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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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29/11/2019 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.171.699 SERGIPE

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


RECTE.(S) : MUNICÍPIO DE ARACAJU
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE
ARACAJU
RECDO.(A/S) : LOTEPLAN
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.


EXECUÇÃO FISCAL. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
DA ALTERAÇÃO DOS LIMITES INTERMUNICIPAIS POR AUSÊNCIA
DE OBSERVÂNCIA DO § 4º DO ART. 18 DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. A EXIGÊNCIA DA REALIZAÇÃO DE PLEBISCITO, COMO
SE DETERMINA NO § 4º DO ART. 18 DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA, NÃO FOI AFASTADA PELO ART. 96 DO ATO DAS
DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS, INTRODUZIDO
PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 57/2008, SENDO ILEGÍTIMO O
MUNICÍPIO OCUPANTE PARA COBRAR O IMPOSTO SOBRE A
PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL URBANA – IPTU NOS
TERRITÓRIOS INDEVIDAMENTE INCORPORADOS. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual do Plenário, na
conformidade da ata de julgamento, por unanimidade, apreciando o
tema 400 da repercussão geral, em negar provimento ao recurso
extraordinário, nos termos do voto da Relatora. O Ministro Dias Toffoli
(Presidente) acompanhou a Relatora com ressalvas. Foi fixada a seguinte
tese: "A exigência da realização de plebiscito, conforme se determina no §

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RE 1171699 / SE

4º do art. 18 da Constituição da República, não foi afastada pelo art. 96,


inserido no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição da República pela Emenda Constitucional n. 57/2008, sendo
ilegítimo o município ocupante para cobrar o Imposto sobre a
Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU nos territórios
indevidamente incorporados". Sessão de 22.11.2019 a 28.11.2019.

Brasília, 29 de novembro de 2019.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.171.699 SERGIPE

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


RECTE.(S) : MUNICÍPIO DE ARACAJU
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE
ARACAJU
RECDO.(A/S) : LOTEPLAN
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

RELATÓRIO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (Relatora):

1. Recurso extraordinário interposto com base na al. a do inc. III do


art. 102 da Constituição da República contra julgado do Tribunal de
Justiça de Sergipe.
O caso

2. Em 26.1.2008, o Município de Aracaju/SE moveu execução fiscal


contra Loteplan com o objetivo de receber crédito tributário inscrito em
dívida ativa, relacionado a imóvel localizado no Povoado de
Mosqueiro/SE, por falta de pagamento do Imposto sobre a Propriedade
Predial e Territorial Urbana – IPTU (fls. 12-13).

Em 27.3.2009, a juíza da Vigésima Vara Cível da Comarca de


Aracaju/SE extinguiu a execução fiscal:

“Trata-se de Ação de Execução Fiscal movida pelo Município de


Aracaju objetivando o recebimento de crédito tributário inscrito em
dívida ativa relativo a imóvel situado no Povoado Mosqueiro.
Com efeito, em que pese o estágio atual do processo, vislumbra-
se, do contexto fático-jurídico em que está inserida a presente
demanda, a necessidade de intervenção do juízo para que seja
apreciada, de ofício, ainda neste momento processual, a questão

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RE 1171699 / SE

atinente à legitimidade ativa do Município de Aracaju para a


instituição e cobrança do IPTU dos imóveis situados na sobredita
localidade.
Para as digressões acerca do assunto, faz-se imperiosa a análise
da legislação pertinente às demarcações dos limites deste Estado,
iniciando-se com a Lei Estadual n° 554/54, que fixa os limites do
Município de Aracaju com o de São Cristóvão; delimitando que
geograficamente as cidades têm a seguinte divisa:
‘Parte do marco no pontal de N. da Barra do Rio Vaza-
Barris e segue em linha reta ao marco colocado no lugar Monde
da Onça; daí em linha reta ao marco nas cabeceiras do riacho
Palame, somente até o ponto em que esta reta corta o rio Poxim’.
Em seguida, destaca-se a Emenda Constitucional 16/99 que
acrescentou o § 2º ao art. 37 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição do Estado de Sergipe, enumerando
alguns bairros e povoados que passaram a pertencer a Aracaju, dentro
dos limites já traçados pela redação originária do mesmo artigo,
rezando que:
‘Art. 37: Fica alterada a delimitação do Município de
Aracaju com o Município de São Cristóvão a partir do Pontal N
da barra do rio Vaza-Barris, que passa a ter a seguinte descrição:
inicia na foz do rio Vaza-Barris seguindo seu curso até o
talvegue até o encontro das águas do seu afluente Santa Maria,
seguindo pelo talvegue deste até o ponto em frente à Capela Bom
Jesus dos Navegantes no povoado Areia Branca; daí em linha
reta até o marco do Monde da Onça na estrada da Cabrita; daí
em linha reta ao marco nas cabeceiras do riacho Palame, somente
até o ponto em que esta reta corta o rio Poxim. (Redação dada
pela Emenda Constitucional n. 16 de 1999)
§ 2º Com a alteração estabelecida neste artigo, ficam
situados no território do Município de Aracaju as localidades
denominadas povoado Mosqueiro, povoado Areia Branca,
povoado São José, povoado Robalo e povoado Terra Dura, neste
compreendendo as localidades Lixeira da Terra Dura e núcleos
habitacionais Santa Maria, Maria do Carmo Alves e Antônio
Carlos Valadares. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 16

