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Casamento: Conceito e

Natureza Jurídica
DO CASAMENTO: é o vínculo jurídico estabelecido entre um
homem e uma mulher, estabelecendo uma comunhão plena de
vida, com o fim de formação de família, sendo defeso a qualquer
pessoa de direito público ou privado nela interferir.
O casamento é civil e gratuita a sua celebração. Para aqueles que
comprovarem a pobreza, o processo de habilitação para o
casamento, registro, e primeira certidão será gratuito.
Somente os maiores de 16 (dezesseis) anos poderão contrair
matrimônio, sob pena de anulabilidade. Entretanto, até atingir a
maioridade (18 anos – art. 5º CC), os menores precisarão de uma
autorização dos pais ou do representante legal. Havendo negativa
de concordância, deverá haver o suprimento judicial para tanto.
Esta autorização é revogável até a celebração do casamento.
O casamento religioso terá efeitos civis, desde que registrado no
registro próprio e produzirá efeitos ex tunc, desde a data da sua
celebração.

PROCESSO DE HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO (arts. 1.525


e ss. CC): o processo de habilitação para o casamento é feito
perante o oficial do cartório de registro civil, onde os nubentes
deverão dar entrada nos documentos necessários (art. 1.525 CC),
além de requerimento por eles assinado ou a procuração.
Estando em ordem os documentos, o oficial do registro lavrará os
proclamas, mediante edital. Havendo urgência, o oficial poderá
dispensar a publicação (art. 1.527 CC).
DOS IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS: constituem a ausência de
requisitos que impedem a realização de um casamento válido 1.
Classificam-se em:
 Impedimentos dirimentes públicos ou absolutos (art.
1.521, I a VII CC): fulminam de nulidade o casamento, pois
tem por objetivo preservar a instituição do casamento, o
interesse público. Podem ser opostos pelo oficial do
registro civil; pelo juiz ou por quem presidir a celebração
ou por qualquer pessoa maior e capaz, desde que
apresente declaração acompanhada de provas, ou com a
indicação de onde possam ser obtidas. (art. 1.529 CC).
Impedimento matrimonial refere-se à impossibilidade de
realizar o casamento entre duas pessoas específicas em
razão de alguma peculiaridade entre elas. Já incapacidade
é uma característica da própria pessoa natural que a
impossibilita de casar com qualquer outra pessoa, pela
ausência de idade núbil.
 Impedimentos impedientes ou causas
suspensivas (art. 1.523, I a IV CC): estes impedimentos
não invalidam o casamento, apenas o proíbem em
determinadas situações. Aos infratores serão aplicadas
sanções econômicas, tais como a imposição obrigatória do
regime de separação de bens, a não ser que se prove
ausência de prejuízo. As causas suspensivas têm por
escopo evitar a confusão de patrimônios, a confusão de
sangue e impedir núpcias de pessoas que se achem em
poder de outrem. Os impedimentos impedientes podem
ser argüidos pelos parentes em linha reta de um dos
nubentes (consangüíneos ou afins), e pelos colaterais em
2º grau, sejam também consangüíneos ou afins (art. 1.524
CC).
DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO: o casamento dos
contraentes, previamente habilitados, será celebrado em dia, hora
e lugar previamente designados pela autoridade que presidirá o
ato (art. 1.533 CC). A solenidade deverá ser revestida da máxima
publicidade, a portas abertas, com pelo menos a presença de 2
(duas) testemunhas, parentes ou não. Quando as partes
preferirem a celebração em edifício particular, desde que,
autorizado pela autoridade celebrante, a porta deverá permanecer
aberta durante o ato e o número das testemunhas passa a ser 4
(quatro) (art. 1.534 CC). O mesmo número quando qualquer um
dos nubentes for analfabeto.
Após a declaração de vontade livre e espontânea dos nubentes ou
procurador especial de que pretendem se casar, o casamento só
estará celebrado quando a autoridade celebrante os declarar
casados, em nome da lei (regra contida no art. 1.535 CC). Quando
qualquer dos nubentes se mostrar arrependido, declarar que não é
de sua vontade ou recusar à solene afirmação de sua vontade, não
lhe será permitido retratar-se no mesmo dia.
O casamento poderá ser celebrado, ainda, através de procuração,
por instrumento público, com poderes especiais, possuindo
eficácia por 90 dias. A revogação só pode ser dar por instrumento
público, não necessita chegar ao conhecimento do mandatário;
mas se houver a celebração do casamento sem que o mandatário
ou o outro contraente tivesse ciência, responderá o mandante por
perdas e danos.
DAS PROVAS DO CASAMENTO: prova-se o casamento realizado
no Brasil através da certidão do registro. Na falta justificada
(perda, extravio etc), admitir-se-á qualquer outra espécie de
prova. O casamento celebrado no exterior se prova através da lei
do país onde se celebrou (locus regit actum).
POSSE DO ESTADO DE CASADO: constitui prova indireta de
casamento. É a situação de um homem e uma mulher que
ostentam pública e notoriamente uma relação de casados. Não se
pode contestar o casamento de pessoas (falecidas ou vivas não
puderem manifestar a sua vontade) que ostentam este estado, em
benefício da prole comum, a não ser que se comprove, mediante
certidão do registro que uma delas era casada (art. 1.545 CC).

Casamento Religioso com


Efeitos Civis
Art. 1.515. O casamento religioso que atender às exigências da lei para
validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado
no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua
celebração.
Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos
requisitos exigidos para o casamento civil.
§ 1o O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro
de noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante
ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde
que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste
Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação.
§ 2o O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas
neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for
registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia
habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do
art. 1.532.
§ 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele,
qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento
civil.
()
Modalidades:
 Habilitação anterior à cerimônia §1º do art.
1516 (habilitação prévia à cerimônia – dentro do prazo)
§ 1º O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro
de noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante
ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde
que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste
Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação.
()

De acordo com os artigos 71 a 75 da Lei de Registros Públicos (Lei n.6.015/73), os


nubentes devem fazer o processo de habilitação perante o Registro Civil, onde é
expedido o certificado de habilitação, com o prazo de noventa dias para marcar a
cerimônia religiosa.
Da data da cerimônia abre-se um novo prazo de 90 dias para que a autoridade
celebrante, os próprios nubentes ou qualquer outra pessoa, com a ata ou um
comprovante da cerimônia religiosa, faça o registro civil do casamento junto ao
Registro que produzirá efeitos ex tunc, ou seja, com data retroativa à cerimônia
religiosa.
É preciso entender que esses prazos (90 dias da habilitação e 90 dias do registro)
não são somados. O prazo de 90 dias do registro começa a
contar a partir do dia da celebração religiosa.
 Habilitação posterior à cerimônia § 2º do
art. 1516 (habilitação prévia ao registro, porém posterior à
cerimônia)
§ 2º O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas
neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for
registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia
habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do
art. 1.532.
()

Se os nubentes perderem o prazo, não fizeram o registro em 90 dias, porque não se


interessaram pelo procedimento civil ou simplesmente não fizeram a habilitação,
isso não os impedirá de fazer o registro do casamento para obter efeitos civis a
qualquer tempo, desde que seja mediante prévia habilitação. Neste caso, o registro
no civil também terá efeitos extunc (retroage à data da celebração do casamento
religioso).
OBS:
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da
data em que foi extraído o certificado.
Da Invalidade do
Casamento: Casamento
Inexistente, Nulo e Anulável
O casamento não é válido quando: inexistente, nulo ou anulável.
1. Casamento Inexistente – ausência de pressupostos de
existência: diversidade de sexos, consentimento ou
celebração.
Pergunta: o que é um casamento inexistente?
Resposta: é aquele que não observa nenhum dos elementos, ou
pressupostos de existência:

 Diversidade de sexos;

 Consentimento;

 Celebração na forma da lei.

Não podemos confundir consentimento viciado com a falta de


consentimento, visto que, o primeiro consiste na vontade
exteriorizada de forma equivocada por coação, erro ou dolo, cuja
comprovada existência implica em anulabilidade, e o segundo
refere-se à falta da vontade exteriorizada, fator de inexistência.
Quanto ao elemento celebração, a autoridade pode ser que seja
incompetente, absoluta ou relativamente:
 Incompetência absoluta quando o casamento foi realizado
por pessoa não autorizada. Exemplo: casamento em peça
teatral é inexistente porque não há celebração válida,
prevista em lei, onde o celebrante é absolutamente
incompetente. A Incompetência em razão da matéria
é absoluta e acarreta na inexistência do ato
jurídico.
 Se o casamento é celebrado por outro juiz de paz que não
da circunscrição dos nubentes, a incompetência é relativa,
sendo, nesse caso, ato anulável. A Incompetência em
razão do local é relativa e causa anulabilidade
(estará sujeita ao prazo e efeitos da anulabilidade).
Importante:

 A inexistência é o grau máximo da inobservância, dos


dispositivos legais, para determinado ato jurídico exista no
mundo jurídico;
 A nulidade é ofensa à ordem pública, de conteúdo cogente. A
nulidade não sofre a ação do tempo. A ação declaratória de
nulidade poderá ser interposta a qualquer tempo, sendo os
efeitos ex tunc;

2. Casamento nulo: é aquele contraído com infração de


impedimento absolutamente dirimente (art. 1.521, I a VII
CC), bem como aquele contraído por enfermo mental sem
o necessário discernimento para os atos da vida civil (art.
1.548 CC). Será declarado nulo desde a sua celebração.
3. Casamento anulável: será anulável o casamento
contraído nas hipóteses trazidas pelo art. 1.550 do CC.
Será anulável o casamento contraído por quem não
completou a idade mínima para casar; pelo menor em
idade núbil que não obtiver a autorização do
representante legal; com vício de vontade (erro essencial
sobre a pessoa do outro cônjuge e coação); pelo incapaz
de consentir e manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento; pelo mandatário, sem que ele ou outro
contraente soubesse da revogação do mandato, não
sobrevindo coabitação entre os cônjuges e, por fim, por
incompetência da autoridade celebrante.
A anulação do casamento de menor pode ser requerida pelo
próprio cônjuge menor (180 dias após atingir a maioridade), pelo
representante legal ou seus ascendentes (180 dias após a data da
celebração do casamento) (arts. 1.552 e 1.555 do CC).
O erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge constitui causa
para a anulação do casamento. Considera-se erro essencial quanto
à pessoa do outro cônjuge (art. 1.557 CC): aquele que diz respeito
à sua identidade, honra e boa fama, sendo que este dado
conhecido posteriormente, torne insuportável a vida em comum do
consorte enganado; a ignorância de crime anterior ao casamento
que também torne insuportável a vida em comum (o
NCC não exige condenação criminal, com trânsito em julgado); a
ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável,
ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança,
capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
descendência; a ignorância, anterior ao casamento, de doença
mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em
comum do cônjuge enganado.
OBS: no Código Civil revogado, considerava-se erro essencial sobre
a pessoa do outro cônjuge, passível de se requerer a anulação do
casamento, o defloramento da mulher, ignorado pelo marido. Não
mais existe esta causa!

A coação para ensejar a anulação deve ser aquela em que o


consentimento de um ou de ambos fora captado mediante temor
de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua
ou de seus familiares (art. 1.558 CC).
Será anulado o casamento através de ação anulatória, no prazo
estabelecido na lei (art. 1.560 CC). Trata-se de prazo decadencial,
sendo que, não proposta a ação, o casamento se tornará válido.
Declarado anulado, os efeitos serão ex nunc ( efeitos não retroagem,
valendo somente a partir da data da decisão tomada)

Da Invalidade do
Casamento: Casamento
Putativo
Casamento putativo é o casamento celebrado indevidamente de boa-fé, ou seja, um
"casamento imaginário", no qual, se imaginava ser verdadeiro, por ter preenchido
todos os requisitos de existência, validade e produzido seus efeitos, no entanto,
posteriormente, verificou se um vício, suscetível à anulação. Trata-se do casamento
que embora nulo ou anulável gera efeitos em relação ao cônjuge que esteja de boa-
fé subjetiva

CASAMENTO PUTATIVO: declarado nulo ou anulável o


casamento, o mesmo produzirá efeitos civis válidos em relação
ao(s) consorte(s) e à prole, se houve boa-fé (art. 1.561 CC), até o
dia da sentença anulatória. Se ambos o contraíram de má-fé,
somente aos filhos aproveitarão os efeitos.
Na hipótese de putatividade do casamento (art. 1.564 CC), o
cônjuge culpado perderá todas as vantagens havidas do cônjuge
inocente, bem como, estará obrigado a cumprir as promessas
feitas no contrato ou pacto antenupcial.
Importante observar que os efeitos da má-fé de um ou ambos os
cônjuges não afeta aos filhos oriundos dessa união, o que no
sistema anterior à CF/88, quando havia distinção em relação à
origem da filiação, essa regra tinha ainda mais valia na
preservação dos filhos havidos do casamento putativo.
Não obstante a inexistente atual de qualquer diferenciação entre
os filhos, a questão da putatividade ainda tem sua relevância na
medida que resguarda o cônjuge de boa-fé, tendo ele todos os
direitos patrimoniais oriundos desse consórcio, desde o regime
patrimonial adotado até eventuais doações, mútuos e outros
contratos firmados em razão do casamento. Sem contar o direito à
alimentos, ao uso do nome de família, ao domicílio dos filhos.
Atenção deve se ter em relação à condição de herdeiro do cônjuge
inocente, pois caso seja declarado nulo ou anulável e putatividade
antes do falecimento do cônjuge culpado, não há que se falar em
qualidade de herdeiro do inocente.
No entanto, se a sentença for proferida após o falecimento do
cônjuge culpado, o inocente que teve reconhecido o casamento
como putativo, será herdeiro.
Situação curiosa ocorre em caso de putatividade reconhecida em
casamento nulo decorrente de bigamia após a morte do cônjuge
culpado, pois nessa situação haverão dois cônjuges herdeiros,
quais sejam, o verdadeiramente casado e o putativo, cabendo o
juiz delimitar a parte de cada qual na herança.

