Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Assistência Multiprofissional À Mulher Vítima de Violência PDF
Assistência Multiprofissional À Mulher Vítima de Violência PDF
Daniela Anderson Carvalho Costa¹, Juliana Freitas Marques2, Karla de Abreu Peixoto Moreira3, Linicarla Fabíole de
Souza Gomes4, Ana Ciléia Pinto Teixeira Henriques5, Ana Fátima Carvalho Fernandes6
RESUMO: Objetivou-se identificar o papel de profissionais atuantes em serviço de referência à mulher vítima de violência
e descrever as dificuldades encontradas. Estudo descritivo, qualitativo, realizado em centro de referência em atendimento à
vítimas de violência, em Fortaleza-Ceará, entre setembro e outubro de 2009. Foram entrevistados 20 profissionais atuantes
no serviço, cujos dados foram coletados e analisados, conforme a técnica de análise de narrativas. Os resultados mostram que
as mulheres seguiam fluxo de atendimento por meio da equipe multidisciplinar, com a assistência de profissionais de nível
elementar, médio e superior. Os profissionais enfatizaram diversos obstáculos relacionados à ressocialização das vítimas, a não
aceitação de acompanhamento psicológico e a escassez de recursos humanos. Enfatiza-se a necessidade de maior interação da
rede de saúde com os serviços de referência, proporcionando a reestruturação emocional e social da mulher vítima de violência.
DESCRITORES: Saúde da mulher; Violência doméstica; Equipe de assistência ao paciente.
1
Enfermeira do Centro de Atenção Psicossocial da Prefeitura Municipal de Fortaleza- Ceará. Especialista em Gestão dos Sistemas e Serviços de
Saúde e Saúde da Família.
2
Enfermeira. Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas - Campus de Arapiraca.
3
Enfermeira Obstetra da Maternidade Escola Assis Chateaubriand da Universidade Federal do Ceará – MEAC UFC e da Secretaria Estadual de
Saúde do Ceará. Doutoranda em Enfermagem pela UFC. Professora da Faculdade Metropolitana de Fortaleza - FAMETRO. Líder do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Enfermagem Obstétrica- GEPEO.
4
Enfermeira da MEAC UFC. Mestre em Enfermagem. Doutorando em Enfermagem pela UFC. Professora da FAMETRO.
5
Enfermeira. Mestre em Saúde Pública. Professora da FAMETRO. Coordenadora do GEPEO.
6
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da UFC.
estes, um enfermeiro, dois psicólogos, um sociólogo, O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
uma psicopedagoga, uma assistente social, um gine- Pesquisa da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand
cologista, quatro defensores públicos, duas recepcio- (CEP/MEAC/UFC), conforme parecer n. 070/09. Para
nistas, quatro vigilantes, dois servidores gerais e dois efetivação da pesquisa, houve consentimento dos
motoristas. A parte administrativa era subdividida em participantes, por meio da assinatura do Termo de
três cargos: um chefe de unidade, um chefe de seção e Consentimento Livre e Esclarecido. As narrativas dos
uma diretora geral. profissionais foram identificadas pela letra “P”, seguida
Participaram da pesquisa os profissionais vincu- de um número cardinal (1, 2...20).
lados à instituição, com exceção da socióloga, que se
encontrava de licença; de dois vigilantes noturnos, RESULTADOS
uma vez que os mesmos não tinham contato com a
rotina do Centro de Referência; e de uma defensora Contexto da Assistência Multiprofissional em Cen-
pública, por estar sempre em atendimento. Ao final, tro de Referência
20 profissionais, de nível elementar, médio e superior,
que faziam parte da equipe interativa da instituição, O centro de referência, lócus do estudo, constitui
constituíram o corpus da pesquisa. um local que oferece suporte para que as mulheres
A coleta de dados foi realizada por meio de en- vítimas de violência possam ter amparo, tanto emo-
trevista semiestruturada, no próprio serviço, entre cional como jurídico. Para atendimento qualificado
setembro e outubro de 2009. Os dados qualitativos e holístico, as vítimas seguem determinado fluxo de
foram analisados pela técnica de análise de narrati- atendimento, passando pelos vários profissionais da
vas, na qual se considera a narrativa da entrevista em equipe multidisciplinar.
