Você está na página 1de 20

ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM

HABILIDADES E COMPETÊNCIAS, DE UM CURSO DE


PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Carlos Fernando Araújo Jr.1, Juarez Marques Lacerda 2

Resumo: Este trabalho analisa, com base em Habilidades e Competências (H&C), o currículo do curso
de pós-graduação lato sensu em Administração da Produção e Automação Industrial do CEFET/MG,
e propõe uma nova estrutura curricular sob este novo enfoque. É importante conhecer as implicações e
contribuições das atividades acadêmicas neste curso para as H&C dos alunos. A pesquisa, cujos resultados
são apresentados neste trabalho, envolve H&C em Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)
de 12 alunos da terceira turma de pós-graduação lato sensu em Administração da Produção e Automação
Industrial (APAI) do CEFET/MG. A pesquisa tem como pergunta norteadora inicial: “Em que medida
o desenvolvimento das atividades acadêmicas propostas no projeto pedagógico original do curso, e
desenvolvidas no período de dois anos (2012 a 2014), influenciam as H&C em TICs, dos alunos?”. Os
resultados e conclusões mostram a oportunidade da proposta pedagógica como se apresenta.

Palavras-chave: Análise curricular. Habilidades e Competências. Ensino de pós-graduação lato sensu.

CURRICULAR PROPOSAL AND CURRICULAR


REVIEW BASED ON SKILLS AND COMPETENCY FOR
A GRADUATE COURSE

Abstract: Based on Skills and Competencies (S & C), this paper analyses the curriculum of the
graduate course in Industrial Automation, at CEFET/MG, and suggests a new curriculum based on
this new approach. It is important to know the implications and contributions of the academic activities
in this course to students’ S&C. The survey, whose results are presented in this paper, involves S&C
in Information and Communication Technology (ICT), of 12 graduate students of the third group of
Industrial Automation. This research begins from the suggested guiding enquiry: "To what extent does
the development of academic activities proposed in the original pedagogical project between 2012 and
2014 influence on students’ S&C in ICT?". The resulting conclusions suggest that show this pedagogical
project should be continued.

Keywords: Skills and Competencies. Professional Education. Curriculum.

1 Professor da Universidade Cruzeiro do Sul, SP.

2 Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais.


Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 199
ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

1 INTRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA


Neste trabalho são apresentados os resultados de uma pesquisa voltada para a
análise do projeto pedagógico do curso de pós-graduação lato sensu em Administração
da Produção e Automação Industrial (APAI), que tem sido ofertado pelo Centro Federal
de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG) desde 1996. A motivação
inicial foi o estudo e pesquisa das Habilidades e Competências (H&C) em Tecnologias
de Informação e Comunicação (TICs), de 12 alunos da terceira turma desse curso,
norteados pela pergunta: “Em que medida o desenvolvimento das atividades acadêmicas
propostas no projeto pedagógico original do curso, e desenvolvidas no período de dois
anos (2012 a 2014), influenciam as H&C em TIC´s, dos alunos?”.
Os resultados e as conclusões na primeira etapa da pesquisa (qualitativa e
participante), com estudo de caso (BORDA, 1990), mostram que é recomendável
atualizar o projeto pedagógico do curso APAI e trabalhar conceitos segundo essa nova
visão, contemplando e abordando as TICs, praticamente em todas as disciplinas do
curso.
Os Estudos de Caso, documentais, com características participantes ou não,
são muito utilizados na educação e no ensino. A observação participante artificial
(MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 79) é útil em educação e ensino. Em determinadas
fases da pesquisa, ela se apresenta mais voltada para o ensino de engenharia, havendo
fortes características de interação pesquisador-pesquisados.
Gil (2009, p. 56) e Borda (1990, p. 44) discorrem sobre a distinção entre “ciência
popular e ciência dominante” nesses casos. Pereira (1999, p. 25) cita o dualismo entre
as abordagens racional e experimental, “que chega na oposição entre as pesquisas
qualitativas e quantitativas, sendo que nem a primeira está isenta de quantificação
nem a segunda prescinde de raciocínio lógico”. Segundo Gil (2009, p. 138), com o
Estudo de Caso se consegue ir além do levantamento puro e simples de dados, tendo
o levantamento um nível puramente descritivo. Consegue-se assim, investigar um
fenômeno, não podendo as fronteiras entre o fenômeno e o contexto ser claramente
definidas, e tem-se várias fontes de evidências.
Foram utilizados como instrumentos da coleta de dados entrevistas, questionários,
documentos relativos ao curso e avaliações que possam conter referências a algum
aspecto relacionado com o tema da pesquisa. Várias dessas técnicas são tratadas em
Yin (2001), sendo as mais importantes as entrevistas individuais, observações diretas
e análise de documentos, avaliações e relatórios técnicos resultantes de avaliações
periódicas e de práticas de laboratório. A partir de apostilas teóricas ou práticas e de
livros adotados, com roteiros e planos de aula específicos de cada disciplina e tarefa,
cada professor desenvolve os conteúdos programados, de forma tradicional, linear, em
geral não fazendo uso de conceitos ou qualquer orientação ou enfoque relacionado com
as H&C dos alunos. Essa dinâmica atende ao que está programado pela coordenação
do curso e permite o atendimento de todas as exigências em termos pedagógicos,
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 20 0
Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

