Tendo em mente que não é preciso, necessariamente, estar de corpo
presente em determinado lugar, para assim, poder sentir todos os benefícios, ou mesmo, os malefícios de se estar presente nele, pude assim, em uma das minhas muitas viagens mentais, chegar a um lugar que chamo simplesmente de CAMPO. Vários significados podem ter este campo, mas o único que realmente importa para mim é o fato de que eu, ou mesmo outras pessoas, possamos encontrar “uma paz” ao conseguir abstrair, mesmo em meios cheios de confusões e energias negativas, deste mundo material até um mundo “ideal”, para assim melhor nos conhecermos, o que nos possibilita uma experiência “mística” e transcendental.
CAMPO:
Quando os primeiros raios de sol começam a pintar o céu da primavera,
com várias tonalidades de cor e, o doce e suave cantar dos pássaros lhe chega aos ouvidos, proporcionando um doce despertar, você percebe, percebe que não está em lugar nenhum, pois nenhum lugar é o Campo. A fresca brisa que entra por entre as janelas, assim como o assovio da chaleira na cozinha, são sinais de que a “aurora” chegou. Não a “aurora” do dia, mas das possibilidades. A possibilidade de recomeço, de reencontro, de ressignificação. Quando o forte aroma de café, chega ao meu olfato, posso até mesmo sentir o seu gosto e também o sabor dos deliciosos pães de queijo feitos carinhosamente pela “nona”. Mas nada como a visão do amanhecer no campo. A harmonia entre homem e natureza. O canto do silêncio que invade a tudo. O sublime da beleza das cores que me enchem os olhos, quando olho para o jardim, podendo até mesmo, sentir os aromas das diversas flores ali presentes e, vislumbrar a serena “valsa” encenada pelo “farfalhar” das borboletas. Sentir a pureza do ar, ainda gelado, pelo vento que sopra dos picos montanhosos cheios de neve, que ainda restam do recente “crepúsculo” do inverno que se extingue. Ao mesmo tempo, o verde gramado, faz meus olhos se perderem em um penhasco, mergulhando, de maneira atônica, na imensidão azul do mar, que circula a costa montanhosa. O colorir do firmamento, que ainda possibilita a visualização de estrelas de um lado e um lindo laranja do outro, me faz pensar se a mesma imensidão que há lá fora, no universo, é a mesma imensidão que há em mim. Deitado na grama, sentindo a leveza do ar e escutando a musica do amanhecer, é impossível segurar as lágrimas que a minha face lavam. Não é tristeza, nem mesmo agonia, nem mesmo somente a beleza, mas um misto de sentimento, um sentimento de “Potência” um sentimento de “pequeneza”, mas, ainda assim, um sentimento. Será que morri? Será que realmente estou aqui? Onde é isso? Será o “Paraíso”? Logo não sei as respostas para estas perguntas, mas, sei que é real para mim. A possibilidade de poder ficar ali no gramado deitado, ou sentado em uma varanda apreciando o perfeito quadro em “natura”, ao mesmo tempo a possibilidade de dividir o espaço com uma boa conversa, seja comigo mesmo, com alguém que compartilhe esta “possibilidade” comigo, é o que proporciona está experiência mística, esta vontade de eternizar. O Campo existe? Por que não existiria? O campo é qualquer lugar. É qualquer lugar que você consiga ressignificar, abstrair, sublimar. O fato de tudo ocorrer dentro de si, mostra que é possível experimentar coisas que estão além da compreensão, pois isto é o “Mistério”, é provar do que não está ali para ser provado, é beber o pó da água e comer o “ânima” do alimento universal. O Campo é a “possibilidade” de atingir o universo que existe em cada um, em cada ser. Existem pessoas que estão longe de Ser, elas apenas Estão. Estão ocupando um espaço em algum lugar do universo, mas outras, outras São o universo.