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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL


FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PEDAGOGIA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS

MARIANA BAIRROS HUNGER

QUALIDADE DE VIDA DOCENTE: PERSPECTIVAS DO EDUCADOR SOBRE SEU


BEM ESTAR

Porto Alegre

2014
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL - PUCRS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO – CURSO DE PEDAGOGIA

QUALIDADE DE VIDA DOCENTE: PERSPECTIVAS DO EDUCADOR SOBRE SEU


BEM ESTAR

MARIANA BAIRROS HUNGER

Porto Alegre, Novembro de 2014


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MARIANA BAIRROS HUNGER

QUALIDADE DE VIDA DOCENTE: PERSPECTIVAS DO EDUCADOR


SOBRE SEU BEM ESTAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do grau
de Licenciado em Pedagogia-Educação Infantil
e Anos Iniciais da Faculdade de Educação da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.

Orientadora: Profa. Dra. Marília Costa Morosini

Porto Alegre
2014
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MARIANA BAIRROS HUNGER

QUALIDADE DE VIDA DOCENTE: PERSPECTIVAS DO EDUCADOR


SOBRE SEU BEM ESTAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do grau
de Licenciado em Pedagogia-Educação Infantil
e Anos Iniciais da Faculdade de Educação da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.

Aprovado em __de ___________________de 2014

BANCA EXAMINADORA

Orientadora: Profa. Dra. Marília Costa Morosini – PUCRS

_______________________________________________________________

Convidado: Profª. Dr. ClausDieterStobäus – PUCRS

__________________________________________________________
5

À minha mãe, Cátia Caprara. Pela total


dedicação e amor, por ser esse grande exemplo de
vida e de mulher. Meu eterno amor e
agradecimento pelos valores e educação que me
forampassados.
6

RESUMO

Qualidade de vida é a concepção que o sujeito possui sobre sua situação na vida,
no contexto cultural e seu sistema de valores, estabelecendo uma relação com
objetivos, expectativa, padrões e preocupações. O objetivo geral da presente
pesquisa é conhecer a concepção que o docente possui sobre sua qualidade de
vida. Assim como, os objetivos específicos são: estabelecer a relação entre
qualidade de vida, bem-estar, mal-estar e a teoria SOC; contextualizar a teoria SOC,
de Baltes e Baltes (1987), no espaço de ensino e de aprendizagem; Distribuição de
um questionário dissertativo, para dez participantes, buscando refletir sobre o tema
“Qualidade de Vida”, tendo como orientação as subdivisões do modelo SOC e
Analisar os resultados dos questionários, estabelecendo relação entre as respostas
dos indivíduos. Foi formado um grupo de sete professoras, de rede pública ou
privada, para responder o questionário dissertativo sobre qualidade de vida, para
analisar os resultados foi utilizado como referência a análise textual discursiva. Fora
dois, os principais resultados desta pesquisa; a preocupação das docentes com a
escolha e organização de suas metas de vida e a relação que estas professoras
fazem de qualidade de vida com satisfação, profissional e pessoal.

Palavras-chave:Qualidade de vida. Bem/Mal-estar. SOC. Educação para saúde.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES:
Pirâmide das necessidades de Maslow............................................................. 17
Gráfico 1: Faixa etária dos educadores ............................................................. 27
Gráfico 2: Carga horária de trabalho ................................................................. 27
Gráfico 3: Níveis de Ensino ................................................................................ 28
Gráfico 4: Área de trabalho ................................................................................ 28
Gráfico: Postura e ação de planejamento para atingir metas ............................ 29
Gráfico: Meios de organização e otimização de tempo ..................................... 30
Gráfico: Comportamentos/Reações perante situações de frustração ................ 31
Gráfico: Reação perante momentos de perdas/declínios de habilidades naturais ou
não ...................................................................................................................... 32
Gráfico: Concepção docente sobre qualidade de vida ....................................... 33
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS:

OMS – Organização Mundial da Saúde;

WHO – World Health Organization;

QV – Qualidade de vida;

QVT – Qualidade de Vida no trabalho;

WHOQOL – World Health Organization Quality of life;

SOCQ – Selection, Optimization and Compensation Questionnaire;

BES – Bem-estar subjetivo.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10

2 REFERENCIAL TEORICO ...................................................................................... 13


2.1 QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO ...................................... 13
2.2 BEM-ESTAR DOCENTE ....................................................................................................... 14
2.3 MAL-ESTAR DOCENTE ....................................................................................................... 17
2.4 MODELO SOC ...................................................................................................................... 19
2.5 RELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE VIDA, BEM/MAL-ESTAR E MODELO SOC NO ESPAÇO DE
ENSINO E DE APRENDIZAGEM ............................................................................................... 23

3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS DE PESQUISA ....................................... 25


3.1 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 25
3.2 ABORDAGEM DE PESQUISA.............................................................................................. 25
3.3 CONTEXTO, SUJEITOS E ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA .............................................. 26

4 ANALISE DOS RESULTADOS ............................................................................... 27


4.1 PERFIS DOS PARTICIPANTES ........................................................................................... 27
4.2 POSTURA E AÇÃO DE PLANEJAMENTO PARA ATINGIR METAS .................................. 28
4.3 MEIOS DE ORGANIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE TEMPO .................................................. 29
4.4 COMPORTAMENTO/REAÇÃO PERANTE SITUAÇÃO DE FRUSTRAÇÃO ....................... 31
4.5 REAÇÃO PERANTE MOMENTOS DE PERDAS DECLINIOS DE HABILIDADES NATURAIS OU
NÃO ............................................................................................................................................. 31
4.6 CONCEPÇÃO DOCENTE SOBRE QUALIDADE DE VIDA ................................................. 33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 34


REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 36
APENDICE 1 .............................................................................................................. 38
APENDICE 2 .............................................................................................................. 39
APENDICE 3 .............................................................................................................. 40
APENDICE 4 .............................................................................................................. 41
10

1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos quatro anos do curso de Pedagogia, a psicologia do


desenvolvimento sempre prendeu minha atenção, e foi no ano de 2013 que descobri
a pesquisa. Trabalhando como bolsista do professor ClausDiesterStobäus
desenvolvi um olhar mais atento para diversas questões do desenvolvimento
humano, em especial para a qualidade de vida. Durante o período em que estive
envolvida com a pesquisa do professor Stobäus, tomei consciência das diversas
nuances que permeiam as nossas rotinas e como a vida pode ser frágil perante
acontecimentos externos, como a preparação emocional, física e social pode
interferir nas faces no trabalho e vida pessoal. Passei a refletir sobre como uma
sociedade egocêntrica, capitalista e com grandes cobranças de status pode interferir
na vida dos sujeitos. A partir de então fui tomada pelo desejo em buscar informações
e fatos, que falassem do efeito que as questões sociais, financeiras e pessoais
causam em nós, professores.

Hoje o que me motiva à pesquisa é o conhecimento adquirido até o momento


e a vontade de saber mais. É perceber a relação entre teoria e prática, como ambas
interagem e o que podem causar ao indivíduo que ignora sua existência. E através
dessa consciência receber a coragem de não limitar-se, de amar a vida

Com a certeza de que nenhum ser humano é concluso, abraçando a


instabilidade do ser. Preparando-me para conclusão desta fase e buscando alcançar
novos caminhos, permanecendo inacabada.

Ao refletir sobre a figura do professor questionei-me: quem é este sujeito e


quais são suas necessidades? Este, que é encarregado pela formação da maioria
dos indivíduos de nossa sociedade, está vulnerável às nuances do cotidiano.

No decorrer da construção da figura docente estabeleceu-se a figura do


professor como um sujeito. Que deve ser criativo, persistente, socialmente ativo,
consciente de seu papel como cativador, ético e constantemente atualizado,
principalmente nos temas de ensino e de aprendizagem. Constantemente superior
às desavenças entre educador e educando. Este educador, no entanto,
definitivamente, não existe. Deve-se atentar ao fato de que qualquer professor,
antes de tornar-se professor, é um ser humano, com desejos e necessidades;
11

qualidades e defeitos; que precisa ser incentivado; que necessita de motivação.