detalhes e de acordo com o contexto de vida. Ao chegar, as mulheres são encaminhadas à recep-
A entrevista narrativa compreende cinco passos: ção, local em que é preenchida uma ficha específica,
preparação do campo, com informações sobre o uso reportando os dados de identificação da vítima. As
do gravador e orientações ao entrevistado; fase de ini- narrativas a seguir demonstram como os profissionais
ciação, com formulação das questões norteadoras para que atuavam na recepção da instituição percebiam a
narração; narração central, cuja informante narrará sequência do fluxo de atendimento, ao descreverem
sobre as questões solicitadas; fase de questionamentos, seus papéis.
na qual poderão ser utilizadas perguntas que possam
estimular o entrevistado para o surgimento de algo [...] eu faço o primeiro acolhimento, que é preencher
novo; fase conclusiva, em que será desligado o gravador uma ficha com os dados e depois dessa ficha, eu vou
e realizadas perguntas do tipo 'por quê?'(9). encaminhá-la ou à assistente social, primeiramen-
Para análise das informações, utilizou-se a técnica te, ou depois à defensoria e após elas virem de um
de análise de narrativas. Ao se obter as primeiras in- desses setores, eu marco para a psicologia, porque,
formações, estas se processaram mediante os seguintes independentemente da situação, elas têm direito como
procedimentos: as entrevistas foram transcritas na usuário à defensoria, à assistente social e, também,
íntegra, transformadas em um texto; leitura do material à psicologia. No caso de alguma coisa mais urgente,
e transformação nas unidades de análise; foram inicia- elas estejam precisando de ginecologista ou dentista,
das a interpretação com a leitura de cada unidade de ou um caso mais sério, a gente faz o encaminhamento
análise; releitura atenta para identificação das unidades por aqui tipo CAPS [Centro de Atenção Psicossocial]
de significação, no contexto da compreensão de cada ou para elas serem atendidas nos hospitais de refe-
narrativa, as quais foram codificadas de acordo com rência. (P2)
o sentido expresso; do agrupamento das unidades de
significações, formaram-se as unidades de sentido, Em seguida, as mulheres são encaminhadas para
interpretadas no diálogo com autores(9). o acolhimento grupal, instituído por um trabalho com
No estudo em questão, foram estabelecidas duas dinâmicas de grupo, realizado por uma psicopedago-
unidades de sentido a partir das unidades de significa- ga, como forma de promover maior interação entre as
ção: contexto da assistência multiprofissional no centro mulheres, e momento de descontração, uma vez que
de referência; dificuldades encontradas pela equipe estas chegam ansiosas, temerosas e preocupadas. O
multiprofissional do centro de referência. foco principal é o resgate inicial da autoestima:
[...] é desenvolvido desde um acolhimento permanente O centro de referência contava, ainda, com outros
em situação de qualquer tipo de violência ocorrida por profissionais que, mesmo de forma indireta, atuavam na
sua condição de mulher, promovendo meios através de assistência à mulher. Dentre os profissionais, destacou-
dinâmicas de grupo e oportunizando o fortalecimento -se o motorista da defensoria, que fazia o percurso da
da autoestima que é o ponto que eu [psicopedagoga] Delegacia para o Centro ou vice-versa, trazendo as
vou abrangendo mais. (P5) mulheres para atendimento na instituição.
