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CAPITULO I: Local de Trabalho

Noção

A nossa lei não dispõe da nocção do que seja Local de trabalho. Limitando-se apenas a proibir que
se altere o local de trabalho pela entidade empregadora.

Deste modo o artigo 59˚ h) da LT dispõe o seguinte:

“ Manter inalterado o local e horário de trabalho do trabalhador, salvo nos casos previstos na
lei, no contracto individual de trabalho ou nos instrumentos de regulamentação colectiva de
trabalho ”

Na redação deste preceito legal o entendimento que se retira é de que de O trabalhador deve, em
princípio, exercer a atividade no local contratualmente definido, salvo noutros casos previstos na
lei.

Em sentido restrito

Local de trabalho corresponde ao sitio físico onde o trabalhador exerce a sua actividade, que muita
das vezes coincide com o estabelecimento da empresa.

A nocção de local de trabalho é relativa. Tanto pode corresponder a um espaço físico bem definido,
nas entalações da empresa ou entidade patronal, como pode abarcar uma área mais vasta, bem
como uma ou mais localidades, ou até mesmo toda uma região ou todo o pais. Conforme a natureza
desempenhadas pelo trabalhador1.

O local de trabalho é um conceito relativamente indeterminado ou indeterminável, por quanto,


durante a prestação de trabalho, o trabalhador poderá ter que realizar deslocações, ou ser
transferido. Ou ser cedido, etc. ou seja, existem varias vicissitudes que podem ocorrer no que
respeita ao local de trabalho, ao longo da vida do contracto. Com tudo, poderá definir-se local de
trabalho como sendo o local onde o trabalhador presta, predominantemente, o seu trabalho2.
«O Local de Trabalho corresponde ao sítio onde o trabalhador deve concretizar a prestação a que
se encontra adstrito3».

1
VEIGA, António Da Motto, lições de Direito de Trabalho, 6 Ed. lisboa. 1995. Pag. 464
2
BARROS, Vanessa, O Local de Trabalho, lisboa, 2014. Pag. 1. www.oga.pt . em 13/04/18
3
CORDEIRO, António, Ibidem pag. 683.
local de trabalho como sendo o local onde o trabalhador presta, predominantemente, o seu
trabalho4.

Ampitude

Eh a possibilidade que as partes tem de definir a amplitude do local de trabalho. Essa definição
deve ser feita dentro dos limites da lei , sub pena de se tornar invalida, nos termos do art 280 cc.

4
BARROS, Vanessa, O Local de Trabalho, lisboa, 2014. Pag. 1. www.oga.pt . em 13/04/18
Capitulo II: Mobilidade Geográfica do trabalhador para outro local de Trabalho

Em conformidade com o supra exposto – com a lei vigente que se concretiza no art. 59 h) da LT,
estabelece que o trabalhador deve, em princípio, exercer a sua atividade ou, prestar o seu serviço
no local de trabalho que é definido contratualmente pelas partes

No entanto vem o art. 59 h) da LT em sentido homeótropo referir o seguinte:

“ é proibido ao empregador:

h) Transferir o trabalhador para outro local de trabalho, “salvo” nos casos previstos na
lei e nos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho, ou quando haja acordo. ”

art. . 59 h) da LT, é salvaguardada - a benefício do trabalhador

esses casos estão previstos na lei no art 75 / 1, Gestao da Empresa, motivos de forca maior etc

2.2 Transferência Coletiva

consiste na modificação do local de trabalho de todos os trabalhadores que desenvolvem a


atividade num determinado estabelecimento, podendo essa mudança ser definitiva ou temporária.

prazos

A decisão relativa à transferência de local de trabalho, nos países como Portugal nos termos do art.
196º do Código de Trabalho Português, , deve ser comunicada por escrito ao trabalhador, com
uma antecedência de 8 ou 30 dias, conforme seja temporária ou definitiva - devidamente
fundamentada. Acto esse que, infelizmente não se verifica no ordenamento jurídico Moçambicano
em virtude da lei de Trabalho moçambicana não ser clara à respeito desta matéria.
2.3 Transferência Individual

Consiste na modificação do local de trabalho de uma parte dos trabalhadores que desenvolvem a
atividade num determinado estabelecimento, podendo essa mudança ser definitiva ou temporária.