Muito se falou, e ainda se fala, das possíveis falhas cometidas por eles, os
educadores, ao longo de suas caminhadas, dos tropeços de cada sujeito e seus
déficits profissionais. Para esse sujeito, foi negado o direito e tolerância ao erro,
desconsiderado como indivíduo que pensa, sente e reage aos estímulos externos,
como ser humano inserido no mundo.

O educador que está presente hoje em sala de aula, tem como prioridade a
sua própria sobrevivência. Membro de uma sociedade na qual a lei maior é a compra
e o consumo, a mensagem que lhe é constantemente enviada é a de que precisa
consumir para se autorrealizar. Desta forma, sua renda que deveria ser designada
para necessidades básicas, se volta para a satisfação da autoestima, que está
ligada diretamente com a lei máxima de consumo. Assim, o profissional acaba por
buscar outras fontes de renda,
tornando-se cada vez mais
cansado e desgastado, física e
emocionalmente.

É possível refletir que, em


uma sociedade contemporânea,
há uma inversão da hierarquia das
necessidades básicas, que tem
como resultado, sentimentos de
insatisfação e infelicidade nos docentes, a quem dedico minha pesquisa.
Sentimentos esses que acabam interferindo no processo de ensino e de
aprendizagem dos alunos e dos professores.

Desta forma, as necessidades básicas, que são de extrema importância para


a sobrevivência do indivíduo, acabam por ser negligenciadas. Questões fisiológicas,
de consideração orgânica, deixam de ser atendidas para que outras realizações
assumam importância, como ascensão financeira.

Reconheço a necessidade de se falar sobre as situações de ensino e de


aprendizagem, contudo, questiono o foco nas necessidades do aluno. Sinto uma
defasagem de um diálogo mais profundo e sólido, sobre a qualidade de vida do
educador, dentro do espaço escolar. Entendo o professor enquanto ser complexo
12

que não pode ser desmembrado das outras competências de um ser integral,
conforme Mosquera (1975, p. 95) “não podemos deixar de considerar que ele
(professor) é primeiramente um ser humano, com seus potenciais enérgicos, suas
ideias, estruturações mentais e limitações.” Através desta pesquisa busco conhecer
qual a postura do educador perante a concepção de Qualidade de Vida, trazendo
para pauta uma questão clara e que muitas vezes é negligenciada: a vida segue e
envelhecemos e mudamos constantemente, e consciência dessa mutação diária
traria muitas melhorias em nossa forma de enfrentar as questões que o mundo nos
apresenta.
13

2 REFERENCIAL TEORICO

2.1 QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO


No ano de 1964 o presidente dos Estados Unidos verbalizou a seguinte
sentença: “os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos
bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que
proporcionam às pessoas”. O crescente desenvolvimento tecnológico trouxe
uma desumanização progressiva para a sociedade (FLECK, 1999).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera como definição de


“saúde” o bem-estar físico, mental e social e não a mera ausência de
enfermidade (WHO, 1946). Sendo assim, a saúde e a qualidade de vida andam
juntas no combate da morbidade e mortalidade. Contudo, não existe um
conceito definido sobre a qualidade de vida, assim que, a OMS segue
trabalhando em pesquisas e elaborações de instrumentos que possam avaliar
o índice de desenvolvimento humano, com qualidade. A busca por um
instrumento que pudesse avaliar, de forma genuína, a perspectiva de qualidade
de vida levou a OMS a organizar um projeto multicêntrico que teve, como
resultado a elaboração do WHOQOL-100 (World Health
OrganizationQualityoflife), com 100 itens, desenvolvido em 1998, pelo
WHOQOL Group.

Embora não exista um consenso sobre o tema Qualidade de Vida (QV),


três aspectos foram obtidos através da reflexão de alguns experts da área da
saúde (WHOQOL Group), de diferentes culturas. São eles: (1) subjetividade,
(2) multidimensionalidade e (3) presença de dimensões positivas e negativas
(Fleck, 1999). Dessa forma, após a definição destes elementos, no ano de
1994, o WHOQOL Group chegou a definição de Qualidade de vida como: “a
percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto de cultura e
sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,
expectativa, padrões e preocupações”.

O tema QV teve sua origem no período pós-guerra, como consequência


do Plano Marshall, visando à reconstituição da Europa (Vieira, 1993). Em
seguida, a QV ganhou visibilidade em outros aspectos como, por exemplo, em
14

espaços de trabalho, uma vez que, a qualidade de vida pode influenciar os


comportamentos e atitudes dos trabalhadores, dentro de seus espaços e
contextos trabalhistas. Em 2011, Taveira, desenvolveu uma pesquisa,
fundamentada na psicologia social, pontuando, as representações sociais da
qualidade de vida nos espaços de trabalho das cidades de Juiz de Fora e
Cataguases (MG). Os resultados apontaram, que os seguintes aspectos trazem
representação central na qualidade de vida dos participantes, seriam eles:
“Saúde”, “Bem-estar” e “Trabalho-emprego”. Em seguida, na primeira periferia,
encontram-se: “lazer”, “educação”, “família” e “boa vida financeira /boa
moradia”. E, dentro de seus contextos de trabalho, destacou-se como
elementos centrais: “salário”, “condições de trabalho” e “bom ambiente de
trabalho”; em segundo plano permaneceram: “reconhecimento” e
“desempenho-eficiência”. Por fim, Taveira destaca, que todos os aspectos se
entrelaçam mediante a centralidade do “trabalho” como núcleo central da
Qualidade de Vida.

Afirma-se que a QVT (Qualidade de vida no trabalho) assumiu maior


relevância na década de 70, quando houve um esgotamento das organizações
de trabalho de corte (taylorista/fordista). No qual, percebeu-se um aumento no
absenteísmo, insatisfação no trabalho e a não aderência dos trabalhadores às
metas definidas pelas gerências (Lacaz, 2000). A partir desta reflexão é preciso
debater as possibilidades de organização dos locais de trabalho, a participação
do trabalhador nas discussões sobre demandas, de forma democrática e
igualitária. Visar a competitividade/produtividade e qualidade do produto à
qualidade do trabalho, buscando a defesa da vida e da saúde no trabalho.

2.2 BEM-ESTAR DOCENTE

Precisamos valorizar os bons momentos na profissão


docente, as boas experiências precisam servir de referência
para a construção de uma estrada profissional repleta de
motivação e bem-estar profissional (JESUS, 2007 p. 24).

Mesmo que o ritmo de nossa sociedade não incentive a


valoração/avaliação dos momentos de felicidade ou completa satisfação
pessoal, somos incentivados a planejar nosso dia-a-dia para sobrepor os
desafios da vida moderna, por exemplo, manter o emprego, equilíbrio
15

financeiro, proteger-nos da violência urbana e praticar ações que promovam


nossa integridade física, emocional e social.

A construção de um conceito científico para o bem-estar vem ganhando


força na atualidade. Segundo Ryan e Deci (Apud: Suiqueira e Padovam, 2001),
existem duas abordagens para bem-estar; o bem-estar subjetivo (BES) e bem-
estar psicológico (BEP). O bem-estar docente enquadra-se dentro de um
conceito geral, o bem-estar subjetivo, que está relacionado com a “psicologia
positiva” (Marujo, Neto & Perloiro, 2000), que descreve o BES é desenvolvido a
partir de avaliações cognitivas e análise da vivência de experiências positivas e
negativas. Na perspectiva de Siqueira ePadovam(2008) o BES tornou-se um
dos principais indicadores da qualidade de vida.

O conceito de BES requer auto avaliação, não podendo ser avaliado por
instrumentos, ou seja, somente uma observação e relato individual, do próprio
sujeito, poderiam medir o bem-estar. Dentro deste âmbito, para manter seu
BES equilibrado é necessário que o sujeito tenha consciência de suas
vivências positivas e negativas, mantendo um índice de emoções positivas
mais elevadas que as emoções negativas. Contudo, não se trata de identificar
um maior número de emoções positivas que negativas, mas, sim perceber que
as diversas situações vividas foram entremeadas de sensações de prazer
(Siqueira e Padovam, 2008). Paralelamente, existem estudos que revelam que
pessoas que vivem intensamente “afetos” positivos também irão direcionar
grande atenção aos momentos de emoções negativas.

