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FUNDAMENTOS SÓCIO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

Você perceberá que o Conceito de Educação não é consenso, ao contrário,


abrange uma diversidade significativa de concepções e correntes de pensamento, que
estão relacionadas diretamente ao período histórico, ao movimento social, econômico,
cultural, político nacional e internacional.
Vamos começar com Émile Durkheim, para quem Educação é essencialmente o
processo pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade. Educação é socialização!
É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos. E, afirma
que existem certos costumes, regras que precisam e devem ser obrigatoriamente
transmitidos no processo educacional, gostemos ou não deles.
Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês, positivista, viveu em um rico
e conturbado momento histórico: de um lado, a Revolução Francesa, e de
outro, a Revolução Industrial. “Bebeu” na fonte do pensamento de Auguste
Comte (1798- 1857), pai do Positivismo e filho do Iluminismo que enfatizava
a razão e a ciência como formas de explicar o universo.
Para Durkheim, a tarefa da educação era buscar “soluções” para a crise da
burguesia do final de século XIX, que lutava para continuar como detentora
do poder político e econômico.
Disponível em: http://cienciadaeducacao.vilabol.uol.com.br/Pensadores.htm Acesso em: abr. 2007.
Seu pensamento refletia diferentes “educações”. Cada casta, classes ou grupo social deveria ter
sua própria educação para adequar cada um a seus meios específicos de vida, ou seja, aqueles
que nascessem pobres deveriam adaptar-se à sua realidade, e aqueles que nascessem ricos
deveriam adaptar-se à sua condição e, assim, cada um desempenharia o seu papel social de
forma harmoniosa.Suas idéias influenciaram grandemente as correntes pedagógicas até os dias
atuais.

Outro importante pensador, Karl Marx, dizia que a educação é diretamente relacionada aos
interesses de classe. “Conforme o conteúdo de classe ao qual estiver exposta, ela pode ser uma
educação para a alienação ou para a emancipação”.

KarlHeinrich Marx (1818-1883), intelectual alemão, é considerado um dos fundadores da


Sociologia, mas, que contribuiu com várias outras áreas: filosofia, economia, história. Elaborou,
em parceria com Friedrich Engels (1820-1895) também filósofo alemão, a Doutrina dos teóricos
do Socialismo Científico ou Marxismo e escrevem juntos o Manifesto Comunista,
“historicamente um dos tratados políticos de maior influência mundial, publicado pela primeira
vez em 21/02/1848.

O professor Tosi Rodrigues (2002) coloca que Marx, a partir de seus estudos sobre as
conseqüências da Revolução Industrial, na vida dos trabalhadores ingleses, concluiu que o tipo
de educação dado às crianças operárias era tão precário que só poderia servir para perpetuar
as relações de opressão às quais as crianças e seus pais estavam sujeitos.

Jean-Jaques Rousseau Seria, para ele, a educação responsável pela formação do cidadão em
todos os sentidos. Pois acreditava que o homem nasce bom, mas a sociedade o perverte.
Jean-Jaques Rousseau (1712-1978), filósofo e escritor suíço, Foi uma das principais inspirações
ideológicas da segunda fase da Revolução Francesa: inspirou fortemente os revolucionários, que
defendiam o princípio da soberania popular e da igualdade de direitos. Estudioso da filosofia da
educação, enalteceu a “educação natural”, defendendo um acordo livre entre o mestre e o
aluno.

Chegando ao Brasil
Vamos conhecer os liberais e suas idéias sobre a educação, que eram defendidas com
um grande otimismo pedagógico: eles queriam reconstruir a sociedade por meio da
educação (GADOTTI, 1993).

Era um grupo de intelectuais profundamente enraizados na classe burguesa, que defendiam e


justificavam o modelo econômico da época, que privilegiava alguns, em detrimento da maioria.
Defendiam, apenas, alterações no como ensinar, e não, no modelo de educação excludente.

Para os Liberais, “o homem é produto do meio”; ele e sua consciência se formam em suas
relações acidentais, que podem e devem ser controladas pela educação, a qual deve trabalhar
para a manutenção da ordem vigente, atuando diretamente com o sistema produtivo. O
objetivo primeiro da educação é produzir “indivíduos competentes para o mercado de trabalho,
transmitindo eficientemente informações precisas, objetivas e rápidas” (LÍBANEO, 1989).

