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Resumo: Este trabalho analisa, com base em Habilidades e Competências (H&C), o currículo do curso
de pós-graduação lato sensu em Administração da Produção e Automação Industrial do CEFET/MG,
e propõe uma nova estrutura curricular sob este novo enfoque. É importante conhecer as implicações e
contribuições das atividades acadêmicas neste curso para as H&C dos alunos. A pesquisa, cujos resultados
são apresentados neste trabalho, envolve H&C em Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)
de 12 alunos da terceira turma de pós-graduação lato sensu em Administração da Produção e Automação
Industrial (APAI) do CEFET/MG. A pesquisa tem como pergunta norteadora inicial: “Em que medida
o desenvolvimento das atividades acadêmicas propostas no projeto pedagógico original do curso, e
desenvolvidas no período de dois anos (2012 a 2014), influenciam as H&C em TICs, dos alunos?”. Os
resultados e conclusões mostram a oportunidade da proposta pedagógica como se apresenta.
Abstract: Based on Skills and Competencies (S & C), this paper analyses the curriculum of the
graduate course in Industrial Automation, at CEFET/MG, and suggests a new curriculum based on
this new approach. It is important to know the implications and contributions of the academic activities
in this course to students’ S&C. The survey, whose results are presented in this paper, involves S&C
in Information and Communication Technology (ICT), of 12 graduate students of the third group of
Industrial Automation. This research begins from the suggested guiding enquiry: "To what extent does
the development of academic activities proposed in the original pedagogical project between 2012 and
2014 influence on students’ S&C in ICT?". The resulting conclusions suggest that show this pedagogical
project should be continued.
considerando também que a estrutura curricular original deste curso não foi elaborada
com enfoque nas H&C.
Na busca por melhorias contínuas na qualidade do ensino em cursos de pós-
graduação e dos respectivos projetos pedagógicos, várias ações podem ser propostas.
E, a partir do conhecimento das implicações e contribuições das atividades acadêmicas
tradicionais em um curso de pós-graduação lato sensu para as H&C dos alunos,
podem-se repensar a estrutura curricular, os sistemas de avaliação, a avaliação das
competências, avaliação por competências e formação docente (PERRENOUD, 2002),
as novas entradas e saídas demandadas pelo corpo discente, pelo corpo docente e pela
Instituição, com vistas a atender ao prescrito como sendo as necessidades do corpo
discente.
Essa tarefa é tão mais facilitada quanto mais se cria e pratica uma cultura voltada
para currículos que abordem e contemplem as H&C. Adicionalmente, as H&C
dos docentes e da Instituição podem ser melhor exploradas quando se vivencia esse
ambiente, com essa visão, especialmente quando se trata de ensino envolvendo alunos
que são profissionais do mercado e que trazem para a Instituição uma bagagem rica
em experiências práticas, mas ao mesmo tempo um leque de expectativas em relação
ao ensino e aprendizagem, bem diferente do que ocorre com alunos de cursos técnicos
profissionalizantes e de cursos de graduação.
Um ou mais focos podem ser eleitos para se concentrar as atenções quanto à
abordagem das H&C dos alunos em um curso como o APAI. A escolha do foco nas
H&C em TICs dos alunos ocorreu por elas representarem um campo do conhecimento
transversal, presentes como pré-requisito em relação à maioria das disciplinas e
conceitos envolvidos no curso, desde as questões fundamentais da administração da
produção até a especificação de componentes e sistemas de automação industrial.
2 DESENVOLVIMENTO
Anísio Teixeira (INEP, 2007), que entende o termo “competência” como “modalidades
estruturais da inteligência, (ações e operações utilizadas para estabelecer relações com
e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer”) e o termo
“habilidade” por “competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do saber
fazer” (LACERDA; OLIVEIRA, 2007).
Katz (1974) apresenta as habilidades necessárias a um profissional de gestão em
três grupos principais: conceitual, humana e técnica. A conceitual se caracteriza como
a capacidade cognitiva de entender e visualizar a organização como um sistema e as
inter-relações existentes entre as suas partes. A habilidade humana é a capacidade do
profissional de trabalhar eficazmente com outras pessoas, implicando em bom uso
da comunicação, liderança, motivação e trabalho em equipe. A habilidade técnica se
refere ao entendimento e ao desempenho em tarefas específicas, em que prepondera a
capacidade analítica e o domínio dos métodos, das técnicas e dos equipamentos para
resolver problemas (DAFT, 1999).
