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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

ANA LUISA DE CASTRO COIMBRA


LEONARDO ASSUNÇÃO BIÃO ALMEIDA
POLIANA RIBEIRO ALVES

PROJETO EXPERIMENTAL EM VÍDEO: “DO CINQUENTA AO CENTENÁRIO –


O QUE CONTA UMA AVENIDA”

ILHÉUS - BAHIA
2009
ANA LUISA DE CASTRO COIMBRA
LEONARDO ASSUNÇÃO BIÃO ALMEIDA
POLIANA RIBEIRO ALVES

PROJETO EXPERIMENTAL EM VÍDEO: “DO CINQUENTA AO CENTENÁRIO –


O QUE CONTA UMA AVENIDA”

Memorial Descritivo apresentado ao curso de


graduação em Comunicação Social – Rádio e
TV da Universidade Estadual de Santa Cruz
como requisito parcial para obtenção do grau
de Bacharel em Comunicação Social.

Orientadora: Profa. MsC. Karen Vieira Ramos

ILHÉUS - BAHIA
2009
ANA LUISA DE CASTRO COIMBRA
LEONARDO ASSUNÇÃO BIÃO ALMEIDA
POLIANA RIBEIRO ALVES

PROJETO EXPERIMENTAL EM VÍDEO: “DO CINQUENTA AO CENTENÁRIO –


O QUE CONTA UMA AVENIDA”

Ilhéus/BA, 29/10/2009

__________________________________________________
Profa. MsC. Karen Vieira Ramos
(Orientadora)

__________________________________________________
Profa. Dra. Marlucia Mendes da Rocha

__________________________________________________
Prof. MsC. Rodrigo Bomfim Oliveira
DEDICATÓRIA

As nossas famílias, fonte de inspiração, confiança e amor que tanto nos deu suporte.
Dedicamos a eles (pais, mães, irmãos, tios, primos e agregados) este documentário, resultado
de sua confiança em nós e esforço para que concretizássemos com louvor mais uma etapa de
nossas vidas.
AGRADECIMENTOS

A Deus, força suprema, pela presença constante principalmente nas horas em que as
dificuldades se faziam presentes;

A João Cordeiro (CEDOC-UESC) e ao Arquivo publico de Itabuna por toda assistência e


colaboração prestada durante a pré-produção deste trabalho;

A Janete Ruiz, pela orientação teórica sobre o tema abordado e por ceder as imagens de
arquivo que ajudaram a compor nosso documentário;

Aos técnicos do curso pelo apoio prestado durante a graduação, em especial à Hélio Heleno,
Franklin Camargo, Georg Haendel e Maxsuel Fidelis pela ajuda no processo de feitura deste
trabalho de conclusão de curso;

A Alisson Fagundes, Tarcísio Messias e Samuel Touché por abraçarem esse projeto e
contribuírem, não só com seu conhecimento na área, mas com toda dedicação oferecida;

Aos professores pelo conhecimento passado e pela troca de experiências. Não citaremos
nomes, mas aqueles mais especiais que fizeram a diferença em nossa vida acadêmica, serão
sempre lembrados pelo profissionalismo dentro da sala de aula e pela amizade fora dela;

A Karen Ramos pela mútua confiança e pela crescente amizade que vem sendo construída;

Aos entrevistados, por um motivo óbvio: foram eles que fizeram este vídeo acontecer,
compartilhando conosco suas histórias e experiências de vida;

A Emiron Gouveia, pelas resenhas em sua sala, pelos cafezinhos, broncas, apoio e por nos
aturar no decorrer desses quatro anos;

À TV UESC pela experiência e conhecimento adquirido que foram tão validos para a
produção deste documentário;

A todos aqueles (que por ventura esquecemos de citar) que de uma forma geral, contribuíram
para o nosso conhecimento;

Aos amigos e companheiros de sala pelos quatro anos de convivência. Sem dúvida
aprendemos muito com eles, cada um com sua diferença. Problemas à parte, formamos uma
grande turma e o que fica são as grandes histórias e doces lembranças que juntos vivemos;

A Mirela, nossa eterna “Jah”, a responsável pela formação da panelinha inseparável que deu
certo. A ela agradecemos a amizade fiel, a compreensão, a diversão e o carinho dedicado
durante todo esse tempo;

A nós, pela amizade, fidelidade, brigas (muitas brigas), compreensão, competência,


responsabilidade e carinho mútuo. Não é fácil conviver 25h por dia durante quatro anos e
permanecermos unidos e cúmplices. Sem essa parceria (presencial, por telefone, virtual,
espiritual) consolidada desde o primeiro semestre, este trabalho não se realizaria com tanto
afinco e determinação;
As primeiras ruas de uma cidade são páginas que contam a
história de seu nascimento, suas lutas, sua evolução. Guardam
em sua memória as lembranças do passado, desvendadas
constantemente por seus passantes. As primeiras ruas formam o
centro da aglomeração nascente e, de maneira geral, se tornam
o centro da futura cidade. Foi o que ocorreu com a Avenida
Cinqüentenário.

Lurdes Bertol Rocha


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................1
2 OBJETIVOS ..........................................................................................................................3
2.1 Gerais ...................................................................................................................................3
2.2 Específicos ...........................................................................................................................3
3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................4
4 A AVENIDA CINQUENTENÁRIO ..................................................................................6
5 A PRÉ-PRODUÇÃO NA REAIZAÇÃO DO DOCUMENTÁRIO: A EXPERIÊNCIA DA
PESQUISA DE CAMPO NA AVENIDA CINQUENTENÁRIO .........................................9
5.1 O nascer de uma idéia ...........................................................................................................9
5.2 Pesquisa .............................................................................................................................11
5.3 Reconhecimento de campo ................................................................................................14
5.4 Construindo o pré-roteiro ...................................................................................................15
5.5 A relação entrevistado e documentarista ...........................................................................15
6 A PRODUÇÃO: DOCUMENTANDO LEMBRANÇAS SOBRE A AVENIDA ...........19
6.1 Preparativos para a gravação .............................................................................................19
6.2 Entrevistas e escolhas estéticas ..........................................................................................20
6.3 Os aspectos da encenação ..................................................................................................25
6.4 Imagens de cobertura e últimos procedimentos .................................................................26
7 A PÓS-PRODUÇÃO E A CONSTRUÇÃO “TEXTUAL” DO DOCUMENTÁRIO:
PERCEPÇÕES SOBRE A AUTONOMIA CRIATIVA NA FASE DA MONTAGEM ..28
7.1 Decupagem .......................................................................................................................29
7.2 Roteiro de edição ...............................................................................................................30
7.3 Edição (montagem) ............................................................................................................32
7.4 Computação gráfica e trilha sonora ...................................................................................35
8 ROTEIRO ...........................................................................................................................38
9 EQUIPE ..............................................................................................................................51
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................52
ANEXOS ................................................................................................................................54
1 INTRODUÇÃO

A memória1 se apresenta como uma conexão entre o passado e o futuro, o que não
implica num simples recordar, mas evidencia a relação com o tempo, com aquilo que está
invisível, ausente e distante. Dessa forma, não se trata apenas de investigar o passado, mas de
compreender o presente a partir das ressignificações que são feitas de acordo com o tempo
pretérito. Le Goff (1996) entende a memória como uma propriedade de conservação de
informações, onde o homem pode atualizar impressões passadas ou que ele representa como
passadas.
Michael Pollack (1989) fala em “enquadramento da memória”. Esse trabalho de
enquadrar a memória se alimenta do material fornecido pela história sendo que este pode ser
interpretado e combinado a um sem números de referências associadas. Além dos discursos
organizados em torno dos acontecimentos e de grandes personagens, os rastros desse trabalho
de enquadramento são os objetos materiais, entre eles os museus, as bibliotecas e os
monumentos.
Seguindo os passos destes autores, podemos observar, então, que a memória se
cristaliza não só através das histórias contadas por meio das pessoas, mas também fora de nós.
Sendo assim, é através da memória que são feitas opções do que deve ser preservado
enquanto elementos representativos de uma comunidade, entendendo-os como patrimônio, o
que em outras palavras, é um conjunto de bens reconhecidos pela sociedade que representam
a produção do passado. Na dimensão da memória coletiva, os monumentos, as imagens e o
próprio depoimento das pessoas buscam tornar memoráveis os acontecimentos e a cultura de
uma localidade
Deste modo, a leitura das características de um lugar através dos espaços urbanos,
sejam eles casas, edifícios, ruas ou avenidas, nos leva a identificar os elementos que
constituem a construção histórica de uma cidade. Em relação à memória, esta tem o papel
primordial de retratar as vivências das pessoas que habitaram e/ou habitam a cidade,
tornando-se, dessa maneira, uma ferramenta essencial para se estudar e entender o seu

1
Neste trabalho, por uma questão de estratégia argumentativa, as palavras memória, lembrança e recordação
serão usadas como sinônimos.
passado. E é a partir do contato com a recordação histórica de um lugar, que se pode
aprimorar a lembrança individual sobre o local onde se vive.
Tratando especificamente dos espaços urbanos e da importância da história e memória
em torno desses, pode-se perceber que os primeiros traços físicos, como ruas, praças ou até
mesmo casarões, dizem muito sobre a cidade da qual eles fazem parte, uma vez que estão
cobertos de memórias sobre o passado daquele lugar, sobretudo se este espaço físico foi palco
da sua gênese e do seu desenvolvimento.
Segundo Pollak, é tecnicamente difícil ou impossível captar todas as lembranças em
“objetos de memória” confeccionados. No entanto, hoje, o filme é o melhor suporte para fazê-
lo “donde o seu papel crescente na formação e reorganização e, portanto, no enquadramento
de memória.” (POLLAK, 1989, p. 11). O filme e o documentário tornaram-se instrumentos
poderosos para os rearranjos sucessivos da memória coletiva.
É desse contexto que surgiu a idéia para a construção do documentário “Do cinquenta
ao centenário – o que conta uma avenida”, uma obra audiovisual que tem como tema principal
a Avenida Cinquentenário, artéria principal de Itabuna, município do sul da Bahia. A
realização deste produto objetiva registrar como alguns que convivem com a avenida,
atribuem significados a ela.
Assim como Ramos (2008), compreendemos que o documentário é uma narrativa que
se compõe por imagens-câmera, acompanhadas, em alguns casos, de imagens de animação,
carregadas de ruídos, música e fala, para as quais olham os espectadores em busca de
asserções sobre o mundo que nos é exterior, seja esse mundo coisa ou pessoa.
Além disso, entendemos que o poder do filme é que ele proporciona ao espectador
uma sensação de testemunha dos eventos, como afirma Burke (2004). Para este autor, o
potencial do filme emerge da capacidade de fazer o passado parecer presente por meio de
superfícies e espaços. Ou seja, como afirma Nichols quando se fala em documentário, um
fator não se pode negar: “o vínculo entre o documentário e o mundo histórico é forte e
profundo. O documentário acrescenta uma nova dimensão à memória popular e à história
social (NICHOLLS, 2005, p. 27).
Sendo um dos endereços mais antigos da cidade, existindo desde 1901, é possível,
desta forma, caracterizar a Avenida Cinquentenário, através das representações e uso que este
espaço teve no decorrer da sua história, como patrimônio histórico-cultural da cidade. Nos
seus primeiros anos de existência, era um simples traçado de terra, sem calçamento, chamado
de Rua da Lama, onde desembocava dois riachos. Na década de 50, após receber alguns
outros nomes, a avenida tornou-se marco das comemorações do cinqüentenário da cidade, de
onde surgiu o nome atual da avenida. A partir daí, a Avenida Cinqüentenário passou a ser o
principal centro comercial, social e político da cidade, tornando-se palco das principais festas,
desfiles cívicos, do carnaval e principalmente da modernização de Itabuna, representando
assim um exemplo do desenvolvimento da cidade, num momento em que o cacau alavancava
a economia da região.
Para Paulo Casé, a cidade é o lugar onde abriga uma cultura dinâmica em permanente
desenvolvimento e ela reacende sua memória quando perpetua a lembrança dos atores
urbanos que ela abrigou. A importância da cidade reside não só nos aspectos econômicos e de
infra-estrutura, mas, sobretudo, “na relação afetiva com o cidadão, no significado de seus
espaços e nas suas virtudes representativas da sociedade” (CASÉ, 2000, p. 94). Os espaços
participam, portanto, da construção da memória da cidade.
O documentário, produção realizada entre julho e outubro de 2009, foi intitulado “Do
cinquenta ao centenário – o que conta uma avenida.” e possui cerca de 21 minutos de duração.
Para um melhor entendimento da importância do desenvolvimento deste projeto para a
comunidade regional, na primeira parte deste memorial, serão abordados os objetivos que
buscamos alcançar, a justificativa para a realização do documentário e a descrição do seu
objeto, a Avenida do Cinquentenário.
Em um segundo momento, iremos apresentar todo o processo de produção do produto
em questão, através de uma descrição fundamentada das etapas de realização do
documentário, dos procedimentos e das escolhas adotadas por esta equipe. Logo em seguida,
a equipe completa dos envolvidos no processo e o roteiro final serão apresentados.

2 OBJETIVOS:

2.1 Geral
• Discutir, através de um documentário, as interações histórico-afetivas entre indivíduos
e espaço físico a partir das relações que foram sendo construídas ao longo do tempo.

2.2 Específicos
• Analisar se a Av. Cinqüentenário representa um símbolo de desenvolvimento e
importância, tendo em vista o surgimento de outros centros comerciais na cidade.
• Investigar o porquê de a avenida ser palco legitimador dos principais acontecimentos
da cidade.
3 JUSTIFICATIVA

A produção do documentário “Do cinquenta ao centenário - o que conta uma avenida”


propõe uma análise sobre as relações que se estabelecem entre o espaço físico e os seus
frequentadores, destacando a importância da Avenida Cinquentenário para a cidade de
Itabuna e também ressaltar como um lugar pode ser palco de muitas histórias. A Avenida
cresceu e se modificou conjuntamente à cidade de Itabuna, tornando-se assim passagem
obrigatória não só no cotidiano das pessoas como também em grandes acontecimentos
políticos e sociais – vide as mais diversas manifestações religiosas, posses de prefeitos,
enterros de personalidades e o carnaval, que por muitos anos passou por ela.
Uma vez que a avenida é o centro comercial, movimentando a economia da cidade,
podemos então classificá-la como a “artéria” principal de Itabuna. Entretanto, mesmo com a
finalidade mais voltada ao comércio, ela ainda abriga residências, comumente localizadas no
andar superior dos estabelecimentos.
A proposta surgiu, portanto, com o intuito de documentar as histórias mais marcantes
que se desenrolaram nessa avenida, desde o seu início até os dias atuais, através de sua
história não oficial. Os depoimentos partiram, portanto, de pessoas que estão na avenida há
muito tempo e os seus relatos estão atrelados as suas memórias.
Retomando algumas questões sobre memória, percebemos que os seus estudos
apresentam uma multiplicidade de definições e acumulam uma série de complexidades. Esta
pode ser entendida como um processo dinâmico tanto pelas questões emocionais como pela
relação entre o tempo do fato acontecido e o tempo da narração.
O uso da língua falada e posteriormente a escrita foram mecanismos que
possibilitaram uma extensão de armazenamento da memória, como denota Le Goff (1996) e,
graças a isso, se pode ir além dos limites do corpo. Não só a mente humana seria detentora da
memória, esta poderia estar difundida no outro, nas bibliotecas (com a escrita) ou, num tempo
mais recente, com o avanço tecnológico que permite a captura de imagens e áudio, os
registros de memória podem ser feitos através dos filmes e documentários.2

2
Para que isso seja possível, além de informativo, o vídeo precisa ser também, criativo e instigador de pesquisa,
uma vez que, segundo Jean Ferres (1996), a tecnologia do vídeo permite, em definitivo, toda sorte de pesquisas.
Para Hudson Moura (1997), o cinema (documentário) tem a responsabilidade de
armazenar a história em movimento, não apenas no sentido das imagens, mas no sentido da
própria memória que, com o passar do tempo, vai modificando os seus olhares. Segundo ele, a
memória tem dois momentos, que são divididos entre a conservação de sensações (arquivo) e
reminiscência (ato de lembrar). O cinema apresenta estes dois aspectos, ao conservar,
enquanto imagem, o registro de um tempo e de um espaço.
Dessa forma, o cinema como arquivo de memória pode se tornar uma fonte de
pesquisa histórica do imaginário e da memória coletiva. Sabe-se que ao longo de toda história
os livros, artigos, revistas, bem como os registros videográficos vêm contribuindo para que
fatos históricos sejam reavivados nas discussões sociais, culturais e acadêmicas e
contribuindo diretamente na preservação da história e da memória de um certo lugar.
Ao trabalhar com o formato de documentário é importante pensar em imagens e
principalmente na sua relação com o mundo histórico, preocupar-se com a estética e sempre
salientar a inter-relação histórica e social do assunto em questão. Então, mais do que uma
chave teórica, tal entendimento sobre a memória é um exercício que vai muito além da
análise. Quando se pensa em memória fala-se especificamente em estabelecer relações num
movimento que procura articular fatos, acontecimentos, elementos e discursos desenrolados
na história de um determinado lugar. A construção de um documentário torna mais fácil que
as histórias não caiam no esquecimento, já que a cultura da oralidade muitas vezes, não
apresenta tanta eficácia, pois muitos casos são esquecidos e deixados para trás.
A relevância deste projeto emergiu do contexto de estudar a Avenida Cinquentenário
enquanto espaço de histórias e memórias, enaltecendo o seu valor simbólico para a sociedade
itabunense, contribuindo com o seu papel monumental. E foi por meio dos depoimentos de
comerciantes, freqüentadores, moradores e transeuntes que se objetivou fazer isso, através de
um registro audiovisual do gênero documentário.
É importante ressaltar também que, no ano de 2010 a cidade e a avenida completam
um centenário de existência, o que tornou a realização deste projeto ainda mais propício,
constituindo um arquivo de memórias. Portanto, a construção de um registro documentário
sobre a Avenida Cinqüentenário, uma vez que constituirá um documento para futuras
consultas de pessoas interessadas na história e na experiência de vida que serão relatadas
pelos depoentes.