considerando também que a estrutura curricular original deste curso não foi elaborada
com enfoque nas H&C.
Na busca por melhorias contínuas na qualidade do ensino em cursos de pós-
graduação e dos respectivos projetos pedagógicos, várias ações podem ser propostas.
E, a partir do conhecimento das implicações e contribuições das atividades acadêmicas
tradicionais em um curso de pós-graduação lato sensu para as H&C dos alunos,
podem-se repensar a estrutura curricular, os sistemas de avaliação, a avaliação das
competências, avaliação por competências e formação docente (PERRENOUD, 2002),
as novas entradas e saídas demandadas pelo corpo discente, pelo corpo docente e pela
Instituição, com vistas a atender ao prescrito como sendo as necessidades do corpo
discente.
Essa tarefa é tão mais facilitada quanto mais se cria e pratica uma cultura voltada
para currículos que abordem e contemplem as H&C. Adicionalmente, as H&C
dos docentes e da Instituição podem ser melhor exploradas quando se vivencia esse
ambiente, com essa visão, especialmente quando se trata de ensino envolvendo alunos
que são profissionais do mercado e que trazem para a Instituição uma bagagem rica
em experiências práticas, mas ao mesmo tempo um leque de expectativas em relação
ao ensino e aprendizagem, bem diferente do que ocorre com alunos de cursos técnicos
profissionalizantes e de cursos de graduação.
Um ou mais focos podem ser eleitos para se concentrar as atenções quanto à
abordagem das H&C dos alunos em um curso como o APAI. A escolha do foco nas
H&C em TICs dos alunos ocorreu por elas representarem um campo do conhecimento
transversal, presentes como pré-requisito em relação à maioria das disciplinas e
conceitos envolvidos no curso, desde as questões fundamentais da administração da
produção até a especificação de componentes e sistemas de automação industrial.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A abordagem pelas H&C no ensino


A adequação de perfis profissionais a funções, atividades e tarefas e até mesmo
o aprimoramento de processos seletivos nas organizações se assemelham, em certo
sentido, ao processo de adequação de currículos de cursos a demandas discentes.
Assim, é recomendável que se explorem e desenvolvam pesquisas na área das H&C
especificamente voltadas para o ensino, com foco em um ou mais dos conjuntos de
atores, a saber, os alunos, os professores e o pessoal técnico-administrativo das
instituições de ensino, pesquisa e extensão.

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 201


ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

Muitos projetos pedagógicos de cursos regulares voltados para a formação


profissional e de engenharias não contemplam essa abordagem, e tampouco seus
currículos são formulados seguindo a mesma. Às vez nem mesmo há preparação
dos docentes nessa área ou a utilização das novas tecnologias para o ensino, como os
Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) e TICs. A preparação, a experiência e
o conhecimento dos professores sobre essas tais tecnologias, em geral, se apresentam
deficitárias e desatualizados. Há professores que “têm medo e receio com relação às
TICs”, e isso “tem ligação com a falta de experiência com as tecnologias, tanto para uso
pessoal quanto profissional” (SIMONIAN, 2009).
“Competências” geralmente significa “entidades” que, de alguma maneira, lembram
o saber, como em saber implementar, projetar, fazer, executar, dentre outras formas. Isso
mostra que as competências dizem respeito à capacidade do ser humano demonstrar seu
conhecimento na prática, notadamente se aliadas ao conceito de habilidade. Conforme
Gramigna (2007), as competências organizacionais são classificadas em quatro tipos:
• Diferenciais (ou distintivas) - percebidas pelos clientes e que permitem a
distinção entre empresas;
• Essenciais - base dos processos organizacionais internos, mais incisivamente
percebidas pelos clientes internos que pelos externos;
• Básicas (ou genéricas) - que todos os profissionais devem possuir;
• Tercerizáveis - não ligadas ao negócio, podendo ser desenvolvidas por parceiros.
As competências também podem ser classificadas em Humanas e Empresariais
(EBOLI, 2001). As competências humanas, por sua, vez são classificadas em
técnicas e comportamentais. As competências técnicas se referem aos conhecimentos
(e habilidades) e consistem no saber e saber fazer, contemplando o “conjunto”
conhecimento, habilidades e atitudes – CHA. As competências técnicas dizem respeito
aos conhecimentos e habilidades (CH) (saber fazer) e as competências comportamentais
dizem respeito às Atitudes (A) (querer fazer), do conjunto CHA. Costuma-se associar
as competências técnicas a conhecimentos para desempenhar bem uma função em
determinada organização ou particularmente em atividades pessoais. De forma similar,
é frequente a associação de procedimentos e comportamentos da pessoa às competências
comportamentais. Muitas vezes, essas são decisivas em processos administrativos e
gerenciais e em funções técnicas e de engenharia, contribuindo para o bom desempenho
do profissional, notadamente se ele está “bem qualificado tecnicamente”.
Uma habilidade pode fazer parte da definição de várias competências. Também
é possível aprender conceitos que se consolidam, sem serem habilidades, servindo de
referência ou base para a ampliação dos conceitos que a pessoa tem na respectiva área.
O conceito de H&C é apresentado também por Brandão e Guimarães (2001),
com base nas definições do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 202
Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

Anísio Teixeira (INEP, 2007), que entende o termo “competência” como “modalidades
estruturais da inteligência, (ações e operações utilizadas para estabelecer relações com
e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer”) e o termo
“habilidade” por “competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do saber
fazer” (LACERDA; OLIVEIRA, 2007).
Katz (1974) apresenta as habilidades necessárias a um profissional de gestão em
três grupos principais: conceitual, humana e técnica. A conceitual se caracteriza como
a capacidade cognitiva de entender e visualizar a organização como um sistema e as
inter-relações existentes entre as suas partes. A habilidade humana é a capacidade do
profissional de trabalhar eficazmente com outras pessoas, implicando em bom uso
da comunicação, liderança, motivação e trabalho em equipe. A habilidade técnica se
refere ao entendimento e ao desempenho em tarefas específicas, em que prepondera a
capacidade analítica e o domínio dos métodos, das técnicas e dos equipamentos para
resolver problemas (DAFT, 1999).
Outra aplicação do conceito de habilidade é apresentada por Rampersad (2003)
no chamado Placar de Desempenho Total (Total Performance Scorecard – TPS),
ligado à medição, acompanhamento e gestão do desempenho empresarial, definido
como “um processo sistemático, contínuo e gradual de melhoria, desenvolvimento e
aprendizado, que se concentra no aprimoramento sustentável do desempenho pessoal
e orgnizacional”. Segundo essa ideia, o conhecimento é a interseção destes três
componentes (melhoria, desenvolvimento e aprendizado), sendo também função da
informação, cultura e habilidades:
Conhecimento ↔ melhoria, desenvolvimento, aprendizado
Conhecimento = f (informação, cultura, habilidades)
Com relação à aplicação dos conceitos de H&C nas organizações, tanto a busca
pela competitividade quanto as necessidades de crescimento e desenvolvimento pessoal
dos profissionais, há uma exigência crescente de maior preparação técnica, operacional
e comportamental das pessoas, o que leva a melhores resultados operacionais daquelas
e melhores índices de satisfação pessoal destas (Bergamini; Beraldo, 1988;
Fleury; Fleury, 2001; Eboli, 2001). Esse raciocínio pode ser aplicado no
ensino, afinal, o que se deseja é ter alunos mais satisfeitos e aprendendo mais e melhor,
guardadas as limitações inerentes a todas as etapas do processo de ensino.
Conforme Zarifian (2001, 1998), embora não haja consenso sobre a definição
de competência (no singular) nem de competências (no plural), a primeira se refere
a mudanças nas organizações e relações sociais, enquanto a segunda diz respeito a
mudanças nos conteúdos profissionais.
Vários modelos de competências têm sido propostos e estudados, além daquele
proposto por Zarifian, em geral focando nas qualificações para o trabalho. Daólio

