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DOI: 10.1590/1413-81232017228.

04252016 2771

Maus-tratos e discriminação na assistência ao aborto provocado:

TEMAS LIVRES FREE THEMES


a percepção das mulheres em Teresina, Piauí, Brasil

Maltreatment and discrimination in induced abortion care:


perception of women in Teresina, State of Piauí, Brazil

Alberto Pereira Madeiro 1


Andréa Cronemberger Rufino 1

Abstract Treatment of complications resulting Resumo O tratamento das complicações do


from induced abortion may be hampered by dis- aborto provocado pode ser dificultado por atitudes
criminatory attitudes manifested by healthcare de discriminação praticadas por profissionais de
professionals in hospitals and abortion services. saúde nos hospitais e serviços de aborto. Este ar-
This article retrieved stories of institutional abuse tigo recuperou histórias de violência institucional
directed at women who had an induced abortion entre mulheres que provocaram o aborto em con-
in illegal and unsafe conditions. Seventy-eight dições ilegais e inseguras. Foram entrevistadas 78
women admitted to a public hospital in Teresi- mulheres internadas em um hospital público de
na for complications after an induced abortion referência em Teresina por complicações do abor-
were interviewed. A semi-structured script was to provocado. Utilizou-se roteiro semiestruturado
used with questions about practices and itinerar- com perguntas sobre práticas e itinerários de abor-
ies of abortion and institutional violence during to e violência institucional durante a internação.
hospitalization. Discriminatory practices and Práticas discriminatórias e de maus-tratos duran-
maltreatment during care were reported by 26 te a assistência foram relatadas por 26 mulheres,
women, especially among those who confessed principalmente entre aquelas que confessaram a
to induction of the abortion. Moral judgement, indução do aborto. Julgamento moral, ameaças de
threat of filing a complaint to the police, negli- denúncia à polícia, negligência no controle da dor,
gence in the control of pain, long wait for uterine longa espera pela curetagem uterina e internação
curettage, and hospitalization with mothers who conjunta com puérperas foram os principais tipos
have recently given birth were the main types of de violência institucional narrados. As práticas de
institutional violence reported by women. Cases violência institucional na assistência ao aborto
of institutional violence in the care of induced provocado violam o dever de acolhimento do ser-
abortion violates the duty of the healthcare service viço de saúde e impedem que as mulheres tenham
and prevents women from receiving the necessary suas necessidades de saúde atendidas.
health care. Palavras-chave Aborto induzido, Violência insti-
Key words Induced abortion, Institutional vio- tucional, Serviços de aborto, Maus-tratos
1
Centro de Ciências lence, Abortion services, Maltreatment
da Saúde, Universidade
Estadual do Piauí. R. Olavo
Bilac 2335, Centro. 64001-
280 Teresina PI Brasil.
madeiro@uol.com.br
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Madeiro AP, Rufino AC

