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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Escola de Belas Artes


Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis
Disciplina: História e Teoria da Restauração
Professora: Soraya Coppola
Aluna: Soraia Neves Gonçalves Rabelo
1º Período

RESENHA DOS TEXTOS


A Cidade e o Museu
As cidades e os Processos de Patrimonialização

Belo Horizonte/MG
Julho/2010
O texto A Cidade e o Museu divide-se em três partes, sendo que na primeira é apresentado
o Projeto Museu da Cidade de Almada, onde podemos constatar a aplicação de um novo conceito
da museologia, em que o Museu extrapolando a função de guardião de memória, volta-se para a
comunidade onde está inserido, refletindo a sua variável realidade urbana, transformando a
memória num espaço de “identidade e construção do futuro”, num espaço de reflexão, contando e
interpretando a história da cidade de Almada e seu processo de industrialização.
No segundo item é analisada a configuração do Museu, que terá uma exposição de longa
duração (de 4 a 5 anos), cujo objetivo será refletir as diferentes representações e formas de viver
a cidade, buscando compreender as relações dos habitantes com a cidade e exposições
temporárias, que desenvolverão outros aspectos da “relação tempo-território”, complementando,
assim, a de longa duração. O próprio espaço urbano será também objeto do Museu, cujas ações
educativas se estenderão para além do seu espaço físico, com intervenções urbanísticas e debates.
Na terceira parte do texto são abordadas as linhas de investigação que vão nortear a
exposição de longa duração, onde se pretende compreender a realidade da cidade de Almada,
dentro de duas perspectivas: enquanto “periferia da capital e centro de um território”. São
analisados o seu processo de crescimento, seu desenvolvimento industrial, a urbanização, o
desordenado crescimento demográfico e a falta de infra-estrutura para suportá-lo e, finalmente, a
implementação, em 1976, do Plano Diretor Municipal- um instrumento de planejamento e
ordenamento do território. A autora enfatiza, também, o papel da indústria como “elemento de
atração e de enraizamento populacional” atuando, desta forma, como importante elemento de
definição da identidade de Almada e a disposição das populações de se organizarem em
associações de caráter cultural, recreativo e reivindicatório, além de cooperativas de consumo-
estratégias de grande importância na adaptação das novas populações.
Finalmente, a autora assinala a importância das estratégias utilizadas para atender as
deficiências da cidade no que diz respeito à criação e qualificação de espaços urbanos para a
sociabilização, onde as pessoas possam desenvolver uma relação afetiva com o seu território,
assim como uma identidade própria, valorizando o caráter multicultural da cidade de Almada e
aponta a relevância do papel do Museu da Cidade enquanto elemento facilitador de todo este
processo de identificação dos moradores ao seu espaço, como, também, propositor da reflexão
sobre as questões relacionadas à cidade centro-periferia.
No texto “As cidades e os processos de patrimonialização o sociólogo Paulo Peixoto
discorre sobre a intensificação ocorrida no mundo nos processos de patrimonialização na última
década do último milênio, em que foi estabelecida uma verdadeira corrida das cidades em busca
do título de Patrimônio Mundial concedido pela UNESCO. Explica como este processo se deu
em Portugal desde os anos 1980 com a concessão da distinção a inúmeros Centros históricos,
parques, florestas, Mosteiros, Conventos, etc. O autor propõe um questionamento em torno dos
reais motivos desta intensificação e a busca frenética pela distinção conferida pela UNESCO,
buscando as respostas em processos que tem início com a transformação da economia mundial,
com a crise das sociedades industriais, o aumento do consumo e das práticas de lazer que vão ter
como conseqüência a necessidade da remodelação das cidades industriais ou rurais, que buscarão
no seu passado, em sua cultura e em seu patrimônio os instrumentos para a sua “reconversão”.
O autor explica que na última década do século XX são desenvolvidas políticas locais
voltadas para valorizar as diferenças que as cidades individualmente podem oferecer, com nova
representação, utilizando-se de novos símbolos. A mudança da identidade simbólica torna-se uma
bandeira utilizada na captação de maiores fluxos do turismo. O patrimônio se transforma em
grande indústria internacional e as cidades que o possuem transformam-se em destinos turísticos.
A concorrência, entre cidades, gerada por esta corrida rumo ao estatuto concedido pela UNESCO,
intensificou-se de tal forma, que nota-se que os países que possuem mais bens reconhecidos
listam-se entre os que são mais procurados pelo turismo internacional, entretanto, não é apenas a
obtenção deste estatuto o principal responsável pela atratividade turística, mas o elemento mais
utilizado pelas políticas de marketing urbano, assim como a elaboração de imagens positivas
como forma de atrair o público em todos os níveis, sejam turistas, consumidores, investidores, e
até indivíduos mais qualificados profissionalmente.
As políticas locais devem lançar mão da requalificação dos espaços públicos urbanos e
dos espaços privados de uso público. Dentro desta perspectiva, acentua o autor, que os espaços
públicos e os centros históricos das cidades passaram a ser tratados nas políticas urbanas como
um “equipamento cultural”. A intensificação da patrimonialização é atribuída, também, ao fato do
patrimônio ser um recurso fundamental para a criação e promoção de um mercado urbano de
lazer. A correlação consumo e lazer e o “enquadramento destas dinâmicas no espaço onde
ocorrem”, tem despertado a atenção das políticas locais para os “centros urbanos e suas funções
culturais”, pois o consumo está inserido nos novos modos de vida urbanos e aparece
disfarçadamente como lazer e vice-versa. Entretanto, o autor defende que uma política
patrimonial para alcançar o seu objetivo deve abarcar outros projetos e objetivos comunitários.
Contudo, o valor que o estatuto do patrimônio assume, quer seja pelo seu valor simbólico e pelo
seu valor funcional, no que diz respeito à projeção das cidades, é um dos elementos que norteiam
os projetos de transformação dos centros urbanos, que tem o poder de legitimizar ou não
“determinadas estratégias de intervenção,” ditando os rumos das políticas urbanas. Entretanto, a
imagem construída pelas cidades para atender às exigências impostas pela patrimonialização,
pode não corresponder às necessidades e dinâmicas do espaço urbano, assim como podem os seus
habitantes não encontrarem referência em uma identidade urbana forjada em iniciativas que
buscam”promover a visibilidade e a competitividade da cidade, através do prestígio e da
perfomance”.

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