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RESUMO: Entende-se comportamento exploratório como uma atividade promovida por um estímulo
novo e que consiste em atos e posturas que permitem a coleta de informações sobre um objeto, ou
ambiente não familiar. A exploração possui fortes implicações na sobrevivência do indivíduo e na de
sua espécie, ao facilitar a familiarização com situações de novidade. Este comportamento tem sido
avaliado de forma mais significativa em humanos e só a partir da década de 1950 os estudos com
animais não humanos começaram a ocorrer. Para gatos domésticos, a pesquisa nesta área ainda é
muito tímida e a compreensão deste comportamento poderá auxiliar nas abordagens relacionadas a
enriquecimento ambiental e bem-estar animal. Tendo em vista que o gato é hoje uma espécie de
interesse, particularmente como animal de companhia, modelo de estudo para felinos em cativeiro e
animal de experimentação, a avaliação da atual situação deste comportamento neste animal poderá
auxiliar na busca de uma relação mais adequada com a sua manutenção propiciando um manejo
orientado dentro de uma postura ética.
Palavras-chave: enriquecimento ambiental; exploração; felinos; neofilia; novidade
Recebido em 30/03/2010
Aprovado em 08/8/2010
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Comportamento exploratório em gatos domésticos: uma revisão
INTRODUÇÃO
tem sido avaliada em alguns trabalhos. resposta será. Durr e Smith (1997)
Pesquisas com suínos (Sus scrofa ressaltam que o estímulo novo não deve
domesticus) (Bracke e Spoolder, 2007), ser nem tão intenso, gerando neofobia
leopardos (Felis bengalensis) (Carlstead reduzindo a exploração, nem tão fraco,
et al., 1993), ratos (Rattus novergicus) gerando desinteresse. As características
(Zimmermann et al., 2001), e búfalos da espécie estudada devem ser
(Westerath et al., 2009), demonstram consideradas, bem como sua habilidade
que animais mantidos em ambientes em percepção de forma, cores, sons,
empobrecidos exibem baixa proporção odores, e movimento, garantindo que o
de comportamento exploratório e, na estimulo apresentado seja bem aceito
presença da novidade, mostram pela espécie, não gerando estresse e,
interação crescente e prolongada. Este promovendo a neofilia, ser capaz de
fato é resultado da ausência de estímulo elevar o bem-estar ou mantê-lo em nível
na vida diária destes animais, ótimo.
ressaltando que o ambiente empobre- Dos diferentes testes utilizados
cido é um fator estressante que leva o para avaliar o comportamento explo-
animal a explorar intensamente, quando ratório, os mais usados são os testes de
possível, como forma de recompensa. exploração forçada, em que o animal é
Os trabalhos demonstram também que colocado em um ambiente novo: testes
os animais de ambientes restritos, em de labirinto em cruz elevado, em que o
situação de novidade, são super animal é colocado em um aparato com
responsivos ao novo e que como quatro braços, sendo geralmente, dois
tiveram poucas experiências relevantes abertos, e dois fechados nas extremida-
para comparar com a vivenciada, des; testes de exploração livre, em que
necessitam de um longo tempo para o animal tem a opção de explorar um
aprender sobre o objeto novo ou ambiente novo, ou continuar no seu
ambiente. Respostas mais intensas são familiar; e testes de exploração de um
verificadas em animais que vivem em objeto em que este normalmente é
ambientes mais pobres, já que não têm introduzido no ambiente do animal
para onde direcionar a intensa (Hughes, 1997). Os testes de explora-
motivação para explorar. Esses animais, ção forçada e labirinto em cruz elevado
no entanto exibem menor riqueza de são altamente criticados na atualidade
atos comportamentais. A habituação ao porque na maioria das vezes é
longo do tempo é uma constante, mas, impossível saber se o animal explora
varia de acordo com a intensidade da por motivação intrínseca de curiosidade,
motivação para explorar (Van de Weerd ou extrínseca, numa tentativa de fuga
e Day, 2009) ou seja, aqueles com de uma condição aversiva (Chemero e
maior motivação exploratória, habituam- Heyser, 2005). Representam ainda, uma
se menos rapidamente. situação ecológica muito improvável já
Trickett et al., (2009) ao estudarem que o animal na natureza raramente irá
a habituação de porcos a dois diferentes se deparar com uma situação de
tipos de enriquecimento ambiental, absoluta novidade, em que ele não
discutem que não só o grau de tenha a opção de explorar, ou não. A
novidade, mas a características do exploração livre, e o oferecimento de um
estímulo determinam a atratividade, e objeto não familiar, são testes mais
que a aleatoriedade na apresentação ecologicamente válidos (Durr e Smith,
reduz a habituação. Fica evidenciada 1997). Segundo Hughes (1997), a
então que, as características do exploração de objeto não familiar é a
estímulo são fundamentais para prever melhor forma de avaliar o
quão significativa, e duradoura, a comportamento exploratório sem pos-
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