Da Eficácia do Casamento:
Princípios, Deveres dos
Cônjuges, Nome e Filiação
DA EFICÁCIA DO CASAMENTO: Através do casamento, homem e
mulher assumem a condição de consortes, companheiros e
responsáveis pelos encargos da família, em consonância com a
igualdade jurídica estabelecida pela Constituição Federal, devendo
exercer conjuntamente e em igualdade de condições o
planejamento familiar (artigos 1.565 e 1.567 do Código Civil).
O atual Código Civil permite que qualquer dos nubentes
acrescente ao seu o sobrenome do outro. Agora, o homem poderá
ter o nome de família da mulher. (§ 1º do art. 1.565 CC).
O planejamento familiar é objeto de livre decisão do casal, não
podendo o Estado interferir.
O casamento cria deveres para ambos os cônjuges (art. 1.566 CC).
São eles:

 dever de fidelidade recíproca;

 vida em comum, no domicílio conjugal;

 mútua assistência;

 sustento, guarda e educação dos filhos;

 respeito e consideração mútuos.

A direção da sociedade será exercida pelos consortes, em


colaboração, sempre no interesse da família. Não mais
prevalece o regime anterior de direção pelo marido, onde era o
chefe da sociedade conjugal. Havendo divergência, qualquer dos
cônjuges poderá recorrer ao Judiciário (art. 1.567 CC).
No atual Código, também, não mais vigora a escolha de
domicílio exclusivamente pelo marido . Agora, o domicílio do
casal será escolhido por ambos (art. 1.569 CC).
Constitui obrigação de ambos os cônjuges, nas devidas proporções
de seus bens e rendimentos do trabalho, o sustento da família e a
educação dos filhos, qualquer que seja o regime de bens.

Regimes de Bens e Pacto


Antenupcial
No regime da comunhão parcial de bens, basta que os nubentes
declarem a vontade perante o oficial do registro civil durante o
procedimento de habilitação. O oficial reduz a declaração a termo,
os nubentes assinam, ao tempo que entregam os documentos
exigidos.
Qualquer outro regime escolhido pelos nubentes (que não seja o
da comunhão parcial de bens) deverá ser feito por meio de ato, de
negócio jurídico solene, que tem forma prescrita em lei. Não se
trata da declaração de vontade feita perante o oficial do registro
civil, mas sim em ato separado, próprio e independente,
denominado de pacto antenupcial. (art. 1640, parágrafo único, do
CC).

ART. 1.640.
Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará,
quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial.

Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de


habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código
regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela
comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura
pública, nas demais escolhas.
O objeto desse contrato, que tem por instrumento a escritura
pública e que se chama pacto antenupcial, não pode ser outro que
não seja o patrimônio, ou seja, os nubentes estabelecem como
será feita a administração e distribuição do patrimônio na
constância do casamento.
PROCEDIMENTO DOS CÔNJUGES QUANTO
AO PACTO ANTENUPCIAL
a. Procurar o tabelião de notas para lavrar a
escritura;

b. Levar a escritura no registro civil para fazer o


procedimento de habilitação;

c. Para ter efeito erga omnes (perante terceiros),


após o casamento, é preciso que se faça o
registro no cartório de registro de imóveis (art.
1657).Obs. Existindo o pacto antenupcial, é
preciso anexá-lo a toda compra de imóveis que se
fizer, mesmo sendo em outra circunscrição.
Obs. Existindo o pacto antenupcial, é preciso anexá-lo a toda
compra de imóveis que se fizer, mesmo sendo em outra
circunscrição.

REGIME DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES: os nubentes têm


liberdade para escolher, antes do casamento, o que lhes aprouver
quanto ao regime de bens (art. 1.639 CC). Não desejando o regime
de comunhão parcial, os nubentes deverão estipular o regime
através do chamado pacto antenupcial, feito por escritura pública,
com eficácia condicionada à realização do casamento (art. 1.653
CC). O pacto, para produzir efeitos contra terceiros (efeito erga
omnes), deverá ser registrado, em livro especial, no Registro de
Imóveis do domicílio dos cônjuges.
A novidade imposta pelo Código Civil de 2002 quanto ao regime de
bens é a possibilidade de ser alterado o regime escolhido , desde
que os cônjuges apresentem um motivo justo e requeiram
uma autorização judicial para tanto. Frise-se que esta alteração
somente será possível se não prejudicar terceiros (§ 2º do art.
1.639 CC).
Na ausência de convenção de regime ou sendo o mesmo nulo,
vigorará o regime legal da comunhão parcial de bens. Optando por
esta espécie, será reduzida a termo no assento do matrimônio.
Sendo escolhido qualquer outro regime, deverá ser feito o pacto
antenupcial, através de escritura pública.
Nenhum cônjuge pode, sem a autorização do outro, com a exceção
do regime de separação de bens (art. 1.647 CC): alienar ou gravar
de ônus real os bens imóveis.
Regime de Comunhão Parcial (art. 1.658 CC): não havendo
opção por outro regime, este é o que vigorará, por ser o regime
legal (escolhido pela lei). Por ele, comunicam-se os bens
adquiridos após casamento, excluindo-se os que cada cônjuge
possuía ao casar, bem como os advindos por doação ou sucessão.
O art. 1.659 do CC enumera os bens que são excluídos da
comunhão parcial e o art. 1.660 prevê os bens que entram na
comunhão.
REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS
 regime legal ou supletivo (prevalece na falta de
pacto ou sendo este nulo)

 torna comuns os bens adquiridos após o


casamento

 torna incomunicáveis os bens anteriores ao


casamento

Regime de Comunhão Universal (art. 1.667 CC): este regime


importa na comunicação de todos os bens adquiridos antes ou
depois do casamento, bem como as dívidas passivas, possuindo
cada cônjuge o direito à metade de todo o patrimônio. Excluem-se
da comunhão os bens enumerados no art. 1.668 do CC.
REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE
BENS
 é regime convencional, portanto, necessita de
pacto antenupcial

 incide sobre bens imóveis e moveis, comunicando


todo o patrimônio anterior e futuro, salvo as
exceções legais.

Regime de Participação Final nos Aqüestos (art. 1.672 CC):


novidade trazida pelo novo Código. Por este regime, cada cônjuge
possui patrimônio próprio (bens que possuía ao se casar e
adquiridos a título gratuito e oneroso após o casamento), cabendo
a cada um, na época da separação, direito à metade dos bens
adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do
casamento. Vigora assim, um regime de separação de bens na
constância do casamento e um regime de comunhão parcial na
época da sua dissolução. Há 2 patrimônios distintos, cada cônjuge
administrando o seu próprio patrimônio, podendo alienar
livremente os bens móveis.
Se um dos cônjuges pagar dívidas em nome do outro (art. 1.679
CC), quando da separação, a mesma será atualizada e será
deduzida da meação do cônjuge devedor.
A apuração do montante dos aquestos deve ser feita no momento
da dissolução da sociedade conjugal.
PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS
 cada cônjuge possui patrimônio próprio.

 na constância do casamento, aplicam-se as regras


da separação de bens.

 na dissolução matrimonial, faz-se a apuração dos


aquestos e aplicam-se as regras da comunhão
parcial de bens.

Regime convencional de separação de bens (art. 1.687 CC):


estipulado pelos nubentes. Por este regime não se comunicam os
bens particulares anteriores ou posteriores ao casamento,
havendo 2 patrimônios distintos, cada um administrando o seu.
Neste regime, cada um deve concorrer para as despesas da
família, nas devidas proporções de seu patrimônio e fruto do
trabalho.
Regime legal de separação de bens (art. 1.641 CC): a lei
impõe como obrigatório o regime da separação de bens para
algumas hipóteses, para preservar ou punir, conforme o caso. São
elas: casamento contraído com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento (impedimentos
impedientes - arts. 1.523 e 1.524 CC); pessoa maior de 70 anos;
de todos aqueles que dependerem de suprimento judicial para se
casarem.
REGIME DA SEPARAÇÃO DE BENS
 Mantém incomunicáveis os bens anteriores e
posteriores ao casamento, mesmo os frutos.

 Cada consorte conserva a administração e fruição


de seus bens.

 Cada cônjuge pode livremente alienar e gravar de


ônus reais seus próprios bens.

 É regime obrigatório nas hipóteses do artigo


1.641 do CC

OBS: o Código Civil de 2002 suprimiu o regime dotal de bens!!!


Dissolução do Casamento:
sociedade conjugal e vínculo
matrimonial. Separação e
Divórcio
I) DA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO: são causas de dissolução
do casamento (art. 1.571 CC):

 morte real ou presumida (art. 6º, 2ª parte CC) de um dos


cônjuges;

 nulidade ou anulação do casamento;

 separação judicial;

 divórcio.

Da Dissolução da Sociedade e do vínculo Conjugal

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:

I. pela morte de um dos cônjuges;

II. pela nulidade ou anulação do casamento;

III. pela separação judicial;

IV. pelo divórcio.

§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos


cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida
neste Código quanto ao ausente.

§ 2o Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão,


o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo
caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial.

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de


separação judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe
grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a
vida em comum.
§ 1o A separação judicial pode também ser pedida se um dos
cônjuges provar ruptura da vida em comum há mais de um ano e a
impossibilidade de sua reconstituição.

§ 2o O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o


outro estiver acometido de doença mental grave, manifestada
após o casamento, que torne impossível a continuação da vida em
comum, desde que, após uma duração de dois anos, a
enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável.

§ 3o No caso do parágrafo 2o, reverterão ao cônjuge enfermo, que


não houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos
bens que levou para o casamento, e se o regime dos bens adotado
o permitir, a meação dos adquiridos na constância da sociedade
conjugal.

Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de


vida a ocorrência de algum dos seguintes motivos:

I. adultério;

II. tentativa de morte;

III. sevícia ou injúria grave;

IV. abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;

V. condenação por crime infamante;

VI. conduta desonrosa.

Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem


evidente a impossibilidade da vida em comum.

Art. 1.574. Dar-se-á a separação judicial por mútuo consentimento


dos cônjuges se forem casados por mais de um ano e o
manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente
homologada a convenção.

Parágrafo único. O juiz pode recusar a homologação e não decretar


a separação judicial se apurar que a convenção não preserva
suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges.
Art. 1.575. A sentença de separação judicial importa a separação
de corpos e a partilha de bens.

Parágrafo único. A partilha de bens poderá ser feita mediante


proposta dos cônjuges e homologada pelo juiz ou por este
decidida.

Art. 1.576. A separação judicial põe termo aos deveres de


coabitação e fidelidade recíproca e ao regime de bens.

Parágrafo único. O procedimento judicial da separação caberá


somente aos cônjuges, e, no caso de incapacidade, serão
representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão.

Art. 1.577. Seja qual for a causa da separação judicial e o modo


como esta se faça, é lícito aos cônjuges restabelecer, a todo
tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo.

Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará o direito de


terceiros, adquirido antes e durante o estado de separado, seja
qual for o regime de bens.

Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação


judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que
expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração
não acarretar:

I. evidente prejuízo para a sua identificação;

II. manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos


havidos da união dissolvida;

III. dano grave reconhecido na decisão judicial.

§ 1o O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá


renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do
outro.

§ 2o Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome


de casado.
Art. 1.579. O divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais
em relação aos filhos.

Parágrafo único. Novo casamento de qualquer dos pais, ou de


ambos, não poderá importar restrições aos direitos e deveres
previstos neste artigo.

Art. 1.580. Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença


que houver decretado a separação judicial, ou da decisão
concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer
das partes poderá requerer sua conversão em divórcio.

§ 1o A conversão em divórcio da separação judicial dos cônjuges


será decretada por sentença, da qual não constará referência à
causa que a determinou.

§ 2o O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os


cônjuges, no caso de comprovada separação de fato por mais de
dois anos.

Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia
partilha de bens.

Art. 1.582. O pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges.

Parágrafo único. Se o cônjuge for incapaz para propor a ação ou


defender-se, poderá fazê-lo o curador, o ascendente ou o irmão.

