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Guia para bem celebrar

Sophia em 2019
CULTURA
12.01.2019 às 8h32





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Começam já este sábado, 12, as celebrações do centenário do


nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Espetáculos, colóquios, exposições, leituras, concertos,
prémios, filmes, atravessam vida e obra da poeta, e lançam
pistas para o seu futuro
SÍLVIA SOUTO CUNHA

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“Pertenço à raça dos que percorrem o labirinto/sem nunca perderem o


fio de linho da palavra”, escreveu Sophia no poema Creta. E é a sua
palavra que é amplamente celebrada cem anos depois do nascimento
desta poeta maior, a 6 de novembro de 1919, através de uma vasta
programação que tem início já neste segundo sábado de janeiro. Mas
se a palavra está obviamente presente numa comemoração que se
estende além-Portugal, as várias inciativas deste centenário
contemplam outras artes presentes na ampla esfera de afetos e
influências de Sophia, como a dança, a música, as artes plásticas, o
cinema, o teatro. Ancorada no Centro Nacional de Cultura (instituição
em que a poeta e o marido, o jornalista Francisco Sousa Tavares,
assumiram funções de direção no fim da década de 1950, tendo-a
transformado numa casa livre e eclética nos tempos difíceis de
ditadura), a Comissão das Comemorações do Centenário de Sophia
de Mello Breyner Andresen defende, em manifesto, que comemorar
Sophia é “lembrá-la em comum”. Uma ideia espoletada há ano e meio
pela filha Maria Andresen, poeta e académica que integra a comissão
coordenadora (com Federico Bertolazzi, Fernando Cabral Martins,
Guilherme d’Oliveira Martins e José Manuel dos Santos), e que
defende a ambição e internacionalização da homenagem - que,
sublinha, ainda tem trunfos por revelar ao longo de 2019.
Estas comemorações contam igualmente com um programa paralelo
criado em torno da Galeria da Biodiversidade – Centro de Ciência
Viva, no Porto (antiga casa da aristocrática família Andresen), cuja
curadoria é assumida pelo maestro Martim Sousa Tavares. O neto
mais novo de Sophia procurou criar uma programação geradora de
conteúdos novos e inéditos, declara, fazendo encomendas criativas
que estabelecem pontes entre passado, presente e futuro. “A minha
avó sempre foi uma pessoa muito generosa com outros criadores e
com as gerações mais novas. E, aqui, encontrámos uma maneira dela
ser a figura central, ao lado de outros artistas e autores, inspirados a
criar pela sua obra.” Eis como bem celebrar Sophia em 2019:

Edição antiga do clássico de sophia, ilustrada por Sarah Affonso

Música, dança e teatro


As celebrações do centenário de Sophia começam já este sábado, dia
12 de janeiro: O Cavaleiro da Dinamarca, projeto de dança clássica e
contemporânea que homenageia os clássicos infantojuvenis, escritos
por Sophia e publicados entre 1958 e 1985, sobe ao palco do Grande
Auditório do Centro Cultural de Belém, às 16h e às 21h. Com libreto
de Paulo Ferreira e Pedro Mateus, composição musical de Daniel
Schvetz e cenografia de José Manuel Castanheira, o espetáculo
dedicado ao cavaleiro dinamarquês em peregrinação à Terra Santa
une literatura, dança, música e audiovisual, numa interpretação dos
alunos da Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional, com a
colaboração da Escola Artística de Música do Conservatório Nacional.
Também orientado para o público infantojuvenil, o conto musical A
Menina do Mar, baseado numa das obras mais famosas de Sophia,
estreia em Maio no Teatro LU.CA, em Lisboa - está ainda programada
uma apresentação especial da peça, sem cenários mas com uma
projeção de ilustrações originais da autoria de Mariana a Miserável na
antiga Casa Andresen, no dia de nascimento de Sophia. Com
encenação de Ricardo Neves-Neves, direção musical de Martim
Sousa Tavares, música de Edward Luiz Ayres d’Abreu, e a
interpretação de Catarina Rôlo Salgueiro, Eduardo Breda, Nuno
Nolasco, Rafael Gomes e Teresa Coutinho, a peça produzida pelo
MPMP – Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa tem
agendada uma digressão posterior por várias cidades do país.
Resultante da parceria entre MPMP e Museu de História Natural e da
Ciência da Universidade do Porto, é o Prémio Musa: uma celebração
musical do centenário da poeta que procura “distinguir a excelência
musical da composição contemporânea de tradição erudita ocidental”.
Às partituras a concurso (que podem ser enviadas até 31 de janeiro)
pede-se que partam da poesia da autora de Navegações e que sejam
escritas para um coro a capella. O autor premiado pelo júri (composto
pelo compositor João Pedro Oliveira e pelos maestros Pedro Teixeira
e Martim Sousa Tavares) terá um prémio pecuniário de €3 mil, estreia
num concerto coral dedicado a Sophia a realizar-se na Casa
Andresen, e a gravação das suas partituras pelo Ensemble MPMP.
“Este prémio toma o título de um dos livros de Sophia, Musa, que está
dividido em andamentos como se fosse música. A ideia foi acrescentar
corpo de obra ao repertório, francamente bom, de música clássica
baseado na poesia da minha avó, em que os compositores têm
liberdade para abordar um ou mais poemas seus. É um apelo à
criatividade, em que damos espaço a compositores para que possam
brilhar a partir desta grande obra”, diz Martim Sousa Tavares à
VISÃO. A entrega do Prémio Musa será feita a 31 de março.

