Você está na página 1de 26

ESTE É O PRIMEIRO MANUAL DE FALCOARIA

ADAPTADO AO BRASIL

Documento elaborado por:

25 de setembro de 2014
CONTEÚDO

As nossas boas-vindas ............................................................................................................... 4

1. Por que escrevemos este manual? ......................................................................................... 5

2.qual a nossa responsabilidade para com a falcoaria? .............................................................. 5

3. O que é a falcoaria?................................................................................................................ 6

4. Uma breve abordagem histórica ............................................................................................. 7

5. Situação da falcoaria a nível mundial na atualidade.............................................................. 10

6. Quer mesmo ser falcoeiro? ................................................................................................... 10

7. Noções gerais ....................................................................................................................... 11

8. Custos e tempo necessário................................................................................................... 12

9. Equipamentos ....................................................................................................................... 13

10. Será que devo ser falcoeiro? .............................................................................................. 19

10.1. Procedimento para o iniciante na falcoaria....................................................................... 21

11. Alguns livros recomendados ............................................................................................... 22

12. Principais espécies de aves de rapina utilizadas na falcoaria brasileira .............................. 23

13. Enquadramento legal da falcoaria no brasil ........................................................................ 25

14. Como ajudar a falcoaria se perceber que não tem condições para a prática? .................... 26

15. Créditos e agradecimentos ................................................................................................. 26


AS NOSSAS BOAS-VINDAS

Bem-vindo! A Associação Nordeste de Falcoaria e Conservação de Aves de Rapina


(ANF) lhe dá as boas vindas ao mundo da falcoaria. Se o leitor não conhece bem
esta arte aconselhamos ler este pequeno manual introdutório. Este manual não pretende
ser um livro de iniciação, é antes uma pequena apresentação do mundo da falcoaria que,
esperamos, possa ajudar o leitor na sua descoberta.

Falcão-de-coleira (Falco femoralis). II Encontro Nordeste de Falcoaria 2014


Foto: Duílio Lobo
1. POR QUE ESCREVEMOS ESTE MANUAL?
Este manual serve de introdução ao mundo da falcoaria para aqueles leitores que
desejam conhecer esta atividade e quem sabe vir a praticá-la. Como o leitor irá
perceber, ao ler as páginas que seguem, apelamos a que o aspirante a falcoeiro e
àqueles que se iniciam nesta arte tenham uma atitude responsável em todos os
momentos da sua relação com esta arte de caça.
Fazemos este apelo porque sabemos as dificuldades que um aspirante ou
iniciado na falcoaria pode encontrar e queremos que as evitem ou, pelo menos,
estejam preparados para enfrentá-las. Com frequência temos conhecimento de pessoas
que se deparam com problemas sérios depois de adquirem a sua primeira ave.
Geralmente entram em contato porque aconteceu algo que não esperavam, porque
algo correu mal, ou porque subitamente perceberam que não têm a experiência ou
espírito de sacrifício necessário para praticar esta atividade. Acreditamos que uma
melhor preparação, pesquisa e estudo pode ajudar a minimizar ou evitar este tipo de
situações.

2.QUAL A NOSSA RESPONSABILIDADE PARA COM A


FALCOARIA?
Cada vez que um falcoeiro sai com a sua ave para o campo não é apenas
responsável pelos seus atos e pela sua ave. Transporta, também, a responsabilidade de
representar a história da falcoaria e de zelar pelo seu futuro. Os falcoeiros são, na
verdade, representantes de uma arte muito antiga – hoje Património Cultural
1
Imaterial da Humanidade – que teve origem muito antes do nosso nascimento e
que esperamos seja praticada muito depois da nossa partida. Se não formos capazes de
praticar esta arte de uma forma adequada e de garantir o seu futuro através de uma
atitude responsável, então, não devemos nos considerar falcoeiros e será preferível não
praticarmos esta arte diretamente.
Ter uma ave de rapina não tem qualquer semelhança a ter um animal de
estimação. O objetivo da falcoaria é completamente diferente, é preciso muito mais

1
Oficialmente reconhecida pela UNESCO – 16 de Novembro de 2010.
preparação, conhecimento e experiência antes de estarmos “prontos” para dar os
primeiros passos.
Esperamos que ao chegar ao fim deste manual o leitor tenha compreendido melhor
aquilo que a falcoaria realmente é! Esperamos, também, que tenha entendido melhor a
dedicação, tempo e despesa que a arte da falcoaria exige.