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de 1999).
Entretanto, posteriormente, o Tribunal de Justiça deste Estado,
com base na competência prevista no art. art. 106, I, ‘c’ da
Constituição Estadual de Sergipe, declarou inconstitucional a própria
redação originária do art. 37 da ADCT da Constituição do Estado de
Sergipe de 1989, bem como as alterações promovidas através da
Emenda Constitucional n. 16/99, haja vista que não fora
materializada a consulta prévia à populações diretamente interessadas,
nos termos do art. 18, § 4º da Constituição Federal, ao que reproduzo:
‘CONSTITUCIONAL. EMENDA
CONSTITUCIONAL. REDAÇÃO ORIGINÁRIA DE 89.
MUNICÍPIOS. LIMITES. ALTERAÇÃO. PLEBISCITO. - A
nova redação dada pela Emenda Constitucional n. 16/99 ao art.
37. do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição do Estado de Sergipe, acrescentando o § 2º, não
alterou os limites entre os municípios de São Cristóvão e
Aracaju, mas apenas enumerou alguns povoados que pertencem
a Aracaju, dentro dos limites já traçados pela redação originária
do dispositivo questionado; II - A redação originária do art. 37, e
do seu parágrafo único, do ADCT da Constituição Estadual de
89 também deve ter sua constitucionalidade analisada, tendo em
vista que alterou os limites do sul do município de Aracaju; III -
A alteração dos limites efetuada pela redação originária de 89
deve obedecer os requisitos essenciais impostos pelo art. 18, § 4º
da Constituição Federal, sendo imprescindível a realização de
consulta prévia mediante plebiscito, às populações diretamente
interessadas; IV - Diante da inconstitucionalidade dos limites
fixados pela redação originária, do art. 37 e seu parágrafo único,
prejudicado está o § 2º acrescentado pela emenda 16/99. porque
não há como esclarecer aqueles limites; V - Incidente conhecido,
para declarar a inconstitucionalidade da redação originária do
art. 37, e de seu parágrafo único, do ADCT, da Constituição
Estadual.’ (TJSE - Incidente de inconstitucionalidade n.
0001/2000 - Acórdão n. 2696/2000 - Rel. Desa. Marilza
Maynard Salgado de Carvalho -Julgado em 06.12.2000)’
Imperioso reconhecer no presente decisum o acerto da nossa

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Colenda Corte Recursal, vez que a formalidade insculpida no art. 18,


§ 4a da Lei Maior apresenta-se indispensável à validade da declaração
de limites geográficos promovida, vez que o plebiscito
constitucionalmente assegurado às populações de ambas as
localidades, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal,
não fora preservado, ao que igualmente declaro a
inconstitucionalidade do art. 37 da ADCT da Constituição do Estado
de Sergipe de 1989 e suas alterações, incidenter tantum.
Assim, a partir de tal julgado, observa-se a confirmação dos
limites entre a Cidade de São Cristóvão e Aracaju até então
estabelecidos pela Lei 554/54, sendo correto inferir que até a
promulgação da fustigada EC n. 16/99, entendia-se pacificamente que
o Povoado do Mosqueiro pertencia geograficamente ao Município de
São Cristóvão.
Observa-se que, somente com a vergastada Emenda
Constitucional passaram os municípios e o Poder Executivo e,
posteriormente, o próprio Poder Judiciário, a se questionar acerca de
pertencer o Povoado Mosqueiro a São Cristóvão ou a Aracaju.
Havendo sido declarada a inconstitucionalidade do artigo, e via
de consequência, do parágrafo § 2º, que externou ser de competência
de Aracaju o Povoado do Mosqueiro, bem como, inconstitucional a
própria redação originária do art. 37 da Constituição Estadual, faz-se
mister reconhecer que jurídica e validamente passou novamente a
reger a matéria a antiga Lei n. 554/54 de 06.02.54 que, durante todos
os anos de sua aplicação teve por certo que a região do Mosqueiro
encontrava-se no Município de São Cristóvão. Deve prevalecer tal
regramento infraconstitucional até que no formato
constitucionalmente previsto para tanto, ou seja, através de emenda
que tenha por lastro consulta popular prévia às comunidades
envolvidas, sejam alterados tais limites.
Assim, a ilação alcançada é a de que o Município de Aracaju é
incompetente para cobrar o IPTU - Imposto Predial e Territorial
Urbano do Povoado Mosqueiro, apresentando-se imperiosa a
desconstituição de todos os atos praticados neste processo, já que os
títulos executivos que embasam a presente execução, ex vi do presente
decisum, perdem sua eficácia executiva.

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Desta forma, forte nos argumentos acima expostos, DECLARO


inconstitucional o art. 37 da ADCT da Constituição do Estado de
Sergipe de 1989 e suas alterações, reconhecendo, de ofício, a
ilegitimidade ativa do Município de Aracaju cobrar o Imposto Predial
e Territorial Urbano - IPTU do Povoado Mosqueiro e, em
consequência, EXTINGO a presente execução fiscal” (fls. 51-53).

Contra essa sentença o Município de Aracaju/SE interpôs apelação,


desprovida pela Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Sergipe:

“APELAÇÃO CÍVEL - EXECUÇÃO FISCAL - ZONA DE


EXPANSÃO – MOSQUEIRO - EXISTÊNCIA DE LITÍGIO
ENTRE OS MUNICÍPIOS DE ARACAJU E SÃO CRISTÓVÃO
SOBRE OS LIMITES TERRITORIAIS - DÚVIDA SOBRE A
COMPETÊNCIA PARA INSTITUIR E COBRAR O IMPOSTO
SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL URBANA - IPTU -
AUSÊNCIA DE REQUISITO ESSENCIAL DO TÍTULO
EXECUTIVO - RECONHECIMENTO EX OFFICIO PELO
MAGISTRADO - POSSIBILIDADE - EXTINÇÃO DO
PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, NOS TERMOS
DO ART. 267, INC. IV, DO CPC - ALTERAÇÃO DOS
FUNDAMENTOS DA SENTENÇA - RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO - DECISÃO UNÂNIME. Considerando a existência
de litígio entre os Municípios de Aracaju e São Cristóvão, quanto às
suas linhas divisórias, além da impossibilidade de definir se o imóvel
em questão, localizado na área litigiosa, pertence a um ou a outro ente
federativo, forçoso reconhecer que o título executivo em questão não
possui a certeza exigida pela lei, inviabilizando a execução fiscal em
comento. Tratando-se de vício do próprio título executivo, que diz
respeito às condições da ação, pode ser reconhecido em qualquer fase
do processo ou grau de jurisdição, inclusive ex officio pelo
magistrado, por se tratar de matéria de ordem pública” (fl. 78).

