Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
R35Sr
3313 FEF/1283
Campinas
2006
TCC/UNICAMP
R355r ~·
Campinas
2006
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA
PELA BIBLIOTECA FEF- UNICAMP
asm/fef
WILL DE MOURA LEMES RIBEIRO
RITMOS CIRCADIANOS,
TRABALHO EM TURNOS
E EXERCÍCIO FÍSICO
Andréia Gulak
Campinas
2006
Dedico este trabalho a toda minha família, meus pais
que sempre apoiaram e me aconselharam a dar tempo
ao tempo.
A minha esposa, Dri, e a meus filhos Matheus e
Rodrigo que são as razões e as luzes de minha vida.
5
RESUMO
O homem apenas tem a percepção do tempo e de seu avanço pela observação dos
fenômenos que se repetem ciclicamente. Esta periodicidade pode ser observada
desde as funções celulares até o comportamento social por meio dos padrões de
sono, de vigília e de atividade reprodutiva, por exemplo. Ritmos circadianos são as
flutuações nas atividades fisiológicas e comportamentais que ocorrem num período de
cerca de 24 horas. A cronobiologia é a disciplina que se refere ao estudo sistemático
das características temporais da matéria viva e inclui o estudo das oscilações
periódicas em variáveis biológicas. Vários fatores geofísicos podem sincronizar os
ritmos circadianos humanos, os ciclos sociais e o regime de trabalho inclusive,
entretanto o mais importante deles é o ciclo claro-escuro já que este, através da retina,
se conecta diretamente ao núcleo supraquiasmático (NSQ), considerado o relógio
biológico. Ligados ao NSQ estão dois sistemas controladores das funções orgânicas: o
endócrino e o autonômico que, desta maneira, transmitem sua periodicidade a
diversas variáveis orgânicas como a secreção de hormônios e de enzimas digestivas,
a freqüência cardíaca e a pressão arterial. A implantação dos turnos de trabalho na
sociedade atual propicia a dessincronização dos ritmos biológicos e, sendo o homem
um animal diurno, quando submetido a jornadas de trabalho noturnas ou irregulares,
pode apresentar um estado de desgaste que podem afetar sua eficiência no trabalho,
sua saúde física e psicológica, seu bem-estar, sua família e sua vida social. O turno de
trabalho interfere em todas essas dimensões na medida em que perturba a
homeostase fisiológica prejudicando as relações familiares e sociais e deteriorando as
condições de saúde, favorecendo o aparecimento de transtornos do sono,
gastrintestinais, neuropsíquicos e cardiovasculares. A fim de minimizar estes efeitos
colaterais do regime de trabalho são preconizados uma dieta adequada, a exposição à
luz e o exercício físico. As pesquisas indicam que este último facilita o sono, diminui as
queixas músculo-esqueléticas bem como a fadiga e ainda melhora a disposição.
Portanto, os estudos dos ritmos biológicos podem trazer aos profissionais da educação
física conhecimento para a atuação diretamente junto à população de trabalhadores
que atualmente já atingem cerca de 15 a 30 % da força de trabalho dos países
industrializados.
ABSTRACT
Men perception of time and its advancement is observed by cyclic event phenomena.
This periodicity can be viewed from cellular functions to social behaviour through sleep
patterns, watch e reproductive activity for example Circadian rhythms are physiological
and behavioral fluctuations in 24-hour period. The discipline of chronobiology refers to
systematic temporal characteristics of periodic oscilations in living matter. Geophysics
factors can synchronize human circadian rhythms, including social and work regime,
however the most important is day-night cycle directly connected to suprachiasmatic
nucleus (SCN) our biologic clock. SCN links two organic functions controllers
(endocrine and autonomic systems) and transmits its periodicity to physiological
variables as hormones and digestive enzyme secretion, heart rale and blood pressure.
Shift work become favorable circadian rhythms desynchronization and brings to man a
problems that could affect your work performance, physical and psychological health,
wellbeing, family and social life. Shift work also prejudice familiar and social
relationship and favors sleep, gastrointestinal, nervous and cardiovascular
disturbances. To minimize this effects have been suggested adequate diet, light
exposition and physical exercise. Researches indicate that physical exercise facilitates
sleep, decreases musculoskeletal concerns and fatigue and increases willingness. And
so biological rhythms studies can provide to physical education professionals
knowledge to directly actuation with shift workers population that almas! hits 30% of
work force in industrialized countries.
Objetivos ............................................................................................................... 10
Introdução.............................................................................................................. 11
Capitulo 1 - Cronobiologia: um breve histórico................................................. 13
Capitulo 2 - O trabalho em turnos....... .. .. .................................................... ....... 18
Capítulo 3- Ritmos circadianos................................... ................... ................... 21
Capitulo 4- O trabalhador em turnos.............................................. ................... 28
Capitulo 5- Exercicio fisico para trabalhadores de turno ................................ 35
Conclusões ............... ................................................... ..................... ................. 38
Referências Bibliográficas .......... 39
lO
o 24 ucmpo (h)
Figura 1: Esquema de variação circadiana de uma variável fisiológica num período de 24 horas.
