA
TRABALHO FINAL DE
COMUNICACAO EM MUSEUS
2019/2

UFRGS - FABICO
APRESENTACAO
Em um dia quente e ensolarado de dezembro, nós,
a turma de Comunicação em Museus da UFRGS 2019/2,
nos reunimos para fazer uma caminhada diferente: andar
pelas praças do centro histórico de Porto Alegre, obser-
vando-as sob um novo olhar. Os escritos de Aquiles Porto
Alegre* e de outros literatos do séc XX guiaram e ilus-
traram o passeio de forma a fazer pensar os espaços e a
própria cidade como novos lugares, cheios de nostalgias e
riquezas, agora, inéditas.

Acreditamos que projetos como esses, sejam eles


para fins acadêmicos ou não, merecem ser reconhecidos
e disseminados, de forma a incentivar reproduções da ca-
minhada ou a criação de projetos similares, que nos façam
captar os locais pelos quais passamos todos os dias de for-
ma diferente. Este guia, portanto, pretende ser um mani-
festo nosso, como turma, sobre a nossa experiência com
esse trabalho, desde sua elaboração até nossas percepções
sobre a caminhada. Mesmo muito específica e particular,
intencionamos que essa vivência possa ser replicada por
qualquer pessoa ou grupo que queira. Além disso, enten-
demos que a difusão de projetos acadêmicos de maneira
mais acessível é fundamental para que a Universidade dia-
logue cada vez mais com o restante da comunidade, espe-
cialmente neste caso onde as protagonistas do projeto são
as praças, lugares públicos e de uso de todos.
POR QUE UMA
CAMINHADA
LITERARIA?

A cadeira de Comunicação em Museus, ministrada pela Professora Dra. Cida Golin, faz parte do currículo do
curso de Museologia da UFRGS. A disciplina tem como objetivo introduzir a comunicação como ferramenta essencial
para o trabalho de um museólogo e nas práticas de museologia. Desde o início do semestre, a professora manifestou
seu interesse pela relação comunicação - cidade - patrimônio histórico, e assim desenvolvemos juntos um projeto final
que tratasse desse tema através de um formato não tradicional. Chegamos então a ideia: uma Caminhada Literária
pelas principais praças de Porto Alegre, como um passeio por um museu a céu aberto. Procurando entender melhor os
processos históricos da cidade, alinhamos a caminhada com os escritos de Aquiles Porto Alegre, que narra a história
da capital gaúcha a partir dos lugares do centro histórico. A Praça da Matriz, a Praça da Alfândega e a Praça XV foram
então as escolhidas para decorar o giro.

Como, então, juntar as ideias de todos para organizar os estudos e o evento? Dividimos a turma em 4 grupos
diferentes: o grupo da Matriz, o grupo da Alfândega, o grupo da XV e o grupo de comunicação. Os 3 primeiros grupos
ficaram responsáveis pela pesquisa histórica sobre as praças e pelos escritos de Aquiles e outros literatos cujas obras
dialogassem com o propósito da caminhada. Delimitamos o período dos escritos de 1859 a 1926. Cada um desses
grupos produziu um texto contendo os resultados das pesquisas para ser colocado no presente guia. O último grupo,
grupo de comunicação, ficou encarregado de fazer um plano de comunicação para o projeto, incluindo a identidade
visual, os materiais gráficos, a divulgação e organização do evento final, a caminhada.
A CAMINHADA

Nos encontramos às 14h, do dia 11/12/2019, na Para este capítulo, iremos intercalar a narrativa de
Praça da Matriz para iniciar o passeio. Em cada uma das como foi a Caminhada Literária e os textos produzidos pelos
praças que passamos, o grupo da respectiva praça ficou en- grupo de cada praça, que inspiraram as apresentações. Ilus-
carregado de fazer as apresentações orais sobre elas. Em tramos o guia com fotos do dia da caminhada, fotos antigas
cada um dos lugares, trouxemos: de Porto Alegre coletadas em diversos lugares e adicionamos
algumas impressões dos participantes sobre a caminhada.
• um breve histórico da praça, abordando seus princi- Iniciamos nosso roteiro pela Praça da Matriz, se-
pais momentos e acontecimentos até hoje guimos para a Praça da Alfândega e terminamos na Praça
• toponímia do nome da praça XV, conforme o mapa:
• o olhar de Aquiles Porto Alegre sob a praça, e o con-
texto histórico
• outros olhares: os escritos de outros autores da época mercado
que dialogam ou acrescentam aos escritos de aquiles público

Era importante para nós que a caminhada tam-


pos
bém fizesse algum tipo de intervenção por onde passava, ira
cam
>3
que
com a intenção de incluir na experiência as pessoas que r. si
praca
pelas praças passavam e de mostrar o que nós, como uni-
versidade, estávamos fazendo. Dessa forma, incluímos no XV
nosso roteiro a entrega de postais das praças para as pes- MARGS
soas que estavam de passagem nas praças enquanto nos
apresentávamos. Os postais continham fotos antigas das >2
praças e frases do Aquiles sobre elas. praca da alfandega

as
drad
s an
r. do

museu da
mara

comunicação
r. general câ

>1
praca da matriz
Entre a Catedral Metropolitana e o Theatro São Sabe-se que as praças centrais foram referências de
Pedro, ao lado da estátua X, foi onde encontramos a som- sociabilidade para gerações de escritores em Porto Alegre
bra que foi nosso ponto de partida. Antes de falarmos so- até pelo menos a década de 1950, justo quando se instala a
bre a praça, a professora Cida iniciou os trabalhos com Feira do Livro na Praça da Alfândega. Seguindo essas pe-
uma fala especial sobre nosso trabalho e sobre o cronista. gadas, a turma escolheu Aquiles como guia para percorrer
três pontos emblemáticos da urbanização e ajardinamento
“Aquiles José Gomes de Porto Alegre (1848 -1926) da Capital, situados na velha península de origem, hoje co-
foi um dos precursores da crônica moderna em Porto Ale- nhecida como Centro Histórico: a Praça da Matriz, a Praça
gre, principal metrópole do sul do Brasil, situada entre Rio da Alfândega e a Praça XV.
de Janeiro e Buenos Aires. Nos seus últimos anos de vida, Aquiles foi um dos autores mais profícuos de seu
o cronista fazia do passeio matinal pela cidade um traba- tempo. Publicou cerca de 20 livros, além de poemas e no-
lho de escrita ao captar flagrantes da rua e da memória. velas nas revistas do Partenon Literário. Sem dúvida, seu
Acompanhou pelo menos 60 anos de crescimento e mo- livro mais conhecido é a edição póstuma História Popular
dernização de Porto Alegre com olhos atentos, certa crítica de Porto Alegre, uma seleção de crônicas organizada por
e um tanto de melancolia. Leitor de Baudelaire, contem- Deusino Varela em 1940. Foi lendo essas crônicas que a
porâneo do jornalista carioca João do Rio, que introduziu turma de Comunicação em Museus (2019-02), do Curso
a entrevista e a dimensão da rua no jornalismo brasileiro, de Museologia da Universidade Federal do Rio Grande do
Aquiles cuidava de registrar as sociabilidades, a sinestesia, Sul, decidiu partir dos fragmentos literários para produzir
as sonoridades e a memória de uma cidade que, em plena uma ação comunicativa em forma de caminhada cultural.”
transformação especialmente nos anos 1920, perdia tam-
bém boa parte de suas raízes.
Jornalista, professor, funcionário público, funda-
dor do Partenon Literário, trabalhou pela formação da
elite letrada da Capital. Mesmo fazendo parte dessa elite
cultural, suas crônicas dão muita vivacidade aos tipos po-
pulares, aos subalternos e aos hábitos de uma comunidade
que tinha ar de roça e hora bem determinada para silenciar
e dormir.
Aquiles nasceu na cidade de Rio Grande em 1848.
Veio para Porto Alegre aos 11 anos (confirmar) e, órfão
de pai, não chegou a cursar o ensino superior, concluin-
do seus estudos no Colégio Gomes, de propriedade de seu
primo, e no Colégio Militar da Capital. Irmão de Apoli-
nário Porto Alegre e de Apeles Porto Alegre, fundou com
eles não apenas o colégio da família, como também o Par-
tenon Literário. O Partenon foi nosso primeiro coletivo de
literatos empolgados tanto pelo ideário romântico quanto
pela difusão iluminista da leitura. Além de poetas, eram
também alfabetizadores de adultos e jovens.
A partir de 1884 engajou-se na campanha abolicionista
ao dirigir o Jornal do Commercio. Foi deste jornal que saiu seu
genro Caldas Júnior para fundar o Correio do Povo. Em uma
província marcada pela violência das guerras e pelo binarismo
político, Aquiles atravessou o cotidiano de sua cidade adotiva
sentindo forte mente os ecos da Guerra do Paraguai, da Guerra
Federalista, da Primeira Grande Guerra, da Revolução de 23. A
família Porto Alegre alinhava-se ao Partido Liberal e seu irmão
Apolinário teve que se exilar em função das disputas políticas.
PRACA DA
MATRIZ
Então, seguiram as colegas Carol, Cinara e Rosan- espaço eram tão marcantes que foram rememoradas pelo
gela falando sobre o histórico da praça e sua importância cronista Aquiles Porto Alegre (1848-1926), que registrou
para Aquiles e para a cidade de Porto Alegre, enquanto ou- várias festividades, como os fogos do Espírito Santo, a
tras duas colegas entregavam os postais da Praça Marechal missa do galo, os ternos de reis e o bumba meu boi.
Deodoro (Praça da Matriz). A apresentação foi baseada No ano de 1865, a Praça passou a designar-se como Praça
nos textos produzidos pelo grupo: Dom Pedro II, devido à visita do imperador à Porto Ale-
gre para apoiar a defesa do Rio Grande do Sul contra a
invasão paraguaia. Logo depois, com o estabelecimento
dos serviços da Cia Hidráulica Porto-Alegrense instalou-
-se o primeiro artefato decorativo no centro da Praça, um
chafariz de mármore com estátuas que representavam os
rios da bacia do Guaíba. Nos registros de 1869, aparecem

