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O desenvolvimento das Funções Executivas na Educação Infantil: uma

perspectiva neuropsicopedagógica
Josiane Gomes Silva1; Vitor da Silva Loureiro2
1
Acadêmico do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Neuropsicopedagogia Institucional e Educação
Especial Inclusiva da Faculdade Censupeg; 2Professor Orientador do Curso de Neuropsicopedagogia da
Faculdade Censupeg.
josianegomessilva91@gmail.com

Resumo
Dentre as habilidades que precisam ser desenvolvidas em crianças na primeira
infância, encontram-se as Funções Executivas (FE). Estas habilidades são fundamentais para
que um indivíduo atinja o pleno desenvolvimento de diversas competências na vida.
A vivência e experiência proporcionadas à criança da Educação Infantil contribui para
o processo de construção dessas competências, primordiais para que ela seja capaz de
gerenciar diversos aspectos do cotidiano. Portanto, entender o funcionamento das funções
executivas, especialmente nas crianças em idade pré-escolar, possibilita um novo olhar sobre
o processo de ensino e de aprendizagem, que corrobora de forma significativa com
desenvolvimento de novas estratégias pedagógicas.
Sendo a Neuropsicopedagogia a ciência da aprendizagem, o presente trabalho traz uma
revisão de literatura sob a perspectiva abordada através dos estudos de renomados autores, a
fim de abordar a relevância em dominar o conhecimento sobre as Funções Executivas em
crianças no período escolar da Educação Infantil.

Palavras-chave: Funções executivas, educação infantil, neuropsicopedagogia, crianças,


neurodesenvolvimento.

1. Introdução
As crianças possuem um grande potencial para resolver as situações conflituosas e
inibir respostas automáticas, porém, essa capacidade precisa ser construída a partir das
interações sociais adequadas, com direcionamento e acompanhamento correto. (SANTANA,
2019, p. 16)
Nesse sentido, este estudo tem por objetivo contribuir com saberes relacionados às
Funções Executivas na etapa da Educação Infantil, concentrando-se em crianças com idade
entre 4 e 5 anos, tendo em vista os conhecimentos das neurociências aplicadas à educação e
da Neuropsicopedagogia.
Para que o funcionamento executivo de uma criança seja desenvolvido de forma
correta e responsável, é necessário que o seu contexto familiar e social tenha, no mínimo, uma
estrutura equilibrada na relação adulto e criança, pois, é no âmbito dessa interação que ela
será direcionada até o momento que possuir condições de desempenhar o papel de forma
progressiva e com mais autonomia. Todo o ambiente que envolve essa criança, ou seja, todo o
contexto social do qual ela faz parte, precisa contribuir de maneira positiva na construção de
suas bases cognitivas, sociais e emocionais, principalmente nessa primeira fase da infância,
visto que elas
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precisam de um ambiente estável que promova um desenvolvimento adequado (SHONKOFF,
2011)
Esse desenvolvimento vem seguido de habilidades essenciais para o dia a dia e
fundamentais para a vida. Como exemplo de situações no cotidiano podemos citar: Limpar a
casa ao mesmo tempo que faz a comida; falar ao telefone enquanto ajuda o filho a se vestir;
rascunhar uma lista de compras e riscar o que já comprou; memorizar um número de telefone
para anotar quando encontrar uma caneta; respirar fundo ao invés de responder com
ignorância e agir com educação, quando defrontar-se de forma brusca com outra pessoa. Estes
são comportamentos que precisam ser coordenados por um adulto nas crianças, pois, manter o
autocontrole e cumprir instruções passo a passo em meio a distrações ou interrupções, são
multitarefas já maturadas pela fase adulta. (DIAMOND, 2013)
Sendo assim, Knapp (2013) vai dizer que considerando a importância do funcionamento
executivo no desempenho escolar e no bem-estar social, a identificação precoce dos
problemas relacionados à autorregulação cognitiva e comportamental, é claramente
importante. De outro modo, consequentemente, as crianças mais jovens terão dificuldade em
planejar com antecedência, resistir às tentações, ajustar suas emoções e persistir na realização
de uma tarefa, pois é assim que o cérebro funciona nessa idade.