Introdução diversas para caracterizar maus-tratos durante


a assistência em saúde12. Embora não haja con-
O aborto induzido de maneira insegura é um senso sobre o melhor termo e conceito de vio-
grave problema de saúde pública em países onde lência institucional, há concordância que esse
há restrição legal à interrupção da gravidez. Em fenômeno causa sofrimento para a mulher, que
2008, uma em cada cinco gestações no mundo influencia negativamente a qualidade do cuidado
terminou em aborto, dos quais 49% foram inse- prestado e que atua como barreira para a utiliza-
guros1. Estima-se que cinco milhões de mulheres ção do serviço de saúde no futuro11-15. No Brasil,
sejam hospitalizadas por complicações decorren- o Ministério da Saúde estabeleceu a definição de
tes do aborto inseguro a cada ano2. O aborto é violência institucional como sendo “aquela exer-
responsável por 13% das mortes entre mulheres cida nos/pelos próprios serviços públicos, por
grávidas, geralmente por hemorragia ou infec- ação ou omissão”, englobando tanto atos pratica-
ção1,3. São as mulheres abaixo de 20 anos, soltei- dos por profissionais durante a assistência como
ras e com idade gestacional mais elevada as que condições estruturais do sistema de saúde16. Em
apresentam maior risco de morte após o aborto 2010, a Agência para Desenvolvimento Inter-
inseguro4. nacional dos Estados Unidos (USAID) sugeriu
No Brasil, um inquérito nacional realizado sete categorias amplas para mensurar a violên-
em 2010 mostrou que 22% das mulheres entre cia institucional: ausência de confidencialidade,
35 e 39 anos já tinham realizado aborto. Daque- cuidado clínico não consentido, violência física,
las que relataram a prática, 55% necessitaram negligência, detenção na instituição, cuidado não
de internação hospitalar por complicações5. A digno e discriminação. Desde então, esses cri-
introdução do misoprostol no cenário nacional térios têm sido a referência para a avaliação de
mudou o padrão das complicações pós-aborto, maus-tratos durante a assistência obstétrica11.
diminuindo a frequência de casos graves de in- No contexto do aborto, são recorrentes as
fecção, comuns até a década de 19806. Apesar de descrições de julgamento moral, adiamento da
o misoprostol ser considerado um método abor- curetagem e, ainda, baixo controle da dor no
tivo eficaz, mais barato e com menores riscos à cotidiano da assistência17. Um inquérito com
saúde da mulher7, a curetagem uterina pós-abor- amostra probabilística de 2.365 mulheres de áre-
to ainda é um dos procedimentos obstétricos as urbanas e rurais de todo o Brasil, realizado em
mais realizados no país8. 2010, revelou que 53% daquelas que provocaram
Não se sabe se mulheres que abortam com o o aborto informaram ter sofrido algum tipo de
misoprostol têm maior frequência de internação violência durante a internação hospitalar. Entre
hospitalar. Desde 1998, o uso da droga é restrito essas mulheres, 17% delas disseram que foram
a hospitais credenciados e, assim, sua obtenção é ameaçadas pela equipe de saúde com possibilida-
feita no mercado clandestino de medicamentos, de de denúncia à polícia18. Ainda em 2010, outra
onde não há segurança sobre procedência, quali- pesquisa com 2.804 mulheres avaliou a qualidade
dade e doses9. A hipótese seria de que a obtenção da atenção às pacientes admitidas por aborto em
do medicamento no comércio ilegal comprome- hospitais públicos de Salvador, Recife e São Luís.
teria a eficácia da substância e, como consequên- Um dos principais resultados foi que o cuidado
cia, elevaria o número de abortos incompletos. em saúde ofertado estava em desacordo com as
De toda forma, os dados empíricos têm demons- normas preconizadas pela legislação brasileira,
trado que o itinerário mais comum no Brasil é a além de o controle da dor ter sido frequentemen-
mulher iniciar o aborto em casa, com misopros- te inadequado19.
tol, e finalizá-lo no hospital, onde é internada por A magnitude e o impacto da violência insti-
aborto incompleto para realização da curetagem tucional na assistência às complicações do aborto
uterina10. provocado ainda são pouco conhecidos no Bra-
Mulheres que necessitam de tratamento por sil. Os dados existentes são oriundos de estudos
aborto incompleto esperam apoio, privacidade, com amostra pequena, com avaliação conjunta
confidencialidade e respeito durante seu aten- do aborto espontâneo, ou ainda de pesquisas
dimento. Entretanto, principalmente nos países desenhadas especificamente para caracterizar a
onde o aborto não é permitido, muitas mulheres violência durante a assistência ao parto e puer-
podem sofrer desrespeito e abusos nos serviços pério20-22. O presente artigo recupera histórias de
de saúde11. Termos como “violência obstétrica”, violência institucional na assistência ao aborto
“tratamento desumano” e “desrespeito e abuso” provocado, sob a ótica das mulheres, em um hos-
têm sido utilizados por autores e organizações pital público de referência em Teresina, no Piauí.