SEPARAÇÃO DE FATO, JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL - mesmo


não havendo mais a exigência de prévia separação para
concessão do divórcio, como acima exposto, dada a sistemática do
Ordenamento Jurídico Brasileiro, não foram revogados os
dispositivos do Código Civil a respeito da separação, seja ela de
corpos, de fato, judicial ou extrajudicial (esta introduzida pela Lei
11.441/2007), posto que totalmente compatíveis com a EC
66/2010.
EFEITOS DA SEPARAÇÃO
a. Efeitos pessoais: em relação às pessoas dos cônjuges,
temos os seguintes efeitos:

o a separação põe termo aos deveres de coabitação


e fidelidade recíproca e ao regime de bens (art.
1.576 CC);

o o cônjuge culpado perde o direito de usar o


sobrenome do outro, desde que expressamente
requerida pelo inocente, desde que não acarrete:
prejuízo de identificação; manifesta distinção entre
o seu nome e o dos filhos havidos do casamento;
dano grave reconhecido na decisão judicial. O
vencedor pode renunciar a qualquer tempo o nome
do outro. Na separação consensual, o cônjuge pode
ou não continuar a usar o nome;

o como o vínculo conjugal permanece, haverá o


impedimento para um novo casamento;

b. Efeitos patrimoniais: relativamente aos cônjuges,


elencamos os seguintes efeitos:

o põe fim ao regime de bens;

o o dever matrimonial de sustento transforma-se em


obrigação alimentar;

o supressão dos direitos sucessórios.

c. Efeitos quanto aos filhos:

o a separação não altera a relação com os filhos;

o estabelece-se guarda compartilhada, exclusiva ou


à terceiro;

o direito de visita e ter os filhos em companhia


daquele que não obteve a guarda (art. 1.589 CC);

o pensão alimentícia aos filhos menores e incapazes.

Possibilidade de Reconciliação: Decretada a separação do


casal, permite o art. 1.577 do CC a reconciliação do casal, com o
restabelecimento da sociedade conjugal, desde que requerida
pelos cônjuges ao juízo da separação, nos próprios autos, com a
necessária averbação no Registro Civil.
DIVÓRCIO: é a dissolução do casamento válido, que se opera
mediante sentença judicial, habilitando as pessoas a contrair
novas núpcias. Com o divórcio rompe-se o vínculo conjugal.
Ante a redação do § 6º do artigo 226 da CF/88, dada pela EC
66/2010, que não mais exige previa separação ao pedido de
divorcio e na ausência de regulamentação especifica disciplinando
a matéria, podem os cônjuges fundamentar o pedido de divorcio
nos fatos que antes justificavam os pedidos de separação falência,
remédio ou culposa.
Havendo consenso entre os consortes e ausência de filhos
menores e incapazes, podem eles optarem pelo divorcio
extrajudicial introduzido pela Lei 11.441/2007, através de escritura
pública.
EFEITOS DO DIVÓRCIO:

 dissolve-se o vínculo conjugal permitindo novo casamento;

 extingue-se o regime de bens, ensejando a partilha dos


bens;

 cessam os deveres recíprocos dos cônjuges;

 não se permite mais a reconciliação dos cônjuges.

Litígio e Conciliação:
Mediação Familiar
A mediação virou obrigação dos tribunais graças à Resolução 125
do Conselho Nacional de Justiça, editada em 2010.
A norma determina que as Côrtes de todo país criem centros de
conciliação e mediação, chamados de Centros de Justiça e da
Cidadania (Cejusc)
São princípios da mediação:

 Voluntariedade tanto dos mediandos quanto do


mediador.

 Não obrigatoriedade: a qualquer momento o processo


pode ser interrompido, retornando-se ao
procedimento judicial.
 Confidencialidade- Imparcialidade do mediador.

 Autodeterminação: a solução do conflito surge das


próprias partes

Importante não confundir conciliação com mediação. Essa é


indicada para causas familiares, societárias e de vizinhança cujos
vínculos se estendem para além de um fato específico, possuem
um histórico que se perpetua no tempo e por isso são chamadas
de relação continuada.
Em casos de relação continuada, o conflito interrompe a
comunicação entre as partes envolvidas e a mediação possibilita
que essa comunicação seja reestabelecida em bases maduras.
Já a conciliação é adequada para conflitos pontuais, como em um
contrato de compra e venda ou em uma reparação civil decorrente
de abalroamento de veículos, onde não há uma história pregressa.
Especificamente a mediação familiar busca auxiliar as famílias em
conflito para que vençam as mágoas e feridas que as impedem de
seguir novos caminhos sem que afetar negativamente as relações
familiares que permanecer ou, não restando mais vínculos, para
que possam seguir suas vidas sem sofrimento ou angústias.
É possível aplicar as técnicas de mediação familiar a qualquer
conflito afetivo, como nos casos de separação, divórcio, dissolução
de união estável, guarda e regulamentação de visitas e alimentos.
A mediação pode ser preventiva ou intercorrente, sendo
intermediada por terceira pessoa neutra e capacitada como
mediadora pelo CNJ.
Outra consequência importante, é que os processos de mediação
aliviam os tribunais e permitem tanto a celeridade como a
efetividade jurisdicional.

Entidades Familiares
1.1. As Formas de Constituição das Famílias
As espécies mais conhecidas e difundidas de constituição das
famílias na doutrina e na legislação são:
a) Família Matrimonial: é a formada pelo casamento (art. 226
da CF)
b) Família Monoparental: é aquela dirigida por uma só pessoa,
o homem ou a mulher, e ocorre nos casos de separação, divórcio,
viuvez ou mesmo nos casos de pais e mães solteiros com seus
filhos. Também prevista na CF.
c) Família Homoafetiva: formada por pessoas do mesmo sexo. A
expressão “união homoafetiva” foi cunhada por Maria Berenice
Dias.
d) Família Mosaico: Família formada por pessoas que já foram
casadas por mais de uma vez e que trazem para essa nova família
os filhos dos vários relacionamentos. É uma espécie de família
reconstituída.
e) Família Anaparental: É uma espécie controvertida de família,
uma vez que não há unanimidade na doutrina sobre essa
formação. É composta pela união de pessoas que podem ou não
ter vínculos familiares biológicos. Pessoas agregadas também
podem compor um vínculo de família através do afeto. Admite-se
que a família possa ser integrada por outras pessoas, sem vínculos
familiares tradicionais.

1.2. Casamento
O casamento é a união solene entre pessoas de sexos diferentes
entre si, para a constituição de uma família e a satisfação de
interesses próprios e de eventual prole. Esse é o conceito básico
do Código Civil , porém, atualmente já é não apenas reconhecido
mas também admitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Desde maio de 2013, a resolução 175 do CNJ proíbe a
discriminação no reconhecimento de uniões homoafetivas e na
celebração do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Assim, apesar da disposição do art. 1514 do Código Civil que prevê
a realização do casamento entre homem e mulher, já se admite o
casamento homoafetivo, apesar da grande controvérsia a respeito
da forma como se deu essa previsão.
O casamento exige para sua existência, do consentimento dos
nubentes e de celebração solene, feita por celebrante competente.
Para ser válido, o casamento não pode conter vícios nem
impedimentos.
O casamento é civil, apesar de se admitir p casamento religioso
(art.1515) na forma prevista no Código Civil. Também se admite o
casamento por procuração ( art.1542 CC), o casamento consular
( Art. 1544 CC) , e o casamento nuncupativo (art. 1540 CC) .
A idade núbil (idade para casar) ocorre aos dezesseis anos. Mas
aos dezesseis anos será necessário a autorização dos pais para o
casamento.

1.3. Impedimentos Matrimoniais


O art. 1521 do CC dispões sobre os impedimentos matrimoniais.
Impedimentos matrimoniais são situações jurídicas que obstam a
validade e a eficácia do casamento. Caso o casamento se realize
sob algum impedimento, haverá nulidade absoluta do matrimônio.
Os casos de impedimento previstos no art. 1521 do Código Civil
são:
a) Parentesco : Previsto no art. 1521 CC, inc. I a IV .
b) Casamento de pessoas casadas: art. 1521 CC, inc. VI.
c) Casamento realizado entre o cônjuge sobrevivente e o autor do
homicídio daquele que faleceu, que tenha sido condenado por tal
fato: Art. 1521 CC, inc. VII.
A finalidade dos impedimentos é evitar uniões que de alguma
forma, possam ameaçar a ordem pública. A inobservância dos
impedimentos torna o ato nulo de pleno direito.
É importante não confundir a incapacidade civil com o
impedimento. Aquele que é impedido de casar sob certas
circunstâncias, não é incapaz de casar. O irmão não pode casar
com sua irmã, mas pode casar com outra pessoa.

1.4. Causas Suspensivas Do Casamento


As causas suspensivas do casamento, ao contrário dos
impedimentos matrimoniais, não geram qualquer nulidade, apenas
tornam o casamento irregular. Válido, mas irregular. Neste caso,
são causas suspensivas estão previstas no artigo 1523 do CC.
Ao contrário dos impedimentos, as causas suspensivas são
disposições que,se infringidas, acarretam aos cônjuges
determinadas sanções, sem no entanto constituir motivo para a
invalidação do ato.
O objetivo desse dispositivo legal é preservar o interesse de
terceiros, em geral dos filhos de casamentos anteriores, do outro
cônjuge e de pessoas sob guarda de tutores ou curadores.
Enquanto os impedimentos matrimoniais podem ser arguidos por
qualquer pessoa capaz, incluindo o MP, e a qualquer tempo, as
causas suspensivas só podem ser arguidas pelos parentes em
linha reta de um dos nubentes, sejam estes consanguíneos ou
afins, ou pelos colaterais de segundo grau, também colaterais ou
afins (art 1524 CC), até o momento da celebração do casamento.

1.5. Casamento Nulo e Anulável


O casamento será nulo quando celebrado sob um dos
impedimentos do art. 1521 CC. Cumpre observar que a Lei nº
13.146, de 2015 revogou o inciso I do artigo 1548 do Código Civil.
Vejamos:
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os
atos da vida civil; (Redação deste inciso foi Revogada pela Lei nº
13.146, de 2015)
II - por infringência de impedimento.

Neste caso, tal lei 13.146 de 2015 que institui o Estatuto da


Pessoa com Deficiência (publicada no dia 7 de julho e entrou em
vigor 180 dias após sua publicação). Assim, entre vários comandos
que representam notável avanço para a proteção da dignidade da
pessoa com deficiência, a nova legislação altera e revoga alguns
artigos do Código Civil (arts. 114 a 116), trazendo grandes
mudanças estruturais e funcionais na antiga teoria das
incapacidades, o que repercute diretamente para institutos do
Direito de Família, como o casamento, a interdição e a curatela.
Destaca-se o art. 6º da Lei 13.146/2015, segundo o qual a
deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive
para: a) casar-se e constituir união estável; b) exercer direitos
sexuais e reprodutivos; c) exercer o direito de decidir sobre o
número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre
reprodução e planejamento familiar; d) conservar sua fertilidade,
sendo vedada a esterilização compulsória; e) exercer o direito à
família e à convivência familiar e comunitária; e f) exercer o direito
à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Em suma, no plano familiar há uma expressa inclusão plena das
pessoas com deficiência.
Em matéria de casamento também podem ser notadas alterações
importantes engendradas pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência. De início, o art. 1.518 do Código Civil teve sua
redação modificada, passando a prever que, até a celebração do
casamento, podem os pais ou tutores revogar a autorização para o
matrimônio. Não há mais menção aos curadores, pois não se
decreta mais a nulidade do casamento das pessoas que estavam
mencionadas no antigo art. 1.548, inciso I, ora revogado.
Enunciava o último diploma que seria nulo o casamento do
enfermo mental, sem o necessário discernimento para a prática
dos atos da vida civil, o que equivalia ao antigo art. 3º, inciso II, do
Código Civil, que também foi revogado, como visto. Desse modo,
perdeu sustentáculo legal a possibilidade de se decretar a
nulidade do casamento em situação tal. Em resumo, o casamento
do enfermo mental, sem discernimento, passa a ser válido. Filia-se
totalmente à alteração, pois o sistema anterior presumia que o
casamento seria ruim para o então incapaz, vedando-o com a mais
dura das invalidades. Em verdade, muito ao contrário, o
casamento é via de regra salutar à pessoa que apresente alguma
deficiência, visando a sua plena inclusão social.
Seguindo no estudo das modificações do sistema de
incapacidades, o art. 1.550 do Código Civil, que trata da nulidade
relativa do casamento, ganhou um novo parágrafo, preceituando
que a pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil
poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente
ou por meio de seu responsável ou curador (§ 2º). Trata-se de um
complemento ao inciso IV da norma, que prevê a anulação do
casamento do incapaz de consentir e de manifestar de forma
inequívoca a sua vontade. Advirta-se, contudo, que este último
diploma somente gerará a anulação do casamento dos ébrios
habituais, dos viciados em tóxicos e das pessoas que, por causa
transitória ou definitiva, não puderem exprimir sua vontade, na
linha das novas redações dos incisos II e III do art. 4º da
codificação material.
Como decorrência natural da possibilidade de a pessoa com
deficiência mental ou intelectual se casar, foram alterados dois
incisos do art. 1.557, dispositivo que consagra as hipóteses de
anulação do casamento por erro essencial quanto à pessoa. O seu
inciso III passou a ter uma ressalva, eis que é anulável o
casamento por erro no caso de ignorância, anterior ao casamento,
de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de
moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz
de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência
(destacamos a inovação).
Em continuidade, foi revogado o antigo inciso IV do art. 1.557 do
CC/2002 que possibilitava a anulação do casamento em caso de
desconhecimento de doença mental grave, o que era tido como
ato distante da solidariedade “a ignorância, anterior ao
casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado”. (TARTUCE,
2016).
Por fim, ressalta-se que o casamento será anulável nos casos
previstos no artigo 1550 CC, por defeito de idade, por vício da
vontade, revogação de mandato ou incompetência relativa da
autoridade celebrante. Apenas os próprios cônjuges ou seus
representantes legais em casos excepcionais podem arguir a
nulidade relativa ou anulabilidade do casamento, nos prazos
decadenciais previstos no Código Civil. Os efeitos da sentença
anulatória também retroagirão à data da celebração do
casamento.