BREVE novamente descrições sobre as alterações na Praça, o es-


paço aberto surge com forma quase quadrada rodeado de

HISTORICO
ruas por todos os lados. Em algumas fotos deste período,
observa-se a presença de uma cerca, extraída alguns anos

DA PRACA
mais tarde, com portões de acesso localizados no meio de
cada um dos quadrantes.
Em 1885, a inauguração da estátua em homena-
gem ao Conde de Porto Alegre, com a presença de Prince-
Designada oficialmente desde 1889 como Praça sa Isabel, se tornou um fato pertinente para o urbanismo
Marechal Deodoro, localiza-se no Centro Histórico de da cidade, pois foi a primeira escultura pública erguida
Porto Alegre, na parte alta da cidade. Em torno dela, en- em praça pública da capital. No entanto, foi substituída
contram-se os palácios que abrigam cada um dos três po- pelo monumento a Júlio de Castilhos, do escultor Décio
deres estaduais, além da Catedral Metropolitana e do The- Villares, finalizado em 1913. Outro fato relevante foi a
atro São Pedro. Entre os séculos XVIII e XIX, surge com resolução municipal de 11/12/1889 que, em seguimento
configurações diversas e recebeu diferentes denominações à proclamação da República, marcou significativamente a
até que, em 1889, passou a adotar o nome atual. No entan- história do local, alterando definitivamente o nome para
to, é popularmente conhecida como Praça da Matriz. Praça Marechal Deodoro, o que também repercutiu em
Os primeiros registros que se tem deste lugar são transformações e sensíveis melhoramentos na sua confi-
datados de 1753, como cemitério. Esse espaço passa a ser guração que ficaram concluídos em 1919.
descrito como praça somente a partir de 1772, quando é Enfim, a Praça da Matriz possui marcas de diver-
denominado de Praça da Matriz, devido à construção da sos períodos da história de Porto Alegre, espaço de vários
primitiva Igreja Matriz da Madre de Deus concluída em acontecimentos políticos relevantes de nosso Estado, além
1779 e, que mais tarde, foi demolida para dar lugar à Ca- de local de comemorações religiosas do município.
tedral Metropolitana. Sendo assim, foi nesse período de

toponimia
transferência da capital de Viamão para Porto Alegre que,
além de ser construído o edifício religioso, também foram
erigidos edifícios civis, a Casa da Junta e o Palácio da Pre-
sidência. Posteriormente, o primeiro Palácio do Governo Mesmo que seja reconhecida como Praça da Ma-
foi demolido em 1896 e deu lugar ao Palácio Piratini. A triz, já possuiu outras denominações desde a fundação de
Capela do Divino promovia várias festividades que anima- Porto Alegre. No primeiro mapa da cidade, em 1772, lhe
vam a população da época e ocupavam todo o terreno da foi concedido o nome de Praça do Novo Lugar. Em 1789,
Praça da Matriz, mesmo que ainda fosse um vazio irre- com a instalação do palácio do governador, passou a se
gular repleto de pedras soltas e sem qualquer pavimento, chamar Praça do Palácio da Presidência, designação que
adorno ou vegetação. As comemorações religiosas nesse perdurou até 1865. Neste ano com a visita do imperador
Dom Pedro II, seu nome foi alterado para Praça Dom Sem luz elétrica nem gás, a iluminação da praça, nestas
Pedro II. Em 1889, quando a República foi procla- noites festivas, era a Giorno, é dizer, a lanternas venezia-
mada no Brasil, recebeu o nome de Praça Marechal nas, o que em verdade se não tinha o brilho feérico das ilu-
Deodoro, o qual ainda é seu nome oficial (MACHA- minações de hoje. Apresentava, contudo, um aspecto mais
suave e pitoresco.
DO, 2000).
O “Império” é que, por uma espécie de privilégio,
se iluminava a gás.” (PORTO ALEGRE, 1994, p.80)