Permite pesquisar o comportamento das pessoas, a análise tanto de condutas individuais quanto de grupos,
coletividades, comunidades e, inclusive, conglomerados humanos.
Partindo do pressuposto de que o vídeo possibilita uma nova maneira de conhecimento
por meio de imagens e sons, já que o específico da linguagem audiovisual é a capacidade de
gerar emoções portadoras de significados, e uma vez aceita a idéia de que as novas
tecnologias funcionam como “prolongações do corpo humano”3, devemos concordar que
qualquer prolongação ou extensão, seja da pele, da mão ou do pé, afeta todo o conjunto
psíquico e social, buscando novos equilíbrios entre os demais órgãos e prolongamentos.
Esse projeto mostrou-se viável, pois, dispomos de uma estrutura com equipamentos
profissionais e técnicos desta instituição aptos para a execução do documentário. Contamos
também com o apoio do Centro de Documentação da Universidade Estadual de Santa Cruz –
CEDOC/UESC e do acervo público da cidade de Itabuna que dispõe de grande acervo de
jornais antigos, fotografias, vídeos tratam do assunto ora abordado, o que contribuiu para
enriquecimento e facilitação do desenvolvimento do trabalho. Para que a realização do projeto
se concretizasse a equipe contou com a estrutura e o suporte logístico da Universidade
Estadual de Santa Cruz.

4 A AVENIDA CINQUENTENÁRIO

A Avenida Cinqüentenário, como desde 1960 é conhecida, acompanhou o crescimento


e evolução a cidade de Itabuna desde o início e em 2010 ambas completam 100 anos de
existência. Como já foi dito, a avenida sempre foi palco dos grandes acontecimentos sociais e
políticos de Itabuna. Por ela já passaram (e passam até hoje) inúmeros comícios,
manifestações religiosas, enterros e carreatas. O carnaval, que por muito tempo também
desfilou na avenida, hoje acontece na Avenida Beira Rio.
Muita história se passou ao longo da retidão da Avenida Cinqüentenário, que no inicio
da década de 10 do século passado era divida em dois trechos e ainda não tinha esse nome: o
trecho entre o Jardim do Ó e a Praça Adami chamava-se Rua da Lama porque, além de ainda
não ser calçada, era por onde passavam dois riachos, o que ocasionava, sobretudo em épocas
de chuva, uma grande concentração de lama que dificultava a movimentação dos passantes.
Em 1912 a área foi urbanizada e anos mais tarde passou a ser chamada de Rua Sete de
Setembro. O trecho situado entre a Praça Adami até o santuário Santo Antônio era chamado
de Rua do Buri, por causa de uma palmeira que ali existia e depois passou a se chamar Rua

3
Expressão utilizada por Jean Ferres (1996)
Henrique Alves, em homenagem a um articulador político da época. Anos mais tarde foi
renomeada como Rua J.J. Seabra em homenagem ao governador do Estado.
Segundo Rocha (2003) na década de 50 foi elaborado um projeto de lei para fundir os
dois trechos transformando-os em uma grande avenida que seria o principal eixo comercial da
cidade de Itabuna. Para isso, foi necessário que algumas casas fossem recuadas e outras
demolidas, para dar passagem ao prolongamento da avenida. Comerciantes mais antigos
(alguns deles presentes no documentário em questão) contam que por isso houve um
desentendimento entre o prefeito José de Almeida Alcântara e o proprietário de uma
residência que ficou inconformado ao ver sua casa destruída. Passados os transtornos e as
obras, em 1960, no aniversário de 50 anos de Itabuna, a nova avenida foi inaugurada e por
isso, levou o nome de Avenida Cinquentenário. Nota-se que, o marco das comemorações
deste cinquentenário da cidade, foi justamente a modernização e alargamento de uma das
primeiras ruas itabunenses.
Desde então o comércio foi se firmando e os pequenos estabelecimentos da década de
60 foram crescendo e se multiplicando. Sua relevância política também se acentuou com os
grandes comícios que aconteciam na Praça Adami e seguiam em passeata pela avenida e
também os grandes desfiles de Sete de Setembro e outros eventos cívicos e populares. Hoje a
palavra de ordem da avenida é movimento. Durante a semana, apresenta um fluxo de carros e
pessoas que transitam num ritmo acelerado, típico dos grandes centros urbanos.
O local abriga o maior conglomerado de lojas comerciais da cidade, podendo se notar
de “ponta a ponta” estabelecimentos dos mais variados, desde concessionárias, passando por
restaurantes, lanchonetes, butiques de roupas e mais uma infinidade de outras lojas. Sem falar
do comércio informal, onde se encontra todo o tipo de mercadoria, que tem crescido de forma
desordenada desde a crise do cacau, competindo com o comércio formal, principalmente nas
calçadas da avenida. Nos feriados e nos finais de semana, toda esta movimentação cessa e a
avenida fica praticamente vazia, já que fora os estabelecimentos 24 horas, todo o comercio
(formal e informal) encerram suas atividades por volta do meio dia de sábado.
Partindo do pressuposto que a memória da Avenida Cinqüentenário está presente em
cada parte que a compõe, é interessante notar a convivência do passado e do presente ao longo
da avenida. Os prédios antigos, as praças e igrejas resistiram a todas as transformações
sofridas ao longo dos anos. O moderno e o antigo coexistem em meio a transeuntes, camelôs e
um trânsito muitas vezes caótico. Ou seja, a representação deste espaço para a sociedade
muitas vezes cria a identificação com suas ruas, histórias e acontecimentos trazendo uma
relação de lembranças afetivas em relação ao espaço.
A avenida do Cinqüentenário além de ser um lugar por onde se passa ou se deixa de
passar, é uma rua que esta carregada de historia, está carregada de memória, está
carregada de experiência que o sujeito teve, que seu grupo teve e que a historia se
seu grupo naquele espaço teve e tem (ROCHA apud ROLNIK, 2003, p. 113).

Com quase um centenário de existência política enquanto cidade, Itabuna possui em


seu espaço urbano uma fonte de considerada relevância para a preservação das lembranças do
município, pois nele ainda existem vestígios das ações de agentes históricos que construíram a
cidade. É dessa maneira que este projeto, através do documentário “Do cinquenta ao
centenário – o que conta uma avenida” pretende trabalhar, utilizando a memória como
ferramenta fundamental e as transformações da Avenida Cinqüentenário, um dos mais antigos
e importantes logradouros da cidade.
5 A PRÉ-PRODUÇÃO NA REALIZAÇÃO DO DOCUMENTÁRIO: A EXPERIÊNCIA
DA PESQUISA DE CAMPO NA AVENIDA CINQÜENTENÁRIO

5.1 O nascer de uma idéia

Ao refletir sobre o tema para realizar o trabalho de conclusão de curso, optamos por
um assunto que fosse relevante para a região e também com um tema que tivéssemos
afinidade em trabalhar. Então, pensamos na Avenida do Cinqüentenário, abordar a sua
história, mas partindo das vozes não oficiais da avenida, ou seja, pessoas que viram o
nascimento, participaram da construção da história e da memória presentes nela e pessoas que
moram, trabalham ou freqüentam a avenida. Ela representa um marco para a cidade de
Itabuna – sendo considerada a artéria comercial – e é palco dos acontecimentos e
manifestações, significando a evolução e o desenvolvimento da cidade.
Partindo de uma pesquisa sobre a temática – da relação entre este espaço físico e seus
viventes- consideramos importante fazer um filme que documente a história da avenida, pois
se constatou que não há produtos videográficos que relate os acontecimentos da
Cinqüentenário.4 O que foi encontrado sobre a Avenida estava, na maioria das vezes,
relacionado a registros da história oficial da região.
A proposta do vídeo, desde o inicio, foi trabalhar com as vozes não oficiais da
avenida, uma história narrada por muitas pessoas, diferente dos modelos de documentário
assistidos na década de 50, tidos como clássico. Segundo Fernão Pessoa Ramos (2008), nos
documentários desta época predomina a locução fora-de-campo (a voz over ou voz de Deus).
É uma voz que possui saber sobre o mundo, enunciada, em geral, por meio de tonalidades
grandiloqüentes.
Só na década de 60 que o estilo documental vai tender para uma estética mais autoral,
permitindo o uso de asserções dialógicas, fruto do aparecimento do que se chamaria de
cinema verdade. Ramos (idem) pontua que o mundo parece poder falar por si, e a fala do
mundo, a fala das pessoas, é predominantemente dialógica. A tendência mais participativa do
cinema direto/verdade introduz no documentário uma nova forma de elucidar: a entrevista ou
o depoimento.
4
Os arquivos encontrados referem-se apenas a arquivos de áudio com algumas pessoas que estão na Avenida
Cinquentenário há alguns anos.
No cinema direto/verdade as asserções continuam dialógicas, mas são fomentadas pelo
cineasta. Seguindo essa esteira, no documentário contemporâneo mais criativo, há uma forte
tendência em se trabalhar com a enunciação em primeira pessoa. É geralmente o “eu” que
fala, estabelecendo asserções e relatos sobre sua própria vida e a sua história. Baseado nesse
conceito de asserções dialógicas buscamos retratar essa participação e envolvimento dos
depoentes no vídeo a partir do que eles viveram e viram na avenida.
O material videográfico de arquivo5 que encontramos para contextualizar a parte
histórica do vídeo sobre a cidade de Itabuna e a Cinqüentenário, apresenta característica da
narrativa clássica de documentário, diferenciando-se completamente da estética que propomos
desde o início, onde a narrativa possui diversas vozes que falam do mundo, ou de si.
Partindo desta idéia, podemos também classificar o modo de produzir documentário.
Bill Nichols expõe que os modos que se produz um documentário também diferenciam de
outros tipos de filmes.
Os modos adquirem importância num determinado tempo e lugar, mas persistem e
tornam-se mais universais que os movimentos. Cada modo pode surgir, em parte,
como reação às limitações percebida em outros modos, como reação às
possibilidades tecnológicas e como reação a um contexto social em mudança.
Entretanto, uma vez estabelecidos, os modos superpõem-se e misturam-se.
(NICHOLLS, 2005, p. 63)

Os modos6 além de ter seus princípios e objetivos, também costumam apresentar uma
base mais ampla de apoio, de maneiras distintas de movimentos que podem variar de outras
formas. As opções feitas, desde o início, para a realização deste documentário, seguem a
tendência ou possuem características do modo participativo. E nesse modo podemos destacar
a relação enfática do documentarista com o tema e, durante as gravações, o envolvimento das
entrevistas acontece de maneira ainda mais direta. Freqüentemente, este modo está
relacionado ao uso de imagens de arquivos para contextualizar as questões históricas.
Para Hudson Moura (1997) o cinema-documentário se constitui principalmente como
registro, um arquivo da nossa memória, uma testemunha ocular da nossa história. Além disso,
consideramos que o documentário “lida com as relações entre as pessoas e o meio onde
vivem, as pessoas e o trabalho, as pessoas em relação a outras pessoas e qualquer combinação

5
Os matérias videográficos de arquivos encontrados foram: “Cidade de Itabuna” (1945-1948), “Progresso de
Itabuna” (1959) e “A Jovem Cidade” (1967), vídeos gentilmente cedidos pela Profa. Dra. Janete Macedo Ruiz,
diretora do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Santa Cruz.
6
Para Bill Nichols (2005) no vídeo e no filme, podemos identificar seis modos de representação propriamente
ditos: poético, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e performático. Esses seis modos determinam
uma estrutura de afiliação frouxa, na qual os indivíduos trabalham; estabelecem as convenções que um
determinado filme pode adotar e propiciam expectativas específicas que os espectadores esperam ver satisfeitas.
dessa relação conforme percebida em qualquer sociedade existente na época da produção do
filme”(MUSBURGER, 2008, p. 120).
Podemos depreender das citações acima algumas conjecturas a respeito do processo de
realização do documentário sobre a vivência de alguns na Avenida do Cinqüentenário.
Realizar um produto audiovisual dessa natureza e com esta temática requer a observação
atenta das relações que se estabelecem frente à câmera, como enfatiza Musburger (2008), as
relações entre as pessoas e o meio onde vivem, as pessoas e o trabalho e as pessoas em
relação a outras pessoas. Propomos ir além. Realizar um documentário sobre a avenida em
questão, é estabelecer relações também a partir da conexão que os realizadores deste
audiovisual tiveram com o espaço físico - a avenida – e com os significados que lhes são
atribuídos. E estes significados, certamente estão relacionados, à memória, àquilo que é
lacunar na historiografia oficial. Retomemos então Moura, quando fala do potencial dos
produtos audiovisuais como forma de suporte para o testemunho e o registro e da memória.

5.2 Pesquisa

Com a idéia fechada sobre o que iria ser tratado no vídeo, partimos para a pré-
produção do documentário A pré-produção é a etapa de preparação e organização de todo o
processo de produção do vídeo. E para tanto, esta etapa, requer um olhar atento e
diferenciado, pois ela interfere em todo o processo de construção do audiovisual. Para
Manuela Penafria (2001),
Esta fase caracteriza-se por uma pesquisa e desenvolvimento do tema/assunto a
tratar. Não há regras a seguir, aqui trata-se de justificar o interesse de um filme.[...]
Embora não seja regra, o mais das vezes, esta fase dependente do que o
documentarista encontra in loco. Antecipar determinados acontecimentos é uma
tarefa impossível, pois os mesmos são por natureza imprevisíveis (PENAFRIA,
2001.p.3,4).

Segundo a autora, só é possível selecionar entre o que é importante filmar do que não
é, se o assunto for bem pensado antes. Ou seja, a pré-produção facilita as decisões imediatas
diante de situações inesperadas. Puccini (2009) afirma que é necessário detalhar o conteúdo
do filme, para que se possa fazer um correto levantamento das necessidades da produção.
Nessa fase é muito importante considerar fatores como a pesquisa e o
desenvolvimento do vídeo, deixando clara a intenção da equipe, da abordagem do tema e da
forma como se pretende trabalhar. Scheila Bernard (2008) também expõe que a construção de
um filme vai muito mais além do que se filma, se ilumina e como é tratado o material na pós-
produção.
Segundo a autora, conhecer por antecipação algumas respostas no dia da gravação
pode ajudar a planejar e organizar as próprias necessidades que o vídeo exige no dia da
gravação, ou seja, os equipamentos que serão utilizados, a iluminação, entre outros fatores
que envolvem o processo de construção da narrativa. A fase de pré-produção tem que estar
muito bem organizada e planejada, é nela que o esqueleto teórico do vídeo será montado e as
entrevistas, locações e roteiro serão decididos, sendo muito importante trabalhar com
hipóteses e problemas que poderão surgir eventualmente na produção.
O processo de seleção já inicia na escolha do tema, desse pedaço de mundo a ser
investigado e trabalhado na forma de um filme documentário. Continua com a
definição dos personagens e das vozes que darão corpo a essa investigação. Inclui
ainda a escolha de locações e cenários, a definição de cenas, seqüências, até chegar a
uma prévia elaboração dos planos de filmagem, dos enquadramentos, do trabalho de
câmeras e som, entre outros detalhes técnicos que podem contribuir para a qualidade
do filme (PUCCINI, 2009, p.19).