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Metodologia referiram à utilização de “Citotec®” para abortar.
O itinerário do aborto foi entendido como o per-
O estudo foi conduzido entre junho de 2012 e curso que a mulher percorreu para ter acesso às
novembro de 2013, tendo como unidade de aná- práticas e aos métodos, tais como onde comprou
lise mulheres que realizaram aborto de maneira o medicamento, quem ofereceu o chá ou onde
ilegal e insegura e estavam internadas em hospi- conseguiu recursos. A presença de violência ins-
tal público de referência em Teresina, Piauí, para titucional foi considerada quando a mulher res-
realização de curetagem uterina por aborto in- pondeu “sim” a qualquer uma das perguntas que
completo. Foram excluídas da pesquisa mulheres caracterizam as sete categorias da USAID (vio-
que sofreram aborto espontâneo e todas aquelas lência física, tratamento não digno, detenção na
menores de 18 anos. A pesquisa foi aprovada pelo instituição, falta de confidencialidade, violação
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Es- de privacidade, negligência ou, ainda, discrimi-
tadual do Piauí e também contou com carta de nação)11. Para validação do instrumento de pes-
concordância da direção do hospital. O termo de quisa, foram realizadas entrevistas com 10 mu-
consentimento livre e esclarecido das participan- lheres, que possibilitaram adequação na forma e
tes foi obtido oralmente, com o objetivo de ga- na ordem das perguntas. As 10 entrevistas iniciais
rantir o sigilo e o anonimato dos dados. O direito (pré-teste) não foram contabilizadas no universo
de não participar ou de interromper a entrevista dos dados tabulados.
a qualquer momento foi facultado às mulheres, As entrevistas foram realizadas e transcritas
sendo-lhes explicitado também que a participa- por dois pesquisadores médicos, um homem e
ção não fazia parte do atendimento médico ofe- uma mulher, não pertencentes à instituição onde
recido pelo hospital. a pesquisa foi desenvolvida e sem nenhuma rela-
Diariamente, todas as mulheres internadas ção de assistência durante a internação (realiza-
por aborto incompleto que já tivessem sido sub- ção da curetagem, prescrição de medicamentos
metidas à curetagem uterina foram abordadas e ou alta hospitalar). Para a análise, todas as en-
questionadas sobre o interesse em participar da trevistas foram lidas de forma pormenorizada e,
pesquisa. Aquelas que aceitaram o convite foram em seguida, codificadas pelos dois pesquisadores
levadas a uma sala reservada, próxima à enferma- de maneira independente. Os dados foram ta-
ria, onde as entrevistas foram realizadas. Todas as bulados com base em um instrumento com 15
entrevistas foram gravadas. Somente foram con- perguntas sobre os métodos, o itinerário e, prin-
sideradas válidas as entrevistas daquelas que con- cipalmente, as histórias de violência institucio-
firmaram ter induzido o aborto, sendo o critério nal. Os pesquisadores compararam os padrões
de inclusão no estudo a narrativa de cada mu- encontrados e, quando discrepantes, revisaram
lher e não indícios ou vestígios do medicamento as transcrições.
abortivo encontrados pelo médico responsável
pela curetagem e/ou registrados no prontuário.
Nos casos em que houve discordância entre o re- Resultados e discussão
gistro do prontuário e a palavra da mulher, teve
preponderância a narrativa desta. As transcrições Perfil das mulheres
foram realizadas fora do ambiente hospitalar,
sem identificação das participantes. As gravações Durante o estudo, 78 mulheres foram entre-
foram destruídas imediatamente após a transcri- vistadas e todas foram submetidas à curetagem
ção de forma a eliminar qualquer registro mate- como método de esvaziamento uterino. Exceto
rial da conversa. pela necessidade de curetagem, não houve com-
As entrevistas foram guiadas por roteiro se- plicações pós-aborto na maioria (64/82,1%) das
miestruturado que explorou duas questões cen- mulheres, porém 10 (12,8%) delas também apre-
trais: 1. métodos e itinerários para abortar; 2. sentaram infecção, 6 (7,7%) receberam transfu-
atendimento prestado durante a internação hos- são sanguínea e, em 2 (2,6%), foi necessário rea-
pitalar, com ênfase na possibilidade de violên- lizar histerectomia.
cia institucional. As perguntas sobre práticas de A Tabela 1 mostra que houve maior concen-
aborto identificaram os métodos utilizados pelas tração de mulheres na faixa dos 20 aos 24 anos
mulheres para o induzir, tais como medicamen- (69,2%), solteiras (85,9%), pretas (53,8%) e pro-
tos, sondas uterinas, chás ou ervas. Com o obje- cedentes de Teresina (61,5%). A maioria delas
tivo de uniformização, o nome “misoprostol” foi (59%) tinha escolaridade correspondente ao en-
usado para todas as vezes em que as mulheres se sino fundamental, e somente 6,4% relataram ter
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Madeiro AP, Rufino AC