olhar

“Às vezes, havia danças na “bailante” ou no salão
de aquiles do Theatro São Pedro e então o gás entrava em cena.
A praça da matriz enchia-se, nessas saudosas noites.
– Pinhão quente! Peixe frito! Mendubim torrado!
Nesta crônica, Aquiles registra e rememora o perí-
Estes pregões cruzavam os ares de espaço a espaço.
odo das festas religiosas:
Eram as negras minas, que “in illo tempore” havia à farta e
“Nas festas populares de antanho, era esta uma eram as únicas quitandeiras da cidade.
das mais queridas do povo. Os “fogos” do Espírito Santo – Pinhão quente! Peixe frito! mandubim torrado!
efetuavam-se na antiga Praça da Matriz, e eram estes que O leilão das ofertas tinha começo logo ao escurecer.
realmente davam a nota, e atraíam gente de toda parte: Três ou quatro “pregoeiros” vendiam, nos leilões,
dos subúrbios, das vilas próximas, das ilhas fronteiras, dos as dádivas que as bandeiras do Divino haviam recolhido
Morretes, da Volta Grande e de outros sítios próximos, durante as suas visitas aos moradores da cidade.
Rara era a família moradora da cidade, que, pelos E era de tudo, desde a galinha com que o padre
fogos (como pelo carnaval), não hospedavam em casa uma concorrera até o fino bordado que uma das mãos delicadas
caterna de parentes chucros, que vinham de “fora” para ver de noiva fizera para, no cumprimento de uma promessa,
os fogos… ofertar ao Divino.” (Crônica “Os fogos” PORTO ALEGRE,
Era um festejo puramente popular, se bem que a 1994, p.80)
praça, nas noites de fogos, fosse concorrida pelas famílias
do nosso escol social.” (PORTO ALEGRE, 1994, p.80)
“De espaço a espaço subiam os ares um balão es-
pocava um foguete ou estrondava
um morteiro.
Às vezes trilhavam os apitos poli-
ciais e havia correrias: era um rolo.
Logo, porém, tudo voltava à festa.
Quando, às dez horas, batia a pri-
meira badalada do silêncio subia o
primeiro foguete de assobio e após
estourava a primeira bomba de di-
namite e depois outra e outra até a
girândola de foguetes.
Era o sinal que iam queimar os
“fogos”.
A “pombinha” é que punha fim à
noitada, levando, por uma corda,
o “fogo celeste” que acendia uma
apoteose, que era sempre o gran-
dioso remate da festa. Tudo isto
desapareceu, porque a civilização,
o espírito moderno - não admite
“Construíam o extenso barracão, os coretos e várias mais isso… Da Capela de Viamão, de Belém Velho e de
tendas para a venda de café, a três vinténs a xícara, pães, doces, outros sítios rústicos, vinham carretas, puxadas a duas jun-
gengibirra, maduro e outros refrescos. tas de bois, conduzindo as famílias sertanejas para assistir
Além disso, a praça enchia-se à noite, de tabuleiros de os fogos.
frutas, de caixas envidraçadas de doces, de balaios e cestos de Ali mesmo na praça, os chefes, verdadeiras figuras
pinhões e amendoim torrado, de travessas de peixe frito, com patriarcais estendiam esteiras e passavam, com os seus, os
rodelas de cebola, de bandejas de balas e de uma infinidade de três dias e as três noites de fogos, ao ar livre, sob o doce
outras quitandas - como a “farinha de cachorro”. azul do firmamento, comendo o seu churrasco de espeto
A tempo a que eu me reporto, não havia luz elétrica e a com farinha seca e chupando o seu adorado chimarrão.”
iluminação a gás nas ruas, não tinha sido ainda inaugurada. Es- (PORTO ALEGRE, 1994, p.81)
tas eram mal alumiadas, por grosseiros lampiões de querosene.
“As cidades, a que um bom fado protege, pela É verdade que esta festa popular era, pelo menos no tem-
sua situação geográfica ou outros motivos, ao passo que po em que eu a conheci, promovida e levada a efeito pela
aumentam, enriquecem, se embelezam, destroem grande “arraia miúda”.
parte de relíquias queridas ao nosso coração e que deviam Mas nem por isso ou quiçá por isso mesmo o “bumba
conservar-se com toda a sua beleza e pureza primitiva. meu boi” era menos concorrido ou deixava de ser bem re-
Assim, das nossas praças desapareceram os chafa- cebido em toda parte.” (PORTO ALEGRE, 1994, p.94,95)
rizes - alguns verdadeiros trabalhos de arte e simbolismo,

OUTROS
que nas suas figuras de mármore, graves e bem trabalha-
das, como as do chafariz da Praça da Matriz que represen-

OLHARES
tavam os rios que correm com as suas torrentes, para as
águas do “Guaíba” - mostrando assim a riquíssima hidro-
grafia da nossa formosa “urbs”.
E como estes, outros que faziam parte da cidade, e Augusto Meyer (1902-1970), poeta modernista,
pertenciam ao povo, porque para ele foram construídos - nos livros Segredos da infância e No tempo da flor, traz
desapareceram. Para onde foi o material, que representaria lembranças de sua meninice e de sua residência na Praça
hoje um valor importante? da Matriz:
Ninguém sabe. “A Praça da Matriz era a cancha das mil e uma
Mas não é por este prisma que eu encaro a questão. aventuras. Na sua área privilegiada cabia tudo: a igreja e o
É pelo lado tradicional - as cidades podem trans- palácio, a mesa-de-rendas e o tribunal, o teatro e a escola,
formar-se, aperfeiçoar-se, modernizar-se - mas conservar com duas esquinas de armazém e não sei quantas casinhas
as suas relíquias, e aspecto do seu passado. de porta e janela, onde se debruçavam mulheres suspeitas.
Ainda vejo aqueles admiráveis coqueiros melancólicos, em
É quando vemos e meditamos sobre estas coisas
volta do Tesouro, que pareciam roídos de resignação. A
que volvemos às eras de então e vemos quanto, com a mar-
rua calçada com enormes pedras lisas, um pé-de-moleque
cha do tempo, tudo vai desaparecendo.
polido pelo uso. Ferraduras escorregavam, tirando faíscas.
A clássica figura esquelética da morte, com a sua
Do alto da capela até a Rua da Ponte, carroções estronda-
pavorosa foice, é um erro secular e grosseiro. O tempo é
vam por cima do calçamento” (MEYER,1996, p.50).
que ceifa tudo: seres e coisas.
“[...] A exploração da Praça da Matriz não era
Assim desapareceram os “fogos do Espírito Santo”,
aventura para esgotar-se logo. A maior atração do arma-
a “missa do galo”, os “ternos de reis”, o “bumba meu boi”, etc.
zém eram as balas de assobio, feitas de açúcar colorido, os
caramelos vistosos, que punham na bochecha em calombo
duro, as bolachas Maria, vendidas em pacotes, as barrinhas
de chocolate Neugebauer com o gaúcho boleando e as ti-
joletas de goiabada, embrulhadas em folhas de bananeira.
Sem falar no capilé. Atrás dos bigodões à Vittorio Emma-
nuele, o velho Caravetta presidia o balcão” (MEYER,1996,
p.54).
Theodemiro Tostes (1903-1986), poeta e cronista
modernista, no livro Nosso bairro rememora momentos
vivenciados na Praça da Matriz:
“Nós não tivemos uma cidade. Tivemos uma parte
da cidade que começava na Praça da Matriz, descia duas
quadras da Ladeira e ia acabar na Rua da Praia. Nesse pe-
queno trecho urbano, que qualquer um pode fazer a pé,
coube o melhor de nossa vida: o fim da infância, a adoles-
cência e aquele tempo meio desigual a que os velhos dão o
nome de mocidade.” (TOSTES, 1989, p.13)
“O relógio da Matriz bate as horas e o rapaz pensa
na Praça que o está esperando” (TOSTES,1989,p. 16)
“Naquele tempo, o chão de cada dia ainda era a Praça da
Matriz. Ali no fundo, entre os andaimes do novo Palácio do
Governo e a capelinha do Divino, a velha Igreja Matriz, na
sua brancura despretensiosa, dominava a cidade que ama-
nhecia. À beira da Praça, bem em frente do cocuruto da La-
deira, a enorme estátua encenava uma espécie de apoteose
de revista, com seus dois cachorros de bronze, um dragão
que subia a escada e uma porção de formas alegóricas a
circundarem a figura ilustre.” (TOSTES, 1989,p.19)
A importância da Festa do Divino também é retra- moças, as namoradas de uma noite ou as bem-amadas que
tada minuciosamente por Tostes: duram mais tempo. Logo depois da novena ou na noite da
“E chega a festa do Divino. São nove noites e uma grande festa, elas se aninham no Redondo, enchem todo
noite, em que a Praça da Matriz vira cinema, vira adro de ele com sua graça, e esperam, como quem não quer nada,
igreja e mercadinho. Os bombeiros molham o pano em a fila sempre móvel dos namorados. E eles vêm, cada qual
que as fitas serão passadas. Vem da igreja um canto de la- mais sem jeito ou mais metido a galã de filme italiano, fa-
dainha. Os pregões dos baleiros e dos fruteiros se mistu- zer a volta da estátua, enquanto elas conversam umas com
ram no ar fresco da noite que cheira a amendoim torrado, as outras e coqueteiam. Toda a gente mais ou menos se
a bergamota madura e a peixe frito.” (TOSTES,1989, p.21) conhece, o que não impede a surpresa das descobertas. Os
encontros da festa do Divino se espichavam, às vezes, para
“A novena era a abertura da temporada. [...] Os outras datas.” (TOSTES,1989, p.24)
sinos repicam no fim da tarde, convocando os fiéis para
a novena. A banda da Brigada Militar chega em tempo de “Mas o bom é a praça. São as luzes que cobrem a
marcha e sobe ao coreto. [...] Quando ela chega à Praça ao fachada do Divino, são os grupos que enchem o redondo,
som de um dobrado, um grupo de moleques acompanha a são os fogos que já estão armados no terreno baldio em
marcha.” (TOSTES, 1989, p.21) cima do Arquivo. Há dois navios que trocarão mil tiros.
E o Painel – uma pomba do Divino – que espocará, entre
“A novena acabou. A banda rompe num dobrado. fulgores e estampidos, marcando o fim luminoso da festa.”
E é agora que começa o bom da festa na Praça toda ilu- (TOSTES,1989, p.25)
minada. A capelinha do Divino, coberta de lâmpadas de
ponta a ponta, é um grande obelisco luminoso celebran- “Pobre Tribunal! Um dia ardeu, não sei se pelo ca-
do a glória de mil novenas. O negro Manoel de mecha em lor dos oradores ou por obra de outro fogo acidental ou
punho, acende uma girândola de foguetes. E o foguetório criminoso. Em seu lugar lá está o novo palácio com seu
espoca no ar, acordando os pobres mortais que preferem a paredão inexpressivo. O que quebrou para sempre a linha
cama a qualquer noitada.” (TOSTES,1989, p.22) harmoniosa da Praça da Matriz do nosso tempo.” (TOS-
TES, 1989, p.31)
E também os flertes que ocorriam na festa...
“O redondo é aquele espécie de platibanda que cir-
cunda a estátua, mais abaixo das figuras de bronze e um
pouco acima dos três degraus. É ali que estão as moças, as
PRACA DA
alfandega
Saindo da Matriz, descemos a rua General Câ- tos, que iam desde a carne seca a amendoim. Tal venda
mara até a Rua dos Andradas, onde nos deparamos com que ocorria de maneira desordenada, explica seu primei-
a famosa Praça da Alfândega. Por ser considerada o co- ro nome, “Praça da Quitanda”. Anos depois, em 1820, a
ração do centro histórico, essa praça se difere das outras prefeitura tratou de construir um prédio próprio para a
especialmente pela sua constante e veloz movimentação Alfândega, assim, sendo determinada a remoção dos qui-
de pessoas e comércios. Encontramos uma brisa logo em tandeiros para outra praça, onde atualmente conhecemos
frente ao MARGS e nos acomodamos. Dois colegas pron- como Praça 15 de novembro. Em meio a tal construção
tamente se voluntariaram e iniciaram a entrega dos postais houve também uma certa “luta” para desapossar a praça
dentro e ao redor da praça, enquanto o grupo composto de mãos particulares. Tal luta foi de fato terminada com a
pelas colegas Ana Carolina Chaves, Carla Mussoline, Ga- implantação da Alfândega, que foi fator decisivo para tra-
briela Leindecker e Luiza Barth iniciou a apresentação: çar seu destino.