1.6 Da Dissolução do Casamento


De acordo com o Código Civil, o casamento se extingue:
a) Pela morte de um dos cônjuges;
b) Pela nulidade ou anulação do casamento;
c) Pela separação judicial;
d) Pelo divórcio.
Com relação à separação judicial, após a entrada em vigor da
Emenda Constitucional 66/2010, que alterou o artigo 226,
permitindo o divórcio a qualquer tempo, a grande maioria da
doutrina e dos Tribunais entende que o instituto está revogado,
embora exista uma minoria que entenda que a separação judicial
permanece em vigor.
O divórcio é a forma de extinção do casamento que ocorre pela
vontade de um dos cônjuges ou de ambos. Havendo consenso, o
divórcio será consensual; em caso de discordância, será litigioso.
O divórcio poderá ser feito em Cartório de Notas, desde que
ambos os cônjuges estejam de acordo e que não haja filhos
menores. É necessária a presença de advogado. Nos demais casos,
o divórcio será judicial, de acordo com o disposto nos artigos 1580
e seguintes do CC, ressalvadas as alterações trazidas pela emenda
66 que alterou o art. 226 da CF. Com essa alteração constitucional,
os únicos requisitos para o divórcio são o próprio casamento e a
vontade de não mais continuar casado, requisito totalmente
subjetivo.

1.7. Regimes de Bens no Casamento


Com relação ao aspecto patrimonial do casamento, nosso
ordenamento prevê quatro regimes de bens; a comunhão parcial
de bens , que é o regime legal; a comunhão universal de bens; a
separação de bens e a participação final nos aquestos. Nosso
ordenamento permite a mudança do regime de bens após o
casamento, desde que feito judicialmente, com a concordância de
ambos os nubentes e de forma justificada.
Na comunhão parcial, temos o patrimônio de cada um adquirido
até o casamento como patrimônio particular; e o patrimônio
adquirido onerosamente após o casamento como patrimônio
comum. Os arts. 1658 e seguinte do CC trazem as regras gerais
desse regime.
Os arts. 1667 e seguintes do CC tratam da comunhão universal,
onde todos os bens se comunicam, inclusive aqueles que cada
cônjuge já possuía antes do casamento. Para que esse regime seja
válido, ou qualquer outro que não a comunhão parcial de bens,
será necessário que os cônjuges realizem um pacto antenupcial
(art. 1653 e seguinte do CC), onde escolherão o regime de bens de
sua preferência ou outras disposições patrimoniais permitidas em
lei. O pacto deverá ser feito por instrumento público, sem o qual
não terá validade.
A separação de bens está prevista nos arts. 1667 e 1668 do CC.
Não há comunicação de bens, sendo cada cônjuge responsável por
seu próprio patrimônio. A separação de bens pode ser
convencional, pela vontade das partes manifestada através de
pacto antenupcial, ou determinada por lei, chamada de separação
obrigatória, nos casos previstos no artigo 1641 do CC.
A participação final nos aquestos é um regime híbrido, previsto
nos artigos 1672 e seguintes do CC. Nesse regime, cada cônjuge
administra os próprios bens durante o casamento, mas no caso de
dissolução da união, todos os bens são apurados e divididos entre
o casal, na forma prevista no CC.
Exceto no regime da separação de bens, em todos os demais
regimes será necessária a outorga do cônjuge para a realização de
atos e negócios jurídicos previstos no art. 1647 CC. Sem essa
outorga (chamada de uxória no caso da mulher, e marital no caso
do marido), o ato ou negócio realizado não terá validade..
União estável: Efeitos
patrimoniais e direitos
sucessórios
Efeitos patrimoniais da união estável.
Com relação aos efeitos patrimoniais advindos da união estável,
podemos dizer que existem basicamente três efeitos a serem
considerados: o regime de bens, a sucessão entre os
companheiros e os alimentos.

1. Regime de bens
Não havendo estipulação em contrário por parte dos
companheiros, será aplicado à união estável, por analogia, o
regime da comunhão parcial de bens. Mas nada impede que os
companheiros ajustem outro tipo de regime patrimonial, sempre
por escrito. A forma não precisa ser a mesma do casamento, ou
seja, por escritura pública e pacto antenupcial, em função da
informalidade que reveste a união estável. Porém o instrumento
público dá mais segurança aos companheiros. O acordo, uma vez
concretizado, também pode ser usado como meio de prova da
existência da união estável. Dessa forma, os companheiros
também podem escolher entre o regime da comunhão universal,
comunhão parcial, separação de bens ou participação final nos
aqüestos, desde que o façam por escrito (artigo 1725 do Código
Civil).
Diante da disposição legal aplicável à união estável com relação
ao regime de bens, pode-se afirmar que fica excluída da união
estável, ou seja, de eventual partilha de bens entre os
companheiros:
I - os bens que cada companheiro possuir ao estabelecer a
união estável;
II - os bens havidos por doação ou sucessão, mesmo que a
doação ou a herança ocorra na constância da união estável;
III - bens adquiridos na constância da união estável com
recursos exclusivamente pertencentes a um dos companheiros,
provenientes da venda de bens doados ou herdados durante a
união estável;
IV - as obrigações (dívidas) anteriores à união estável;
V- as obrigações provenientes de ato ilícito, salvo se
reverterão em proveito de ambos os companheiros;
VI - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de
profissão;
VII - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VIII - pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas
semelhantes;
IX - os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior à
união.

A relevância dessa análise, especificamente no caso da união


estável, está na eventual dissolução da união. A legislação sobre o
tema busca a proteção dos companheiros, para que não haja
enriquecimento indevido à nenhuma das partes, uma vez que,
como a Constituição reconhece a união estável como entidade
familiar, é preciso proteger essa instituição.

2. Do direito sucessório entre companheiros


Atualmente, a sucessão dos companheiros é regulada pelo Código
Civil em vigor. Ocorrendo o falecimento de um dos companheiros,
o patrimônio será inventariado, sendo retirado do montante a
meação do companheiro sobrevivente, referente aos bens
adquiridos onerosamente durante a união, que não se transmitem
aos herdeiros. Com relação à outra parte, que seria efetivamente a
herança, esta será dividida em concorrência com os demais
parentes sucessíveis do companheiro morto. Caso não haja
parentes sucessíveis, o companheiro sobrevivente receberá a
totalidade da herança, incluindo aí os bens particulares do finado,
em conformidade com o art. 1790 do CC. Vejamos o teor do
dispositivo legal:
“A companheira ou o companheiro participará da sucessão do
outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da
união estável, nas condições seguintes: I – se concorrer com filhos
comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for
atribuída ao filho; II – se concorrer com descendentes só do autor
da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um
daqueles; III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá
direito a um terço da herança; IV – não havendo parentes
sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.”
O art. 1.790 do CC menciona a participação do companheiro
sobrevivente na herança, porque este não é considerado herdeiro
necessário como é o cônjuge, mas sim, herdeiro legítimo. Nessa
condição tem direito à participação na sucessão, muito embora
possa ser excluído da parte que lhe caiba na herança através de
testamento.Ou seja, não sendo herdeiro necessário, é possível a
sua exclusão da herança pelo companheiro falecido.
Com relação à concorrência do companheiro com os demais
herdeiros, dispõe o inciso I do art. 1.790 do CC, que “ se concorrer
com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por
lei for atribuída ao filho.” Ou seja, concorrendo com filhos comuns,
a sucessão se fará por cabeça, repartindo-se a herança em tantas
partes quantos forem os herdeiros (filhos do companheiro e do
finado). Não há grades dificuldades nessa divisão de bens, pois
basta dividir a herança entre todos os sucessores em partes
iguais.
De acordo com o inc. II do art. 1.790 do CC : “se concorrer com
descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do
que couber a cada um daqueles.” Aqui pode ocorrer um problema:
não existe previsão para o caso de o companheiro sobrevivente
concorrer com os descendentes comuns e descendentes só do
autor da herança. A doutrina e a jurisprudência vêm tentando
buscar solução para o impasse. Na verdade, não se pode aplicar a
solução de cada situação para os respectivos descendentes (incs. I
e II, do art. 1.790), pois haveria desigualdade de quinhões
hereditários entre os filhos, o que violaria a regra da igualdade
entre os filhos .
O inc. III, do art. 1.790 do CC dispõe que “se concorrer com outros
parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança.”
Os outros parentes sucessíveis do autor da herança, a que se
refere o inciso, são os colaterais até o quarto grau, de acordo com
o art. 1.839 do CC. Nesse caso, o companheiro sobrevivente terá
direito a um terço da herança.
Por fim, o inc. IV, do art. 1.790 do CC dispõe que “não havendo
parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.”
Apesar do legislador não ter igualado companheiros e cônjuges em
direitos, o Código Civil avançou com relação aos direitos na união
estável, com o objetivo de proteger as partes envolvidas nesse
tipo de relação.

3. Alimentos na união estável


O novo Código Civil de 2002 dispõe sobre Alimentos nos artigos
1.694 a 1.710. No caso da união estável, eis a disposição legal:
“Art. 1.694.Podem os parentes, os cônjuges
ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição
social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
(grifo nosso). (...)
Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende
não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à
própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-
los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.”
De acordo com o artigo 1.694, os companheiros também possuem
o direito de pedir um ao outro os alimentos de que precisem para
viver, ou seja, o Código Civil não diferenciou, nesse aspecto, os
cônjuges dos companheiros. No próximo tópico, a questão dos
alimentos será abordada com mais detalhes, quando trataremos
da extinção da união estável.
União Estável: Extinção
Da Extinção da União Estável: Generalidades
A união estável extingue-se por fatos imputáveis aos
companheiros, ou por razões alheias à vontade destes. São fatores
de extinção da união estável:
a) A morte de um dos companheiros;
b) A vontade de uma ou de ambas as partes;
c) A quebra de um ou mais requisitos da união estável, referentes
aos deveres dos companheiros. Aplica-se nesse caso, por analogia,
os fatores que também permitem a extinção do casamento por
quebra dos deveres conjugais.
A dissolução da união estável permite a partilha dos bens
adquiridos pelos companheiros durante a relação. Aplica-se o
artigo 1.725 do Código Civil, considerando que , não havendo
contrato escrito em sentido contrário, a união estável se rege, no
que couber, pelas regras aplicáveis ao regime da comunhão
parcial de bens.
A súmula 380 do STF, apesar de antiga, como já dissemos, é
aplicável quando da dissolução da união estável, observado o art.
1725 do CC. Eis o teor da súmula:
“Comprovada a existência de sociedade de fato entre os
concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do
patrimônio adquirido pelo esforço comum.”
Assim, o sistema atual permite a aplicação da referida súmula à
união estável, mas que não se confunda o concubinato com a
união estável. O concubinato, como já explicado em tópico
anterior, é a união não eventual entre homem e mulher ou
pessoas do mesmo sexo impedidos de casar, enquanto que a
união estável é a união entre pessoas que não têm impedimento
para o casamento. Essa distinção é extremamente importante,
pois o concubinato não gera os direitos reconhecidos aos
companheiros em união estável.
A competência para a análise do pedido de reconhecimento e
dissolução da união estável é do juiz da vara de família. Admite-se
o pedido cautelar de separação de corpos para resguardar os
direitos dos companheiros até a efetiva dissolução da união
estável.

1 - Dos alimentos devidos ao companheiro na Extinção da


União Estável
Os companheiros que dissolverem a união estável poderão obter
alimentos um do outro. Os fundamentos do direito aos alimentos
na extinção da união estável são os mesmos que se aplicam nos
casos de extinção do casamento.
A previsão da união estável como entidade familiar na
Constituição de 1988 permitiu o reconhecimento da obrigação
alimentar entre os companheiros. A fixação dos alimentos
dependerá da necessidade do alimentando e da possibilidade do
alimentante.
A culpa não é pressuposto da obrigação alimentar, pois os
alimentos estão baseados no dever de assistência que decorre da
solidariedade entre os conviventes, como acontece nas relações
conjugais.
O direito de alimentos do convivente cessará se ocorrer nova
união estável ou casamento.
A concessão dos alimentos pode ocorrer por meio de decisão
judicial:
a) Que determine o pagamento de alimentos provisórios, ao início
da ação de alimentos;
b) Terminativa de ação de alimentos;
c) Que determina o pagamento de alimentos provisionais, que
podem ser requeridos por medida cautelar, desde que presentes o
fumus boni iuris e o periculum in mora.
A eventual reconciliação dos conviventes cessará a obrigação de
alimentos fixada na dissolução da relação.

2 - Outros efeitos da dissolução da União Estável


Com relação aos filhos e aos direitos de visitas, valem as mesmas
regras aplicáveis aos casos de extinção do casamento, pois o que
importa é a relação entre pais e filhos, independente do estado
civil dos genitores. Sobre guarda e visitas aos filhos menores, o
tema será tratado em um tópico específico.
Sobre os bens, já foi explicado em tópico anterior que se aplicam à
união estável às regras referentes à comunhão parcial de bens, se
outra coisa não for prevista em contrato de convivência. Em caso
de extinção da união estável por morte, as regras sucessórias
serão as do artigo 1.790 do CC, conforme também explicado em
tópico anterior.

