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Mas há um outro relato que remonta os idos de 1880, e envolve um cientista free lancer, e uma
revista mundialmente conhecida a Nature. Na edição da Revista Nature de 29 de julho de 1880,
mais precisamente na secção de cartas dos leitores, um tal de James Rand Capron, escreveu ao
editor da então revista, um artigo intitulado ``Storm Effects``, em tradução livre, efeitos de
tempestades. Capron, que era cientista e ao que parece assíduo participante dessa secção,
porque nessa edição assinou nada mais nada menos que dois artigos, o primeiro sobre os
``Storm Effects`` e o segundo publicado em seguida com o título de ``The inevitable test of
Aurora``.
No primeiro artigo Capron relata que ao visitar a fazenda de um vizinho, na região que ele
denomina como Surrey, encontrou em lavouras de trigo, locais onde as plantas estavam
acamadas, e que de longe podia-se notar a formação de figuras geométricas precisas, em sua
maioria círculos. Capron é preciso, descreve e ainda faz um croqui, do qual não faz parte do
artigo e ainda tenta relacionar o fato com as tempestades que assolavam a região naquela época.
Como a descrição de Capron é precisa, como veremos a seguir, não é difícil que se trata de um
círculo de plantações ou um Agroglifo, sendo relatado em 1880.
A imagem acima é meramente ilustrativa, e representa exatamente o que Capron viu, naquele
fim de tarde de 1880 depois de uma tempestade.
A descrição de Capron e sua publicação em uma revista científica, mesmo ele dando crédito
ao evento para a tempestade, me parece suficiente para pelo menos colocar em xeque o que se
diz sobre a formação e o aparecimento dos Agroglifos. É justamente aqui que algumas
perguntas surgem: É possível uma tempestade, acamar o trigo em formas perfeitamente
geométricas? Possível é, o problema é a forma geométrica, ou a organização direcionada das
plantas.
Figura 01: Geometria de duas formações de círculos de plantações no ano de 1995, estudadas
por W.C. Levengood e Nancy P. Talbott, e publicada na revista Physiologia Plantarum do ano
de 1999. Albrecht, 2019.
O trabalho de W.C. Levengood e Nancy P. Talbott, também nos faz questionar, do porque
temos que a priori admitir que toda formação necessariamente deve possuir uma forma
geométrica perfeita, reconhecível e as vezes complexa? É possível que os círculos das lavouras
não obedeçam a nenhum tipo de geometria? E quando aparecem os perfeitamente geométricos,
são realmente mensagens? No trabalho de Levengood e Nancy P. Talbott, há um comentário
sobre a relação das condições atmosféricas como desencadeadoras desse tipo de fenômeno, a
mesma conclusão de Capron em 1880. Porém o artigo não é sobre as formas dos agroglifos, é
sobre se é possível monitorar o aparecimento desse fenômeno.
Monitoramento via satélite, tem sua tecnologia toda desenvolvida primeiramente pelos setores
militares. Aos poucos e em alguns países isso já é realidade, as imagens via satélite tem sido
utilizadas para o monitoramento das lavouras e matas, nesse último caso no Brasil, podendo-
se obter imagens diárias de alta resolução de determinada parcela. Já existe em órbita alguns
satélites de empresas civis, dedicado a prestar esse tipo de serviço, vendendo as imagens de
acordo com uma programação de rota pré-estabelecida. Trabalho com agricultura e já tive
acesso a imagens com resoluções da ordem de 5 m, onde cada pixel está representado por um
quadrado de 25 m2. No caso para uso em agricultura essas imagens recebem um tipo de
tratamento por softwares que extraem diferentes frequências de luz, como, IV, UV, NDVI e
outras refletâncias que são analisadas por logarítmicos que cruzam essas informações com
banco de dados de imagens de outras partes do mundo, gerando dados sobre as condições das
plantas naquele momento. Em 2015, uma empresa chinesa a Chang Guang Satellite, lançou o
Jilin-1 Luminous, trata-se do primeiro satélite a realizar captação de imagens noturnas ao redor
do globo, com uma resolução absurda de 90 cm. Posteriormente essas imagens podem ser
tratadas com filtros infravermelho (I.V), e com isso, qualquer coisa que emita radiação
luminosa ou térmica, poderia ser detectada, não há novidade nisso, o monitoramento da
Amazônia é feito com essas ferramentas, mas como planejar um monitoramento eficiente? Já,
adianto, não é fácil.