Dentro da composição de afetos positivos a autoestima foi apontada


como um conceito psicológico que pode representar saúde mental, pois, em
auto avaliação, o sujeito se reconhece como possuidor de valores, com
aspectos negativos e positivos. Outros conceitos também foram apontados
com grande relevância, auto imagem, auto aceitação e auto respeito (Siqueira
e Padovam, 2008).

Segundo Saul Neves de Jesus (2007):

O conceito de bem-estar docente pode ser traduzido pela


motivação e realização do professor, em virtude de conjunto
de competências (resiliência) e de estratégias (coping) que
este desenvolve para conseguir fazer gente às exigências e
16

dificuldades profissionais, superando-as e otimizando o seu


próprio funcionamento.

Utilizando como referência a reflexão de Jesus podemos vincular com o


conceito do Modelo SOC. Este pontua a relevância de o indivíduo saber
trabalhar e adaptar suas habilidades, internas e externas, para conseguir atingir
seus focos e objetivos, como o bem-estar.

Mendes (2011), mestre da PUCRS, fez um levantamento sobre a saúde


do educador dentro de uma escola de Ensino Fundamental. Tendo como visão
orientadora o bem-estar e o mal-estar docente. A pesquisa realizada teve uma
abordagem quali-quanti, obtendo como resultado um percentual de 35,4% de
professores em licença saúde, assim como consta:

“Complementou-se com uma Oficina de


Sensibilização, para ressaltar as relações
afetivas nesta escola. Quanto a licenças para
tratamento de saúde, verificou-se que 35,4%
dos professores desta escola solicitaram esta
concessão, evidenciando um índice elevado.
Pelas análises das respostas é possível inferir
que o grupo parece ter boa autoimagem e
autoestima, mostrando satisfação com sua
vida, embora almejem ter mais sucesso
profissional e melhorar sua própria saúde;
indicam como necessidades parcialmente
insatisfeitas as físicas e de autorrealização,
respectivamente; demonstraram ter mais
satisfeitas as necessidades de relacionamento
e independência”.

A pesquisa também apontou que estes educadores possuem


consciência dos fatores que lhes causam mal-estar. A pesquisa visou
esclarecer a importância da auto-formação, destacando espiritualidade e
histórias de vida.

A relevância do bem-estar docente na construção e preservação do


bem-estar do aluno (Jesus&Abreu, 1994). Pode-se dizer que se o professor
não acredita em seu trabalho ou não gosta de transmitir seu conhecimento, o
aluno podendo sentir essa relação, não envolve-se no processo de ensino e de
aprendizagem. Sendo assim, um professor motivado e auto realizado possuiu
maior chance de cativar o aluno no ambiente de sala de aula.
17

2.3 MAL-ESTAR DOCENTE

[...] são os efeitos permanentes de caráter negativo que afetam


a personalidade do professor, como resultado das condições
psicológicas e sociais que se exercem na docência e que
concorrem para ela. (Esteves, 1999 Apud: Stobäus, Mosquera
e Santos, 2007, p. 263)

No início do século 20, foram indicadas três fontes para o sofrimento


humano. Seriam elas: a superioridade da natureza, a fragilidade de nossos
corpos e as regras que buscam modelar os relacionamentos mútuos dos seres
humanos na família, no Estado e na Sociedade (Freud, 1974 Apud:Dohms,
2001).

Os estudos sobre mal-estar docente têm como objetivo pontuar algumas


características negativas no cotidiano do educador. Como por exemplo, a
insatisfação, o risco de demissão, a possível falta de responsabilidade, o
desejo de abandonar a educação, o esgotamento, a ansiedade, stress, neurose
e depressão. Esteve(1992) considera o stress um dos principais fatores
indicativos do mal-estar docente. Muitos acreditam estes são fatores que tem
suas raízes nas características da sociedade atual. Depois de muitos estudos
realizados se concluiu que a profissão docente, comparada com outras
profissões, possui um maior nível de stress (Kyriacou, 1987, p. 147).

O campo de pesquisa sobre o mal-estar docente cresceu nos últimos


anos e, segundo, Stobäus e Mosquera (2008) o mal-estar docente é uma
doença social que acaba sendo transformada em pessoal, que tem como
causa a falta de apoio da sociedade aos professores, tanto em seus objetivos a
serem atingidos, como nas compensações atuais e no reconhecimento
profissional.

Para Jesus(2007, p. 12) os principais fatores causadores do mal-estar


docente são:

 Um ritmo de vida acelerado, em que se precisa responder rapidamente


ás demandas e solicitações da sociedade;
18

 Ambientes de extrema competitividade, onde os principais valores de


convívio se perdem, como a solidariedade e a cooperação;
 A instabilidade profissional, para os professores da rede privada. Onde a
procura é maior que a oferta, levando à muitos a necessidade de
esconder-se sob uma máscara de eficiência, temendo a perda de seu
emprego;
 A instabilidade e incertezas dos planos. Depender de fatores incertos e,
muitas vezes, o alcance dos objetivos está ligado com fatores
incontroláveis.
Mosquera, Stobäus e Dornelles (2008) complementam o raciocínio de
Jesus (2007) dizendo que as principais causas para o mal-estar docentes são
as seguintes: a grande demanda de trabalho e a ausência de tempo hábil;o
trabalho burocrático, que suga o tempo do docente, enquanto este deveria
estar exercendo a prática do ensinar e a descrença no ensino, como fator de
modificação nos conhecimentos básicos dos alunos. Eles ainda destacam
alguns fatores com raízes mais profundas e que podem ser localizadas na
deficiência de:

 Posição do Estado e a falta de planos de Governo como


desencadeadores de uma educação realmente eficiente;
 Necessidade de uma educação para a cidadania, onde se valorize os
direitos humanos e atitudes de tolerância;
 Falta de uma filosofia de educação por todos e por todos trabalhada,
discutida e negociada;
 Deficiência em considerar o conhecimento como um real valor que
propicia instrumentos para as modificações de um mundo em que há
pobreza, ignorância e desconhecimento.
Existem ainda alguns principais aspectos causadores, de âmbitos
minoritários e mais diretos que podem acarretar em uma situação de mal-estar.
Esteve (Apud: Mosquera, Stobaus e Dornelles, 2008) separa os fatores
causadores da seguinte forma: de primeira ordem e de segunda ordem. São os
fatores de segunda ordem, que possuem ampla repercussão sobre o
comportamento dos professores e em suas realidades:
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1. Modificação no papel do professor e dos agentes tradicionais de


socialização.

2. A função docente: contestação e contradições.

3. Modificação do apoio do contexto social.

4. Os objetivos do sistema de ensino e os avanços dos conhecimentos.

5. A imagem do professor.

Os fatores de primeira ordem, “desdobramentos” dos anteriores, causam


um efeito direto e extremo e que precisam ser analisados. Sendo eles:

1. Recursos materiais e condições de trabalho.

2. Violência nas instituições escolares.

3. Esgotamento docente e acúmulo de exigências sobre o professor.

Dos fatores citados acima, o que chama mais a atenção é o


esgotamento do professor. Este é uma clara consequência do stress excessivo
docente, que pode casar desânimo e desesperança, resultando no abandono
de suas tarefas e responsabilidades (Jesus, 2007). Por fim, acredito que, o
resultado deste processo seria o fracasso na relação de ensino e de
aprendizagem.

A situação do mal-estar docente é alarmante. Contudo, um olhar


cuidador e avaliador têm sido exercidos. O campo de estudos e pesquisas vem
se ampliando construindo um olhar atento sobre o tema.

2.4 MODELO SOC

Pensar sobre o desenvolvimento humano, é refletir sobre as fases da


vida de todos nós. Existem características para estas fazes, algumas de
crescimento (ganho) e outras de declínio (perda), claro que elas estão
interligadas, pois todos os elementos que constroem a vida precisam de um
equilíbrio, graças as habilidades de adaptação do sujeito (Baltes, 1987).
20

O modelo de seleção, otimização e compensação, Modelo SOC,


desenvolvido por Baltes e Baltes (1998), visa discutir o modo como indivíduos,
de qualquer idade, utilizam e reutilizam recursos internos e externos, como
estratégias, para maximizar seus ganhos e minimizar suas perdas, ao longo da
evolução de suas vidas.

