Trata-se de ação de modificação de guarda onde o pai
pretende a guarda do filho adolescente com 14 anos de idade, pois este último deseja de forma clara morar consigo. Que o menor declara gostar de estudar com o pai, viajar e etc.
Instrumentando a inicial vieram os documentos de fls 06/10.
Regularmente citada (fl. 24v) a Ré apresentou sua peça de
defesa as fls.25/29.
Com a contestação vieram os documentos de fls.31/41.
Réplica as fls.44/46.
Estudo social encontra-se as fls.54/57.
Manifestação das partes sobre o estudo social (fls.60/62 e
64/65).
Estudo psicológico as fls.70/71.
Manifestação da Ré sobre o estudo psicológico (fls.73/75).
No Juizado Informal de Conciliação não foi possível o acordo (fl.80).
Designada mediação, a mesma restou infrutífera (fl.89).
Audiência Preliminar (fl.95).
Audiência de Instrução e julgamento (fls.101/104), com a
oitiva do adolescente.
Promoção do ministério Público opinando pela procedência
do pedido (fl.101/102).
É o relatório. Fundamento.
Cuida-se de ação de modificação de clausula onde o
Autor/pai objetiva a guarda do seu filho/adolescente de 14 anos de idade, sob argumento de que o menor manifesta a vontade de ficar em sua companhia.
De outra banda, a contestante aduz que o Autor não cuida
bem do filho; que seu filho ainda é adolescente, que, por isso, está em período de constante mudança; que o convívio com o genitor não pode ser avaliado apenas nos momentos de visitação.
Essas são as razões das partes, de forma sucinta.
O pedido merece parcial êxito.
Com efeito, este juízo no curso do processo tentou por
várias vezes conciliar as partes, inclusive com designação de mediação que restou infrutífera (fl. 89). Sob esse empuxo, as partes foram informadas sobre o significado da guarda compartilhada e a sua importância, tendo em vista a idade do filho que já conta com 14 anos. Tudo inútil. Afigura-se acentuar que, o presente processo é o terceiro (3) que tem por objeto a guarda do filho, visto que os outros dois estão estampados por cópia as fls.09/10 e 37/38.
Aflora do estudo social e psicológico adunado aos autos
(fls.54/57 e 70/71) que, apesar de tudo, o menor adolescente nutre amor e carinho pelos pais, o que é salutar e bastante benéfico para o seu desenvolvimento.
A bem dizer, este é o terceiro processo em que o “objeto” da
disputa é o filho. Contudo, as partes (genitores) esqueceram que o filho cresceu (adolescente de 14 anos) e agora possui vontade própria e que de maneira nenhuma essa situação de conflito pode continuar. Ora, o conflito é dos pais e não do filho que deseja ser amado por ambos. O interesse do menor-adolescente deve prevalecer sobre o dos pais. Não pode o adolescente ficar a mercê de demandas, o que é deveras prejudicial ao seu desenvolvimento.
Dessa forma, após ouvir o menor em audiência (fls.
103/104), tenho a convicção que a única solução é a guarda compartilhada, verdadeira CARTA DE ALFORRIA do filho, hoje adolescente, de 14 anos de idade. O artigo 1.584, $ 2º do Código Civil, alterado pela Lei nº 11.698/08, assim permite ao Juiz aplicar a guarda compartilhada.
Explico: na hipótese focada, a guarda compartilhada evita
inexoravelmente que os genitores usem o filho – hoje já adolescente – como objeto de disputa (o que vem acontecendo ao longo do tempo – 3º processo), visto que certamente passarão a respeitá-lo como indivíduo e não coisa, de modo afastá-lo do meio do fogo cruzado de seus pais e como corolário de sentimentos de angústia desnecessários (ver depoimento do menor – fls.103/104).
Aqui, a guarda única ou exclusiva do adolescente de 14
anos, aquela conferida a um só dos genitores, passou a ser insuficiente para atender as necessidades e interesses do filho. A guarda compartilhada baseia-se na residência fixa para o menor, partilham-se os direitos e deveres entre os pais. Conclui-se que um dos pais pode manter a guarda material ou física do filho, porém, ambos possuem os mesmos direitos e deveres para com o menor, o que evita disputas. Desse modo, se o adolescente num futuro próximo desejar voltar a residir com a mãe, nesse caso, evita-se nova demanda e o inevitável abalo psicológico do maior e único interessado, qual seja: o adolescente.
Na realidade, pode-se observar, notadamente no
depoimento pessoal do menor que o maior interesse seu está na possibilidade de conviver o máximo possível com ambos os genitores e estes infelizmente estão atrapalhando a sua lídima vontade. Essa convivência incluiu a visitação livre sem limite temporal, o que é deveras recomendável para o menor.
Pois bem: as vantagens da guarda compartilhada estão
presentes na demanda, basicamente em função da idade do adolescente (14 anos), de uma melhora de sua auto-estima, melhora no rendimento escolar, diminuição do sentimento de tristeza e frustração, já que permite o seu acesso sem dificuldade a ambos os pais e de uma convivência igualitária.
