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NOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO

 Origens remontam há 6 séculos no Ocidente, herdeira junto


com a modernidade, do Renascimento (séc. XV e XVI),
Revolução científica (XVII) e Iluminismo (XVIII)

Envolve idéias de: racionalidade, economia, progresso,


expansão e crescimento

Associada a “valor positivo” das sociedades ocidentais e a sua


pretensa superioridade (selvagens X civilizados)

 Coincide c/ nascimento/expansão da sociedade burguesa num


contexto de: dissolução da representação medieval do mundo;
interesse crescente por invenções/descobertas; reforma
protestante; mundo “fechado” rumo a mundo “infinito;
matematização das ciências
IDÉIA DE DESENVOLVIMENTO: nova significação imaginária
social
(Castoriadis):
crescimento ilimitado da produção e das forças produtivas =
objetivo central da vida humana.

Seus postulados são:


a) racionalidade dos mecanismos econômicos,
b) concepção de que homem e sociedade estão naturalmente
predestinados ao progresso e crescimento,
c) a onipotência virtual da técnica,
d) a ilusão relativa ao conhecimento científico como algo ilimitado

 nova significação imaginária social = nova racionalidade


A QUESTÃO DA RACIONALIDADE

Marx e Weber (matrizes do pensamento sociológico)


 críticos desta racionalidade a irracionalidade imanente do
capitalismo (semelhante à alienação religiosa: nos 2 os homens
são dominados por seus produtos – o dinheiro e Deus)

Marx
• Fetiche da mercadoria  capitalismo como religião
• Capitalismo como contínua ampliação meios de produção X
deterioração condições vida trabalhador (mercantilização da vida
social  barbárie do progresso econômico)
• Reconhece avanço da sociedade capitalista como progresso na
ordem econômico-social e no domínio da natureza, mas aponta
para desequilíbrio
A QUESTÃO DA RACIONALIDADE
Weber
• Recusa ilusões do progresso/modernização (dominantes na
consciência européia no início de XX)

• critica lucro como fim para o homem, sem considerar


necessidades e felicidade

• Critica subordinação do homem a um sistema (por ele próprio


criado) que determina estilo de vida e tira sua autonomia como
indivíduo

• Desconhece a extraordinária racionalidade econômica criada no


capitalismo (para ele, irracionalidade)
A QUESTÃO DA ONIPOTÊNCIA DA TÉCNICA/ILUSÃO QUANTO AO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO ILIMITADO
Sociedades primitivas/pré capitalistas
• Essencialmente rurais, voltadas para agricultura /pecuária 
satisfação das necessidades básicas da população com base na
produção artesanal/local

• Não havendo separação produtor/consumidor  criação de


tecnologias adequadas ao ambiente físico/humano, já que bem estar
da comunidade dependia deste equilíbrio  sociedades estáveis
(Europa até final Idade Média e resto do mundo até mudanças com
expansão colonial)

Sociedades capitalistas/industriais + conhecimento científico


 amplia-se escala destruição: separação produtor/consumidor +
produção voltada p/ necessidades do mercado e orientada para
lucro
 Tecnologia = fator exógeno à cultura individual/social + privilégio de
pequeno grupo de empresas, organizações e países
DETERMINISMO TECNOLÓGICO E CRÍTICAS
Determinismo tecnológico
• tecnologia c/ fator mais importante de mudanças sociais,
determinando, c/ sua evolução, a evolução da sociedade
• “autonomia” da tecnologia: leis próprias e inexoráveis, fora do
alcance do controle humano
• Atividade inovadora dos membros do sistema social = simples
aplicação do conhecimento científico ou melhora dos artefatos
existentes