A linha pontilhada indica as medidas quantitativas mensuradas e em linha cheia a curva
ajustada.
Fonte: http://www.saha.org.ar/temas/cronobiologia1.htm
..,
nurn~ul
"11
pt••, ..
... ~
oltl
drbn r d
• ~I
.,
..
~ :u
11.
variação cíclica de 24 horas, portanto, acredita-se que este núcleo coordene a atividade
dos ritmos circadianos sincronizados pelo ciclo claro-escuro (CASSONE, 1992).
Uma das projeções eferentes dos núcleos supraquiasmáticos está dirigida
às zonas do hipotálamo que controlam a função do organizador do sistema endócrino: a
hipófise. O hipotálamo além de regular a secreção de todos os hormônios produzidos e
armazenados na adeno-hipófise e deste modo exercer ação controladora sobre quase
todo o sistema endócrino, também produz e regula a secreção dos hormônios
armazenados na neuro-hipófise (HARRINGTON et ai., 1993).
Outra projeção eferente que se destaca é a que se dirige aos núcleos
paraventriculares, relacionados com o controle dos ritmos das funções hormonais e
autonômicas. Ainda existem as eferências à área pré-ótica, envolvida com a regulação
da temperatura, do balanço dos fluidos e do comportamento sexual e as eferências a
área retroquiasmática de onde os sinais são enviados aos hemisférios cerebrais
(responsáveis pelo comportamento), ao tronco encefálico (regulador autonômico) e a
medula espinhal (controladora da sensibilidade e motricidade) (HARRINGTON et ai.,
1993).
Além disso, o núcleo supraquiasmático, atua sobre a glândula pineal, cuja
atividade resulta na sintese e liberação de melatonina, neuro-hormônio, produzido a
partir do momento em que fechamos os olhos. Na presença de luz, entretanto, é
enviada uma mensagem neuro-endócrina bloqueando a sua formação, portanto, a
secreção dessa substância é quase exclusivamente determinada por estruturas
fotossensiveis, principalmente á noite (MARQUES, 2003).
Na lesão dos núcleos supraquiasmáticos, eliminando a influência do ciclo
claro-escuro ambiental, outros zeitgebers secundários, como a temperatura ou a
disponibilidade de alimento, adquirem a função de sincronizadores primários. (MOORE-
EDE et ai., 1982). Evidenciou-se que, deste modo, os diferentes ritmos circadianos
dependem de marcapassos específicos e que o funcionamento ótimo do sistema
circadiano é resultante da integração da informação entre os diferentes osciladores do
sistema (MARQUES, 2003).
23
80
70 .---
........
..--
E 60
........ r--
~
!1. 50 r--
.--
("J
c -10 .---
~
-v
30
r--
u 20 ,...-
<t'
10
o
12 1 2 3 4 5 G 7 8 9 iO 1112 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 r
AM Horas dn dia PM
Figura 4: Variações na concentração de adrenalina plasmática num período de 24 horas.
Fonte: http://www.saha.org.ar/temas/cronobiologia1.htm
~
~
I 60
E 50
Ol
-a.
c
c
40
o
ro
Qi
30
~ 20
ro
E 10
(/)
ro
ã: o
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
r;:Sr::;s ..;_r::;5 n;_r::;5 ~r::;s ):)r::;s ..;_r::;5 (l;.r::;s ~r::;s ,.;_r::;5 ~r::;s rór:;s ~-r:;5 ~r::;s ~r::;s ç;sr::;5
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
Time of day
~ ~
ã 40
•o
0 ~---------------------
· u 3 n 6 1 as·011121 2 1 c 56 1 e91on
~
!.i:
. ;.;.;.;. . . . ,. ,;.;,;.;, ;.;,;J,. ;.,;.;.;:.:.;,.;~:;.: _
: L.. o.oõ.õ..,;.;,o.;,.................
12 I 2 3 4 S 6 l 8 910H 2' 2 3 C 5 6 7 8 910' 1
AM Hor<~s <to dia PM AM t lo1 as cJc dia PM
38 Snnn
37
36
35
Vigília
34
o 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
teaqx> (horas)
podem facilitar a transição do turno diurno para o noturno, especialmente nos primeiros
dia de trabalho noturno, mantendo o alerta em níveis aceitáveis e diminuindo a fadiga
(FISCHER, 1995).
O aumento da sonolência e, conseqüentemente, a menor latência do sono
ocorre concomitantemente com a queda da temperatura corporal (durante o dia entre
11:00 e 15:00h, e à noite após as 22:00h-23:00h, com mínimo valor próximo das 3:00h).