3. O QUE É A FALCOARIA?
Para muitas pessoas a primeira vez que tomam contato com a “falcoaria”
acontece quando veem uma demostração com aves de rapina, quando leem um
artigo numa revista ou quando vêm um documentário que envolve aves de rapina
treinadas. No entanto isto não é falcoaria!

Falcoaria é a arte de caçar espécies selvagens com uma ave de rapina treinada.

Nesta definição a palavra caçar, faz toda a diferença. O objetivo da falcoaria e a


sua razão de ser é a caça com aves de rapina.

Falcão-peregrino (Falco peregrinus) / Foto: Michael Brothers


4. UMA BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA
A falcoaria é uma das formas de caça mais antiga do mundo, provavelmente com
quatro mil anos de idade.
A origem desta arte se perdeu no tempo, no entanto imaginamos que terá
tido início nas planícies eurasiáticas. O primeiro homem a praticar a falcoaria terá sido,
provavelmente, um caçador ou pastor que capturou um falcão após observar que
estes seguiam os rebanhos de gado em voo antecipando que alguma ave fosse
inadvertidamente levantada. Ainda hoje, em muitos locais do mundo, os falcões
selvagens seguem rebanhos na tentativa de beneficiar das presas que estes levantam.
O que começou como uma forma de conseguir alimento evoluiu, com o tempo, e tornou-
se uma atividade de caça muito ligada ao lazer. Podemos considerar as aves de rapina
como um dos primeiros animais a ser treinado pelo homem, provavelmente partilhando a
história da humanidade há tanto tempo como o cavalo.

Foto: http://pvmarques.com/

Até ao final do Século XVII a história de muitos países está repleta de referências à
falcoaria. Os falcões eram considerados como símbolos de poder e influência,
enquanto os açores eram utilizados pelo “cozinheiro” para ajudar a “encher a
panela”. Estas referências podem ser encontradas em livros, quadros, brasões. Estas
aves eram até utilizadas como pagamento de resgates ou como pagamento de rendas de
terra. A idade média representa a idade dourada da falcoaria.
No entanto, no final do Século XVII a arma de fogo começa a ganhar
adeptos e a falcoaria passa a ser considerada, apenas, uma atividade recreativa
associada à aristocracia; era conhecida como o “Desporto dos Reis”. A nobreza abastada
era a única com tempo livre suficiente e acesso a terrenos propícios para este tipo de
caça.
Na sociedade atual, em que as pessoas têm cada vez mais tempo livre tem havido
um aumento crescente do interesse por esta forma de caça, interesse esse que tem sido
acompanhado por evoluções relevantes para esta atividade, como o aparecimento da
telemetria enquanto forma de recuperar aves perdidas e posteriormente o GPS; há quem
considere que a atualidade representa uma nova “idade dourada” para a falcoaria
mundial.
O aumento dramático da população no Século XX, em conjunto com a revolução
agrícola, contribuiu para que muitas espécies de aves de rapina sofressem um grande
decréscimo nas suas populações. Inicialmente devido a um período de perseguição às
aves de rapina e depois pelo aumento da utilização de pesticidas agrícolas,
particularmente os semelhantes ao DDT. As aves de rapina, o último elo da
cadeia alimentar, acumulam este tipo de produtos no seu corpo, causando a produção de
ovos com uma casca muito fina, que não resistiam ao período de incubação, ou
simplesmente à infertilidade. A aprovação de legislação específica e restritiva para o
uso destes pesticidas nos países desenvolvidos levou a que as espécies mais
afetadas conseguissem recuperar.
Nem todas as evoluções humanas têm sido negativas para as aves de rapina e
hoje muitas espécies usadas na falcoaria estão a prosperar nos seus habitats naturais. Os
falcões peregrinos (Falco peregrinus) e falcões lanários (Falco biarmicus) alimentam-se
do grande número de rolinhas que resultam de um aumento da produção de
cereal, além disso utilizam os grandes edifícios urbanos para nidificar. Muitos
gaviões, também estão a beneficiar do aumento de populações urbanas de
pombos e rolinhas e estão a começar nidificar em jardins suburbanos (realidade muito
presente no Brasil, Reino Unido e EUA).
É interessante notar que muita da energia utilizada na falcoaria pelos
entusiastas desta atividade está também a ser canalizada para a conservação. Uma das
iniciativas mais notáveis teve lugar nos EUA onde um grupo de conservacionistas e
falcoeiros fundaram o “Peregrine Fund” que foi pioneiro na cria em cativeiro do
falcão peregrino para libertação na natureza. Nos anos 60, o falcão peregrino foi dado
como extinto em várias áreas dos EUA devido à influência do DDT. Graças à ação do
Peregrine Fund os falcões peregrinos foram reintroduzidos nesses habitats e estão
a prosperar na atualidade. Em 1999 o falcão peregrino foi considerado como espécie
não ameaçada nos EUA; um caso impar de sucesso na história da conservação da
natureza. Sucessos similares foram conseguidos por falcoeiros (ou com a
participação dos mesmos) na recuperação do Peneireiro das Ilhas Maurícias; na
restauração de uma população nidificando de Açores no Reino Unido.
No Brasil em 1997 iniciou o Programa de Conservação do Gavião Real (PCGR)
através do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e em 2005 com o registro
de um ninho de gavião-real na Mata Atlântica (RPPN Estação Veracel, Bahia), o PCGR
estabeleceu metas de localizar outros ninhos na região e um trabalho de busca por ninhos
no dossel da Mata Atlântica foi iniciado com o Projeto Harpia Mata Atlântica, em 2007 a
ONG SOS Falconiformes, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), Associação Brasileira dos Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina
(ABFPAR) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) se juntaram para dar
continuidade ao projeto Harpia na Mata Atlântica, este projeto de monitoramento é
continuo e conta com a ajuda das entidades de Falcoaria do Brasil. Atualmente existem
diversos projetos de conservação em curso no mundo todo.