BREVE
HISTORICO
DA PRACA
A origem da Praça da Alfândega, chamada anti-
gamente como praça da Quitanda e depois também como
Senador Florêncio, situa-se no fim do século XVIII, quan-
do se deu a construção do antigo porto fluvial do municí-
pio. Era e ainda é conhecida como ponto turístico, históri-
co e público, visto como um caminho central de encontro
da população, uma espécie de porta de entrada da cidade,
onde podia desfrutar-se de locais como cinemas, teatros e Até 1883, a praça sofreu com mudanças urbanís-
restaurantes. É também um ponto referencial e um lugar ticas, com moradores sendo responsáveis por arborizar e
de memória para os antigos cronistas e poetas da cidade, ajardinar, além disso, a Câmara autorizou a colocação de
como Álvaro Pereira Coruja, Aquiles Porto Alegre, Au- assentos, entrando nos moldes de praça que conhecemos
gusto Meyer e Athos Damasceno Ferreira, que fizeram das atualmente. Neste mesmo ano, temos a mudança de nome
praças um espaço de encontro e de representação cronísti- para Praça Senador Florêncio, em homenagem a Florêncio
ca e literária. Carlos de Abreu e Silva, um político da província e senador
A Praça da Alfândega, por se localizar no porto do império, que havia falecido dois anos antes.
fluvial da cidade ou seja, na porta de entrada do município A praça levou tal nome até o final da década
sempre esteve sob grande holofote desde sua criação, pois de 1970, quando por força da Lei Municipal n.4.563, de
está interligada à criação da cidade, havendo referências a 28/05/1979 foi mudada oficialmente para Praça da Alfân-
partir de 1799 sendo chamada de “Rua do cais”. Poucos anos dega, como conhecemos atualmente. A última alteração
mais tarde, em 1804 o então governador Paulo da Gama, ocorrida na praça foi a implementação do leito da rua 7 de
mandou erguer uma ponte sobre o rio que foi descrita como setembro ao seu território.
“belíssima ponte d’alfândega, obra prima, como não há ou- No entorno da praça se localizavam espaços de im-
tra em toda América, com vinte e quatro pilares de cantaria portância para a população porto alegrense, como a Rua da
pelo rio dentro.” (FRANCO, 1988). Praia, o prédio da Alfândega, a Delegacia Fiscal da Fazenda, o
Em torno do cais, havia uma certa aglomeração de prédio de Correios e Telégrafos, a Previdência do Sul, Cinema
comerciantes e quitandeiros que vendiam seus produ Imperial, Correio do Povo, Hotel Siglo e Confeitaria Central
A Rua da Praia, considerada a mais antiga rua da
cidade, originada em 1806, teve seu calçamento tombado olhar
de aquiles
em 1989. A rua se localizava às margens do Lago Guaí-
ba, começando na ponta do Gasômetro. Considerada por
Aquiles a “artéria da cidade”, a Rua da Praia abrigava e ain-
da abriga em menor quantidade, edificações residenciais,
hotéis, cinemas, cafés e outros marcos culturais e de entre- A transformação da cidade de Porto Alegre foi
tenimento, sendo um local da cidade de alta circulação dos acompanhada pelo olhar atento do escritor Aquiles Porto
moradores e visitantes. Alegre. Nascido em 1848, em Rio Grande, vem para a ca-
Locais como a Delegacia Fiscal e o prédio dos pital ainda criança e atuou publicando diversas obras sobre
Correios e Telégrafos, datados de 1912 e 1914, constituíam a cidade de Porto Alegre, entre os anos de 1912 e 1925. É
os portões de entrada da cidade, se tornando ao longo dos nosso escritor honorário, que será usado como base para
anos, prédios culturais voltados para a arte e história do obter informações sobre a história da praça. Além de cro-
Rio Grande do Sul. A Alfândega, que teve seu prédio cons- nista, Aquiles atuou como jornalista, educador e também
truído no início do século XIX, se localizava às margens como funcionário do tesouro que descreveu sua perspecti-
do Guaíba no centro da atual Praça da Alfândega, sendo va sobre a capital por meio da análise da Praça da Alfânde-
o prédio original demolido em 1912. Em 1911, se inicia ga e os espaços que a cercam. Dentre tais estabelecimentos,
a construção do atual prédio da Alfândega, localizado na recebem maior enfoque, devido à sua relevância e movi-
área aterrada para ampliação do centro da cidade, o prédio mento de público, o Hotel Siglo e a Confeitaria Central. Os
foi concluído em 1933. Em seguida, entre os anos de 1939 dois marcos são descritos de maneira pessoal de acordo
e 1940, foi fundado o prédio do histórico Clube do Co- com as memórias do escritor em seu livro “História Popu-
mércio. Também fazem parte do entorno, as histórias das lar de Porto Alegre”.
sequências de estabelecimentos que ocuparam os mesmos O Hotel Siglo, descrito pelo autor, foi evidenciado
espaços ao longo dos anos de formação da Praça da Alfân- como um ponto de encontro de figuras ilustres da cida-
dega, como o prédio da Previdência do Sul, inaugurado em de. Em sua época era um dos hotéis mais concorridos da
1913, que passou a abrigar o Hotel Siglo e o Cine Guarani, região, possuindo grande porte e alta movimentação de
estando atualmente ocupado pelo Banco Safra. público. Ali se hospedavam figuras como deputados, inte-
Outro espaço relevante é o Cinema Imperial, que lectuais, músicos, jornalistas, estudantes e, claro, turistas
foi considerado o cinema mais luxuoso da época. Inau- ou forasteiros que passavam pela região e permaneciam no
gurado em 18 de abril de 1931, é um dos exemplares da Hotel devido a sua localização central em frente à Alfânde-
arquitetura art déco no Brasil, representando uma varian- ga e entrada da cidade.
te desse estilo arquitetônico que utilizava motivos da arte O Hotel Siglo tinha sua fachada virada para a pra-
marajoara. Atualmente foi designado para abrigar o Cen- ça, o que o tornava “intimamente ligado à civilização” e
tro Cultural da Caixa após passar por uma grande obra de construção da cidade, tendo em vista que se tratava de um
restauração, mas ainda sem data de inauguração. local de grande movimentação no centro de Porto Alegre.
Localizava-se em um ponto cheio de atrativos, o que faci-

