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1 Lista de Colaboradores.
principalmente ao seu potencial para estudar as questões relacionadas à
escola. (LÜCKE; ANDRÉ, 1986, p. 13).
A teoria que fundamenta a percepção desse estudo, tomada aqui como referência,
está apresentada à medida que se fizerem necessárias algumas explicações. Buscamos, no
decorrer do trabalho, contextualizar os pontos mais relevantes da pesquisa concernente à
Igreja Católica, seu papel e sua influência na sociedade, regime militar, movimento
camponês e pastoral da terra.
A pesquisa é qualificada como de natureza exploratória por proporcionar certa
familiaridade com o tema e o campo de pesquisa, por se adequar ao tema e ser focada em
relatos, além de algumas literaturas pertinente ao assunto. Podemos considerar uma
pesquisa aplicada, exploratória e qualitativa. Para Minayo (1986, p. 22) a metodologia
representa “O caminho e o instrumental próprios de abordagem da realidade”.
O instrumento aplicado é a revisão de literatura. Assim, procuramos mostrar as
respostas em sua abrangência e apresentamos os resultados baseados em registros a partir
de literaturas pesquisadas, além de relatos e depoimentos.
O trabalho está dividido em partes distintivas, a primeira uma introdução que
resume tema, objetivos, metodologia e referencial teórico apresentados ao longo do mesmo;
uma segunda parte, o desenvolvimento, onde descrevemos o papel da Igreja Católica
durante o período ditatorial do Brasil, a criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), e a
Teologia da Libertação segundo Leonardo Boff, que distingue em sua teoria fé de crença, os
Movimentos Camponeses, Ligas Campesinas e a luta de João Pedro Teixeira, seu fundador e
o Movimento Sem-Terra, no período que antecede e durante o Regime Militar - Golpe de
1964 e um breve passeio pela Reforma Agrária. E, por fim, as considerações finais.
Buscamos demonstrar através de uma análise pautada na ótica das Ciências das
Religiões a mudança de paradigma ocorrida na compreensão epistemológica pós-colonial
do que podemos afirmar ser ou se entende por religião no Movimento da Liga Camponesa.
Ao contemplar as ações dos camponeses podemos perceber que o sentido era outro,
diferente do que se entendia por religião no período colonial como forma abstrata e
realização de vontade divina, João Carlos Mariategui (2004) nos lembra que:
O conceito de religião cresceu em extensão e profundidade, não reduzindo
a religião a uma igreja e a um ritual. E reconhece às instituições e
sentimentos religiosos um significado muito diferente daquele que
ingenuamente lhe atribuíam, com radicalismos incandescente, as pessoas
que identificavam religiosidade como obscurantismo.
Sendo assim nossa proposta visa demonstrar que a religiosidade presente na Liga
Camponesa foi fruto de uma soma que envolvia a fé com a vida, não apenas um ato
devocional pertencente apenas a uma cosmologia, mas um processo que se apresenta de
forma diversa, com um objetivo claro, que é a libertação presente na terra prometida. A
partir deste sentido religiosidade pode ser entendida como a vivencia da fé por parte do
povo que marcha, buscando encontrar a Terra Prometida onde jorra leite e mel. Já Ludwig
Feuerbach (1988) define a religião como algo intrínseco e fruto do próprio homem, fruto de
sua própria consciência e essência, o que levou o teórico a dissertar em relação a religião
em sua trajetória, criando embates com os que viram a religião como algo fruto de um
elemento ou de um efeito sobrenatural:
A Igreja católica durante o período militar adota uma postura contra esse regime
autoritário e ditatorial que perseguiu os movimentos trabalhistas e os grupos de oposição.
Antes do golpe de 1964 ocorreram várias mudanças de conjuntura no Brasil, as quais
atacaram abertamente a Igreja Católica. O Brasil se despedia das questões agrárias, passava
por um processo de modernização muito avançado, deixando os hábitos provincianos,
tornando-se mais urbano e industrializado.
Foi afetada diretamente, sofrendo a “crise de vocações”, isto é, perdia adeptos e
influência diante da sociedade com o surgimento de novas crenças e credos, protestantismo
e a umbanda passaram a concorrer com o catolicismo (CARCIAN, 2014). Precisou se adaptar
às mudanças, por meios das várias pastorais em seguimentos diferentes, uma forma de
acompanhar o processo de modernização.
A partir das provocações do Concilio Vaticano II através da Constituição Pastoral
Gaudium Et Spes de 1965, ratificada nas Conferências Episcopais Latino-americana de
Medellín e Puebla (FERNANDES, 2000, p. 50), onde a Igreja é convocada a se posicionar
perante as questões sociais no século XX:
Várias organizações foram criadas pela Igreja Católica nas décadas de 50 e 60, na
tentativa de unir os trabalhadores urbanos, direcionadas aos estudantes: Juventude
Operária Católica (JOC), Juventude Estudantil Católica (JEC) e Juventude Universitária
Católica (JUC), E as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) direcionadas à população em
geral. Nos anos seguintes, a Comissões de Justiça e Paz (CJP), o Conselho Indigenista
Missionário (CIMI) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A criação da CPT vem reforçar os trabalhos dos agentes pastorais que atuavam na
zona rural. Segundo Corso (1999), a CPT tinha por objetivos: estimular os cristãos na
participação da situação político-social na transformação da sociedade, busca e apoio às
lutas dos trabalhadores rurais; desenvolver uma conscientização evangélica comprometida
com a justiça social; procurar valorizar a cultura dos oprimidos (CORSO, 1999).
