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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

PADRÕES DE DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES NEOTROPICAIS EM


DIFERENTES ESCALAS DE TEMPO E ESPAÇO

Candidato: Paulo H. C. Cordeiro


Orientador: Carlos E. V. Grelle
Coorientadora: Mariana M. Vale

Os modelos climáticos elaborados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças


Climáticas - IPCC (www.ipcc.ch) predizem interferências significativas nos padrões de
ocorrência das espécies no futuro próximo. A partir desses cenários espera-se um intensa
dinâmica ambiental e conseqüente alteração na distribuição da diversidade de espécies,
incluindo eventos de extinção em massa em algumas partes do Globo (Sommer et al., 2010).
Esse panorama tem gerado preocupação e desconfiança na comunidade científica (Cebalos et
al, 2009; Pimm, 2009), sobretudo no que tangem as consequências para a biodiversidade
Neotropical, onde estão localizados os principais hotspots e por isso, onde são esperadas as
maiores perdas (Nogués-Bravo et al., 2010).
Trabalhos recentes avançam no conhecimento da dinâmica biogeográfica das espécies em
função das mudanças globais em diferentes escalas de tempo e espaço. Esses estudos também
estão sendo desenvolvidos na América do Sul (Araújo e Luoto, 2007, Barnosky & Lindsey,
2010; Nores, 2009), em especial no Brasil (Anciães & Peterson, 2006, Vale et al., 2009) e
particularmente na Mata Atlântica (Duarte et al. 2009; Ledru et al., 2009).
Uma vez que as espécies podem responder basicamente de três formas às mudanças
ambientais - com adaptações, movimentos ou extinção (Holt, 1990), apenas a partir da
compreensão de variáveis complexas, como a dinâmica ecológica e história evolutiva parece
ser possível predizer reais impactos sobre a biodiversidade decorrentes de mudanças
ambientais e climáticas globais (Wiens & Donoghue, 2004).
Nesse contexto, o mais recente e bem estudado evento global de mudanças ambientais e
climáticas, as “Glaciações” - ocorrido no final do Pleistoceno entre 50.000 e 11.000 anos tem
muito a nos dizer e deve ser considerado ponto de partida em qualquer estudo sobre dinâmica
da biodiversidade Neotropical (Barnosky, 2008).
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Dessa forma, pesquisas que investiguem as variações ocorridas nos ecossistemas em relação a
seus processos e estruturas do passado recente e as relacione aos padrões observados
atualmente podem fornecer uma base sólida para discussão de alternativas frente as
tendências negativas reveladas pelos modelos baseados em mudanças climáticas futuras
(Davis et al. 2009).

Relevância Científica
Conforme vimos acima, pesquisas recentes indicam que as mudanças ambientais e climáticas
globais vão reorganizar os padrões de ocorrência das espécies no futuro próximo. As
conseqüências dessa dinâmica ainda não são perfeitamente conhecidas para o Neotrópico,
sobretudo pela carência de estudos focados na problemática.
A interpretação das informações geradas pelos modelos preditivos necessita embasamento
biológico fundamentalmente obtido em lições aprendidas com o passado (paleoecologia), pois
o comportamento específico dos determinantes Neotropicais são únicos (paleoclimatologia) e
se conhecidos podem diminuir as incertezas, identificando as lacunas de conhecimento e
potencializando o planejamento das ações para a conservação da biodiversidade.

Nesse contexto, a pergunta central que se coloca é “Os padrões paleobiogeográficos


inferidos para o Neotrópico quando validados através de dados de ocorrência atuais podem
auxilar na predição das distribuições futuras, diminuindo as incerteza associada a
simulação da dinâmica de biodiversidade no Brasil e a Mata Atlântica?