Quando ao aspecto de otimização, que é a estratégia que o sujeito


utiliza para adquirir ou aperfeiçoar algumas de suas habilidades ou recursos,
visando um determinado objetivo. Por exemplo, a reflexão inicial sobre as
estratégias que podem ser abordadas para o atingimento de um objetivo em
especifico.

O 10 Eu penso sobre exatamente como Eu não penso muito sobre como


eu realizo melhor meus planos. realizar meus planos, eu apenas tento.

Exemplo de questão do SOCQ, subseção “Otimização”.

Quanto a compensação, habilidade que uma pessoa precisa utilizar para


manter seu funcionamento, físico ou mental, em situação de declínio (perda).
Por exemplo, a busca de novos recursos quando já não é possível executar
uma tarefa como de costume.

Quando eu não posso mais


realizar algo tão bem quanto
Quando eu não posso mais realizar algo
costumava, eu procuro outros
tão bem quanto costumava, então eu
C8 meios e formas de conseguir.
aceito isto.

Exemplo de questão do SOCQ, subseção “Compensação”.

No aspecto da seleção, que divide-se em duas, a seleção eletiva (SE) e


seleção baseada em perdas (SBP). A primeira, SE, pretende hierarquizar os
objetivos, adaptando-se a padrões e situações, por exemplo, o
comprometimento a um determinado objetivo, mantendo foco exclusivo até
alcançar o sucesso. A segunda, SBP, a escolha do objetivo acontece no
detrimento de outro. Por exemplo, ao perceber o insucesso em determinadas
atividades, eleger qual receberá atenção exclusiva, visando a melhora. Ambas
21

as abordagens podem se aplicar tanto na vida pessoal como na profissional,


buscando o equilíbrio e satisfação, físico e emocional.

Eu sempre foco no objetivo mais Eu estou sempre trabalhando em vários


importante em um dado objetivos ao mesmo tempo.
SE 2
momento.

Quando eu não posso continuar Quando eu não posso continuar a fazer


a fazer algo como costumava, eu algo como costumava, eu direciono a
SBP 5
direciono a minha atenção ao minha atenção, como sempre, para
meu objetivo mais importante. todos os meus objetivos.

Exemplo de questões do SOCQ, subseções “Seleção Eletiva” e “Seleção Baseada em Perdas”

Partindo do modelo SOC, Margret e Paul Baltes, em parceria com


Alexandra Freun e Frieder Lang (1999), desenvolveram o “SOC Questionnaire”,
um questionário que busca operacionalizar os processos adaptativos do
indivíduo, através de 48 questões, 12 itens para cada abordagem. No ano de
2010 os professores ClausDieterStobäus e Juan José MouriñoMosquera, em
parceria com o Dr. JohannesDoll, a Dra. Thais de Lima Resende e a
doutoranda SionaraTamanini de Almeida, iniciaram o processo de validação e
adaptação transcultural do instrumento.

A tese da Dra. Almeida acompanhou o processo de tradução e


adaptação transcultural do SOCQ. Seu estudo apresentou três partes, ao longo
de três artigos, sendo apenas um publicado. Ao longo da primeira parte da
pesquisa, o instrumento adaptado e traduzido, mostrou-se adequado a cultura
brasileira e com validade de conteúdo. No entanto, a primeira fase não foi o
suficiente para utiliza-lo, necessitando a continuação do processo de análise.

Ao final da pesquisa, a Dra. Sionara ressalta:

Dessa forma, necessita-se a continuidade dos testes


psicométricos com os dados do presente estudo, assim como
realizar novos estudos com diferentes amostras de idosos para
reafirmar os presentes resultados ou refuta-los. Por fim,
utilizando a estrutura original do QSOC traduzido e adaptado à
cultura brasileira foi analisado duas amostras estratificada pelo
nível de atividade física (idosos sedentários e atletas)
verificando-se que a atividade física não influencia na utilização
das estratégias de adaptação aos desafios do dia a dia pelos
idosos.
22

A pesquisa segue em andamento, na Pontifícia Universidade Católica


do Rio Grande do Sul, obtendo como resultado a defesa da tese da Dra.
Sionara Almeida, a validação, tradução e adaptação transcultural do
instrumento SOC Questionnaire. Assim como, a publicação de um artigo com o
nome “Adaptação transcultural do SELECTION, OPTIMIZATION AND
COMPENSATION QUESTIONNAIRE (SOC), para aplicação a idosos”.

O artigo descreveu a adaptação transcultural do SELECTION,


OPTMIZATION AND COMPENSATION QUESTIONNAIRE (SOC) para o
idioma português e a aplicação a sujeitos em fase de aldultez tardia. O
instrumento tem o objetivo de avaliar o grau de adaptação dos idosos perante
os desafios cotidianos e, dessa forma, explicar seu envelhecimento bem
sucedido. O processo de adaptação transcultural envolveu as seguintes fases:
tradução inicial; síntese da tradução; back-translation (retrotradução) ao inglês;
revisão por um comitê de juízes para avaliar a equivalência semântica,
idiomética, experimental e conceitual e pré-teste da versão final, com a
participação de 34 idosos. A partir deste processo foi possível propor a versão
preliminar do instrumento em português.

O seguimento de adaptação transcultural seguiu com rigoroso processo


de análise dos índices psicométricos, garantindo a confiabilidade e validade
dos resultados. Esta caminhada resultou em mais dois artigos, ainda não
publicados, uma vez que “o aperfeiçoamento de um instrumento depende de
sucessivas análises e discussões” (ALMENTIDA, RESENDE e STOBÄUS,
2013).

Questionar o sujeito sobre aspectos como seleção de metas e


otimização de tempo é um caminho para a conscientização dos efeitos que
estes aspectos podem causar em nossos contextos de vida. Dessa forma,
partindo da visão de Jesus (2007), na qual ele ressalta a importância de
preparar-se e se auto formar para atingir o bem-estar, irei focar nas subdivisões
do modelo para formar questões avaliadores/reflexivas.
23

2.5 RELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE VIDA, BEM/MAL-ESTAR E MODELO


SOC NO ESPAÇO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM

No ano de 1956 Selye, (Apud: Jesus, 2007, p. 28), apresentou a


definição da palavra STRESS como: “conjunto de reações biológicas não
especificas a qualquer exigência deadaptação, traduzindo a preparação do
sujeito para responder a novas exigências”. Ou seja, o stress não é apenas
uma força que nos esgota, fazendo-nos abrir os olhos para o que há de
negativo ao nosso redor, mas sim, uma movimentação orgânica que pode nos
nutrir para responder novas questões e dificuldades. O Dr. Saul Neves de
Jesus também nos apresenta uma segunda definição, apontada por Lazarus e
Folkman (1984, Apud: Jesus, 2007), o stress como o resultado da troca de
informações entre variáveis ambientais e variáveis pessoais, quando a
avaliação de nossas exigências é superior à avaliação que o indivíduo faz de
seus próprios recursos, sendo estes pessoais, interpessoais e organizacionais.

Ambas definições, embora distintas, nos mostram que o stress é uma


‘pressão’ sobre o sujeito exigindo uma resposta à situação ou uma adequação
às circunstâncias.

O modelo SOC de Baltes e Baltes (1998) apresenta a perspectiva de


que qualquer pessoa pode manusear e adaptar seus recursos, internos e
externos, para atingir suas metas de vida, com equilíbrio e estabilidade. Eles
ainda afirmam que este processo faz parte do desenvolvimento humano,
permitindo a maximização de ganhos. Contudo, o principal aspecto desta
abordagem é a possibilidade do sujeito reduzir deus desgastes físicos e
mentais, colocando em prática as estratégias de seleção, otimização e
compensação, em consequência construindo um bem-estar duradouro, visando
uma melhor qualidade de vida.

Como disse Jesus (1996, p. 134):

[...] a ênfase em termos de intervenção deve ser de ordem


primária, uma vez que os professores já afetados pelo mal-
estar nem sempre pedem ajuda, tendendo os sintomas a
agravarem-se cada vez mais.