Freire (1997), também nos ensina que a educação não é neutra, ao contrário, é um dos
instrumentos capazes de: garantir aos cidadãos o atendimento às necessidades que permitem
o seu desenvolvimento integral, que possibilita a integração entre o pensar e agir, porque
quando o pensar é privado de realidade e o agir, de sentido, ambos ficam sem significado. Caso
contrário, podemos reproduzir uma educação que se coloca como mera transmissora de
informações descontextualizadas historicamente, sem autor, sem intencionalidade “clara” e
privada de sentido, a que o autor denominou de educação bancária. “Minha presença no mundo
não é a de quem nele se adapta, mas de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não
ser apenas objeto, mas sujeito também da história” (FREIRE, 1983, p. 57).

Sendo assim, educar é construir, é libertar o homem do determinismo, passando a


reconhecer o seu papel na História e onde a questão da identidade cultural, tanto em
sua dimensão individual, como em relação à classe dos educandos é essencial à prática
pedagógica libertadora.
Sem respeitar essa identidade, sem autonomia, sem levar em conta as experiências
vividas pelos educandos antes de chegarem à escola, o processo será inoperante,
somente meras palavras despidas de significação real. Temos que lutar por uma
educação dialógica, pois só assim se pode estabelecer a verdadeira comunicação da
aprendizagem entre seres constituídos de alma, prazer, sentimentos.
Em seus escritos, Freire destaca o ser humano como um ser autônomo, livre, criativo, ativo,
capaz de significar e ressignificar suas ações. Essa autonomia está presente na definição de
vocação ontológica de ‘ser mais’ que está associada à capacidade de transformar o mundo. É
exatamente aí que o homem se diferencia do animal. Afinal, animal não tem história.

Segundo Moran, (2000, p. 3), educar:


É colaborar para que professores e alunos – nas escolas e organizações –
transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os
alunos na construção de sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional –
do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão,
emoção, comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais
e profissionais e tornarem-se cidadão realizados e produtivos.
No relatório da UNESCO, organizado e escrito pelo francês Jacques Delors,
intitulado: Educação um tesouro a descobrir, de 1996, a Educação precisa de uma
concepção mais ampla, ou seja:
Uma concepção ampliada de educação deveria fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e
fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de nós. Isso supõe que se
ultrapasse a visão puramente instrumental da educação considerada a via obrigatória para obter certos
resultados (saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem econômica), e se passe a
considerá-la em toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser (DELORS,
2003, p. 90).

Bem, recapitulando, Filosofia é uma palavra grega “philosophia” – sophia, que significa
sabedoria; philo significa amor, ou amizade. Então, literalmente, um filósofo é um amigo ou
amante de sophia, alguém que admira e busca a sabedoria.

Na Idade Média, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino são pensadores cristãos
que ocupam papel de realce. Santo Agostinho é tido como filósofo da fé e São Tomás
de Aquino, como embasador do catolicismo, afirma que o conhecimento tem primazia
sobre a ação.
Na Idade Moderna, começa-se a negar a fé e a ampliar os caminhos da ciência.
Projetam- se vários filósofos, como Descartes, no racionalismo, Bacon, no empirismo,
Hegel, na dialética, Kant, na epistemologia, na metafísica e na antropologia e Comte,
no positivismo.
Na época contemporânea, acentua-se uma reação à Filosofia do século XIX, idealista e
positivista, bem como a Filosofia moderna geral. Destacam-se: Kierkegaard, considerado o
fundador do Existencialismo, Hidegeer, que analisou a existência humana e Husserl, que dá
ênfase ao estudo dos fenômenos – a fenomenologia.

