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DA ILUSÃO À CORREÇÃO

O ser-humano vive – vive no sentido de manter a atenção e


acreditar que isso é a realidade da sua verdadeira condição – num
mundo de projeções, conhecido no Yoga como “maya” (ilusão).
Uma realidade projetada, que apesar de aparentar ser, não é real. E
através do livre-arbítrio, cada projeção assume uma forma
específica de acordo com o desejo da mente que a projetou. Essa
forma pode se manifestar no corpo material, emocional ou causal
(nível do pensamento).

No nível material, isso se dá com as experiências cotidianas de cada


indivíduo. No nível emocional, os desejos acontecem através de
emoções viscosas, como: medo, raiva, ciúmes, rancor etc; ou
emoções felizes: carinho, alegria, compaixão e outras. E ainda que
não existam no seu equivalente material, a mente pode vivenciar as
experiências ambicionadas apenas como pensamentos. Um
exemplo são os sonhos do sono. Esses sonhos acontecem em duas
situações: quando queremos (consciente ou inconscientemente) ver
algo se tornar real e vivenciamos esse desejo durante o sono, em
um sonho ou quando nos comunicamos com alguém ou vivemos
uma experiência real no plano Astral, também conhecido como 4ª
dimensão, onde vivem as almas desencarnadas (o mundo físico é a
3ª dimensão).
[Todas as noites, ao entrar em sono profundo, o indivíduo se “desdobra” - a
consciência se separa momentaneamente do corpo - e passa a viver no plano
Astral. Um plano materialmente mais sutil, porém com o mesmo nível vibratório
de pensamentos. Por isso é muito comum compartilharmos experiências com
pessoas desencarnadas e também encarnadas durante o sono. Já que todos se
projetam para fora do corpo, não é anormal se encontrarem no mundo Astral.]

O livre-arbítrio é intimamente relacionado com o “não-julgar”, que


é a natureza de Deus-Pai. Deus é amor, plenitude e integridade,
abundância, alegria inabalável, felicidade plena, eternidade,
perfeição e tudo de mais lindo que possamos imaginar e
transcender a imaginação. Em verdade, tudo já é perfeito. Nada
acontece sem que seja antecipadamente concebido. Todas as cenas
que uma pessoa vê e vive são decididas anteriormente pela mente,
consciente ou inconscientemente, antes de manifestá-las. [O tempo (a
ordem dos acontecimentos) é um truque da mente para que a nossa consciência
não veja que somos eternos, iguaizinhos a Deus. Portanto, o ego não percebe que
tudo o que vive e deseja já aconteceu e pode acontecer no agora, que é sempre
eterno. O ego tem como veículo de discernimento o cérebro e este não pode
conceber racionalmente o que é a eternidade. A eternidade portanto tem que ser
vivenciada]. Toda a falta de consciência dessa perfeição é relacionado
à falta de conexão com o Universo, o que podemos chamar de “a
separação”, o desejo do Filho de Deus de não se comunicar com o
seu Pai (conversaremos um pouco mais sobre isso nos últimos
parágrafos desse texto). A primeira atitude do ego é acreditar que
essas afirmativas são mentira e não passam de idéias loucas. Saiba
que esta é mais uma de suas tentativas desesperadas de esconder
a realidade do seu Ser e não trazer o problema da aparente
separação de Deus à luz da Verdade. O ego é uma energia, uma voz
(criada por você), perfeitamente engenhosa em dar às ilusões a
aparência de verdade. Sabe que se a pessoa olhar para a luz da
Verdade, corrigirá sua mente a respeito da sua essência e realidade.

Como forma de ocultar os desejos e automaticamente preservá-los,


a pessoa se condiciona a olhar sempre para fora e ver um mundo de
acontecimentos externos. Ao olhar para fora, veem-se como
vítimas, presas numa roda infinita de experiências que parecem
estar longe do seu controle. Ao olhar para dentro, começamos a
conhecer a causa; onde todos os desejos nascem e transformam-se
em evidências reais aos olhos do corpo. Assim aprendemos a alinhar
nossos desejos com a Vontade de Deus. Só há a Vontade de Deus,
pois só há Deus. Ele é eterno e insolúvel e nós, sendo seu filho,
temos os mesmos aspectos que Ele. Somos unos com Ele, dentro
Dele e Ele dentro de nós. Dessa forma o que está sendo colocado é
que nada precisa ser mudado, já que somos perfeitos como Deus.
Só precisamos mudar para onde estamos direcionando,
equivocadamente, nossa atenção. Se nos conectarmos
constantemente com nosso Ser, com o Amor, nossa vida será
alinhada impreterivelmente com a perfeição, não importa onde
estejamos vivendo. E até que a conexão esteja ancorada na nossa
mente, temos que treiná-la para buscar a conexão todos os dias, o
tempo todo, é um constante lembrar e tornar-se consciente disso.