Em suma, todo o processo de realização do documentário tem que ser bem pensado e
delimitado, a pré-produção não implica unicamente em refletir sobre a idéia, mas traçar todos
os caminhos e condução do material a ser pesquisado, gravado e editado.
A princípio, fomos ao CEDOC/UESC para pesquisar os jornais e materiais de
arquivos existentes sobre a Cinquentenário e saber quais foram as histórias mais marcantes da
avenida. Através de uma conversa informal com Sr. João Cordeiro7, conhecedor da história da
avenida, obtivemos os nomes de pessoas que, possivelmente, teriam muito a contribuir com o
trabalho. Ainda nesse dia continuamos a pesquisa sobre a avenida e os materiais que seriam
importantes para se como parte do corpus na confecção do vídeo.
A estética documental não foi apenas baseada nas entrevistas dos depoentes, mas
também nas seqüências de imagens de vídeo, fotos e manchetes de jornais, dando ao
documentário uma multiplicidade de materiais imagéticos. As imagens de arquivos terão
muita relevância para o tratamento visual do filme e também para ilustrar a fala dos
personagens sobre os fatos históricos da avenida. Puccini expõe que apesar dessa fase ser um
processo exaustivo, serve como o recurso ilustrativo e muito importante dentro do vídeo.
[...] fazer um exaustivo levantamento de material de arquivo, entre fotos, filmes de
arquivo e arquivos sonoros, buscando garantir permissão para o uso no filme; [...] A
utilização de material de arquivo é recurso adotado com freqüência pelos
documentaristas como forma de ilustração visual de eventos passados. [...] A
qualidade de um filme documentário depende em grande parte da qualidade do
material de arquivo trabalhado (PUCCINI, 2009, p. 32).

Com a ida ao CEDOC tivemos acesso a fotos e manchetes de jornais antigos, bem
como as monografias que já foram escritas na universidade. A idéia de fazer o vídeo ficou

7
Funcionário do Centro de Documentação (CEDOC) da Universidade Estadual de Santa Cruz.
ainda mais concreta quando fomos descobrindo os acontecimentos da avenida: fatos
marcantes como a sua abertura, os conflitos que tiveram para o alargamento e construção
dela, a enchente de 67, que mostrou como um lugar pode se renovar depois de uma catástrofe,
entre outros fatos que circundaram o lugar.
Houve também algumas visitas ao arquivo público da cidade de Itabuna, com o intuito
de aproveitar o material de fotografias, noticias de jornais8 que contribuísse para o trabalho e
para o conhecimento desta equipe. As fotografias e manchetes de jornais que nos
interessavam foram armazenadas, através de registros fotográficos em formato digital, para a
utilização das mesmas na computação gráfica. Tanto no CEDOC quanto no arquivo público o
procedimento foi o mesmo: armazenar todo e qualquer registro que se julgasse importante
para usar no trabalho.
Depois de estar com os nomes das pessoas, iniciamos o processo de marcar as pré-
entrevistas e/ou conversar com as pessoas em seus estabelecimentos comerciais. Os nomes
sugeridos9 foram Roberto Mariano, Mariá Borges, Walmir Tolentino, Sebastião Lucas, Henry
Soussa, João Luiz Barreto, Sandra Regina e Corbulon Bittencourt. A partir dessa lista
organizamos a visita, conversamos com estas pessoas e marcamos as possíveis datas de uma
pré-entrevista sobre as vivências de cada um na avenida. Antes da pré-entrevista, fechamos
como seriam as perguntas e qual o direcionamento que iríamos dar ao vídeo, pois com isso
determinado, não haveria muitos problemas na construção da narrativa do vídeo. O fácil
acesso a Avenida do Cinqüentenário possibilitou a equipe agilidade no processo de pré-
produção, pois a mesma está localizada no centro da cidade, sendo uma das vias de maior
circulação de veículos e transeuntes.
Como a idéia foi de trabalhar com depoimentos, pensamos em utilizar duas câmeras,
pois seria a forma mais segura de garantir os contra planos na edição. Uma câmera ficaria
parada no tripé para garantir o áudio e a entrevista, sendo a oficial e a outra seria responsável
por toda a parte de planos extras. A câmera do tripé (DV CAM)10 ficaria enquadrada no
primeiro plano e a segunda câmera (XL)11 faria os planos mais fechados dos entrevistados.

8
O arquivo hemerográfico pesquisados tanto no acervo do CEDOC-UESC quanto do Arquivo Público de
Itabuna são datados da década de 20 até os dias atuais.
9
Os nomes foram sugeridos na primeira visita ao CEDOC pelo Sr. João Cordeiro. Segundo ele, essas pessoas
conhecem a fundo a história da avenida por estarem nela há muito tempo. No caso de alguns comerciantes, estão
desde a inauguração da Cinquentenário. Vale ressaltar que muitos dos nomes citados foram fontes de pesquisa
para o próprio CEDOC, assim como para outros trabalhos acadêmicos que tematizam a cidade de Itabuna. Outro
ponto relevante foi o fato dos próprios possíveis depoentes mencionarem os mesmos nomes que outrora fora
sugerido.
10
Câmera profissional que capta imagens em alta resolução
11
Câmera semi profissional
Outra vantagem de se utilizar uma segunda câmera, foi por não ocupar muito o tempo do
entrevistado, por ser um ambiente comercial, o fluxo de pessoas é muito grande e
possivelmente eles estariam ocupados em seus respectivos empregos. O uso da segunda
câmera garantiria com agilidade a proposta inicial.
Para Puccini (2009), as opções quanto ao tipo de enquadramento são mais acertadas
quando escolhidas as composições em plano médio, primeiro plano e close-up, podendo
eventualmente o entrevistado ser mostrado de corpo inteiro. Não há muito sentido em filmar
toda uma entrevista em grande plano geral, fazendo com que o entrevistado ocupe um espaço
mínimo do quadro. Penafria ainda complementa ao abordar que cada plano apresenta certo
ponto de vista, quer o documentarista tenha ou não consciência disso. Então, considera-se
importante que o documentarista defina qual o grau de envolvimento que deseja demonstrar
para um determinado momento. Por isso, decidimos trabalhar com planos mais fechados,
visando dar ênfase à emoção que o interveniente demonstrava durante a pré-entrevista.

5.3 Reconhecimento de campo

A Avenida do Cinqüentenário faz parte de maneira direta ou indireta na vida das


pessoas que moram em Itabuna, de forma que, para nós, a localização e reconhecimento de
área constituíram como um processo simples e de fácil acesso. Nas primeiras entrevistas aos
depoentes já reconhecemos os locais onde possivelmente as entrevistas seriam feitas. Tivemos
a preocupação de não tirar nenhum depoente de seu estabelecimento comercial, pois a
identidade da avenida se caracteriza pela veia comercial que ela representa para Itabuna e
outras cidades circunvizinhas, e deixar os entrevistados em seus locais de trabalho seria uma
forma de conservar essa característica da avenida. Preocupamo-nos também em não promover
o nome da loja de nenhum comerciante, deixando claro que o objetivo do grupo se mostrava
apenas na história que eles carregavam em suas memórias.
As visitas antecipadas a avenida serviram de base para as escolhas estéticas12 do vídeo
e principalmente em relação ao equipamento de áudio. A avenida apresenta um fluxo intenso
de carros de som, além do barulho comum a essas vias principais da cidade. Então, decidimos

12
Sabemos que as discussões sobre o termo “escolhas estéticas” são muito amplas, mas nesse vídeo utilizamos o
termo apenas para classificar as escolhas para a composição estética do vídeo, não tendo como pretensão
adentrar nessa discussão mais teórica sobre o termo.
usar o microfone lapela,13 considerando o mais aconselhável para a captação durante o
processo de gravação

5.4 Construindo o pré-roteiro

Depois de todo o processo de pré-produção partimos para a confecção do roteiro,


apenas para nos guiar nas gravações. Sabemos que é difícil prever o que será falado em uma
entrevista, por isso estabelecemos que as perguntas fossem bem especificas, para que o
entrevistado não desviasse do foco que esse trabalho se destina, as histórias da Avenida do
Cinquentenário e a relação do depoente com a mesma.
Puccini expõe que “na etapa da pré-produção, a impossibilidade da escrita de um
roteiro fechado, detalhado cena a cena, para filmes documentários ocorrem em virtude do
assunto ou da forma de tratamento escolhida para sua abordagem” (PUCCINI, 2009, p. 25).
Como escolhemos tratar com entrevistas, o controle sobre a fala dos personagens seria
inviável, de maneira que, não haveria como prever de fato o que cada um falaria, tornando
dessa maneira impossível fechar o roteiro do vídeo.
Detectamos, no período de pré-produção, que uma das características mais evidentes
na avenida é o movimento, o passar de pessoas, de carros, de motos, de bicicletas. A avenida
não pára durante o dia, suas ruas são motivos de lazer, conversas, distração, emprego,
moradia, vida. Uma vida que tem pressa, que “corre” o dia todo e com base nessa idéia a
optamos por transpor para o documentário essa idéia constante de movimento. Baseado nessa
proposta, a trilha do vídeo foi pensada em algo mais acelerado, mais urbano, nos momentos
atuais da avenida. E para as partes históricas algo menos ritmado. A trilha que foi
desenvolvida teve como objetivo acompanhar o processo evolutivo do vídeo e da avenida, que
começa tímido e aos poucos vai evoluindo. Uma música que contemple os dois lados da
avenida, o histórico e o atual.

5.5 A relação entrevistado e documentarista

Com relação aos depoentes, a nossa escolha foi colocar outras pessoas, não apenas os
comerciantes, mas os moradores, os “camelôs”14 e os transeuntes, para dar voz às pessoas que
tem outra rotina na Cinqüentenário e que também fazem parte da história da mesma. O

13
O lapela é um microfone omnidirecional cuja característica é captar o som vindo de todas as direções.
14
Expressão comumente utilizada para designar os vendedores ambulantes ou “vendedores de rua”.
objetivo era mostrar outro ponto de vista que não fosse apenas dos comerciantes, mas de
pessoas que vão à avenida com outros objetivos. Puccini diz que é muito comum em filmes
documentários a narração do assunto não por um personagem, mas por muitos. Essa tendência
nasce muitas vezes da busca de mostrar um universo não pelo todo, mas por uma amostragem
que seja representativa do todo (PUCCINI, 2009, p. 45).
Numa conversa mais informal, tomamos nota dos contatos e marcamos uma data
possível para uma conversa mais especifica sobre a avenida. Perto da data estipulada
ligávamos para confirmar se o depoente estaria disponível. Nesta etapa, pensamos em
algumas perguntas que seriam direcionadas aos depoentes, sendo que estas seriam “genéricas”
e não pontuais, como por exemplo, “há quanto tempo está na avenida?”, “na sua opinião,
quais os acontecimentos mais marcantes na história da Cinqüentenário?”, “o que a avenida
representa para você?”.
O que determinou a escolha dos personagens foi o grau de conhecimento sobre a
avenida, as histórias mais marcantes que se desenrolaram nela e o tempo que eles estavam
instalados na avenida. Assim, a pré-entrevista serviu de base para determinar quais os
personagens participariam do vídeo. A relação que o documentarista constrói com o depoente
torna-se essencial para intensificar a confiança entre as partes envolvidas. O documentarista
estabelece esses primeiros contatos para deixar o depoente mais livre e a vontade quando
estiver frente às câmeras.
Penafria (2001) pontua que a procura da espontaneidade por parte dos intervenientes15
no documentário é fundamental, pois como a presença da câmera pode alterar o
comportamento das pessoas dentro do filme, o documentarista tem que tentar estabelecer uma
relação de confiança com o entrevistado. Quando há essa relação de confiança por parte dos
intervenientes, a presença da câmera torna-se um terceiro elemento complementar do
processo e não um inibidor de comportamento. A autora ainda expõe que, pelo fato dos
entrevistados estarem muito envolvidos com o processo e participação do vídeo, tendem a
esquecer a presença da câmera.
Por esta razão que, durante o processo de pré-entrevistas, buscamos estabelecer esse
contato e deixar o depoente a par de toda a idéia do vídeo. Julgamos que, com essa boa
relação os entrevistados se sentiriam mais comprometidos com a equipe e com o vídeo.

15
Expressão atribuída pela autora para classificar os depoentes.
Para Puccini poderíamos dizer que a entrevista está para o documentário assim como a
encenação está para o filme de ficção. Ao final das pré-entrevistas, nos reunimos para
determinar se o depoente seria ou não um dos personagens do vídeo.
Pré-entrevistas marcam o primeiro contato entre o documentarista, ou sua equipe de
pesquisadores, e os possíveis participantes do documentário. São úteis tanto para
fornecer informações, ou aprofundar outras já coletadas, quanto para servir de teste
para avaliar os depoentes como possíveis personagens do filme no que tange ao
comportamento de cada um diante da câmera e à articulação verbal do entrevistado.
Alguns problemas freqüentes relacionados à pré-entrevista são: possíveis situações
de constrangimento, resistência ou mesmo recusa, por parte do entrevistado em
conceder a entrevista e, em um outro extremo, expectativa do entrevistado quanto a
possível participação no documentário (PUCCINI, 2009, p.33).

Após a realização da fase de pré-entrevista e de seleção dos depoentes, entramos em


contato para saber se estes teriam a disponibilidade de participar do projeto. Não houve
objeção, sendo que a maioria dos selecionados se mostrou receptiva desde a proposta inicial16.
17
A escolha por um “Fala povo” dentro do vídeo partiu da idéia de entrevistar as
pessoas que normalmente vão a Cinqüentenário, por motivos diferenciados, objetivando dar
voz aos transeuntes. Esses passantes representam os milhares que percorrem as ruas
diariamente e dar voz a essas pessoas se configurou como fato necessário e relevante para
demonstrar a relação Cinqüentenário e transeunte. Escolhemos por deixar para entrevistar os
transeuntes no dia da gravação, pois possivelmente, os depoimentos seriam mais espontâneos
e não haveria uma preparação para a entrevista, seria uma pessoa que está na avenida
destinada a fazer algumas coisas, comprar, pagar as contas ou passear, enfim, realizar as
atividades do cotidiano.
No processo de idealização, decidimos algumas nuances que seriam conferidas ao
vídeo. Esta decisão foi tomada a partir do enfoque demonstrado por cada depoimento dado.
Os comerciantes representariam o olhar mais antigo do lugar, atrelados às lembranças
mais remotas que tinham sobre alguns acontecimentos marcantes da Avenida. Por estarem há
muito tempo na Ciquentenário, alguns desde antes a sua inauguração, estes norteariam a
narrativa. Além disso, falariam sobre questões comerciais e pragmáticas do lugar.

16
Apenas um dos participantes se mostrou menos interessado devido o horário da gravação. Considerando ser
um personagem importante para a narrativa do vídeo, pensamos na possibilidade de se chegar mais tarde em um
dia de gravação na UESC e deixá-lo por último. Apresentou-se essa opção para o entrevistado e ele se mostrou
mais receptivo.
17
O fala povo ou povo fala é um conjunto de entrevistas rápidas geralmente feitas a populares (neste caso ele foi
realizado no meio da Avenida Cinqüentenário) com o intuito de saber o que eles pensam sobre determinado
assunto. Vale ressaltar que o fala povo é feito sem nenhum contato prévio com esses populares, diferente dos
entrevistados, com os quais mantemos contato desde a fase de pesquisa.
Aos “camelôs”, caberia falar sobre questões relacionadas ao comércio informal e à
rotina na avenida. Importante ressaltar que já na pré-produção do documentário, decidimos
mostrar o primeiro camelô que chegou à avenida, no caso o Sr. Sebastião Lucas.
Já os moradores representariam a outra vertente da Cinquentenário, pois, apesar de ser
um espaço comercial, é o lugar que muitas pessoas residem, não sendo muitas vezes nem
notadas por causa da correria do comércio.
Nos organizamos de forma que cada um pudesse participar de todo o processo durante
as gravações. Portanto, nos dividimos em três funções as quais julgamos imprescindíveis:
direção, assistente de áudio e produtor/relator do processo. O diretor foi o responsável por
conduzir a entrevista e o assistente de áudio foi o encarregado pela captação do áudio. Já a
função de produtor/relator do processo ficou encarregado por estar atento ao ambiente da
entrevista, além de relatar o que estava acontecendo. As funções foram atribuídas a cada um
de forma aleatória, havendo o revezamento de funções a cada entrevista. (VER ANEXO A)
Acreditamos que a definição das motivações que levam os executores de um projeto
como este a escolher tal universo, esteja totalmente atrelada a sua forma. A fase de pré-
produção, momento de idealização e maturação da proposta de realização do vídeo “Do
cinqüenta ao centenário - o que conta uma avenida”, nos demonstrou que a definição
temática, a fase de pesquisa, o contato com os “intervenientes” o delineamento do pré-roteiro
a partir das entrevistas, a escolha do ritmo do vídeo, enfim, todas estas etapas significaram o
delineamento do próprio vídeo, enquanto escolha estética e ideológica.
Concordamos com Fernão Pessoa Ramos (2008) quando afirma que o documentário é
uma realização “autoral” em que os realizadores imprimem suas vontades e escolhas dentro
do vídeo. Quando propomos fazer um documentário, pensamos na idéia de se estabelecer uma
relação mais participativa de pessoas, depoentes, que mantém uma relação com a avenida. E
dar voz a elas demonstra como uma história pode ir muito mais além do que relata a história
oficial, explorar a memória dessas pessoas carregadas de história, através de um
documentário, é relatar de maneira afetiva e pessoal a vida, trajeto e evolução da Avenida
Cinqüentenário.
6 A PRODUÇÃO: DOCUMENTANDO LEMBRANÇAS SOBRE A AVENIDA

6.1 Preparativos para a gravação

Após todo planejamento da pré-produção, partimos a campo para as gravações. Quatro


dias foram disponibilizados para que pudéssemos gravar todo documentário. Já sabendo disso
previamente, dividimos os entrevistados conforme o tempo e a logística das locações.
As entrevistas ocorreram na própria avenida. Apesar de saber dos riscos quanto ao
barulho e a luz, principalmente nas entrevistas que seriam feitas na rua, a ambientação era
ponto primordial desde a elaboração do projeto já que deslocar o entrevistado para outro
ambiente poderia ocasionar a perda da espontaneidade da entrevista. Como aponta Puccini
(2009), a escolha do local da entrevista pode ser determinante no comportamento do
entrevistado diante da câmera. Gravar em um ambiente estranho ao entrevistado pode fazer
com que o depoimento torne-se frio e contido do que em um ambiente de convívio diário.
Poderia surgir como opção gravar na casa do entrevistado, mas o assunto que estava
sendo retratado – no caso, a relação da Avenida do Cinqüentenário com os comerciantes,
passantes e moradores –, já não estaria tão próxima do depoente. Falar sobre a avenida na
própria avenida traria uma veracidade maior ao depoimento. Por mais que a Cinqüentenário
não estivesse em quadro na hora da captação da imagem, o som ambiente estava presente,
com o barulho característico de um comércio, com buzinas, apitos, conversas, carros de
propaganda. Levamos em conta também a fácil locomoção que a avenida proporciona, uma
vez que, as locações não ficavam distantes umas das outras, com isso o tempo poderia ser
melhor aproveitado.
Checamos os equipamentos antes de cada saída para que não houvesse problemas.
Depois que todo material era devidamente colocado no carro, seguíamos em direção à Itabuna
sempre com meia hora de antecedência. Os procedimentos de assinatura de autorização de
imagem bem como a de locação18 e a captura de imagens de cobertura foi praxe com todos os
entrevistados.