• Objetos tecnológicos = maneiras de construir ordem em nosso


mundo  sociedades elegem estruturas tecnológicas que se
fixam nos equipamentos materiais
• Analogia das inovações tecnológicas com decretos
legislativos/fundações políticas padrão de ordem pública por
gerações (Winner)
DETERMINISMO TECNOLÓGICO E CRÍTICAS
Críticas
• Marx
 Técnica utilizada na relação homem/natureza no bojo das
relações sociais historicamente determinadas (Forças Produtivas +
Divisão Social Trabalho + Relações Produção específicas)

• Aibar/Argemi
 uma mesma tecnologia pode ter efeitos distintos em contextos
sociais diferentes + decisões envolvidas em processos de inovação
tecnológica nunca são puramente técnicas/científicas, mas envolvem
fatores econômicos, políticos e culturais

 Tese do determinismo tecnológico  inação política, inibindo


controles democráticos sobre produção/difusão/aplicação das tecno
DETERMINISMO TECNOLÓGICO E CRÍTICAS
Críticas

• Marcuse /Habermas
 não só a aplicação da técnica, mas a própria construção da
técnica é dominação (científicamente calculada) sobre a natureza e
o homem  fins e interesses da dominação inseridas na própria
construção do aparelho técnico

Nas sociedades capitalistas avançadas

 dominação perde caráter opressor e se torna “racional”


 sujeição intensificada dos individuos ao aparelho de
produção/distribuição + desprivatização do tempo livre
 legitimação propiciada pela vida mais confortável decorrente da
crescente produtividade e dominação da naturezaverdadeira
“ideologia” (sociedade existente = forma de organização
tecnicamente necessária de uma sociedade racionalizada)
EVOLUÇÃO DA IDÉIA DE DESENVOLVIMENTO
• Idéia de desenvolvimento ganha corpo c/ revolução Industrial e
é celebrada no XIX assentada no “progresso” trazido pelo
capitalismo

• Idéia de progresso radicalmente transformada desde XVIII (c/ RI)


 crença de que ciência poderia oferecer conhecimento ilimitado
sobre o mundo  possibilidades efetivas p/ evolução constante
da humanidade

• Desenvolvimento (tributário da idéia de progresso) a mudança


inevitável, necessária e irreversível da humanidade (para níveis
cada vez mais altos de civilização) porque livraria os homens do
reino da escassez inicial para os altos níveis de abundância futura

• Progresso não mais como crença, mas como certeza racional,


derivada das possibilidades abertas p/ previsibilidade da ciência
moderna.
• Fonte: ONOFRE
Marco histórico na concepção de desenvolvimento
• Sociedades capitalistas ocidentais na 1ª metade do século XX

• Conjuntura turbulenta:

- 1ª guerra Mundial (1914/18);


- Grande Depressão/crise de 29);
- ascensão do nazismo/fascismo; 2ª guerra Mundial (1937/45);
- ameaça do avanço soviético

• Colapso da idéia oficial de desenvolvimento  crise do


“progresso”
Recuperação no pós guerra: desenvolvimentismo
• Industrialização e desenvolvimento = sinônimos

• Sucesso da reconstrução econômica do pós guerra 


crescimento econômico como a chave para os problemas
humanos

• Principal referencia: Plano Marshall c/ resposta dos EUA para:

a) difusão da modernização (c/ base no paradigma americano:


fordismo)

b) reconstrução Europa

c) levar sociedades “tradicionais” ou “atrasadas” a uma arrancada


rumo à maturidade
Diferenças entre 1º e 3º Mundos balizam a idéia de
desenvolvimento no pós guerra

Em função de:

• Demanda de redistribuição (dos resultados do crescimento


econômico) posta na agenda internacional pelos Estados recém
descolonizados e pelos chamados “atrasados”

• Articulação dessas demandas de modo a favorecer o novo


ordenamento hegemônico do pós guerra: capitalismo X
socialismo  Guerra Fria
A fórmula desenvolvimentista
• Para saírem da miséria, países subdesenvolvidos (então sinônimos
de atrasados) seguiriam os passos dos desenvolvidos