Fotos: http://hrezende1.wix.com/iaf-agm-argentina
5. SITUAÇÃO DA FALCOARIA A NÍVEL MUNDIAL NA
ATUALIDADE
A Arte da falcoaria é praticada em diversos países do mundo e foi recentemente
considerada pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade graças a
um esforço sustentado de diversas associações de falcoeiros a nível mundial. Para
compreender melhor a dimensão da Falcoaria a nível mundial encorajamos o leitor a
consultar o site da IAF (International Association for Falconry) em: www.iaf.org
A IAF representa atualmente 70 associações nacionais de falcoaria de mais de 48
países. Mundialmente representa cerca de 28.500 falcoeiros.

6. QUER MESMO SER FALCOEIRO?


O leitor considera-se um aspirante a falcoeiro? Acreditamos no seu interesse
pela falcoaria e valorizamos, no entanto, pedimos que antes de se comprometer com
esta atividade, que pense se sabe o que envolve ser falcoeiro? A falcoaria é um
verdadeiro estilo de vida, isto porque implica um compromisso pessoal total para
com a ave de rapina uma vez que esta depende inteiramente do falcoeiro para assegurar
as suas necessidades básicas e o seu bem-estar. Além do compromisso do falcoeiro este
deve lembrar que, para praticar a falcoaria, precisará também de comprometer a
sua família, amigos e seu tempo livre. (obs.: Uma ave de rapina é um compromisso
constante, mesmo durante o período de férias).
Por essa razão pedimos que seja completamente sincero consigo mesmo
antes de tomar a responsabilidade de possuir um animal ao qual pode induzir dano
ou mesmo tirar a vida por não ter compreendido adequadamente o que ave
necessita ou o esforço que está subjacente a esta arte. Não queremos ofender o
leitor, ou considerá-lo inapto, porque obviamente se você ler estas páginas tem um
interesse genuíno pelas aves de rapina, mas queremos que pense sobre se deve
perseguir esse interesse através da prática da falcoaria ou se deve fazê-lo por outras
formas. Se ao ler este manual compreender que a falcoaria não é para si, esperamos
conseguir indicar-lhe como pode perseguir o seu interesse por estas aves e
simultaneamente assegurar que as mesmas continuam a sobreviver neste planeta
que partilhamos.
7. NOÇÕES GERAIS
Um interesse genuíno pelas aves de rapina e pela sua conservação é um pré-
requisito para ser falcoeiro. Os falcoeiros devem apoiar os princípios da conservação da
Natureza e do uso sustentável dos recursos naturais.
Muitas pessoas interessam-se por esta arte depois de terem visto uma exibição
com aves de rapina, um documentário na tv ou ter lido um artigo sobre falcoaria, mas
muito poucas pessoas conseguem compreender o esforço, tempo e custos envolvidos na
prática desta forma de caça. Estes “retratos” da falcoaria são pouco fiéis à realidade e
muitas vezes levam a que pessoas tomem a decisão de entrar nesta atividade sem
saberem, com veracidade, o que a mesma envolve.
Muitos falcoeiros e organizações que os representam desencorajam os aspirantes
até que estes provem ter paixão e espírito de sacrifício suficiente. As aves de rapina são
parte fundamental da biodiversidade do nosso planeta e a prática da falcoaria permite
uma relação privilegiada com esse patrimônio natural e intocado. A prática da
falcoaria é vista pela maioria dos falcoeiros como um privilégio pela relação que
permite com este patrimônio natural. Um aspirante a falcoeiro que não tenha os
conhecimentos necessários para praticar a falcoaria de forma adequada pode, apenas
porque teve uma paixão passageira por esta atividade, contribuir para o seu descrédito.
Os falcoeiros acreditam no princípio de que “a ave está em primeiro lugar” e por
essa razão muitas vezes são relutantes em ajudar um iniciante até que este prove a sua
paixão e compromisso. Muitas vezes os aspirantes são recebidos de forma pouco
entusiasta porque, simplesmente, parecem não compreender o privilégio que a relação
com uma ave de rapina representa e o quão importante é para os falcoeiros.
Para poder praticar esta forma de caça adequadamente o aspirante a
falcoeiro deve se informar antecipadamente, isto significa ler livros sobre falcoaria e aves
de rapina e fazer esforços persistentes para aprender os fundamentos desta arte, isto
antes de obter uma ave. Esperamos que observem este conselho antes de
adquirirem uma ave.