A Filosofia Oriental é mais intuitiva que a Ocidental e menos racional, o que


contribui para sua inclinação mística e hermética. No entanto, vemos os paralelos que
ela possui, principalmente, com a Filosofia Antiga.
Ambas surgiram por volta do século VI a.C, tratando de temas muito semelhantes,
e há de se considerar que Grécia e Índia não são tão distantes uma da outra a pontode
inviabilizar um contato.
Veja o mapa mundial. A maioria dos estudiosos considera que não há qualquer
relação entre os pré-socráticos e os filósofos orientais. O que, na realidade, pouco
importa nesse momento.
O fato é que, assim como a Ciência, a Arte e a Mística, a Filosofia sempre existiu em forma
latente no ser humano. Nós sempre pensamos. Logo, existimos.

Sociologia é a ciência que estuda o comportamento humano em função do meio e os


processos que interligam o indivíduo em associações, grupos e instituições. Ou seja, a
sociologia surge na história como o resultado da tentativa de compreender situações
sociais novas, criadas pela, então, nascente sociedade capitalista.
Capitalismo – é comumente definido como um sistema de organização de
sociedade baseado na propriedade privada dos meios de produção, na
propriedade intelectual e na liberdade de contrato sobre estes bens, o
chamado livre-mercado.
Karl Marx – observa o Capitalismo através da dinâmica da lutas de classes,
incluindo aí a estrutura de estratificação de diferentes segmentos sociais,
dando ênfase às relações entre proletariado (classe trabalhadora) e
burguesia (classe dominante).
Disponível em: http://www.renascebrasil.com.br/f_capitalismo2.htm. Acesso em: 25 maio 2007.
Apesar do termo “sociologia” ter sido criado por Auguste Comte em 1837, que inicialmente a
denominou de “física social”, existem controvérsias sobre quem é seu verdadeiramente e real
fundador.

A Revolução Industrial, a Revolução Gloriosa Inglesa, a Independência dos EUA e a Revolução


Francesa patrocinam a instalação definitiva da sociedade capitalista. Mas, somente por volta de
1830, um século depois, surge a palavra sociologia, fruto dos acontecimentos das duas
revoluções citadas.

Este fenômeno, o da Revolução Industrial, determinou o aparecimento da chamada classe


trabalhadora ou proletariado.

O “progresso” das formas de pensar, a partir do uso da razão (se necessário, re-
leia a aula 2 – Na rota da filosofia) e da lógica, contribuiu para afastar interpretações
baseadas em suposições, superstições e crenças, representou uma mudança de
paradigma e abriu espaço para a constituição de um novo saber sobre os fenômenos
histórico-sociais. E, conseqüentemente, para a formulação de uma nova atitude
intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura.
A lógica é uma ciência de índole matemática e fortemente ligada à Filosofia.
Já que o pensamento é a manifestação do conhecimento, e que o
conhecimento busca a verdade, é preciso estabelecer algumas regras para
que essa meta possa ser atingida. O principal organizador da lógica clássica
foi Aristóteles, com sua obra chamada Organon. Ele divide a lógica em
formal e material.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%B3gica Acesso em: 13 jun. 2007.
Esta postura influenciou os historiadores escoceses da época, como David Hume (1711- 1776) e
Adam Ferguson (1723-1816), e seria posteriormente desenvolvida e amadurecida por Hegel e
Karl Marx.

Foi também dessa época a disposição de tratar a sociedade, a partir do estudo de seus grupos e
não dos indivíduos isolados. Frutifica o entendimento de que os homens e as mulheres
produzem ao longo de suas vidas: conhecimentos, crenças, valores, linguagem, arte, música.
Criamos, destruímos, inventamos, re-inventamos. Enfim, fazemos Cultura. Sendo assim, a
sociologia se debruça sobre todos os aspectos da vida social e tem como preocupação estudar
desde o funcionamento de macro-estruturas (o estado, a classe social) até o comportamento
dos indivíduos.

Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social. Sendo a educação considerada como o
fato social, isto é, se impõe, coercitivamente, como uma norma jurídica ou como uma lei. a
doutrina pedagógica, se apóia na concepção do homem e sociedade, onde o processo
educacional emerge através da família, igreja, escola e comunidade. Para o autor as gerações
adultas exercem uma forte pressão sobre os mais novos, que tem por objetivo suscitar e
desenvolver na criança determinados números de estados físicos, intelectuais e morais
(DURKHEIM, 1973).