Desenvolver um processo como o exemplificado acima, onde os


recursos são explorados e manuseados para aprimoramento, é, sem mais,
24

educar-se para saúde. Pois, muitas vezes, os níveis de stress não são
absorvidos de forma construtiva, gerando o chamado mal-estar, ou “burnout”
(Jesus, 2007). Esta situação ocorre quando as estratégias e competências de
resiliência se revelam inadequadas/insuficientes. Por isso que, diversas vezes,
os profissionais docentes, reduzem seus esforços e dedicações às suas
atividades, buscando retornar ao seu estado emocional inicial. Este processo
acarreta em um declínio ou quebra no processo de ensino e de aprendizagem,
causando, não apenas a falta de reconhecimento do docente com sua
profissão, mas também, o desinteresse/abandono do aluno ao ambiente de
sala de aula.
25

3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS DE PESQUISA


O presente trabalho tem uma abordagem Qualitativa, buscando explorar
a opinião de um grupo de educadores sobre sua qualidade de vida. Utilizando
como definição norteadora Flick, 2009:

[...] parte da noção de construção social das realidades em estudo, está


interessada nas perspectivas dos participantes, em suas práticas do dia
a dia e em seu conhecimento cotidiano relativo à questão em estudo.

3.1 OBJETIVOS
Objetivo geral: Explorar a concepção dos Educadores sobre sua qualidade de
vida.

Objetivos específicos:

 Estabelecer uma relação entre Qualidade de vida, Bem-estar e mal-estar


docente e a teoria de Seleção, Otimização e Compensação (SOC) de
Baltes e Baltes (1998);
 Contextualizar a teoria SOC de Baltes e Baltes (1998) no cotidiano;
 Distribuição de um questionário dissertativo, com dez integrantes,
buscando refletir sobre o tema “Qualidade de Vida”, tendo como
orientação as subdivisões do modelo SOC;
 Analisar os resultados dos questionários, estabelecendo relação entre
as respostas dos indivíduos.

3.2 ABORDAGEM DE PESQUISA


Um grupo será formado por dez professores, rede pública ou privada,
que irão responder ao questionário desenvolvido para a pesquisa (apêndice 1).
Um questionário construído com embasamento nas subdivisões do modelo
SOC; seleção eletiva, seleção baseada em perdas, otimização e compensação.
Desta forma, será possível observar as reações e manejos dos docentes para
com suas situações de vida, assim como, com sua qualidade de vida.

O questionário será distribuído juntamente com o termo de


consentimento. Os participantes receberão a instrução de responder refletindo
sobre seu cotidiano profissional, levando em consideração carga horária,
demandas e autorrealização.
26

O resultado da pesquisa se dará a partir de analise das questões


dissertativas, estabelecendo uma relação entre as perguntas e as teorias
apresentadas, tendo como fundamentação a Análise textual discursiva de
MORAES e GALIAZZI (2007).

3.3 CONTEXTOS, SUJEITOS E ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA


Os sujeitos inseridos nesta pesquisa são educadores em espaços
escolares, titulares de turmas da Educação Infantil e Ensino Fundamental de
Anos Iniciais, de redes públicas ou privadas. O processo se dará a partir da
distribuição de questionários dissertativos, com cinco perguntas, que foi
construído com o objetivo de explorar a concepção dos docentes sobre
qualidade de vida e suas formas de organização estratégica. Inicialmente, irá
ser formado um grupo de dez professoras, na faixa etária de vinte e um a trinta
anos. Importante ressaltar que a escolha das participantes é aleatória,
rejeitando o estabelecimento de vínculo com instituições escolares especifica.
27

4 ANALISE DOS RESULTADOS


Através da análise do questionário de Qualidade de vida, construído com
perguntas dissertativas para a pesquisa, pode-se notar informações relevantes.
Após a realização da pesquisa, as perguntas/respostas foram analisadas
separadamente e em seguida realizados os cruzamentos das respostas, a fim
de manter a fidelidade ao objetivo geral da pesquisa.

Como explicitado na metodologia do trabalho, é importante retomar, que


o instrumento distribuído foi construído com o puro objetivo de provocar a
reflexão do docente sobre sua qualidade de vida. Através do mesmo, registrar
as formas de organização e seleção de metas de vida, frustrações e a
qualidade de vida no trabalho.

4.1 PERFIS DOS PARTICIPANTES


O grupo de participantes desta pesquisa está na faixa etária entre vinte
dois e vinte cinco anos, sendo o maior número de participantes na idade de
vinte e três anos (como exemplificado no Gráfico 1). Entre elas apenas duas
possuem uma carga horária de vinte horas semanais, as outras cinco
trabalham em média quarenta horas por semana (como exemplificado no
Gráfico 2).

Gráfico 1: Faixa etária dos educadores Gráfico 2: Carga horária de trabalho

45
26 anos 22 anos horas

20 40
24 anos
horas horas
23 anos
25 anos

Fonte: Hunger (2014) Fonte: Hunger (2014)

Neste grupo de participantes quatro residem com os pais e três dividem


despesas e moradia com amiga/namorado (apenas duas professoras com
filhos). Em relação ao nível de ensino das participantes, todas com ensino
28

superior, sendo que três possuem especialização e duas mestrandas (como


exemplificado no Gráfico 3). Em relação a faixa etária de seus alunos, três
trabalham apenas com Educação Infantil, uma com apenas Ensino
fundamental (A.I) e outras três dividem seu dia em Educação Infantil e Ensino
Fundamental (A.I.) (como exemplificado no Gráfico 4).

Gráfico 3: Níveis de Ensino Gráfico 4: Área de trabalho

Ed. Inf.
Apenas Ed. e
Especialização Infantil
Graduação Ensino
Fund.

Mestrado Ensino
Fund.

Fonte: Hunger (2014) Fonte: Hunger (2014)

No corpo do texto estão presentes gráficos exemplos. Cada um tem


como objetivo de exemplificar as informações por extenso na descrição do
grupo de participantes.

Estas informações estão presentes na planilha “Contexto de vida”. Em


que, estão descritos os contextos familiares e de trabalho das participantes.
Estas informações estão de acordo com as características de vida fornecidas
no momento da entrega do questionário.

4.2 POSTURA E AÇÃO DE PLANEJAMENTO PARA ATINGIR METAS

Ao realizar a leitura das respostas apresentadas nos questionários, é


possível perceber que existe uma preocupação, por parte das participantes,
com a organização inicial de metas, dedicando maior foco no processo de
seleção geral de objetivos.

Ficou claro nas respostas que quase todas as participantes demandam


tempo/atenção na escolha de objetivo. Contudo, entre as sete participantes:
três descreveram ter um olhar atendo às suas prioridades, no momento de
planejar e escolher suas metas de vida, estabelecendo relações com os
29

acontecimentos presentes em suas vidas; duas outras professoras traçam


metas anuais, organizando com suas necessidades de momento; uma
participante declarou buscar metas reais, descrevendo uma organização de
nível abstrato; apenas uma docente declarou não propor organização de
metas, deixando claro o seu pensamento: - “Não sou super planejada e nem
metódica. Tenho sonhos e me guio bastante pela “intuição”, energia, orações,
etc.” (Profª 6, 22 anos).

GRÁFICO 5: POSTURA E AÇÃO DE


PLANEJAMENTO PARA ATINGIR METAS

Metas anuais Prioridade Organização Não existe


Abstrata organização
Fonte: Hunger (2014)

Na escrita da participante, que não realiza uma ação de planejamento, é


possível perceber uma despreocupação com organizações, ficando clara sua
forma “despojada” de agir na vida. Contudo, esta postura contrapõe uma das
principais idéias de JESUS (2007, p.26) em que ele especifica o bem-estar
docente como um conjunto de competências, entre elas a capacidade criar
estratégias e planejamentos. Esclarecendo ainda, que em um contexto
conturbado, como o da profissão docente, se faz necessário a capacidade
organizar-se para atender as demandas e dificuldades, propondo a superação
e otimização de nosso próprio funcionamento.