toponimia
litava o alto número de visitantes. No pavimento térreo se
localizava o cinema Guarani, pois na época, a Rua da Praia,
onde ficava o Hotel, possuia diversos espaços voltados para
O espaço popularmente conhecido em Porto Ale- a exposição de filmes. Além de possuir atrativos ao redor, o
gre como Praça da Alfândega acompanhou a história da prédio era bem visto na região, devido ao seu grande porte
cidade ao longo de muito anos, por ser considerado o por- e estrutura de serviço bem organizada. O prédio que abri-
tão de entrada do município. Inicialmente, no ano de 1804, gava o Hotel e o cinema Guarani, em meados de 1870, de-
ao se localizar junto ao prédio da Alfândega, era conhecida pois se transformou no Grande Hotel Schmidt, em seguida
como Praça da Quitanda, pelo excepcional movimento co- Hotel de France, e por fim, Hotel Brasil.
mercial da região, que juntava comerciantes e quitandei- O outro estabelecimento próximo à Praça da Al-
ro próximos. Nesta época ocorriam mudanças estruturais fândega, descrito de maneira bastante pessoal por Aqui-
com a construção de uma ponte sobre o rio, possibilitando les, é a Confeitaria Central. O escritor aborda a história
o desembarque de navegações de maior porte. Em 1883, do local apresentando os personagens responsáveis pelo
outra mudança foi efetivada em relação ao nome do espa- desenvolvimento da Confeitaria e dos comércios previa-
ço, que passou a ser chamado de Praça Senador Florêncio, mente localizados ali. É dito que a Confeitaria Central se
como uma medida estabelecida pela Câmara Municipal localizava em um prédio de arquitetura louvável, de aspec-
com o intuito de realizar uma homenagem à figura política to anteriormente decadente, se localizando na esquina da
de Florêncio Carlos de Abreu e Silva, que havia falecido Rua da Praia. A confeitaria é descrita como um ponto de
alguns anos antes. Entretanto, atualmente a conhecemos encontro, não apenas de um comércio. “Quando eu a co-
como Praça da Alfândega e isso se deu em 1979 quando o nheci não era propriamente uma casa de negócio, mas um
nome foi decretado pela Lei Municipal n.4.563. ponto de reunião de um ou outro amigo do dono da casa.”
(PORTO ALEGRE, 1994, pg. 63). O espaço era visto como
um local familiar e confortável, por atrair o público que centenário, entre outras obras onde escrevia sobre sua ci-
participava das atividades culturais dos arredores, levan- dade e lugares de ponto de encontro dos poetas gaúchos.
do em consideração o número de cinemas que cercavam Redigindo poemas dedicados à sua esposa até levantamen-
a Praça da Alfândega naquela época. Atualmente o prédio tos de informações referentes a diferentes hotéis da capi-
que abrigava a Confeitaria Central é sede do Banco Itaú, tal no século XIX, contemplando o Hotel Siglo da Rua da
localizado na esquina da Rua dos Andradas com a Rua Ge- Praia. Athos em sua obra Imagens Sentimentais da Cidade
neral Câmara. (1940, p. 27-28), conta histórias da cidade no século passa-
Aquiles mantinha uma relação amorosa com sua do, incluindo a da velha Praça da Quitanda:
cidade adotiva. Como ele mesmo escreveu em suas crô- “Para ali se dirigiam, quase sem sentir e muitas ve-
nicas: “todas essas coisas me ocorrem a memória porque zes sem razão, todas as pernas infatigáveis do burgo. Gen-
eu sou a alma viva da minha cidade” (PORTO ALEGRE, te que saía apressado das lojas da Rua da praia, gente que
1994, pg. 46). descia a rua da ladeira, gente que vinha do porto, gente que
parecia cair, por milagre, dos próprios galhos das árvores: -

OUTROS
homens, mulheres, crianças, cavaleiros do fraque e chapéu
alto, senhoras de saia balão, colegiais, moleques alarifes, pre-

OLHARES
tos mulatos, a cidade inteira.” (FERREIRA, 1940 pág 27-28)
Augusto Meyer, poeta e ensaísta, nasceu em Porto
Alegre, em janeiro de 1902. Foi um de nossos principais
poetas modernistas e publicou boa parte de sua obra em
Outros escritores e memorialistas de grande mé- diversos jornais do Rio Grande do Sul, como Diário de
rito trataram de escrever sobre temáticas semelhantes às Notícias e Correio do Povo. Entre 1930 e 1936, foi dire-
tratadas por Aquiles Porto Alegre, que englobam espaços tor da Biblioteca Pública do Estado e, no ano seguinte, se
de relevância ao redor da Praça da Alfândega, para retra- mudou para o Rio de Janeiro, onde foi diretor do Instituto
tar uma Porto Alegre em constante mudança. Os cronistas Nacional do Livro por cerca de trinta anos. No livro “No
dissertados, a seguir, serão Augusto Meyer, Athos Damas- Tempo da Flor”, escreveu sobre a Rua da Praia “a estrada
ceno Ferreira e Ary Veiga Sanhudo. real da nossa formação”, lugar onde ficava junto a outros
Athos Damasceno Ferreira, nascido em 1902, foi cronistas, no Café Colombo, em frente à Confeitaria Cen-
poeta, cronista, jornalista, historiador, influenciado pelo tral, ao lado da Praça da Alfândega.
simbolismo, escreveu “Poemas do Sonho e da Desesperan- Athos Damasceno e Augusto Meyer costumavam
ça”, “Poemas da Minha Cidade”, “Imagens Sentimentais da frequentar lugares próximos à Praça da Alfândega, pois era
Cidade”, que ganhou prêmio no Concurso Literário do Bi- ali onde tudo acontecia, onde as mudanças ocorriam e on-
de todos os moradores de Porto Alegre passavam para fa-
zer negócios, trabalhar ou para ir aos cafés e cinemas da
época. A essência da cidade permanecia ali, sendo material
rico para as obras primas dos poetas da época era no an-
tigo Café Colombo, em frente a Confeitaria Central, onde
era possível encontrar os dois cronistas, fazendo parte da
“turma do Colombo”, junto de outros colegas e amigos cro-
nistas como Paulo de Gouvêa e Otávio Telles.
Ary Veiga Sanhudo, nascido em Porto Alegre em
1915, foi advogado, procurador, escritor, secretário munici-
pal dos transportes e vereador de sua cidade natal por duas
legislaturas, em 1952 a 1955 e em 1956 a 1959, sempre lutan-
do pela memória da sociabilidade antiga e pelas tradições,
foi responsável pela Lei Nº 2.022, que regulamentou as divi-
sões e os nomes dos bairros da cidade. Trabalhou como jor-
nalista na Folha da Tarde, onde publicou seu livro “Crônicas
da Minha Cidade”, no qual citava em abundância o cronista
Aquiles e era influenciado pelo mesmo para descrever par-
tes antigas da cidade, seguindo uma mesma linhagem de
crônicas das partes centrais da cidade, como as praças e a
Rua da Praia. Sanhudo também ampliou seu trabalho acres-
centando pontos distantes de Porto Alegre, sendo esse um
diferencial em relação aos demais cronistas da cidade.
PRACa
xV
E pela Rua Sete de Setembro seguimos nossa cami- sou a atrair vendedores e quitandeiros. Esse comércio au-
nhada até chegarmos na Praça Quinze de Novembro, mais mentou ainda mais em 1820 quando, em virtude das obras
conhecida como Praça XV. Logo em frente ao mercado pú- da nova Alfândega, os vendedores ali instalados foram re-
blico, estava acontecendo uma grande feira de artesanato, movidos pela administração municipal para a então Praça
o que praticamente impossibilitou uma parada estratégica do Paraíso, “destinada ao mercado do peixe”. Com a in-
do grupo em algum lugar mais calmo. Entramos, assim, no tensificação do comércio, a Praça começou a receber mais
famoso Chalé da Praça XV para apresentar a última pra- atenção da Câmara, que se preocupava que o local fosse
ça componente da caminhada. Fazer as apresentações no mantido “limpo e com asseio” (FRANCO, 2006, p. 336).
próprio Chalé, cuja história praticamente acompanha toda A praça teve seu destino marcado em 1842, quan-
a trajetória da praça, foi muito interessante, pois enquanto do o presidente da Província determinou que ali fosse
se narrava as histórias dos encontros de grandes intelectu- construído um prédio específico para o Mercado. Esse pri-
ais do início do séc. XX no Chalé, lá estávamos nós, discu- meiro Mercado, inaugurado em 1844, ocupava o espaço
tindo sobre a história da praça naquele mesmo formato de da Praça do Paraíso até 1870, período em que a construção
encontro. de um novo prédio para o Mercado ocasionou a sua de-
Alisson, Izabel, Lizandra e Luis Fernando, os pes- molição. A urbanização do entorno do Mercado acabou
quisadores da Praça XV, então iniciaram seus relatos: por afetar a Praça, de modo que a Câmara de Vereadores
marcou prazo para que os proprietários calçassem de laje