Já para um divulgador da obra de Durkheim, Talcott Parsons (1965), sociólogo


americano, a educação é entendida como socialização.Aula 03 Fundamentos Sócio-
filosóficos da Educação
Nessa perspectiva, ela é o mecanismo básico de constituição dos sistemas sociais
e de manutenção e perpetuação dos mesmos, em formas de sociedades, e destaca que
sem a socialização, o sistema social é ineficaz de manter-se integrado, de preservar sua
ordem, seu equilíbrio e conservar seus limites.
Parsons, afirma que é necessário uma complementação do sistema social e do sistema
de personalidade. Ambos têm necessidades básicas que podem ser resolvidas de forma
complementar.

Dessa forma, para o autor, o indivíduo é funcional para o sistema social. De acordo
com Durkheim e Parsons, a educação não é um elemento para a mudança social, mas
sim , pelo contrario, é um elemento fundamental para a conservação e funcionamento
do sistema social.
Mas existem autores que têm pensamento oposto, entre eles, destacamos Dewey e
Mannheim. O ponto de partida desses autores é que a educação constitui um
mecanismo dinamizador das sociedades através de um indivíduo que promove
mudanças.

Dessa forma, para o autor, o indivíduo é funcional para o sistema social. De acordo
com Durkheim e Parsons, a educação não é um elemento para a mudança social, mas
sim , pelo contrario, é um elemento fundamental para a conservação e funcionamento
do sistema social.
Mas existem autores que têm pensamento oposto, entre eles, destacamos Dewey e
Mannheim. O ponto de partida desses autores é que a educação constitui um
mecanismo dinamizador das sociedades através de um indivíduo que promove
mudanças.

Outro sociólogo, Mannheim, (1971, p. 34) define a educação como:


O processo de socialização dos indivíduos para uma sociedade harmoniosa, democrática porem
controlada, planejada, mantida pelos próprios indivíduos que a compõe. A pesquisa é uma das
técnicas sociais necessárias para que se conheçam as constelações históricas especificas. O
planejamento é a intervenção racional, controlada nessas constelações para corrigir suas
distorções e seus defeitos. O instrumento que por excelência põe em pratica os planos
desenvolvidos é a Educação.

Existe entre elas um ponto de encontro: a educação constitui um processo de


transmissão cultural no sentido amplo do termo (valores, normas, atitudes, experiências,
imagens, representações) cuja função principal é a reprodução do sistema social.
Isto é claro no pensamento durkheimiano, que podemos resumir como: longe de a
educação ter por objeto único e principal o indivíduo e seus interesses, ela é antes de
tudo o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria
existência. A sociedade só pode viver se dentre seus membros existe uma suficiente
homogeneidade. A educação perpetua e reforça essa homogeneidade, fixando desde
cedo na alma da criança as semelhanças essenciais que a vida coletiva supõe
(DURKHEIM, 1973).
E vamos mais, que muito mar ainda nos espera... vamos navegando:
Também verificamos que tanto Durkheim, como seus seguidores, se esforçavam
por assinalar que a importância do processo educacional se baseava no fato de que o
mesmo tinha como função principal a transmissão da cultura na sociedade. Esta cultura
era assim apresentada como única, indivisa, propriedade de todos os membros que
compõem o conjunto social.
Entretanto, outros dois sociólogos Bourdieu e Passeron, também famosos pelos
seus estudos e sua preocupação com a questão educacional, tiveram pretensões de
justamente demonstrar a não existência de uma cultura única, mas que:
Na realidade, devido ao fato de que elas correspondem a interesses materiais e
simbólicos de grupos ou classes diferentemente situadas nas relações de força,
esses agentes pedagógicos tendem sempre a reproduzir a estrutura de distribuição
do capital cultural entre esses grupos ou classes, contribuído do mesmo modo para
a reprodução da estrutura social: com efeito, as leis do mercado em que se forma o
valor econômico ou simbólico, isto é, o valor enquanto capital cultural, dos arbítrios
culturais reproduzidos pelas diferentes ações pedagógicas (indivíduos educados)
constituem um dos mecanismos mais o menos determinantes segundo os tipos de
formação social, pelos quais se acha assegurada a reprodução social, definida
como reprodução das relações de força entre classes sociais (BOURDIEU e
PASSERON, 1976, p. 218).

