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ADAPTADO AO BRASIL
25 de setembro de 2014
CONTEÚDO
3. O que é a falcoaria?................................................................................................................ 6
9. Equipamentos ....................................................................................................................... 13
14. Como ajudar a falcoaria se perceber que não tem condições para a prática? .................... 26
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Oficialmente reconhecida pela UNESCO – 16 de Novembro de 2010.
preparação, conhecimento e experiência antes de estarmos “prontos” para dar os
primeiros passos.
Esperamos que ao chegar ao fim deste manual o leitor tenha compreendido melhor
aquilo que a falcoaria realmente é! Esperamos, também, que tenha entendido melhor a
dedicação, tempo e despesa que a arte da falcoaria exige.
3. O QUE É A FALCOARIA?
Para muitas pessoas a primeira vez que tomam contato com a “falcoaria”
acontece quando veem uma demostração com aves de rapina, quando leem um
artigo numa revista ou quando vêm um documentário que envolve aves de rapina
treinadas. No entanto isto não é falcoaria!
Falcoaria é a arte de caçar espécies selvagens com uma ave de rapina treinada.
Foto: http://pvmarques.com/
Até ao final do Século XVII a história de muitos países está repleta de referências à
falcoaria. Os falcões eram considerados como símbolos de poder e influência,
enquanto os açores eram utilizados pelo “cozinheiro” para ajudar a “encher a
panela”. Estas referências podem ser encontradas em livros, quadros, brasões. Estas
aves eram até utilizadas como pagamento de resgates ou como pagamento de rendas de
terra. A idade média representa a idade dourada da falcoaria.
No entanto, no final do Século XVII a arma de fogo começa a ganhar
adeptos e a falcoaria passa a ser considerada, apenas, uma atividade recreativa
associada à aristocracia; era conhecida como o “Desporto dos Reis”. A nobreza abastada
era a única com tempo livre suficiente e acesso a terrenos propícios para este tipo de
caça.
Na sociedade atual, em que as pessoas têm cada vez mais tempo livre tem havido
um aumento crescente do interesse por esta forma de caça, interesse esse que tem sido
acompanhado por evoluções relevantes para esta atividade, como o aparecimento da
telemetria enquanto forma de recuperar aves perdidas e posteriormente o GPS; há quem
considere que a atualidade representa uma nova “idade dourada” para a falcoaria
mundial.
O aumento dramático da população no Século XX, em conjunto com a revolução
agrícola, contribuiu para que muitas espécies de aves de rapina sofressem um grande
decréscimo nas suas populações. Inicialmente devido a um período de perseguição às
aves de rapina e depois pelo aumento da utilização de pesticidas agrícolas,
particularmente os semelhantes ao DDT. As aves de rapina, o último elo da
cadeia alimentar, acumulam este tipo de produtos no seu corpo, causando a produção de
ovos com uma casca muito fina, que não resistiam ao período de incubação, ou
simplesmente à infertilidade. A aprovação de legislação específica e restritiva para o
uso destes pesticidas nos países desenvolvidos levou a que as espécies mais
afetadas conseguissem recuperar.
Nem todas as evoluções humanas têm sido negativas para as aves de rapina e
hoje muitas espécies usadas na falcoaria estão a prosperar nos seus habitats naturais. Os
falcões peregrinos (Falco peregrinus) e falcões lanários (Falco biarmicus) alimentam-se
do grande número de rolinhas que resultam de um aumento da produção de
cereal, além disso utilizam os grandes edifícios urbanos para nidificar. Muitos
gaviões, também estão a beneficiar do aumento de populações urbanas de
pombos e rolinhas e estão a começar nidificar em jardins suburbanos (realidade muito
presente no Brasil, Reino Unido e EUA).
É interessante notar que muita da energia utilizada na falcoaria pelos
entusiastas desta atividade está também a ser canalizada para a conservação. Uma das
iniciativas mais notáveis teve lugar nos EUA onde um grupo de conservacionistas e
falcoeiros fundaram o “Peregrine Fund” que foi pioneiro na cria em cativeiro do
falcão peregrino para libertação na natureza. Nos anos 60, o falcão peregrino foi dado
como extinto em várias áreas dos EUA devido à influência do DDT. Graças à ação do
Peregrine Fund os falcões peregrinos foram reintroduzidos nesses habitats e estão
a prosperar na atualidade. Em 1999 o falcão peregrino foi considerado como espécie
não ameaçada nos EUA; um caso impar de sucesso na história da conservação da
natureza. Sucessos similares foram conseguidos por falcoeiros (ou com a
participação dos mesmos) na recuperação do Peneireiro das Ilhas Maurícias; na
restauração de uma população nidificando de Açores no Reino Unido.
No Brasil em 1997 iniciou o Programa de Conservação do Gavião Real (PCGR)
através do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e em 2005 com o registro
de um ninho de gavião-real na Mata Atlântica (RPPN Estação Veracel, Bahia), o PCGR
estabeleceu metas de localizar outros ninhos na região e um trabalho de busca por ninhos
no dossel da Mata Atlântica foi iniciado com o Projeto Harpia Mata Atlântica, em 2007 a
ONG SOS Falconiformes, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), Associação Brasileira dos Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina
(ABFPAR) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) se juntaram para dar
continuidade ao projeto Harpia na Mata Atlântica, este projeto de monitoramento é
continuo e conta com a ajuda das entidades de Falcoaria do Brasil. Atualmente existem
diversos projetos de conservação em curso no mundo todo.