Família Homoafetiva:
Generalidades
2 - Reconhecimento da União Homoafetiva pelo STF
O Supremo Tribunal Federal reconheceu, em 2011, a união
homoafetiva como entidade familiar, ao julgar a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADIn) n. 4277 e a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 132,
estabelecendo a isonomia de direitos entre casais hetero e
homossexuais.
A base da decisão foi a igualdade assegurada na Constituição
Federal. A decisão do STF tem efeito vinculante, e tem por objetivo
garantir todos os direitos advindos das uniões estáveis
reconhecidas.

União Estável Homoafetiva


A decisão do STF fez com que a união homoafetiva fosse
reconhecida como uma entidade familiar e, portanto, regida pelas
mesmas regras que se aplicam à união estável dos casais
heterossexuais, regras essas previstas no Código Civil. Vejamos
abaixo o que mudou, e que direitos também estão garantidos à
união homoafetiva:
I - Comunhão parcial de bens: Pelo Código Civil, os parceiros em
união homoafetiva, assim como aqueles de união estável hetero,
declaram-se em regime de comunhão parcial de bens, que por
analogia, é o regime aplicável às uniões estáveis.
II - Alimentos: Assim como nos casos previstos para união
estável no Código Civil, os companheiros em união homoafetiva
ganharam o direito a pedir alimentos em caso de dissolução da
união.
III - Pensões do INSS: O INSS já concedia pensão por morte para
os companheiros homoafetivos de pessoas falecidas, mas a
liberalidade ganhou maior respaldo jurídico com a decisão do STF.
IV - Planos de Saúde: As empresas de saúde em geral já
aceitavam parceiros como dependentes ou em planos familiares,
mas agora, se houver negação, a Justiça pode ter uma posição
mais rápida e mais eficaz.
V - Imposto de Renda: Por entendimento da Receita Federal,
oshomossexuais já podiam declarar seus companheiros como
dependentes, mas a decisão do STF dá uma base jurídica concreta
para a permissão.
VI - Sucessão: Para fins sucessórios, os parceiros ganharam os
direitos de parceiros heterossexuais em união estável.
VII - Adoção: A lei atual de adoção não impede os homossexuais
de adotarem, mas havia uma preferência a casais hetero. Com a
decisão do STF e a equiparação das uniões estáveis, a adoção
para os casais homossexuais deve ser analisada com total
imparcialidade.

Para ser considerada uma união estável, assim como para os


casais heterossexuais, serão necessários alguns requisitos. Não há
um prazo mínimo de convivência, mas deve haver uma
convivência pública, duradoura, contínua, e com a intenção de se
constituir uma família, nos termos do atual Código Civil.

2 - Casamento entre pessoas do mesmo sexo


A já referida decisão do STF sobre o reconhecimento das uniões
homoafetivas não dispôs nada a respeito da possibilidade de
casamento entre pessoas do mesmo sexo. Entretanto, o fato de
haver sido reconhecida a união homoafetiva como uma união
estável, com os mesmos direitos e deveres inerentes à esta, fez
presumir a possibilidade também do casamento entre pessoas do
mesmo sexo, uma vez que os companheiros em união estável
podem converter a união em casamento, nos termos do artigo
1.726 do CC.
Nesse assunto, a polêmica sempre foi muito grande, sobretudo
porque não houve alteração legislativa sobre a matéria. Mas a fim
de atender ao clamor popular e tentar resolver de vez a questão,
foi editada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) a Resolução
175/2013, que dispôs sobre a habilitação e celebração de
casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. A referida
Resolução é extremamente polêmica e questionada,
principalmente no que se refere à constitucionalidade da medida.

Filiação
DA IGUALDADE ENTRE OS FILHOS
De acordo com o princípio da igualdade de tratamento entre os
filhos, não é permitido nenhum tipo de discriminação em função
da origem da filiação. A Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 227 estabeleceu a igualdade plena de tratamento entre
filhos havidos ou não do casamento. Em função disso, aos filhos
devem ser assegurados os meios para preservação e
desenvolvimento de seus direitos fundamentais e todos os demais
direitos da personalidade.
É proibida a prática de qualquer ato que possa prejudicar os
interesses da criança e do adolescente. Além da consagração do
princípio da não discriminação e da igualdade entre os filhos
havidos ou não do casamento, adotou-se o princípio do melhor
interesse do menor, integrado ao ordenamento jurídico pátrio
desde 1.990, quando entrou em vigor o Estatuto da criança e do
adolescente.
Por fim, o art. 1596 dispôs expressamente sobre a igualdade entre
os filhos:
“Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”
Verifica-se que a previsão de igualdade é aplicada tanto aos filhos
naturais ou biológicos , quanto aos adotivos.

Filiação: Presunção de
Paternidade
DA PRESUNÇÃO LEGAL DE PATERNIDADE
O art. 1597 do CC, incisos I a V, tratam da presunção legal de
paternidade. É uma presunção juris tantum (relativa) com relação
ao pai, baseada em probabilidades. Com relação a terceiros, trata-
se de presunção juris et de jure (absoluta), porque ninguém pode
por em dúvida a paternidade atribuída a outro indivíduo, por falta
de legitimidade para a ação.
Nosso Código Civil adotou a teoria romana pela qual “pater is est
quem justae nuptiae demonstrant” (pai é aquele que o casamento
indica como tal) ” . Dessa forma, o marido é o pai dos filhos
nascidos de sua mulher após o casamento, até que em ação
movida exclusivamente pelo marido, se prove o contrário.
É importante frisar que a presunção de paternidade não se aplica
às uniões estáveis, por força do texto do artigo 1597 caput, que
faz menção expressa apenas aos filhos advindos do casamento. Ao
fazer referência expressa da presunção de filiação durante a
constância do casamento, o legislador não garantiu idêntica
proteção aos filhos nascidos durante a constância de uma união
estável. Assim, companheiro em união estável pode se negar a
reconhecer o filho nascido de sua companheira, devendo ser
proposta a competente ação de investigação de paternidade para
garantir o reconhecimento da paternidade á criança.
A lei presume a filiação havida na constância do casamento, do
nascido:
a) em no mínimo 180 dias após o início da convivência conjugal;
Nesse caso, a paternidade não pode ser contestada se o marido,
ao casar, tinha conhecimento da gravidez de sua mulher. Também
não poderá contestar a paternidade se o suposto pai assistiu por si
ou por procurador habilitado, à lavratura do registro de
nascimento sem contestar.
O prazo mínimo de gestação é de cerca de seis meses, de acordo
com a Medicina, havendo viabilidade para o nascimento da
criança. Por isso foi adotado esse parâmetro para a presunção.
b) em 300 dias, subsequentes à dissolução da sociedade conjugal;
Se a mulher contrair novo casamento e der a luz a um filho seu,
este será presumivelmente do primeiro marido se nascer nos 300
dias contados de sua morte, do divórcio ou outra forma de
extinção do casamento.
Esse prazo de 300 dias foi adotado porque uma gestação humana
não ultrapassa esse período, de acordo com a Medicina.
O art. 1600 dispõe que o adultério da mulher, mesmo que
confessado, não é suficiente para afastar a presunção legal de
paternidade. O legislador assim resolveu para que ficassem
protegidos o estado de filiação e os interesses do menor,
considerados mais relevantes.
c) havido a partir de inseminação artificial feita com prévia
autorização do marido.
O legislador estabeleceu as seguintes presunções de paternidade
a partir das técnicas de reprodução humana assistida: a da
fecundação artificial homóloga, a dos embriões excedentários e a
da inseminação artificial heteróloga expressamente consentida
previamente pelo marido. As questões envolvendo essa forma de
reprodução, e consequentemente, da presunção de paternidade,
são polêmicas, e por isso, serão tratadas em tópico próprio.

2 - DA REPRODUÇÃO ASSISTIDA
A reprodução assistida, ou inseminação não-natural, ainda tem
muitos opositores, sobretudo entre os religiosos e determinados
grupos sociais, que entendem como verdadeira e legítima apenas
a reprodução natural.
3 - Inseminação artificial homóloga
A inseminação artificial homóloga é a que contém material
genético proveniente dos próprios cônjuges interessados em ter
filhos. Ou seja, o marido é quem fornece o material genético, isto
é, o esperma, enquanto é utilizado o óvulo da própria mulher.
Nessas condições , presume-se que o filho assim concebido é filho
havido na constância do casamento.
O Código Civil atribui efeitos jurídicos à inseminação homóloga,
determinando a presunção de paternidade do doador do material
genético, ou seja, o marido. O uso desse material genético
depende da anuência prévia do doador, já que trata-se de
propriedade destacada de seu corpo. A disposição sobre a
fecundação homóloga está diretamente relacionada com o
previsto no artigo 1.799, I, do CC. O marido, ao elaborar seu
testamento, pode contemplar os filhos que serão concebidos com
material genético congelado.
Se o marido estiver falecido, mas já tiver dado sua autorização, a
inseminação poderá ser feita, e a paternidade atribuída ao
falecido. Entretanto, o Código Civil não dispõe sobre
inseminação post mortem realizada sem autorização do marido
falecido. Esses casos deverão ser analisados individualmente, pois
afetam não apenas a questão da paternidade, como também os
direitos sucessórios dos eventuais herdeiros do falecido. A questão
é bastante polêmica.

4 - Inseminação artificial heteróloga


A inseminação artificial heteróloga é aquela que contém material
genético fornecido por pessoa estranha aos cônjuges. Em geral
essa técnica é indicada para os casos de esterilidade masculina
definitiva ou em razão de doenças hereditárias.
O indivíduo que cede o material genético para a realização da
inseminação artificial heteróloga deve fazer a cessão sem objetivo
de lucro, ficando assegurado o direito ao sigilo da divulgação de
sua identidade. Também a identidade dos receptores não deve ser
revelada ao doador, de acordo com a Resolução 1.957/2010 do
Conselho Federal de Medicina.
A presunção de paternidade por inseminação artificial heteróloga
consentida pelo marido gera uma espécie de filiação socioafetiva,
afinal geneticamente não há ligação entre pai e filho. Com isso,
percebe-se, mais uma vez, a relevância da afetividade nas
relações familiares, em detrimento da filiação exclusivamente
biológica.

Filiação: Reconhecimento de
Paternidade
Reconhecimento dos filhos
O reconhecimento vem a ser o ato que declara a filiação havida
fora do casamento, e estabelece juridicamente o parentesco entre
pai, mãe e filho. Sim, porque o reconhecimento pode ser da
paternidade ou da maternidade, embora este último seja raro.
Trata-se de ato declaratório, podendo ser voluntário ( ato
particular onde se assume a paternidade ou maternidade em
relação ao filho por declaração verbal ou escrita) ou
forçado/judicial (por meio da propositura de ação de investigação
de paternidade ou maternidade, por exemplo). O ordenamento
jurídico favorece e estimula as formas de reconhecimento de
filhos, para que se alcance o princípio da proteção integral à
criança e ao adolescente.
O Código Civil dispõe sobre o reconhecimento dos filhos nos
artigos 1.607 a 1.617.

Do Reconhecimento Voluntário
O reconhecimento voluntário decorre da livre manifestação do
suposto pai em assumir a paternidade de um filho, fruto de uma
relação sexual por ele mantida com uma mulher , ou ainda de uma
inseminação artificial não consentida.
O reconhecimento voluntário da paternidade pode ser feito:
a) no registro de nascimento;
b) por meio de escritura pública ou de instrumento particular
arquivado no cartório;
c) por meio de disposição testamentária, sendo esta uma hipótese
de reconhecimento post mortem;
d) perante o juiz de direito.

O reconhecimento voluntário é irrevogável, sendo ineficazes


quaisquer condições ou termo nele fixados. Para o reconhecimento
voluntário, pouco importa a origem da filiação, sendo cabível em
qualquer situação, ainda que fora do casamento ou união estável.
Isso acontece em função do princípio da igualdade entre os filhos
havidos do casamento ou fora dele.
O reconhecimento não pode ser revogado pois estabelece uma
paternidade socioafetiva através da manifestação de vontade. A
revogação poderia gerar graves danos à criança e ao adolescente,
principalmente no que se refere à sua personalidade. Só seria
possível a revogação se ficasse demonstrada a ocorrência de vício
de vontade.
No caso do testamento, o reconhecimento de filiação não é
invalidado nem mesmo se houver anulação das disposições
testamentárias ou do próprio testamento. Somente a comprovação
de doença mental do testador na época do reconhecimento poderá
invalidar o ato.
É admitido o reconhecimento voluntário que preceder ao
nascimento do filho, ou seja, entre a concepção e o parto.
Também é admitido o reconhecimento voluntário da paternidade
após o óbito do filho, desde que este tenha deixado descendentes,
nos termos do artigo 1.609, parágrafo único do CC. Essa é uma
disposição que existe também no Estatuto da Criança e do
adolescente, a fim de proteger os direitos do menor com relação à
paternidade. No caso do reconhecimento posterior ao falecimento
do filho, o legislador determinou a existência dos descendentes
porque, caso contrário, não haveria interesse jurídico que
justificasse o ato.
O filho menor, uma vez reconhecido, poderá impugnar o
reconhecimento nos 4 anos subsequentes à maioridade ou
emancipação. Trata-se de direito personalíssimo, e portanto, o ato
não poder impugnado pela mãe.O filho maior só poderá ser
reconhecido se assim o consentir (art. 1614 CC).