Para os autores citados, sistema escolar reproduz, assim, em nível social, os


diferentes capitais culturais das classes sociais e, por fim, as próprias classes sociais.
Os mecanismos de reprodução encontram sua explicação ultima nas relações de
poder, relações essas de domínio e subordinação que não podem ser explicadas por
um simples reconhecimento de consumos diferenciais.

Com a “Descoberta do Brasil” e a chegada dos colonizadores, nosso país foi


organizado, inicialmente, pelo regime das Capitanias Hereditárias. Só depois de quase
cinqüenta anos tem “início” a “HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL”, com a criação
do Governo-geral por D. João III, administrado por Tomé de Souza que, com ele, trouxe
Manoel da Nóbrega, criador do primeiro “Plano de Educação” - que tinha como tarefa
primeira catequização dos índios. Mas o grande projeto de colonização portuguesa, no
Brasil, constituiu-se de duas frentes:
Uma, focada na criação e consolidação das Capitanias Hereditárias, nas
sesmarias, no latifúndio, na apropriação das riquezas naturais, na exploração da mão-
de-obra escrava, inicialmente, dos índios nativos e, posteriormente, dos negros.
A outra, que mantinha o foco na disseminação das idéias, de verdades que
precisavam ser assimiladas pelos colonizados e pelos trabalhadores que aqui já
habitavam, valores morais e éticos, comportamentos desejados para o convívio social
e político que atendia aos interesses do colonizado, que deveria garantir a ordem social
e política aos moldes de Portugal.

A nossa história de educação formal, tal como conhecemos hoje, oferecida nas
escolas, começa no Brasil, com a chegada da “Companhia de Jesus” - padres jesuítas
que integravam a comitiva dos colonizadores e foram os responsáveis pelo lançamento
das bases de um vasto sistema educacional, que se desenvolveu progressivamente.
A ordem dos jesuítas nasceu da união de sonhos de seu fundador, Inácio de Loyola
e dos esforços aplicados no momento em que a Igreja Católica mais precisava. A
possibilidade de expansão do protestantismo acelerou o movimento de reação, exigindo
atuação de Papas reformistas e do Concílio de Trento.
O Pe. Manoel da Nóbrega, através da “Companhia de Jesus”, propôs o Ratio
Studiorum,ou seja, um plano de ensino, constituído de duas etapas:
Na etapa I – ensinavam-se português, doutrina cristã e a escola de “ler e escrever”.
Na etapa II – ensinavam-se música instrumental e o canto orfeônico. Nesse plano,
era possível progredir nos estudos, ou para a formação técnica ou para a continuidade
dos estudos de gramática que, depois, para os filhos dos que detinham poder
econômico seriam finalizados na Europa. Não havia oportunidade para todos, ao
contrário, apenas para uma pequena parcela: os filhos das elites.
Nesse sistema, a educação era rígida, caracterizada por um professor que sabia
tudo – dono de um saber inquestionável -, a preocupação era ensinar para uma
aprendizagem por memorização e os conteúdos, descontextualizados da realidade dos
alunos.
Os jesuítas exerceram forte influência em nossa educação, sobre a sociedade,
especialmente na burguesia, que foi formada em suas escolas. Eles introduziram, no
período colonial, uma concepção de educação que contribuiu para o fortalecimento das
estruturas de poder hierarquizadas e de privilégios para um pequeno grupo. Incutiram a
idéia de exploração de uma classe sobre a outra e a escravidão, como caminho normal
e necessário para o desenvolvimento. Enfim, a educação tinha o papel de ajudar a
perpetuar as desigualdades sociais e de classe.
Os jesuítas criaram também os aldeamentos e os recolhimentos destinados à
catequese, à evangelização e à preparação de mão-de-obra, “civilizando” as tribos
indígenas para que colaborassem na exploração das riquezas da terra. Por ordem
da Coroa Portuguesa, os jesuítas celebravam os rituais religiosos nas aldeias,
batizavam os nativos, ensinavam a estes a língua portuguesa, os bons costumes e
o catecismo, além de forçá-los ao trabalho (BRETAS, 1991).
Com a difusão das idéias do Iluminismo na Europa, o Marquês de Pombal (ou
Conde de Oieras), simpatizante das mesmas, e com o poder de ministro de estado em
Portugal, resolveu expulsar em 1759, a Companhia de Jesus de Portugal e de suas
colônias.