Contra esse acórdão o Município de Aracaju interpôs recurso


extraordinário, no qual alega ter o Tribunal de origem contrariado o § 4º
do art. 18 da Constituição da República e o art. 96 do Ato das Disposições

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Constitucionais Transitórias.

Sustenta que “concluir pela inconstitucionalidade da norma da


Constituição Estadual simplesmente por não ter preenchido os requisitos
previstos no art. 18, § 4º é fechar os olhos para a realidade da situação fática
consolidada pelo decurso do tempo no caso concreto, sobretudo desconsiderar o
fato de que o Município Recorrente sempre foi o responsável pelos investimentos
e políticas públicas efetuadas no Povoado Mosqueiro, beneficiando diversos
cidadãos e suas famílias” (fl. 115).

Assevera que “em diversos julgados proferidos por este Supremo Tribunal
Federal ficou assentado que os princípios da segurança jurídica e da continuidade
do estado podem afastar a necessidade de preenchimento de todos os requisitos do
art. 18, § 4º para a alteração dos limites de Municípios” (fl. 115).

Requer:
”a) a integral reforma do acórdão a quo para, declarando a
constitucionalidade do art. 37 do ADCT da Constituição Sergipana,
determinar a competência tributária do Município de Aracaju, no
presente caso, para instituir e cobrar o tributo municipal em questão.
b) subsidiariamente, acaso indeferido o pedido anterior, requer a
declaração de inconstitucionalidade do art. 37 do ADCT da
Constituição Sergipana sem pronúncia de nulidade, a fim de que, em
razão da situação fática consolidada, seja declarada competência do
Município para instituir e cobrar o tributo em análise” (fls. 125-126).

3. O recurso extraordinário foi inadmitido pelo Presidente do


Tribunal de Justiça de Sergipe sob os fundamentos de incidência das
Súmulas ns. 279 e 283 e harmonia do acórdão recorrido com a
jurisprudência deste Supremo Tribunal (fls. 143-146).

Em 6.5.2011, o Presidente do Supremo Tribunal Federal submeteu o


Agravo de Instrumento n. 837.409 à sistemática da repercussão geral.

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Em 26.5.2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a repercussão


geral da questão suscitada no Agravo de Instrumento n. 837.409,
vencidos os Ministros Cezar Peluso, Luiz Fux, Marco Aurélio, Ricardo
Lewandowski e Ayres Britto. Não se manifestaram os Ministros Joaquim
Barbosa e Cármen Lúcia:

“Agravo de instrumento. 2. Direito Tributário. IPTU. Execução


fiscal. Competência tributária ativa. Controvérsia. Declaração de
inconstitucionalidade de dispositivo que definia limites territoriais de
município. 3. Requisitos contidos no art. 18, § 4º, da Constituição
Federal. Mitigação. 4. Discussão quanto à correta aplicação do artigo
96 da CF/88. 5. Repercussão geral reconhecida” (fl. 159).

O Agravo de Instrumento n. 837.409 passou a ser paradigma do


Tema 400 da repercussão geral, pelo qual se dispõe sobre a “legitimidade
ativa para cobrar IPTU referente à área de município em que se controverte
acerca da observância do artigo 18, § 4º, da Constituição Federal no processo de
desmembramento”.

4. Em 28.5.2015, o Agravo de Instrumento n. 837.409 veio-me em


conclusão nos termos do § 3º do art. 324 do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal (fl. 178).

Em 12.9.2016, o Agravo de Instrumento n. 837.409 foi distribuído ao


Ministro Ricardo Lewandowski, nos termos do art. 38 do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal (fl. 179).

A Procuradoria-Geral da República (fl. 180) se manifestou pelo


provimento do recurso extraordinário:
“DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO TRIBUTÁRIO.
EXECUÇÃO FISCAL. CRÉDITOS DE IPTU. LEGITIMIDADE
ATIVA. EMENDA CONSTITUCIONAL. ALTERAÇÃO DE
LIMITES INTERMUNICIPAIS. COMPATIBILIDADE COM A
CONSTITUI-ÇÃO. ART. 18, § 42, DA CRFB E ART. 96 DE SEU

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RESPECTIVO ADCT. PROVIMENTO DO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. 1 - Proposta de tese de repercussão geral
(Tema 400): Ainda que não preenchidos os requisitos exigidos pelo art.
18, § 42, da Constituição da República, a compatibilidade do ato de
criação, fusão, incorporação ou desmembramento com o art. 96 do
respectivo Ato das Disposições Constituições Transitórias confere ao
município legitimidade ativa para a execução fiscal de créditos de
tributos municipais relativos a bens imóveis situados em áreas que,
segundo a Constituição Estadual, integram seu respectivo território. 2
- É compatível com a Constituição Federal, em razão do art. 96 de seu
ADCT, a Emenda à Constituição do Estado de Sergipe n. 16, que,
promulgada em 1999, alterou os limites intermunicipais no âmbito
daquele Estado. 3 - Parecer pelo provimento do recurso
extraordinário” (fl. 184).

5. Em 27.9.2017, o Ministro Ricardo Lewandowski submeteu o


processo à Presidente do Supremo Tribunal para decidir sobre eventual
redistribuição, nos termos do § 3º do art. 324 do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal (doc. 202).

Em 18.12.2017, com a exclusão dos Ministros Luiz Fux, Marco


Aurélio e Ricardo Lewandowski, este recurso foi distribuído ao Ministro
Dias Toffoli (doc. 207).

Em 11.9.2018, o Ministro Dias Toffoli deu provimento ao Agravo de


Instrumento n. 837.409 “e, sendo suficientes as peças trasladadas, determino[u]
sua conversão em recurso extraordinário, devendo a Secretaria Judiciária,
considerando a incorporação noticiada, proceder a alteração da autuação” (fl.
209).