2. Funções Executivas (FEs)

As Funções Executivas são um conjunto de habilidades que consiste na capacidade do


indivíduo de controlar e orientar seu comportamento e suas atitudes no dia a dia, com a
intenção de alcançar objetivos específicos, ou seja, são ações voluntárias, independentes,
autônomas e auto organizadas, voltadas para metas específicas. (SEABRA, 2012)
Dito isso, devemos considerar que as crianças da pré-escola, em meio aos inúmeros
desenvolvimentos que abrange essa faixa etária, acrescenta ainda essas funções tão essenciais
para que elas consigam enfrentar os diversos desafios do seu cotidiano e se tornar cidadão
pleno e cooperante na sociedade.
Esta fase do desenvolvimento infantil, exige esforços e competências mentais que
ainda estão em processo de maturação em seu córtex cerebral. Esforços estes que necessitam
desse conjunto de habilidades, ou seja, das funções executivas, que precisam estar bem
reguladas e definidas para que o resultado final, isto é, o comportamento, alcance respostas
positivas.
O processo de desenvolvimento dessas habilidades ocorre no córtex frontal. É uma das
regiões cerebrais mais lenta quanto ao tempo de maturação, podendo se desenvolver até os
trinta anos de idade. (KNAPP, 2013). Esse amadurecimento tem início por volta dos 12 anos,
continua durante a adolescência, percorre na juventude e estabiliza no envelhecimento,
período em que começa a declinar. (SEABRA, 2012).
Para elucidar o quanto é importantíssimo esse funcionamento executivo em toda a vida
de uma pessoa, veja abaixo um quadro onde mostra exemplos de práticas do cotidiano quanto
a utilização dessas habilidades. (DIAMOND, 201)

Quadro 1
Aspectos da vida Relevância para esse aspecto da vida Referências
FEs são prejudicadas em muitos transtornos mentais, incluindo:
- Vícios Baler & Volkow 2006
- Hiperatividade com déficit de atenção Diamond 2005, Lui &
Saúde mental (TDAH) Tannock 2007
- Transtorno de conduta Fairchild et ai. 2009
- Depressão Taylor-Tavares et ai. 2007
- Transtorno obsessivo compulsivo Penadés et al. 2007
(TOC)
- Esquizofrenia Barch 2005
FEs mais pobres estão associadas à Crescioni et al. 2011 , Miller
Saúde física obesidade, excessos alimentares, et al. 2011 ,
abuso de substâncias e baixa adesão ao  Riggs et al. 2010
tratamento
Qualidade de vida Pessoas com melhores FEs desfrutam Brown & Landgraf 2010 ,
de uma melhor qualidade de vida Davis et al. 2010
Aspectos da vida Relevância para esse aspecto da vida Referências
FEs são mais importantes para a Blair & Razza 2007 ,
Prontidão escolar prontidão escolar do que o QI ou leitura Morrison et al. 2010
matemática de nível básico
FEs preveem tanto a competência Borella et al. 2010 , Duncan
Sucesso escolar matemática quanto a leitura ao longo et al. 2007 ,
dos anos escolares Gathercole et al. 2004
Fonte: Diamond, 2013
3. Principais habilidades das Funções Executivas

Segundo Diamond (2013) as funções executivas se dividem em: Controle inibitório,


memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. Essas habilidades foram organizadas de
maneira sistemática apenas para uma melhor compreensão das mesmas, porém, em sua
funcionalidade se relacionam entre si.