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 203


ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

(2001) liga o significado de competência ao como fazer (know-how) e ao por que fazer
(know-why)”, além de simplesmente saber o que fazer (know-what). Por exemplo, na área
de informática, um aluno que sabe desenhar um fluxograma computacional de forma
hábil (e não de forma competente), não é necessariamente competente para gerar uma
saída satisfatória para uma entrada-problema por meio de fluxogramas em um sistema
computacional ou fora dele. A competência, nesse caso, é a de estar atualizado quanto
às possíveis opções de aplicação de técnicas de solução de problemas que necessitem de
fluxogramas, sabendo fazer corretamente a análise da viabilidade da aplicação de cada
opção em diversas situações.
Em se tratando de Tecnologia de Informação (TI) e, especialmente, em
Inteligência Competitiva (IC) apoiada pelo uso da informática, conforme Lacerda e
Oliveira (2007), há várias H&C desejáveis aos profissionais de IC, classificadas em três
categorias: humanas, técnicas e conceituais. Também são importantes a capacidade de
comunicação e de expressão, com apurado senso ético, proatividade e dinamismo.
Dos alunos atuais, futuros profissionais, ou alunos-profissionais como no
caso de alunos de pós-graduação lato sensu, deseja-se conhecer tais atributos para
melhor trabalhar com eles e propiciar maiores e melhores condições de ensino e de
desenvolvimento humano. Amaral et al. (2008) citam o Mapeamento de Competências
em equipes de inteligência competitiva e propõem um Modelo para esse mapeamento.
O desempenho das funções em TI em trabalhos de equipe, em geral exige que
se coloquem em prática as habilidades técnicas necessárias nas diversas fases do uso e
do desenvolvimento do suporte a usuários, e também que se demonstre conhecimento
multidisciplinar, alta especialização, capacidade de síntese e de atendimento eficaz
a demandas inesperadas e não programadas. Muitas vezes, o conhecimento de
softwares, e de ferramentas e de ambientes de desenvolvimento específicos é necessário
(TARAPANOFF et al., 2002; FERREIRA, 2003; ARRUDA, 2000; TRASSATTI;
COSTA, 2005). A abordagem das H&C tem sido utilizada para subsidiar avaliações de
cursos diversos, sejam os técnicos-profissionalizantes, sejam os superiores (BATTINI,
2011).
No caso da aplicação desses conceitos no ensino, especialmente em referência às
H&C dos alunos, geralmente se dá forte ênfase às competências básicas, que são as
relativas às pessoas especificamente, e não às entidades organizacionais. No entanto, o
corpo docente e a própria Instituição estão inseridos no processo ensino-aprendizagem,
razão pela qual um estudo mais abrangente deve levar em conta essas três bases.
Segundo Ricardo (2010), a aplicação dos conceitos de H&C no ensino ganhou força no
Brasil “após a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e
dos Parâmetros Curriculares Nacionais pelo Ministério da Educação”.
No caso específico do ensino de pós-graduação, particularmente nos cursos de
especialização, o fato de se trabalhar com alunos que são profissionais e que não têm
muitas aspirações relacionadas com a pesquisa científica ou acadêmica faz com que o
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 204
Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

enfoque das H&C seja mais forte naquelas estritamente relacionadas com a formação
profissional e menos com a propedêutica ou formação geral, como é o caso do ensino
médio, por exemplo.
Segundo Deluiz (2001), no modelo das competências, algumas indicações gerais
são propostas para a organização do currículo, como a investigação dos processos de
trabalho para a identificação de perfis profissionais de conclusão; definição dos blocos
de competências profissionais básicas, gerais e específicas relacionados aos perfis
identificados; desenho da estrutura do currículo, em geral flexível e modularizado;
definição dos itinerários profissionais com critérios de acesso aos módulos e ao curso;
definição das estratégias de aprendizagem; prática pedagógica interdisciplinar e
contextualizada; processo centrado na aprendizagem do aluno; individualização dos
percursos de formação; construção significativa do conhecimento; seleção de situações
de aprendizagem baseadas na pedagogia de projetos e situações-problema; e a definição
do processo de avaliação da aprendizagem.
Ainda conforme Deluiz (2001), “Estas indicações para a organização do currículo
são, no entanto, vagas, abstratas e desprovidas de um significado mais explícito e
concreto se não forem consideradas as formas como serão implementadas e suas
vinculações às matrizes teórico-conceituais anteriormente mencionadas”.