Em 25.10.2018, o Agravo de Instrumento n. 837.409 foi reautuado


como Recurso Extraordinário n. 1.171.699, substituindo o paradigma da
repercussão geral (Tema 400).

Em 31.10.2018, o presente recurso veio-me em conclusão nos termos

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RE 1171699 / SE

do art. 38 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (fl. 211).


É o Relatório.

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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29/11/2019 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.171.699 SERGIPE

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (Relatora):

1. Razão jurídica não assiste ao recorrente.

2. Na espécie em exame, discute-se a legitimidade ativa do


Município de Aracaju para cobrar Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana – IPTU de imóveis localizados no povoado de
Mosqueiro/SE, após a declaração de inconstitucionalidade do art. 37 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de
Sergipe.

No Tema 400 da repercussão geral, põe-se em foco a “legitimidade


ativa para cobrar IPTU referente à área de município em que se controverte
acerca da observância do artigo 18, § 4º, da Constituição Federal no processo de
desmembramento”.

O recorrente sustenta que “concluir pela inconstitucionalidade da norma


da Constituição Estadual simplesmente por não ter preenchido os requisitos
previstos no art. 18, § 4º é fechar os olhos para a realidade da situação fática
consolidada pelo decurso do tempo no caso concreto, sobretudo desconsiderar o
fato de que o Município Recorrente sempre foi o responsável pelos investimentos
e políticas públicas efetuadas no Povoado Mosqueiro, beneficiando diversos
cidadãos e suas famílias” (fl. 115). Pontua ter o Supremo Tribunal afastado
os requisitos previstos no § 4º do art. 18 da Constituição quando
”presentes princípios autorizadores da situação fática consolidada” (fl. 117).

3. No art. 37 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da


Constituição de Sergipe, julgado inconstitucional pelo Tribunal de Justiça,
dispõe-se:

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RE 1171699 / SE

“Art. 37. Fica alterada a delimitação do Município de Aracaju


com o Município de São Cristóvão a partir do Pontal N da barra do
rio Vaza-Barris, que passa a ter a seguinte descrição: inicia na foz do
rio Vaza-Barris seguindo seu curso até o talvegue do mesmo rio no
fundo da Capela Bom Jesus dos Navegantes no povoado Areia Branca;
daí em linha reta até o marco do Mondé da Onça na estrada da
Cabrita; daí em linha reta ao marco nas cabeceiras do riacho Palame,
somente até o ponto em que esta reta corta o rio Poxim” (Redação
original).

“Art. 37. Fica alterada a delimitação do Município de Aracaju


com o Município de São Cristóvão a partir do Pontal N da barra do
rio Vaza-Barris, que passa a ter a seguinte descrição: inicia na foz do
rio Vaza-Barris seguindo seu curso pelo talvegue até o encontro das
águas do seu afluente Santa Maria, seguindo pelo talvegue deste até o
ponto em frente à Capela Bom Jesus dos Navegantes no povoado Areia
Branca; daí em linha reta até o marco do Mondé da Onça na estrada
da Cabrita; daí em linha reta ao marco nas cabeceiras do riacho
Palame, somente até o ponto em que esta reta corta o rio Poxim.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16/99, de 30 de junho
de 1999)
§ 1º. Ficam, em consequência, alterados os limites do Município
de Aracaju com o Município de São Cristóvão a partir do Mondé da
Onça, que passa a ter a seguinte descrição: linha reta a partir do
Mondé da Onça até o talvegue do rio Santa Maria em frente à Capela
Bom Jesus dos Navegantes no povoado Areia Branca; rio Santa Maria
até o encontro das águas do rio Vaza-Barris, seguindo pelo talvegue
deste até sua foz no oceano Atlântico. (Anterior Parágrafo Único –
passou a ser § 1º pela Emenda Constitucional nº 16/99, de 30 de
junho de 1999)
§ 2º. Com a alteração estabelecida neste artigo, ficam situados
no território do Município de Aracaju as localidades denominadas
povoado Mosqueiro, povoado Areia Branca, povoado São José, povoado
Robalo e povoado Terra Dura, neste compreendendo as localidades
Lixeira da Terra Dura e núcleos habitacionais Santa Maria, Maria do

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RE 1171699 / SE

Carmo Alves e Antônio Carlos Valadares. (Acrescentado pela Emenda


Constitucional nº 16/99, de 30 de junho de 1999)” .

No § 4º do art. 18 da Constituição da República se dispõe:

“Art. 18. A organização político-administrativa da República


Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta
Constituição. (…)
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de
Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado
por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após
divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e
publicados na forma da lei ”.

No art. 96 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da


Constituição da República, tem-se que ”ficam convalidados os atos de
criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha
sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos
na legislação do respectivo Estado à época de sua criação”.

4. Em 2.8.2010, neguei seguimento ao Recurso Extraordinário n.


611.261, interposto pelo Município de Aracaju, ao seguinte fundamento:

“4. O Tribunal a quo fundamentou sua decisão na declaração


de inconstitucionalidade do art. 37 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição de Sergipe. Declarou
esse artigo inconstitucional por ausência da previsão de plebiscito para
a incorporação territorial determinada, configurando-se assim, o
descumprimento do quanto preceituado no art. 18, § 4º, da
Constituição da República.
É de se realçar que a exigência da realização de plebiscito
constava na redação originária do art. 18, § 4º, da Constituição,
manteve-se na alteração determinada pela Emenda Constitucional n.