3.1 Controle Inibitório

O controle inibitório está relacionado à capacidade da pessoa de resistir em tomar


atitudes contrária à sua vontade, ele inibi o comportamento que lhe é cômodo e favorável, em
prol do que é necessário. Envolve a capacidade de contrapor uma atitude impulsiva e
responder de forma correta. (SEABRA, 2012)
Segundo Munakata (2013), a falta do controle inibitório favorece a vulnerabilidade
para rompantes e atitudes impensadas, permitindo que a pessoa fique sujeita aos estímulos
coordenados pelo ambiente ou a situações adversas. Tais estímulos contribuem de maneira
negativa no aspecto de vida, ocasionando reações inadequadas ao convívio social, o que
caracteriza a ausência de autocontrole. Portanto, o controle inibitório possibilita a mudança de
intenção, escolher como reagir e agir corretamente no momento oportuno.
Naturalmente o ser humano é movido pelo estímulo do ambiente em que vive, fazendo
com que, discretamente, vez ou outra, envolva-se com circunstâncias desagradáveis, porém, a
capacidade de desempenhar o controle inibitório favorece a renovação de escolha, o mudar de
ideia. Essa mudança de ideia nos leva diretamente para um autocontrole, que vem da aptidão
de um indivíduo conservar o primeiro ímpeto e vivenciar a situação com equilíbrio sem
perder

o rumo de todo o contexto da circunstância, mesmo que esta seja trabalhosa e apresente um
motivo significativo para exercer atitudes contrária. (DIAMOND, 2013)
O autocontrole divide-se em dois aspectos: atenção seletiva e inibição cognitiva. Na
atenção seletiva, é possível estar envolvido em uma determinada situação, observar tudo o que
acontece no ambiente, porém involuntariamente, eliminar vozes e ruídos que causam
distrações sem perder a atenção na tarefa principal. Utiliza-se a atenção seletiva, por exemplo,
quando há uma conversa em um local de festa. A pessoa consegue conversar e ouvir
naturalmente sem perder o foco no diálogo. (LIMA, 2005)
Em outro ponto, a inibição cognitiva, se dá de forma voluntária e premeditada.
Estímulos específicos que são literalmente ignorados pelo indivíduo com o objetivo de manter
sua atenção naquilo que é relevante de acordo com seu interesse. Como por exemplo: Recusar
memórias ou pensamentos indesejáveis, ou seja, esquecimento intencional, rejeitar
informações já adquiridas anteriormente e não permitir intervenções passadas. Ignorar
lembranças específicas. (DIAMOND, 2013)
O autocontrole do controle inibitório, está diretamente ligado com o domínio próprio e
o comando das emoções em favor do bom comportamento, isso faz com que sérios prejuízos
na vida sejam evitados. Prejuízos como: Afastar-se de uma aventura romântica fora do
casamento, tomar atitudes sem levar em consideração as normas sociais do tipo, passar à
frente de um colega na fila ou tomar um brinquedo de forma brusca. Portanto, observa-se que
são habilidades complexas característico no adulto. (DIAMOND, 2013)
Desenvolver essas aptidões nas crianças com idade entre 4 e 5 anos é uma tarefa muito
importante, porém, desafiadora, pois, é a oportunidade de construir capacidades determinantes
para um bom desenvolvimento de uma vida social, pessoal e profissional, saudável no futuro.
Desempenhar esses saberes na prática diária das crianças permite que ela seja capaz
de: esperar sua vez para falar na roda de conversa, aguardar ser chamada mesmo quando sabe
a resposta, parar de gritar, pedir desculpas voluntariamente quando esbarra no colega,
obedecer aos comandos em brincadeiras coordenadas como, “estátua” e “seu mestre mandou”,
dentre outros. Para uma criança desempenhar e concluir essas tarefas com sucesso, demanda
esforços mentais que como dito anteriormente, ainda estão em fase de amadurecimento em
seu córtex pré-frontal, seu cérebro precisa desenvolver todas as funções necessárias com
maestria, trabalhando em conjunto para produzir um funcionamento executivo adequado.
(SHONKOFF, 2011)
Crianças impulsivas cometem o erro de não saber esperar, ensiná-las a ter esse
controle inibitório, evita tais erros e melhora seu desempenho escolar significativamente
dentro do processo de aprendizagem. (DIAMOND, 2013)