Aqui nós, já nos deparamos com um problema a ser resolvido, no caso do Jilin-1 Luminous,
em suas especificações técnicas é informado que a faixa de registro das imagens compreende
um retângulo de 11 x 4,6 Km, isso é apenas 2,26% da área necessária para cobrir todo o
município na primeira passada do satélite sobre Prudentópolis. Isso exigiria que outras passadas
fossem necessárias, outras 45 para ser preciso, o que obviamente levaria tempo. Claro que esse
cálculo leva em conta que o agroglifo iria aparecer em alguma área rural dentro do município
de Prudentópolis no mínimo dentro dos 2.236,579 Km2, como ocorreu nos dois primeiros 2015
e 2016, cuja a distancia entre eles não foi superior a 6 Km. Porém não podemos afirma isso,
não sabemos, quando e onde vai surgir, mesmo com um satélite de alta precisão de registro de
imagens diurnas e noturnas, não nos dá a garantia de que realmente vamos captar, qualquer
momento do surgimento do Agroglifo, tanto para os verdadeiros, quanto para os falsificados,
já que essa não é uma opção descartável. É possível amentar esse retângulo de captação de
imagem? Sim é possível, porém a resolução dos pixels das imagens é proporcional a área
fotografada, diminuindo quanto maior for a dimensão do retângulo, perdendo assim nitidez e
detalhamento, o que talvez não seja bom, para o processamento dessas imagens em filtros, UV
ou IV, já que as imagens seriam noturnas.
A nível de planejamento, é praticamente impossível não contar com a sorte nesse caso. Digo
isso porque a contratação do monitoramento, deve incluir não uma imagem, mas várias e ainda
diárias por sobre a área determinada. É preciso ainda definir a que horas as imagens devem ser
registradas, poder-se-ia fixar um horário por dia, ou avançar a cada dia 30 minutos ou a cada
hora, mesmo assim a sorte é um fator primordial nesse planejamento.
Dia 4 de Setembro de 2019, enviei um mail para a empresa Tec Terra Geotecnologias,
representante no Brasil da empresa chinesa Chang Guang Satellite, e solicitei um orçamento
de geração de imagens diárias da região de Prudentópolis, abrangendo um raio de 40 Km a
partir do centro da cidade, o que equivaleria uma área de 5.026 Km2, mais que o dobro do
necessário, num total de 20 dias de monitoramento, começando dia 15/09 indo até dia 05/10,
sendo uma foto por dia, devendo começar as 22:00 hs e no máximo ter como horário de término
as 5:00 hs da manhã, ou seja o satélite teria esse intervalo para registrar as fotos durante os 20
dias, podendo tirar uma foto em um horário diferente por dia, dentro desse intervalo, aqui já
podemos notar a aleatoriedade do planejamento, o que deixaria nas mãos da sorte a
possibilidade de captação da formação do agroglifo. Recebi uma resposta com o orçamento e
com a limitação do satélite, segundo o vendedor, o monitoramento de apenas 100 Km2, portanto
2 passadas por noite/dia, já que a área de captação de imagens do satélite é de 50 Km2,
fornecendo 20 imagens em 20 dias de monitoramento, sairia pela bagatela de R$ 520.000 ou
seja R$ 26.000/imagem. É sempre bom lembrar que a chance de não ser registrado o local, a
hora e o agroglifo sendo mostrado é muito alta nesse caso, pois mesmo com 4% de captação
da área programada por dia, ainda em cada passada do satélite focariam 96% da área sem
registrar, logo o investimento pode não compensar e as dúvidas ainda persistirem. Mas o valor
ainda não é esse, se imaginássemos que fosse possível um monitoramento de toda a área
planejada, os 5.026 Km2, mesmo usando mais de um satélite, nesse caso necessitaríamos de
100 satélites como esse, cobrindo uma determinada porção de solo da cidade de Prudentópolis,
todo dia durante 20 dias. Se a empresa cobrar por Km2 e não adicionar nem custo pelo uso de
100 satélites no mesmo lugar, a conta ficaria em R$ 2.600.000,00. Isso mesmo mais de dois
milhões e meio de reais. Um valor alto, para conseguir precisão, dentro da área planejada,
porém como dissemos acima, não podemos afirmar, onde e nem em que horas o fenômeno
começa a se formar, mesmo sabendo que nos últimos 11 anos a cidade de Ipuaçu em Santa
Catarina tenha recebido 100% das formações no estado e 80% no Brasil.
Acredito que essa análise possa responder as duvidas de muitos, inclusive as minhas quanto a
nossa capacidade de monitorar o aparecimento desse fenômeno nas lavouras, em qualquer lugar
do mundo, temos os meios, porém ainda são limitados, é possível definir recursos, porém seu
emprego não garante exatidão e certeza de registro. É possível que governos possam já ter
desvendado tudo isso e é possível que esse conhecimento não chegará a nós por eles.