BREVE os passeios ao seu redor.


O dia 18 de setembro de 1869 foi um dia de im-

HISTORICO
portantes mudanças para a Praça. Nesse dia, ela teve o
nome alterado de “Paraíso” para “Conde d’Eu”. Além disso,

DA PRACA
nesse mesmo dia foi feita a proposta na Câmara para que
na praça fosse formado “um passeio ajardinado e arboriza-
do, com gradil de ferro, coreto para a música e chalé para
A praça XV de Novembro é uma das mais antigas refrescos” (FRANCO, 2006, p. 336), o que daria origem ao
e tradicionais praças de Porto Alegre, o projeto de sua im- célebre chalé da Praça XV. Ainda no intuito de embelezar
plantação surgiu ainda nos primeiros anos do século 19. A a Praça, em 1870 nomeou-se uma comissão de moradores
praça já teve os nomes de Paraíso, Mercado e Conde d’Eu. “para reunir meios de arborizá-la e de melhorá-la conve-
A primeira referência documental sobre essa praça foi en- nientemente”.
contrada numa ata da Câmara Municipal de abril de 1811, O espaço livre deixado pela demolição do primei-
na qual ordenava-se que um cidadão tapasse um buraco ro Mercado acabou sendo ocupado pelo “Circo Universal”,
que ele, sabe-se lá por quê, havia escavado na Praça. que usava estruturas de madeira em vez do tradicional tol-
O terreno da praça foi objeto de disputa, em 1814, do. Previsto para ficar ali por um ano, obteve prorrogações
entre a administração municipal e um dos antigos povo- da licença e acabou ficando por três anos, de 1875 até 1878.
adores de Porto Alegre, o qual reivindicava para si a pro- Além das atividades circenses, o Circo chegou a realizar
priedade da área, mas a Câmara contestava o alegado di- bailes de máscaras durante o carnaval.
reito. Quando advertido a acompanhar a vistoria oficial e Após a retirada do circo, em 1879, iniciou-se o
a medição dos terrenos, o cidadão se absteve de qualquer ajardinamento da praça cujo projeto previa gradil de ferro
protesto, e assim a área foi destinada oficialmente à praça. e quatro portões. A comissão angariada para conseguir
O “Sargento-Mor Engenheiro” encarregado dessa vistoria donativos para a obra conseguiu arrecadar cinco contos
informava que a praça seria irregular devido à “tortuosi- de réis. Sendo assim, nos anos seguintes a Praça recebeu
dade da margem do rio naquela parte” (FRANCO, 2006, uma série de melhorias: plantio de árvores, calçamento
p. 335). Essa observação pode causar estranhamento hoje, ao redor do jardim, instalação de lampiões de gás, aterra-
uma vez que as águas do Guaíba atualmente se encontram mento e pintura. Após todos esses melhoramentos a Praça
afastadas da praça devido aos sucessivos aterramentos rea- foi solenemente inaugurada em 2 de dezembro de 1882.
lizados naquela parte da cidade. Mas o embelezamento da Praça não havia ainda acabado.
Mesmo sem melhorias urbanísticas, a praça pas-
Dois anos depois foi ins-
talado um elegante chafariz de
ferro bronzeado que atualmente
não se encontra mais no local.
A Praça adquiriu o nome
atual em 11 de dezembro de 1889,
em um processo semelhante a
muitos outros logradouros cujos
nomes faziam referência à mo-
narquia e que, após a proclama-
ção da República, tiveram seus
nomes alterados para fazer men-
ção aos símbolos e personagens
do novo regime.
Já no século 20, em 1909,
foi sugerido ao Conselho Muni-
cipal a construção de um “pavi-
lhão restaurant” em substituição
ao velho chalé. Dois anos depois
o projeto foi concluído, referen-
ciado como “quiosque-bar” nos
relatórios municipais. Em 1928 a
Praça perdeu um pouco de sua área para as vias adjacen-
tes, em decorrência da necessidade de alargar as ruas por
conta da intensificação do tráfego. A Praça era um ponto olhar
de aquiles
de reversão dos bondes, e até hoje é possível ver parte dos
trilhos em volta do abrigo que foi inicialmente construí-
do para servir aos passageiros dos bondes da Companhia
Aquiles Porto Alegre vivia intensamente a cidade
Carris. Esse abrigo foi estendido em 1935, quando o prefei-
cujo nome ele partilhava. Mais do que carregar consigo o
to Alberto Bins determinou ainda que se construísse “um
próprio nome da cidade, Aquiles era um apaixonado pela
torreão de forma elíptica, que daria ao conjunto um belo
cidade, um flanador urbano que se encantava com os ti-
aspecto arquitetônico” (FRANCO, 2006, p. 338). Quando
pos populares e pitorescos da cidade, as ruas e os prédios
os bondes pararam de circular, o abrigo foi reaproveitado
históricos, seu desenvolvimento e mudanças que ele regis-
como ponto de comércio de lanches, revistas e miudezas,
trou com ambiguidade, pois se por um lado considerava
como funciona até os dias atuais.
belas as luzes da Belle Époque porto alegrense, em outros
Através da história da Praça XV de Novembro é
momentos demonstrava grande nostalgia por aspectos
fácil perceber seu aspecto palimpséstico, ou seja, a forma
antigos da cidade que aos poucos foi sendo transformada.
como suas estruturas físicas e seus usos sociais foram sen-
Em um de seus escritos, a Praça XV de Novembro aparece
do continuamente renovados e sobrepostos para atender
intrinsecamente ligada ao Mercado Público:
as necessidades e conveniências de uma cidade viva e em
“O primeiro ensaio de Mercado Público que tive-
contínua transformação. Parafraseando Aquiles Porto Ale-
mos foi na antiga praça da Alfândega, hoje senador Florên-
gre, poderíamos dizer que a antiga Praça do Paraíso não
cio de Abreu, e que, por aquele fato, teve o nome primitivo
envelheceu, mas transformou-se.
de Praça da Quitanda. Só muitos anos depois é que foram
aparecendo algumas tendas na Praça do Paraíso, mais tar-
de Conde d’Eu, e hoje XV de Novembro.
toponimia Era, então, presidente da província o Dr. Satur-
nino de Souza e Oliveira Coutinho. Estávamos em plena
revolução dos Farrapos, mas este delegado do governo im-
perial se preocupava tanto das coisas políticas como das
A atual Praça XV de Novembro teve anteriormente
administrativas. Foi percorrendo, em passeio, a cidade,
os nomes de Praça do Paraíso, Praça do Mercado, e Praça
que ele notou a falta de um estabelecimento para o merca-
Conde d’Eu. O nome de “Praça do Mercado” nunca foi um
do público, por que as tendas que haviam eram ao ar livre.
nome oficial, mas apenas informal. Foi conhecida como
Impressionado com o caso, o presidente assumiu de logo
Praça do Paraíso desde o início de seu uso, no começo do
o compromisso da construção de um edifício para o fim
século XIX, até 18 de setembro de 1869, quando teve o
apontado.
nome oficialmente alterado para Praça Conde d’Eu, o que
De fato, pouco depois, 1841-1842, erguia-se na en-
durou até 11 de dezembro 1889, quando a designação atual
tão Praça do Paraíso, quase na esquina da rua de Bragança,
foi adotada após a proclamação da República no Brasil.
fronteiro ao beco do Rosário, o nosso primeiro mercado
público – construído por uma associação. Era um qua- Dissemos, linhas atrás que em uma das faces do mercado
drado, de linhas e contornos muito simples, com quatro antigo havia sido colocada uma placa de reconhecimento
portões laterais e crivado de portas pintadas de vermelhão. ao seu instituidor, o presidente da Província, Dr. Saturnino
[...] Era neste lado da praça que se alinhavam as pesadas de Souza e Oliveira Coutinho.
carretas a bois, que traziam gêneros para o mercado. A Quando o antigo edifício foi demolido para a cria-
boiada ficava ali solta, ao pé da praia, pastando na farta rel- ção do novo mercado com mais amplas proporções, placa,
va que cobria o solo, que o progresso transformou e poliu. dedicatória e o nome que se queria perpetuar desaparece-
Estas carretas vinham de Tramandaí, Torres, Conceição ram sob os escombros...” (PORTO ALEGRE, 1994, p. 28-29)
do Arroio, Santo Antônio da Patrulha, Boa Vista, Viamão,
etc.; e estacionavam ao lado do Malakoff. [...] O antigo
mercado, como é fácil de perceber, estava muito longe de
parecer-se com o que lhe sucedeu vinte e tantos anos de-