Tabela 1. Características sociodemográficas, 73,1% das entrevistadas e por ultrassonografia


reprodutivas e transvaginal por apenas 6 mulheres (7,7%). Para
gestacionais de mulheres com aborto provocado. 19,2% das mulheres, o atraso menstrual e outros
Teresina, Brasil, 2013. sintomas sugestivos de gestação foram suficientes
Características n % para a decisão pelo aborto. A idade gestacional
Faixa etária (anos) estimada pela última menstruação ou por ultras-
18-19 8 10,3 sonografia era de até oito semanas em 23,1% dos
20-24 54 69,2 casos, de nove a doze semanas em 61,5% e supe-
25-29 10 12,8 rior a treze semanas em 15,4%. Das mulheres en-
30-34 4 5,1 trevistadas, 19,2% já tinham abortado anterior-
35-39 2 2,6 mente, sendo que duas delas tinham provocado
Escolaridade três abortos (Tabela 1).
Ensino fundamental 46 59
Ensino médio 27 34,6 Práticas e itinerários abortivos
Ensino superior 5 6,4
Cor O misoprostol foi utilizado isoladamente
Branca 14 18,0
por 89,7% (70) das mulheres, mas 7,7% delas o
Parda 22 28,2
combinaram a chás para induzir o aborto. Duas
Preta 42 53,8
entrevistadas (2,6%) relataram o uso de sonda
uterina associado ao misoprostol. Todas as mu-
Situação conjugal
lheres que ingeriram chás e/ou ervas também ne-
Solteira 67 85,9
cessitaram do uso posterior do misoprostol para
Casada 11 14,1
interromper a gravidez. Os chás e as ervas varia-
Procedência
ram desde uma multimistura de ervas (“garrafa-
Teresina 48 61,5
da”) até chá de boldo, canela e buchinha. Daque-
Interior do estado 30 38,5
las que abortaram com misoprostol, 69,2% (54)
Gestações anteriores
usaram quatro comprimidos, majoritariamente
Nenhuma 45 57,7
em dose única e à noite. Somente três mulheres
1 16 20,5
fracionaram a ingestão do misoprostol em duas
2 9 11,5
tomadas, fazendo uso de 10 comprimidos. Das
≥3 8 10,3
entrevistadas, 74,4% (58) usaram o misoprostol
Abortos anteriores provocados
por via oral e vaginal simultaneamente, 14,1%
Nenhum 61 78,2
(11) somente por via vaginal, e 11,5% (9), exclu-
1 15 19,2
sivamente por via oral (Tabela 2).
3 2 2,6 A Pesquisa Nacional do Aborto (PNA-entre-
Diagnóstico da gestação vistas), publicada em 2012, entrevistou 122 mu-
Teste de farmácia/β-hCG 57 73,1 lheres de cinco capitais brasileiras e evidenciou
Ultrassonografia 6 7,7 que o principal método empregado por elas para
Sinais/sintomas 15 19,2 interromper a gravidez foi uma combinação de
Idade gestacional misoprostol e chás, com finalização em hospi-
Até 8 semanas 18 23,1 tal10. Em outros estudos, as mulheres disseram
9-12 semanas 48 61,5 que a opção pelo uso do misoprostol, compara-
≥ 13 semanas 12 15,4 do com outros métodos, tinha se dado em razão
de sua disponibilidade imediata, facilidade de
uso, preço mais acessível e segurança, além do
efeito semelhante à indução de uma menstrua-
curso superior. Mais da metade (57,7%) estava ção7,17,23. Nos primeiros anos de comercialização
grávida pela primeira vez e 10,3% já tinham esta- do misoprostol, as doses utilizadas pelas mulhe-
do três ou mais vezes. Algumas das mulheres que res variaram consideravelmente, uma vez que os
já tinham um filho afirmaram que esse fato foi balconistas de farmácia, os médicos e as próprias
importante para a decisão de abortar na segunda mulheres não conheciam a melhor dose ou via
gravidez, além da condição financeira e da falta de administração. Após algum tempo, seja pela
de apoio do parceiro. maior experiência das mulheres, seja pelo preço
A confirmação da gravidez foi feita por meio mais caro do medicamento no mercado clandes-
de teste de farmácia e/ou β-hCG sérico por tino, a quantidade mais comum de comprimidos
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Tabela 2. Métodos e itinerários para o aborto mulheres compartilhou com outras pessoas o
provocado. Teresina, Brasil, 2013. itinerário do aborto. Na aquisição da medicação