18
Documentos assinados pelos entrevistados onde consta o consentimentos em ceder a voz e imagem para obra
realizada bem como a liberação do local onde a gravação ocorreu. Conferir anexos B e C
Quanto à iluminação, que foi previamente discutida pelo grupo, optamos por uma luz
que se aproximasse da luz natural, pois contávamos com as imagens externas que seriam
capturadas e não queríamos uma discrepância na fotografia do documentário.

6.2 Entrevistas e escolhas estéticas

Os conhecimentos adquiridos ao longo do curso sobre documentário influenciaram nas


escolhas eleitas para a realização deste produto. Bill Nichols (2005), autor que serviu como
base para este trabalho, lembra que nos anos 70, o documentário retornou com certa
freqüência ao passado, mesclando o uso de material de arquivo e entrevistas contemporâneas
com a intenção de laçar um novo olhar sobre fatos ocorridos no passado ou acontecimentos
que conduzissem a questões mais atuais. A tendência, “é de contar a história escrita pelas
bases, conforme foi vivida e experimentada por pessoas comuns” (NICHOLS, 2005, p. 62).
Foi o que tínhamos como proposta para a realização do documentário “Do Cinquenta
ao Centenário – o que conta uma avenida”. As entrevistas não partiriam de especialistas na
área ou historiadores. Queríamos ouvir o que Pollak (1989) define como “as memórias
subterrâneas”, aquela que não é a memória dita oficial.
Também era de nosso conhecimento as obras que apontavam para a relação entre
documentarista e entrevistado, enfatizando que estas relações não poderiam ser encaradas
como a mesma que um diretor de ficção cria com seus personagens. Os estudos apresentados
por Manuela Penafria, foram um dos trabalhos que nortearam a produção do material ora
apresentado. Segundo a autora, um ponto fundamental dentro do documentário diz respeito ao
ponto de vista adotado. Para a autora,
O ponto de vista determina com quem o espectador se identifica e o modo como
o espectador lê os planos (e o filme) e interpreta a ação. É através do uso da
câmera de filmar e da montagem que o documentarista define qual o ponto de
vista a transmitir e, conseqüentemente, qual o nível de envolvimento do
espectador (PENAFRIA, 2001, p. 3).

Esse nível de envolvimento e identificação depende também de outros fatores como o


controle gráfico – referente às características formais dos planos, a composição e organização
dos elementos dentro do enquadramento – e o controle narrativo – ligado essencialmente à
montagem, o ritmo com que os planos são organizados e as técnicas de montagem. Penafria
(idem) aponta que tanto o controle gráfico, quanto o narrativo devem ser trabalhados em
articulação, por isso cada plano deve ser pensado em relação ao filme.
No primeiro dia de gravação, três entrevistas foram realizadas: Walmir Tolentino,
Mariá Borges da Costa e Sebastião Lucas. Como já havíamos realizado uma pré-entrevista, o
local onde seriam gravadas as entrevistas já era conhecido pela equipe e por se tratar, em sua
grande maioria, de estabelecimentos comercias, sabíamos que a rotina não poderia ser
alterada, uma vez que, implicaria em prejuízos para seus proprietários. Por esse motivo,
ficamos limitados quanto aos possíveis enquadramentos19 dentro da loja bem como a
composição20 da cena a ser gravada.
O primeiro a ser entrevistado foi Walmir Tolentino, o Seu Walmir, proprietário de
uma loja de material esportivo há 56 anos. Os preparativos para a entrevista duraram cerca de
vinte e cinco minutos, pois o microfone apresentou problema e o movimento da loja era
intenso, o que fez com que a escolha do local onde seria enquadrado o personagem
demandasse um cuidado maior, já que alguns fatores não nos eram favoráveis. O primeiro
deles foi a cor da camisa do entrevistado: seu Walmir vestia bege e as paredes da loja eram
brancas. Outro ponto, eram os produtos nas prateleiras que estavam dispostos de maneira
confusa. A solução por nós encontrada foi ter um espelho como contra plano. Assim, não
daria a sensação do entrevistado “colado” junto à parede e ainda acrescentaria elementos a
mais dentro do enquadramento.
Depois dos ajustes, a entrevista fluiu bem apesar da apreensão da equipe por ser a
primeira gravação. Como já tinha sido de comum acordo do grupo, quem estivesse na função
de direção, ficaria o mais próximo da lente que pudesse para que o entrevistado ficasse de
frente para a câmera, mas sem olhar diretamente para a lente. Sheila Bernard (2008) coloca
que só muito raramente o entrevistado fala diretamente para a câmera, em parte porque
poucas pessoas “normais” podem fazê-lo e se sentir confortáveis. A maior parte dos cineastas
senta-se diante da pessoa.
Para Puccini, uma das preocupações do diretor na filmagem de entrevista deve ser com
o direcionamento do olhar do entrevistado e essa direção é guiada pela posição do
entrevistador. O autor coloca que, em alguns casos, a presença do entrevistador dentro do
quadro traz como conseqüência uma divisão de interesse na tela, o que pode fazer com que o
entrevistador chame mais atenção do que o entrevistado.

19
Segundo Kellison (2007) o conceito primário de enquadramento envolve filmar uma imagem de um tamanho
específico, assim como os elementos que estiverem a sua volta ou que a afetarem.
20
Ainda segundo Kellison (idem) composição é a relação dos objetos entre si no enquadramento. Cores,
iluminação, cenário e a posição da câmera, tudo contribui para a composição da cena.
Estando o entrevistador fora do quadro, uma única direção do olhar estabelece,
para o espectador, uma conversa com uma só pessoa, mesmo que a voz dessa
pessoa, o entrevistador, não seja ouvida. Dependendo da situação de filmagem e
do assunto, essa orientação pode propiciar um tom mais intimista à entrevista
(PUCCINI, 2009, p. 69).

Era, justamente, o tom que desejávamos. Uma vez que a proposta era trabalhar com as
histórias pessoais daqueles que assistiram ao desenvolvimento da avenida. Para atingir esse
objetivo, contamos não só com a câmera que estava fixa no tripé, mas com imagens da
segunda câmera na qual os planos mais fechados foram priorizados.
Enquanto dois dos integrantes do grupo permaneceram na loja de Seu Walmir
arrumando os equipamentos e recolhendo a autorização de imagem e de locação, o diretor da
segunda entrevista já se dirigia para o local onde iria ocorrer. Esse procedimento aconteceu
nas demais entrevistas.
Mariá Borges, a Dona Mariá, havia acabado de chegar à loja. Dessa vez a escolha do
local para a entrevista partiu da própria entrevistada que demonstrava certo nervosismo com a
gravação e por isso preferiu o lugar mais recuado da loja. Respeitando a vontade da
entrevistada e também observando o local, sabíamos que estávamos limitados já que, mais
uma vez, não poderíamos atrapalhar o andamento das vendas na loja. Sendo assim, os
equipamentos de iluminação, captação de áudio e de imagem foram dispostos. Apesar da
timidez da entrevistada e das interrupções na entrevista por conta do telefone que estava perto
da câmera, a gravação correu dentro do esperado durando cerca de uma hora.
O último entrevistado do dia foi Sebastião Lucas, considerado o primeiro “camelô” da
Avenida Cinquentenário. Foi a entrevista mais trabalhosa do dia, pois a banca de “Seu Sisi”,
como é conhecido, fica na calçada. O tráfego de pessoas era intenso, exigindo uma atenção
redobrada da equipe. O áudio também foi outro ponto relevante nessa entrevista, já que os
carros de som passavam bem próximo ao local da gravação.
O segundo dia de gravação foi iniciado com a entrevista de Henry Soussa, proprietário
da maior rede de sorveteria da cidade. O local escolhido para a entrevista foi sugestão do
entrevistado, pois o seu estabelecimento tem um fluxo intenso de clientes e funcionários. Foi
sugerido o pavimento superior da loja, por ser menos conturbado e com boa luminosidade.
Checamos o espaço, escolhemos enquadrar tendo ao fundo pinturas da artista plástica
Waldirene Borges, muito conhecida na região, para preencher melhor a cena. O entrevistado
apesar de agitado devido a outros compromissos no mesmo horário correspondeu com o
esperado pela equipe.
A entrevista seguinte foi com Roberto Mariano, comerciante antigo da Avenida
Cinquentenário. Através da pré-entrevista realizada, notamos que os fatos mais marcantes que
aconteceram na avenida foi presenciado por Seu Mariano. O entrevistado tinha uma boa
fluência na fala e, apesar do barulho intenso, já que sua propriedade fica localizada em um
cruzamento, a entrevista transcorreu de maneira satisfatória. O movimento tanto de clientes
quanto de funcionários não foi cessado durante a entrevista o que nos exigiu atenção para as
possíveis interferências que poderiam ocorrer durante a gravação. O estabelecimento é um dos
pontos comerciais tradicionais da cidade e possui uma decoração antiga. Levando em conta
esse fator, escolhemos por enquadrá-lo próximo a objetos que remetesse a esse universo.
Como se pode notar na fala dos intervenientes, não só um tempo estava sendo ali
retratado. As lembranças misturavam-se com fatos do presente e mostrava os anseios do
tempo que está por vir. Para Penafria (2001), considerações acerca do presente ou do passado
são comuns nos documentários. No entanto, também é possível e legítimo manifestar
considerações sobre o futuro.
Outras três entrevistas ainda foram feitas neste mesmo dia, sendo elas a de dois
vendedores ambulantes – Davidson Sebastião e Gabriele Silva – e João Luiz Barreto,
comerciante que herdou a loja do pai. Chegamos à loja no horário marcado previamente com
o entrevistado – o mesmo só poderia gravar depois das seis horas. Por esse motivo, ocorreu
uma conversa prévia com Emiron Gouveia, gerente de laboratório, notificando-o que
possivelmente neste dia, iríamos precisar de um tempo a mais para as gravações. Com o
consentimento e a ciência do gerente, a gravação pode ser realizada. Notamos que o primeiro
enquadramento que escolhemos não estava adequado. Muitos objetos desorganizados ao
fundo causaram uma confusão visual e não destacava o personagem. Mudamos para outro
enquadramento sugerido pelo cinegrafista. Com respostas objetivas, a entrevista ocorreu
dentro do previsto pela equipe.
Incluir o cinegrafista na gravação do documentário, não apenas como operador de
equipamento, sempre foi uma proposta do grupo. Antes de gravarmos, conversamos com
Hélio Heleno e explicamos o projeto para que ele se sentisse parte da equipe. Como denota
Bernard, o melhor meio de garantir a narrativa visual é envolver o cinegrafista e não
simplesmente usá-lo como profissional que faz as tomadas. “Ser capaz de enquadrar imagens
com beleza não é a mesma coisa que ser capaz de enquadrar com beleza imagens
significativas” (BERNARD, 2008, p. 183).
Watts define que a instrução deve ser direta. Algumas palavras sobre o que será
gravado são necessárias. Esse procedimento “pode demorar alguns minutos, mas é importante
que seja claramente entendida” (WATTS, 1992, p. 31). Sendo assim, o cinegrafista irá
trabalhar para o sucesso do produto.
As duas primeiras entrevistas, do terceiro dia de gravação, ocorreram com os
moradores Sandra Caldas e Corbulon Bitencourt. O apartamento de ambos era pequeno, o que
acabou ocasionando um maior cuidado com a escolha do enquadramento. A varanda do
apartamento de Sandra tinha vista para a avenida e, por mais que soubéssemos que havia o
risco da variação de luz, esse foi o local escolhido para que a gravação ocorresse. Já
Corbulon, reside em apartamento recuado, decidimos enquadrá-lo sentado em um sofá, uma
vez que o espaço remetia a casa e como estávamos tratando de moradores, julgamos
apropriado. Nesta mesma data, outro ambulante foi entrevistado: Márcio Higino da Silva.
Sem dúvida, o último dia foi o que demandou mais trabalho e maior planejamento.
Esta etapa ficou destinada para gravarmos os transeuntes. Como essa parte do vídeo seria feita
no estilo “fala povo”, não houve o agendamento prévio com ninguém. Enquanto as perguntas
estavam sendo feitas por um de nós, outro cuidava do som e o terceiro procurava outro
personagem para a entrevista seguinte. Por se tratar de uma avenida que serve de acesso para
outras localidades, muitas pessoas não quiseram parar alegando “pressa”. Outros diziam não
ter desenvoltura suficiente para falar diante da câmera e ainda um terceiro fator: por mais que
explicássemos do que se tratava o documentário, fomos confundidos com as equipes das TVs
locais o que fez com que muitas pessoas desistissem de dar seu depoimento. Após varias
tentativas, conseguimos um número de pessoas que julgamos suficiente. E principalmente, a
relação com o “outro”, tão necessária para a realização de um documentário, foi
satisfatoriamente estabelecida.
Durante todo o processo de gravação, a atenção com o áudio foi constante. Estávamos
atentos não só ao microfone ligado ao entrevistado, mas também no som ambiente que estava
sendo captado. Era frequente um dos participantes perguntar ao cinegrafista se o microfone da
câmera estava ligado. Captar o som ambiente dá mais veracidade às imagens acrescentando
no resultado final do documentário. As características da avenida tinham que ficar registradas
não só nas imagens, por isso as conversas dos ambientes retratados, os carros, apitos, enfim,
tudo tinha que está presente. Watts lembra que os efeitos sonoros podem ser incluídos na
edição, mas “nem de longe se comparam com a infinita variedade de sons no mundo real”
(WATTS, 1992, p. 51).
6.3 Os aspectos da encenação

Como categoriza Nichols (2005), o documentário não é uma reprodução da realidade,


é uma representação do mundo em que vivemos. Eles mostram aspectos ou representações
auditivas e visuais de uma parte do mundo. Atrelado a idéia de representação, outro elemento
dentro da narrativa documental emerge: a encenação.
Muito se questiona, dentro da narrativa documental, sobre a encenação dos
participantes da obra. Para Nichols o grau de mudança de comportamento e personalidade nas
pessoas durante a filmagem pode introduzir um elemento de ficção no processo do
documentário. Inibição e modificações de comportamento “podem se tornar uma forma de
deturpação, ou distorção, em um sentido, mas também documentam como o ato de filmar
altera a realidade que pretende representar” (NICHOLS, 2005, p. 3).
Já Fernão Pessoa Ramos, alerta que o conceito de encenação perde consistência se
ampliado de modo uniforme para toda a história do documentário no século XX. Para o autor
“tudo se torna encenação, seja no documentário, seja na ficção. Coloca-se no mesmo patamar
uma encenação em estúdio e uma leve inflexão de voz do sujeito na tomada, provocada pela
presença da câmera (RAMOS, 2008, p. 39). Nesse sentido exposto, todos estariam encenando
a qualquer momento, então, não seria diferente com a presença da câmera. Ainda segundo
Ramos (idem) em um sentido mais amplo, a ação na tomada não pode não ser encen-ação. A
encen-ação nada mais é que a própria presença do sujeito-da-câmera21 em seu modo de abrir o
mundo ao espectador através do olhar de outrem.
Durante as gravações, alguns personagens apresentaram uma preocupação excessiva
com a presença da câmera e a mudança do comportamento era notório comparado à fase de
pré-entrevista realizada apenas com um gravador de voz. Sandra Regina, por exemplo, se
preparou previamente arrumando os cabelos e a blusa. Perguntou se era possível se ver no
monitor para saber como estava aparecendo e solicitou ao grupo uma almofada para segurar,
segundo ela, para “melhorar a postura”. Houve por parte dos personagens, uma preocupação
com a entonação e com o falar pausadamente, outros pediram para repetir a resposta por
acharem que não tinham respondido de forma satisfatória. A postura e o gesticular dos
entrevistados também evidenciavam esse caráter de encenação.