Apoiando a crença de que o mundo externo é a matriz dos


acontecimentos, nos envolvemos num senso de vitimização e assim
não vemos onde está o problema. O problema e a correção estão no
mesmo lugar e a correção para todos os problemas aparentes já foi
realizada. Lembre-se, irmão, que estamos levando em conta o
alinhamento da nossa mente com a Verdade, que é eterna - se a
mente é eterna tudo que poderá acontecer, já aconteceu. A
salvação, a correção dos equívocos, também já foi realizada e é
assim que temos que usar nossos pensamentos, alinhados com a
realidade do nosso Ser divino, experimentando esses conceitos,
vivenciando-os e finalmente entendendo a mensagem do Espírito
Santo para nós. A salvação já foi feita porque ao perceber a
separação do Filho com o Pai, Deus criou o Espírito Santo e o enviou
como guia, corrigindo eterna e instantaneamente a mente do Filho
sobre o equívoco da separação.

Ao meu ver, o sentimento de vitimização é o primeiro equívoco que


o estudante da Luz tem que corrigir. Essa ilusão de que o Filho de
Deus é vítima de um mundo vil, coloca a sua consciência numa
posição de não levar o erro à solução. Portanto acredita que está
realmente de mãos atadas ao destino e que o fatalismo é um
aspecto natural da vida. Felizmente, não é assim que funciona. Há
saída. Tudo o que vemos, é criação da nossa mente. Somos nós que
dirigimos a vida. Nem o próprio Deus se colocou à frente dos nossos
desejos, já que ele sabe que a nossa real condição está protegida e
eternizada pela Sua Vontade, nada pode ser mudado. Tudo é uma
questão de alinhar-se com a Sua Vontade e deixar que Ele tome
todas as decisões, participe de todos os processos e nos guie com
amor para a alegria perfeita.

Entregar a mente para Deus todos os dias, manter-se arraigado


nessa consciência e não dar significado às aparências do mundo – o
perdão – é o motor do treinamento. Com o treinamento, muitas
coisas começarão a ser corrigidas. Caso você veja medo, não deixe
de olhar para ele como ele é, uma pequena ilusão.

Quando entender isso, será apenas uma questão de tempo. A sua


mente ficará cada vez mais alinhada com a Consciência Universal e
os efeitos disso estarão bem à frente dos seus olhos para desfrutar
deles. A cada dia que passar, o mundo deixará de ser cruel, já que a
sua mente não atrairá situações de medo e dúvida (os pensamentos
são imãs e de fato atraem o que esteja vibrando na mesma
qualidade que eles). Diante dos seus olhos e dentro da sua mente
só existirão momentos de alegria e paz. Não terá mais problemas de
saúde, financeiros, emocionais, profissionais, acadêmicos, familiares
e nenhum outro, já que todas as suas ações serão comandadas por
Quem tem a visão perfeita e pode fitar quilômetros à frente dos
acontecimentos que os seus pensamentos humanos tendem a
projetar para fora. E se você perder sem querer a vigilância da sua
mente em algum momento e por acaso algo de triste acontecer,
também não se influenciará. Sabe que é ilusão, uma mera
aparência, um truque da mente para lhe fazer pensar que você é
vulnerável e não-abundante.

Também não terá mais problemas com ninguém, já que sabe que
seu irmão não é um corpo e sim um espírito divino, um reflexo do
que você também é e compartilha com ele por serem unos, um só.
Você perdoou a todos e compartilhou também com eles o
conhecimento que corpos são apenas instrumentos para veicular
pensamentos separados de Deus. À medida que a luz for
despertando nas suas células, seu corpo também refletirá a
abundância que acompanha esse pensamento.