“Se acredita que o seu interesse pela falcoaria é mais que superficial e está disposto a
estudar esta arte antes de ter uma ave está no bom caminho”
Gavião-bombachinha-grande (Accipiter bicolor). II Encontro Nordeste de Falcoaria 2014
Foto: Duílio Lobo

8. CUSTOS E TEMPO NECESSÁRIO


Antes de praticar esta atividade deve ter em conta o custo da mesma, quer a nível
financeiro quer a nível de tempo. A falcoaria não pode ser praticada apenas
“ocasionalmente”, é um compromisso a tempo integral e isso torna a arte muito
exigente em termos de tempo.
Uma ave de rapina necessita, pelo menos, de uma hora de dedicação diariamente,
365 dias por ano. O treino de uma ave juvenil, nunca antes familiarizada com o falcoeiro,
exige ainda mais tempo. Se não tiver este tipo de disponibilidade recomendamos que não
se envolva na falcoaria até ter melhores condições.
Financeiramente não é uma atividade apenas para elites, mas exige algum
esforço financeiro que os aspirantes a falcoeiros devem ter em conta desde logo.

Alguns dos custos que terão de ser considerados antes de adquirir uma ave serão:

a) Livros de falcoaria e outros materiais de aprendizagem;


b) Construção de um local “fechado”; conhecido por muda para abrigar e proteger
a ave das mudanças do tempo e de potenciais perigos. Estes locais são construídos de
forma específica e as dimensões dependem da ave em questão;
c) Reserva de um local ao ar livre; conhecido como jardim onde a ave possa ser
colocada de forma segura para tomar sol, se banhar e aproveitar o bom tempo;
d) Poleiro para a ave, de formato e tamanho adequado; luva; balança e restante
dos equipamentos necessário para manuseio da ave;
e) Telemetria – equipamento de rádio utilizado para localizar uma ave perdida.
Deve ser uma prioridade para todas as espécies de aves de rapina;
f) Alimento para ave, de qualidade e tipo específico para a espécie de ave de presa,
respectivo local para ser armazenado e/ou congelado;
g) A compra da ave em si;
h) Despesas relacionadas com cuidados veterinários;
i) Despesas relacionadas com as viagens (GTA, atestado de saúde veterinário,
combustível, etc);
j) A lista continua,

9. EQUIPAMENTOS
Se você já possui algum conhecimento sobre falcoaria, certamente estranhará o
nome dos equipamentos listados mais abaixo, isso se deve ao fato de a ANF ter criado o
dialeto brasileiro de falcoaria (presente na Apostila), no qual foi sintetizada a opinião de
vários falcoeiros do Brasil, sendo sócios ou não da ANF. Essa ideia teve início em uma
discussão no fórum da ABFPAR proposta pelo falcoeiro Jorge Sales.
As aves de falcoaria jamais deverão ser mantidas em gaiolas ou jaulas, dado
que estragam ou quebram rêmiges e retrizes (penas das asas e cauda) e machucam as
ceras dos bicos contra as grades ou redes. Elas devem ser mantidas nas "mudas" e no
"jardim" nos momentos em que não estiverem voando.

