Por mais que julguemos conhecer os antecedentes de nossa história, ante
toda a bibliografia disponível e os recursos tecnológicos de que dispomos para o constante debruçar em pesquisas e apreensões cognitivas, muito mais é o que desconhecemos.
Sobre a fundação de Barra do Corda, por exemplo, ignora-se o porquê de
chamar-se “Missão” (assim mesmo, no singular, como consta nos documentos mais antigos) ao povoado que lhe deu origem.
Frei Metódio de Nembro, missiólogo e hábil pesquisador, em sua obra “São
José de Grajaú – Primeira Prelazia do Maranhão”, à pág. 137, afirma que Barra do Corda “remonta a uma antiga missão fundada numa aldeia de índios Guajajaras”, e que Manuel Rodrigues de Melo Uchôa e Manuel Raimundo Maciel Parente “se estabeleceram no lugar com um grupo de civilizados, ocupando o aldeamento ao qual deram o nome de Missão, decerto como lembrança da antiga catequese”(grifo meu). O distinto professor e pesquisador Galeno Edgar Brandes, em seu notável “Barra do Corda na História do Maranhão”, à pág. 84, por sua vez, confessa: “Quanto ao nome – Missões – alguns autores ligam-no às Missões Religiosas que poderiam ter motivado o topônimo. Não encontramos provas a respeito”(grifo meu).
Qual o mistério, afinal, em torno do topônimo “Missão”?
O Publicador Maranhense, de 20 de novembro de 1844, p.1, fala-nos de um
requerimento emitido por Melo Uchoa ao Inspetor do Tesouro Público Provincial, em que “mostra a utilidade de se criar uma Missão na Barra do Rio da Corda”, sobre o que já fora ouvido o Exmo. Prelado Diocesano, cujo parecer também se lhe remeteu. Mas bem antes, no Correio Oficial, de 5 de outubro de 1837 (portanto, a pouco mais de dois anos da fundação do povoado Missão), Vol. 2, p. 314, sob o título “Catequese e Civilização dos Índios: População e Indústria”, encontramos este registro: “Tem-se despendido a quantia votada para brindes ao Índio meio domesticado, com prestações de ferragens, panos e outros objetos a vários Maiorais e Diretores, do que vos será dada a conta competente, quando vos for apresentado o Balanço do corrente ano financeiro. Entre os indivíduos a quem foram feitas semelhantes prestações, conta-se o cidadão Manoel Rodrigues de Melo Uchoa, que projeta estabelecer uma Povoação na foz do Rio da Corda, que deságua no Mearim; o Governo, da sua parte, auxiliou esta tão útil empresa, mandando estacionar naquele lugar um pequeno destacamento de 1ª Linha; em vós está agora o concederdes uma côngrua [pensão especificamente eclesiástica] ao Missionário, que para ali foi ultimamente nomeado, bem como alguma quantia para os objetos designados na representação daquele cidadão, no documento nº 12” (grifo meu). E, no Publicador Oficial, de 28 de junho de 1837, p.4.082, o então Presidente da Província, Francisco Bibiano de Castro, em artigo de ofício, assim se dirige a Diogo Lopes de Araújo Sales, Coletor das Rendas Gerais e Provinciais: “Tendo-se de estabelecer uma Povoação na barra do Rio da Corda, sendo esta empresa dirigida pelo cidadão Manoel Rodrigues de Melo Uchoa, e convindo auxiliá-la por todos os meios possíveis, atentas às grandes utilidades que dela podem resultar, eu recomendo a V. S. que providencie convenientemente para que os Índios submetidos à sua direção prestem os socorros que pelo mencionado cidadão Uchoa forem requisitados para o fim de promover o aumento do estabelecimento por ele projetado” (grifo meu).
O mesmo Publicador Maranhense, de 5 de setembro de 1854, p.2, conclui:
“Haja Vmc. de mandar pagar ao farmacêutico Matias José Fernandes do Rego a quantia de 17$520 réis constante da conta junta, importância dos medicamentos que mandei fornecer a Manuel Rodrigues de Melo Uchoa para curativo dos índios selvagens, de cuja catequese se acha encarregado” (grifo meu).
Sabe-se, a consenso, que Manuel Rodrigues de Melo Uchoa recebera
credenciais do Governo para estabelecer um povoado “na barra do Rio da Corda”, que passou a se chamar “Missão”. O que passou de largo em nossas pesquisas, porém, é o fato de que Melo Uchoa recebera credenciais também do Clero. Ou seja, o propósito da fundação do povoado foi, também, catequético. Daí o nome “Missão”. O topônimo não nasceu para fazer lembrar uma “missão” extinta, como afirma Nembro, mas para demonstrar que ele, Melo Uchoa, fora o agente, o “missionário” legitimamente enviado para “civilizar” os silvícolas e fundar o povoado. Portanto, Barra do Corda nasceu, antes de tudo, sob a égide da Cruz. Mapa de 1844 onde aparece o povoado “Missão da Corda”, como tendo entre 300 a 400 habitantes.
Mapa de 1816, portanto antes da fundação do povoado Missão, onde se observa que, antes de se chamar “Capim”, o rio Corda era conhecido como rio “Canela”.