2.2 A estrutura curricular e o projeto pedagógico do curso APAI

2.2.1 Concepção, justificativa e objetivos do projeto


As atividades de pós-graduação do CEFET/MG, iniciadas em 1988, visavam
inicialmente a desenvolver cursos de pós-graduação lato sensu em áreas diversas,
suportadas pelos cursos superiores da Instituição. Por meio de convênio com
a Universidade de Loughborough, da Inglaterra, o CEFET/MG estruturou
modularmente esse programa de pós-graduação e viabilizou o intercâmbio e a
cooperação de professores ingleses e brasileiros, reforçando, nos anos posteriores, os
programas de pós-graduação da Instituição.
Na concepção do projeto do curso APAI foram considerados o interesse do
CEFET/MG em ampliar a oferta de cursos em áreas que envolvam as engenharias e nas
áreas de Gestão Industrial e de Automação de Processos. Além disso, observaram-se as
grandes possibilidades de interação do corpo docente e da coordenação com profissionais
que viriam trazer uma bagagem de conhecimentos e experiências, possibilitando
a colocação em prática de experiências didáticas e pedagógicas no processo ensino-
aprendizagem em nível de pós-graduação. Isso contribuiria para o fortalecimento do
próprio programa lato sensu e preencheria um espaço na área de cursos similares no
Estado de Minas Gerais. Além disso, levou-se também em consideração o fato de a
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 205
ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

complexidade dos recursos instalados nas indústrias atuais exigir do profissional de


nível superior em geral, e, particularmente do professor de disciplinas tecnológicas,
uma formação multidisciplinar ainda não oferecida nos cursos de graduação.
Esse curso possibilita uma visão abrangente e com enfoque sistêmico em tópicos
de uso corrente na vida do profissional de indústria, e atende a docentes de nível
superior e técnico que trabalham em áreas correlatas. Seu objetivo geral é “favorecer
a troca de experiências entre profissionais externos entre si e entre os mesmos (sic) e
o corpo docente, com possibilidade de elaboração de propostas de futuros projetos
e serviços de interesse do CEFET/MG, de instituições em geral e da comunidade”.
Os objetivos específicos são “aprimorar o conhecimento de professores e profissionais
em geral, graduados em engenharias, administração, informática e outras áreas, em
ciências exatas e em tecnologia em ciências sociais aplicadas” e “proporcionar visão
ampla e multidisciplinar em Administração da Produção e Automação Industrial”
(Lacerda, 2008).

2.2.2 Características gerais do curso APAI


Este curso se enquadra na estrutura geral da maioria dos cursos lato sensu do
CEFET/MG, obedecendo ao Regulamento Geral dos Cursos de Pós-Graduação
Lato Sensu (CEFET/MG, 2008) e à legislação externa pertinente. Assim, é ofertado
na forma aberta, com recursos provenientes de parcelas a serem pagas pelos próprios
alunos, e no período de realização de dois anos, sendo 18 meses de aulas e seis meses
para a monografia, podendo iniciar em qualquer época do ano. A carga horária total
(360 horas), seria desenvolvida em sala de aula, sendo cerca de 60 horas em laboratório
de informática.
Cada disciplina contemplaria trabalhos individuais e em grupo, tanto em sala
quanto fora de sala de aula. A carga horária dos trabalhos individuais e em grupo em
sala de aula foi estimada em 90 horas (dentro da carga horária total de 360 horas) e
a carga horária dos trabalhos e estudos individuais e em grupo fora de sala de aula
de cada aluno foi prevista para 360 horas (além da carga horária total de 360 horas).
São previstas outras cinco horas de reunião (mínimo) entre cada aluno e seu respectivo
professor-orientador de monografia, fora da carga horária total de 360 horas, além de
outras horas adicionais que cada aluno dedicaria à sua própria pesquisa necessária à
elaboração de sua monografia.
Considerando as formulações da planilha aprovada pelo Colegiado dos Cursos
Lato Sensu e as características físicas e os recursos de laboratório disponíveis, o número
de vagas foi estabelecido entre um mínimo de 17 e um máximo de 45 alunos pagantes.
O processo seletivo consiste em análise de currículo e entrevista e, eventualmente, uma
prova escrita, se necessário. O número de professores, para a primeira turma, era 13,
sendo 11 do CEFET/MG e dois externos.

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 206


Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

Por ser um curso voltado para tecnologias utilizadas em indústrias, com foco no
emprego adequado de TICs e técnicas gerenciais, é importante propiciar aos alunos
oportunidades diversas de convívio com indústrias da região, estimulando a troca de
experiências entre eles e que se reunirem também em seus ambientes de trabalho.
Além das aulas teóricas e de laboratório e atividades tradicionais, o curso faz uso
intensivo de seminários em disciplinas com maior carga horária, em que os alunos
possam apresentar suas experiências profissionais relacionadas com as mesmas e a
aplicação ou perspectivas de aplicação dos tópicos ministrados em seus ambientes de
trabalho, estudos de casos, trabalhos que estimulem a realização de reuniões e visitas
dos alunos também em seus ambientes de trabalho e a participação efetiva dos alunos
na formulação da relação dos temas de interesse a serem trabalhados nas aulas.
A avaliação prevista contemplou a realização de provas, trabalhos, seminários e
exercícios práticos em sala de aula e em laboratório de Informática, além da monografia
ao final do curso. Os professores, a coordenação e as instalações físicas são avaliados
a cada disciplina por meio da aplicação de formulário-padrão do Programa de Pós-
Graduação Lato Sensu do CEFET/MG e também em reuniões com a coordenação do
curso, sempre que oportuno.
Ao final do curso, cada aluno deve ter aprovado o seu trabalho de conclusão
(monografia individual), a ser orientada por banca examinadora, conforme critério do
Programa de Pós-Graduação Lato Sensu do CEFET/MG. O Certificado é emitido
pelo CEFET-MG, nos termos da Resolução CNE/CES nº 1, de 3 de abril de 2001.

2.2.3 A estrutura curricular do curso APAI


A estrutura modular do curso, com um total de 15 disciplinas, é mostrada na
Tabela 1. Foram eleitas quatro grandes áreas que suportam a estrutura do curso APAI:
Área 1: Gestão para produtividade (cinco disciplinas)
Área 2: Tecnologias industriais, automação e processos de fabricação (quatro
disciplinas)
Área 3: Informática gerencial e redes (três disciplinas)
Área 4: Integração, projetos e trabalhos de curso (três disciplinas)

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 207


ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

Tabela 1 - Estrutura modular do curso APAI

C.H. ÁREA
MÓDULO DISCIPLINAS
(h) 1 2 3 4
1 Integração e nivelamento 20 x
2 Administração da produção e custos 20 x
M1 3 Informática na administração 30 x
4 Organização industrial, cadeia de suprimentos e logística 20 x
5 Gestão da qualidade, processos e produtividade 20 x
6 Processos industriais e de fabricação 20 x
7 Planejamento e tomada de decisão apoiados em sistemas
20 x
de informação
M2
8 Gestão de operações e modelagem de sistemas produtivos 40 x
9 Gestão informatizada da produção e de projetos 20 x
10 Automação e instrumentação industrial 20 x
11 Gestão integrada da manutenção 20 x
12 Desenvolvimento de projetos e metodologia científica
40 x
em produção e automação
M3 13 Redes industriais e controladores programáveis 20 x
14 Robótica industrial e sua influência na organização do
20 x
trabalho e na produção
15 Seminários de atualização 30 x
M4 Monografia