Após o acolhimento em grupo, as vítimas são enca- A orientação que me deram sobre o trajeto, de tanto levar as
minhadas ao atendimento individual. Os profissionais mulheres do Centro para Delegacia da Mulher como para
responsáveis por esse atendimento são enfermeiro, as- trazer, é ter o respeito que a gente sempre tem que ter, por-
sistente social ou psicólogo, que procuram transmitir à que são mulheres sofridas entendeu, são mulheres que pre-
vítima da violência compreensão empática, na tentativa cisa de um certo tratamento. Então, eu sou orientado a quê,
de reduzir as barreiras colocadas por elas. a trazer para cá [Centro] sem perguntar, sem forçar mais
alguma coisa com essas pessoas porque são pessoas já so-
[...] no acolhimento, eu gosto de receber as mulheres fridas que vêm já para resolver seus problemas e tudo mais,
logo na entrada, eu gosto assim, que elas se sintam e de repente, se você vai perguntar alguma coisa pode cau-
muito à vontade, eu gosto que elas se sintam muito sar um constrangimento um pouco maior para elas. (P17)
protegidas, eu gosto de recebê-las na porta, com
atenção, com carinho, para elas se sentirem realmente Esse profissional era orientado quanto à questão da
bem à vontade e que ela possa contar a sua história e violência e de como tratar as usuárias que chegavam
a gente tentar ajudar dentro do que a gente tenha as para atendimento, nos limites impostos pela instituição.
condições. (P7)
Dificuldades encontradas pela Equipe Multiprofis-
Esse acolhimento é fazer com que a mulher se sinta sional do Centro de Referência
bem à vontade, falando sobre a história de vida dela,
para que posteriormente ela vá para os outros pro- A maioria dos profissionais que trabalhava com as
fissionais [...]. A gente faz com que ela tente perceber vítimas de violência, relatava dificuldade no desenvol-
através do olhar, do suporte, como ela se encontra [...]. vimento das ações, constituindo-se, muitas vezes, em
(P10) obstáculos ao atendimento. Uma das dificuldades citadas
pelos profissionais foi a barreira formada pela própria
Além dos serviços na área da saúde, o centro dis- vítima que, geralmente, vem embutida de vergonha,
punha de atendimento jurídico. Na defensoria pública, constrangimento, insegurança, medo, sendo este refe-
era realizado trabalho de orientação sobre os serviços rido como o principal empecilho ao atendimento.
disponíveis na rede de atendimento para essas mulhe-
res, além de consultoria jurídica. A primeira dificuldade que a gente encontra realmente
é quebrar a barreira do silêncio, do medo, da vergo-
Aqui na defensoria, a gente presta toda orientação, nha, do constrangimento, da insegurança [...]. (P12)
consultoria na área jurídica, tanto criminal como
cível sobre os direitos das mulheres em situação de A principal dificuldade mesmo é o medo que elas têm,
violência, orientando sobre como fazer, o que deve o receio de não dar certo, de virem, de falarem, o medo
ser feito, que tipos de serviços existem na rede de dele também, da agressividade, do comportamento
atenção às mulheres em situação de violência. Nós dele, da reação. (P1)
fazemos encaminhamento, diagnosticamos quando é
caso de abrigamento [...]. Também nós orientamos no Outro obstáculo relatado pelos profissionais que
tocante ao pedido de medidas protetivas da Lei Maria trabalhavam no serviço referiu-se à ausência de rede
da Penha e sobre todos os direitos que a mulher vítima de apoio que ofereça oportunidades a essas mulheres
de violência tem, juntamente com os filhos, para que para que estas sejam ressocializadas.
ela possa romper o ciclo da violência com tranquili-
dade e se sinta realmente apoiada, acolhida na sua [...] a mulher, às vezes, não tem uma condição financei-
demanda. (P8) ra apropriada, ela é muito dependente, tanto emocio-
nal como psicológica e financeiramente do esposo, boa o anticoncepcional de urgência, ela corre o risco de
parte delas [...] aí que a gente tenta buscar, encaminhar engravidar e isso é uma coisa que a gente tenta evitar
para alguma assistente social para que ela possa o máximo possível. Às vezes, a gente está desprovida
arranjar, assim, algum curso, alguma coisa, tirá-la da medicação, do profissional, no caso a ginecologista
desse ambiente assim tão sofrido, é muito difícil. (P4) [...] e assim não deixa de ter algumas dificuldades. (P11)
Reconhece-se, pois, a necessidade de programas so- Outra dificuldade apontada a seguir remete às
ciais que disponibilizem cursos profissionalizantes e con- deficiências da rede de saúde. Os profissionais detec-
tribuam para autonomia financeira de mulheres vítimas de taram necessidades que, de imediato, não poderiam ser
violência, como forma de amenizar o problema vivenciado. resolvidas no contexto do centro de referência, havendo
Os profissionais que realizavam apoio psicoló- a necessidade de encaminhamento para outros serviços
gico/emocional encontravam, na maioria das vezes, do Sistema Único de Saúde (SUS).