Fotos: http://hrezende1.wix.com/iaf-agm-argentina
5. SITUAÇÃO DA FALCOARIA A NÍVEL MUNDIAL NA
ATUALIDADE
A Arte da falcoaria é praticada em diversos países do mundo e foi recentemente
considerada pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade graças a
um esforço sustentado de diversas associações de falcoeiros a nível mundial. Para
compreender melhor a dimensão da Falcoaria a nível mundial encorajamos o leitor a
consultar o site da IAF (International Association for Falconry) em: www.iaf.org
A IAF representa atualmente 70 associações nacionais de falcoaria de mais de 48
países. Mundialmente representa cerca de 28.500 falcoeiros.
“Se acredita que o seu interesse pela falcoaria é mais que superficial e está disposto a
estudar esta arte antes de ter uma ave está no bom caminho”
Gavião-bombachinha-grande (Accipiter bicolor). II Encontro Nordeste de Falcoaria 2014
Foto: Duílio Lobo
Alguns dos custos que terão de ser considerados antes de adquirir uma ave serão:
9. EQUIPAMENTOS
Se você já possui algum conhecimento sobre falcoaria, certamente estranhará o
nome dos equipamentos listados mais abaixo, isso se deve ao fato de a ANF ter criado o
dialeto brasileiro de falcoaria (presente na Apostila), no qual foi sintetizada a opinião de
vários falcoeiros do Brasil, sendo sócios ou não da ANF. Essa ideia teve início em uma
discussão no fórum da ABFPAR proposta pelo falcoeiro Jorge Sales.
As aves de falcoaria jamais deverão ser mantidas em gaiolas ou jaulas, dado
que estragam ou quebram rêmiges e retrizes (penas das asas e cauda) e machucam as
ceras dos bicos contra as grades ou redes. Elas devem ser mantidas nas "mudas" e no
"jardim" nos momentos em que não estiverem voando.
Muda: são as “casas” onde permanecem as aves de rapina. Pois aí são mantidas
durante toda a época da muda das penas, enquanto fora dessa época são
habitualmente colocadas no "jardim" onde ao fim do dia são recolhidas às "mudas"
para pernoitar.
Jardim: terreno com grama onde durante o dia as aves de rapina repousam,
tomam banho e sol.
Foto: falconryforum.co.uk
Foto: northwoodsfalconry.com
Foto: falconiformes.co.uk
Destorcedor: Objeto metálico, onde as correias de
atrelamento das aves de rapina são inseridas, e que
podem girar conforme a ave de rapina se mexe,
impedindo que se enrolem.
Foto: westwealdfalconry.co.uk
Foto: westernsporting.com
Bacia de banho: recipiente com água fresca e
límpida, sempre à disposição da ave de rapina
para beber e se banha.
Para responder a esta questão devemos ver primeiro aquilo que a falcoaria não é:
Caçar muitas presas: A caça com uma ave treinada não é um método muito
eficaz quando comparado com métodos mais modernos. Mesmo a melhor
das aves de rapina falha mais frequentemente do que tem sucesso. Em muitas
saídas para a caça não chegam sequer a conseguir uma única presa. Qualquer
pessoa interessada em capturar muitas presas deve se dedicar a outro método
que não a Falcoaria;
FOX, Nick
Bird of Prey Management Series
Adquira um livro e estude, depois complemente essa informação com outros livros e/ou
outros tipos de informação, como as presentes em DVD’s e na Internet.
Lances em que a ave ganha Necessitam de zonas O Brasil não possui aves de
Alto voo altura antes da presa ser abertas, com pouco utilização tradicional neste
levantada e depois a tenta coberto vegetal para tipo de lance sendo voadas
capturar em voo caçar. atualmente*
* Pela primeira vez no Brasil, na data da publicação deste manual, a espécie: Falcão-peregrino (Falco
peregrinus) foi disponibilizada para reservas através do criadouro de aves de rapina Hayabusa, porém ainda
possuem 11 dias de vida. Sendo a espécie mais conhecida de ave de rapina utilizada em alto voo.
Porém não existe um lei específica que regulamente a falcoaria no Brasil, por essa
razão, para poder praticar a falcoaria o iniciado deve conhecer as legislações
pertinentes à caça no Brasil entre outras legislações que regem a criação e o manejo de
animais silvestres.
Apesar de ainda não possuir regulamentação específica no Brasil, a falcoaria vem
sendo bem vista pelos órgãos ambientais e, através de termos de cooperação
estabelecidos com estes órgãos, as técnicas de falcoaria vem sendo utilizadas por
algumas associações como ANF, AFARN e ABFPAR com sucesso em programas
educacionais e de conservação envolvendo a triagem de aves, sua reabilitação e
reintegração à vida silvestre, permitindo a construção de conhecimento sobre a fauna
brasileira e contribuindo para a sua conservação.
Para simplificar, a ANF disponibiliza em sua Apostila aos seus associados uma
compilação dos documentos mais relevantes e que devem ser levados em consideração.
Informamos também que a aquisição de uma ave de rapina deve ser feita
a aves nascidas em criadouros legalmente reconhecidos pelo IBAMA e que forneçam a
documentação fiscal do animal. A compra no Brasil só é permitida sempre que as aves
tenham sido reproduzidas em cativeiro e detenham a respetiva documentação
comprobatória.
A aquisição de aves de rapina por outros fins é ilegal no Brasil. Se
encontrar uma ave de rapina na natureza ou lhe for entregue uma ave proveniente
do seu meio natural, deve informar as autoridades imediatamente e entregar a ave ao
órgão ambiental competente.