O modelo de seleção, otimização e compensação (BALTES e BALTES,


1998) traz como visão a capacidade que o indivíduo possui de, ao manusear
suas habilidades, atingir suas metas e objetivos. Dessa forma, foca claro a
relevância de uma postura organizacional, com planejamento de tempo e
recursos vitais a serem dedicados aos específicos propósitos. Como exemplo
da Prof.ª 1: - “Traço metas e vou eliminando cada obstáculo até chegar aos
meus objetivos”. Traçar um caminho a ser percorrido é selecionar e vencer
30

obstáculos é o “manejo” que o sujeito faz de seus recursos visando o sucesso


(otimização).

4.3 MEIOS DE ORGANIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DE TEMPO

Ao ler os relatos, nas questões em relação à otimização e organização


do tempo, é possível perceber as diversas formas que o ser humano utiliza
para organizar seu tempo. Este, que em sua ausência, pode ‘sugar’ nossas
energias, nos impedindo de agir nos momentos de decisão.

Nesta questão, cinco participantes relataram utilizar uma metodologia de


organização concreta. Como por exemplo: cadernos, planilhas, anotações em
calendários e etc. Uma participante relata uma forma de organização abstrata,
onde o planejamento é interno. Prof.ª 5: - “Procuro enxergar logo no início o
caminho a ser percorrido, e assim planejar os passos que preciso dar para
alcança-lo”. Contudo, uma última participante ainda relata não haver
organização de seu tempo, dizendo: - “Arrisco-me tento, me esforço, “me
dedico” (Prof.ª 6).

GRÁFICO 6: MEIOS DE ORGANIZAÇÃO E


OTIMIZAÇÃO DE TEMPO

Organização concreta Organização abstrata Não existente


Fonte: Hunger (2014)

Vivemos em uma sociedade de stress, com grande crise motivacional


(JESUS, 2007). Muitos dos fatores que contribuem para as constantes crises
de stress estão relacionados ao estilo de vida de um grupo social. Seriam eles:
ritmo de vida acelerado, inconstância profissional e pessoal, ambientes
competitivos e a falta de controle ou incerteza perante certos resultados da
vida. Aspectos como estes podem nos paralisar, quando chegam
31

inesperadamente. Assim que, planejar e organizar metas de vida nos


proporciona uma sensação de segurança, permitindo raciocínio claro e racional
nos momentos de crise.

4.4 COMPORTAMENTOS/REAÇÕES PERANTE SITUAÇÃO DE


FRUSTRAÇÃO

Foi questionada às participantes desta pesquisa sua forma de lidar com


os insucessos de seus objetivos/metas. Dentre as sete participantes, cinco
relataram reação inicial de tristeza que é transformada em postura reflexiva,
visando a melhora para dar continuidade em novas metas. Outra participante
relata apenas não ter dificuldade de enfrentar e aceitar as frustrações e uma
última professora relata: “me desdobro para fazer tudo e não “fracassar”. Isso
acaba gerando, por vezes, um desgaste físico bem grande (durmo pouco, fico
mais estressada, cansada...)”. Uma postura irredutível que pode acarretar em
males emocionais e orgânicos.

GRÁFICO 7: COMPOSTAMENTOS/REAÇÕES
PERANTE SITUAÇÃO DE FRUSTRAÇÃO

Tristeza/Reflexão Superação Sem Frustrações


Fonte: Hunger (2014)

Frustrações e insucessos são fatores inerentes do caminho da vida.


Saber lidar com nossos sentimentos e agir perante estas situações de conflito é
que nos permitirá manter mente e corpo saudáveis. Segundo Leplantine (Apud:
Gazzinelli, Reis e Penna, 2005, p. 202) “À sempre um agente externo causador
da doença que deve ser combatido como um inimigo.” Nesta visão fala-se dos
32

fatores que podem causar a paralisação e desistência, a desmotivação, para


agir perante agir perante as dificuldades

4.5 REAÇÃO PERANTE MOMENTOS DE PERDAS DECLINIOS DE


HABILIDADES NATURAIS OU NÃO

Muitos dos causadores do mal-estar são externos e podemos lidar com


eles através de planejamentos e organizações. Contudo, existem fatores do
desenvolvimento humano que, muitas vezes não podemos evitar e tão pouco
mudar. Para enfrentar as ocasiões de perda ou declínio de nossas habilidades
é preciso auto formação, é preciso educar-se.

Situações de perdas de recursos, como visão ou audição. São


habilidades naturais e que, com o desenvolvimento humano, podem sofrer um
declínio ou perda. Em relação às perdas e diminuições, de suas habilidades,
três professoras descreveram que tentam resgatar esta perda, duas disseram
buscar ajuda (com tratamento médico ou psíquico), uma disse refletir a
respeito, podendo ficar frustrada ou irritada, e outra disse não perceber ou
sentir estas perdas/declínios.

GRÁFICO 8: REAÇÃO PERANTE


MOMENTOS DE PERDAS E DECLINIOS DE
HABILIDADES NATURAIS OU NÃO

Tentam resgatar Buscam ajuda Reflexão Não percebe


Fonte: Hunger (2014)

Um tema como este, em uma faixa etária jovem como a das


participantes (entre 22 e 25 anos), pode ser abstrato. Pois, estes sujeitos estão
distantes de uma fase da vida em que o declínio se apresenta. Segundo
Almeida, Resende e Stobäus (2013, p. 54): “a estratégia de compensação
33

designa a utilização de algum recurso para a manutenção de determinado nível


de funcionamento desejável, quando o indivíduo sofre alguma perda”.
Seguindo este raciocínio os sujeitos que souberem vivenciar e manusear estas
situações conseguiram atingir seus objetivos e metas com maior facilidade, em
um desenvolvimento mais saudável, caminhando para a qualidade de vida.

4.6 CONCEPÇÃO DOCENTE SOBRE QUALIDADE DE VIDA

A concepção do sujeito sobre seu lugar na vida, em seu contexto cultural


e no sistema de valores, em conjunto com suas expectativas, padrões e
preocupações. Seria esta a definição para qualidade de vida, segundo
WHOQOL Group (1994).

Quando questionamos nossos professores participantes quanto sua


concepção sobre o tema “Qualidade de vida” estas foram suas respostas: cinco
delas estabelecem relação entre satisfação pessoal e profissional com QV e
apenas duas docentes disseram que é preciso haver um equilíbrio entre
aspectos emocionais, orgânicos, sociais e culturais. Prof.ª 3: - “Qualidade de
vida envolve estar em boas condições físicas, mental, psicológica e emocional”.

GRÁFICO 9: CONCEPÇÃO DOCENTE SOBRE


QUALIDADE DE VIDA

Satisfação pessoal Equilibrio de aspecto do desenvol.

Outro ponto importante deste questionamento foi a relevância da QV no


contexto histórico destas professoras. Uma observação importante a se fazer é
que, ao serem orientadas ao preenchimento do questionário foi pedido que
refletissem sobre sua vida profissional. Todavia, apenas três participantes
citaram a “profissão” como parte de seu ‘todo’. Esta ação nos mostra que tentar
34

dividir o educador de sua história de vida é um equívoco, desconsideram o ser


humano complexo e indivisível que todos somos. Como disse Mosquera
(1975), que deixamos de considerar o professor como um ser com ideia,
posições e limitações.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta pesquisa foi explorar a concepção do educador sobre
sua qualidade de vida, estabelecendo relações com perspectivas do bem-estar
docente e a teoria SOC. Tendo como participantes educadoras no começo da
docência, que trabalham em escolas da rede pública e escolas da rede privada.
Foi possível perceber que a maioria das participantes possui uma visão positiva
sobre sua qualidade de vida e bem-estar, apesar das intempéries do dia-a-dia.
Foi possível perceber que grande parte deste grupo de participantes
estabelece relação direta entre auto-realizarão e qualidade de vida.

Com a aplicação do Questionário de Qualidade de Vida dissertativo


abordei pontos que não estão, necessariamente, relacionados com a QV, como
a escolha de metas/objetivos e o declínio de habilidades, aspectos originados
do Modelo de Seleção, Otimização e Compensação. Contudo, acredito que,
estas abordagens possuem poder direto em nosso comportamento perante os
fatores responsáveis (em parte) pelo mal-estar docente, assim como, nos
permitem uma atitude reflexiva em prol do bem-estar e de uma saúde física e
mental positiva.