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RE 1171699 / SE

15/1996 e, ainda, subentende-se prevista na norma do artigo 96


inserida no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição da República pela Emenda Constitucional n. 57/2008,
segundo a qual:
‘Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão,
incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha
sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os
requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à
época de sua criação’.
Parece claro que a convalidação da criação de municípios por leis
editadas até 31.12.2006 aludiria à inexistência da lei complementar
federal à qual se refere o art. 18, § 4º, da Constituição da República
com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 15/1996, mas não
teria dispensado a realização de consulta prévia às populações dos
Municípios envolvidos. Até mesmo porque as legislações estaduais
para serem constitucionalmente válidas deveriam conter a previsão do
plebiscito já estabelecida pela Constituição desde a redação originária
do art. 18, § 4º. (...)
5. Tem-se, portanto, que, ao contrário do que sustentado pelo
Recorrente, o caso em análise não se enquadra na situação descrita no
art. 96 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, pois o
povoado Mosqueiro foi anexado ao Município de Aracaju sem a
consulta às populações interessadas.
Essa condição já era exigida desde a promulgação da
Constituição do Estado de Sergipe (1989), da Emenda Constitucional
n. 16/1999 à Constituição estadual e mantém-se para a convalidação
determinada pela Emenda à Constituição da República n. 57/2008.
6. Sob a perspectiva de situação consolidada pelo decurso do
tempo, também não se faz possível acolher a pretensão do Recorrente.
É certo que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
firmou-se no sentido da inconstitucionalidade das normas estaduais
que, editadas após a Emenda Constitucional n. 15/1996, tenham
criado municípios apesar da inexistência da lei complementar federal à
qual se refere a emenda constitucional. Confiram-se os seguintes
julgados: ADI 2.702, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ
6.2.2004; ADI 2.632-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal

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RE 1171699 / SE

Pleno, DJ 29.8.2003; e ADI 2.381-MC, Rel. Min. Sepúlveda


Pertence, Tribunal Pleno, DJ 14.12.2001.
É certo, também, que o Supremo Tribunal Federal prestigiou o
princípio da segurança jurídica quando a situação fática se apresentou
de tal forma estabilizada pelo decurso do tempo que a modificação do
status quo traria maior prejuízo que a manutenção da norma
inconstitucional. Todavia, também nesses casos foi cumprida a
exigência da consulta prévia às populações que seriam atingidas pela
alteração territorial: ADI 3.689, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno,
DJe 29.6.2007; ADI 3.682, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal
Pleno, DJe 6.9.2007; e ADI 2.240, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal
Pleno, DJe 3.8.2007.
Na espécie vertente, como já asseverado, não houve a
indispensável consulta prévia às populações dos municípios
envolvidos” (DJe 9.8.2010).

A exigência da realização de plebiscito, conforme se determina no §


4º do art. 18 da Constituição da República, não foi suspensa pelo art. 96,
inserido no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição pela Emenda Constitucional n. 57/2008. Esse entendimento
tem sido observado pelo Supremo Tribunal Federal. Assim, por exemplo:

“Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 3.196, de 15 de


março de 1999, do Estado do Rio de Janeiro. Alteração dos limites
territoriais dos Municípios de Cantagalo e de Macuco. Violação do art.
18, § 4º, da Constituição Federal. Precedentes. Ausência de
convalidação pela Emenda Constitucional nº 57/2008. Lei nº 2.497, de
28 de dezembro de 1995, do Estado do Rio de Janeiro. Controle de
norma de direito pré-constitucional por ação direta. Impossibilidade.
Não conhecimento. Ação da qual se conhece parcialmente e a qual se
julga parcialmente procedente.1. A Lei nº 3.196/1999 estabeleceu
novos limites territoriais para os Municípios de Cantagalo e Macuco
sem que fossem observadas as disposições do art. 18, § 4º, da
Constituição Federal, inclusive sem a realização da imprescindível
consulta popular. A jurisprudência da Corte se consolidou no sentido
de que os requisitos constitucionais previstos no art. 18, § 4º, da Lei

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Maior devem ser sempre observados, mesmo quando não se trate


propriamente de criação, mas de alteração ou retificação de limites,
especialmente a exigência de realização de consulta plebiscitária.
Precedentes: ADI nº 1.262/TO, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ de
12/12/97; ADI nº 1.034/TO, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de
25/2/2000; ADI nº 2.812/RS, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de
28/11/03; ADI nº 2.632//BA, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de
12/3/04; ADI nº 2.994/BA, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 4/6/04.2. A
Emenda Constitucional nº 57/2008 convalidou os atos de criação,
fusão, incorporação e desmembramento de municípios que tenham
obedecido, cumulativamente, a dois requisitos: 1) publicação da lei até
31 de dezembro de 2006 e 2) atendimento aos requisitos estabelecidos
na legislação do respectivo estado à época de sua criação. Embora
atenda à primeira exigência, a Lei nº 3.196/1999 não atende aos
requisitos estabelecidos na legislação do Estado do Rio de Janeiro
vigente à época de sua criação, os quais exigiam a realização de
consulta prévia, mediante plebiscito, às populações diretamente
interessadas, razão pela qual a lei estadual não restou convalidada pela
Emenda Constitucional nº 57/2008.3. A Lei nº 2.497/1995 ingressou
no ordenamento jurídico sob a vigência do § 4º do art. 18 da
Constituição, com sua redação original. No entanto, na época em que
a presente ação foi proposta, já vigorava a redação dada ao dispositivo
pela EC nº 15/1996, o que põe a questão em termos de um pretendido
controle de norma de direito pré-constitucional via ação direta, oque é
rechaçado por firme jurisprudência da Corte.4. A Lei nº 2.497/1995
foi invalidada por decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Portanto, a declaração de inconstitucionalidade da Lei estadual nº
3.196/1999 restaura os limites territoriais fixados pelos Decretos-Lei
1.055 e 1.056/1943, não se fazendo necessária a modulação dos efeitos
da decisão de declaração de inconstitucionalidade da Lei nº
3.196/1999.5. Ação direta da qual não se conhece relativamente à Lei
estadual nº 2.497, de 28 de dezembro de 1995. Ação julgada
parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade da Lei
nº 3.196, de 15 de março de 1999, do Estado do Rio de Janeiro” (ADI
n. 2.921, Redador para o acórdão o Ministro Dias Toffoli,
Plenário, DJe 22.3.2018).