Portanto, é mais fácil adormecer quando a pessoa se deita após o almoço do que no
período da manhã (FISCHER, 1995).
O aumento do tempo de trabalho em turnos conduz a uma cronificação de
sintomas provocados pelo trabalho. Quanto maior o número de anos trabalhando em
turnos, maior o número de queixas e o desenvolvimento de patologias associadas a
esse tipo de esquema de trabalho (FISCHER, 1995).
Conforme afirma Costa (1998), a idade favorece uma intolerância
progressiva, pois geralmente está associada à instabilidade de ritmos circadianos,
distúrbios de sono, depressão e um declínio na capacidade física e na saúde (apud
MORENO, 2003).
Algumas medidas incluem mudanças nos esquemas temporais de
trabalho e intervenções que permitem aos trabalhadores lidar com o esquema de
trabalho ou tendem a reduzir suas conseqüências. Uma das recomendações nessa
área refere-se à minimização dos turnos fixos noturnos. Caso isso não seja viável,
sugere-se que a seqüência de noites trabalhadas seja a menor possível, de duas a
quatro noites consecutivas (MORENO, 2003).
Os turnos que rodam no sentido horário, nos quais o indivíduo trabalha
manhã-tarde-noite, são mais adequados do ponto de vista dos ritmos biológicos do que
os turnos que adotam o sentido anti-horário, em virtude da tendência natural do sistema
circadiano humano de adaptar-se mais facilmente ao atraso de fase do que ao seu
avanço (MORENO, 2003).
Deve-se observar o cronotipo do trabalhador na escolha do tipo de
esquema de trabalho. Portanto os matutinos devem optar por turnos que iniciem mais
cedo, enquanto os indivíduos vespertinos apresentam mais facilidade em adaptar-se ao
trabalho noturno (MORENO, 2003).
34
exercício, 66% relataram que o sono era mais pesado e 65% acordavam melhores no
dia seguinte á prática de exercício físico (HARMA, 1996).
Trabalhadores de turno fisicamente treinados, além de apresentarem
menores valores de freqüências cardíacas no trabalho, possuíam menor percepção de
Conclusões
BOGGILD, H.; KNUTSSON, A. Shift work, risk factors and cardiovascular disease.
Scandinavian Journal of Work Environmental and Health, v. 25, n. 2, p. 85-99, 1999.
BROWN, JR. F. G. Response to pervasive geophysical factors and lhe biological clock
problem. Cold Spring Harbor Symp. Quant. Biol., v. 25, p. 57-71, 1960.
BURCH, J. B. et ai. Melatonin, sleep, and shift work adaptation. JOEM, v. 47, n. 9, p.
893-901, 2005.
40
CASSONE, V.M. The pineal gland influences rat circadian activity rhy1hms in constant
light, 1992 . In: MARQUES N., MENNA-BARRETO, L. Cronobiologia: Princípios e
Aplicações. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
COSTA, G. The impact of shift and night work on health. Applied Ergonomics, v. 27, n.
1, p. 9-16, 1996.
CZEISLER, C. et ai. Human sleep: its duration and organization depend on its circadian
phase. Science, v. 210, p. 1264-1267, 1980.
41
DE MOSS, C. et ai. Health and performance factors in health care shift workers.
Journal of Occupational and Environmental Medicine, v. 46, p. 1278-1281, 2004.
DRIVER, H.S.; TAYLOR, S. Exercise and sleep. Sleep Med Rev., v. 4, p. 387-402,
2000.
EDWARDS, B. et ai. Exercise does not necessarily influence lhe phase of lhe circadian
rhythm in temperature in healthy humans. J Sports Sei., v. 20, p. 725-732, 2002.
HAMNER, K. C. et ai. The biological clock at lhe south pole. Nature, v. 195, p. 476-480,
1962.
HAUS, E.; SMOLENSKI, M. Biological clocks and shift work: circadian dysregulation and
potentiallong-term effects. Cancer Causes Contrai, v. 17, p. 489-500, 2006.
HOBSON, JA Sleep afie r exercise. Science, v. 162, p. 1503-5,1968.
KNUTSSON, A et ai. Prevalence of risk factor for coronary artery disease among day
and shift workers. Scand J Work Environ Health, v. 14, p. 317-321, 1988.
MOORE-EDE, M. C.; SULZMAN, F. M.; FULLER, C. A The Clocks that Time us:
Physiology of the Circadian Timing System. Cambridge, Harvard University Press,
1982.
RIETVELD, W.J. General introduction to chronobiology Braz J Med Biol Res. Jan, v.
29, p. 63-70, 1996.
WEVER RA. Internai interactions within the human circadian system: the masking
effect. Experientia, 1985.