Entre abril e julho, o teatro ganha mais palco nestas celebrações.


Martim Sousa Tavares encomendou três peças de teatro para
crianças às autoras Tatiana Salem Levy e Flávia Lins, inspiradas em
três momentos do jardim da antiga casa dos Andresen: o amanhecer,
o entardecer e o anoitecer. Uma co-produção com o Teatro do Bolhão,
com encenação de Anabela Sousa, que pretende oferecer uma
experiência imersiva nos cenários da família. Uma outra encomenda
do maestro-curador foi o convite ao compositor Eurico Carrapatoso
para criar uma música original para A Noite de Natal, de que resultou
uma peça que inclui sons de harpa para o conto clássico criado por
Sophia em 1959.
A 6 de novembro, data em que se cumprem cem anos do nascimento
de Sophia, tem lugar um dos destaques da programação do
centenário: o Concerto Comemorativo da Orquestra Sinfónica
Portuguesa, que terá lugar no Teatro Nacional de São Carlos, em
Lisboa, com um programa igualmente inspirado na obra da poeta e
que apresentará novos talentos do canto lírico nacional, ao qual se
seguirá uma sessão solene. E, refere Maria Andresen à VISÃO, estão
previstas outras iniciativas, como a realização de três dias dedicados a
Sophia, uma celebração com espetáculos com palavra e música,
incluindo um concerto de Filipe Raposo, no Palácio de Belém; e a
reedição em CD de A Menina do Mar, que recupera o disco editado
em 1959 com música do maestro Fernando Lopes-Graça e voz de
Eunice Munõz. Em estudo, refere ainda Maria Andresen, estão outros
projetos de grande fôlego: um monumento dedicado a Sophia,
expandido em azulejo a partir de um cartão feito pela artista plástica
Menez com poemas de Sophia, e um grande prémio dedicado às
artes.

Uma das dedicatórias captadas na exposição Pour ma Sofie


Divulgacao

Artes plásticas
Pour ma Sofie, exposição fotográfica e documental inédita de Oxana
Ianin, realizada a partir da biblioteca pessoal de Sophia, inaugura a 25
de janeiro na Galeria da Biodiversidade. Aí, revela-se uma visão sobre
331 livros com dedicatórias de autores tão diversos como Agustina,
Eugénio de Andrade, Herberto, Saramago, Torga, Teixeira de
Pascoaes, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade - um
espólio inventariado e comissariado por Martim Sousa Tavares e que
será objeto de itinerância em Portugal, Brasil e, provavelmente,
Grécia. Uma outra exposição documental, comissariada por Marina
Bairrão Ruivo e Sandra Santos, é revelada a 15 de maio no Museu
Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa: centrada na relação de
amizade de Sophia com o casal de pintores, apresenta obras de Vieira
e Arpad, quadros hoje presentes nas casas dos filhos da poeta, assim
como cartas trocadas entre as amigas Sophia e Vieira. Ainda com
data a anunciar, a mostra itinerante Lugares de Sophia propõe-se
apresentar fotografias de António Jorge Silva, Duarte Belo e Pedro
Tropa, convidados a produzir uma “interpretação visual da relação
poética de Sophia de Mello Breyner Andresen com os lugares, com
especial referência à paisagem marítima”.
Colóquios e leituras
Vários colóquios e conferências dedicados a Sophia terão lugar ao
longo deste ano. A Fundação Calouste Gulbenkian recebe, nos dias
16 e 17 de maio, diversos especialistas nacionais e internacionais que
discutirão a obra de Sophia, distribuídos por quatro mesas redondas e
por uma vintena de comunicações. A 3 de outubro, também o Centro
Cultural de Lagos acolherá outro colóquio, intitulado O Mediterrâneo e
o Atlântico em Sophia, dedicado a explorar a importância do mar e a
presença do sagrado na poesia da escritora, o diálogo com os poetas
do sul e a importância dos contos para crianças. Durante os meses de
novembro e de dezembro, um ciclo de conferências sobre Sophia e as
Artes ocorrerá ainda na Fundação de Serralves e na Biblioteca
Almeida Garrett, no Porto: Sophia e a Música terá uma conversa de
Pedro Eiras e Álvaro Teixeira Lopes, moderada por Ana Luísa
Amaral; Sophia e a Dança conta com Carlos Mendes de Sousa e
Joana Providência, sob a moderação de Ana Paula Coutinho; Sophia
e as Artes Plásticas apresenta Maria Filomena Molder e Nuno Faria
em debate, moderados por Isabel Pires de Lima; Sophia e a
Forma tem Maria Irene Ramalho á conversa com Teresa Andresen, e
moderação de Rosa Maria Martelo.
Uma jovem Sophia
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Também fora de Portugal, estão previstas outras iniciativas de cariz


