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Carta Agro

Ano I, nº 1, nov/2019

Cooperativas e serviços de Telecomunicações: o debate no Congresso Nacional


Helder Rebouças*

Avança na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) nº 8.824, No caso do Agronegócio, a inserção das cooperativas na prestação
de serviços de telecomunicações favorece a disseminação de
de 2017, que, em síntese, autoriza a prestação de serviços de
novas tecnologias (internet das coisas, agricultura de precisão,
telecomunicações por cooperativas.
etc.), com efeitos positivos na produtividade.
A matéria, com alterações, já foi aprovada na Comissão de
Na hipótese de ampliar o acesso em regiões com baixa cobertura
Trabalho, de Administração e Serviço Público e se encontra na
de internet, a aprovação do PL 8.824, de 2017, pode operar como
Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática,
verdadeira política pública de apoio à inclusão digital no campo,
para deliberação. Posteriormente, seguirá para a Comissão de
que, conta, inclusive, com recursos na proposta orçamentária da
Constituição e Justiça e de Cidadania.
União para 2020.4
É importante notar que, nos termos da legislação vigente, os
A inclusão das cooperativas na legislação de serviços de
serviços de telecomunicações só podem ser explorados por
telecomunicações permitirá ainda o acesso a incentivos para
empresas, o que exclui as sociedades cooperativas, que têm
investimentos em projetos de pesquisa e desenvolvimento
natureza específica conforme o nosso Código Civil (art. 982,
tecnológico, conforme prevê a já mencionada Lei nº 9.472, de 2017.
parágrafo único).
Note-se que isso abre espaços para parcerias estratégicas entre o
Diante dessa restrição legal, há notícias de cooperativas que sistema cooperativista e as chamadas Agtechs, empresas que
levaram o impasse ao Judiciário, ao passo que outras criaram promovem inovação tecnológica no campo.
estruturas apartadas no intuito de atender à legislação de serviços
Convém observar, por oportuno, que a própria Anatel reformulou,
de telecomunicações1.
em 2018, o Plano Geral de Metas de Competição (PGMC)5, com
É nesse contexto que o PL nº 8.824, de 2017, introduz as vistas a ampliar a concorrência na prestação de serviços de
cooperativas na legislação que rege os serviços de telecomunicações. Dentre as medidas, tem-se a criação do
telecomunicações e nas normas sobre exploração de Serviço conceito de “Prestadores de Pequeno Porte”, que poderia, em tese,
Móvel Celular, de que tratam a Lei nº 9.472, de 1997 e a Lei nº abrigar boa parte das cooperativas.
9.295, de 1996, respectivamente.
Face aos aspectos aqui apresentados, estima-se que os setores
Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações a (Anatel)2, envolvidos e o próprio Governo passem a acompanhar, cada vez
cobertura atual de serviços de banda larga no Brasil é de 33 mais, a tramitação do PL nº 8.824, de 2017, sobretudo na linha de
milhões de domicílios, sendo que, potencialmente, há 51 milhões mitigação de eventuais riscos jurídicos, do exame dos custos
de domicílios, de acordo com estudo do IPEA.3 Esse hiato, em regulatórios e do adequado funcionamento do mercado de
princípio, pode ser reduzido por meio da entrada de novos prestação de serviços de telecomunicações.
prestadores de serviços, a exemplo das cooperativas. (*) Doutor em Direito pela Universidade de Brasília (UnB).

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http://www.paranacooperativo.coop.br/ppc/index.php/sistema- Trata-se da ação orçamentária “20V8 - Apoio a Iniciativas e Projetos de Inclusão
ocepar/comunicacao/2011-12-07-11-06-29/ultimas-noticias/117355-legislacao- Digital”, cuja estimativa de despesas é da ordem de R$ 163 milhões no período
cooperativas-de-internet-lutam-por-espaco-no-sul 2020-2023.
https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2020/p
2https://www.anatel.gov.br/institucional/noticias-destaque/2426-prestadoras-de- roposta/proposta.pdf
pequeno-porte-crescem-34-59-nos-ultimos-12-meses-na-banda-larga-fixa
5 https://www.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/2018/1151-resolucao-694
3 http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2322.pdf

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