Objetivos
A proposta desse projeto de doutoramento é investigar a dinâmica das distribuições
geográficas de espécies neotropicais de aves e mamíferos em função de mudanças ambientais
e climáticas em três escalas temporais - ao longo do Pleistoceno superior, tempo presente e
futuro próximo (até 2050) - e em três escalas espaciais, a primeira considerando toda a região
Neotropical, a segunda o território brasileiro e a terceira o Bioma Mata Atlântica; e com isso
produzir um exercício comparativo que possibilite discutir as tendências com o apoio de
simulações de cenários potenciais e sugerir alternativas para a manutenção da biodiversidade.
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Objetivos específicos

• Elaborar mapas ambientais e climáticos para: (1) fim do Pleistoceno, (2) tempo presente e
(3) próximo século, incluindo as dinâmicas do nível do mar e gradientes de latitude/altitude;

• Formular cenários ambientais e climáticos em três diferentes escalas: (1) continentais -


Neotrópico, (2) nacionais - Brasil e (3) regionais (Mata Atlântica);

• Produzir mapas de distribuição potencial para espécies de dois grupos de vertebrados


Neotropicais (aves e mamíferos) em três escalas de tempo e de resolução espacial;

• Modelar a dinâmica da distribuição da diversidade de aves e mamíferos em função das


mudanças dos parâmetros ambientais e climáticos no passado, presente e futuro;

• Comparar os padrões históricos de ocorrência de espécies Neotropicais e as predições


ambientais globais com ênfase em biogeografia e manutenção da biodiversidade.

Metodologia
A utilização de múltiplas ferramentas computacionais e algoritmos específicos resume a
principal metodologia empregada atualmente na modelagem de nicho ecológico e
consequentemente também determina a tecnologia para estimar a biodiversidade em relação
da severidade das mudanças ambientais e climáticas.

Modelos de Distribuição de Espécies


Os Modelos de Distribuição de Espécies (Species Distribution Models - SDMs) são
ferramentas numéricas que combinam pontos de ocorrência - incluindo abundância - e
variáveis ambientais com o objetivo de estudar os padrões de distribuição geográficas (Elith
& Leathwick, 2010). Os SDMs também são amplamente utilizados na investigação de
padrões ecológicos (conservação de nicho, preferencia de habitat e requisitos ambientais) e
evolutivos (extinção, capacidade de dispersão e história biogeográfica) em diferentes escalas
de tempo e espaço (Sommer et al., 2010).

Base de Dados
A base de dados de ocorrência das espécies de aves e mamíferos neotropicais será composta
por compilações já realizadas por Cordeiro (1999, 2001 e 2003) e Grelle (2000) que serão
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complementadas através da revisão da literatura recente e de conjuntos de dados não


publicados do autor e outros colaboradores.
Os mapas ambientais com múltiplas camadas fitofisionômicas e climáticas do passado serão
elaborados com base de dados obtidos na literatura. As variáveis ambientais serão obtidas do
banco de dados do WorldClim (http://www.worldclim.org/). Os cenários de mudanças
climáticas globais serão obtidos diretamente no Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas - IPCC (www.ipcc.ch).

Modelagem de Nicho - Algoritmos


A partir dos pontos de ocorrência, a modelagem da distribuição das espécies será feita, a
princípio utilizando-se o software MaxEnt versão 3.2.1 (Phillips et al., 2006). Esse software
estima a distribuição das espécies baseado somente em dados de presença através da
distribuição de máxima entropia, calculado com as ocorrências e variáveis ambientais dos
locais de registro.
O modelo gerado revela a probabilidade relativa da ocorrência da espécie e quais as principais
variáveis que determinam essa distribuição estimada. Dessa forma, pode-se inferir as
variáveis ambientais mais importantes, além de indicar a tolerância climática e os fatores
ambientais que limitam a sua dispersão.