literário e académico: a 12 de junho, tem lugar um colóquio
internacional em Roma, reunindo várias gerações de estudiosos da
obra de Sophia. Entre 2 e 5 de setembro, será a vez do Rio de Janeiro
receber outro colóquio, desta feita dedicado às obras tanto de Jorge
de Sena como de Sophia de Mello Breyner Andresen – amigos que
mantiveram uma longa relação epistolar em que literatura, política e
afetos se cosiam entre linhas. Organizado por Gilda Santos, Eucanãa
Ferraz, Luci Ruas e Teresa Cerdeira, o encontro internacional será
acompanhado por recitais de poemas, exibição de filmes, concurso de
ensaios e lançamento de livros.
Cinema e edições
Da programação do centenário, fazem ainda parte a palavra dita e os
filmes. Estão previstos ciclos de cinema relacionados com a vida e
obra de Sophia, nomeadamente na Cinemateca Portuguesa,
escolhidos por Maria Andresen, Margarida Gil, Rita Azevedo Gomes,
José Manuel Costa e Manuel Mozos: uma seleção de filmes sobre a
poeta portuguesa, masa que se juntam também obras que refletem os
seus gostos pessoais. À espera de aprovação, estão igualmente os
projetos cinematográficos dedicados a Sophia dos realizadores
Margarida Gil (que planeia a adaptação cinematográfica de A Viagem,
por si definido como “um conto que condensa toda a poesia de Sophia
em prosa”) e Manuel Mozos (que prepara o documentário Sophia).
E do ecrã passamos para a palavra dita: os Poetas do Povo realizam
quatro sessões dedicadas à poeta: O Mar de Sophia (21 de
janeiro), Sophia: Liberdade (25 de março), Sophia: A Poesia das
Ilhas (24 de junho) Sophia e os Clássicos (23 de setembro), a terem
lugar no Povo-Lisboa, ao Cais do Sodré, em Lisboa. As celebrações
continuam a 21 de março, Dia Mundial da Poesia: várias figuras
declamarão poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen no Menina
e Moça Livraria Bar, tendo acompanhamento musical, exibição de
imagens e uma instalação criada com versos da autora. Também no
espírito desta efeméride, o CCB homenageará a autora de Livro
Sexto com um programa coordenado por José Manuel dos Santos:
feira do livro, leituras, conferências e programação para os mais
novos, a partir das 14h.
Por fim, em datas ainda a anunciar, o coletivo Lisbon Poetry Orchestra
apresentará o espetáculo multimédia O Mundo de Sophia, contando
com as vozes dos atores André Gago e Miguel Borges, e dos
declamadores Nuno Miguel Guedes e Paula Cortes, e ainda com o
quarteto de cordas Naked Lunch. Está ainda prevista a edição de um
livro/CD.
Sophia e o mar, uma ligação profunda mantida até ao fim
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O 2019 em que celebramos Sophia de Mello Breyner Andresen não


ficaria completo sem a publicação de vários livros dedicados à obra da
autora. Caso do volume sobre a Antiguidade Clássica, coordenado e
organizado por Maria Andresen, e prefaciado por José Pedro Serra,
que reúne essa obra de Sophia há muito esgotada, O Nu na
Antiguidade Clássica, a uma antologia de poemas seus sobre Grécia e
Roma (edição Assírio & Alvim). Também anunciada pela comissão
organizadora do centenário, está um livro com a “prosa ficcional” de
Sophia, coordenado por Carlos Mendes de Sousa, uma seleção de
prosas dispersas (englobando intervenções em jornais, entrevistas,
críticas e ensaios) organizada por Federico Bertolazzi, e uma
antologia de poemas bilingue com tradução de Richard Zenith. Um
centenário em cheio.

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