Ao questionar as docentes sobre a forma como escolhem seus objetivos


de vida e organização seu tempo e funções para conquistá-los foi visível uma
postura organizada da maioria das participantes, com o intuito de estabelecer
metas viáveis e com grandes chances de sucesso. Dessa forma, um dos
principais aspectos causadores do desconforto e mal-estar, as instabilidades e
incertezas da vida em sociedades, tornam-se menos ameaçadoras.

As participantes relataram, a maior parte, não haver problemas em lidar


com os insucesso e frustrações da vida. Deixando claro a reação inicial de
tristeza e pontuando uma característica de demasiada importância, a
capacidade de refletir sobre a causa do fracasso. Esta postura reflexiva, por
35

certo, que gera aprendizado, formando estes sujeitos para futuras situações
adversas, que poderiam causar imobilidade emocional e física, impedindo esta
educadora de seguir com o seu ser completo e motivado. Paralelamente, a
incapacidade de pensar no “fracasso”, a busca inconstante pela perfeição pode
acarretar em demasiado desgaste e gerando frustrações e insucessos em
outros aspectos de vida, pessoal e profissional.

Quando pedi às educadoras que refletissem sobre o declínio e perda de


suas habilidades tinha consciência da possível confusão mental. Pedir para
jovens mulheres, que falem da perda de algum recurso é difícil, um
pensamento por demais abstrato, com possíveis exceções, que não ocorreram
nesta pesquisa. Minhas participantes deixaram claro não passar por esta
situação, mantendo um discurso de “se perdesse” ou “buscaria”, com
características de futuro. Esta reação pode ser esperada de um grupo de
mulheres no começo da vida adulta, possivelmente, as respostas fossem
outras em um grupo de professoras em processo de aposentadoria. Quero
destacar que, sim, a faixa etária das participantes foi, não de forma negativa,
mas, determinante nesta questão.

Foi unanimidade entre as participantes que o termo “Qualidade de Vida”


envolve mais do que apenas saúde física ou alegria no trabalho/família. Fica
claro a amplitude do tema e como é abrangente se falar de QV, não bastando
apenas um bom salário, um relacionamento estável, casa própria ou alugada, é
preciso mais. Necessita auto realizar-se no espaço de trabalho, satisfação e
paz no ambiente familiar, saúde física, acessibilidade e tranquilidade financeira,
resiliência e segurança. O caminho para o bem-estar e para a qualidade de
vida é um processo de educação, educação para a saúde.

A partir desta visão precisamos olhar atentamente para a profissão


docente, não com uma visão fatídica, que declara que esta é a carreia com um
dos maiores índices de estresse, e sim com uma postura orgulhosa, que
descreva o professor como um profissional/sujeito com grande interatividade
social, dinâmico e com oportunidades de crescimento e formação. Valorizando
os pequenos grandes momentos de triunfo.
36

REFERÊNCIAS

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
38

APENDICE 1

Questionário reflexivo sobre Qualidade de vida.

 Como acontece a organização de seus objetivos de vida? Por exemplo,


em quantos e quais objetivos direciona mais atenção em determinado
momento (SE).

 Como você lida com o sucesso e como o insucesso de realização de


suas propostas de vida? Por exemplo, ao realizar versus “fracassar” em
uma meta, qual é sua postura perante a situação (SBP).

 Quando você escolhe uma meta para realizar em sua vida, como
acontece sua preparação para alcança-la? (O).

 Ao perceber o declínio/diminuição/perda de alguma de suas


habilidades, naturais ou não, como você lida perante esta situação? (C).

 Qual a sua concepção sobre Qualidade de Vida? Descreva como este


tema atua em sua vida.

Nome: ____________________________ Idade: _________


39

APENDICE 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Aceite de participação em pesquisa

Aceito participar da pesquisa de Trabalho de Conclusão de


Curso, intitulada “Qualidade de vida do docente no espaço escolar” da
acadêmica Mariana Bairros Hunger, sob a orientação da professora
Marília Costa Morosini.

Estou informada de que os dados pessoais da pesquisa serão


mantidos em sigilo pela acadêmica responsável por este estudo.

Assinatura da participante da pesquisa: _____________________

Observação:

Qualquer esclarecimento pode ser feito com a acadêmica pelo


telefone: (51) 9277-4004.

Data: ___/____/______
40

APENDICE 3

Fonte: Relatos informais dos participantes.


41

APENDICE 4

Tabela de análises - Questionário de Qualidade de vida

Postura e ação de
Meios de organização e Reação perante momentos de Visão e opinião do sujeito
Objetivo da planejamento para atingir Comportamento perante
otimização de tempo para conflito, perdas de acidentes participante sobre QV no espaço de
questão metas, caso este momentos de frustação.
atingir metas e vontades. naturais ou não. trabalho.
comportamento seja existente.
Pergunta 3 - Quando você Pergunta 4 - Ao perceber o
Pergunta 1 - Como acontece a Pergunta 2 - Como você lida escolhe uma meta para realizar declínio/diminuição/perda de Pergunta 5 - Qual sua concepção
Perguntas organização de seus objetivos com sucesso/insucesso de suas em sua vida, como acontece suas habilidades, naturais ou sobre Qualidade de vida? Descreva a
de vida? propostas de vida? sua preparação para alcança- não, como você lida perante importância deste tema em sua vida.
la? esta situação?
"Estar realizada. De bem com a vida,
"Naturalmente, me dedico mais estar em família, ter saúde...
"Traço metas e vou eliminando "Bem, não tenho dificuldades e tento recuperar essa Qualidade de vida requer disposição
Profª 1 cada obstáculo até chegar aos ao aceitar as frustrações e a "Idem ao item 1" habilidade se for muito para se envolver em coisas que me
meus objetivos." vida de altos e baixos" importante. Caso contrário me dão prazer, que me completam e que
dedico a outra coisa" de alguma forma proporcionam
felicidade."

"Há sempre a possibilidade de "Ter qualidade de vida é fazer o que


fracasso, procuro não esquecer te faz bem, ser feliz com o que se
que pode não dar certo, mas conquistou, buscar realizar o que se
não me deixo “paralisar" em deseja, poder curtir a família, ter um
"Traço sempre objetivos anuais virtude dessa possibilidade. "Traço bem o passo-a-passo e tempo só para si, ter uma profissão
"Procuro ajuda (especialistas,
Profª 2 e procuro equilibrar os Penso que quanto mais certo vou em frente. Tudo muito que ama-admira. Acredito que ter
terapia, exercícios, etc.)"
essenciais dos não necessários" tudo ocorrer melhor, caso o calculado." uma vida de qualidade é essencial
contrário, paciência! Acredito para se viver (inclusive feliz e
que tudo tem seu tempo certo saudável) , mas apara isso também é
para acontecer e uma hora preciso ter metas traçadas e
vai!" determinação."
42

"Qualidade de vida envolve estar em


boas condições físicas, mental,
"Não percebo uma diminuição
psicológica e emocional. Hoje não me
"Me organizo com calendário ou perda de minhas
considero como uma pessoa com
(visualização do mês anterior) habilidades, mas sim falta de
qualidade de vida. Apesar de ser
em que registro as datas limites tempo para exercê-las. Gosto de
muito feliz na minha vida profissional
para alcançar meus objetivos. fazer trabalhos manuais
ela me consome principalmente
"Como dito na questão Aqueles que podem ser (costura, fazer artesanato...) e a
fisicamente. Considero que assumi
anterior coloco como meta conquistados a longo prazo e quantidade de trabalho que
"As mihas metas e/ou objetivos muitas "responsabilidades" este ano
somente aquilo que irei não possuem datas tenho tido me faz não ter a
de vida são organizadas e ainda estou aprendendo a me
conseguir realizar, sendo assim normalmente vão sendo possibilidade de criar. Como
levando em consideração as organizar para trabalhar em dois
normalmente me desdobro postergados e as vezes muitas das minhas criações são
metas já existentes hoje em iha turnos como professora, estar em
Profª 3 para fazer tudo e não demoram muito para para utilizar em sala de aula,
vida. Normalmente só assumo duas escolas e conciliar a rotina
"fracassar". Isso acaba acontecer. Estas normalmente tenho optado por realizar
outro compromisso quando escolar de ambas, me preparar e me
gerando, por vezes, um são questões mais pessoais, aquelas que são prioridades, as
tenho certeza de que irei qualificar em outras áreas que
desgaste fisico bem grande aquelas que não afetam mau que não consigo fazer tenho
conseguir realizá-lo" também gosto como fotografia
(durmo pouco, fico mais trabalho, não afetam o curso comprado. Apesar de não
(realizando curso nesta área) e
estressada, cansada...)." que estou fazendo, não afetam gostar de fazer desta forma,
cuidando minimamente da minha
meu relacionamento com prefiro tter os materiais bem
saúde com atividades físicas. O
namorado e familiares... ou feitos por outras pessoas do que
tempo em que não estou nestes
seja o que for só para mim é feitos de forma corrida (e muito
compromissos, procuro fazer outras
deixado por último." provavelmente sem a qualidade
atividades que me deixam feliz e me
que almejo) por mim."
tragam qualidade de vida, Mas estes
momentos são curtos e raros."