3.2 Memória de Trabalho

A memória de trabalho envolve outra capacidade imprescindível, que consiste em


guardar a informação na mente para utilizar em outro momento, quando não está mais
perceptível. Entre outras palavras, buscar na memória a informação que já esteve visível ou
palpável. Simplificando a explicação, é algo aprendido dentro de todo o contexto social, para

que, quando em um determinado momento precisar evocar tal informação para fazer uso no
dia a dia, o indivíduo seja capaz de acessá-la. (MOURÃO JÚNIOR, 2015)
É a memória de trabalho que vai dar significado a qualquer coisa que aconteça ao
longo do tempo, porquanto, é por meio dela que se conserva em mente o que aconteceu para
relacionar com o que vem depois. Neste momento podemos perceber a importância da
linguagem verbal e não verbal, levando em consideração que certos indivíduos possuem mais
facilidade de memorização através da escuta e outros por meio visual, a partir de imagens ou
escrita.
Reorganizar uma lista de tarefas incluindo ou retirando afazeres, acrescentar
mentalmente novas informações aos planos já determinados, pensar em alternativas para ver
relações entre as ideias, tudo isso depende de um raciocínio, sem este, não existe memória de
trabalho. É essa capacidade de raciocinar que vai auxiliar na identificação de relação entre
coisas que aparentemente estão sem sentido, relacionando e separando elementos de um todo,
resumindo, utilizando a criatividade, porque esta, nada mais é do que desmontar e recombinar
elementos a partir de novas perspectivas. É através do trabalho dessa memória que uma
pessoa é capaz de analisar o passado para reconsiderar seu futuro. (DIAMOND, 2013)
Ao inserir essas habilidades, no processo de ensino das crianças da pré-escola, logo
conseguimos correlacionar com a criatividade, sabendo que esta, é uma aptidão peculiar da
primeira infância. É comum ver a imaginação nítida nas brincadeiras infantis desde muito
cedo, é por meio delas que os pequenos conseguem reproduzir boa parte do que vivenciam
diariamente. Porém, é importante ressaltar que nesse cenário de “faz-de-conta”, a maior parte
da ação é copiada, vem de experiências já vivenciada anteriormente e, nem sempre são
reproduzidas exatamente como aconteceram, porque a criança constrói nas brincadeiras suas
próprias necessidades, ou seja, ela faz uma recombinação de elementos ou atividades a partir
de novas ideias, criando uma nova realidade. (MOZZER, 2008)
Revezar em atividades de grupo, retomar a brincadeira depois de voltar do banheiro,
permanecer jogando após ser retirada por um instante, refazer ações quando errar durante os
jogos, acompanhar movimento que envolve imitação e tomar uma decisão lógica quando
confundir-se, arrumar os brinquedos em lugar definido e pegar novamente depois de um
tempo, são capacidades que faz parte do bom funcionamento da memória de trabalho.
(SHONKOFF, 2011)
Torna-se evidente que as brincadeiras, livres ou coordenadas, é uma aliada
fundamental na construção das bases para o desempenho da memória de trabalho na educação
infantil. O lúdico contribui de maneira significativa para o raciocínio, é a partir dessa
habilidade mental que a criança consegue identificar que uma pedaço de pano não serve para
ela brincar de tambor, por exemplo. É necessário relacionar e separar o que faz sentido,
daquilo que não corresponde com seu conhecimento prévio. A criança precisa buscar em sua
memória o que ela entende de pano/tecido e diferenciar do que ela conhece sobre
tambor/instrumento e música e, assim reorganizar sua brincadeira visando solucionar a
questão de acordo com a sua necessidade, se na sua brincadeira precisa de um tecido ou de
um tambor. (MOZZER, 2008)

3.3 Flexibilidade Cognitiva


A flexibilidade cognitiva é o terceiro núcleo das funções executivas, e tem por
característica principal a capacidade de mudar o ponto de vista em uma perspectiva global e

interpessoal. A exemplo da perspectiva global seria a seguinte: “Como ficaria se eu ver de