 Muda: são as “casas” onde permanecem as aves de rapina. Pois aí são mantidas
durante toda a época da muda das penas, enquanto fora dessa época são
habitualmente colocadas no "jardim" onde ao fim do dia são recolhidas às "mudas"
para pernoitar.
 Jardim: terreno com grama onde durante o dia as aves de rapina repousam,
tomam banho e sol.

Alguns dos equipamentos necessários para a prática da Falcoaria:

Capuz: capuz feito de couro usado para cobrir a


cabeça das aves de falcoaria, tapando-lhes a
visibilidade a fim de se manterem tranquilas.
Ajusta-se e alarga-se ou fecha-se e abre-se na altura
do pescoço, na parte da nuca, por meio de
correias denominadas "serradouros". Cada capuz
deve ser feito à medida da ave que o irá usar para
não lhe causar desconforto ou ferir. Foto: flickrhivemind.net

Tarseiras: Atualmente as aves de rapina voadas em


falcoaria são equipadas com uma “tarseira” em cada
tarso, onde geralmente são fixadas com ilhós, por
onde são passadas as correias que atrelarão a ave
ao poleiro ou mesmo as correias de campo, que
serão utilizadas na hora de voar a ave livre no campo.

Foto: falconryforum.co.uk

Correias de atrelamento: Tradicionalmente de


couro, possui um boton numa extremidade e na outra
um corte para entrar o destorcedor. Esta correia é
utlizada para deixar a ave atrelada ao poleiro e não
deve ser utilizada para voar sua ave livre, pois devido
ao corte pode prender a ave e deixá-la pendurada.
Correias de campo: É identica à correia de
atrelamento, porém sem o corte na extremidade. Para
voar sua ave livre reitre as correias de atrelelamento e
substitua pelas correias de campo. Ao encerrar os
voos, troque novamente para as correias de
atrelamento, coloque o distorcedor e a trela e só
então a guarde na caixa de transporte.

Trela: Correia de material sintético ou de couro, que


prende as aves de rapina aos poleiros, ou ao "D"
metálico presente nas luvas de falcoaria.

Foto: northwoodsfalconry.com

Guizos: típicos de bom som, geralmente são presos


aos tarsos das aves de falcoaria, permitem mais
facilmente localizá-las entre arvores, matos, gramas
altas.

Foto: falconiformes.co.uk
Destorcedor: Objeto metálico, onde as correias de
atrelamento das aves de rapina são inseridas, e que
podem girar conforme a ave de rapina se mexe,
impedindo que se enrolem.

Fiador: Longo fio (geralmente cordelete naval) entre


20 e 50 metros que prende a ave de rapina em várias
fases de seu treinamento, proporcionando segurança
e evitando fugas.

Foto: westwealdfalconry.co.uk

Banco: Aparato que simula poleiros planos,


revestido em sua extremidade por astroturf,
geralmente para manter falcões atrelados.

Poleiro em arco: poleiro recomendado para aves


de baixo voo, geralmente enrolado por corda de
espessura adequada à determinada espécie ou
revestido por astroturf. Como o próprio nome indica
em formato de arco.

Foto: westernsporting.com
Bacia de banho: recipiente com água fresca e
límpida, sempre à disposição da ave de rapina
para beber e se banha.

Balança: indispensável para o registro diário do


peso da ave. Com ela aferimos da condição corporal
da ave e da quantidade e qualidade de alimento a
administrar.

Luva: de forma tradicional, com borla de couro


no ângulo inferior do canhão, usada para proteção
das mãos do Falcoeiro e para o conforto da ave de
rapina;

Isca: Objeto de couro revestido de penas ou pelos e


que serve para chamar as aves de rapina quando
voam livre. Ainda podem ser confeccionadas de
outros materiais, como camara de ar para melhor
higienização.
Colete ou bolsa: O colete é feito de material lavável
que serve para transportar utensílios e alimentação
para a ave e para o falcoeiro. Já a bolsa é
confeccionada em couro; geralmente a tiracolo, de
forma típica da falcoaria, usada para transportar
utensílios e alimentação para a ave também para
seu falcoeiro. Existem versões mais modernas em
materiais laváveis.