Características n % ou na ida ao hospital, elas geralmente contaram
Métodos usados para abortar com a ajuda de outras mulheres e também de
Misoprostol isolado 70 89,7 seus parceiros. Somente 12 mulheres foram sozi-
Misoprostol + chás/ervas 6 7,7 nhas ao hospital. No entanto, a espera pelo efeito
Misoprostol + sondas 2 2,6 do misoprostol foi narrada como um momento
Via de administração do misoprostol solitário, geralmente durante a madrugada, para
Oral + vaginal 58 74,4 não levantar suspeitas. As razões apontadas por
Vaginal 11 14,1 elas para a procura do hospital oscilaram entre
Oral 9 11,5 sangramento vaginal volumoso, cólicas uterinas
Número de comprimidos utilizados intensas e medo de permanecer sozinha durante
4 54 69,2 o processo, um dado semelhante ao descrito em
5 6 7,7 estudos anteriores7,10,24-26.
6 15 19,2
10 3 3,9 Maus-tratos e discriminação
Local de compra do método abortivo na assistência ao aborto
Farmácia 56 71,8
Residência/feira 6 7,7 A Tabela 3 evidencia que desrespeito e abuso
Ignorado 16 20,5 durante a internação apareceram na narrativa de
Compra do método 26 mulheres, ou seja, uma em cada três mulheres
Própria mulher 36 46,2 entrevistadas sofreu alguma forma de violência
Namorado/marido 22 28,2 institucional durante a hospitalização. Das ca-
Amiga 16 20,5 tegorias utilizadas para caracterizar violência
Mãe 4 5,1 institucional somente a detenção não foi obser-
Acompanhante no serviço de saúde vada. Foram reveladas práticas discriminatórias
Sozinha 12 15,4
(como julgamento moral), tratamento não digno
Namorado/marido 23 29,5
(ameaças de denúncia à polícia, uso de lingua-
Amiga 30 38,5
gem ríspida e grosseira e internação conjunta
com puérperas), negligência (longa espera para
Mãe 13 16,6
realização do esvaziamento uterino), ausência de
consentimento (procedimentos médicos realiza-
dos sem explicação), além de violação da priva-
cidade e confidencialidade (entrevista e exame
físico realizados com outras pacientes). Houve
era quatro. Os relatos mais frequentes foram dois sobreposição de categorias de violência em 11
comprimidos administrados por via oral e dois relatos, sendo a mais comum a associação de jul-
por via vaginal7,10,24,25. gamento moral e longa espera para a curetagem.
O local de aquisição mais comum do miso- O itinerário de julgamento moral e/ou ameaças
prostol, geralmente pela própria mulher (46,2%), de denúncia à autoridade policial foi majorita-
foi a farmácia do bairro onde viviam (71,8%). O riamente concentrado em todas as mulheres (17)
companheiro e/ou marido adquiriu o medica- que confessaram a indução do aborto à equipe de
mento para 28,2% das mulheres. As mulheres saúde. Por outro lado, mesmo entre as 44 mulhe-
que usaram chás obtiveram o produto nas resi- res que consideraram seu tratamento “bom” ou
dências de especialistas em ervas ou compraram “dentro dos conformes”, em 13 casos foram des-
estas em mercados e feiras. As informações sobre critas formas de assistência à saúde que podem
a forma de uso do misoprostol foram fornecidas ser caracterizadas como discriminatórias.
por amigas, irmãs ou outras mulheres a 75,6% O atendimento inicial é descrito como um
das entrevistadas (Tabela 2). Sem poder contar momento tenso e de muito medo pelas mulhe-
com a orientação de médicos e outros profis- res, inclusive pela possibilidade de “descobrirem
sionais de saúde, as mulheres foram instruídas o comprimido na vagina”. Em outros estudos,
sobre doses e rotinas de uso do misoprostol pe- as mulheres disseram que foram desestimula-
los vendedores do medicamento, que frequente- das pelo vendedor do misoprostol a procurar os
mente assumiram importante papel na trajetória serviços de saúde, para não permitir a identifi-
de aborto. Apesar da ilegalidade, a maioria das cação do comprimido pelo profissional que as
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Madeiro AP, Rufino AC