OUTROS
pois, quase no mesmo lugar com suas vastas fachadas e os
seus quatro torreões, e que foi transformado no atual.

OLHARES
O movimento, entretanto, era enorme em relação
ao tempo. O seu comércio, interno, isto é, o de tabuleiros,
resumia-se em frutas, verduras, queijos, requeijões, rapa-
duras, mel e pouco mais; tinha, entretanto, o seu lado pito- O escritor modernista Theodemiro Tostes, em
resco, e este lhe emprestavam as pretas minas que tinham seu livro “Nosso bairro: memórias” apresenta o famoso
também ali as suas quitandas, que constavam de caldeirões chalé da praça XV de novembro como tendo um caráter
com mocotó e canjica aos domingos, e de “pés de moleque”, fortemente germânico durante a década de 1920. Na so-
“amendoim torrado”, e “farinha de cachorro” diariamente. ciabilidade do espaço do chalé era gerada uma “mescla
Aos domingos, era no mercado velho que os na- teuto-brasileira” com conversas bilíngues entre os alemães
moradores iam comprar flores para suas “dulcinéias”, e de cabelo ruivo e pele rosada contrastando com as “caras
certos doentes adquirir ervas medicinais, que ali ia vender amorenadas” (TOSTES, 1989, p. 139) da maioria.
um mulato velho chamado Estêvão, que morava lá para as Descendo a rua Uruguai (ou a rua do comércio
bandas do beco do Marcelo. que era seu nome naquele tempo) a gente chegava à praça
[...] Mas, voltando ao mercado antigo. Este, como XV. E a praça XV era o chalé, essa construção encimada
o atual, no seu primeiro estádio, tinha quartos externos e por um torreão acastelado que ainda perdura até agora. O
internos. Os externos eram geralmente ocupados por “ar- chalé da praça XV era tudo, um lugar de retiro e um lugar
marinhos”, algumas lojas, armazéns e mesmo tavernas. Os de chopanças. Com uma espécie de hino nacional que co-
internos eram destinados para os açougues. O movimento meçava com essas palavras: “Heute gehen wir ins chalet
do mercado, mormente aos domingos, era enorme e prin- der guten Fritz...” O bom Fritz era o dono ou arrendatá-
cipiava ao lusco-fusco do dia. rio do chalé, um gambrino gordo e sadio que sabia tirar
Os rapazes que saíam dos bailes, os que passavam um chope ou bebê-lo, noite adentro, com a mesma arte,
as noites em serenata e até os que a perdiam num velório atrás do balcão, suado e vermelho, trocava e retrocava seus
– era no mercado que iam tomar o seu café matinal com barris, que espumejavam cantantes nas canecas. (TOSTES,
pão e manteiga, nos mesmos trajes de gala, de boemia ou 1989, p. 39)
de luto com que haviam atravessado a noite. Era nas mesas dos bares e cafés que muitos ho-
mens se sentavam para ler o seu jornal, que poderia ser
A Federação, o Jornal da Manhã ou
o vespertino A Última Hora, mas no
chalé da Praça XV não seria difícil
encontrar alguém tomando um sch-
naps e lendo um Deutsche Zeitung,
jornal escrito em língua alemã e que
era vendido em algumas “bancas
mais exclusivas” (TOSTES, 1989, p.
94) da cidade. Theodemiro se lembra
que o crítico de arte do Zeitung, já
no fim da noite, às vezes cochilava à
mesa do chalé. O escritor, no entan-
to, não consegue se lembrar do difí-
cil nome do alemão, que era “cheio
de erres e de agás aspirados”. (TOS-
TES, 1989, p. 94)
Outra memória registrada por The-
odemiro foi sobre um ano novo pas-
Para os literatos boêmios da época, acostumados
a atravessar as madrugadas em meio às canecas de chope,
aquela noite não era muito diferente das outras. Os gar-
çons garantiam que as canecas vazias voltassem às mesas
cheias e espumejantes. Assim, o chope e a literatura com-
punham o “ritual especialíssimo” (TOSTES, 1989, p. 39)
daqueles jovens boêmios que ensaiavam sua literatura em
uma Porto Alegre que se modernizava e se transformava.
As conversas bilíngues se alternam numa espécie de
contra ponto. Os tipos ruivos e rosados contrastam com as
caras amorenadas que formam a grande maioria. Aqui mes-
mo, na nossa mesa, nós temos o poeta Aug, uma sábia mis-
tura de alemão e gaúcho de Cerro d’Árvore. O poeta acende
um crioulo que a sua mão palmeou galponeiramente e pas-
seia os olhos no jardim como se procurasse o Unerwartet.
Mas a paisagem humana, aquela hora, é de uma banalidade
familiar, os boiotas bebem o seu chope ou ruminam as co-
milanças preparatórias. (TOSTES, 1989, p. 139)
É impossível ser mais enfático e sintético do que
Theodemiro Tostes quando este resumiu em uma frase a
importância do local para sua geração literária: “O chalé
da Praça XV era tudo” (TOSTES, 1989, p. 39).
comunicacao
(em museus)
O grupo da comunicação, formado por Ananda,
Fernanda, Guilherme e Morgana, foi responsável por todo divulgacao
o plano comunicacional deste projeto: a formatação das
peças gráficas, o processo de divulgação do evento da Ca-
minhada Literária e, inclusive, a criação e diagramação do Como era um evento aberto ao público, para
presente guia. Seguem algumas das estratégias de comuni- convidar as pessoas a participarem da caminhada
cação que foram utilizadas pelo grupo e que podem servir utilizamos duas ações principais: um evento no face-
de inspiração para caminhadas e passeios futuros: book e a distribuição de cartazes na Universidade.