outra maneira?”. Por outro lado, em uma visão interpessoal é: “Deixe-me tentar do seu jeito.”
(DIAMOND, 2013)
Para que essas habilidades aconteçam, é necessário inibir a visão anterior e ativar na
memória de trabalho uma nova interpretação, isto, evidencia a relação desta função executiva
com as anteriores (controle inibitório e memória de trabalho). Outro aspecto importantíssimo
é a mudança de entendimento sobre alguma coisa, como por exemplo: “O que estou fazendo
não funciona, vou fazer de um jeito diferente.” Algo que não havia sido levado em
consideração no primeiro momento. (DIAMOND, 2013)
Segundo Diamond (2013), ser flexível cognitivamente requer tamanha tolerância de
pensamento a ponto do indivíduo reconhecer o próprio erro. Se adaptar à mudanças,
aproveitar oportunidades inesperadas, ou seja, a pessoa planejou realizar algo e surge uma
outra chance; é necessário desconsiderar o primeiro plano e dar início em um novo.
Dentro do contexto educacional, a falta de flexibilidade cognitiva acontece quando um
aluno não aprende o conteúdo aplicado pelo professor, este, culpa o educando por falta de
inteligência ao invés de repensar em uma maneira diferente de ensinar. (DIAMOND, 2013)
As crianças com idade entre 4 e 5 anos possuem a capacidade de mudança de
pensamento com mais facilidade, tendo em vista que isso acontece frequentemente durante as
brincadeiras livres. Percebe-se isto com clareza quando elas trocam o personagem ou o
cenário do “faz-de-conta”, porém, por ser uma capacidade limitada nessa faixa etária, ela
precisa ser mediada para que o seu desenvolvimento se dê de maneira correta, pois, como dito
anteriormente, esta habilidade é a última a ser desenvolvida no indivíduo. (DIAMOND, 2013)
Dito isso, Diamond (2013) ressalta, que para garantir o bom desenvolvimento desta
competência nas crianças pequenas, o educador deve contribuir para que elas resolvam seus
conflitos com autonomia. Neste momento o adulto realiza o papel de mediador, auxiliando
nas decisões e criando possibilidades que levem elas a pensar na situação.
Shonkoff et al (2011). Diz que, outra prática produtiva, é desenvolver tarefas que
inclua seguir duas regras ao mesmo tempo, como: Solicitar que a criança guarde os
brinquedos pequeno em um determinado local e os brinquedos maiores em outro; instruí-las a
separar os triângulos azuis e guardar na caixa vermelha e os triângulos verde na caixa laranja;
direcionar a brincadeira “vivo ou morto” alternando o comando, sempre objetivando facilitar
a mudança de perspectiva e o reconhecimento do próprio erro possibilitando a autocorreção.
Assim como um andaime sustenta os operários na reforma de um edifício até que este
esteja pronto, os adultos/educadores podem utilizar as atividades lúdicas para auxiliar os
pequenos durante esse progresso até que estejam aptos para prosseguir com mais
independência. (SHONKOFF, 2011)
4. Avaliação e intervenção neuropsicopedagógicas:

De acordo com Nota Técnica nº 02/2017 da Sociedade Brasileira de


Neuropsicopedagogia (SBNPp), existem vários instrumentos disponíveis para a
investigação dos diferentes aspectos das funções cognitivas, variando em sua forma de

apresentação, complexidade das tarefas envolvidas, critérios de correções e normas


disponíveis. A seleção de instrumentos a ser utilizada é realizada de acordo com os
objetivos da avaliação, e o neuropsicopedagogo deverá buscar materiais não vetados
para seu uso, que forneçam parâmetros para analisar/avaliar tanto as dificuldades como
as facilidades de aprendizagem do sujeito.
É importante ressaltar que o neuropsicopedagogo deve compreender com
clareza o processo de desenvolvimento cognitivo infantil, esse conhecimento é de
suma importância para que as avaliações e intervenções ocorra de maneira assertiva.
Segundo Russo (2015), a seleção dos instrumentos deve ainda levar em conta
características do paciente, como nível sociocultural, idade, nível educacional, língua
materna e possíveis limitações funcionais que dificultem ou impeçam a realização dos
testes da maneira como são preconizados, como diminuição da acuidade visual,
comprometimento motor, distúrbios de linguagem etc. Nestes casos, eles devem ser
adaptados para as condições do paciente e analisados de maneira qualitativa.
Dito isso, Seabra (2012) afirma que há evidências de que crianças com funções
executivas pobres apresentam dificuldades para prestar atenção à aula, para completar
trabalhos e inibir comportamentos impulsivos. É difícil para tais crianças atender às
demandas escolares, o que, por sua vez, pode produzir nos professores atitudes de
raiva e frustração, agravando ainda mais a tendência de afastamento da criança em
relação à escola e reforçando, na criança, uma auto percepção negativa como
estudante.
Portanto, a identificação do comprometimento das funções executivas em
crianças a partir da educação infantil é fundamental para que possíveis disfunções
sejam detectadas precocemente, possibilitando a intervenção adequada.