Apenas no início da década de 80 a CPA (Cooperativa de Produção Agropecuária)
passa promover encontros periódicos de lideranças de agricultores familiares de âmbito
local e regional, organizando lutas pela reforma agrária, desses acontecimentos surge o 1°
Encontro Nacional dos Sem Terra, desse evento surge a fundação e a organização de
movimento de camponeses sem terra para lutar por terra e pela reforma agrária. (STÉDILE,
1993).
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi oficializada em 1975, durante a XIV
Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Sua aprovação pela
Igreja Católica se deu por vários fatores socioculturais e políticos. (VILLA LOBOS, 1993).
Segundo Martins (1985), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST),
organização civil popular surgida na região Sul em 1984, surgiram a partir da CPT. Hoje, a
“CPT apresenta-se nos conflitos de terra através de intermediação entre a luta pela terra e
a sociedade”.
2.4 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)
O homem do campo luta por direitos à terra para trabalhar, produzir e viver com a
família, com a permissão dos latifundiários viviam em terras alheias desde a época da
escravidão. Carvalho (2006), para distinguir camponês de camponeses, define,
Camponesas aquelas famílias que tendo acesso à terra e aos recursos
naturais que esta suporta, resolvem seus problemas de reprodução social
a partir da produção rural, de tal modo que não se diferencia aqueles que
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Termo utilizado pelo MST para denominar o ato de entrada na terra para reclamar a posse para uso social,
grifo nosso.
decidem o que e como fazer (família) daqueles que usufruem o produto
de seu trabalho[..] também, os camponeses-proletários: os assalariados
permanentes, temporários, assim como os trabalhadores rurais sem-terra
acampados (CARVALHO, 2006, p. 1).
4. Considerações finais
O artigo foi reforçado com textos e relatos de fatos reais, registrados em livros,
documentários e entrevistas com Elizabeth Teixeira que mostra em seus depoimentos a
vivência da luta de João Pedro Teixeira contra os latifundiários, em outros registros que dão
conta da postura da Igreja Católica que ora se opusera aos movimentos por causa do poder
e depois torna-se uma grande aliada, vindo de encontro ao Governo e consequentemente
sofrendo retaliações, também, por parte do governo no Golpe Militar de 1964.
Disto depreendemos que a religião pode ser entendida como um sistema
institucionalizado ou não, de interesse de determinado grupo social, não
necessariamente instituído, e que se revela das mais diversas formas e
estilos. É parte da cultura de um povo (NASCIMENTO, 2017, p. 36).
No entanto, podemos dizer que o movimento das Ligas Campesinas e o MST, por
meio de suas lideranças, conseguiram conquistar alguns direitos a favor do homem do
campo, oficializar Estatutos, promover a sindicalização rural e pequenas melhorias nas
condições de trabalho. Constatamos, ainda, que apesar da resistência e continuação da luta
do homem rural por terra, décadas se passaram desde a criação das Ligas, porém as
injustiças sociais e os crimes contra os camponeses continuam acontecendo, a única
diferença se constata que na época do João Pedro Teixeira os crimes aconteciam na calada
da noite. Hoje os crimes são cometidos à luz do dia, a exemplo do “Massacre de Eldorado
dos Carajás”, no sul do Pará, onde assassinaram 19 integrantes do movimento.
Que por mais tácita que seja, ela releva a intencionalidade de certos
grupos; já os leigos envolvidos em tal manifestação religiosa
intuitivamente e sem qualquer intencionalidade terminam por aliviar
suas angústias ao esperar uma inversão das regras e do domínio do
opressor. (NASCIMENTO, 2017, p. 40)
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Não encontramos elementos prévios para assegurar uma intencionalidade de ação direcionada para tal fim.
Nem nos propomos a fazer tal pesquisa.
E, por fim, ressaltamos que a vivência religiosa, a espiritualidade e o ethos religioso
foram elementos essenciais para as mudanças sociais e de resistência ocorridas no campo
durante as últimas décadas do século XX, promovida por um viés social envolto num caráter
religioso nem sempre institucionalizado. Promoveu a alfabetização, suscitou lideranças
sociais, fomentou a solidariedade entre os menos favorecidos economicamente, formaram
comunidades e definiram seus códigos morais e éticos.
Referências
AZEVÊDO, Fernando Antônio. As Ligas Camponesas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
CABRA Marcado Para Morrer. Direção: Eduardo Coutinho. Produção: Zelito Viana.
Intérprete: Eduardo Coutinho, Ferreira Gullar, Tite de Lemos. Roteiro: Eduardo Coutinho.
Fotografia de Fernando Duarte. Gravação de Centro Cultural de Cultura da UNE. Rio de
Janeiro: Globo Vídeos, 1984. DVD's.
CANCIAN, Renato. Ditadura militar: o papel da Igreja católica. Pedagogia & Comunicação.
Disponível em: < https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/ditadura-
militar-2-o-papel-da-igreja-catolica.htm> acessado em 03 de setembro de 2019.
ELIADE, MIRCEA. Tratado de História das Religiões. Trad: Tomaz, Fernandez et Natalia
Nunes. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
MARIÁTEGUI, José Carlos. 7 ensaios de interpretação peruana. 2.ed. São Paulo: Alfa-
Omega,2004.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade.
18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.