Esta estrutura curricular, tradicional, matricial, linear/sequencial e modular


segue o que se tem praticado na maioria dos projetos de cursos de pós-graduação lato
sensu propostos no CEFET/MG. Os módulos são ministrados em sequência, do 1 ao
4, exigindo-se de cada aluno, para matrícula em cada módulo, a total aprovação no
módulo anterior. A oportunidade final de cada aluno definir os rumos de seus estudos
e pesquisas neste curso se apresenta com a Monografia, obrigatória, individual e sob
orientação de um professor do curso.

2.3 Em busca de uma nova estrutura curricular e do novo projeto


pedagógico do curso APAI
É interessante eleger uma temática que seja comum às áreas e disciplinas,
que possa nortear a condução dos trabalhos acadêmicos, que sirva de base para a
formulação das ementas, contribuindo para a integração das disciplinas, de suas áreas
e com a monografia. A formação humanista, a preocupação filosófica, segundo esta ou
aquela linha de pensamento, a preocupação com a segurança da informação, com as
tecnologias de ponta em sistemas de produção, com as TICs, com os esforços para que
as organizações se tornem cada vez mais competitivas, a globalização, a concorrência, a
inovação tecnológica e seus desafios etc. poderiam ser citados neste momento.
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 208
Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

A questão da transversalidade em um curso de pós-graduação como o APAI


é inerentemente tecnológica e gerencial em sua essência, visto que os alunos são ou
desejam se tornar profissionais da área, têm conhecimento já amadurecido do mercado
de trabalho, ao mesmo tempo em que trazem questionamentos que forçam o corpo
docente e a Instituição a aprimorar suas competências e habilidades no trato com os
procedimentos característicos do ensino-aprendizagem neste nível de curso.
Na primeira turma (16 alunos) e nas subsequentes (segunda e terceira, com 15
e 12 alunos, respectivamente) foi feita pelo professor proponente do projeto do curso
APAI, e então seu primeiro coordenador pedagógico, uma sondagem com palavras-
chave (possíveis temas ou atributos) e funções e/ou setores aos quais os alunos estariam
vinculados ou com as(os) quais desejariam trabalhar no mundo real, relacionado com
o setor produtivo e prestador de serviços em produção e ou automação. Como trabalho
acadêmico, foi proposto aos alunos que, em conjunto com o coordenador, listassem
relacionamentos com cinco atributos por função, para se obter relações fortes (pares
atributo-função). Assim, o coordenador elaborou uma lista chamada “lista de atributos
e funções”, que resultou na Tabela 2, que mostra as 28 relações mais fortes entre pares
atributo-função, na opinião dos alunos e do coordenador.
Tabela 2 - Lista de 28 atributos e funções/setores para a elaboração de uma tabela de
relacionamentos com cinco atributos por função, em ordem de importância

ATRIBUTOS ATRIBUTOS FUNÇÕES/SETORES


1 Alegria Assistência técnica
2 Amabilidade Automação
3 Amizade Documentação
4 Amor Controle
5 Atividade Custos
6 Beleza Dados
7 Bondade Defeito
8 Calma Diagnóstico
9 Colaboração Documentação
10 Cooperação Engenharia de Processos
11 Criatividade Robótica
12 Desejo Engenharia de produção
13 Dinamismo Finanças
14 Eternidade Help-desk
15 Evolução Informação
16 Firmeza Leiaute
17 Impulso Logística
18 Liberdade Manufatura
19 Liderança Manutenção
20 Paz Máquinas
21 Pensamento Marketing

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 209


ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

ATRIBUTOS ATRIBUTOS FUNÇÕES/SETORES


22 Perenidade Materiais
23 Sentimento Operações
24 Serenidade Pós-vendas
25 Solidez Produção
26 Sorriso Produtividade
27 Ternura Projetos
28 Tranquilidade Qualidade

Posteriormente, foi feito pelo coordenador do curso, em continuação a esta pesquisa,


um refinamento das relações da Tabela 2, aglutinando os pares por afinidades das
funções, eliminando redundâncias e corrigindo inconsistências, cujo resultado aparece
na Tabela 3, com 10 novos pares atributo-função. A escolha das afinidades de funções
em vez das afinidades dos atributos se deve às limitações no trato com potenciais H&C
advindas de atributos com significados abrangentes e, às vezes, ambíguos, levantados
em cenários e condições similares aos desta pesquisa.
O que faz com que esta pesquisa tenha uma motivação adicional é o fato das
TICs poderem ser contempladas e abordadas na maioria das disciplinas do curso, além
do apoio das atividades de projeto, com efetiva participação dos alunos, inclusive e
principalmente no processo decisório dos temas e das atividades a serem desenvolvidas,
o que eleva muito o grau de comprometimento deses alunos, assegurando-lhes voz e vez
na prática do ensino. Assim, eles deixam de ser meros receptores, coadjuvantes, para
serem atores-ativos e donos e verdadeiros decisores de seus destinos em suas formações
em nível de pós-graduação.
Tabela 3 - Lista otimizada com os 10 novos atributos e funções/setores, derivados dos
28 pares da Tabela 2

NOVOS ATRIBUTOS SIGLA FUNÇÕES/SETORES


1 Alegria, Eternidade, Serenidade AES Assist. técnica, Help-desk, Pós-vendas
2 Amabilidade, Criatividade, Paz ACP Automação, Robótica, Máquinas
Amizade, Ternura, Tranquilidade, Documentação, Projetos, Qualidade,
3 ATTS
Sorriso Produtividade
4 Amor, Atividade, Beleza, Evolução AA, BE Controle, Custos, Dados, Informação
5 Cooperação, Colaboração CC Eng. Processos, Documentação
6 Desejo, Firmeza DF Eng. de Produção, Leiaute
7 Dinamismo, Pensamento DP Finanças, Marketing
8 Impulso, Perenidade IP Logística, Materiais
9 Liberdade, Sentimento, Solidez LSS Manufatura, Operações, Produção
10 Liderança, Calma, Bondade LCB Manutenção, Diagnóstico, Defeito