Despesas inerentes à transferência


Nos termos e para os efeitos no disposto do art. 75º n.º 5 da LT:

‘’ 5- o empregador custeia todas as despesas feitas pelo trabalhador, desde que directamente
impostas pela transferência, incluindo as que decorram da mudança de residência do trabalhador
e do seu agregado familiar ‘’

Segundo Professor Júlio Gomes é no sentido de ser exequível que o empregador cubra as despesas
decorrentes da mudança de residência do trabalhador, bem como as despesas do acréscimo das
deslocações inerentes a mudança de local de trabalho, ate mesmo do agregado familiar.5

Transferência temporária

Assim, salvo melhor opinião, nos casos de transferência temporária o empregador “deve” custear
as despesas do trabalhador decorrente do acréscimo dos custos de deslocação, como também dos
custos inerentes ao seu alojamento temporário.

5 Cfr. Júlio Gomes, Direito do Trabalho, Coimbra 2007, p. 646 – “ não vemos razão para que tal possa suceder:
imagine-se que o trabalhador é transferido para um novo local de trabalho que fica no centro de uma grande cidade
ou numa outra cidade onde, de qualquer modo, a habitação é muito dispendiosa, pelo que se vê forçado a mudar-se
para os arredores dessa cidade, onde a habitação é mais cara. Apesar da sua mudança de residência, pode ter de
suportar maiores despesas de deslocação do que aquelas que suportava antes e não vemos qualquer fundamentação
com apoio na lei para que não lhe sejam pagas ”.
Atitudes do Trabalhador face a Transferência

Perante uma ordem de transferência, uma das possíveis atitudes do trabalhador pode naturalmente
passar pela aceitação, a qual pode ser expressa ou tácita. Nos termos do art. 217 CC

A declaração negocial é expressa quando feita por palavras, por escrito ou por qualquer outro meio
direto de manifestação da vontade, e é tácita quando se deduz de factos que, com toda a
probabilidade, a revelem.

Parece imperioso que esta aceitação seja livre e esclarecida, sob pena de invalidade da declaração
por si emitida.

Recomenda-se que a transferência seja livre e esclarecida, sob pena de se tornar invalida a sua
declaração de vontade.

Porque há vezes que a vontade não coincide com a intenção DO trabalhador.

Daí que haverá que averiguar elementos casuísticos que demonstrem essa intenção inequívoca em
aceitar a alteração.

Tratando-se de uma ordem Legitima

Trabalhador cumprir a ordem, pois tem um dever de obediência, segundo o artigo 58º al. d) da Lei
de Trabalho, sob pena de sofrer uma sanção disciplinar no caso de não obedecer.

No caso de existir prejuízo sério, o trabalhador poderá desobedecer à ordem de transferência


individual do empregador, pois o dever de obediência tem como limite o respeito pelos seus
direitos e garantias, de acordo com o mesmo artigo 58º al. d) in fine.
Cláusulas da Mobilidade Geográfica

Trata-se de clausulas que visam o alargamento dos poderes das partes poderem designadamente
modificar o local de trabalho do trabalhador em data posterior à da celebração do contrato.

A nossa lei de trabalho não faz referência à esta matéria, limitando-se ou seja, apoiando-se nas
cláusulas contratuais gerais constantes do Código Civil, relativamente à liberdade contractual das
partes nos termos do art. 405 Cc. Diferentemente de Portugal, onde a lei já faz referência à esta
temática no seu artigo 194º nº 2 do Código de Trabalho .

Essas clausulas “ as partes podem alargar ou restringir o disposto no número anterior, mediante
acordo que caduca ao fim de dois anos se não tiver sido aplicado.