Tabela 3. Categorias e tipos de maus-tratos relatados pelas mulheres durante assistência ao aborto provocado.
Teresina, Brasil, 2013.
Categorias/tipos n %
Todas as categorias 26 33,3
Discriminação
Julgamento moral pela prática do aborto 24 30,7
Negligência
Longa espera para realização da curetagem uterina 22 28,2
Ausência de acompanhante durante espera pela curetagem 20 25,6
Cuidado clínico não digno
Ameaças de denúncia à polícia 22 28,2
Uso de linguagem ríspida e grosseira 18 23,1
Repreensão/gritos 12 15,4
Ausência de confidencialidade/privacidade
Internação conjunta com puérperas 21 26,9
Entrevista e exame físico realizados com outras pacientes 12 15,4
Divulgação da história médica sem consentimento 12 15,4
Violência física
Ausência de controle da dor/recusa em ofertar analgésicos 20 25,6
Cuidado clínico não consentido
Toque vaginal realizado sem explicação prévia 10 12,8
Transfusão sanguínea sem explicação prévia 4 5,1
Histerectomia sem explicação prévia 1 1,3

atendesse25,26. A descoberta do comprimido ou de o bem do paciente. Essa naturalização da violência


seus resquícios na vagina foi o deflagrador mais institucional, encarada pelas mulheres e também
comum da agressão verbal, na forma de intimi- por profissionais de saúde como um exercício da
dação, humilhação ou ameaça: eu esperei quieta autoridade biomédica para uma boa prática de
o que pude, mas ainda tinha Citotec [na vagina]. saúde, também é descrita como comum na assis-
Aí o doutor disse pra minha mãe que aquilo era a tência ao parto e puerpério27.
prova do crime e ele ia ser bonzinho e não anotar As narrativas de ameaça de denúncia à polí-
nada para eu não ser levada presa. Mesmo quando cia são perturbadoras, convertendo o cenário do
a violência não foi explicitada por atos verbais, serviço de saúde, que deveria ser acolhedor, em
houve julgamento moral, expresso em atitudes espaço de ameaça para as mulheres. Mesmo sem
sutis de reprovação pelo olhar ou sorriso, prin- apresentar um padrão comum, essas histórias fo-
cipalmente quando existiam outros profissionais ram mais encontradas entre aquelas internadas
presentes. com complicações mais graves, aquelas com ida-
Grande parte das mulheres descreveu que de gestacional mais avançada e também nas situ-
foram pressionadas pelos médicos a declarar a ações onde houve identificação do medicamento
prática do aborto e, em alguns casos, chamadas na vagina. A enunciação, pelos profissionais, de
de “mentirosas” quando insistiram que se tra- que as mulheres cometeram um “assassinato”,
tava de aborto espontâneo. No entanto, mesmo um “crime” ou “um pecado contra a sociedade”
quando confessou a prática, uma delas relatou foi descrita por elas como uma situação de inten-
que o profissional de saúde disse que ela devia se so sofrimento: ele [o médico] me disse que eu po-
arrepender pelo pecado que tinha cometido e orar dia sair algemada daqui e eu achei que minha vida
muito. O comportamento desrespeitoso e violen- ia acabar se isso acontecesse. Internada por quinze
to dos profissionais de saúde foi entendido por dias após ter sido submetida a uma histerectomia
algumas mulheres como “necessário” e com “boa por aborto infectado, uma das mulheres confes-
intenção”, uma vez que os médicos e enfermeiras às sou à equipe de saúde que utilizou misoprostol
vezes podem ser brutos e gritar, mas sempre querem e sonda vaginal. Segundo seu relato, ela abortou
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ainda na admissão no hospital e uma enfermeira aguardaram “bastante tempo”, “algumas horas”,
disse que agora eu ia ter que prestar contas era com “o dia todo”, mesmo que estivessem sangrando
o delegado. Além da reiterada ameaça de denún- ou com dor. Após esperar por mais de 12 horas
cia à polícia, ela ouviu o médico dizer que todo sentada em uma cadeira na antessala do centro
ano era assim: bastava esperar dois, três meses de- cirúrgico onde seria realizada a curetagem uteri-
pois do carnaval pra maternidade ficar cheia dessas na, uma mulher questionou sobre a demora do
mulheres que abortavam.... procedimento. Segundo ela, a enfermeira disse
Uma pesquisa conduzida no Distrito Fede- que a prioridade aqui é para mulher que vai ter
ral que analisou dez processos que chegaram ao bebê. Mulher que quer tirar o seu [bebê] tem que