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 210


Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

Apesar de funções como Compras e Expedição não aparecerem nas Tabelas


2 e 3, aquelas que aparecem listadas são representativas de grande parte do que
se imaginava como características marcantes, mas não bastantes, no desempenho
das respectivas funções, em sua maioria aproveitáveis no ambiente de produção e
manufatura, automatizadas ou não. Outra observação em relação a esse levantamento é
que, embora Dados e Informação apareçam em duas linhas das 28 iniciais (TABELA
2), sem nenhuma outra função correlata adicional, foi comentado que as TICs são
indiscutivelmente comuns e necessárias em todas as funções, em qualquer área ou
fase do processo produtivo, razão pela qual não havia necessidade de contemplá-las
isoladamente.
Ao se analisar mais detalhadamente a Tabela 3 com relação a que atributos seriam
essenciais no desempenho de tarefas que façam uso massivo das TICs, indiretamente
tomando-se as funções Automação, Robótica, Controle, Custos, Dados, Informação,
Finanças, Marketing, Manufatura, Operações e Produção, que, via de regra, estão
entre as que mais uso fazem das TICs, chega-se, no entanto, à conclusão de que os
atributos mais marcantes no desempenho de tarefas que fazem uso massivo das TICs,
são: Amabilidade, Criatividade, Amor, Atividade, Beleza, Evolução, Dinamismo,
Pensamento, Liberdade, Sentimento e Solidez.
Essa lista de 10 atributos pode dar origem a uma relação consistente de potenciais
habilidades e ou competências para o curso, no desempenho de funções e atividades que
fazem uso massivo de TICs, já que resultou de relatos de experiências e conhecimentos
bem ligados às áreas de atuação de profissionais em Administração da Produção e
Automação Industrial. Nesta lista não aparecem as palavras conhecimento, saber
(substantivo), manusear, montar, explicar, desenhar etc. A explicação para tal ausência
é que a lista inicialmente elaborada (TABELA 2) foi composta a partir de experiências
diversas em amostras significativas de empresas do ramo industrial, sem no entanto
mencionar a expressão “habilidades e competências”. Assim, propositalmente, não
se direcionou a coleta de dados para a conceituação ou o foco das H&C. Este é um
caminho válido na elaboração de sugestões ou ideias, a partir do que se evolui para a
filtragem do que se aplica e do que não se aplica ao contexto, sem a polarização em nível
conceitual.

3 A NOVA PROPOSTA CURRICULAR


Os atributos listados anteriormente (Amabilidade, Criatividade, Amor, Atividade,
Beleza, Evolução, Dinamismo, Pensamento, Liberdade, Sentimento e Solidez) por
certo não se constituem em habilidades e ou competências de imediato. No entanto,
eles podem dar uma ideia de algumas H&C comportamentais, importantes ao longo
da carreira de cada profissional do curso APAI, ou mesmo para o desenvolvimento
das atividades acadêmicas. Devem ser eleitas as H&C técnicas importantes para tal
desenvolvimento e, assim, se ter uma base para a análise global do currículo do curso.
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 211
ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

A nova estrutura curricular proposta é mostrada na Tabela 4. A carga horária de


cada disciplina deve ser múltipla inteira de 15 horas, em obediência ao regulamento
geral desses cursos no CEFET/MG, para novos projetos. A carga horária total do
curso é de 390 horas, sendo 135 horas no módulo 1, 120 horas no módulo 2 e 135 horas
no módulo 3, em um total de 18 disciplinas.
Tabela 4 - Nova estrutura curricular proposta do curso APAI

C.H. ÁREA
MÓDULO DISCIPLINAS
(h) 1 2 3 4
1 Integração e Nivelamento 15 x
2 Administração da produção e custos 15 x
3 Informática gerencial na indústria 30 x
4 Organização industrial, cadeia de suprimentos e
15 x
M1 - 135 h logística
5 Gestão da qualidade, processos e produtividade 15 x
6 Processos industriais e de fabricação 15 x
7 Tecnologias de informação e comunicação 30 3
Projeto interdisciplinar 1 x x x x
8 Planejamento e tomada de decisão apoiados em
30 x
sistemas de informação
9 Gestão de operações e modelagem de sistemas
30 x
produtivos
M2 - 120 h
10 Gestão informatizada da produção e de
30 x
projetos
11 Automação e instrumentação industrial 30 x
Projeto interdisciplinar 2 x x x x
12 Gestão integrada da manutenção 15 x
13 Gestão informatizada da manutenção 15 x
14 Desenvolvimento de projetos em produção e
15 x
automação
15 Metodologia científica em produção e
15
M3 - 135 h automação
16 Redes industriais e controladores programáveis 30 x
17 Robótica industrial e sua influência na
15 x
organização do trabalho e na produção
18 Seminários de atualização 30 x
Projeto interdisciplinar 3 x x x x
M4 Monografia

A primeira disciplina (Apresentação e Integração) fornece oportunidades ao aluno


de se situar no novo ambiente, se integrar à equipe de colegas, ao corpo docente, aos
funcionários e à estrutura da Instituição. São previstas apresentações individuais das