Outra aplicação do conceito de habilidade é apresentada por Rampersad (2003)
no chamado Placar de Desempenho Total (Total Performance Scorecard – TPS),
ligado à medição, acompanhamento e gestão do desempenho empresarial, definido
como “um processo sistemático, contínuo e gradual de melhoria, desenvolvimento e
aprendizado, que se concentra no aprimoramento sustentável do desempenho pessoal
e orgnizacional”. Segundo essa ideia, o conhecimento é a interseção destes três
componentes (melhoria, desenvolvimento e aprendizado), sendo também função da
informação, cultura e habilidades:
Conhecimento ↔ melhoria, desenvolvimento, aprendizado
Conhecimento = f (informação, cultura, habilidades)
Com relação à aplicação dos conceitos de H&C nas organizações, tanto a busca
pela competitividade quanto as necessidades de crescimento e desenvolvimento pessoal
dos profissionais, há uma exigência crescente de maior preparação técnica, operacional
e comportamental das pessoas, o que leva a melhores resultados operacionais daquelas
e melhores índices de satisfação pessoal destas (Bergamini; Beraldo, 1988;
Fleury; Fleury, 2001; Eboli, 2001). Esse raciocínio pode ser aplicado no
ensino, afinal, o que se deseja é ter alunos mais satisfeitos e aprendendo mais e melhor,
guardadas as limitações inerentes a todas as etapas do processo de ensino.
Conforme Zarifian (2001, 1998), embora não haja consenso sobre a definição
de competência (no singular) nem de competências (no plural), a primeira se refere
a mudanças nas organizações e relações sociais, enquanto a segunda diz respeito a
mudanças nos conteúdos profissionais.
Vários modelos de competências têm sido propostos e estudados, além daquele
proposto por Zarifian, em geral focando nas qualificações para o trabalho. Daólio
(2001) liga o significado de competência ao como fazer (know-how) e ao por que fazer
(know-why)”, além de simplesmente saber o que fazer (know-what). Por exemplo, na área
de informática, um aluno que sabe desenhar um fluxograma computacional de forma
hábil (e não de forma competente), não é necessariamente competente para gerar uma
saída satisfatória para uma entrada-problema por meio de fluxogramas em um sistema
computacional ou fora dele. A competência, nesse caso, é a de estar atualizado quanto
às possíveis opções de aplicação de técnicas de solução de problemas que necessitem de
fluxogramas, sabendo fazer corretamente a análise da viabilidade da aplicação de cada
opção em diversas situações.
Em se tratando de Tecnologia de Informação (TI) e, especialmente, em
Inteligência Competitiva (IC) apoiada pelo uso da informática, conforme Lacerda e
Oliveira (2007), há várias H&C desejáveis aos profissionais de IC, classificadas em três
categorias: humanas, técnicas e conceituais. Também são importantes a capacidade de
comunicação e de expressão, com apurado senso ético, proatividade e dinamismo.
Dos alunos atuais, futuros profissionais, ou alunos-profissionais como no
caso de alunos de pós-graduação lato sensu, deseja-se conhecer tais atributos para
melhor trabalhar com eles e propiciar maiores e melhores condições de ensino e de
desenvolvimento humano. Amaral et al. (2008) citam o Mapeamento de Competências
em equipes de inteligência competitiva e propõem um Modelo para esse mapeamento.
O desempenho das funções em TI em trabalhos de equipe, em geral exige que
se coloquem em prática as habilidades técnicas necessárias nas diversas fases do uso e
do desenvolvimento do suporte a usuários, e também que se demonstre conhecimento
multidisciplinar, alta especialização, capacidade de síntese e de atendimento eficaz
a demandas inesperadas e não programadas. Muitas vezes, o conhecimento de
softwares, e de ferramentas e de ambientes de desenvolvimento específicos é necessário
(TARAPANOFF et al., 2002; FERREIRA, 2003; ARRUDA, 2000; TRASSATTI;
COSTA, 2005). A abordagem das H&C tem sido utilizada para subsidiar avaliações de
cursos diversos, sejam os técnicos-profissionalizantes, sejam os superiores (BATTINI,
2011).
No caso da aplicação desses conceitos no ensino, especialmente em referência às
H&C dos alunos, geralmente se dá forte ênfase às competências básicas, que são as
relativas às pessoas especificamente, e não às entidades organizacionais. No entanto, o
corpo docente e a própria Instituição estão inseridos no processo ensino-aprendizagem,
razão pela qual um estudo mais abrangente deve levar em conta essas três bases.