Reconhecimento Forçado ou Judicial


O reconhecimento judicial ou forçado do vínculo de paternidade ou
maternidade ocorre principalmente através de ação investigatória.
A ação mais comum é a investigação de paternidade, sendo
possível também a investigatória de maternidade, como por
exemplo no caso de troca de bebês em hospital, incidindo nesse
caso, a regra do art. 1.608 do Código Civil:
“Quando a maternidade constar do termo de nascimento do filho,
a mãe só poderá contestá-la, provando a falsidade do termo, ou
das declarações nele contidas.”
Por isso, a presunção de que a maternidade é sempre certa, é
relativa, admitindo prova em contrário, através da competente
ação judicial. Assim, aplica-se à ação de investigação de
maternidade, as mesmas regras da investigação de paternidade,
no que couber.

Ação de Investigação de Paternidade


Trata-se de ação imprescritível, não se sujeitando aos prazos
decadenciais previstos no Código.
A legitimidade ativa nesta ação é do filho, entretanto, se este vier
a falecer no curso do processo, seus herdeiros têm legitimidade
para prosseguir no feito.Caso a ação de investigação de
paternidade não vier a ser proposta pelo interessado menor ou
incapaz que acabou por falecer, seus herdeiros poderão propor a
medida judicial compatível com essa finalidade, aplicando-se aqui
as disposições do artigo 1.606 do CC. Os herdeiros não têm
legitimidade para propor a ação fora desses casos, pois trata-se de
direito personalíssimo do filho.
Regras fundamentais da investigação de paternidade: contestação
do pedido cabe privativamente à pessoa apontada como pai,
sendo possível aos seus herdeiros prosseguir na ação em caso de
falecimento.
Se o requerido não reconhecer o suposto filho, e contestar o
pedido, poderá alegar que:
a) se encontrava fisicamente impossibilitado de manter relações
sexuais com a mãe;
b) se encontrava separado de fato ou de direito da mãe;
c) é absolutamente impotente, provado o fato através de prova
pericial.

Assim, caso seja investigação de paternidade post mortem, tal


medida será ajuizada em face do espólio do de cujus.
Entre os meios de prova admitidos nessa ação, a prova
fundamental é a pericial , pois a rigor, a paternidade não possui
sinais exteriores. Evidentemente podem haver sinais de
semelhança física entre o suposto pai e o autor da ação, mas esse
fato por si só não é conclusivo.

Os meios de prova pericial mais usados na investigação de


paternidade são:
a) a prova sanguínea, de caráter excludente da paternidade,
porém não pode afirmar com certeza se uma pessoa é ou não
genitora de outra;
b) a técnica de DNA, que permite ao intérprete do exame ter uma
probabilidade quase que absoluta da paternidade ou sobre a sua
exclusão. Entretanto, a probabilidade quase que absoluta, não
autoriza a conclusão de certeza biológica ou matemática.
Outras provas poderão ser admitidas, mas seu valor deverá ser
analisado cuidadosamente pelo juiz, de acordo com o caso
concreto. É o caso das provas testemunhais e documentais.
A recusa do suposto pai em realizar o exame pericial, com base no
princípio de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si, é
possível. Mas se ocorrer a recusa, esta gerará a presunção relativa
de paternidade, admitindo-se prova em sentido contrário. A
questão está prevista na súmula 301 do STJ:
“Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se
não exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade”

Segundo Roberto Senise Lisboa: a lei civil expressamente autoriza


o juiz a considerar a prova suprida se o fato que se pretendia por
meio dela demonstrar não veio a ser comprovado porque a prova
não foi produzida graças à recusa da parte em viabilizá-la.
Por outro lado, não cabe a renovação da investigação de
paternidade, a pretexto de que não foi realizado o Exame de DNA
nos autos do processo , quando já houve a formação da coisa
julgada, pouco importando que a ação tenha sido julgada
improcedente (STJ, 3ª. Turma, AgRgREsp1.236.166-RS, rel. Min.
Ricardo Villas Boas Cueva, j. 2.8.2012, DJ 9.8.2012).
A investigação de paternidade pode ser cumulada com pedido de
alimentos; porém serão alimentos provisórios, pois a pensão
alimentícia só será concedida em definitivo se houver o
reconhecimento forçado da paternidade.
Também se admite a cumulação do pedido de investigação de
paternidade com o pedido de anulação ou retificação de registro
de nascimento.
Sendo a ação de investigação julgada procedente, haverá o
reconhecimento da paternidade e a expedição de mandado de
averbação para que conste do registro de nascimento o nome do
pai e que, se houver o pedido, seja acrescido ao nome do filho o
patronímico do pai. Também se houver o pedido, serão fixados os
alimentos definitivos.
Além do pai e da mãe, outras pessoas estão legitimadas a
contestar a ação de investigação, segundo o artigo 1.615 do CC.
Porém, para exercer esse direito, deverão demonstrar de forma
inequívoca o justo interesse para sua pretensão. É o caso , por
exemplo, de outros filhos do investigado ou outros parentes que
possam ser privados da sucessão com o reconhecimento da
filiação.

Procedimento Administrativo de Reconhecimento da


Paternidade
Quando o declarante do Registro de nascimento for outra pessoa
que não o genitor, o oficial deverá registrar a criança apenas no
nome da mãe, remetendo ao juiz os dados do suposto pai, caso
sejam apontados pelo declarante.
Instaurado o procedimento administrativo de reconhecimento de
paternidade, proceder-se-á à notificação do suposto pai, que
comparecerá em juízo para reconhecer ou não a paternidade.
Não importa nesse caso o estado civil do suposto pai, Ele deverá
ser notificado para comparecer em juízo para declarar se é ou não
o genitor da criança. O procedimento é realizado dessa forma a
fim de se assegurar os interesses do menor, bem como os direitos
decorrentes da filiação.
Reconhecida a paternidade, o juiz determinará que se proceda à
averbação necessária junto ao registro de nascimento. Se ao
contrário, o suposto pai negar a paternidade ou deixar de
comparecer à audiência designada pelo juiz, no prazo de trinta
dias, os autos do processo administrativo deverão ser remetidos
ao Ministério Público, para propositura da competente ação de
investigação de paternidade.

Filiação : Paternidade
Socioafetiva e Negatória de
Paternidade
Paternidade Socioafetiva
O que se vive hoje é o reconhecimento da importância da
paternidade ou maternidade biológica, porém, sem a prevalência
da verdade genética sobre a afetiva. Ou seja, existem situações
em que a filiação é construída com base na socioafetividade,
independentemente do vínculo genético, esse afeto prevalece
sobre a própria verdade biológica.

Por conta dessa tendência no Direito de Família, para situações já


consolidadas no afeto e no tempo, já se falam na possibilidade de
se ajuizar ações de investigação de paternidade socioafetiva.
Afinal a verdadeira paternidade é a daquele que cria os filhos.
Tanto que é no afeto que se formam as adoções, onde existe afeto
e amor independente do vínculo biológico.
É importante destacar que, na hipótese da família biológica ser
impedida de manter o vínculo de afeto, como ocorre no caso de
sequestro de uma criança, a teoria da filiação socioafetiva não
pode prevalecer a favor daquele que subtraiu o menor de sua
família natural.
Não há dúvida que a afetividade está gerando o reconhecimento
de novas formas de família e de filiação, tornando o Direito de
Família mais solidário e humano.

A Negatória de Paternidade
A paternidade pode ser impugnada por aquele cujo nome veio
declarado no registro de nascimento da criança. Esse é o que
chamamos de pai registral.
A ação adequada para desconstituir a declaração do registro é a
negatória de paternidade, prevista no artigo 1601 do CC. A ação é
imprescritível e personalíssima, pois somente o pai registral pode
ajuizá-la.
Uma vez iniciada a ação negatória de paternidade, seus herdeiros
podem prosseguir no processo em caso de falecimento do autor,
mas não têm legitimidade para a propositura da ação, uma vez
que a ação é personalíssima, como já mencionamos.
A intenção do legislador ao determinar a imprescritibilidade da
ação negatória de paternidade foi equipara os direitos do filho aos
direitos do pai, pois a ação de investigação de paternidade sempre
foi imprescritível. No Código Civil anterior, a negatória de
paternidade prescrevia em dois anos.
Apesar das boas intenções, a imprescritibilidade da negatória pode
gerar grandes problemas para os filhos e sua identidade. Se
imaginarmos que um pai pode promover a ação até contra seu
filho adulto de qualquer idade, perceberemos que a ação pode até
destruir famílias, pois toda a relação de afeto poderá ruir por
conta da propositura da ação.
A ação negatória de paternidade pode ser ajuizada pelo pai
biológico que pretende desconstituir o vínculo estabelecido
mediante registro civil. Entretanto, caso o vínculo tenha se
estabelecido entre o pai registral e o filho, transformando-se em
filiação socioafetiva, o vínculo registral deve ser mantido, a fim de
se proteger a família e preservar o afeto que se estabeleceu. É
nesse sentido que muitos tribunais têm decidido.
Nos casos de caracterização de filiação socioafetiva, não cabe à
procedência da ação negatória de paternidade nem mesmo
quando os interessados se sujeitaram à realização do exame de
DNA o resultado foi negativo. Essa é a tendência da jurisprudência.

Poder Familiar
Conceito e Características do Poder Familiar
Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos
pais, no que se refere à pessoa e aos bens dos filhos menores.
O poder familiar atribui muitos deveres aos pais e alguns direitos.
Aos pais cabe zelar pelos bens dos filhos, por sua educação e
segurança. Também cabe aos pais, por força do poder familiar,
representar os filhos menores em juízo ou fora dele.
Percebemos que o poder familiar é instituído no interesse dos
filhos e da família, e não em proveito dos pais, sobretudo em
respeito ao princípio constitucional da paternidade responsável,
estabelecido no artigo 226, § 7º, da Constituição Federal.

2 - Características do Poder Familiar


O poder dos pais sobre os filhos faz parte do estado das pessoas e
por essa razão é inalienável e irrenunciável, assim como não pode
ser delegado a outrem ou substabelecido. Qualquer convenção em
sentido contrário, onde o pai ou a mãe abdiquem desse poder,
será nula de pleno direito.
O poder familiar é um múnus público, já que é o Estado que fixa as
normas para o seu exercício. Também é imprescritível, uma vez
que o genitor dele não decai só pelo fato de não exercitá-lo. A
perda do poder familiar só pode ocorrer na forma e nos casos
expressos em lei.
O poder familiar é incompatível com a tutela, não sendo possível a
nomeação de tutor para menor cujos pais não estejam suspensos
ou destituídos do poder familiar.
De acordo com o artigo 1.630 do Código Civil, "Os filhos estão
sujeitos ao poder familiar, enquanto menores". Assim, com a
maioridade extingue-se o poder familiar, ou mesmo antes, se
ocorrer a emancipação em razão de alguma das causas indicadas
no parágrafo único, do artigo 5º, do Código Civil. Também se
extingue o poder familiar pela morte e em função de decisão
judicial.

3 - Exercício do Poder Familiar


O disposto no artigo 1.631, do Código Civil sobre a igualdade
plena no que tange à titularidade e exercício do poder familiar
pelos cônjuges ou companheiros, está em consonância com o art.
226, § 5º da Constituição Federal, que dispõe que "os direitos e
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente
pelo homem e pela mulher”.
No caso de filhos havidos fora do casamento, estes só estarão
submetidos ao poder familiar depois de legalmente reconhecidos,
já que o reconhecimento estabelece, juridicamente, o parentesco
entre pais e filhos.
Como o exercício do poder familiar é conjunto, o parágrafo único
do artigo 1.631 do CC prevê que, havendo divergência entre os
pais, o Judiciário deverá solucionar a questão.
O divórcio, separação judicial e a dissolução da união estável não
modificam as relações entre pais e filhos, ficando preservados
todos os direitos previstos em lei. É claro que, no rompimento da
união entre os pais, o exercício do poder familiar sofrerá
modificações. O art. 1.632 dispõe sobre a preservação dos direitos
com relação aos filhos em caso de rompimento da relação entre os
pais.
O Código Civil também trata da situação do filho não reconhecido
pelo pai, nos casos de filho havido fora do casamento ou da união
estável, em seu artigo 1.633, dispondo que "O filho, não
reconhecido pelo pai, fica sob poder familiar exclusivo da mãe; se
a mãe não for conhecida ou capaz de exercê-lo, dar-se-á tutor ao
menor".
Quanto à pessoa dos filhos, preceitua o artigo 1.634, do Código
Civil que:

“Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos


menores:
I - dirigir-lhes a criação e educação;
II - tê-los em sua companhia e guarda;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se
o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder
exercer o poder familiar;
V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e
assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes,
suprindo-lhes o consentimento;
VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços
próprios de sua idade e condição."
Quanto aos bens dos filhos, o artigo 1.689 do CC regula a questão
dispondo sobre os direitos e deveres dos pais, nos seguintes
termos:

Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar:


I - são usufrutuários dos bens dos filhos;
II - têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua
autoridade.

Dispõe o artigo 1.693, do Código Civil sobre os bens que são


excluídos do usufruto e da administração dos pais, determinando
que:

"Excluem-se do usufruto e da administração dos pais:


I - os bens adquiridos pelo filho havido fora do casamento, antes
do reconhecimento;
II - os valores auferidos pelo filho maior de dezesseis anos, no
exercício de atividade profissional e os bens com tais recursos
adquiridos;
III - os bens deixados ou doados ao filho, sob a condição de não
serem usufruídos, ou administrados, pelos pais;
IV - os bens que aos filhos couberem na herança, quando os pais
forem excluídos da sucessão".