Cabe ter presente que, nada obstante o pai e a mãe,
respectivamente Autor e Ré terem desfeito os laços, é importante que o filho adolescente não perca o vinculo com os pais, sendo certo que a guarda compartilhada irá permitir esse maior convívio, conquanto a vontade do menor em permanecer certo tempo com o pai e outro período com a mãe será respeitada, de molde prevalecer o seu melhor interesse.
Parágrafo dedicado ao menor/adolescente NATAN IGOR
ZONTA. Preciso sublinhar que, com a guarda compartilhada você NATAN deixará de ser objeto de disputas judiciais (total de três) e de ser freqüentador assíduo do fórum, conquanto no seu depoimento pessoal foi dito que em decorrência só do presente processo “...já esteve no fórum três vezes;” (fl.s103/104), sendo que pela quarta vez foi na Audiência de Instrução e Julgamento. Você NATAN no seu curto tempo de vida já freqüentou o fórum bem mais que qualquer outro adulto. Agora chega, não é mesmo. Sublinho que, de objeto de disputa, você deve passar a ser merecedor de atenção, carinho, admiração e respeito. Com a guarda compartilhada seus pais necessariamente deixarão de disputá-lo na justiça para lutar pelo seu amor em casa como deve ser. A sua opinião e vontade de agora em diante deverá ser considerada pelos seus pais. NATAN, se os seus pais não se falam entre si, isso é problema deles e não seu. Daqui para frente, pelo menos, seus pais terão que ouví-lo e conversar com você não como objeto de disputa, porém, como um ser humano em formação. NATAN, os pais muitas vezes erram por excesso de zelo e amor. Tente compreender seus pais. Você me passou uma ótima impressão na audiência, pois demonstrou ser um adolescente, calmo, sincero, equilibrado e acima de tudo seguro do que quer. Continue assim. Você é, a bem da verdade, um exemplo para seus pais que infelizmente esqueceram que um dia tiveram a sua idade. Confesso que, você me surpreendeu com sua grande maturidade. Tenho a absoluta certeza que você será um adulto muito melhor que seus pais como, também, possuo a convicção que meus filhos serão melhores do que eu. A guarda compartilhada permitirá a você um maior trânsito a casa do seu pai e de sua mãe e não haverá limitação de tempo de visita, pois a sua idade e maturidade assim permitem. Você NATAN, também, terá a dupla cobrança, visto que haverá co- participação de ambos na sua criação, educação e orientação. Nunca deixe de ouvir seus pais, mas faça-se ouvir também. A guarda compartilhada permitirá isso. Em vez de ações de guarda, de modificações ou revisões e frequência ao fórum, haverá de ter respeito a sua condição de ser humano em formação e aos princípios voltados à proteção da pessoa humana. Assim, a guarda compartilhada no seu caso redimensiona a confirmação desses valores que foram esquecidos pelas partes. NATAN, para finalizar esse parágrafo quero deixar consignado que até o fim do ano letivo você deverá permanecer fisicamente com sua mãe, a fim de não atrapalhar seus estudos já que o seu colégio está localizado na Ilha do Governador. A partir do ano que vem a guarda passará a ser compartilhada e você escolherá com quem irá morar, sempre lembrando que a visitação será livre. Seja feliz. Estou enviando uma cópia dessa sentença para você.
Feitas essas considerações convém acentuar que o filho
precisa igualmente do pai e da mãe. É necessário que um permita o direito de existência do outro na vida de seu filho. A separação conjugal não pode alimentar a ruptura parental, pois o adolescente de 14 anos de idade precisa de ambos para ter um bom desenvolvimento cognitivo, psíquico e emocional. No caso em tela, a guarda conjunta é o único caminho possível para assegurar ao filho/adolescente a presença contínua de ambos os genitores, mesmo que os pais não compreendam a importância dessa convivência.
Isto posto, ante a fundamentação acima, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido, com resolução de mérito (art.269, inciso I do CPC), a fim de deferir a GUARDA COMPARTILHADA do filho/adolescente aos pais, ressaltando que a visitação deverá ser exercida livremente ao outro que não deter a guarda física ou material do menor. Ressalto que, até o final do ano letivo (2009), a guarda física do menor permanecerá com a Ré/mãe, no sentido que os estudos não sofram solução de continuidade, haja vista que o menor está estudando no colégio localizado na Ilha do Governador. Após este período o menor/adolescente terá a faculdade de escolher com quem irá morar, conforme desejo seu externado no curso do processo. As custas serão divididas e os honorários advocatícios compensados, tendo em vista a sucumbência recíproca, ficando suspensa a cobrança em favor da Ré (art.12, da lei nº 1.060/50). Encaminhem-se cópias da sentença as partes, bem como ao menor Natan Igor Zonta, através do correio. Dê-se ciência ao Ministério Público. Com o trânsito em julgado expeça-se o termo de guarda compartilhada. Em seguida, dê-se baixa na distribuição e arquive-se.