Segundo Ricardo (2010), a aplicação dos conceitos de H&C no ensino ganhou força no
Brasil “após a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e
dos Parâmetros Curriculares Nacionais pelo Ministério da Educação”.
No caso específico do ensino de pós-graduação, particularmente nos cursos de
especialização, o fato de se trabalhar com alunos que são profissionais e que não têm
muitas aspirações relacionadas com a pesquisa científica ou acadêmica faz com que o
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 204
Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda
enfoque das H&C seja mais forte naquelas estritamente relacionadas com a formação
profissional e menos com a propedêutica ou formação geral, como é o caso do ensino
médio, por exemplo.
Segundo Deluiz (2001), no modelo das competências, algumas indicações gerais
são propostas para a organização do currículo, como a investigação dos processos de
trabalho para a identificação de perfis profissionais de conclusão; definição dos blocos
de competências profissionais básicas, gerais e específicas relacionados aos perfis
identificados; desenho da estrutura do currículo, em geral flexível e modularizado;
definição dos itinerários profissionais com critérios de acesso aos módulos e ao curso;
definição das estratégias de aprendizagem; prática pedagógica interdisciplinar e
contextualizada; processo centrado na aprendizagem do aluno; individualização dos
percursos de formação; construção significativa do conhecimento; seleção de situações
de aprendizagem baseadas na pedagogia de projetos e situações-problema; e a definição
do processo de avaliação da aprendizagem.
Ainda conforme Deluiz (2001), “Estas indicações para a organização do currículo
são, no entanto, vagas, abstratas e desprovidas de um significado mais explícito e
concreto se não forem consideradas as formas como serão implementadas e suas
vinculações às matrizes teórico-conceituais anteriormente mencionadas”.
Por ser um curso voltado para tecnologias utilizadas em indústrias, com foco no
emprego adequado de TICs e técnicas gerenciais, é importante propiciar aos alunos
oportunidades diversas de convívio com indústrias da região, estimulando a troca de
experiências entre eles e que se reunirem também em seus ambientes de trabalho.
Além das aulas teóricas e de laboratório e atividades tradicionais, o curso faz uso
intensivo de seminários em disciplinas com maior carga horária, em que os alunos
possam apresentar suas experiências profissionais relacionadas com as mesmas e a
aplicação ou perspectivas de aplicação dos tópicos ministrados em seus ambientes de
trabalho, estudos de casos, trabalhos que estimulem a realização de reuniões e visitas
dos alunos também em seus ambientes de trabalho e a participação efetiva dos alunos
na formulação da relação dos temas de interesse a serem trabalhados nas aulas.
A avaliação prevista contemplou a realização de provas, trabalhos, seminários e
exercícios práticos em sala de aula e em laboratório de Informática, além da monografia
ao final do curso. Os professores, a coordenação e as instalações físicas são avaliados
a cada disciplina por meio da aplicação de formulário-padrão do Programa de Pós-
Graduação Lato Sensu do CEFET/MG e também em reuniões com a coordenação do
curso, sempre que oportuno.
Ao final do curso, cada aluno deve ter aprovado o seu trabalho de conclusão
(monografia individual), a ser orientada por banca examinadora, conforme critério do
Programa de Pós-Graduação Lato Sensu do CEFET/MG. O Certificado é emitido
pelo CEFET-MG, nos termos da Resolução CNE/CES nº 1, de 3 de abril de 2001.