4 - Extinção e Suspensão do Poder Familiar


A extinção do poder familiar pode acontecer por fatos naturais, de
pleno direito ou por decisão judicial.
Eis o teor do artigo 1.635 do Código Civil sobre a questão:

"Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:


I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638."

O inciso I faz referência à extinção que ocorre com a morte dos


pais, pois com a morte desaparecem os titulares dos direitos.
Ainda quanto ao inciso I, no que se refere à morte do filho; a
emancipação, tratada no inciso II; e a maioridade do inciso III,
ocorre a extinção porque desaparece a figura do menor, objeto da
proteção no poder familiar.
A adoção extingue o poder familiar dos pais naturais, transferindo-
o ao adotante(s). Assim, é causa simultânea de extinção e de
aquisição do poder familiar.
O último inciso do artigo em comento trata das decisões judiciais,
fundamentadas no artigo 1.638 do mesmo diploma legal. Dispõe o
art. 1.638:

"perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:


I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo
antecedente"

A perda do poder familiar é definitiva, embora haja


posicionamento na doutrina em sentido contrário. A decisão
abrange todos os filhos, já que as causas de extinção previstas em
lei são bastante graves, e podem colocar em risco toda a prole.
Quanto à suspensão, temos as seguintes hipóteses no artigo
1.637, do Código Civil:

“Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando


aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos,
cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público,
adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do
menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando
convenha."
Parágrafo único - Suspende-se igualmente o exercício do poder
familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em
virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.”

A suspensão é temporária, devendo subsistir apenas enquanto se


mostre necessária. Finda a causa que a motivou, os pais
temporariamente impedidos de exercer o poder familiar podem
voltar a exercê-lo. A suspensão pode ser total ou parcial, e a
princípio pode se referir a apenas um ou todos os filhos.
A legitimidade para requerer a destituição ou suspensão do poder
familiar é de parentes do menor e do Ministério Público.

Guarda de Filhos
Espécies de guarda
São espécies de guarda:
a. Guarda unilateral: de acordo com o parágrafo 1º do artigo
1.583 do CC, essa guarda é atribuída a apenas um dos genitores,
ou a alguém que o substitua. A guarda unilateral será concedida
ao genitor que tenha melhores condições para exercê-la, e assim,
proporcionar aos filhos o afeto nas relações familiares, saúde,
segurança, educação etc. A guarda unilateral obriga o genitor que
não detenha a guarda, a supervisionar o interesse dos filhos.
b. Guarda compartilhada: o mesmo art. 1583, parágrafo 1º
dispõe sobre a guarda compartilhada como sendo a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do
pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, referentes ao
poder familiar dos filhos comuns. Não deve ser confundida com
guarda alternada. É uma opção interessante para preservar o
melhor interesse dos filhos, porém, é muito importante que o casal
tenha uma convivência harmônica para que seja possível o
deferimento desta modalidade de guarda. É a forma eleita pelo
Código como a mais adequada, embora na prática não esteja
sendo aplicada com tanta frequência, justamente pelos problemas
encontrados no relacionamento entre os pais dos filhos menores.
c. Guarda alternada: nesse formato, tanto a guarda jurídica
quanto a material são atribuídas a um e ao outro genitor, o que
significa uma alternância no período em que o menor mora com
cada um dos pais. Assim, cada um dos genitores, no período de
tempo previamente estabelecido a eles, exerce de maneira
exclusiva a totalidade dos direitos e deveres que integram o poder
parental. Essa forma é desprezada pela doutrina e pela
jurisprudência, porque a criança perde seus referenciais, uma vez
que não terá um lar fixo.
d. Guarda do ninho: Nesse formato, os pais de revezam,
mudando-se para a casa onde vivem os menores, em períodos
alternados de tempo. É uma forma inviável, pois tem alto custo de
manutenção, além do desgaste dos pais com as constantes
mudanças.
e. Guarda provisória ou temporária: é atribuída
provisoriamente a um dos genitores, ou até a um terceiro,
enquanto a guarda definitiva é discutida em ação judicial.
f. Guarda definitiva: guarda fixada em sentença. É importante
lembrar que a guarda nunca é perpétua, podendo ser modificada a
qualquer tempo, em respeito ao princípio do melhor interesse do
menor previsto no ECA.
Dentre as espécies de guarda, as mais relevantes são mesmo a
guarda unilateral e a compartilhada, previstas expressamente no
atual Código Civil.
Características da guarda
Nosso Código Civil, como já dissemos, deu preferência à guarda
compartilhada quando esta for fixada pelo juiz (art. 1.584, par. 2º).
Entretanto, antes de ser fixada, é preciso que o juiz verifique a
condição do relacionamento entre os pais, essencial para que os
filhos menores tenham um bom ambiente para se desenvolver.
Em termos de procedimento, em audiência de conciliação, o juiz
informará ao pai e à mãe as consequências e as responsabilidades
da guarda, seja ela unilateral ou compartilhada.
Especificamente nos casos de guarda compartilhada, para
estabelecer as atribuições do pai e da mãe, e ainda, para fixar os
períodos de convivência sob guarda compartilhada, o juiz poderá,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear
suas decisões em orientações técnico-profissionais ou de equipe
interdisciplinar. Essa é uma regra importante, já que o juiz poderá
contar com a colaboração de profissionais com formação técnica
para ajuda-lo a perceber quem terá melhores condições de exercer
a guarda, tais como psicólogos e assistentes sociais.
Se houver alteração não autorizada ou o descumprimento sem
motivação de cláusula de guarda, unilateral ou compartilhada, o
juiz poderá reduzir as prerrogativas atribuídas ao guardião,
inclusive quanto ao número de horas de convivência com os filhos.
Caso o juiz entenda que o filho não deva ficar sob a guarda de um
dos genitores, a guarda poderá ser deferida a pessoa que mostre
compatibilidade com a natureza da medida, devendo ser
considerados nesse caso, o grau de parentesco, o afeto e a
afinidade entre o terceiro e os menores.
Como é possível a flexibilização da guarda, em função do princípio
do melhor interesse do menor, o juiz poderá, havendo motivos
graves, regular a guarda de maneira distinta das estabelecidas
expressamente na lei.
A mãe ou o pai que contrair novo casamento não perderá o direito
à guarda dos filhos, que só lhe poderão ser retirados mediante
mandado judicial, se ficar provado que não são tratados
adequadamente.
O pai ou a mãe em cuja guarda não estejam os filhos, poderá
visitá-los e tê-los em sua companhia, de acordo com o que ficar
decidido com o outro genitor, ou for fixado pelo juiz, assim como
fiscalizar sua manutenção e educação.
Todas as disposições referentes à guarda e prestação de alimentos
aos filhos menores estendem-se aos maiores incapazes.
Direito de visitas
O Artigo 1.589 do CC dispões sobre o direito de visitas:
O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá
visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com
o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz.
O que deve prevalecer na fixação das visitas é o interesse da
criança. É uma situação difícil para os filhos, pois têm que se
habituar à separação de seus pais. Os genitores não dever perder
esse interesse de vista. Quanto mais discussões e divergências
existirem entre os pais, mais difícil será a adaptação da nova
situação para a criança.
Se um dos pais tem o direito de guarda dos filhos menores, o outro
genitor tem o direito de visitas assegurado por lei. Em alguns
casos, os pais querem estar com os filhos, e outro pode tentar
impedir a visita. Essa situação pode ser gerada por vários fatores:
brigas do casal, atraso no pagamento da pensão alimentícia,
mágoas e outros. Essa conduta pode acarretar um grave
problema: a alienação parental, que estudaremos no próximo
tópico.
O atraso no pagamento de alimentos aos menores não tem relação
alguma com o direito de visitas. Se o pagamento da pensão
estiver em atraso, quem tiver a guarda do filho deve ingressar
com uma ação judicial de execução de alimentos. O impedimento
da visita prejudica não só o devedor, mas também os filhos.
As visitas dos filhos devem ser estabelecidas pelo Juiz na própria
ação de divórcio, separação ou na ação de regulamentação de
guarda cumulada com regulamentação de visitas. Deverão ser
fixados os dias e horários de visitas, bem como a definição de
quem estará com os menores nos períodos de férias e feriados.
Direito de visitas dos avós: Mesmo a guarda sendo deferida a
um ou ambos os pais, os avós têm o direito de visitar os netos.
Essa convivência familiar é fundamental para o bom
desenvolvimento e bem-estar dos menores e também dos avós.
A lei 12.938/2011 regulamentou a matéria, acrescentando o
parágrafo único ao artigo 1.589 do CC, para determinar que o
direito de visitas estende-se a qualquer dos avós. Essas visitas
deverão ser fixadas pelo juiz, caso não haja acordo com os
genitores.
Também foi modificado o art. 888 do CPC, nos seguintes termos:
Art. 888 (...)
VII - A guarda e a educação dos filhos, regulado o direito de visita
que, no interesse da criança ou do adolescente pode, a critério do
juiz, ser extensivo a cada um dos avós”
Dessa forma, os avós terão direito de buscar judicialmente a
regulamentação de visitas aos netos.
Alienação parental e a SAP
A alienação parental é uma conduta promovida por um dos
genitores junto aos filhos menores, a fim de apagar, prejudicar ou
denegrir a imagem e a reputação do outro genitor. Pode até ser
promovida por outras pessoas ligadas aos menores. Essa conduta
pode acarretar um grande mal ao menor, principalmente a
Síndrome da alienação parental – SAP, que é um distúrbio da
infância que aparece quase exclusivamente no contexto de
disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a
campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha
feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação.
Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a
"lavagem cerebral, programação, doutrinação") e contribuições da
própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou
negligencia parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade
da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome
de Alienação Parental para a hostilidade da criança não
é aplicável 2.
Em nosso ordenamento jurídico, a questão ganhou relevância em
função da promulgação da lei 12.318, de 26 de agosto de 2010 - A
lei da alienação parental.
O art. 2º da referida lei estabelece que:
Considera-se ato de alienação parental a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou o adolescente sob a sua autoridade, guarda ou
vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ou
estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este.
A lei da alienação parental nasceu da necessidade de se atribuir
mais poderes, aos juízes para que fossem preservados os direitos
fundamentais da criança e do adolescente, vítimas de abusos
realizados por seus pais ou responsáveis, punindo ou inibindo
condutas que violem os deveres inerentes à autoridade parental
ou decorrentes da tutela ou da guarda dos menores.
O parágrafo único da referida lei prevê algumas formas
exemplificativas de alienação parental:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no
exercício da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar o contato da criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais
relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares,
médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares
deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles
com a criança ou o adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa,
visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o
outro genitor, com familiares deste ou com avós.
É bom lembrar que o rol previsto no dispositivo não é taxativo,
sendo possível ainda, o reconhecimento de outros atos praticados,
declarados pelo Juiz ou constatados por perícia.
As consequências da Síndrome da alienação parental para a
criança e o adolescente são muito graves Podem ser citadas as
seguintes: apresentação de distúrbios psicológicos como
depressão, ansiedade e pânico; desenvolvimento de vício em
drogas e álcool como forma de aliviar a dor e o sentimento de
culpa; suicídio; não conseguir uma relação estável na idade adulta
;possuir problemas de gênero, diante da desqualificação do
genitor atacado; e até a repetição do mesmo comportamento
quando tiver filhos.
Constatada a alienação, caberá ao Juiz, nos termos da lei:

 Dar tratamento prioritário ao processo;

 Determinar medidas que preservem a integridade


psicológica da criança ou adolescente;

 Determinar a elaboração de laudo pericial;

 Advertir o alienador;

 Aumentar a convivência da vítima com o genitor


prejudicado, sendo possível até uma alteração da guarda
para compartilhada ou mesmo inverter a guarda
inicialmente fixada;

 Estipular multa ao alienador;

 Determinar acompanhamento psicológico e/ou


biopsicossocial.

As medidas previstas em lei poderão ser tomadas analisando-se


caso a caso, e independem de eventual responsabilização civil ou
criminal do alienador. A medida deverá ser proporcional ao grau
de evolução da Síndrome de Alienação Parental e aos prejuízos
causados ao menor.
A guarda será conferida a quem reúna melhores condições para
exercê-la. Isso não significa ter melhores condições financeiras,
mas sim, ter as melhores condições gerais, que atendam ao
princípio do melhor interesse do menor, como condições
psicológicas, emocionais etc.

Alimentos: Conceito e
Natureza Jurídica
Generalidades: Natureza Jurídica e Conceito
Os alimentos devem garantir o direito à vida, que é um direito de
personalidade, e o maior direito previsto na Constituição.
Considera-se alimento tudo o que for necessário para a
manutenção de uma pessoa, aí incluídos os alimentos naturais,
habitação, saúde, educação, vestuário e lazer. A soma em dinheiro
para prover os alimentos deve, em tese, ser suficiente para cobrir
todos esses itens ou parte deles, conforme a obrigação alimentar
seja parcial ou total.
O direito aos alimentos é personalíssimo, porque pertence apenas
ao alimentando, traduzido no binômio necessidade x possibilidade.
Não é permitida a cessão, a compensação e a penhora dos
alimentos (art. 1707 do CC) .
De acordo com o artigo 1.694 do CC, têm direito aos alimentos o
cônjuge, o companheiro e os parentes entre si.