21
Termo que segundo Fernão Pessoa Ramos (2008), não designa somente o corpo físico que sustenta a câmera,
mas a subjetividade que é fundada pelo espectador na tomada.
6.4 Imagens de cobertura e últimos procedimentos

Todas as entrevistas foram encerradas sem maiores problemas. Ao final de cada dia,
recolhíamos e organizávamos os equipamentos e retornávamos à UESC para a devolução dos
mesmos dentro do horário estipulado pela gerência de laboratórios.
Seguindo o pré-roteiro elaborado ainda na fase de pré-produção, diversas imagens de
cobertura foram capturadas, de diferentes pontos da cidade. Para Bernard é importante que a
filmagem seja feita de um modo que torne a edição possível. É preciso que “haja cobertura
suficiente para dar opções e para que a cena funcione [...] não está sendo filmadas notícias,
para as quais uma tomada por cena pode ser suficiente” (BERNARD, 2008, p. 185).
Imagens de ângulos diversos foram gravadas, desde câmera parada, imagens
registradas do alto dos prédios, detalhes de elementos representativos da avenida (como sinal
de trânsito, rodas dos carros, barracas dos “camelôs”). Planos sequências da avenida também
foram capturados: uma tomada foi gravada do início da avenida com o cinegrafista dentro do
carro em movimento e as outras sequências foram registradas com o tripé, uma no final da
avenida e a outra do terraço de uma casa onde a câmera registrou o entardecer da mesma por
cerca de vinte minutos ininterruptos. A idéia para esse último plano citado era acelerar na ilha
de edição para que a queda da luz, bem como o fluxo de carros, retratasse o dinamismo da
avenida durante o dia até o cair da noite.
Como lembra Puccini (2009), os longos planos sequência obtidos nas tomadas podem
ou não ser mantidos pela montagem. O montador pode optar por recortá-lo criando vários
planos menores que serão colocados dentro do vídeo de maneira aleatória.
Esta fase da produção só pode ter êxito porque um planejamento prévio existiu. Por
mais que um roteiro de documentário sirva como um guia e não seja seguido por completo, a
noção do todo e do que realmente queríamos retratar tinha sido esquematizado pela equipe e
uma preparação pode ser feita para que tudo ocorresse sem problemas que, eventualmente,
pudessem prejudicar o resultado final do documentário.
Para Penafria, o momento das filmagens propriamente ditas é extremamente
importante, e não apenas porque é a fase que se estreita a relação documentarista-
intervenientes, mas, também, porque o material recolhido é decisivo para o filme final. “O
momento em que se liga e em que se desliga a câmera de filmar condiciona a fase seguinte - a
pós-produção” (PENAFRIA, 2001, p. 5).
A montagem do filme e o sucesso do resultado final dependem diretamente da fase do
planejamento – pré-produção, e da produção em si. Por mais que alguns problemas possam
ser minimizados na ilha de edição, se o material não for suficiente para que a edição seja
possível, de nada terá valido o esforço da realização das etapas anteriores.
7 A PÓS-PRODUÇÃO E A CONSTRUÇÃO “TEXTUAL” DO DOCUMENTÁRIO:
PERCEPÇÕES SOBRE A AUTONOMIA CRIATIVA NA FASE DA MONTAGEM.

Para a realização do documentário “Do cinqüenta ao centenário – o que conta uma


avenida”, após as fases de pré-produção – fase onde já foi explicitada a importância da
pesquisa - e a produção, onde efetivamente entramos em contato com os “personagens” do
documentário, entramos na pós-produção, fase responsável por dar identidade ao material que
foi pensado e posteriormente gravado. Assim como defendem Milar e Reisz, diferente da
ficção que trabalha com a idéia de enredo para prender a atenção dos espectadores, no
documentário deve se ter o cuidado em apresentar o tema, pois este “não passa de mero ponto
de partida que exige interpretação. O mérito do filme estará na qualidade do tratamento e não
no valor intrínseco do próprio tema como entretenimento” (MILAR; REIZ, 1978, p. 122-123).
Daí a importância desta etapa uma vez que é nela que ocorre os destaques de nuances
desejados pelos realizadores, a fim de tornar o tema abordado, estimulante aos olhos (e
ouvidos) do espectador. É nesta etapa que “o documentarista adquire total controle do
universo da representação do filme” (PUCCINI, 2009, p. 93), definindo o texto do filme e
dando forma ao seu discurso.22
Para isso, nesta fase são realizados alguns procedimentos que facilitam a
operacionalização de todo o processo: a decupagem, a feitura do roteiro de edição, a edição
(montagem), a computação gráfica e a trilha sonora. Todas estas etapas, apesar de se
delinearem a partir da proposta inicial do documentário (da idéia), também se realizam
atentando-se para as dinâmicas que envolvem todo o processo anterior de produção do
documentário – a pesquisa, o encontro com o “outro” (os personagens), o momento de
registro dos depoimentos. O registro do que ocorreu em cada momento será explicitado à
medida que o texto se desvela, distribuindo-se em subtópicos apresentados a seguir.

22
Puccini (2009) fala da necessidade do material de filmagem ser encaixado em uma estrutura discursiva, com
começo, meio e fim, se esta for a intenção dos seus realizadores. Parafraseando este autor, a pós-produção é o
momento em que o produto audiovisual irá efetivamente adquirir a sua lógica seja ele um documentário poético,
um registro amador, um exercício de experimentação autobiográfica, dentre tantas outras possibilidades. Aqui
podemos nos remeter aos estilos apresentados por Bill Nichols e as possibilidades criativas de realização do
documentário.
7.1 Decupagem

Esta última fase se iniciou com a nossa organização para o processo de decupagem,
etapa que se antecede à feitura do roteiro de edição, e que para Puccini é o “resultado de uma
leitura atenta das imagens e dos sons contidos no material bruto” (PUCCINI, 2009, p.101). A
importância desta fase para aqueles que trabalham com a feitura de documentários baseados
em entrevistas, como o nosso, também é explicada pelo autor:
Em documentários que se utilizam de entrevistas como recurso para a condução do
tema, a transcrição destas no papel é sempre aconselhável. Essa transcrição pode
ser feita de maneira detalhada, palavra por palavra, ou se contentar com a anotação
de tópicos que resumam o assunto de cada parte (PUCCINI, 2009, p. 102).

Iniciados os trabalhos, ao passo que o material ia sendo decupado, um integrante já se


responsabilizava por digitá-lo para facilitar na montagem do roteiro de edição. Assim, no
primeiro dia, decupamos a sonora do Sr. Walmir e no segundo, as sonoras de Dona Mariá e
metade da entrevista de Sr. Sissi. Porém, em conversa com a orientadora, percebemos que
devido à quantidade de material que estávamos em mãos para analisar, seria necessário mais
um dia de decupagem. Vale ressaltar que a decupagem é um processo diferenciado para o
documentário em relação à ficção, onde essa análise é guiada pelo roteiro técnico. Segundo
Puccini “em documentário, essa análise é bem mais demorada, em razão não só do fato de, em
muitos casos, inexistir um roteiro guia [...] mas também pela maior quantidade e diversidade
de imagens disponíveis.” (PUCCINI, 2009, p.101).
Assim, a Profª Karen Ramos entrou em contato com o Gerente de Laboratórios,
Emiron Gouveia, que autorizou o acréscimo de mais um dia nas atividades. No terceiro dia,
terminamos de decupar a entrevista de Sr. Sissi e prosseguimos com as entrevistas de Sr.
Henri, Sr. Luiz e Sr. Mariano. No quarto e último dia finalizamos as decupagens dos últimos
três entrevistados (Sandra, Corbulon e Higino), do “fala povo” e das imagens de cobertura.
Nesse mesmo dia, à noite, nos reunimos para reavaliar o processo de edição, que se
iniciaria no dia seguinte. O roteiro foi montado neste mesmo dia tendo como base o pré-
roteiro que foi seguido nos dias de gravação, já que com o material bruto em mãos podemos
observar que o conteúdo das entrevistas corresponderam às expectativas. Como foram
dedicados cinco dias para a edição do documentário, decidimos que seria mais proveitoso
para esse primeiro momento utilizarmos apenas três dias, pelo seguinte motivo: com o roteiro
fechado, esses três primeiros dias seriam suficientes para capturar as imagens, esqueletar o
vídeo e colocar as imagens de cobertura; os outros dois dias, nós usaríamos quando a
computação gráfica e a trilha sonora já estivessem finalizadas.
7.2 Roteiro de edição

O processo de feitura do roteiro de edição do vídeo foi baseado no pré-roteiro


idealizado na fase de pré-produção e que nos serviu como guia no processo de gravação. Em
todos os momentos de produção era presente uma grande preocupação com o roteiro final,
pois é através dele que daremos estrutura ao nosso produto. Assim podemos dizer que,
durante todo o processo, o roteiro final estava sendo pensado. De acordo com as idéias de
Puccini,
O processo de roteirização, entendido como organização do discurso que serve aos
propósitos da organização da produção do filme, não está presente em apenas uma
das três fases de produção. Se, no filme de ficção, a escrita do roteiro ocorre
integralmente na pré-produção, no documentário, esta escrita muitas vezes se
manifesta de maneira diferente, trata-se de uma escrita aberta, que se estende por
toda a realização do filme (PUCCINI, 2009, p. 125).

O roteiro de edição foi escrito em reunião. A sinopse já havia sido escrita no pré-
roteiro e não foi modificada. Ela é a responsável por concretizar a idéia do vídeo,
evidenciando as características que se quer abordar, apresentar o perfil dos entrevistados e
ainda trazer algumas informações sobre o tema abordado, neste caso, a Avenida
Cinqüentenário e o que significam para alguns de seus viventes.
A estrutura do roteiro foi pensada da seguinte forma: seguindo o pré-roteiro, iríamos
dividir o vídeo em blocos temáticos, para que a evolução ocasionada pelo passar dos anos
fosse evidenciada. Primeiro, um bloco falando sobre os fatos históricos que envolviam a
Avenida Cinqüentenário (as obras do alargamento, a enchente de 1967, os concursos de
vitrines, as manifestações sociais), seguido da parte onde damos enfoque à sua importância
comercial para Itabuna, o alastramento do comercio informal e os moradores que ali residem.
Dando voz aos transeuntes, pensamos em montar dois blocos de “fala-povo”, cada um com
três depoimentos de pessoas diferentes falando da importância da avenida em suas vidas e
para a região. As entrevistas do “fala povo” entrariam de forma rápida remetendo à idéia de
passantes, sendo que os transeuntes não estão fixos na avenida como os moradores,
comerciantes e “camelôs”.
Trabalhar com essa estrutura de blocos temáticos para contar a história da Avenida
Cinqüentenário através das experiências de alguns de seus viventes, nos permite montar no
decorrer do documentário uma narrativa lógica que evidencia a passagem do tempo, os
acontecimentos e a evolução pela qual a avenida passou. De acordo com as idéias de Penafria,
Um documentário pauta-se por uma estrutura dramática e narrativa, que caracteriza
o cinema narrativo. A estrutura dramática é constituída por personagens, espaço da
ação, tempo da ação e conflito. A estrutura narrativa implica saber contar uma
história; organizar a estrutura dramática em cenas e sequências, que se sucedem de
modo lógico (PENAFRIA, 2001, p. 02).

Esquematizados os blocos, começamos a analisar minuciosamente todo o material


decupado, dando destaque às principais falas dos entrevistados. Das onze entrevistas feitas,
duas foram descartadas pela equipe, dois ambulantes, um homem e uma mulher. O primeiro
porque, devido ao nervosismo, não soube se expressar bem sobre o tema, dando respostas
curtas e vagas. A segunda porque, após nos ceder entrevistas, no ato de assinar a autorização
de imagens nos confessou ser menor de idade e como não havia nenhum responsável com ela,
foi necessário inutilizar o material.
Tivemos também o cuidado de fazer com que cada fala de um entrevistado
complementasse a fala do outro, dando coerência e linearidade ao discurso que pretendíamos
passar. Logo, este documentário é todo baseado nos depoimentos dos entrevistados, na fala
destas pessoas sobre a Avenida Cinqüentenário, intermediada pela figura dos diretores.
Para iniciarmos o documentário “Do cinqüenta ao centenário – o que conta uma
avenida”, pensamos em criar um clima de expectativa, fazendo com que os entrevistados
falassem sobre a avenida sem citar o seu nome. Construímos então uma sequência de falas
dos depoentes sobre a avenida cobrindo-as com arte gráfica (que será melhor exemplificada
abaixo). O nosso objetivo era criar uma expectativa, através da suspensão de algo que
evidenciasse o nome da avenida, deixando a revelação para logo em seguida, quando o
personagem Walmir deixa claro em sua fala que estamos falando de uma avenida.
Corroboramos, então, com Puccini quando afirma que “definir quais serão as seqüências
iniciais do documentário implica a maneira de introduzir o assunto ao espectador, como atiçar
sua curiosidade para como aquilo que está por vir, como cativar a audiência” (PUCCINI,
2009, p. 105).
Logo em seguida, com a abertura do vídeo, identificamos nosso foco de análise e
dispomos os blocos temáticos explanados acima. Para o final, reservamos as falas mais
enfáticas de cada um dos entrevistados sobre a avenida, deixando expressos os pensamentos
de cada um deles em relação ao espaço retratado. Organizamos esses depoimentos de tal
modo também que dessem uma idéia de resumo para tudo o que já foi dito. Para o momento
final do documentário, deixamos na fala de um dos entrevistados (Sr. Walmir) um dos
motivos que nos levaram a realizar esse documentário: o centenário da cidade de Itabuna e o
cinqüentenário da avenida.
7.3 Edição (montagem)

É nesta fase que o vídeo toma forma e as idéias previamente discutidas no roteiro são
postas em prática. Segundo Murch “o trabalho de edição não é tanto o de colar pedaços, mas
muito mais o de achar caminho” (MURCH, 2001, p. 15-16). Complementando esta idéia
Puccini coloca que a etapa da montagem (ou edição) do filme documentário marca a
conclusão do roteiro, que desde a pré-produção encontra-se em aberto.
Assim iniciamos a edição do nosso documentário. Já com o roteiro completo em mãos,
com indicação de falas e imagens de cobertura, começamos a captura dos trechos
selecionados. Neste dia contamos com a presença da nossa orientadora durante uma boa parte
da tarde. Como o processo de captura é longo, este primeiro momento foi dedicado a ela, mas
mesmo assim, parte do material ficou para ser capturado no dia seguinte, onde já
começaríamos a esqueletar o vídeo. Porém, quando chegamos à ilha de edição na tarde do dia
seguinte para iniciarmos os trabalhos, percebemos que algum problema tinha acontecido com
a máquina, pois grande parte do nosso material capturado havia sumido.
Das nove entrevistas, apenas duas estavam intactas, além das imagens de cobertura
que também não estavam mais lá. Enquanto George Haendel e Alisson Fagundes (editores)
tentavam resolver o problema, fomos fazer alguns ajustes no roteiro. Quando retornamos,
fomos comunicados que o material não fora recuperado e teríamos que capturar tudo
novamente, e por isso, teríamos um dia e meio a mais para o processo de edição, devido ao
período de trabalho perdido (tanto o dia da captura, quanto o tempo que os técnicos tentavam
resolver o problema). Dessa forma, às 16:00h daquele dia, começamos novamente a capturar
o material e assim ficamos até o final do tarde
Posteriormente, começamos a esqueletar o nosso documentário. Pela primeira vez
começamos a ver a idéia pensada no roteiro tomando forma na tela. Segundo Filho, a “edição
é o processo de colocar as imagens na ordem estabelecida pelo roteiro [...]. É na edição, em se
tratando de tevê, e na montagem, no caso do cinema, que se imprime ritmo à narrativa,
alongando ou encurtando cenas” (FILHO, 2001, p. 317). Como trabalhamos o nosso conteúdo
com o cuidado que cada entrevistado complementasse a informação que outro estava
passando, isso nos fez lançar mão de muitos cortes para alcançarmos o ritmo desejado da
narrativa. De acordo com Leone, “entendendo-se a montagem como uma modalidade
fundamental para a narrativa, ela estabelecerá um interdependência de todas as expressões ao
agir, através do corte, como transformadora das materialidades.” (LEONE, 2005, p. 25). O
corte é o responsável por imprimir certa velocidade na narrativa e nos documentários ele tem
um importante papel de não torná-lo maçante, propiciando uma constante mudança de planos
e ponto de vista. Murch (2001) coloca que cortar é mais do que uma técnica de tornar
contínua a descontinuidade, ou seja, é uma influência positiva na criação de um filme. E como
no processo de gravação estávamos munidos de uma segunda câmera, para a gravação dos
contra-planos, todos os cortes foram pensados de tal forma que casassem com as imagens
obtidas por essa câmera de apoio.
Por meio do corte, o diretor pode manipular o ponto de vista da câmera, sua visão
da cena, simulando olhares múltiplos que se alternam como que simultaneamente.
A encenação pode ser recortada em seus fragmentos mais expressivos. Uma ação
pode ser recomposta, no filme, com base somente naquilo que lhe for mais
essencial. A montagem dará um novo formato a essa encenação, simulando uma
continuidade que não existiu na situação de filmagem (PUCCINI, 2009, p. 99).