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5. No § 4º do art. 18 da Constituição da República se estrutura


sistema hermético e complexo de normas para criação, incorporação,
fusão e desmembramento de municípios, a pressupor participação
qualificada do Congresso Nacional pela edição de lei complementar geral
sobre a matéria e plebiscitária dos municípios envolvidos:

“Art. 18. A organização político-administrativa da República


Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta
Constituição. (...)
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de
Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado
por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após
divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e
publicados na forma da lei” (norma alterada pela Emenda
Constitucional n. 15, de 1996).

Ainda que a referida lei complementar não tenha sido editada até a
presente data, configurando norma constitucional de eficácia limitada,
imprime, “em linha de princípio e sempre que possível, a imediata eficácia
negativa” contra disposições que lhe sejam contrárias.

6. O Plenário deste Supremo Tribunal, no julgamento da Ação Direta


de Inconstitucionalidade n. 2967, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence,
decidiu que “a subtração de parte do território de um município substantiva
desmembramento, seja quando a porção desmembrada passe a constituir o âmbito
espacial de uma nova entidade municipal, seja quando for ela somada ao
território de município preexistente”. Esta a ementa do julgado:

“Ação direta de inconstitucionalidade: cabimento contra lei de


criação, incorporação, fusão e desmembramento: jurisprudência do
STF: precedentes. II. Município: desmembramento. A subtração de
parte do território de um município substantiva desmembramento,

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seja quando a porção desmembrada passe a constituir o âmbito


espacial de uma nova entidade municipal, seja quando for ela somada
ao território de município preexistente. III. Município:
desmembramento: EC 15/96: inconstitucionalidade da criação,
incorporação, fusão e do desmembramento de municípios desde a
promulgação da EC 15/96 e até que lei complementar venha a
implementar sua eficácia plena, o que, entretanto, não ilide a imediata
revogação do sistema anterior (precedente: ADInMC 2381, 20.06.01,
Pertence, DJ 24.5.2002). IV. Município: desmembramento:
exigibilidade de plebiscito. Seja qual for a modalidade de
desmembramento proposta, a validade da lei que o efetive estará
subordinada, por força da Constituição, ao plebiscito, vale dizer, à
consulta prévia das "populações diretamente interessadas" - conforme
a dicção original do art. 18, § 4º - ou "às populações dos Municípios
envolvidos" - segundo o teor vigente do dispositivo” (DJ 19.3.2004).

Confiram-se também os seguintes precedentes:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


ALTERAÇÃO DE LIMITES DE MUNICÍPIOS IMPUGNADA A
VISTA DO DISPOSTO NO ARTIGO 18, PARAGRAFO 4., DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. OCORRENCIA DA RELEVÂNCIA
DOS FUNDAMENTOS JURIDICOS DO PEDIDO E DO
'PERICULUM IN MORA'. DESPACHO CONCESSIVO DE
LIMINAR REFERENDADO PELO PLENÁRIO DA CORTE”
(ADI n. 188-MC, Relator o Ministro Moreira Alves, Plenário, DJ
16.3.1990).

“Municípios – Limites – Alteração – Formalidade. A alteração


dos limites territoriais de municípios não prescinde da consulta
plebiscitária prevista no artigo 18 da Constituição Federal, pouco
importando a extensão observada” (ADI n. 1.034, Relator o
Ministro Marco Aurélio, DJ 24.3.1997).

Com esse mesmo entendimento, em diversos julgados foi declarada


a inconstitucionalidade de leis estaduais redefinidoras de limites

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territoriais de municípios:

“I. Ação direta de inconstitucionalidade: objeto idôneo: lei de


criação de município. Ainda que não seja em si mesma uma norma
jurídica, mas ato com forma de lei, que outorga status municipal a
uma comunidade territorial, a criação de Município, pela generalidade
dos efeitos que irradia, é um dado inovador, com força prospectiva, do
complexo normativo em que se insere a nova entidade política: por
isso, a validade da lei criadora, em face da Lei Fundamental, pode ser
questionada por ação direta de inconstitucionalidade: precedentes. II.
Norma constitucional de eficácia limitada, porque dependente de
complementação infraconstitucional, tem, não obstante, em linha de
princípio e sempre que possível, a imediata eficácia negativa de
revogar as regras preexistentes que sejam contrárias. III. Município:
criação: EC 15/96: plausibilidade da arguição de inconstitucionalidade
da criação de municípios desde a sua promulgação e até que lei
complementar venha a implementar sua eficácia plena, sem prejuízo,
no entanto, da imediata revogação do sistema anterior. É certo que o
novo processo de desmembramento de municípios, conforme a EC
15/96, ficou com a sua implementação sujeita à disciplina por lei
complementar, pelo menos no que diz com o Estudo de Viabilidade
Municipal, que passou a reclamar, e com a forma de sua divulgação
anterior ao plebiscito. É imediata, contudo, a eficácia negativa da nova
regra constitucional, de modo a impedir - de logo e até que advenha a
lei complementar - a instauração e a conclusão de processos de
emancipação em curso. Dessa eficácia imediata só se subtraem os
processos já concluídos, com a lei de criação de novo município. No
modelo federativo brasileiro - no ponto acentuado na Constituição de
1988 - os temas alusivos ao Município, a partir das normas atinentes
à sua criação, há muito não constituem - ao contrário do que, na
Primeira República, pudera sustentar Castro Nunes (Do Estado
Federado e sua Organização Municipal, 2ª ed., Câmara dos
Deputados, 1982, passim) - uma questão de interesse privativo do
Estado-membro. Ente da Federação (CF, art. 18), que recebe
diretamente da Constituição Federal numerosas competências comuns
(art. 23) ou exclusivas (art. 30) - entre elas a de instituir e arrecadar

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tributos de sua área demarcada na Lei Fundamental (art. 156) - além


de direito próprio de participação no produto de impostos federais e
estaduais (art. 157-162) - o Município, seu regime jurídico e as
normas regentes de sua criação interessam não apenas ao Estado-
membro, mas à estrutura do Estado Federal total” (ADI n. 2.381-MC,
Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ 14.12.2001).