Telemetria: a maior revolução aos métodos


milenares da falcoaria. Consiste num conjunto
constituído por transmissor e receptor sendo o
primeiro de construção ligeira que permite ser
transportado pela ave. O transmissor emite um sinal
que é captado pelo receptor dando ao falcoeiro a
direção onde a ave se encontra.

GPS: Sistema de posicionamento via satélite que nos


dá a direção da ave através de um celular ou
computador. Nas aves de porte médio, devido ao seu
tamanho e peso (por volta de 20 gramas) deve ser
colocado na ave através de um “track pack / back
pack” posicionado no dorso da rapina. Já em grandes
águias pode ser utilizado acoplado a um clipe de
cauda. Foto: www.pigeongps.com
Também devemos considerar:

 Alimento: Devemos sempre ter a disposição alimento de qualidade para que a


ave esteja saudável. A alimentação deve ser a mais variada e completa possível e
adaptada à espécie de ave de rapina. Entende-se por alimentação completa a
utilização de várias partes do animal/presa. Isto porque todas (pele, osso,
músculo, etc.) detêm a sua função no bom funcionamento do organismo e/ou
saúde da ave . Todo o alimento fornecido à ave deve ser cru, fresco, devendo
ser o mais possível semelhante ao que teria na natureza, e se possível recém-
morto.

 Veterinário: As consultas nunca devem ser “adiadas” ao mínimo sinal de doença.


Em caso de dúvidas deve-se contactar de imediato um veterinário para obter
aconselhamento de um especialista e em caso de ser necessário, levar a ave
para observação.

10. SERÁ QUE DEVO SER FALCOEIRO?


Depois de observar alguns dos custos e dificuldades inerentes à prática da
falcoaria devemos nos perguntar: “Estou apto a ser falcoeiro?”

Para responder a esta questão devemos ver primeiro aquilo que a falcoaria não é:

 Caçar muitas presas: A caça com uma ave treinada não é um método muito
eficaz quando comparado com métodos mais modernos. Mesmo a melhor
das aves de rapina falha mais frequentemente do que tem sucesso. Em muitas
saídas para a caça não chegam sequer a conseguir uma única presa. Qualquer
pessoa interessada em capturar muitas presas deve se dedicar a outro método
que não a Falcoaria;

 Ter um animal de estimação exótico: Todos os falcoeiros formam um elo muito


forte com as suas aves e este é um é um elemento importante e mesmo essencial
a esta atividade. No entanto, a verdadeira falcoaria transcende largamente esta
relação pois o seu enfoque está na caça. As aves de falcoaria não são animais
de estimação nem devem ser tratadas como tal;

 Impressionar os amigos: A falcoaria não é um método exótico de impressionar


os amigos. Este tipo de conduta não tem qualquer lugar na falcoaria;

 Ter uma ave para fins comerciais ou mesmo educacionais: apesar de


ser legítimas as atividades remuneradas com aves de presa e aquelas com
propósitos educacionais, estas não devem se encaradas como de falcoaria por
não se relacionarem com a caça.

Se o leitor possuía alguma das motivações acima descritas para praticar a


falcoaria, pedimos que reconsidere as suas intenções para o bem desta arte.

Então o que é a Falcoaria:

Treinar uma ave de presa para caçar presas selvagens na presença do


Homem: Isto é falcoaria. Poucas coisas se podem comparar ao voo de uma ave de
rapina quando esta persegue uma presa. Uma ave de rapina adequadamente treinada
fará um esforço extraordinário para capturar a sua presa e por sua vez a presa usará de
todas as táticas que conhece para evitar a captura. É esta “relação” primitiva e
natural entre predador e presa em completa natureza que fascina os falcoeiros há
milhares de anos. A captura da presa é de importância relativa quando comparada
com o desenrolar e a beleza do lance. Apesar de criadas em cativeiro atualmente
as aves de rapina possuem instintos naturais completamente intactos.
Por essa razão e porque as aves não consideram o homem um aliado natural é
necessário muito esforço e dedicação para demonstrar à ave que podemos nos tornar seu
parceiro de caça. A falcoaria é um método de caça e como tal exige que o falcoeiro se
esforce em dar oportunidades de caça regulares à sua ave (tipicamente várias vezes por
semana).
10.1. PROCEDIMENTO PARA O INICIANTE NA FALCOARIA
Antes de adquirir a sua primeira ave o iniciante deve, idealmente, passar algum
tempo com um falcoeiro com experiência para perceber, na prática, o que implica
esta atividade. O mais provável é que rapidamente perceba que a falcoaria pode
ser considerada um verdadeiro - Estilo de vida! Este tipo de contato prévio pode
também considerar-se um recurso valioso quando o iniciante adquirir a sua primeira
ave e necessitar de aconselhamento ou ajuda prática.
Apesar de ser benéfico este tipo de contato com falcoeiros em atividade o
mesmo nem sempre é possível devido ao reduzido número de falcoeiros existentes e ao
tempo que a falcoaria acaba por ocupar nas suas vidas. Assim o iniciante deve munir-se
de informação de qualidade, como são alguns livros de iniciação (ver ítem 11).
A Internet constitui também um recurso valioso, mas frequentemente com
muita informação para o iniciante, pelo que aconselhamos cautela na quantidade de
informação que se obtém por esta fonte.
O esquema seguinte reflete o percurso aconselhado pela ANF para a iniciação
dos interessados na prática da falcoaria. Pensamos que este percurso dotará os
interessados da preparação mínima que um iniciado deve ter antes de adquirir a sua ave.
A aprendizagem de um falcoeiro e a sua constante necessidade de preparação
nunca terminam. Lembre-se que não existem: “perguntas estúpidas”; se tem uma questão
coloque-a e assegure o bem-estar da sua ave. Se não lhe for possível encontrar
ajuda de um falcoeiro assegure-se que esteja lendo o suficiente para compreender os
procedimentos básicos em falcoaria antes de adquirir a ave.
11. ALGUNS LIVROS RECOMENDADOS
Existe uma vasta lista de livros de falcoaria (a grande maioria em Inglês e Espanhol), no
entanto o iniciado é aconselhado a compreender primeiro os princípios básicos desta
atividade antes de tentar compreender algumas técnicas mais avançadas e complexas,
alguns dos livros que recomendamos para o falcoeiro que se inicia são:

CRESPO, Carlos (2013) FOX, Nick (1999) PARRY, Jones (1994)


Falcoaria – Arte Real. CTT Understanding the Bird of Prey Training Birds of Prey
LA FUENTE, Félix (1984) GLASIER, Philiph (1987). CEBALLOS, Javier (2011)
El arte de cetreria Falconry and Hawking Manual Básico y Ético de Cetrería

FOX, Nick
Bird of Prey Management Series

Adquira um livro e estude, depois complemente essa informação com outros livros e/ou
outros tipos de informação, como as presentes em DVD’s e na Internet.

12. PRINCIPAIS ESPÉCIES DE AVES DE RAPINA UTILIZADAS NA


FALCOARIA BRASILEIRA
A escolha da ave por parte do falcoeiro deve ser feita tendo como base a
legislação em vigor e as presas existentes. As aves da família dos Buteos são muitas
vezes aconselhadas como aves para iniciantes pois são resistentes e podem ser
caçadoras muito eficientes e versáteis, ajustando-se a um vasto leque de presas. Além
disso também apresentam alguma “facilidade” de manejo em relação a outras espécies.
Para melhor compreensão do tipo de aves utilizadas e formas de caça das
mesmas consulte o quadro abaixo:

Tipo de lance Como ocorrem Terreno necessário Aves utitlizadas

Grupo dos Açores:


- Accipiter bicolor
Lances em que ave Podem caçar na maior
Baixo voo persegue as suas presas parte dos tipos de Grupo dos Gaviões:
voando perto do solo em voo terrenos - Parabuteo unicinctus
direto
Grupo dos Falcões
- Falco femoralis
- Falco sparverius

Lances em que a ave ganha Necessitam de zonas O Brasil não possui aves de
Alto voo altura antes da presa ser abertas, com pouco utilização tradicional neste
levantada e depois a tenta coberto vegetal para tipo de lance sendo voadas
capturar em voo caçar. atualmente*

* Pela primeira vez no Brasil, na data da publicação deste manual, a espécie: Falcão-peregrino (Falco
peregrinus) foi disponibilizada para reservas através do criadouro de aves de rapina Hayabusa, porém ainda
possuem 11 dias de vida. Sendo a espécie mais conhecida de ave de rapina utilizada em alto voo.