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 212


Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

expectativas, conhecimentos e experiências dos alunos, a utilização de discussões


em grupo e dinâmicas, algumas conduzidas por profissional de Psicologia, jogos
e apresentações de trabalhos em forma de artigos científicos a serem publicados em
periódico ou evento científico de abrangência nacional. Dessa forma, não apenas se inicia
o processo de integração dos alunos, mas também lhe são conferidas oportunidades de
produzir um artigo a ser publicado.
Outra disciplina proposta no projeto pedagógico é “Seminários de Atualização”.
Remodelada, com novo enfoque, o das H&C em TICs, tem a finalidade de apresentar
temas atuais e relevantes, tecnológicos e não tecnológicos, ligados a áreas industriais,
de serviços e outros temas importantes para o profissional da área industrial de
forma geral. Ao mesmo tempo, essa disciplina serve como ferramenta importante à
coordenação do curso, para testar a validade de novos temas e novas abordagens que
poderão servir de base para a atualização do curso. Além disso, os alunos participam
e realmente definem, a partir de um conjunto de temas sugeridos pela coordenação,
somados a outros sugeridos pela turma, quais temas são prioritários. O total de temas é
então submetido à apreciação dos alunos algumas semanas antes do início efetivo dessa
disciplina, que procedem a uma votação e elaboração de uma lista com todos os temas,
em ordem de preferência. Tal disciplina é ministrada na segunda metade do curso,
época em que se estima a maturidade dos alunos e que o conhecimento dos temas
já estudados sejam suficientes para a decisão em relação ao pretendido. Essa efetiva
participação dos alunos na elaboração da ementa confere-lhe uma sensação de elevado
espírito de participação e comprometimento, tornando-os sujeitos do processo ensino-
aprendizagem de forma ativa.
A nova disciplina “Tecnologias de Informação e Comunicação” tem função-chave
nesta reformulação, visto que apresentará ao aluno o que se tem de mais atual na área, ao
mesmo tempo em que possibilitará à coordenação do curso ferramentas de atualização
da proposta curricular em turmas futuras.
A introdução dos três projetos interdisciplinares, ao final de cada módulo, sem
carga horária especificada, mas como exigência para a certificação, possibilitará aos
alunos, por meio de reuniões com os professores do respectivo módulo, a aplicação
de conceitos estudados, preferencialmente no módulo atual, dentro da visão das
H&C em TICs, de forma que, transversalmente, sejam aprimoradas as habilidades e
competências dos alunos nessa área. A especificação de cada projeto, seu cronograma
e recursos, deve ser feita pelos próprios alunos, ouvidos os professores e a coordenação.
Seu desenvolvimento deve ser necessariamente em grupo, para que sejam valorizadas
as competências comportamentais e a utilização de ferramentas de comunicação
automatizadas, de reuniões virtuais e similares.
Assim, devem ser tabalhadas as principais “Competências Técnicas e
Comportamentais” e Habilidades dos alunos, a maioria delas voltadas para TICs, tais
como:

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 213


ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

Principais Competências Técnicas:


1. saber programar em situações triviais em produção;
2. saber transpor uma situação real para o mundo da simulação (simulação em
geral ou utilizando softwares específicos);
3. capacidade de propor soluções alternativas em simulação e gestão informatizada
da produção, de projetos e de manutenção;
4. saber utilizar os recursos computacionais (hardware e software) disponíveis;
5. dominar o uso da internet (principalmente como fonte de pesquisa e de
comunicação);
6. saber utilizar as ferramentas de comunicação instantânea, de reunião virtual em
grupo e de vídeo conferência.

Principais Competências Comportamentais:


7. apresentar motivação e serenidade em atividades em grupo;
8. entender e aceitar regras coletivas;
9. atuar com objetividade em atividades em grupo;
10. colaborar na execução das atividades em grupo;
11. mostrar persistência em dificuldades;
12. apresentar capacidade de síntese em problemas que utilizem TICs;
13. ser cortês e respeitoso(a) nos relacionamentos;
14. apresentar-se firme e dinâmico nas decisões;
15. utilizar a liberdade de ação e o espírito de liderança na medida certa, em
respeito aos colegas e outros atores no meio acadêmico.

Principais habilidades:
16. montagem de blocos funcionais utilizando softwares;
17. testar hardware e sistemas de automação e de redes industriais;
18. utilizar de forma eficaz equipamentos do laboratório de informática e de
automação.
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 214
Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

4 CONCLUSÕES
As implicações dos estudos em H&C podem ir além da formulação de novas
propostas curriculares, como auxiliar no aprimoramento da capacidade crítica dos alunos
e estes, melhor “aprendendo a aprender”. Conquanto a seleção de pessoal, contratação,
avaliação de desempenho, treinamento e desenvolvimento de RH se constituam em
práticas cotidianas em várias empresas, o meio acadêmico tem seus métodos e critérios
próprios e nem sempre oferece a receptividade adequada às importações de métodos e
técnicas empresariais.
Da mesma forma que as organizações se preocupam com a eficácia, o atingimento
de metas e os objetivos, o meio acadêmico se norteia por procedimentos análogos,
podendo ser esse um argumento adicional para pesquisas conforme esta, além da
melhoria do aprendizado e aperfeiçoamento de seus processos.
Uma nova proposta curricular, construída a partir do mapeamento de potenciais
habilidades e competências em TICs, surge como resposta a novas demandas dos
alunos, que, neste caso, já são profissionais e também trazem riquíssima bagagem de
experiências e conhecimentos para, de forma interativa, contribuírem com o sistema
educacional.
O enfoque das H&C em TICs é apropriado e tem se mostrado válido no curso
APAI, quando confrontado com as demandas representadas pelos alunos da turma
atual e das anteriores, razão pela qual a nova proposta curricular poderá ser aprovada
para ser aplicada já na próxima turma.
Nota-se a conveniência do novo projeto pedagógico deste curso valorizar
enfaticamente as atividades em grupo para que as competências comportamentais
sejam aprimoradas e desenvolvidas também com o auxílio das próprias TICs, fazendo
o processo ensino aprendizagem se tornar mais eficaz. Conquanto haja limitações no
trato com potenciais H&C advindas de atributos com significados abrangentes e às
vezes ambíguos, levantados em cenários e condições similares aos desta pesquisa, com
esta proposta, as TICs são contempladas e abordadas na maioria das disciplinas do
curso, além do apoio às atividades de projeto, com efetiva participação dos alunos,
inclusive e principalmente no processo decisório dos temas e das atividades a serem
desenvolvidos, o que eleva muito o grau de comprometimento deles.