“CONSTITUCIONAL. MUNICÍPIOS:
DESMEMBRAMENTO: PLEBISCITO: EXIGIBILIDADE. Lei
11.599/2001, do Rio Grande do Sul. C.F., art. 18, § 4º. I. - Seja qual
for a modalidade de desmembramento, exige-se o plebiscito ou a
consulta prévia às populações diretamente interessadas, ou "às
populações dos Municípios envolvidos". C.F., art. 18, § 4º. Lei
11.599/2001, do Rio Grande do Sul: inconstitucionalidade. II. - ADI
julgada procedente” (ADI n. 2.812, Relator o Ministro Carlos
Velloso, Plenário, DJ 28.11.2003).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


ESTADUAL 12949/00. CRIAÇÃO OU DESMEMBRAMEMTO
DE MUNICÍPIO. ADMISSIBILIDADE. LIMITES
TERRITORIAIS. ALTERAÇÕES. HIPÓTESE DE
DESMEMBRAMENTO. CONSULTA PRÉVIA À POPULAÇÃO
ATINGIDA. INOBSERVÂNCIA. PROMULGAÇÃO DA EC 15/96.
EXIGÊNCIA DA EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR. 1. Criação
ou desmembramento de municípios. Ação direta de
inconstitucionalidade. Adequação da via processual eleita para
impugnação da lei estadual que os autoriza. Precedentes. 2.
Desmembramento de município. Necessidade de consulta prévia à
população interessada. Inobservância. Afronta ao artigo 18, § 4o, da
Constituição Federal. Precedentes. 3. Emenda Constitucional 15/96.
Criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios, nos
termos da lei estadual, dentro do período determinado por lei
complementar e após divulgação dos Estudos de Viabilidade
Municipal. Inexistência da lei complementar exigida pela
Constituição Federal. Desmembramento de município com base
somente em lei estadual. Impossibilidade. Ação Direta de

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Inconstitucionalidade julgada procedente para declarar


inconstitucional a Lei 12949, de 25 de setembro de 2000, do Estado do
Paraná” (ADI n. 2.702, Relator o Ministro Maurício Corrêa,
Plenário, DJ 6.2.2004).

“AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


8.264/02, DO ESTADO DA BAHIA. REDEFINIÇÃO DOS
LIMITES TERRITORIAIS DO MUNICÍPIO DE SALINAS DA
MARGARIDA. DESMEMBRAMENTO DE PARTE DE
MUNICÍPIO E INCORPORAÇÃO DA ÁREA SEPARADA AO
TERRITÓRIO DA MUNICIPALIDADE LIMÍTROFE, TUDO
SEM A PRÉVIA CONSULTA, MEDIANTE PLEBISCITO, DAS
POPULAÇÕES DE AMBAS AS LOCALIDADES. OFENSA AO
ART. 18, § 4º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1 - Pesquisas de
opinião, abaixo-assinados e declarações de organizações comunitárias,
favoráveis à criação, à incorporação ou ao desmembramento de
município, não são capazes de suprir o rigor e a legitimidade do
plebiscito exigido pelo § 4º do art. 18 da Carta Magna. 2 - O
descumprimento da exigência plebiscitária tem levado este Supremo
Tribunal Federal a declarar, por reiteradas vezes, a
inconstitucionalidade de leis estaduais "redefinidoras" dos limites
territoriais municipais. Precedentes: ADI 2.812, Rel. Min. Carlos
Velloso, julg. em 09.10.2003, ADI 2.702, Rel. Min. Maurício Corrêa,
julg. 05.11.2003 e ADI 2.632-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ
29.08.2003. 3 - As questões relativas à idoneidade da lei de criação de
município como objeto do controle concentrado e às consequências da
eficácia limitada da norma inscrita no art. 18, § 4º da CF, já foram
suficientemente equacionadas no julgamento cautelar da ADI 2.381,
Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14.12.2001. Ações diretas de
inconstitucionalidade julgadas procedentes” (ADI n. 2.994, Relatora
a Ministra Ellen Gracie, Plenário, DJe 4.6.2004).

“DIREITO CONSTITUCIONAL. MUNICÍPIO.


ALTERAÇÕES: ATO NORMATIVO (ART. 102, I, ‘a’, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL). PLEBISCITO: ART. 18, § 4 , DA
C.F. 1. É ato normativo, impugnável mediante Ação Direta de

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Inconstitucionalidade, Lei estadual que altera outra Lei, quanto à


origem do desmembramento, à área, aos limites e às confrontações de
município. (Precedente: ADI 733). 2. É inconstitucional essa Lei, se
realiza tais alterações, sem a consulta plebiscitária de que trata o § 4º
do art. 18 da Constituição Federal. Precedente. 3. Rejeitada a
preliminar suscitada pela Advocacia Geral da União, a Ação Direta é
julgada procedente, pelo S.T.F., para o efeito de declarar a
inconstitucionalidade do art. 2 da Lei n 498, de 21.12.1992, do Estado
de Tocantins, na parte em que, dando nova redação ao inciso IX do art.
4 da Lei n 251, de 20.02.1991, alterou a origem do desmembramento,
a área, os limites e as confrontações do Município de Cariri do
Tocantins’” (ADI n. 1.262, Relator o Ministro Sydney Sanches,
Plenário, DJ 12.12.1997).