Autocorrelação Espacial
As distribuições geográficas das espécies tendem a ser correlacionada espacialmente (Diniz-
Filho et al., 2003), a coesão da estrutura espacial será analisada através dos coeficientes de
autocorrelação do índice de Moran. Os coeficientes do índice de Moran dos clados basais e
derivados serão correlacionados contra o índice de Moran de todos os grupos para avaliar a
similaridade do padrão espacial de distribuição.
A influência das principais variáveis ambientais que predizem a variação espacial na riqueza
de espécies será analisada através de regressão múltipla, considerando a riqueza total, dos
clados basais e derivados. As análises de autocorrelação espacial e de regressão dos padrões
de distribuição das espécies em três escalas espaciais nos três momentos históricos serão
realizadas através do software SAM 3.0 (Rangel et al., 2006).
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Referências
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Araújo, M. B. & Lout, M. 2007. The importance of biotic interactions for modelling species
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Barnosky, A. D. 2008. Climatic change, refugia, and biodiversity: where do we go from here?
An editorial comment. Climatic Change v.86 p.29–32 DOI 10.1007/s10584-007-9333-5.
Barnosky, A. D. & Lindsey, E.L. 2010. Timing of Quaternary megafaunal extinction in South
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Ceballos, G.; Vale, M.M.; Bonacic, C.; Calvo, J.; List, R.; Bynum, N.; Medellin, R.A.;
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Cordeiro, P.H.C. 1999. Padrões de Distribuição Geográfica dos Passeriformes Endêmicos
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Cordeiro, P.H.C. 2003. Padrões de distribuição geográfica da avifauna, com ênfase nas
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Prado P.I., Landau E.C., Moura R.T., Pinto L.P.S., Fonseca G.A.B., Alger K.N. (orgs.)
Corredor de Biodiversidade da Mata Atlântica do Sul da Bahia. Publicação em CD-
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Duarte, L. S., Carlucci, M. C. & Pillar, V. D. 2009. Macroecological analyses reveal historial
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Ecology and Biogeography v.18 p.314–326.
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Grelle, C. E. V. 2000. Areografia dos Primatas Endêmicos da Mata Atlântica. Tese de


Doutorado em Ciências Biológicas (Zoologia). Universidade Federal do Rio de Janeiro,
UFRJ, Brasil.
Holt, R.D. 1990. The microevolutionary consequences of climate change. Trends in
Ecology and Evolution, v.5 p.311-315.
Ledru, M.P., Mourguiart, P. & Riccomini, C. 2009. Related changes in biodiversity, insolation
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Nogués-Bravo, D., Ohlemüller, R., Batra P. & Araújo, M.B. 2010. Climate Predictors of Late
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Nores, M. 2009. Are bird populations in tropical and subtropical forests of South America
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s10584-009-9613-3
Phillips, S.J., Anderson, R.P. & Schapire, R.E. 2006. Maximum entropy modeling of species
geographic distributions. Ecological Modelling, v. 190, n. 3-4, p.231-259.
Pimm, S.L. 2009. Climate Disruption and Biodiversity Review. Current Biology v.19, p.
595-601, DOI 10.1016/j.cub.2009.05.055
Rangel, T.F.L.V.B., Diniz-Filho, J.A.F. & Bini, L.M. 2006. Towards an integrated
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Ecology and Biogeography v.15 p.321-327.
Sommer, J. H., Kreft, H., Kier, G, Jetz, W., Mutke, J. & Barthlott, W. 2010 Projected impacts
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the Royal Society B. doi: 10.1098/rspb.2010.0120.
Vale, M.M.; Alves, M.A.S e Lorini, M.L. 2009. Mudanças climáticas: desafios e
oportunidades para a conservação da biodiversidade brasileira. Oecologia Brasiliensis, 13
(3): 518-535.
Wiens, J.J. & Donoghue, M.J. 2004. Historical biogeography, ecology and species richness.
Trends in Ecology and Evolution, v. 19, n. 12, p. 639-644.
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Cronograma de trabalho

Trimestre/ Disciplinas Dados Análises Elaboração Defesa Publicações


Tarefa

1/2011 X X
2/2011 X X
3/2011 X X X X
4/2011 X X X X
1/2012 X X X
2/2012 X X X
3/2012 X X X
4/2012 X X X
1/2013 X X X
2/2013 X X X
3/2013 X X X
4/2013 X X X X
1/2014 X
2/2014 X
3/2014 X
4/2014 X

Rio de Janeiro, 08 novembro de 2010

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Carlos Eduardo de Viveiros Grelle
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