O nosso terceiro dia na ilha de edição foi marcado pelo início do processo de
“cobertura do vídeo”. Puccini (idem) coloca que o plano de cobertura pode ser útil também
para ligar dois planos de um mesmo ator, ou atores, sem continuidade entre si, recurso que foi
amplamente explorado por nós durante o processo de montagem do documentário em questão.
Porém, montar um documentário que tem como base entrevistas, não restringe o
conteúdo informativo somente a elas. Neste caso, além dos planos captados pela câmera de
apoio23, foram filmadas imagens diversas da Avenida Cinqüentenário, utilizadas para a
confecção de mix – jogo de imagens colocadas num ritmo rápido, como um videoclipe – e que
também serviriam na montagem como imagens de cobertura, tanto dos cortes como de trechos
da própria entrevista que carecem de um apoio imagético. Um exemplo disso é o momento
em que o Sr. Henry, um dos nossos entrevistados, narra fisicamente a extensão da avenida,
desde o início até o fim, pontuando as praças que ali estão contidas e o local onde há mais
concentração de pessoas. A forma como o entrevistado narrou, embora fosse bastante
elucidativa, poderia não bastar para que o espectador conseguisse visualizar a avenida, a
menos que este conhecesse o local e o fizesse mentalmente. Dessa forma, utilizamos um
plano sequência equivalente desde ao início da avenida, no Jardim do Ó, se estendendo até o
seu final, no Canal que desemboca no Rio Cachoeira, para “cobrir” a descrição feita pelo
entrevistado e apresentar a avenida ao espectador em forma de imagens, percorrendo toda a
sua extensão.
Outro ponto que destacamos, é o uso de imagens de origens diversas. De acordo com
Puccini,

23
A partir do uso de uma câmera de apoio, como já falamos no tópico referente à produção do documentário,
dinamizamos o processo de gravação e pudemos pensar em outras possibilidades de cortes no momento da
montagem.
O repertório de imagens de um documentário é marcado pela diversidade. São
imagens de origens distintas: tanto podem ser obtidas nas filmagens feitas para o
filme como em materiais de arquivo – imagens de outros filmes que se misturam às
imagens feitas para o filme (PUCCINI, 2009, p. 96).

Desta forma, outro recurso por nós utilizado foram as imagens de arquivo sobre a
Avenida Cinqüentenário24, tanto fotos como alguns vídeos antigos. Esse material foi usado
para complementar o discurso dos entrevistados, principalmente no bloco temático sobre o
histórico da avenida. Tais materiais, assim como outras imagens de cobertura ou os contra-
planos feitos pela câmera de apoio, ajudam a manter o ritmo do vídeo, uma vez que nessa
parte histórica do documentário, não fossem tais imagens de arquivo, não haveria outro
recurso visual para “cobrir os depoimentos”.
Para Puccini (idem), “documentários que se utilizam de materiais de arquivo
incorporam imagens e sons de diferentes qualidades e origens, que são amarrados na
montagem com base não nos possíveis efeitos de continuidade de uma ação, mas na idéia
neles expressas” (p.116). Como afirma este autor, há necessidade de realizar a montagem com
base naquilo que se quer expressar, nas “asserções sobre o mundo”25 que se quer mostrar,
comprovando, destarte, o trabalho autoral dos realizadores deste tipo de produto. Há uma
tendência, portanto, em se explorar uma “montagem expressiva” em contraposição à uma
“montagem narrativa”. Ainda sobre o uso de tais imagens, Penafria aponta que “nas imagens
de arquivo o ponto de vista não foi, obviamente, escolhido pelo documentarista, mas integrar
essas imagens implica uma selecção, o que permite afirmar que essas mesmas imagens se
adequam ao filme que se está a realizar” (PENAFRIA, 2001, p. 04).
Finalizado o processo de cobertura do documentário, que foi em grande parte
acompanhado pela orientadora, ficamos à espera da feitura da computação gráfica, realizada
por Tarcísio Messias, e da trilha sonora, feita por Samuel Touché. Assim, posteriormente,
retornamos à ilha de edição com o material pronto para inserirmos no documentário (esta
etapa foi realizada pelo editor Franklin Camargo, pois aconteceu no período da manhã) e
finalizarmos esse processo de pós-produção.

7.4 Computação gráfica e trilha sonora


24
A origem de tais imagens de arquivo já foi citada no tópico referente à pré-produção do documentário em
questão
25
Expressão utilizada por Fernão Pessoa Ramos (2008) no livro “Mas afinal de contas, o que é documentário?”
Enquanto o material ia sendo editado, em paralelo, a computação gráfica e a trilha
sonora iam sendo pensadas e executadas, pois ambos são recursos que enriquecem
esteticamente o produto audiovisual e ajudam a aumentar o interesse do espectador pelo
vídeo. Para isso, a equipe contou com os trabalhos do designer gráfico Tarcisio Messias e do
músico e técnico em áudio, Samuel Touché. Uma vez que ambas as etapas precisam do cerne
do vídeo para serem montadas, assim que finalizados os processos de esqueletamento e
cobertura, pedimos que o editor exportasse o material para que passássemos à Tarcisio
Messias e Samuel Touché e eles pudessem trabalhar em cima do material já estruturado, com
indicações de entrada de computação e sobe som. Já com o material em mãos, fizemos uma
reunião com cada um deles para explicarmos como queríamos que ficassem cada um dos
trabalhos.
Para a computação gráfica, pensamos numa lógica onde ficasse evidente a evolução do
tempo na Avenida Cinqüentenário. Assim, o vídeo começa com os depoimentos dos
personagens em off cobertos por uma computação gráfica onde algumas palavras chaves dos
depoimentos iam aparecendo sobrepostos a uma imagem da avenida atual, à noite, com um
fluxo de carros intenso, com as luzes dos faróis desfocados. Tais depoimentos não deixam
evidente o tema do vídeo, para criar um clima de expectativa no espectador. Logo após, em
conjunto com a fala do personagem Sr. Walmir que diz “essa avenida é bonita, famosa por
que tem a sua história” nós apresentamos a avenida em uma imagem atual, feita durante as
gravações do documentário. Sobrepomos a esta imagem um recurso de envelhecimento e em
seguida fizemos a fusão desta com uma outra imagem respectiva do mesmo local, filmada do
mesmo ponto de vista, mas há 50 anos atrás. Nosso objetivo com esse recurso é justamente
apresentar ao espectador que, a partir daquele momento, aquela imagem o transportaria para o
passado, onde a história da avenida começou a ser escrita. Em seguida entra o nome do
documentário: “Do cinqüenta ao centenário – o que conta uma avenida” e os entrevistados
começam a contar essa história.
Compartilhamos com Fernão Pessoa Ramos, quando afirma que esta mescla entre
imagens feitas pela câmera e imagens feitas por computação gráfica é uma realidade crescente
no meio audiovisual, uma vez que “dentro de nossa definição do que é documentário, não há
dificuldades em aceitarmos uma narrativa documentária composta por imagens animadas ou
feita inteiramente dentro de um computador” (RAMOS, 2008, p. 72).
Como estamos trabalhando com a história de um lugar, assim como já foi exposto
acima, lançamos mão de algumas imagens antigas derivadas de alguns filmes da década de
60, assim como manchetes de jornais e fotos daquela época. Para as manchetes utilizamos
uma estética semelhante à da abertura para criar uma unidade no vídeo. Tais manchetes nos
deram grande suporte às informações passadas pelos entrevistados, e para dar ênfase ao
conteúdo explicitado, ao passo que o fato ia sendo contado, trechos das manchetes eram
destacados. Para as fotos, o tratamento gráfico foi reduzido, pois só seria necessário efetuar
pequenos consertos em algumas imperfeições causadas pelo tempo e algumas correções de
cores.
Para Leone (2005) a música e a imagem se encontram intimamente ligadas na
construção narrativa de um produto. Partindo desse pressuposto, com relação à trilha, optamos
por uma escolha em que esta acompanhasse o processo evolutivo do vídeo, este que começa
num ritmo mais devagar, onde os fatos históricos estão sendo contados e alcança um ritmo
mais frenético quando chegamos à avenida dos dias atuais, muito movimentada e dinâmica.
26
Nas transições de um bloco temático para o outro, onde haverá alguns inserts de mix de
27
imagens, usamos do sobe som da trilha para pontuar esta fase transitória da narrativa.
Sobre a relação da trilha sonora com as imagens do documentário, Millar e Reisz
apontam que “naturalmente, a habilidade de ajustar efeitos sonoros a uma imagem reside, em
parte, na capacidade de encontrar uma trilha sonora que efetivamente se adapte à imagem ou
ação projetada na tela, e empregá-la de modo que ambas dêem a impressão de sincronia”
(MILAR; REIZ, 1978, p. 167). Fernão Pessoa Ramos coloca ainda que “no caso do
documentário, muitas vezes, a música qualifica diferencialmente as emoções que a narrativa
quer agregar às asserções enunciadas” (RAMOS, 2008, p. 86). Ou seja, o autor ressalta a
importância de adequar a trilha à imagem com o intuito de causar identificação do espectador
com o documentário. Penafria também levanta um ponto importante sobre a relação entre a
imagem e o som quando afirma que:
O registro de imagens e sons do mundo não reflecte, por si só, o valor e interesse do
documentário e, embora condicione, não determina a definição do ponto de vista
para um filme. Só a organização/ligação que se cria entre essas imagens e sons é o
momento determinante para o ponto de vista (PENAFRIA, 2001, p.05).

Concordamos com esses autores, portanto, ao afirmar que a escolha da trilha sonora é
uma das fases mais importantes no processo de montagem de um documentário, pois esta é
esta que vai dar o tom ideal ao produto. Daí a importância em se preocupar com a sincronia da

26
Palavra de origem inglesa, é um termo referente à ação de colocar algum elemento (imagem, computação
gráfica, trilha sonora) na narrativa para completar o seu sentido.
27
Termo técnico referente ao momento em que há um aumento do volume da trilha sonora ou do som ambiente.
trilha com as imagens, uma vez que, é este “casamento” que vai proporcionar ao espectador
uma maior proximidade com a narrativa.
Para Puccini, durante todo o processo de produção (leia-se as três etapas aqui
explanadas) o documentarista deve estar sempre repensando seus conceitos iniciais, “testando
suas hipóteses e a viabilidade artística de seu projeto [...] há que se ter persistência para que o
projeto encontre sua conclusão” (PUCCINI, 2009, p 131). Realizar a etapa de pós-produção
do documentário “Do Cinqüenta ao centenário - o que conta uma avenida” observando a sua
relação com os outros momentos de realização deste produto audiovisual (pré-produção e
produção) significou repensar a colocação tão citada de Grierson sobre documentário: a de
que é o “tratamento criativo da realidade”.28 Essa idéia está presente neste trabalho, que
buscou explorar os mais diversos recursos a fim de alcançar o melhor resultado possível.

28
Esta definição de Grierson, segundo Penafria em seu texto “O documentário em debate: John Grierson e o
movimento documentarista britânico” (2004), tornou-se famosa a partir do texto “First principles of
documentary” escrito pelo autor em 1932.
8 ROTEIRO

Do cinqüenta ao centenário
O que conta uma avenida

Grupo: Ana Luisa Coimbra, Leonardo Bião e Poliana Alves

Sinopse: Sendo um dos endereços mais antigos da cidade, existindo desde 1901, a Avenida do
Cinqüentenário pode ser considerada o mais importante patrimônio histórico-cultural da cidade de
Itabuna. No inicio era um simples traçado de terra, sem calçamento, chamado de Rua da Lama. Até a
década de 50, era separada em dois trechos: A Avenida Sete de Setembro e a Avenida J. J. Seabra.
Após uma grande obra de junção e alongamento durante o governo do prefeito José de Almeida
Alcântara, nasce uma nova avenida que tornou-se marco das comemorações do cinqüentenário da
cidade, de onde surgiu o nome atual da avenida. A partir daí, a Avenida Cinqüentenário passou a ser o
principal centro comercial, social e político da cidade, tornando-se palco das principais festas, desfiles
cívicos e do carnaval e principalmente da modernização de Itabuna, representando assim um exemplo
do desenvolvimento da cidade.

Personagens:

1. Walmir Sodré: Proprietário da loja “A Imperatriz”. Comerciante do ramos de


calçados, confecções e materiais esportivos, está na avenida há 56 anos e viu todo o
desenrolar dos fatos marcantes da Cinquentenário.
2. Roberto Mariano: Proprietário do Café Pomar, ponto tradicional da cidade, está na
avenida desde 1943, assumiu a loja desde jovem quando ainda trabalhava com o pai.
3. João Luiz Barreto: Está na Cinquentenário desde 1983, é proprietário da loja “O
Ferragista”. Herdou o estabelecimento do pai depois que se formou em Engenharia
Elétrica.
4. Henry Renê Soussa: Comerciante, proprietário da soverteria Danúbio Azul. O
estabelecimento tem sessenta anos de existência e sempre pertenceu a sua família. Há
16 anos, ele assumiu a gerência.
5. Sebastião Oliveira (Seu “Sissi”): Começou a trabalhar como engraxate, logo em
seguida começou a vender produtos nas calçadas da Cinquentenário. É considerado o
primeiro camelô da avenida, onde está há 56 anos.
6. Mariá Borges: Comerciante, começou trabalhar junto com a mãe em 1954 no
comércio de calçados. É proprietária da Loja Vitória há 38 anos.
7. Sandra Regina Caldas: Moradora da avenida há 14 anos.
8. Corbulon Bitencourt: Morador da avenida há 10 anos.

9. Márcio Higino da Silva: Trabalha como camelô na avenida há mais de 5 anos.

OBS – No decorrer deste roteiro a sigla CG substituirá a expressão computação gráfica.


VÍDEO ÁUDIO

Tela em black - Trilha Original “retrô” pontuando ao passo que as


palavras vão aparecendo na tela.
(CG) Ao passo que os personagens vão dando
seus depoimentos, destacamos algumas [HENRY] [01:27:06] Desde a minha infância sempre
palavras chaves que adjetivam a avenida sem esteve presente em minha vida. [01:27:15]
no entanto apresentá-la. Caracteres em cor
branca, envolto por uma sombra luminosa. [MARIANO] [01:44:07] Estou vivendo dela, com ela,
Em primeiro plano uma fonte mais atual e em em função dela. [01:44:27]
segundo plano uma mais clássica,
evidenciando a relação de passado e presente
proposto pelo documentário. [MARIÁ] [ 00:49:12]
Muito bem disposta, ativa, que só para a noite e nos
finais de semana e feriados, alegre e muito prestativa
[00:49:42]

[LUIZ] [ 02:33:10] Então isso representa uma


identificação. É como se (...) fosse uma extensão da
nossa casa [02:33:35]

FADE IN

FADE OUT

Abertura (CG) – Mix de imagens da [WALMIR] [00:04:21] Essa avenida é bonita, famosa
Cinqüentenário feitas do início da avenida porque tem sua história. [00:04:32]
Juracy Magalhães. No final fazer
envelhecimento na imagem e fundir com
trecho do vídeo “A jovem cidade” (1967)
Sobe som da trilha original “retrô”
feita do mesmo local.