7. Revela-se redefinição territorial de municípios contíguos, com o


intuito de corrigir os limites fixados nas leis estaduais criadoras, situação
análoga à da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2.967, na qual o
Relator, Ministro Sepúlveda Pertence, assentou que a “lei extraordinária
[da Bahia] em questão não significou desmembramento do município, mas
somente correção técnica dos limites entre os municípios. Tem-se, assim, a defesa
do norma por uma interpretação de direito e por uma interpretação dos fatos”, e
acrescentou:
“A subtração de parte do território de um município substantiva
desmembramento, seja quando a porção desmembrada passe constituir
o âmbito especial de uma nova entidade municipal, seja quando ela for
somada ao território de município preexistente: duas outras exigências
constam no art. 18, § 4º, na redação da EC 15/96, quais sejam, a
consulta prévia mediante plebiscito, à população dos Municípios
envolvidos e a divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal.
Sem adentrar no problema clássico para a teoria do direito, da
legitimidade e da legalidade, claro está que a exigência de plebiscito
espelha a busca pela legitimidade de um ato tão significativo para a
Federação, que é o desmembramento de um ente federado”.

No julgamento da Medida Cautelar da Ação Direta de

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RE 1171699 / SE

Inconstitucionalidade n. 1.143, o Ministro Ilmar Galvão, Relator,


assinalou:

“A alteração de limites entre os territórios de dois municípios


vizinhos encerra a hipótese de desmembramento, cuja efetivação
depende de lei estadual, observados os requisitos da legislação
complementar respectiva, sem prejuízo de prévia consulta plebiscitária
junto às populações diretamente interessadas.
Ausência de plebiscito a demonstrar a plausibilidade da tese de
inconstitucionalidade que, associada à conveniência de serem
afastadas as consequências inerentes à alteração do status quo político-
institucional, especialmente para o cotidiano dos habitantes da
localidade, justifica a suspensão da lei até o julgamento final do
processo. Medida cautelar deferida” (DJ 21.10.1994).

Na espécie, o resultado efetivo da norma impugnada é a alteração da


demarcação legal entre os dois municípios, com o consequente prejuízo
de dimensão territorial de um em favor do outro, sem o necessário
assentimento popular (ADI n. 2.967, Relator o Ministro Sepúlveda
Pertence, DJ 19.3.2004).

8. Na sessão de 22.11.2000, o art. 37 do Ato das Disposições


Constitucionais Transitórias da Constituição de Sergipe foi declarado
inconstitucional pelo Tribunal de Justiça daquele estado no julgamento de
incidente de inconstitucionalidade, cessando eventual dúvida quanto à
competência para instituir e cobrar Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana – IPTU de imóveis localizados no povoado de
Mosqueiro/SE:

“Constitucional - Emenda Constitucional - Redação originária


de 89 - Municípios - Limites -Alteração – Plebiscito. I A nova redação
dada pela emenda constitucional n. 16/99 ao art. 37 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado
de Sergipe, acrescentando o § 2º não alterou os limites entre os
municípios de São Cristóvão e Aracaju, mas apenas enumerou alguns

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povoados que pertencem a Aracaju, dentro dos limites já traçados pela


redação originaria do dispositivo questionado; II A redação originária
do art. 37 e de seu parágrafo único, do ADCT da Constituição
Estadual de 89 também deve ter sua constitucionalidade analisada,
tendo em vista que alterou os limites do sul do município de Aracaju;
III A alteração dos limites efetuada pela redação originária de 89 deve
obedecer os requisitos essenciais impostos pelo art. 18, § 4º, da
Constituição Federal, sendo imprescindível a realização de consulta
prévia mediante plebiscito às populações diretamente interessadas;
IV- Diante da inconstitucionalidade dos limites fixados pela redação
originária, do art. 37 e seu parágrafo único, prejudicado está o § 2º
acrescentado pela emenda 16/99, porque não há como esclarecer
aqueles limites; V Incidente conhecido, para declarar a
Inconstitucionalidade da da redação originária do art. 37 e de seu
parágrafo único, do ADCT da Constituição Estadual” (fl. 131).

Na espécie em exame, o Tribunal de Justiça assentou que a alteração


dos limites territoriais pelo art. 37 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição de Sergipe não atendeu o § 4º do art. 18 da
Constituição da República, pois faltou a imprescindível realização de
consulta prévia por plebiscito às populações diretamente interessadas.

Passados quase dezenove anos da declaração da


inconstitucionalidade do art. 37 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição de Sergipe, não verifico a existência de
situação excepcional a afastar os requisitos do § 4º do art. 18 da
Constituição da República para a incorporação do povoado de
Mosqueiro/SE ao Município de Aracaju.

9. Compete ao município onde o imóvel está localizado instituir e


cobrar o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana –
IPTU, nos termos do inc. I do art. 156 da Constituição da República.

Declarada inconstitucional a incorporação do povoado de


Mosqueiro ao Município de Aracaju/SE, a legitimidade para cobrar

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Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU de


imóveis localizados no povoado de Mosqueiro/SE seria do Município de
São Cristóvão/SE, como assentado pelo Tribunal de origem.

10. Pelo exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso


extraordinário e fixo a seguinte tese:

“A exigência da realização de plebiscito, conforme se determina no § 4º do


art. 18 da Constituição da República, não foi afastada pelo art. 96, inserido no
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição da República
pela Emenda Constitucional n. 57/2008, sendo ilegítimo o município ocupante
para cobrar o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU
nos territórios indevidamente incorporados”.

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Extrato de Ata - 29/11/2019

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.171.699


PROCED. : SERGIPE
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
RECTE.(S) : MUNICÍPIO DE ARACAJU
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE ARACAJU
RECDO.(A/S) : LOTEPLAN
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, apreciando o tema 400 da


repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário, nos
termos do voto da Relatora. O Ministro Dias Toffoli (Presidente)
acompanhou a Relatora com ressalvas. Foi fixada a seguinte tese:
“A exigência da realização de plebiscito, conforme se determina no
§ 4º do art. 18 da Constituição da República, não foi afastada
pelo art. 96, inserido no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição da República pela Emenda
Constitucional n. 57/2008, sendo ilegítimo o município ocupante
para cobrar o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial
Urbana - IPTU nos territórios indevidamente incorporados”.
Plenário, Sessão Virtual de 22.11.2019 a 28.11.2019.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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