Os jesuítas exerceram forte influência em nossa educação, sobre a sociedade,


especialmente na burguesia, que foi formada em suas escolas. Eles introduziram, no
período colonial, uma concepção de educação que contribuiu para o fortalecimento das
estruturas de poder hierarquizadas e de privilégios para um pequeno grupo. Incutiram a
idéia de exploração de uma classe sobre a outra e a escravidão, como caminho normal
e necessário para o desenvolvimento. Enfim, a educação tinha o papel de ajudar a
perpetuar as desigualdades sociais e de classe.
Os jesuítas criaram também os aldeamentos e os recolhimentos destinados à
catequese, à evangelização e à preparação de mão-de-obra, “civilizando” as tribos
indígenas para que colaborassem na exploração das riquezas da terra. Por ordem
da Coroa Portuguesa, os jesuítas celebravam os rituais religiosos nas aldeias,
batizavam os nativos, ensinavam a estes a língua portuguesa, os bons costumes e
o catecismo, além de forçá-los ao trabalho (BRETAS, 1991).
Com a difusão das idéias do Iluminismo na Europa, o Marquês de Pombal (ou
Conde de Oieras), simpatizante das mesmas, e com o poder de ministro de estado em
Portugal, resolveu expulsar em 1759, a Companhia de Jesus de Portugal e de suas
colônias.

Era o ano de 1756, quando surgiram profundas alterações na política interna de


Portugal, com reflexo em todo o seu império colonial.
Naquele ano, no reinado de Dom José I, Sebastião de Carvalho, o conde de Oeiras
(obtido em 1759), mais tarde, marquês de Pombal (em 1769), tornou-se secretário de
Estado dos Negócios do Reino de Portugal, equivalente hoje a ser um primeiro-ministro.
Homem de confiança do rei, até aquele momento, fizera carreira diplomática em várias
cortes européias, mostrando energia e determinação, que o levaram a ser nomeado
Secretário dos Negócios Estrangeiros, em 1750, rumando, em seguida, para o poder
total.

Pois é, após a expulsão dos Jesuítas, deu início uma nova fase da educação no
Brasil. Conhecido como um homem pragmático, simpatizante das idéias Iluministas (ver
aula 5), pretendia colocar o país – Portugal – na rota do desenvolvimento.
As idéias do Marquês valorizavam a razão, a experiência, as sociedades liberais,
que influenciaram a criação de uma educação cidadã. Tem início, então, o embrião do
“ensino público” no Brasil. Uma educação mantida pelo estado e sem atrelamento a uma
ordem religiosa.
Na prática, o modelo implantado pelos jesuítas perdeu o curso de humanidades
para as aulas régias (latim, grego, filosofia e retórica), que continuaram a ter sua
conclusão de estudos na Europa, sob a influência das idéias Iluministas de Bacon,
Hobbes, Descartes, Kant, que se opunham às explicações divinas e religiosas, às
superstições a aos mitos e, por conseqüência, indo de encontro às estruturas
conservadoras da poderosa Igreja Católica, às práticas da inquisição e aos dogmas
inabaláveis.

As principais medidas implantadas pelo marquês, por intermédio do Alvará de 28


de junho de 1759, foram:

total destruição da organização da educação jesuítica e sua metodologia de ensino,


tanto no Brasil quanto em Portugal;
instituição de aulas de gramática latina, de grego e de retórica;
criação do cargo de ‘diretor de estudos’ – pretendia-se que fosse um órgão
administrativo de orientação e fiscalização do ensino; introdução das aulas régias –
aulas isoladas que substituíram o curso secundário de humanidades criado pelos
jesuítas; realização de concurso para escolha de professores para ministrarem as aulas
régias;
aprovação e instituição das aulas de comércio.