4.1 Instrumentos de Avaliação

Segundo Russo (2015), o neuropsicopedagogo deve consultar no site


https://satepsi.cfp.org.br - Testes Favoráveis - SATEPSI - Conselho Federal de
Psicologia, no item “instrumentos não privativos de psicólogos” e verificar os que
estão favoráveis ao uso. Segundo o Código de ética profissional do Psicólogo o termo
NÃO
PRIVATIVO trata-se de instrumento que pode ser utilizado tanto pela Psicologia
quanto por outras profissões. (p. 111)
Podemos destacar para avaliação das funções executivas em crianças da
educação infantil o Teste de Trilhas para Pré-escolares (TT-P). É um dos
instrumentos mais comumente usados para avaliação das funções executivas. Em
síntese, o Teste de Trilhas para Pré-escolares (TT-P) pode ser utilizado para
compreensão das possíveis alterações no desenvolvimento cognitivo em crianças sem
domínio da linguagem escrita.
O teste é composto por duas partes, sendo que a primeira parte é apresentado
apenas um tipo de estímulo e, a segunda parte, há dois tipos de estímulos que devem
ser

assinalados pelos sujeitos em ordem alternada. Assim, na condição A do teste, é dada à


criança uma folha instrutiva com figuras de cinco cachorrinhos. Na condição B figuras
de ossos de tamanhos respectivos aos dos cachorros, e a criança deve combinar os
cachorrinhos com seus ossos apropriados, na ordem de tamanho, ligando-os
alternadamente. (SEABRA, 2012)

5. A relevância do neuropsicopedagogo no contexto institucional

Auxiliar as crianças em idade pré-escolar a melhorar suas funções executivas apresenta


vários benefícios. Os programas de intervenção voltados para o treinamento das funções
executivas são eficientes para melhorar o desempenho escolar das crianças e suas competências
socioemocionais, que podem levar a mudanças positivas nos circuitos cerebrais. Além disso, uma
intervenção precoce minimiza os problemas associados às dificuldades e distúrbios no processo de
aprendizagem. (VIÑAS E SILVA, 2018)
Diante disso, Lira e Duarte (2019) elucidam que o Neuropsicopedagogo é capaz de
contribuir de maneira significativa no processo de aprendizagem, proporcionando
metodologias, recursos e técnicas para uma nova estratégia do ensino, onde o lúdico torna-se
essencial para a aplicação de uma aprendizagem significativa na educação infantil, pois, ele
compreende o objetivo do brincar e a sua importância no desenvolvimento da criança.
Dessa forma, os mesmos autores vão dizer que, as modificações nos currículos
escolares das crianças pequenas deveriam incluir atividades agradáveis e desafiadoras
voltadas para a autorregulação. Yoga, música, aeróbica, dança, meditação, artes marciais, e
contação histórias são exemplos de atividades que podem ajudar a melhorar as habilidades de
funcionamento executivo. Na sala de aula, as crianças devem passar mais tempo em
atividades de aprendizagem ativa e em pequenos grupos, e menos tempo em atividades com
grupos grandes.
As crianças com um nível de funcionamento executivo mais elevado, necessitam de
um número menor de intervenções negativas dos professores, o que contribui para criar um
ambiente livre de estresse que ajuda ainda mais no desenvolvimento das funções executivas.
Além disso, como dito no início deste trabalho, é primordial compreender que as habilidades
de funcionamento executivo são adquiridas gradativamente ao longo do tempo e que até
mesmo uma criança altamente motivada pode ter dificuldades com instruções, tais como não
comer um biscoito antes do jantar, ou manter a concentração durante um período prolongado.
(LIRA E DUARTE, 2019)
Sendo assim, é possível compreender de forma clara e objetiva, quando Loureiro et
al. (2022) afirma: O Neuropsicopedagogo é um cientista da aprendizagem e, portanto, sua
presença no ambiente educacional é de extrema importância na busca por uma educação de
qualidade, alicerçada à identificação precoce e intervenção.