O perdão é o fator chave desses conceitos. Pois cortamos o “mal”


pela raiz. Dissolvemos a crença inconsciente, que está enterrada lá
no fundo da mente, de que não somos o Filho imutável de Deus.
Junto com o perdão deixamos de dar significado às coisas do
mundo, que encerram-se como aparências. Esse é um mundo de
aparências. Ele não é nada mais além de uma ferramenta que serve
para dar a impressão de que as coisas que vivemos aqui são reais
(como o ego, uma ferramenta de aparências). Da mesma forma que
um martelo serve para bater num prego, o mundo foi inventado
para servir de cenário para as mentes que escolheram vivenciar
essas ilusões. Não há nada de errado com isso, é apenas uma
voltinha que o filho escolheu dar pra bem “longe” de seu Pai. E
como já foi dito, nosso Guia, já foi enviado para nos lembrar que é
impossível estarmos sozinhos, que Deus mora dentro de nós e nós
dentro dele, portanto onde quer que estejamos Ele estará também e
que já retornamos para o nosso lugar de direito pois a correção da
aparente separação foi instantaneamente providenciada.

Podemos classificar o perdão como uma técnica. Uma forma de usar


a mente, de modo que quando você perdoa, afirma para o seu
irmão e para você mesmo que o que ele fez não tem importância
para ti, já que não é real. Você o isenta das ilusões do ego, fazendo
com que a mente dele compartilhe com a sua o teu pensamento
correto. Veja como é simples, como o ego é quem complica tudo
para nos distanciar do conhecimento. Se Deus nos criou como Seu
Filho, se estendendo à Sua Criação, nos doando tudo o que Ele é,
então somos 100% iguais a Ele. E se Deus é tudo o que existe e só
há Deus e nada mais, nós também somos Deus, fazemos parte Dele
e Ele de nós. Então, nossos irmãos também são o que somos.
Quando você diz, faz ou pensa algo sobre um irmão está dizendo,
fazendo ou pensando para você mesmo, pois ele é você (se isso
parecer loucura é porque provavelmente você ainda não possui
treinamento mental para separar o ego da sua mente e conceber
essa lógica simples). Portanto, quando você perdoa o mundo,
perdoa você mesmo. A cada perdão, reafirma para sua própria
mente a verdade sobre ti. E quanto mais afirmar isso, um grande
peso será tirado das suas costas e mais luz despontará na sua
mente. Continue fazendo isso e reconhecerá que a Alegria de Deus
é também a sua.

As mágoas são a contra-partida do perdão. Guarde mágoas e estará


afirmando para si que algo externo te machucou, te afetou, que
você é vítima. O Amor não guarda mágoas.

“Tu, que foste criado pelo Amor como Ele Mesmo, não podes guardar mágoas e
conhecer o teu Ser. Guardar uma só mágoa é esquecer quem és. Guardar uma
mágoa é ver a ti mesmo como um corpo. Guardar uma mágoa é deixar que o ego
domine a tua mente e condenar o corpo à morte. Talvez ainda não reconheças
interiormente o que guardar mágoas faz com a tua mente. Parece dividir-te,
afastando-te da tua Fonte e fazendo com que não sejas como Ela. Isso faz com
que acredites que a tua Fonte é como o que pensas que passaste a ser, pois
ninguém pode conceber que o seu Criador não seja como ele mesmo.

Excluído do teu Ser, Que permanece ciente da Sua semelhança com o Seu
Criador, o teu Ser parece dormir, enquanto a parte da tua mente que tece ilusões
em seu sono parece estar desperta. Guardar mágoas pode causar tudo isso?
Pode, sim! Pois aquele que guarda mágoas nega que foi criado pelo Amor e, no
seu sonho de ódio, o seu Criador passa a ser amedrontador para ele. Quem pode
sonhar com o ódio e não ter medo de Deus?
É tão garantido que aqueles que guardam mágoas redefinirão Deus à sua própria
imagem, quanto é garantido que Deus os criou como Ele Mesmo e os definiu
como parte de Si. É tão garantido que aqueles que guardam mágoas sofrerão
culpa, quanto é garantido que aqueles que perdoam acharão a paz. É tão
garantido que aqueles que guardam mágoas esquecerão quem são, quanto é
certo que aqueles que perdoam se lembrarão.

Não estarias disposto a abandonar as tuas mágoas se acreditasses que tudo isso
é assim? Talvez não penses que possas soltar as tuas mágoas. Mas isso é apenas
uma questão de motivação. Hoje, tentaremos descobrir como te sentirias sem
elas. Se tiveres sucesso, por pouco que seja, nunca mais terás problemas de
motivação.”

Um Curso em Milagres (Ed. Abalone), livro de exercícios, página 122.

Vitor Ramos.

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