Limites

Essas clausulas tem como limite o disposto no art 280 cc


CAPITULO III: Prejuízo serio dos trabalhadores na Mobilidade Geográfica dos
Trabalhadores

Considerações Gerais

O prejuízo sério surge consagrado na lei de Trabalho como um conceito indeterminado6 ou


cláusula geral7, que carece de concretização.

Sucede porém que o regime não fornece ao intérprete quaisquer critérios para a fixação deste
conceito, por entender que só perante o caso concreto será possível proceder à sua averiguação e,
nessa medida, decidir de forma justa.

Prejuízo serio e Dano

Prejuízo serio refere-se a um prejuízo concreto, enquanto no conceito de «prejuízo sério» aquilo
que se tem em vista, é uma situação hipotética: aquele em que o trabalhador se encontraria se
tivesse sido transferido8.

Dano atende apenas a um prejuízo real e concreto do lesado. Pressuposto da responsabilidade civil.

6
MADEIRA. De Brito, Do local de trabalho…, cit., p. 228; e MENDES BAPTISTA, A., «O conceito de prejuízo
sério e a transferência do local de trabalho nas grandes aglomerações urbanas», Prontuário de Legislação do Trabalho,
1999, n.º 54, p. 28 e Jurisprudência do trabalho anotada.
7
XAVIER. Lobo, «O lugar da prestação….».

8
BAPTISTA. Mendes, A mobilidade…, cit., pp. 16-21. No mesmo sentido, LOBO XAVIER, B., «O lugar da
prestação…», cit., p. 28
O tratamento Doutrinal e Jurisprudencial do conceito Prejuízo serio

A lei de trabalho não fornece a noção do conceito prejuízo serio, por essa razão, a noção desse
conceito tem sido feita exclusivamente pelos Tribunais, em termos nem sempre uniforme, o que
gera profundas e indesejáveis insegurança e incerteza jurídicas.

Depois de percorrermos mais de uma centena de acórdãos deparámo-nos com uma panóplia de
decisões contraditórias, com desvalorização decisões diferentes em factos semelhantes.

Conceito da Jurisprudência

A jurisprudência entende que, o conceito de prejuízo sério deve implicar um dano relevante que
não tenha pequena importância e deve determinar uma alteração substancial do plano de vida do
trabalhador, sendo de afastar as alterações nos seus hábitos de vida que, traduzindo-se em meros
incómodos ou transtornos suportáveis, não assumem gravidade relevante na estabilidade da sua
vida nem determinam alteração substancial do seu plano de vida.9

ACORDAO 1

Em causa está a transferência coletiva de trabalho, motivada por dificuldades económicas de uma
empresa.

A trabalhadora responsável pelo escritório da empresa resolveu o respectivo contrato invocando


que a mudança de local de trabalho lhe causava prejuízo sério uma vez que face à distância que
teria que passar a percorrer, deixaria de recolher a sua filha de 3 anos do infantário onde se
encontrava em contraposição,

Ficou por outro lado demonstrado que demoravam cerca de 35 minutos no trajeto até ao novo local
de trabalho.

9
MONTEIRO. Fernandes 395
Empregador:

Empregador demonstrou ter encontrado um infantário com disponibilidade para receber a filha da
trabalhadora, junto das novas instalações\

Disse a trabalhadora para escolher o horário que se adequasse as suas necessidades.

Mesmo perante a atuação da entidade empregadora, o tribunal julgou existir “prejuízo sério”
devido à proteção dos valores como a maternidade e vida familiar.

ACORDAO 2

No presente Acórdão, estava em causa a decisão de uma instituição bancária em transferir


determinado trabalhador da agência sita na baixa da Banheira - margem sul de Lisboa - para a Av.
5 de Outubro, no centro da cidade de Lisboa. Ora, o trabalhador veio alegar que residia no Barreiro
há cerca de 30 anos, onde centrava a sua vida familiar, o que lhe causaria um acréscimo diário de
duas horas em deslocações, alegando desse modo que lhe causaria um “prejuízo sério”.

O Tribunal decidiu não existir prejuízo serio.