resistência das mulheres em aceitar esse serviço pelo
preconceito das vítimas ao associarem, erroneamen- É realmente muito conflitante na hora em que a gente
te, o suporte psicológico ao transtorno mental, como está trabalhando, porque nós trabalhamos com uma
depoimento: rede de apoio e essa rede de apoio nem sempre é o
apoio que aquela mulher está precisando [...] então,
[...] outra dificuldade é a não aceitação dela mesma: causa certa angústia quando você chega a um nível
“Não, eu não quero psicólogo, eu não preciso de psicó- de tanta discussão e de tanto correr e você não está
logo”. É aquele preconceito e aquela falsa ideia de que encontrando o outro braço do atendimento da assis-
o psicólogo é só para doido, então há uma resistência, tência à mulher. (P10)
e não chegam a entrar em contato com elas, com o seu
verdadeiro eu. (P1) DISCUSSÃO
Desta forma, as experiências com grupos de reflexão melhor acompanhamento. Estima-se que a maioria
confirmam seu valor em fortalecer a autoestima entre das mulheres vítimas de violência não registre queixa
as participantes(12). por se sentirem humilhadas, ou por medo da reação
Por meio dos relatos, evidenciou-se, ainda, o acolhi- do parceiro, dos familiares, dos amigos, dos vizinhos
mento individual como forma de garantir a continuidade e das autoridades, sendo também comum a ameaça do
da assistência, cujos profissionais devem estar prepara- agressor, caso seja revelado o ocorrido(12).
dos e capacitados para tal procedimento. Destaca-se a Trabalhar com essa resistência é um dos maiores
atuação de enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, desafios para esses profissionais. Busca-se pela “pers-
integrando a equipe do serviço, procurando garantir a pectiva reversível”, no sentido de perceber as verdades
qualidade e humanização da atenção. da vida que antes eram encobertas por distorções da
Ressalta-se o papel da enfermagem no centro de realidade, passando a ter compreensão da vida mental
referência que, apoiada no conhecimento científico e e de mudança no modo de perceber as coisas(11). As
no senso comum. Esta contribui não somente para re- vítimas encontram dificuldades em romper com as
dução dos níveis de violência, como também se coloca situações de desrespeito e violência por acreditarem
na posição de mediadora na construção de uma rede que os homens têm direito de fazer o que desejam, até
de apoio que identifique, integre, articule e promova mesmo puní-las, se pensam que elas fazem algo errado
ações capazes de acolher à mulher nas diversas situa- ou infligem às normas que eles determinam. Por isso,
ções(13). Outro profissional em destaque no atendimento o processo de conscientização da mulher, na tentativa
à mulher vítima de violência é o defensor público. O de mudar valores, é um dos maiores desafios para os
aconselhamento jurídico é fundamental no combate à profissionais, porque vai de encontro ao que as vítimas
impunidade das vítimas, abrangendo desde orientações viam como 'algo natural'(17).
quanto à lavratura do boletim de ocorrência, como o Outras dificuldades foram relatadas, desde os as-
acompanhamento nas fases de investigação, inquérito pectos ligados às condições materiais para execução
policial e ação penal(14). do trabalho até o insuficiente investimento na seleção
Além disso, a defensoria pública garante a pro- e no acompanhamento dos recursos humanos, gerando
teção individual da vítima de violência perante a Lei impacto negativo nas instituições. Muitas vezes, os
Maria da Penha. Essa lei cria mecanismos para coibir profissionais precisam complementar intervenções
e prevenir a violência doméstica e familiar contra a com auxílio de colegas de outras instituições, a fim de
mulher, segundo a qual as mulheres gozam dos direitos que o atendimento seja completo, principalmente na
fundamentais e inerentes à pessoa humana, sendo-lhes escassez de aparatos que impeçam o atendimento na
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver própria instituição(12).