C.H. ÁREA
MÓDULO DISCIPLINAS
(h) 1 2 3 4
1 Integração e nivelamento 20 x
2 Administração da produção e custos 20 x
M1 3 Informática na administração 30 x
4 Organização industrial, cadeia de suprimentos e logística 20 x
5 Gestão da qualidade, processos e produtividade 20 x
6 Processos industriais e de fabricação 20 x
7 Planejamento e tomada de decisão apoiados em sistemas
20 x
de informação
M2
8 Gestão de operações e modelagem de sistemas produtivos 40 x
9 Gestão informatizada da produção e de projetos 20 x
10 Automação e instrumentação industrial 20 x
11 Gestão integrada da manutenção 20 x
12 Desenvolvimento de projetos e metodologia científica
40 x
em produção e automação
M3 13 Redes industriais e controladores programáveis 20 x
14 Robótica industrial e sua influência na organização do
20 x
trabalho e na produção
15 Seminários de atualização 30 x
M4 Monografia
C.H. ÁREA
MÓDULO DISCIPLINAS
(h) 1 2 3 4
1 Integração e Nivelamento 15 x
2 Administração da produção e custos 15 x
3 Informática gerencial na indústria 30 x
4 Organização industrial, cadeia de suprimentos e
15 x
M1 - 135 h logística
5 Gestão da qualidade, processos e produtividade 15 x
6 Processos industriais e de fabricação 15 x
7 Tecnologias de informação e comunicação 30 3
Projeto interdisciplinar 1 x x x x
8 Planejamento e tomada de decisão apoiados em
30 x
sistemas de informação
9 Gestão de operações e modelagem de sistemas
30 x
produtivos
M2 - 120 h
10 Gestão informatizada da produção e de
30 x
projetos
11 Automação e instrumentação industrial 30 x
Projeto interdisciplinar 2 x x x x
12 Gestão integrada da manutenção 15 x
13 Gestão informatizada da manutenção 15 x
14 Desenvolvimento de projetos em produção e
15 x
automação
15 Metodologia científica em produção e
15
M3 - 135 h automação
16 Redes industriais e controladores programáveis 30 x
17 Robótica industrial e sua influência na
15 x
organização do trabalho e na produção
18 Seminários de atualização 30 x
Projeto interdisciplinar 3 x x x x
M4 Monografia
Principais habilidades:
16. montagem de blocos funcionais utilizando softwares;
17. testar hardware e sistemas de automação e de redes industriais;
18. utilizar de forma eficaz equipamentos do laboratório de informática e de
automação.
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 214
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4 CONCLUSÕES
As implicações dos estudos em H&C podem ir além da formulação de novas
propostas curriculares, como auxiliar no aprimoramento da capacidade crítica dos alunos
e estes, melhor “aprendendo a aprender”. Conquanto a seleção de pessoal, contratação,
avaliação de desempenho, treinamento e desenvolvimento de RH se constituam em
práticas cotidianas em várias empresas, o meio acadêmico tem seus métodos e critérios
próprios e nem sempre oferece a receptividade adequada às importações de métodos e
técnicas empresariais.
Da mesma forma que as organizações se preocupam com a eficácia, o atingimento
de metas e os objetivos, o meio acadêmico se norteia por procedimentos análogos,
podendo ser esse um argumento adicional para pesquisas conforme esta, além da
melhoria do aprendizado e aperfeiçoamento de seus processos.
Uma nova proposta curricular, construída a partir do mapeamento de potenciais
habilidades e competências em TICs, surge como resposta a novas demandas dos
alunos, que, neste caso, já são profissionais e também trazem riquíssima bagagem de
experiências e conhecimentos para, de forma interativa, contribuírem com o sistema
educacional.
O enfoque das H&C em TICs é apropriado e tem se mostrado válido no curso
APAI, quando confrontado com as demandas representadas pelos alunos da turma
atual e das anteriores, razão pela qual a nova proposta curricular poderá ser aprovada
para ser aplicada já na próxima turma.
Nota-se a conveniência do novo projeto pedagógico deste curso valorizar
enfaticamente as atividades em grupo para que as competências comportamentais
sejam aprimoradas e desenvolvidas também com o auxílio das próprias TICs, fazendo
o processo ensino aprendizagem se tornar mais eficaz. Conquanto haja limitações no
trato com potenciais H&C advindas de atributos com significados abrangentes e às
vezes ambíguos, levantados em cenários e condições similares aos desta pesquisa, com
esta proposta, as TICs são contempladas e abordadas na maioria das disciplinas do
curso, além do apoio às atividades de projeto, com efetiva participação dos alunos,
inclusive e principalmente no processo decisório dos temas e das atividades a serem
desenvolvidos, o que eleva muito o grau de comprometimento deles.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Dr. Carlos Fernando Araújo Jr., orientador de doutorado na
Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), pela orientação segura, motivadora,
competente e eficaz, às coordenadoras do Doutorado em Ensino de Ciências e
Matemática da Unicsul, professoras Drª. Edda Curi e Drª. Norma S. G. Allevato,
pelo trabalho perseverante, pela paciência e dedicação, conduzindo os pesquisadores
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 215
ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...
REFERÊNCIAS
Amaral, M. R. et al. Modelo para o mapeamento de competências em equipes de
inteligência competitiva, Ci. Inf., Brasília, v.37, n.2, p. 7-19, maio/ago 2008.
DAFT, R. L. Organizações: teorias e projetos. 7. ed. SP: Pioneira Thomson L., 2002. 532 p.
Gil, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. SP: Atlas, 4ª. Ed., 175p.
ZARIFIAN, P., Objetivo competência por uma nova lógica. São Paulo: Atlas, 2001, 197p.