Comentários

No primeiro caso

Nota-se claramente que houve desvalorização dos interesses. O tribunal deu mais valor aos
interesses pessoas da trabalhadora que interesse da empresa que de certa maneira mostrou –se
disponível a cooperar com a trabalhadora.
No segundo caso

Foi algo de grandes Doutrinários, como Julio Gomes pelo facto de esta sintaxe parecer assentar na
premissa de que é o trabalhador a ter que se adaptar ao trabalho e não o trabalho ao trabalhador.

Posição da Doutrina

O Professor Júlio Gomes debruça-se numa defesa sublime do trabalhar, aquando da análise
específica do “prejuízo sério”, isto é,

‘’para ponderar adequadamente o sacrifício do trabalhador impõem-se atender em concreto ao


aumento das deslocações, aos meios de transporte disponíveis para o antigo e novo trajeto, ao
tempo das deslocações, mas também à idade do trabalhador, aos seus problemas pessoais e
familiares e de saúde, à assistência que deve prestar aos filhos e familiares doentes. No essencial
estes factores devem ser ponderados até por razões de boa-fé ”10

Somos da opinião, que perante tal lacuna, e em especial pela noção abstrata que o “prejuízo sério”
acarreta, que se devem criar princípios e critérios orientadores que permitam aos “operários” e
decisores jurídicos agir com segurança quando confrontados com uma transferência individual ou
coletiva que se apoia, e comporta um eventual “prejuízo sério” do trabalhador.

10
Cfr. GOMES. Júlio, Direito do Trabalho, Volume I – Relações Individuais de Trabalho, 1ª edição, Coimbra
Editora 2007, pág. 642 e ss`.
Ónus de prova do conceito Prejuízo Serio

Quanto ao ónus da prova suscita-se um outro problema relativamente ao requisito do prejuízo


sério.

Por fim, ROMANO MARTINEZ adopta uma posição um pouco diferente (posição que por nós é
aceite), parecendo não se querer comprometer, mas que na verdade pode funcionar. O empregador
e o trabalhador fazem ambos prova do prejuízo sério, mas sob perspetivas diferentes,

Empregador

A doutrina tem descutido em torno de quem cabe provar o prejuízo serio

“… O empregador, tendo em conta os elementos de que dispõe, podendo até consultar o


trabalhador antes de proceder à mudança de local de trabalho, terá de demonstrar que não há
eventuais prejuízos para este; em suma, ao empregador incumbe fazer a prova dos factos
constitutivos do direito de alterar o local de trabalho (art.342º, nº1, do CÓDIGO CIVIL).

Trabalhador
Por seu turno, ao trabalhador incumbe fazer a prova de factos que possam contrariar a alegação do
empregador, demonstrando que tem prejuízo sério; isto é, o trabalhador tem de fazer a prova dos
factos impeditivos (art.342º, nº2, do CÓDIGO CIVIL).” 11

11 ROMANO MARTINEZ, p.703


Conclusão
Chegado ao fim da presente investigação, concluímos que designar o local de trabalho constitui,
indubitavelmente, um elemento essencial do contrato de trabalho, de carácter delimitativo, desse
modo a materialização efetiva do local de trabalho gere-se através da autonomia privada resultante
do acordo alcançado

Prejuízo serio

Relativamente ao conceito “prejuízo sério”, este foi alvo de uma análise exaustiva, pelo que, tendo
em atenção a jurisprudência e a doutrina existente, conclui-se que se trata de um juízo antecipado
de probabilidade.

Ónus de prova

Relativamente ao ónus da prova, cabe as duas partes provar a existência de “prejuízo sério”

Recomendações
Em jeito de recomendação, recomenda-se que se crie critérios orientadores para a concretização
do conceito “prejuízo sério”, assim como prazos para a pratica de actos no processo de Mobilidade
Geográfica dos trabalhadores, isso de modo a evitar a incerteza e insegurança jurídica dos
trabalhadores e a sociedade em geral, assim como para dissipar as dúvidas que as partes tenham,
bem como, e essencial, dissipar as dúvidas da jurisprudência, terminando de vez com as decisões
dissemelhantes em casos semelhantes.

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