sem violência, preservar a saúde física e mental e o Apesar do envolvimento dos diversos segmentos
aperfeiçoamento moral, intelectual e social(15). do governo e da sociedade civil em desempenhar arti-
Os profissionais de nível médio e elementar tam- culação no combate à violência, percebe-se tendência
bém possuem papel importante na assistência à mulher ao isolamento dos serviços nos diferentes níveis de
vítima de violência. Nessa perspectiva, é relevante atenção. Desta forma, o trabalho em rede surge como
sensibilizar e capacitar motoristas, zeladores, vigilantes proposta para superar a fragmentação dos serviços,
e agentes administrativos, mesmo que estes não atuem visando à ampliação e melhoria da qualidade do aten-
diretamente com a pessoa agredida, no tocante ao dimento; à identificação e encaminhamento adequado
sigilo, ao acolhimento e a encaminhamentos adequa- das mulheres em situação de violência; e ao desenvol-
dos, a fim de que a vítima seja respeitada e valorizada vimento de estratégias efetivas de prevenção(8).
como ser humano. O sigilo da informação e a privaci- Os profissionais definiram atuação em redes como
dade do contexto da assistência multiprofissional são método de trabalho importante, embora sua operacio-
moderações éticas de confidencialidade das vítimas, nalização fosse complexa, uma vez que trabalhar em
como também precauções quanto à integridade física rede pressupõe colocar em prática atitudes como a
e emocional(10,16). articulação entre instituições, visando proporcionar cli-
Dentre as dificuldades apontadas pelos profis- ma de sociabilidade e integração interinstitucional(12).
sionais do centro de referência, destaca-se o cons- Nesse sentindo, a criação de fluxo de comunicação
trangimento da mulher em procurar o serviço ou até contínuo entre os atores envolvidos na rede, com o in-
mesmo em fornecer informações necessárias para tuito de manter o processo de informação e referência
e contrarreferência, é um desafio para os profissionais versos serviços de referência, sendo necessário, muitas
que atuam na assistência à mulher vítima de violência. vezes, improvisar para viabilizar o atendimento.
A Política Nacional de Enfrentamento à Violência Sugere-se aos profissionais deste serviço e a outros
contra as Mulheres propõe a constituição da rede de com as mesmas características que observem atenta-
atendimento, buscando dar conta da complexidade da mente e compreendam a importância da assistência
violência e do caráter multidimensional do problema, multiprofissional no atendimento à mulher vítima
que perpassa diversas áreas, como saúde, educação, de violência. Diante da complexidade da temática,
segurança pública, assistência social e cultura, entre urge maior interação da rede de atendimento com os
outras(8). Entretanto, apesar de necessárias, as redes serviços especializados, proporcionando à mulher
oficiais são pouco operativas, principalmente as de atendimento humanizado e qualificado.
natureza pública, em virtude das implicações político- Apesar de o estudo fornecer considerações importan-
-partidárias e dos procedimentos burocráticos que tes em relação à assistência prestada à mulher vítima de
implicam na lentidão do atendimento(12). violência, este se limitou a identificar o papel dos profis-
Instituem-se como importantes necessidades a for- sionais e conhecer as dificuldades enfrentadas. Logo, é
mulação e a implantação de novas ações que integrem fundamental que outros estudos busquem aprofundar as
os diversos setores de maneira efetiva, modificando questões relacionadas às medidas preventivas e educativas
a assistência à mulher vítima de violência para aten- realizadas à mulher e sua família, como forma de oferecer
dimento não somente curativo ou reabilitador, como melhor suporte aos profissionais que lidam com a causa.
também para assistência preventiva, em que os riscos
para ocorrência da violência sejam avaliados em cada REFERÊNCIAS
realidade e que medidas preventivas possam ser to-
madas antes da ocorrência da violência, e não apenas 1. Andrade CJM, Fonseca RMGS. Considerações sobre
para a mulher, como também para a família(18). violência doméstica, gênero e o trabalho das equipes
de saúde da família. Rev Esc Enferm USP. [Internet]
CONCLUSÕES 2008;42(3) [acesso em 12 jun 2011]. Disponível: http://
dx.doi.org/10.1590/S0080-62342008000300025.