6. Considerações finais

O intuito desse artigo foi elucidar de forma breve e objetiva a importância das funções
executivas na vida das crianças de 4 e 5 anos de idade, ao mesmo tempo que evidencia as
contribuições da Neuropsicopedagogia para a Educação Infantil.
Nesta ocasião, o assunto foi abordado referindo-se às crianças denominadas típicas,
nas quais não existe nenhum tipo de déficit e/ou transtorno global do neurodesenvolvimento,
onde suas condições física e biológica encontram-se em circunstâncias adequadas, dada a
importância de saber diferenciar quando há um funcionamento inadequado dessas habilidades.
A capacitação das funções executivas para as crianças na pré-escola é imprescindível,
pois, é nessa primeira fase da infância que os neurônios estão em plena atividade sináptica por
meio dos neurotransmissores, enviando e recebendo comandos no córtex frontal.
Sendo assim, a falta do desenvolvimento dessas aptidões neste período, pode causar
sérios prejuízos em todo contexto educacional e social, estendendo-se até a idade adulta,
resultando em insucesso pessoal, profissional e consequentemente emocional, tornando-se
uma pessoa incapaz de manter um relacionamento amoroso saudável.
Diante disso, percebe-se o quanto é importante o diálogo ativo entre a neurociência e a
educação, onde ambas, de fato, contribuem de maneira eficaz através do conhecimento
científico para um melhor aproveitamento no processo de ensino e de aprendizagem. Tendo
em vista que a educação é a base para a formação de um cidadão pleno, esta harmonia
científica demonstra ganhos significativos em uma esfera global do desenvolvimento humano.
Desta maneira, professores e educadores desempenham um papel fundamental neste cenário,
pois, são estes, em conformidade com educandos e familiares, que irão direcionar a prática
diária no âmbito escolar aplicando a transdiciplinaridade, ou seja, proporcionando interações
entre as disciplinas através da interação entre várias áreas do conhecimento, objetivando
alcançar modificação na cognição, na percepção e no comportamento do indivíduo, contudo,
não limitando-se aos conteúdos escolares.
Conclui-se então, que trabalhar as funções executivas na educação infantil é de
extrema relevância, haja vista, os inúmeros benefícios que certamente são alcançados por
meio do desenvolvimento dessas habilidades, assim como foi apresentado no conteúdo do
presente artigo. Dentre vários ganhos significativos, pode-se destacar o autocontrole e a
disciplina, competências tão necessárias nos dias de hoje.
Portanto, se vislumbramos alcançar uma sociedade constituída por bons cidadãos,
dotados de autocontrole, prudência e responsabilidade, precisamos colaborar para que isto
aconteça de maneira eficaz na atualidade, lançando mão da ferramenta mais poderosa que
existe, o conhecimento.

7. Referências

DIAMOND, Adele, Executive Functions, Publicado na forma final editada como: Annu
Ver Psychol. 2013. Departamento de Psiquiatria, University of British Columbia e BC
Children's Hospital, Vancouver, BC V6T 2A1 Canadá; adele.diamond@ubc.ca.

KNAPP, Katie, MORTON, MSc J. Bruce, PhD Western University, Canadá Janeiro 2013.
Funções Executivas - Desenvolvimento do Cérebro e Funcionamento Executivo.

LIMA, Ricardo Franco de, Compreendendo os Mecanismos Atencionais, Universidade


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LIRA, Mírian Moreira, DUARTE, Kátia Macedo Duarte. Recreio Dirigido: Um olhar
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RUSSO, Rita Margarida Toler, Neuropsicopedagogia Clínica: Introdução, Conceitos,


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