• Países desenvolvidos forneceriam algum capital e conhecimento


tecno/científico, considerados fatores fundamentais do atraso dos
subdesenvolvidos (outras explicações, como a lógica do sistema
econômico, descartadas em função da disputa ideológica da
guerra fria)

• Condição para tal “ajuda” orientação do desenvolvimento em


termos do modelo ocidental das sociedades modernas capitalistas

• Velho principio de progresso


(evolução/maturação/modernização)  não mais c/ imposição
colonial do civilizador europeu, mas como “ajuda ao
desenvolvimento”
Agentes principais do desenvolvimento pós-guerra

1- Organizações internacionais recém criadas (principal referencia =


ONU)

a) reduzir possibilidades de conflito

b) estabilizar Estados Nação

c) Atenção p/ 3º Mundo  melhoria de condições de vida das


populações + orientação política favorável ao modelo de
desenvolvimento capitalista ocidental
Agentes principais do desenvolvimento pós-guerra

2 - Elites modernizadoras

a) agente endógeno impulsionador do desenvolvimento c/ sistema


evolutivo/organicista

b) papel de estender a motivação/mentalidade capitalista para


outros setores da sociedade
Agentes principais do desenvolvimento pós-guerra
3 - Estados
Papel fundamental na condução do desenvolvimento:
a) Capacidade demonstrada nos esforços de guerra
(mobilização de recursos econômicos e humanos + capacidade de
gestão de crises econômicas)

b) Estado obrigado a reformular relações c/ sociedade (Estado do


Bem estar Social) em função da experiência nazista e do projeto
sócio/econômico soviético

c) Crise de 29  idéia de mercado se auto-regulando (liberalismo


XIX) cai  necessidade de mão visível do Estado para impedir
crises  planejamento (antes p/ guerra) utilizado p/ satisfazer
necessidades democráticas e de progresso social

d) Ênfase no planejamento científico das políticas estatais


economia a serviço das políticas e de seu principal agente (o
Estado Nacional)
Nos países subdesenvolvidos: papel do Estado
• Construção da própria economia capitalista (principal) e
combate à pobreza/atraso

• Atuação principal
a) facilitar investimento capitalista em determinadas áreas
(proteção de mercado, isenções fiscais, subsídios etc)

b) atuar diretamente em áreas produtivas estratégicas p/ o


empreendimento capitalista

• Estado = grande agente de mudanças (desenvolvimento) no


sentido de criar uma economia capitalista (ao contrário das
sociedades desenvolvidas, onde o Estado atua p/ recuperar a
estática do sistema diante de crises)
Mundo bipolar do pós-guerra

• 1º Mundo  nações capitalistas desenvolvidas

• 2º Mundo  nações comunistas/socialistas

• 3º Mundo  nações pobres, em desenvolvimento ou


subdesenvolvidas
Hegemonia do paradigma desenvolvimentista no pós-guerra
• A ONU dedicou a década de 1960 ao desenvolvimento:

a) considerado o caminho p/ resolver problemas das sociedades


atrasadas

b) abrir espaço p/ a acumulação capitalista (injeções de capital


estrangeiro; criação de pólos de desenvolvimento; importação de
máquinas; qualificação FT...)

• Crença no paradigma do desenvolvimento é partilhada por todos


os Estados-nação e pelas organizações internacionais, pela quase
totalidade dos tecnocratas da economia e pela população.

• Dela nasce um contrato social: não negociado c/ todos os atores


sociais, mas que se impôs sob a forma de práticas obrigatórias
(dominação militar, econômica, política)
NOVA CRISE DO PROGRESSO (E DO DESENVOLVIMENTO)
• Referências principais:
a) crise do desenvolvimentismo (fordismo) das sociedades capitalistas
centrais (início dos 70)
b) fim do 2º Mundo (queda do socialismo real nos anos 80/90)