A violência contra a mulher é um problema que 2. Okabe I, Fonseca RMGS. Violência contra a mulher:
atinge não apenas a vítima em si, como também toda contribuições e limitações do sistema de informação.
a rede social de apoio, exigindo o engajamento e a Rev Esc Enferm USP. [internet] 2009;43(2) [acesso
contribuição de diferentes profissionais capacitados e em 23 jul 2011]. Disponível: http://dx.doi.org/10.1590/
sensibilizados com a causa. S0080-62342009000200027.
Cada profissional possui papel fundamental no
fluxo de atendimento à mulher, que perpassa o acolhi- 3. Franzoi NM, Fonseca RMGS, Guedes RN. Violência de
mento grupal e individual, as orientações jurídicas e a gênero: concepções de profissionais das equipes de saúde
assistência indireta, como o serviço de transporte do da família. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]
2011;19(3) [acesso em 07 ago 2011]. Disponível: http://
Centro de Referência para a delegacia. Para atenção de
dx.doi.org/10.1590/S0104-11692011000300019.
qualidade, destaca-se a atuação da equipe multiprofis-
sional com atuação interdisciplinar, visando ao resgate 4. Pedrosa CM, Spink MJP. A violência contra mulher
à autoestima e fortalecimento da vítima. no cotidiano dos serviços de saúde: desafios para a
A maioria dos profissionais que trabalha com a formação médica. Saude soc. [Internet] 2011;20(1)
problemática da violência contra a mulher encontra [acesso em 10 ago 2011]. Disponível: http://dx.doi.
dificuldades em prestar assistência de qualidade, prin- org/10.1590/S0104-12902011000100015.
cipalmente em função das barreiras colocadas pelas
próprias vítimas, como o medo, a dependência financeira 5. Peduzzi M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito
e emocional em relação ao agressor, fato que requer e tipologia. Rev. Saúde Públ. 2011;35(1):103-9.
atendimento cuidadoso, a fim de que a mulher se sinta
6. Vieira LB, Padoin SMM, Landerdahl MC. A percepção de
acolhida e não desista de buscar apoio. Além disso, a profissionais da saúde de um hospital sobre a violência contra
insuficiente integração da rede de saúde, a escassez de as mulheres. Rev. Gaúcha Enferm. [Internet] 2009;30(4)
recursos humanos e materiais e a fragilidade que abate [acesso em 10 ago 2011]. Disponível: http://seer.ufrgs.br/
os profissionais refletem a realidade vivenciada em di- RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/9359/7536
7. Silva LL, Coelho EBS, Caponi SNC. Violência 17. Lima AC, Campos MCP. Violência contra a mulher:
silenciosa: violência psicológica como condição uma leitura de “Rappaccini’s Daughter” e “The
d a v iolê n c i a f í sic a d o m é s t ic a . I nt e r f a c e – Birthmark”. Gláuks. 2007;7(2):71-7.
Comunic., Saude, Educ. [Inter net] 2007;11(21)
[acesso em 09 ago 2011]. Dispon ível: ht t p:// 18. Costa AM, Moreira KAP, Henriques ACPT, Marques
dx.doi.org/10.1590/S1414-32832007000100009. JF, Fernandes AFC. Violência contra a mulher:
caracterização de casos atendidos em um centro
8. Secretaria Nacional de Enfrentamento à violência contra estadual de referência. Rev. Rene. 2011;12(3):627-35.
as mulheres (BR). Política Nacional de Enfrentamento
à violência contra as mulheres. Brasília: Secretaria de
Políticas para as Mulheres; 2011.
13. Budó MLD, Schimith MD, Silva DC, Silva SO, Rosa
AS, Almeida PB. Percepções sobre a violência no
cenário de uma unidade de saúde da família. Cogitare
enferm. [Internet] 2012;17(1) [acesso em 08 out 2012].
Disponível: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/
cogitare/article/view/26370/17563