Lançamos o evento no Facebook aproximada-


mente 2 semanas antes da caminhada. Fizemos um pe-
queno texto de apresentação sobre o propósito do evento e
produzimos uma capa personalizada para o mesmo.
cartaz
Produzimos também um cartaz para ser colocado nos murais da universidade com as principais infor-
mações sobre a caminhada e com o link do evento no Facebook para mais informações. Imprimimos 5 cartazes
e colocamos nos murais da FABICO (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação), da FACED (Faculdade de
Educação) e da Faculdade de Letras, cursos que achamos que mais teriam interesse no evento.
Acreditamos que é importante, também, falar sobre as falhas ocorridas no trabalho, e entendemos que
a divulgação não tenha sido totalmente efetiva, uma vez que tivemos apenas um participante da caminhada que
não era da turma. Outros fatores podem também ter influenciado a falta de um público mais expressivo: o dia
estava muito quente, era época de final de semestre e o evento aconteceu em uma quarta feira pela tarde.
cada uma.
APRESENTAÇÃO MAPA
Nos últimos anos de vida, Aquiles Porto
Alegre (1848-1926) fazia do passeio
matinal pela cidade um trabalho de
escrita. Buscava captar flagrantes da rua
Mercado
e da memória, traduzindo-os na forma
Público
CAMINHADA
da crônica. Foi um de nossos primeiros
cronistas, acompanhando pelo menos
folder

p os
60 anos de crescimento e modernização Cam
iqu
eira >3
R. S
de Porto Alegre com olhos atentos, PRAÇA
certa crítica e um tanto de melancolia. XV
Jornalista, professor, funcionário público, MARGS

fundador do Partenon Literário, fez parte


>2
da formação da elite letrada da Capital.
PRAÇA DA ALFÂNDEGA
LITERÁRIA
as
drad
A turma de Comunicação em Museus s An
R. do
(2019-02), do Curso de Museologia da Museu da
Comunicação

ra
UFRGS, escolheu fragmentos de Aquiles
sentação do trabalho e sobre a vida da Aquiles Porto Ale-
caminhada. O folder continha um pequeno texto de apre-
duzimos um folder informativo para os participantes da
Para tornar a caminhada mais dinâmica e didática, pro-

gre e o resumo dos textos sobre as praças com uma foto de

Porto Alegre para percorrer três praças


centrais numa caminhada cultural. Junto

R. Gen. Câma
às descrições de Aquiles, cruzamos ima-
gens e palavras
de outros cronis-
tas para iluminar >1
com novos senti- PRAÇA DA MATRIZ
dos esses lugares
de encontro, de
passagem e de
representação li-
terária.
PRAÇA DA PRAÇA DA PRAÇA
MATRIZ ALFÂNDEGA XV
A origem da Praça da Alfândega, chamada
antigamente como praça da Quitanda e
depois também como Senador Florêncio,
situa-se no fim do século XVIII, quando
se deu a construção do antigo porto
fluvial do município de Porto Alegre e a
aglomeração de comerciantes na região.
Sofrendo mudanças desde arborização
pelos moradores até construções de
prédios na sua volta, era e ainda é
conhecida como ponto turístico, histórico
da cidade, visto como um caminho central
Na parte alta do Centro Histórico de Porto de encontro da população e um lugar A praça XV de Novembro já teve os nomes
Alegre, está a popularmente conhecida de memória para os antigos cronistas e de Praça do Paraíso, do Mercado e Conde
Praça da Matriz. Em torno dela, se poetas da cidade. d’Eu. É uma das mais antigas praças de
encontram os palácios que abrigam cada Porto Alegre, cujo espaço já foi ocupado
um dos três poderes estaduais, além por um antigo prédio do Mercado Público,
da Catedral Metropolitana e do Theatro além de um circo. Embora a Praça tenha
São Pedro. Entre os séculos XVIII e XIX sido inaugurada oficialmente em 1882, seu
recebeu diferentes denominações até uso se iniciou ainda nos primeiros anos do
que, em 1889, seu nome oficial passou a século XIX. A Praça já teve ponte, gruta
ser Praça Marechal Deodoro. Por muito e chafariz, antes de servir como parada
tempo, as comemorações na Praça da dos bondes, cujos trilhos ainda podem
Matriz eram tão marcantes que foram ser vistos ao redor do antigo abrigo dos
registradas por vários cronistas da passageiros, hoje transformado em
cidade, como Aquiles Porto Alegre que espaço para lanches. É uma praça que se
citou as festividades em suas crônicas. transformou junto com a cidade.
POSTAIS
Como já falado no guia, nossa proposta de intervenção du-
rante a caminhada foi entregar cartões postais para as pes-
soas que estavam passando pela praça. A ideia foi entregar
o postal da respectiva praça (ou seja, se nos encontrávamos
na praça da Matriz, entregamos o postal sobre a praça da
Matriz). Na arte do postal tinha uma foto antiga da praça,
da mesma época dos escritos de Aquiles e os outros literatos
e, no verso, uma pequena citação de Aquiles Porto Alegre.
comentarios
“Apesar de morar em Porto Alegre há 15 anos, “A vida regrada pelo relógio acelera passeios agra-
aprendi muita coisa sobre a história das principais praças dáveis e eterniza reuniões exaustivas. Em nome da produ-
da cidade. Trabalhar em equipe é sempre um importante tividade, nossos olhos perdem a sensibilidade, impedindo-
desafio que contribui para nosso crescimento acadêmico -nos de ver a beleza de um prédio, de uma árvore, de uma
e como futuros profissionais. Creio que o dia e horário da esquina, de nós mesmos. Deixar-se caminhar despreten-
atividade foram responsáveis pelo fato de não termos con- siosamente por ruas e praças, por mais singelo que esse ato
seguido atrair maior público externo. De qualquer forma, pareça, é um movimento de contestação e resistência a essa
foi uma atividade interessante no sentido de termos criado engrenagem enferrujada.”
um evento cultural desde o planejamento até a execução.” Luis Fernando Massoni
Alisson Almeida
“Foi uma experiência muito enriquecedora, pois
“A Caminhada Cultural foi um projeto que me mesmo sendo moradora de Porto Alegre, percebi que te-
ajudou a enxergar as nossas praças de outra forma. De nho muito a aprender sobre a história desta cidade”
maneira poética e despertando a curiosidade pelos lugares Rosangela Ramos
que muitas vezes transitamos mas não olhamos de verda-
de, como é o que acontece na Praça da Alfândega, um lu-
gar onde existe um grande fluxo de pessoas, característica
essa que não mudou desde a origem de Porto Alegre. É um
trajeto perfeito pra quem têm o interesse em entender mais
sobre a cidade e a si mesmo como cidadão.”
Ana Carolina Chaves

“Gostei muito de participar da Caminhada Literá-


ria! Tive a oportunidade de conhecer mais sobre o históri-
co das três praças e ouvir as leituras dos cronistas!”
Carol

“O envolvimento com o projeto propiciou um


novo olhar sobre as praças e ruas de Porto Alegre, provoca-
dos especialmente pelas impressões de Achylles e Theodo-
miro. A Caminhada Literária, em si, apesar de proveitosa,
deixou a desejar pela falta de público diferente da turma.”
Izabel Rachelle

“A Caminhada Literária foi um projeto único que


tive a oportunidade de organizar e de participar como aluna
do curso de Museologia. Um evento com uma abordagem
baseada nos cronistas gaúchos sobre a linda Porto Alegre,
me fez olhar as praças da cidade com outros olhares.”
Gabriela Leindecker

“Ver Porto Alegre sob outra ótica nos faz re-


fletir que não existe o tempo só a memória que se
expressa através da arquitetura, das ruas, das praças
da cidade a qual pertencemos.”
Lizandra Caon
referencias
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va,1989.

TOSTES, Theodemiro. Nosso bairro: memórias. Porto Alegre: Fundação Paulo Couto e Silva, 1989.
Alisson de Almeida
Ana Carolina Chaves
Ananda Delfim
Bruno Machado
Carla Mussoline
Carolina Taleikis
Cinara Lewinski
Fernanda Marczak
Gabriela Leindecker
Guilherme Rangel
Izabel Rachelle
Lizandra Caon
Luis Fernando Massoni
Luiza Noal
Morgana Bartz
Rosangela Ramos

Profª. Cassilda Golin Costa

Porto Alegre, dezembro de 2019

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