Inspirado nos ideais iluministas, Pombal empreende uma profunda reforma


educacional em Portugal e que tem suas conseqüências no Brasil. Veja algumas das
medidas:
A metodologia eclesiástica dos jesuítas é substituída pelo pensamento pedagógico
da escola pública e laica. É o surgimento do espírito moderno, marcando o divisor das
águas entre a pedagogia jesuítica e a orientação nova dos modeladores dos estatutos
pombalinos de 1772;
Em lugar de um sistema único de ensino, a dualidade de escolas, umas leigas, outras
confessionais, regidas todas, porém, pelos mesmos princípios;
Em lugar de um ensino puramente literário, clássico, o desenvolvimento do
ensino científico, que começa a fazer lentamente seus progressos ao lado da educação
literária, preponderante em todas as escolas; em lugar da exclusividade de ensino de
latim e do português, a penetração progressiva das línguas vivas e literaturas modernas
(francesa e inglesa);

A ramificação de tendências que, se não chegam a determinar a ruptura de unidade
de pensamento, abrem o campo aos primeiros choques entre as idéias antigas,
corporificadas no ensino jesuítico, e a nova corrente de pensamento pedagógico,
influenciada pelas idéias dos enciclopedistas franceses, vitoriosos, depois de 1789, na
obra escolar da Revolução. (AZEVEDO, 1976, p. 56-57)
PombaI foi fortemente influenciado pelos ideais iluministas, no entanto o iluminismo
português apresenta algumas pecularidades que o diferenciam do modelo encontrado
nas demais reações européias (França, Inglaterra, Alemanha). Todavia, apesar de
reconhecer as peculiaridades presentes em cada nação, foi sempre um programa
pedagógico, uma atitude crítica preocupada com os problemas sociais e com as
intenções de reformulação das instituições e da cultura social.

Marquês de Pombal, ao propor as reformas educacionais, seguia os ideais


iluministas - um nova sociedade exige um novo homem que só poderá ser formado por
intermédio da educação.
Nessa perspectiva, por intermédio da aprovação de decretos que criariam várias
escolas e da reforma das já existentes, o Marquês estava preocupado, principalmente,
em se utilizar da instrução pública como instrumento ideológico e com o intuito de
dominar e dirimir a ignorância que grassava na sociedade, condição incompatível e
inconciliável com as idéias iluministas (Santos, 1982). Portanto, a partir desse momento
histórico, o ensino jesuítico se torna ineficaz para atender às exigências de uma
sociedade em transformação.

Ressalta-se que, apesar das propostas formais, as reformas pombalinas nunca


conseguiram ser implantadas, o que provocou um longo período (1759 a 1808) de quase
desorganização e decadência da educação no Brasil Colônia.
Dessa forma, com a expulsão dos jesuítas, em 1759, e a transplantação da corte
portuguesa para o Brasil em 1808, abriu-se um parêntese de quase meio século, um
largo hiato que se caracteriza pela desorganização e decadência do ensino colonial.
Pombal não conseguiu, de fato, substituir a poderosa homogeneidade do sistema
jesuítico, edificado em todo o litoral latifundiário, com ramificações pelas matas e pelo
planalto, e cujos colégios e seminários formam, na Colônia, os grandes focos de
irradiação da cultura. Insatisfeito com os próprios resultados, o marquês atribuiu à
Companhia de Jesus todos os males da educação, seja na metrópole ou colônia
(AZEVEDO, 1976).
A sociedade brasileira, até a década de 20, estava estruturada em um sistema
econômico, político e sócio-cultural que não fugia aos moldes europeus, aqui instalados
desde o “descobrimento” do país. Assim, esses fatores atuantes na organização do
ensino mostram que a educação seguia essa ordem estrutural, atendendo às exigências
mínimas da sociedade.
No período de mudança de regime político (do Império para a República), o predomínio de
representação política e econômica foi dos cafeicultores, que pressionavam a todos e a tudo
para conseguir que seus interesses fossem atendidos. A República foi proclamada justamente
com esse objetivo, por isso podemos dizer que a República Velha se caracterizou pela ação dos
cafeicultores no poder.