AGRADECIMENTOS
Ao Professor Dr. Carlos Fernando Araújo Jr., orientador de doutorado na
Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), pela orientação segura, motivadora,
competente e eficaz, às coordenadoras do Doutorado em Ensino de Ciências e
Matemática da Unicsul, professoras Drª. Edda Curi e Drª. Norma S. G. Allevato,
pelo trabalho perseverante, pela paciência e dedicação, conduzindo os pesquisadores
Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 215
ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

ao objetivo nobre maior, aos outros professores e professoras do Doutorado na


Unicsul, ao CEFET/MG pelo apoio institucional e financeiro parcial, à ASCEFET
pela administração do convênio do Doutorado na Unicsul (Juarez) e aos colegas do
Doutorado e de trabalho, pela união, motivação, amizade e colaboração (Juarez).

REFERÊNCIAS
Amaral, M. R. et al. Modelo para o mapeamento de competências em equipes de
inteligência competitiva, Ci. Inf., Brasília, v.37, n.2, p. 7-19, maio/ago 2008.

ARRUDA, M. C. C. Qualificação versus competência. Boletim Técnico do Senac, RJ,


v.26, n.2, p. 19-27, maio/ago. 2000.

BATTINI, O. Produtividade acadêmica e políticas avaliativas no ensino superior:


intensificação do trabalho e descaracterização da identidade docente no Departamento de
Educação da Universidade Estadual de Londrina. Tese Doutorado. CURITIBA: UFPR,
2011.

Bergamini, C. W.; Beraldo, D. G. R.. Avaliação de desempenho humano na


empresa. São Paulo: Atlas, 1988, 290p.

BORDA, O. F. Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o


significado e o papel da ciência na participação popular. In: BRANDÃO, C. R. (Org.).
Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 8ed. 1990, 211p.

BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. A. Gestão de competências e gestão de desempenho:


tecnologias distintas ou instrumentos de um mesmo constructo? Revista de Administração
de Empresas, v.41, n.1, p. 8-15, jan./mar. 2001.

CEFET/MG. Regulamento Geral do Programa de Pós-graduação Lato Sensu. Disponível


em: <http://www.latosensu.cefetmg.br/site/sobre/normasRegulamentos.html>. Acesso em: 09
nov. 2013.

DAFT, R. L. Organizações: teorias e projetos. 7. ed. SP: Pioneira Thomson L., 2002. 532 p.

DAÓLIO, L. C. O que são competências? RH Portal. Disponível em: <http://www.rhportal.


com.br/artigos/index.php?idc_cad=6c2xd82ai>. Acesso em: 26 nov. 2009.

Deluiz, N. O modelo das competências profissionais no mundo do trabalho e na educação:


implicações para o currículo. Boletim Técnico do Senac. V.27 – n.3 - Set/Dez2001.
Disponível em: <http://www.senac.br/BTS/273/boltec273b.htm>. Acesso em: 08 set. 2013.

EBOLI, M. Um novo olhar sobre a educação corporativa – desenvolvimento de talentos


no século XXI. In: DUTRA, Joel Souza (Org.). Gestão por Competências: um modelo
avançado para o gerenciamento de pessoas. São Paulo: Editora Gente, 2001, p. 97-128.

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 216


Carlos Fernando Araújo Jr., Juarez Marques Lacerda

FERREIRA, D. T. Profissional da informação: perfil de habilidades demandadas pelo


mercado de trabalho. Ciência da Informação, Brasília, v. 32, p. 42-49, jan./abr. 2003.

FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências.


2ed. São Paulo: Atlas, 2001, 169p.

Gil, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. SP: Atlas, 4ª. Ed., 175p.

GRAMIGNA, M. R. Modelo de competências e gestão de talentos, 2ed. São Paulo:


Pearson, 2007, 241p.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA – INEP. Competências e habilidades. Disponível em: <http://www.enem.inep.
gov.br>. Acesso em: 01 set. 2007.

______. Estudo Analítico Comparativo do Sistema Educacional do Mercosul (2001-


2005). Julho, 2009.

LACERDA, J. M. ; OLIVEIRA, P. H. Habilidades e Competências Desejáveis aos


Profissionais de Inteligência Competitiva. Ciência da Informação, v. 36, p. 46-53, 2007.

LACERDA, J. M.. Projeto de curso de pós-graduação lato sensu em Administração da


produção e automação industrial - v.2. Belo Horizonte: CEFET/MG, 2008 (Relatório).

Lakatos, E. M.; Marconi, M. de A. Técnicas de pesquisa. 7ed. São Paulo: Atlas,


2009.

Pereira, J. C. R. Análise de dados qualitativos. SP: Edusp, 1999, 157p..

PERRENOUD, P. et al. As Competências para ensinar no século XXI: a formação dos


professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002.

RAMPERSAD, H. K. Scorecard para performance total. RJ: Elsevier, 2004, 400p.

Ricardo, E. C. Discussão acerca do ensino por competências: probemas e alternativas.


Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, p. 605-628, maio/ago. 2010.

SIMONIAN, M. Formação continuada em ambiente virtual de aprendizagem: elementos


reveladores da experiência de professores da educação básica. Dissertação Mestrado.
CURITIBA: UFPR, 2009.

TARAPANOFF, K.; SUAIDEN, E.; OLIVEIRA, C. L. Funções sociais e oportunidades


para profissionais da informação. DataGramaZero: revista de ciência da informação, v. 3, n.
5, out. 2002. Disponível em: <http://dgz.org.br/out02/Art_04.htm>. Acesso em: 26 jun. 2009.

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 217


ANÁLISE E PROPOSTA CURRICULAR, COM BASE EM HABILIDADES...

TRASSATTI, S. R.; COSTA, M. I. Administração de recursos humanos por competências:


a gestão do novo contrato entre pessoas e empresas do terceiro milênio. In: NERI, Aguinaldo
A. (Org.). Gestão de RH por competências e a empregabilidade. Campinas: Papirus, 2005,
224p.

ZARIFIAN, P., Objetivo competência por uma nova lógica. São Paulo: Atlas, 2001, 197p.

______. O modelo da competência e suas consequencias sobre as ocupações profissionais.


Marne-la-Vallée, França. Palestra no CIET-SENAI, RJ, 26/08/1998.

YIN, R. K. Estudo de caso: Planejamento e métodos, Porto Alegre: Bookman, 2001.

Caderno pedagógico, Lajeado, v. 10, n. 2, p. 199-218, 2013. ISSN 1983-0882 218

Você também pode gostar