Em CG entra o nome do documentário:


“Do cinqüenta ao centenário: o que conta
uma avenida”

FADE IN

FADE OUT

Alternar imagens dos personagens feitas com Cai som da trilha original “retrô”. Vai a BG
a câmera principal com os contra planos feitos
com a câmera de apoio [MARIÁ] [00:38:43] Eu me lembro muito disso aqui
há 50 anos atrás a avenida era bem mais estreita, não
tinha esse nome, era rua J.J. Seabra. [00:39:05]

[WALMIR] [00:05:58] Como rua JJ Seabra, era


pequena. Se juntou com a Avenida 7 de setembro, era
da praça Adami até o antigo campo de futebol.
[00:06:28]

[WALMIR] [00:12:09] Então ela sentiu forte, inchou,


ficou bonita, cresceu, e ai tornou-se a Cinquentenário,
ela não nasceu Cinquentenário. Cinquentenário era
Cobrir final sonora com trecho do vídeo “O porque a cidade na época fazia 50 anos. [00:13:05]
progresso de Itabuna” (1959) onde fala sobre
o Alargamento
[MARIANO] [01:40:26] Quando houve o
prolongamento da avenida e também lá na frente mais
alongamento. Essa foi a obra que marcou os 50 anos
de Itabuna em 1960. [01:41:02]

Cobrir sonora com manchete de jornal da [HENRY] [01:27:40] Me parece que houve uma
época que evidencia o incidente. confusão para retirar uma residência que estava
obstruindo. Disseram que toda a cidade já soube dessa
situação realmente dói algo muito importante para ele
ter tido a iniciativa de criar essa abertura da
Cinqüentenário, o prolongamento dela [01:28:14]

[MARIANO] [01:41:08] Aquele incidente se deu por


que ele muito cedo meteu o trator no muro do rapaz.
Embora que o rapaz soubesse que teria que sair dali
naquele dia, me parece que meteu assim de surpresa,
muito cedo e o rapaz saiu nervoso de casa e deu um
tapa na cara dele. [01:41:48]

FADE IN

FADE OUT

Alternar imagens dos personagens feitas com [MARIÁ] [00:45:08] Eu gostava de passear com as
a câmera principal com os contra planos feitos crianças, quando eles eram pequenos pela avenida.
com a câmera de apoio. Aqueles primeiros anúncios de luminosos chegaram
aqui, eles faziam festas por aquilo, aquele pisca-pisca
colorido que nunca tinham visto e então, isso aí
também foi muito bom. [00:45:34]

[HENRY] [01:28:20] Aqueles natais que antigamente


o fluxo dos adolescentes, o local de encontro, o point,
era ali próximo à praça Adami, então ali lembro muito
bem que nas semanas que antecediam o natal existiam
uma concentração muito grande de pré adolescentes e
adolescentes ali. [01:28:54]

[WALMIR] [00:13:11] Onde as moças vinham


passear aos domingos, era na Cinquentenário, as
famílias, as crianças, isso aqui era uma lindeza, boas
lanchonetes, bons bares, loja, vitrine. Aqui se fazia
concurso de vitrine antigamente, era aqui na
Cinquentenário que se fazia.. toda loja aqui tinha uma
vitrine com os motivos da cidade. [00:13:54]

Cobrir sonora com manchete de jornal da [MARIANO] [01:48:19] Naquela época não tinha
época que fala das vitrines da avenida. tanta violência, não tinha tanto roubo, não tinham
tanto malandro nas ruas de noite, então as lojas tinham
vitrines realmente, eram varias, varias, e as pessoas
saiam à noite, principalmente aos domingos, para
olhar as vitrines. (...) Então era um passeio, não existia
TV ainda, só era o cinema ou esse passeio noturno,
onde as moças e os rapazes se encontravam nesse
passeio noturno, mais ou menos de 7 horas até as 10 h
no máximo. [01:48:59]

FADE IN

FADE OUT

Mix com manchetes de jornais de 1967 onde a Sobe som da trilha original “retrô”
enchente foi destaque

Cobrir sonoras com fotos da avenida Cai som da trilha original “retrô”. Vai a BG
encoberta pelas águas. Utilizar também contra
planos dos personagens. [WALMIR] [00:04:06] Quando se passou aquela
grande enchente, eu já estava aqui lutando com as
águas para tirar mercadoria. Foi uma catástrofe
naquela época. Existem fotos hoje da A. C. que parece
o mar. [00:04:12]

[MARIANO] [01:44:44] Foi uma coisa lamentável.


Nós aqui sofremos pouco, mas muita gente sofreu
muito. Lá pra cima mais foi mais grave. [01:45:02]

[WALMIR] [00:15:10]A enchente de 67 foi um


volume de água muito grande que Itabuna nunca tinha
visto. Ela veio porque a nascente do rio que o cerca, o
Cachoeira, tinha muitas barragens e foram quebrando
as barragens e uma caindo na outra e um volume de
água muito grande, as nossas vias não suportou, o rio
não suportou, então a água invadiu a cidade, não só a
Cinquentenário como todas as outras rua. [00:16:21]

[LUIZ] [00:27:51] Eu lembro que meu pai, depois que


baixou as águas, ele tirou várias notas do cofre,
molhadas e a gente levou para casa pra lavar, pra secar
e várias mercadorias que ficavam com lama,
estragadas que nos tivermos que (...) e eu ajudando
também e fazer a recuperação dessas mercadorias tudo
isso ficou gravado na mente da gente. [02:28:40]
[MARIÁ] [00:40:21] a água atingiu 1,25m e
perdemos muita mercadoria, um estrago muito grande,
isso ficou marcado na minha vida.[ 00:40:51]

[LUIZ] [02:26:43] Eu ainda era pequeno e vinha aqui


com a água pela cintura com os coleguinhas meus de
rua e tudo isso fazendo pra que meu pai não visse a
gente já brincar numa situação desta não era uma
maneira correta. Mas isso marcou pra mim. Foi uma
das coisas da Cinqüentenário que ficou mais
marcante, mais forte na minha mente. [02:27:24]

[WALMIR] [00:16:22] Naquela época, nós tínhamos


uma economia muito boa, o cacau era muito rico e
num instante a cidade soergueu, pegamos as vitrines e
transformamos, pintamos, até ficou mais bonita ainda,
depois da enchente ela ficou mais bonita e assim a
cidade veio se desenvolvendo...foi um mal necessário.
[00:17:37]

[MARIÁ] [00:41:24] O lado positivo é que a casa


antiga teve que ser reformada, então nós tivemos que
reformar a loja, colocar vitrines novas, mercadorias
novas e isso aí ajudou a loja a crescer muito e a criar
um conceito muito grande nessa região. [00:41:48]

[MARIANO] [01:46:16] Na ocasião o governo foi


acessível com os negociantes que perderam muita
mercadoria, o que não nos atingiu, no caso, mas
causou um desmantelamento na cidade. [01:47:00]

[WALMIR] [00:17:38] Foi caro, mas o progresso vem


assim, “cuspisando”, é um rolo compressor [00:17:47]

FADE IN

FADE OUT

Mix de imagens evidenciando aglomeração na Sobe som da trilha original “marcha”


avenida, ontem e hoje. Para isso usaremos
trechos do vídeo “A cidade de Itabuna” (1945-
48) e imagens da passeata do prefeito
Azevedo.

Alternar imagens dos personagens feitas com


a câmera principal com os contra planos feitos Cai som da trilha original “marcha”. Vai a BG
com a câmera de apoio.
[LUIZ] [02:30:45] A Cinqüentenário é realmente um
palco de eventos, de manifestações da população de
Cobrir final da sonora com trecho do vídeo “A Itabuna de diversos ramos, segmentos da sociedade.
jovem Cidade” (1967) onde aparece os [02:31:54]
festejos de 7/09 com desfile feminino e de
escolas.
[WALMIR] [00:07:48] Eu era jovem já estava aqui na
Cinquentenário vendo passar os carnavais, as festas
juninas, as festas natalinas, o 7 de setembro, era uma
Cobrir com imagens da passeata do prefeito lindeza os colégios desfilando aqui pela
Azevedo na avenida. Cinquentenário, é o coração da cidade. [00:08:28]

[HENRY] [01:30:39] As passeatas políticas,


principalmente, que é uma passagem obrigatória.
[01:30:57]

[WALMIR] [00:10:33] É, aqui dentro de Itabuna ela é


a vitrine, todo grande acontecimento tem que passar
aqui pela avenida, se não passar aqui pela avenida não
Cobrir sonora com trecho do vídeo “A jovem foi um grande acontecimento. Até os grandes enterros,
Cidade” (1967) onde aparece os festejos de era... passava aqui na A.C. [00:10:54]
7/09 e com imagens da passeata do prefeito
Azevedo na avenida. [LUIZ] [ 02:32:10] As pessoas preferem passar pela
Cinqüentenário justamente por ser uma avenida onde
vai haver mais espectadores vendo aquele tipo de
evento, aquela manifestação. E é como você tivesse
procurando na mídia aquele setor onde o maior
número de pessoas vão ver o seu produto (...) Por isso
passa aqui. [02:32:37]
FADE IN

FADE OUT

Cobrir toda a sonora do entrevistado com


imagens da avenida feitas de dentro do carro Trilha original “desenvolvimento” em BG
partindo do Jardim do Ó até o Canal em efeito
de fast. [HENRY] [01:33:52] Então ela começa pelo Jardim
do Ó, o inicio dela e se estende por uma área muito
grande, razoável. Aonde ali ela tem o maior número
de comerciantes possíveis por metro quadrado. E hoje
a Cinqüentenário representa a cima de tudo,
movimento, passantes. Tem um fluxo de pessoas
muito grande próximo à praça Camacan pois ali
converge ônibus nas suas proximidades para toda a
cidade e passa posteriormente pela praça Adami que é
uma praça tradicional aqui em Itabuna, onde ela vai
dar encontro com o Canal, esse se encontra ao rio
Cachoeira e assim se encerra a Cinqüentenário.
[01:34:50]
FADE IN (branco) entre em fusão com as
imagens do bloco seguinte.

Cobrir todas as sonoras com imagens de Trilha original “desenvolvimento” em BG


avenida em diversos momentos do dia
(manhã, meio dia, tarde e noite) [LUIZ] [02:35:50] Ela começa como o corpo da gente
começa, um pouco devagar, de manha cedo as pessoas
ainda estão chegando para trabalhar, o trafego também
é pequeno. Existe aquele movimento que aumenta
gradualmente, a gente observa as pessoas abrindo as
portas, os funcionários chegando às lojas. [02:36:01]

[WALMIR] [00:24:31] - Às 8h já está todo mundo


arrumado para espera o cliente chegar. [00:24:40]

[MARIÁ] [00:49:55] Com o decorrer da manhã, vai


começando a chegar as pessoas, as casas comerciais
vão se abrindo, os bancos, o movimento vai
aumentando. [00:50:07]

[WALMIR] [00:24:41]: E ai nós vamos


desenvolvendo, saímos para o almoço. [00:24:53]

[LUIZ] [02:36:01] E o movimento vai ficando cada


vez mais intenso [02:36:10]

Sobe som Trilha original “desenvolvimento”

Cai som Trilha original “desenvolvimento”. Vai a BG

[MARIÁ] [00:50:08]: E no final da tarde já é aquele


corre-corre, todo mundo querendo voltar para casa,
aquele movimento muito grande [00:50:19]

[WALMIR] [00:24:54] E vamos levando até as 6:30h


que é a hora que encerra o expediente. [00:25:01]

[LUIZ] [02:36:10] À noite é logicamente o oposto. A


gente vê as pessoas se arrumando, os camelôs
arrumando suas mercadorias, as lojas fechando com
aquele ar de satisfação por que vão voltar pra casa,
para o convívio do lar. [02:36:38]

[MARIÁ] [00:50:19]: Depois acalma tudo e não há


mais motivos para essa aglomeração de gente.
[00:50:34]

[WALMIR] [00:25:04]: Fechamos as portas,


apagamos as luzes e vamos descansar para no outro
dia voltar a fazer a mesma coisa. [00:25:20]
Retrocesso das mesma imagens anteriores, Sobe som Trilha original “desenvolvimento”
dando a idéia de ciclo.
Cai som Trilha original “desenvolvimento”
FADE IN (branco) entre em fusão com as
imagens do bloco seguinte.

Depoentes na tela. BG da Trilha original “desenvolvimento”

FALA POVO (Parte 1) – pessoas falam a freqüência e


sobre o que vão fazer na Cinqüentenário:

[1]. É o coração de Itabuna né? Cuja toda a maioria


dos comerciantes estão instalados (sic) aqui, as
pessoas trafegam aqui, trafegam para negociar, pra
comprar e etc.

[2]. Por enquanto eu sou autônoma, eu tenho uma


lojinha de confecções no bairro onde eu moro e eu
venho aqui sempre, dar uma olhada nas promoções, ir
ao banco, as vezes pagar alguma coisa na lotérica, ao
fórum. Enfim, duas vezes por semana eu to aqui na
principal avenida da cidade. Por que aqui a
Cinqüentenário é o centro da cidade

[3]. Eu venho pagar contas, venho mais o meu filho,


venho se (sic) divertir, comprar, que toda mulher
gosta. Como diz meu marido eu venho bater perna.

FADE IN (branco) entre em fusão com as


imagens do bloco seguinte.

Cobrir sonoras com imagens do cotidiano da BG da Trilha original “desenvolvimento”


avenida (lojas, pessoas andando, comprando,
trânsito) [MARIÁ] [00:43:03] Porque a maior artéria comercial
da cidade é a avenida Cinqüentenário, você pode ver
que nem mesmo o shopping veio tirar esse
encantamento da Cinqüentenário. [00:43:21]

[HENRY] [01:26:15] Desde quando eu me conheço


por gente a Cinqüentenário sempre foi e sempre será o
coração de Itabuna, o coração capitalista, então toda
uma círculo-vizinhança vêm à Itabuna e não deixa de
vir à Cinqüentenário. A Cinqüentenário continua
sendo o coração de Itabuna [01:26:37]

[MARIANO] [01:57:04] Por que todo mundo corre


pra Cinqüentenário, que é o seio do movimento, do
comercio. Foi e será importante sempre no circulo
comercial de Itabuna. Esse espaço transcorre com o
trabalho, com o movimento de gente, cada um
resolvendo o seu problema e comprando aquilo que
precisa, outras procurando médicos, advogados,
dentistas e tudo mais. [01:57:34]

[HENRY] [01:28:54] Ela, se você fala em varejo, se


você fala em capitalismo em relação à nossa cidade, é
sinônimo de Cinqüentenário. [01:29:06] + [01:26:44]
- Tudo é voltado para a Cinqüentenário. O comércio
varejista forte é a Cinqüentenário. [01:26:58:14] +
[01:33:20] Além de tudo ela é prática por que ela é
reta então, o que acontece, o comercio de Itabuna é
um comercio fácil devido à sua retidão. [01:33:51]

[WALMIR] [00:05:59] É o cérebro da cidade, é onde


se realiza os grandes negócios, os grandes bancos
sempre estão aqui, o grande comercio é o centro de
Itabuna é a Cinquentenário que é uma lindeza.
[00:06:20]

FADE IN

FADE OUT

Mix com imagens de carros, gente andando e Sobe som Trilha original “desenvolvimento”
de barracas de camelôs.

Cobrir sonoras com as imagens das barracas BG da trilha original “desenvolvimento”


de camelôs e com os passeios cheios da
avenida. [WALMIR] [00:07:17] hoje os camelôs estão
invadindo a cidade, não tem organização. Eu acredito
que camelô é necessário, mas que não seja tão
atraente, muito acentuado, tomam os passeios, etc.
Isso depende da municipalidade olhar isso. [00:07:41]

[MARIANO] [01:51:30] Esse comércio informal se


acentuou muito após a queda do cacau, com o
desemprego na região, principalmente da lavoura e
esse povo da lavoura não sabia fazer outra coisa, foi
vender laranja, banana, outro foi vender bijuteria,
outros foram vender artigos do momento da época,
tipo esses matadores de mosquito (...)O comercio não
tem como absorver esse povo todo, não temos
indústria praticamente, então eles tem que viver na rua
vendendo uma coisa ou outra. [01:50:28]
[HIGINO] [SON1] Eu trabalho com comercio
informal já há algum tempo. Eu trabalho com artigos
exotéricos, incensos, roupas indianas.