Ministério Público em razão do comércio ou uso aprender a esperar a sua vez. No Brasil, é recorren-
ilegal do misoprostol demonstrou que, das sete te a narrativa de longa espera pelo atendimento
mulheres indiciadas, três foram denunciadas em casos de aborto, com frequente adiamento da
pela equipe de saúde após chegarem ao hospital curetagem uterina para o final do expediente de
público para finalização do aborto26. Ainda que trabalho dos médicos10,20-22. Apesar de não se sa-
a denúncia em si não tenha ocorrido entre as ber se essa demora acontece por discriminação
mulheres entrevistadas neste estudo, o anúncio contra a mulher por ter realizado um aborto,
da ameaça já abala o acordo básico de confiança existem evidências que demonstram que o atraso
depositada por elas nos profissionais e no sistema em realizar o procedimento adequado para esva-
de saúde. A quebra desse acordo é refutada por ziamento uterino aumenta as chances de compli-
vários códigos deontológicos na área da saúde e cações30-32.
pela política pública28. O Código de Ética Médi- Durante a espera pela curetagem uterina,
ca, por exemplo, estabelece, no capítulo referente a informação de dor nem sempre foi suficiente
ao sigilo profissional, que é vedado ao médico para que a equipe de saúde ofertasse métodos
“revelar fato de que tenha conhecimento em vir- farmacológicos para seu controle. Quase todas as
tude do exercício de sua profissão, salvo por jus- mulheres disseram que experimentaram dor an-
ta causa, dever legal ou autorização expressa do tes do procedimento, e somente 12 receberam al-
paciente”29. Nenhuma dessas exceções, porém, se gum tipo de analgésico. A justificativa para a não
aplicaria ao caso do aborto autoprovocado. O si- oferta de medicamentos, quando houve, variou
gilo é um dos mais importantes pilares da relação desde a informação de que tinha que ter dor pra
médico-paciente e de outros profissionais, o que eliminar tudo que tinha ficado dentro do útero até
faz com que as pessoas não temam ocultar fatos a declaração de que não tenho tempo agora porque
significativos para a resolução de seu problema tem muita mulher parindo e isso é mais urgente. A
de saúde. experiência da dor persistente, aliada ao sangra-
Constrangimento e pouca privacidade tam- mento e à longa espera, fez com que uma das en-
bém caracterizaram a admissão das mulheres trevistadas classificasse o atendimento como hor-
no hospital. Grande parte delas informou que a rível e parecido com o inferno. E prosseguiu: pra
mesma entrevista era realizada por profissionais mim, o que era mais importante era que alguém
diferentes e, ao final, o caso era discutido na frente me ouvisse, me explicasse o que estava acontecendo.
de todo mundo. As queixas relacionadas ao exame Eu só queria um remédio para aliviar [a dor] e al-
físico se estendiam desde a ausência de vestimen- guém que me acalmasse. Mas não teve. Sob a visão
ta adequada até a grande quantidade de manipu- de algumas mulheres, ao não minimizarem a dor,
lações genitais. Uma mulher que nunca tinha rea- os profissionais de saúde querem é mesmo castigar
lizado exame ginecológico descreveu sua impres- pelo aborto provocado: ela [a médica] falou que
são da admissão: eu me senti a pior das mulheres eu não podia ficar gritando e, se eu não quisesse ter
naquela situação. Ele [o médico] foi logo enfiando dor, que eu tivesse pensado antes.
o dedo na vagina, bem no fundo, sem nem me dizer Expresso em normas nacionais e internacio-
nada. Só me disse que ia fazer o toque, mas eu não nais, o controle e manejo da dor no processo de
sabia como era. Depois veio outro doutor e fez de abortamento, seja ele provocado ou não, é parte
novo. Eu comecei a chorar e ele me disse que era fundamental da assistência em saúde28,33. A recu-
pra eu me acalmar, porque quem era culpada era sa em ofertar analgésicos é um claro desrespei-
eu, que tinha feito o aborto. Mas precisava assim? to aos direitos humanos básicos das mulheres e
Ser assim?. pode ser encarada como tratamento desumano
Após a internação, o cenário é rotulado como e degradante. A crença de que as mulheres que
mais tranquilo, exceto pela longa espera pela provocaram aborto deveriam ser punidas está
curetagem. Como regra geral, as participantes entre as principais razões para o inadequado ma-
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Madeiro AP, Rufino AC