• Nova situação internacional

a) diante do desaparecimento do maior adversário do capitalismo (fim


da Guerra Fria) Ocidente teme agora conflitos de natureza cultural
c/ certos modelos de civilização (sobretudo Ásia)

b) não há mais obstáculo à universalização do capitalismo (em novas


bases): fracasso do planejamento soviético + crise do EBES 
demonstração da ineficácia da intervenção estatal na sociedade 
superioridade do livre mercado c/ fator de crescimento/prosperidade
Hegemonia da Concepção neoliberal
• Referencias: Encontro Monte Pelier (1947); Escola de Chicago;
onda neoliberal dos anos 80 (Consenso de Washington)

• Desqualificação das idéias desenvolvimentistas, principalmente


no que se refere à possibilidade da intervenção estatal gerar
modernização

 Nova classificação do mundo

1º Mundo (sociedades desenvolvidas/modernas)

Sociedades de modernização “incompleta” = emergentes

Sociedades pobres
Implicações do “novo” desenvolvimento
• Desaparecem as sociedades subdesenvolvidas/em
desenvolvimento  perda de significado político da “ajuda para
o desenvolvimento”

• Meios para o desenvolvimento não são mais o conhecimento


cientifico/tecno e o capital, mas o livre mercado e a democracia
liberal

• Idéia de crescimento econômico e de prosperidade continua, mas


diferente do desenvolvimento anterior: agora prosperidade
associada à produtividade e competitividade capitalistas

• Elementos prioritários na nova idéia de desenvolvimento =


competitividade das empresas + comércio internacional +
investimentos externos

• Promoção da prosperidade depende das habilidades


competitivas dos agentes econômicos privados
Implicações do “novo” desenvolvimento
• Naturalização do livre mercado  mercado c/ regulador das
necessidades infinitas dos agentes em ambiente de recursos
escassos  luta pela realização dos interesses no mercado = luta
pela sobrevivência c/ realidade natural

• Competitividade não mais percebida c/ inerente à motivação do


lucro que orienta a ação dos capitalistas, mas c/ competição de
indivíduos na efetivação da sobrevivência, portanto, na
realização da felicidade

• Mercado encontra um principio generalizador capaz de estender


suas motivações para além da instância econômica  mercado c/
suporte da felicidade geral dos agentes sociais  economia de
mercado se converte em sociedade de mercado

• Papel da democracia liberal c/ agenciadora de desenvolvimento:


ordenamento político que, em nome das liberdades individuais,
limita a intervenção do Estado na economia e na sociedade
Implicações do “novo” desenvolvimento
• Estado com 2 papéis:
1.remover obstáculos ao funcionamento do mercado (restrição de
atribuições de regulação social/econômica)

2. gerar instrumentos que favoreçam a competitividade do


mercado + mentalidade favorável a essa competitividade entre
cidadãos (geração de capital humano/social nos moldes exigidos
pelo mercado; flexibilização legislação trabalhista; políticas
focalizadas para criar consumidores...)

• Reorientação de objetivos/práticas das organizações internacionais


voltadas p/ o desenvolvimento: da “ajuda p/ o desenvolvimento” à
“erradicação da pobreza” sob os princípios da democracia
liberal/livre mercado (Consenso Washington; FMI; banco Mundial)

• Por fundar-se na apropriação privada e desigual dos objetos


socialmente produzidos para a troca, o mercado não pode realizar
um dos elementos do desenvolvimento que é, justamente, a
correção das desigualdades.
50 ANOS DEPOIS UM BALANÇO REVELA
 Avanços em países do Norte, Estado Bem estar social/Welfare
State mas, como registra o Relatório de Desenvolvimento
Humano da ONU, entramos na última década do século XX
contando mais de um bilhão de pessoas que vivem em pobreza
absoluta

 Questão social em cheque + problemas ambientais que hoje


ameaçam a sobrevivência do planeta e todas as suas formas de
vida.

 Em xeque: promessas da modernização e a utopia


desenvolvimentista/industrialista (a pretensa universalização do
modo de produção ocidental c/ meio para uma prosperidade
material generalizada)

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