A Revolução de 30 foi o resultado de uma crise que vinha, de longe, destruindo o monopólio
do poder das velhas oligarquias, favorecendo à criação de algumas condições básicas para a
implantação definitiva do capitalismo brasileiro [...]. É aqui que a demanda social da educação
cresce e se consubstancia numa pressão cada vez mais forte pela expansão do ensino
(ROMANELLI, 1997, p.48).

Vamos conhecer um pouco mais e entender por que o Manifesto dos Pioneiros da Escola
Nova, documento redigido por Fernando de Azevedo, em 1932, influenciado por diferentes
correntes de pensamento, desde o filósofo John Dewey ao sociólogo Émile Durkheim,
constituído por uma clara concepção pedagógica, ações didáticas e propostas de política
educacional, marcou nossa história.

Significou o momento político em que os intelectuais de idéias liberais da época tomaram


posição criticando fortemente o modelo em prática, que ainda mantinha resquícios da formação
jesuítica, e propondo uma mudança radical na educação do Brasil, estabelecendo suas diretrizes
gerais: universalização (educação para todos), laicidade (sem vínculo religioso), gratuidade,
obrigatoriedade (sem isso, o desenvolvimento do país estaria comprometido), descentralização
(garantia de acesso em todo o país), formação de professores em nível superior, educação não
pragmática (não deveria atender aos interesses de classe, e sim, aos interesses dos educandos
e da sociedade) e utilitária (habilidades para o trabalho, fundamento da sociedade humana),
com ênfase no conhecimento científico.

Os 26 educadores, filósofos e sociólogos que assinaram o documento indicaram a educação


como o único caminho para a modernização, devendo, pois, ser uma responsabilidade do estado
e priorizada como uma questão nacional.

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova abordava as diretrizes da educação


na sociedade em transição, focalizando a escola como espaço institucional, ou seja,
uma escola que estivesse pensando na formação das habilidades necessárias para uma
participação efetiva e influente na sociedade, que não apenas ensinasse a ler, escrever
e contar, mas que fosse um espaço, por excelência, para desenvolver habilidades,
formar pessoas críticas e capazes de refletir sobre os problemas e efetivar ações na
sociedade. Para tanto, dizia o documento, seria necessário que o espaço físico
possibilitasse o funcionamento de escolas responsáveis por mudanças na vida social
dos indivíduos, buscando construir uma sociedade democrática.
Os pioneiros desejavam que a Educação, o Direito e a Justiça caminhassem de
braços dados para a formação humana, em seu sentido mais amplo, iluminando os
caminhos da democracia contemporânea. Mas a expansão do Capitalismo e o
crescimento industrial relegaram o desejo, a dimensão formativa, necessária à
realização integral do homem, ao segundo plano, trazendo o tecnicismo ao primeiro,
ao topo, com o objetivo de atender às demandas do mercado. Esse fato e as influências
de diferentes pensadores, a exemplo de Durkheim, distorceram as idéias iniciais do
Manifesto.
O Tecnicismo, nessa perspectiva pedagógica, é uma forma de educação em que
o que é valorizado não é o professor, mas a tecnologia. O professor passa a ser um
mero especialista na aplicação de manuais, e sua criatividade fica restrita aos limites
possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é reduzida a ser um
indivíduo que reage aos estímulos de forma a corresponder às respostas esperadas
pela escola, para ter êxito e avançar.

Tal como o século XX representa uma época de indiscutível avanço tecnológico e


econômico, o mesmo se pode concluir acerca da educação pensada pelos educadores
que subscreveram o Manifesto. Isso porque não podemos nos esquecer de que, no
contexto que se vivia, essa era uma educação que representava o processo dinâmico
de aprimoramento do ser humano. Na perspectiva técnica e moral, não avançou muito,
em termos mundiais, se comparado a dois ou três séculos atrás. Mas era um grande
avanço para o que se vivia naquele momento histórico na educação brasileira.

A escola passou, então, a ser vista como o local, o ponto de partida dessa mudança
social, originando, no nosso país, um sistema com duas vertentes: uma, voltada para a
educação propedêutica, para os filhos da burguesia, dona de terras e de riquezas, e
outra, a educação, profissionalizante, dirigida aos filhos dos trabalhadores, que
precisavam ser preparados para ocupar os postos de trabalho que estavam sendo
criados.

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