nejo da dor. Além disso, muitos profissionais de gamento moral e discriminação dirigidas às mu-
saúde acreditam que o controle medicamentoso lheres que declararam indução do aborto). Para
da dor não seria necessário nessa situação34. No o exercício do direito à saúde, há necessidade que
entanto, existem recomendações internacionais as mulheres tenham serviços de saúde acessíveis,
para que o uso de analgésicos seja sistemático disponíveis e de boa qualidade, incluindo pro-
antes de qualquer procedimento, exceto em con- fissionais capacitados e capazes de compreender
dições excepcionais. suas demandas.
Vale observar ainda que a aspiração manual A ausência de critérios uniformes de defi-
intrauterina (AMIU) deveria ser o método esco- nição dificulta a mensuração da prevalência de
lhido para tratar grande parte de casos de aborto maus-tratos durante assistência em saúde11,12.
incompleto. Uma das vantagens da AMIU, quan- Dada a escassez de estudos nacionais e interna-
do comparada à curetagem uterina, é a menor cionais desenhados com o objetivo de caracteri-
necessidade de controle da dor, principalmente zar a violência institucional durante tratamento
quando associada com orientação e aconselha- do aborto provocado, os dados deste artigo ga-
mento prévios ao procedimento. Por ser segura, nham destaque por atestar a alta frequência do
mais barata e tão efetiva quanto a curetagem, a fenômeno e, possivelmente, chamar a atenção de
AMIU tem sido defendida como o procedimen- profissionais de saúde e legisladores. Por outro
to de eleição para esvaziamento uterino, sempre lado, os resultados apresentados se referem a um
que possível33. estudo local e, portanto, não podem ser genera-
Apesar do alívio físico e emocional após a lizados. Não se sabe se situações semelhantes são
curetagem uterina, muitas mulheres narraram encontradas em outros serviços, mas é possível
o desconforto pela internação em unidades con- que o ambiente de controvérsia moral do aborto
juntas com puérperas e seus recém-nascidos. no país favoreça a violência institucional na as-
“Mal-estar emocional”, “tristeza”, “constrangi- sistência às complicações dessa prática. Estudos
mento”, “frustração” e “piora do sentimento de futuros, de abrangência nacional, poderão escla-
culpa” foram declarações comuns. Argumentou- recer a real magnitude dos maus-tratos contra as
se por um “local mais adequado” de internação mulheres durante a assistência ao aborto provo-
entre a maioria das mulheres, mesmo entre aque- cado.
las que julgaram seu atendimento como satisfa- A legislação nacional para a assistência ao
tório. O “choro dos bebês”, o “ambiente de alegria aborto estabelece que o cuidado deve ser pau-
da família” e a “visão da amamentação” foram tado por acolhimento, informação, orientação
razões apontadas por elas como suficientes para e suporte emocional, independentemente das
reivindicar espaços próprios para o atendimento crenças da equipe de saúde28. As experiências de
pós-aborto. No entanto, poucas maternidades e maus-tratos e discriminação podem ter impacto
hospitais públicos brasileiros contam com enfer- sobre a saúde global da mulher e violam seu di-
marias específicas para o cuidado de mulheres reito ao atendimento digno, respeitoso e baseado
que abortam19. A ausência de espaços separados na melhor evidência científica para tratamento
para atender as especificidades de mulheres pós das complicações do aborto provocado. Além
-aborto pode significar mais uma forma de dis- disso, espelham a crise do sistema de saúde, que,
criminação, punição e violência institucional. apesar da existência de uma política pública vol-
tada para o atendimento humanizado ao aborto,
não atende as necessidades das mulheres com
Considerações finais equidade, um dos princípios fundamentais da
assistência à saúde no Brasil. Se considerarmos
Os dados desta pesquisa evidenciam que a vio- que o problema da violência institucional é mul-
lência institucional na assistência ao aborto pro- tifatorial, as intervenções para eliminá-la necessi-
vocado parece não ser um fenômeno fortuito. As tam atuar em diversos níveis. O aprimoramento
narrativas das mulheres mostraram que as ma- da política pública existente, a melhor estrutura-
nifestações da violência ocorreram tanto na rela- ção dos serviços de saúde, além do continuado
ção estrutural com o serviço (como a falta de es- treinamento e a sensibilização de profissionais de
trutura para oferecer privacidade e acomodação saúde para a violência de gênero, devem ser enca-
adequadas) ou relacionadas ao comportamento rados como etapas significativas na melhoria da
dos profissionais de saúde (como as ameaças, jul- assistência às complicações do aborto provocado.
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