"Obviamente quando fracasso "Quando eu objetivo uma meta


"Organizo os meus objetivos "Eu procuro me analisar
em algo que eu criei muita eu levo-a muito a sério, sou "Bem verdade que há pouco tempo
anualmente, deveria retomá- criticamente, com frequência, é
expectativa, eu me sintosuper firme e procuro pensar somente que eu penso em qualidade de vida.
los no meio do ano, mas isso automático, principalmente no
frustrada e chateada, positivo, porém se nesse Hoje percebo que necessito de mais
não acontece. Alinho os trabalho. Quando noto que
Profª 4 atualmente já consigo processo eu falho, por mínimo tempo para me dedicar a mim e à
objetivos próximos e mais errei em algo procuro alguém
trabalhar em meu intimo essas que seja, eu já desmotivo, não família, por tanto passei a planejar
fáceis de realizar e também para compartilhar, e busco
situações para que não sou persistente, passo a pensar pequenas mudanças que
registro os objetivos a longo pensar de que outras maneiras
interfiram no meu desempenho que eu não conseguirei e, por proporcionam essas melhorias."
prazo." eu poderia ter feito. "
na vida." vezes desisto."
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"Como procuro enxergar todo o


caminho a ser percorrido antes
de começar a ir em busca de um
objetivo final, creio que os
fracassos acabam não "É muito importante!! Talvez a
acontecendo de maneira qualidade de vida seja mal maior
inesperada, e sim aos poucos vou objetivo no momento. Ou ainda, seja
"Acredito que a primeira reação
me dando conta da o maior objetivo da minha vida em
impossibilidade de atingir meu seja tentar justificar-me, para
todos os momentos. Agora, no
objetivo. Esta percepção mim mesma, das causas deste
entanto, sinto-me mais disposta a
"antecipada" do fracasso declínio, buscando inicialmente
abrir mão de outros objetivos que de
permite que eu lide com ele de formas de não considera-lo
alguma maneira prejudicam a busca
"Costumo estabelecer objetivos forma mais tranquila e racional. verdadeiramente uma perda,
por qualidade de vida. Minha
que tenham possibilidades É claro que fracassos "Procuro enxergar logo de início mas uma consequência de
concepção de qualidade de vida é o
reais de serem alcançados. "inesperados" acontecem, o caminho a ser percorrido, e determinadas circunstâncias.
sentimento de SATISFAÇÃO e
Profª 5 Dessa forma, procuro enxergar principalmente quando não assim planejar os passos que Em um segundo momento, no
PLENITUDE diante de todos os
o caminho a ser percorrido e ir consigo organizar e enxergar o preciso dar para alcança-lo " a entanto, busco compreender
caminho para os meus objetivos aspectos da vida: trabalho, lazer,
em busca de maios para meta". quais as lacunas a serem
de forma clara. Este fracasso família, relações afetivas, seja com
percorre-lo." preenchidas para que eu seja
"inesperado" acaba por me amigos ou parceiros. Qualidade de
capaz de realizar novamente
desestabilizar emocionalmente, vida é sentir prazer ao realizar as
com êxito a atividade em
deixando-me por um momento atividades cotidianas, e ao mesmo
questão, estabelecendo assim o
com a sensação de incapacidade, tempo, pode optar por realizar aquilo
preenchimento destas lacunas
fraqueza e sem saber o que que traz prazer, satisfação. E sentir-
como um objetivo de vida."
fazer. No entanto em ambos os se satisfeito diante de sua própria
"tipos de fracassos", procuro o vida e da forma como ela está
mais rápido possível observar a organizada."
situação de forma racional, para
logo traçar um novo percurso,
seja para atingir o mesmo
objetivo ou outro. "
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"Não sou super planejada e


nem metódica. Tenho sonhos e
me guio bastante pela
"intuição"; energia, orações,
etc. Tento traçar
caminhos/etapas. Por exemplo, "Busco dar cada vez mais o
terminei a graduação, tentei melhor de mim para alcançá-
emprego, comecei los. Em caso de "fracasso" às
especialização, continuarei vezes me sinto triste,
tentando mestrado e assim por inicialmente. Busco ser cada
diante. Neste momento da vez mais reflexiva e pensar
"Arrisco-me, tento, "me
minha vida, me sinto e onde posso melhorar, mas
esforço". Entre etapas porque "Qualidade de vida, na minha
percebo-o como um processo abandonar as "energias" (não
sinto falta de ter mais atitudes opinião, é uma relação sadia entre
necessário. Estar longe da era hora para essa experiência,
nas diferentes áreas da minha aspectos orgânicos, psicológicos e
minha família, outros desafios, da forma como eu imaginei?! "Tento resgatar, estimular, mas
vida. Tenho dedicado muito afetivos. O equilíbrio entre as
Profª 6 outros costumes têm sido Aproveitar as aprendizagens me falta mais iniciativa,
tempo para trabalho e estudos, relações profissionais, humanos, com
interpretados por mim como da maneira como motivação."
deixando lazer, 'hobby’ o meio ambiente, familiar, e etc..
uma etapa de vida. Não sei até aconteceram...). Estou sempre
esportes de lado. Adoro, sinto Preciso me ajudar mais e até me
quando ficarei... lidando com quem era, com
falta, mas sempre "peco" nessa sinto bastante resiliante."
continuarei...acabo me quem sou e com quem gostaria
parte."
guiando, neste momento, pelo de ser. Então acabo
prazo para quitar o vivenciando os conflitos entre o
investimento na especialização "olhar com outros olhos",
e pelas oportunidades que vão "exigir muito de mim" e acabar
surgindo. Acredito que maior me comparando, me colocando
especialização me permitirá me para baixo..."
candidatar para processos e
experiências que vão de
encontro aos meus sonhos...
(viagens, empreendimento,
etc.)"
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"Qualidade de vida, a meu ver, é


quando se tem equilíbrio na
"Se eu percebo que algo não realização de atividades necessárias
ocorre como antes ou o que e prazerosas – o que não significa
"A organização de meus "Primeiro penso no que é
"Não considero que tenha faço não é suficiente, reflito na demanda de tempo – e
objetivos se dá pela prioridade necessário ser feito.
“fracassado” em algum tentativa de identificar o que preferencialmente que estejam
que cada um tem. No Dependendo da situação essa
objetivo, mas diante de alguma mudou, se na minha conectadas ambas as situações, ou
momento, o que mais me organização se dá
dificuldade repenso sobre o prática/atitude ou há algo seja, que se goste do que faz. Tenho
Profª 7 anima é o acadêmico, na mentalmente e em outros casos
que é necessário para que seja pontual que é preciso buscado em minha vida, amo o que
realização do mestrado, ainda a partir de registro, como um
alcançado, ainda que demore aprender/desenvolver. É faço, ainda que sejam necessários
que o trabalho restrinja meus cronograma, orientando-me em
mais do que o previsto possível que eu fique bastante ajustes na minha rotina,
horários de estudo e relação a prazos e/ou
inicialmente." irritada e cansada antes de ser especialmente na carga horário do
envolvimento com a pesquisa." expectativas."
capaz de refletir, mas tem dado trabalho para que realize minhas
tudo certo." expectativas/objetivos de curto e
médio prazo, acadêmicos e
pessoais."

Fonte: Hunger, 2014.


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