No Brasil algumas aves como o Gavião-de-cauda-branca (Geranoaetus


albicaudatus) e a Águia-chilena (Geranoaetus melanoleucus) tem sido voadas a grandes
altitudes, em voos planados e/ou remontados. Porém esses voos têm gerado polêmica
entre os falcoeiros brasileiros, pois alguns acreditam que o Alto voo está restrito aos
grandes Falcões que matam por impacto; já outros acreditam que por realizar as técnicas
semelhantes com seu gavião "subir, centrar e esperar para capturar as presas" estão
realizando o alto voo. Essa discussão não é exclusiva do Brasil, ela se estende para
vários países do mundo onde a falcoaria é praticada.
Seja qual for a ave escolhida o iniciado deve lembrar-se que “a ave está em primeiro
lugar” e como tal o seu bem-estar deve ser assegurado em todos os momentos.

13. ENQUADRAMENTO LEGAL DA FALCOARIA NO BRASIL


A prática de falcoaria no Brasil pode ser realizada basicamente de duas formas:

1. Controle de Fauna Nociva: Através da IN IBAMA 141/06, a empresa ou pessoa


física poderá solicitar ao órgão ambiental competente uma licença ou autorização
ambiental para realização de Controle de Fauna Nociva, ou seja, controlar a população de
determinada espécie que esteja causando transtornos de ordem econômica, de saude ou
ambiental;

2. Termo de Cooperação Técnica para reabilitação: Através de um Termo de


Cooperação entre a pessoa jurídica e o órgão ambiental competente, o falcoeiro poderá
capturar presas durante o processo de reabilitação de uma ave de rapina, caso seu termo
de cooperação contemple tal ato. A caça com a ave de rapina em reabilitação muitas
vezes é necessária, pois é através dela que o falcoeiro irá avaliar se a ave está pronta ou
não para retornar à natureza.

Porém não existe um lei específica que regulamente a falcoaria no Brasil, por essa
razão, para poder praticar a falcoaria o iniciado deve conhecer as legislações
pertinentes à caça no Brasil entre outras legislações que regem a criação e o manejo de
animais silvestres.
Apesar de ainda não possuir regulamentação específica no Brasil, a falcoaria vem
sendo bem vista pelos órgãos ambientais e, através de termos de cooperação
estabelecidos com estes órgãos, as técnicas de falcoaria vem sendo utilizadas por
algumas associações como ANF, AFARN e ABFPAR com sucesso em programas
educacionais e de conservação envolvendo a triagem de aves, sua reabilitação e
reintegração à vida silvestre, permitindo a construção de conhecimento sobre a fauna
brasileira e contribuindo para a sua conservação.
Para simplificar, a ANF disponibiliza em sua Apostila aos seus associados uma
compilação dos documentos mais relevantes e que devem ser levados em consideração.
Informamos também que a aquisição de uma ave de rapina deve ser feita
a aves nascidas em criadouros legalmente reconhecidos pelo IBAMA e que forneçam a
documentação fiscal do animal. A compra no Brasil só é permitida sempre que as aves
tenham sido reproduzidas em cativeiro e detenham a respetiva documentação
comprobatória.
A aquisição de aves de rapina por outros fins é ilegal no Brasil. Se
encontrar uma ave de rapina na natureza ou lhe for entregue uma ave proveniente
do seu meio natural, deve informar as autoridades imediatamente e entregar a ave ao
órgão ambiental competente.

14. COMO AJUDAR A FALCOARIA SE PERCEBER QUE NÃO TEM


CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA?
Quer o leitor venha a tornar-se um falcoeiro, ou não, esperamos que continue com
um interesse saudável pelas aves de rapina, pela falcoaria e pela conservação dessas.
Neste momento as aves de rapina necessitam de ajuda em alguns cenários concretos e
várias organizações não-governamentais necessitam de apoio (financeiro ou como
voluntariado) para continuar a desenvolver as suas ações.
Neste âmbito convidamos todos os interessados em falcoaria (caso a
pratiquem ou não) a participar ativamente junto das instituições nacionais e
internacionais que promovem ações de proteção de aves de rapina no seu meio natural.
Este tipo de intervenção é da maior importância e deve ser apoiado por todos os que
realmente se interessam pela falcoaria.

15. CRÉDITOS E AGRADECIMENTOS


O presente documento foi adaptado ao Brasil através do manual produzido e
disponibilizado pela Associação Portuguesa de Falcoaria (APF). O mesmo foi redigido e
adaptado por Dorival Lima e Alessandra Oliveto.

Agradecemos ao material fotográfico disponibilizado para o mesmo, nomeadamente:


Capa: Duílio Lobo
Página 4: Duílio Lobo
Página 12: Duílio Lobo

Você também pode gostar