[MARIÁ] [00:47:26] É um comércio como outro


qualquer. São pessoas que precisam ganhar o pão de
cada dia, agora que atrapalha muito a avenida,
atrapalha. Eu acho que o comércio informal deveria
ter um lugar separado para ele e a avenida ficaria mais
desobstruída. As vezes, é difícil você andar pelos
passeios, devido ao número de camelôs que se
encontram, é muita gente vendendo nas ruas, muito
mesmo. [00:48:27:29]

[HIGINO] [01:28:52] É... existe a discriminação com


quem trabalha no comércio informal principalmente a
gente que somos camelôs e a discriminação é grande,
a perseguição é muita, em termos de governantes,
politicamente, discrimina a gente, mas a gente
continua sobrevivendo no dia a dia e mantendo a
nossa vida. [01:29:46]

[MARIANO] [01:52:32] dizem que um dos mais


antigos que está trabalhando até hoje é um senhor
chamado Sissi, ali na porta de uma lanchonete ao lado
do Bradesco, dizem que ele tem 50 anos ali na porta.
50 anos! [01:52:59]

[SISI] [01:08:51] Eu cheguei por aqui limpando


sapato, fui engraxate, depois de engraxate eu achei
que deveria colocar uma coisinha melhor porque não
tava dando para viver minha vida e aí to aqui até hoje.
[01:09:05]

[HIGINO] [01:30:14] Todos os camelôs falam isso a


ciquentenário, é uma mãe, por que gera renda, leva o
leite dos meninos, então todo mundo chama a Avenida
Cinqüentenário.[01:30:39]

[SISI] [01:19:26] Pra mim, representa tudo, por que


tiro tudo daqui. Foi aqui que eu criei meus filhos,
daqui dessa avenida. [01:19:37]

FADE IN

FADE OUT

Mix com imagens de barracas de camelôs, Sobe som Trilha original “desenvolvimento”
gente andando, da rua, dos carros passando.
FADE IN

FADE OUT

Cobrir final da sonora com imagens de Sandra BG da trilha original “desenvolvimento”


na varanda, vendo a rua.
[MARIANO] [02:00:34:20]
Alternar imagens dos personagens feitas com Tem diversas pessoas que moram aqui na avenida.
a câmera principal com os contra planos feitos Têm apartamentos, prédios residenciais lá pra cima.
com a câmera de apoio. Deve ser agradável ver carro, gente, movimento, é
melhor que ver o vazio. [01:59:38:17]

[SANDRA] [00:02:21] Eu acho que para o senso


comum, para pessoas é... muitas se admiram quando
me encontram e eu... ela ta morando aqui na
Cinqüentenário? Aí, às vezes vem até comigo para eu
mostrar onde é a minha casa, porque eles não
acreditam, acham que é chato, que é insuportável
morar na Cinqüentenário. Ficam admirados!
[00:02:49]

[CORBULON][ 00:00:30] Não se iludam a


Cinqüentenário. tem muitos moradores. Agora assim,
como o comercio é grande não se nota que tem
moradores.Eu como morador da Cinqüentenário me
surpreendo com a quantidade de pessoas que residem
na Cinqüentenário. Sempre que estou andando , fico
observando, tem muitos moradores, muita gente mora
na Cinqüentenário. [00:02:22]

[SANDRA] [00:01:40] Hoje em dia é um ponto de


referencia para vários lugares. Para deslocamento,
para universidades, para trabalhar, tudo próximo.
[00:02:03]

[CORBULON] [00:20:14] Ela obedece à rotina do


comércio. Apesar de viver aqui é uma área mais
comercial, pois é a partir de 7h da manhã já começa o
trafego de caminhões, de carros, das lojas abrindo, os
funcionários chegando. [00:20:54]

[SANDRA] [00:00:57] Durante a semana, durante o


dia é complicado, que é muito barulho, barulho
sonoro, de carro de propaganda é... buzinas,
principalmente nos horários de pico, meio dia e às
18h. Agora, a noite não tem lugar mais maravilhoso. É
tranqüilo, é calmo, e... tudo em paz. [00:01:30]
[SANDRA] [00:03:26] O significado de eu morar aqui
na Cinqüentenário é que é muito bom, é perto de tudo,
eu tenho contato com tudo que eu preciso em questão
de minutos. É... próximo a faculdade, próximo ao meu
trabalho, é próximo a alguns amigos, as lojas, para
mim tem um significado muito bom e eu não trocaria
morar na Cinqüentenário por qualquer outro lugar.
[00:05:03]

FADE IN (branco) entre em fusão com as


imagens do bloco seguinte.

Depoentes na tela. BG da trilha original “desenvolvimento”

Fala Povo (Parte2) – Pessoas falam o que a avenida


representa para eles:

[4]. A avenida pra mim e pra toda população regional


significa o grande comércio. Itabuna é o pólo regional
e a Cinqüentenário é a sua grande vitrine

[5]. Ela representa a saga, ela representa aquilo que o


itabunense faz, ela representa um marco de
desenvolvimento, de progresso

[6]. Eu não gosto muito de ficar em casa, gosto de vir


para a Avenida Cinqüentenário. Sinto bem!

FADE IN (branco) entre em fusão com as


imagens do bloco seguinte.

Mix com imagens da avenida e de carros Sobe Som da trilha original “final”
passando.

Personagens na tela. BG da trilha original “final”

[SISI] [01:16:54] Não tenha dúvida (...) O cartão


postal da cidade é isso aqui, é essa avenida. [01:17:38]

[HENRY] [ 01:31:05] Ela faz parte da minha vida.


Fez parte, faz parte e estará fazendo parte da minha
vida. [01:31:12]

[MARIANO] [01:54:07] É uma sensação boa de ver o


desenvolvimento, não deixou de ter o crescimento
paralelo a isso. [01:54:20]

[MARIÁ] [00:44:12] É o palco de tudo aqui em


Itabuna é a Avenida Cinqüentenário. [00:44:42]

[LUIZ] [02:40:50] Uma jovem experiente com


amadurecimento suficiente. [02:41:00]

[SANDRA] [00:14:19] A impressão que eu tenho


quando eu ando na Cinqüentenário é que eu estou
viva. [00:14:30]

[WALMIR] [00:19:57] Ela vai fazer 100 anos agora e


eu quero estar vivo para participar dessa grande
festa.[00:20:06]

Entra imagem em fast do anoitecer da avenida Sobe Som da trilha original “final”
feita de cima de um prédio da Av. Juracy
Magalhães.

Sobe os créditos do vídeo.


9 EQUIPE

Direção, produção, roteiro, montagem e som direto


Ana Luisa de Castro Coimbra
Leonardo Assunção Bião Almeida,
Poliana Ribeiro Alves

Edição de imagens
Alisson Fagundes
Franklin Camargo

Trilha sonora
Samuel Touché

Computação gráfica
Tarcísio Messias

Imagens
Hélio Heleno

Supervisão
Prof. MsC. Karen Vieira Ramos

Entrevistados
Corbulon Bitencourt Sebastião Oliveira (Seu “Sissi”)
Henry Renê Soussa Walmir Sodré
João Luiz Barreto
Márcio Higino da Silva
Mariá Borges
Roberto Mariano
Sandra Regina Caldas
REFERÊNCIAS

Bibliográficas

BERNARD, Sheila Curran. Documentário: técnicas para uma produção de alto impacto. Rio
de Janeiro: Ed. Elsevier, 2008.

BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru, SP: EDUSC, 2004.

CASÉ, Paulo. A cidade desvendada : reflexões e polêmicas sobre o espaço urbano, seus
mistérios e fascínios. Rio de Janeiro : Ediouro, 2000.

DANIEL FILHO. O circo eletrônico: fazendo TV no Brasil. Rio De Janeiro: J. Zahar, 2001.

FERRÉS, Joan. Vídeo e educação. Trad. Juan Acuña Llorens. Porto Alegre: Artes médicas,
1996.

KELLISON, Cathrine. Produção e direção para TV e vídeo: uma abordagem prática. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2007.

LE GOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Editora da Unicamp, 1996.

LEONE, Eduardo. Reflexões sobre a montagem cinematográfica. Belo Horizonte: Ed. da


UFMG, 2005.

MURCH, Walter. Num piscar de olhos: a edição de filmes sob a ótica de um mestre. Rio de
Janeiro: J. Zahar, 2004.

MUSBURGER, Robert B. Roteiro para mídia eletrônica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. 2. ed. Campinas: Papirus, 2005

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,


vol.2, nº 3, 1989.

PUCCINI, Sérgio. Roteiro de documentário: da pré-produção à pós-produção. Campinas,


São Paulo. Ed. Papirus, 2009.

RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal... o que é mesmo o documentário. São Paulo: Editora
Senac São Paulo, 2008
REISZ, Karel; MILLAR, Gavin. A técnica da montagem cinematográfica. Tradução de
Marcos Cavalcanti. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

ROCHA, Lurdes Bertol. O centro da cidade de Itabuna: trajetória, signos e significados.


Ilhéus: Editus, 2003

WATTS, Harris. Direção de câmera: um manual de técnicas de vídeo e cinema. São


Paulo: Summus, 1992.

Eletrônicas

MOURA, Hudson. Oralidade e fabulação no cinema documentário. Disponível em


<http://www.bocc.ubi.pt/pag/moura-hudson-oralidade-e-fabulacao.pdf>. Acessado em 10 de
outubro de 2009.

PENAFRIA, Manuela. O documentário em debate: John Grierson e o movimento


documentarista britânico, 2004. Disponível em <http://www.geac.es/bocc/pag/penafria-
manuela-filme-documentario-debate.pdf> Acessado em 10 de outubro de 2009

___________________. O ponto de vista no filme documentário. Disponível em


<http://www.geac.es/bocc/pag/penafria-manuela-ponto-vista-doc.pdf> Acessado no dia 16 de
agosto de 2009.
ANEXOS

ANEXO A – PLANO DE GRAVAÇÃO

PLANO DE GRAVAÇÃO
Dia 27/08 Dia 28/08

Henry
Seu Walmir Direção: Poliana
Áudio: Ana Luisa
Direção: Poliana
Produtor e relator do processo: Leonardo
Áudio: Leonardo
Produtor e relator do processo: Ana Luisa
Mariano
Direção: Leonardo
Mariá
Áudio: Poliana
Direção: Leonardo Produtor e relator do processo: Ana Luisa
Áudio: Ana Luisa
Produtor e relator do processo: Poliana Luiz
Direção: Ana Luisa
Sebastião “Seu Sissi” Áudio: Poliana
Produtor e relator do processo: Leonardo
Direção: Ana Luisa
Áudio: Poliana
Davidson Sebastião
Produtor e relator do processo: Leonardo
Direção: Poliana
Áudio: Ana Luisa
Produtor e relator do processo: Leonardo
Imagens de cobertura
Gabriele Silva
Direção: Leonardo
Áudio: Ana Luisa
Produtor e relator do processo: Poliana

31/08 01/09

Sandra Transeuntes
Direção: Ana Luisa Obs.: Revezamento da equipe
Áudio: Leonardo
Produtor e relator do processo: Poliana

Corbulon
Direção: Poliana Imagens de Cobertura
Áudio: Ana Luisa
Produtor e relator do processo: Leonardo

Higino
Direção: Leonardo
Áudio: Ana Luisa
Produtor e relator do processo: Poliana
ANEXO B – AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM E VOZ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ


Departamento de Letras e Artes
Curso de Comunicação Social

AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E SOM DE VOZ

NOME DO ENTREVISTADO:
BRASILEIRO(A)/ESTRANGEIRO(A):
ESTADO CIVIL:
RG:
CPF:
ENDEREÇO:
TELEFONE:

Autorizo o uso da minha imagem e som de voz, gratuitamente, para a produção e edição do
documentário “Do cinquenta ao centenário: o que conta uma avenida”, produzido pelos
alunos Ana Luisa de Castro Coimbra, Leonardo Assunção Bião Almeida e Poliana Ribeiro
Alves da Universidade Estadual de Santa Cruz, do Curso de Comunicação Social, no oitavo
semestre, como parte do projeto de conclusão de curso, sob a responsabilidade da professora
Karen Vieira Ramos. O entrevistado (ou representante do mesmo) será responsável, integral e
exclusivamente, pelas informações e declarações fornecidas na gravação e veiculação do
produto. A equipe de gravação e edição compromete-se a reproduzir as falas de acordo com o
consentimento do entrevistado.

_________________________________________________________________
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL
ANEXO C – AUTORIZAÇÃO DE LOCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ


Departamento de Letras e Artes
Curso de Comunicação Social

AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E SOM DE LOCAÇÃO

NOME DO ENTREVISTADO:
BRASILEIRO(A)/ESTRANGEIRO(A):
ESTADO CIVIL:
RG:
CPF:
ENDEREÇO:
TELEFONE:

Autorizo o uso da imagem e som, gratuitamente, deste estabelecimento para a produção e


edição do documentário “Do cinquenta ao centenário: o que conta uma avenida”, produzido
pelos alunos Ana Luisa de Castro Coimbra, Leonardo Assunção Bião Almeida e Poliana
Ribeiro Alves da Universidade Estadual de Santa Cruz, do Curso de Comunicação Social, no
oitavo semestre, como parte do projeto de conclusão de curso, sob a responsabilidade da
professora Karen Vieira Ramos. Eu, responsável pelo local fico ciente da utilização destas
imagens e áudio fornecidas na gravação e veiculação do produto.

_________________________________________________________________
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL
ANEXO D – AUTORIZAÇÃO DE OBRA INTELECTUAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ


Departamento de Letras e Artes
Curso de Comunicação Social

AUTORIZAÇÃO DE USO DE OBRA INTELECTUAL

NOME DO ENTREVISTADO:
BRASILEIRO(A)/ESTRANGEIRO(A):
ESTADO CIVIL:
RG:
CPF:
ENDEREÇO:
TELEFONE:
OBRA INTELECTUAL:

Autorizo o uso da obra intelectual relacionada acima deste instrumento, da forma que melhor
lhe aprouver, notadamente para toda e qualquer forma de comunicação ao público, tais como
CD (“compact disc”), CD ROM, CD-I (“compact-disc” interativo), “home video”, DAT
(“digital audio tape”), DVD (“digital video disc”), televisão aberta, fechada e por assinatura,
bem como sua disseminação via Internet, , gratuitamente, para o uso na edição do
documentário “Do cinquenta ao centenário: o que conta uma avenida”, produzido pelos
alunos Ana Luisa de Castro Coimbra, Leonardo Assunção Bião Almeida e Poliana Ribeiro
Alves da Universidade Estadual de Santa Cruz, do Curso de Comunicação Social, no oitavo
semestre, como parte do projeto de conclusão de curso, sob a responsabilidade da professora
Karen Vieira Ramos. O responsável pelas obras intelectuais irá consentir e permitir, integral e
exclusivamente, a veiculação das obras intelectuais (“Cidade de Itabuna” (1945-1948),
“Progresso de Itabuna” (1959) e “A Jovem Cidade” (1967)).

_________________________________________________________________
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL
ANEXO E – AUTORIZAÇÃO DE OBRA FOTOGRÁFICA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ


Departamento de Letras e Artes
Curso de Comunicação Social

AUTORIZAÇÃO DE USO DE OBRAS FOTOGRÁFICAS

NOME DO ENTREVISTADO:
BRASILEIRO(A)/ESTRANGEIRO(A):
ESTADO CIVIL:
RG:
CPF:
ENDEREÇO:
TELEFONE:

Autorizo o uso das obras fotográficas e manchetes de jornais cedidas pelo órgão responsável
pelas mesmas, da forma que melhor lhe aprouver, notadamente para toda e qualquer forma de
comunicação ao público, tais como CD (“compact disc”), CD ROM, CD-I (“compact-disc”
interativo), “home video”, DAT (“digital audio tape”), DVD (“digital video disc”), televisão
aberta, fechada e por assinatura, bem como sua disseminação via Internet, gratuitamente, para
o uso na edição do documentário “Do cinquenta ao centenário: o que conta uma avenida”,
produzido pelos alunos Ana Luisa de Castro Coimbra, Leonardo Assunção Bião Almeida e
Poliana Ribeiro Alves da Universidade Estadual de Santa Cruz, do Curso de Comunicação
Social, no oitavo semestre, como parte do projeto de conclusão de curso, sob a
responsabilidade da professora Karen Vieira Ramos. O responsável pelas imagens
fotográficas e manchetes de jornais irá consentir e permitir, integral e exclusivamente, a
veiculação deste material no documentário em questão.

_________________________________________________________________
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL
ANEXO F – AUTORIZAÇÃO DE TRILHA SONORA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ


Departamento de Letras e Artes
Curso de Comunicação Social

AUTORIZAÇÃO DE USO DA TRILHA SONORA

NOME DO ENTREVISTADO:
BRASILEIRO(A)/ESTRANGEIRO(A):
ESTADO CIVIL:
RG:
CPF:
ENDEREÇO:
TELEFONE:

Autorizo o uso da trilha sonora de minha autoria, da forma que melhor lhe aprouver,
notadamente para toda e qualquer forma de comunicação ao público, tais como CD (“compact
disc”), CD ROM, CD-I (“compact-disc” interativo), “home video”, DAT (“digital audio
tape”), DVD (“digital video disc”), televisão aberta, fechada e por assinatura, bem como sua
disseminação via Internet, , gratuitamente, para o uso na edição e composição musical do
documentário “Do cinquenta ao centenário: o que conta uma avenida”, produzido pelos
alunos Ana Luisa de Castro Coimbra, Leonardo Assunção Bião Almeida e Poliana Ribeiro
Alves da Universidade Estadual de Santa Cruz, do Curso de Comunicação Social, no oitavo
semestre, como parte do projeto de conclusão de curso, sob a responsabilidade da professora
Karen Vieira Ramos. O responsável pela trilha sonora irá consentir e permitir, integral e
exclusivamente, a veiculação de sua composição musical dentro do documentário em questão.

_________________________________________________________________
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL

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