Da Fixação dos Alimentos


Para a fixação dos alimentos, é preciso observar o binômio:
necessidade X possibilidade. Ou seja, não basta a necessidade do
alimentando: é preciso saber a possibilidade do alimentante para
prestar esses alimentos.
Em função disso, não se pode falar em prefixação dos alimentos
em percentual, por exemplo, como regra a ser adotada. Tudo
dependerá das condições das partes envolvidas: quanto o
alimentando precisa, e quanto o alimentante pode pagar. Dessa
forma, não existe nenhum dispositivo legal que determina o
pagamento da pensão alimentícia em 30% no mínimo, dos
vencimentos do alimentante. Esse percentual pode ser menor ou
maior, pois tudo depende das circunstâncias de cada caso.
Também não se pode dizer que há ofensa ao princípio da isonomia,
se um filho recebe pensão maior que outro, pois o que deve ser
levado em conta é a necessidade de cada um. As necessidades de
um filho podem diferenciar das necessidades do outro, e aqui
novamente deve ser lembrado o binômio base para a fixação dos
alimentos: necessidade x possibilidade.

Alimentos: Espécies
A classificação das espécies de alimentos é doutrinária, embora
algumas dessas denominações estejam presentes do Código Civil
e no Código de Processo Civil. Porém todas têm base legal, sendo
algumas espécies mais populares que outras. É importante dizer
que a classificação do instituto, sendo teórica e doutrinária, pode
divergir de um doutrinador a outro, pois dependerá da
metodologia adotada por cada um. A classificação adotada aqui é
baseada no trabalho dos professores Pablo Stolze Gagliano e
Rodolfo Pamplona Filho.

Com relação às fontes normativas (referem-se às causas


jurídicas que os originaram), os alimentos podem ser classificados
em:
a) Legais (com base no Direito de Família): São os alimentos
decorrentes das relações de parentesco ou de casamento e união
estável. Esses são os alimentos que permitem a prisão civil do
devedor, sendo interpretados restritivamente.
b) Convencionais ou voluntários (baseados na autonomia
privada) : os alimentos convencionais decorrem da autonomia da
vontade. É assumida uma obrigação alimentar mesmo não se
tendo obrigação legal para isso. Podem decorrer de uma relação
contratual ou de um ato jurídico causa mortis, como o legado.
c) Indenizatórios: os alimentos indenizatórios derivam do
reconhecimento da responsabilidade civil do devedor,
especificamente nos casos em que tenha impossibilitado a
subsistência do credor. Têm previsão no art. 948, II do CC, e seus
fundamentos são a responsabilidade civil e os lucros cessantes.
Entende a doutrina e a jurisprudência majoritária que não cabe a
prisão civil pela falta de pagamento desses alimentos.

Quanto à natureza ou sua abrangência, os alimentos podem


ser:
a) Civis ou côngruos: alimentos civis são os que não se limitam
à subsistência , mas abrangem também os gastos necessários
para a manutenção da condição social do alimentando ( art. 1694
CC).
b) Naturais: são os estritamente necessários para a
subsistência do alimentando (também previstos no art. 1.694 CC)

Quanto ao momento em que são exigidos, classificam-se em:


a) Pretéritos ou vencidos: São os anteriores ao ajuizamento da
ação de alimentos. Não são admitidos em nosso ordenamento,
pois não se consideram devidos, sob a justificativa de que, se o
alimentando conseguiu sobreviver até o ajuizamento da ação de
alimentos, não poderia pleitear pagamentos referentes a fatos
pretéritos.
b) Presentes ou atuais: São os alimentos pleiteados a partir do
ajuizamento da ação.
c) Futuros ou vincendos: São os alimentos devidos somente a
partir da sentença.

Com relação à forma de pagamento, os alimentos podem ser:


a) Próprios: Juridicamente, os alimentos devem prover ás
necessidades básicas da pessoa, para que este viva de forma
compatível com sua condição social, inclusive para que atenda à
necessidades educacionais (art. 1.694 caput, CC) . Por essa razão,
entende-se como alimentos próprios os prestados in natura,
abrangendo as necessidades dos alimentando, na forma prevista
no Código Civil.
b) Impróprios: São os pagamentos feitos em espécie, e apesar
de sua denominação, os pagamentos de natureza pecuniária ( em
dinheiro) são a forma mais comum de prestação de alimentos.

Quanto à finalidade, os alimentos podem ser:


a) Definitivos: Normalmente, os alimentos definitivos são os
fixados por sentença ou decisão judicial, e permitem revisão a
qualquer tempo, uma vez que não fazem coisa julgada material.
b) Provisórios: São os fixados liminarmente, antes da decisão
final que determinará o valor dos alimentos definitivos. A
provisoriedade aqui é com relação ao valor a ser fixado, e não com
relação ao direito em si.
c) Provisionais: São os alimentos previstos no art. 1.706 do CC.
São os alimentos fixados em outras ações que não seguem o rito
especial da lei de alimentos, e têm por objetivo manter a parte
que os pleiteia durante o curso da ação. Daí a denominação de
provisionais, de provisão, prover. São fixados através de tutela
antecipada ou liminar em medida cautelar de separação de
corpos, em ações de anulação de casamento, e ações onde não
existe prova pré-constituída do direito aos alimentos, como é o
caso da ação de investigação de paternidade

Alimentos: Legitimidade e
Renúncia aos Alimentos
Legitimidades ativa no direito aos alimentos
Os alimentos podem ser pleiteados reciprocamente entre os
cônjuges, companheiros e parentes consanguíneos ou civis. Se o
parentesco for apenas por afinidade, não há obrigação alimentar.
O parentesco na linha reta pode ser ascendente ou descendente, e
nessas situações, a obrigação alimentar atinge infinitas
possibilidades. O parentesco na linha colateral extingue-se no 4º
grau, mas com relação à obrigação alimentar, está se restringe
aos irmãos (parentes em 2º grau).
Tios e sobrinhos, a princípio, não devem alimentos uns aos outros.
Entretanto, existe entendimento na doutrina que, uma vez que os
direitos sucessórios atingem os colaterais até o quarto grau,
haveria em contrapartida o ônus da obrigação alimentar, caso não
haja outra possibilidade de subsistência.
A regra para a prestação de alimentos com relação ao parentesco
é a de que o grau mais próximo exclui o mais remoto, ou seja,
entre o pai e o avô, a obrigação recairá sobre o pai, e assim
sucessivamente.
Com relação ao idoso, existe ainda legitimidade prevista em lei. O
art. 14 do Estatuto do Idoso estabelece que:
“Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições
econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público
esse provimento, no âmbito da assistência social”
Nesses casos, a ação é ajuizada na Justiça Federal, contra o INSS,
e geralmente a pensão é fixada em um salário mínimo.

15.2 A renúncia aos alimentos


O ART. 1.707 do CC trata da renúncia aos alimentos, nos seguintes
termos:
“Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o
direito aos alimentos, sendo respectivo crédito insuscetível de
cessão, compensação ou penhora”.
O cônjuge sempre poderá renunciar aos alimentos, que hoje é até
uma possibilidade advinda da igualdade alcançada entre homem e
mulher, socialmente e constitucionalmente. Tanto que os juízes
sempre homologam sem problemas cláusula de acordo nesse
sentido.
A III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal,
aprovou o Enunciado 263, que firmou posicionamento no sentido
de, no exato momento em que se põe fim ao vínculo de direito de
família (que ocorre no divórcio ou na dissolução da união estável),
a renúncia aos alimentos é válida e eficaz, sendo irrenunciáveis
apenas os alimentos decorrentes do parentesco.
Conclui-se que a irrenunciabilidade dos alimentos prevista no art.
1.707 somente aplica-se quando há vínculo de parentesco (e não
de direito de família). Como entre cônjuges e companheiros não há
parentesco, apenas vínculo de direito de família, os alimentos, em
caso de separação e divórcio, são renunciáveis

Alimentos: Divisibilidade,
Prescritibilidade e
Transmissibilidade da
Obrigação Alimentar
Divisibilidade da Obrigação Alimentar
Nos casos em que mais de uma pessoa está obrigada a pagar os
alimentos, essa responsabilidade será dividida entre todas elas na
proporção das possibilidades de cada uma. Podemos identificar as
seguintes possibilidades de divisibilidade no pagamento de
alimentos:
I - Quando o alimentando for idoso: Aplica-se o Estatuto do
Idoso. É considerada idosa a pessoa maior de 60 anos. De acordo
com o artigo 11 do Estatuto do Idoso, os alimentos serão
prestados na forma da lei civil. Entretanto, o artigo 12 da mesma
lei estabelece que a obrigação alimentar é solidária, podendo o
idosos optar pelos prestadores da obrigação alimentar dentre as
pessoas previstas no Código Civil aptas para tal.
II - Quando o alimentante for o avô ou a avó: A princípio, os
alimentos são devidos pelo parente de grau mais próximo, e essa
é a razão pela qual os filhos devem requerer alimentos de seus
pais. Quando o alimentante é ascendente, os alimentos devem ser
pedidos para o de grau mais próximo. Entretanto, é possível
requerer alimentos para ascendente de grau maior, se ficar
comprovado que o de grau mais próximo não tem condições de
pensionar quem precisa dos alimentos. Nessa situação, os
alimentos pedidos para os ascendentes têm caráter subsidiário, e
o pagamento pode ser total, no caso da impossibilidade do
ascendente mais próximo, ou parcial, no caso de complementação,
ou seja, pagamento da diferença da parte faltante.
Eis o que diz sobre o assunto o Enunciado 342 do CJF:
342 – Art. 1.695: Observadas suas condições pessoais e sociais, os
avós somente serão obrigados a prestar alimentos aos netos em
caráter exclusivo, sucessivo, complementar e não-solidário
quando os pais destes estiverem impossibilitados de fazê-lo, caso
em que as necessidades básicas dos alimentandos serão aferidas,
prioritariamente, segundo o nível econômico-financeiro de seus
genitores.
Quando os pais não possuírem condições de pensionar os filhos
para atender suas necessidades, e os filhos optarem por ingressar
com ação de alimentos contra os avós, a jurisprudência não é
unânime sobre a formação do litisconsórcio entre os avós paternos
e maternos, ou seja, se seria possível ou não a escolha do
alimentando sobre quais avós deveriam prestar alimentos.
O STJ é favorável a obrigatoriedade de formação do litisconsórcio,
no mesmo sentido que vem entendendo os Tribunais de São Paulo
e Minas Gerais. Esse é um posicionamento que não é unânime
nem vinculante, e portanto, outros tribunais podem entender de
forma diversa. Porém, parece que o litisconsórcio obrigatório é a
tendência mais forte.
Concluímos que a responsabilidade dos avós é subsidiária e
complementar à dos pais. Entre os avós não há solidariedade, e a
responsabilidade será dividida entre todos de acordo com as suas
possibilidades.
Imprescritibilidade da Obrigação Alimentar
A ação de alimentos é imprescritível, e a qualquer momento é
possível ingressar com esta ação. Porém a pretensão deexigir a
prestação de alimentos já fixada em juízo prescreve em dois
anos (ar. 206, par. 2º CC).,
No caso da cobrança dos alimentos já fixados anteriormente, já
que ela se sujeita a prazo prescricional, é preciso observar as
causas impeditivas e suspensivas da prescrição. O art. 197, II do
CC determina que não corre a prescrição entre ascendentes e
descendentes durante o poder familiar, e o art. 198, I, estabelece
que também não corre a prescrição contra os absolutamente
incapazes, hipótese em que o prazo começa a fluir quando o
menor completa 16 anos de idade, ou quando for emancipado pelo
casamento na hipótese do art. 1.520 CC. Dessa forma, como não
corre a prescrição entre ascendentes e descendentes durante o
poder familiar, é possível, dos 18 aos 20 anos, cobrar débito
alimentar fixado ainda quando o alimentando era recém-nascido,
desde que não tenha sido emancipado.

Transmissibilidade da Obrigação Alimentar


O art. 1.700 do CC dispõe sobre a transmissibilidade da obrigação
alimentar aos herdeiros do alimentante, na forma prevista no art.
1.694 também do CC.
Com o falecimento do alimentante, são transferidas para os
herdeiros as prestações vencidas e as vincendas da obrigação
alimentar, porém, a responsabilidade dos herdeiros com o
pagamento da pensão alimentícia ficará limitada às forças da
herança, conforme regra do direito sucessório, prevista no art.
1.792 do CC. Também nesse sentido o Enunciado 343 do CJF:

343 – Art. 1.700: A transmissibilidade da obrigação alimentar é


limitada às forças da herança.

Após o falecimento do alimentante caberá ainda ação de revisão


de alimentos, uma vez que as dívidas do falecido deverão ser
liquidadas e as despesas com o funeral que pertencem ao espólio
devem ser quitadas, e por essa razão, a possibilidade de
pagamento pelo espólio é menor. A obrigação alimentar pode
atingir a legítima dos herdeiros. Os herdeiros podem ingressar com
ação revisional de alimentos demonstrando que a possibilidade de
pagamento não é mais a mesma. Não querendo a responsabilidade
pelo pagamento da obrigação alimentar, o herdeiro poderá
renunciar a toda a herança.

Alimentos: Termo, Débito e


Transação na Obrigação
Alimentar
Os alimentos são devidos a partir da citação, de acordo com Lei de
Alimentos (Lei 5.578-68, art. 13, § 2º): "Em qualquer caso os
alimentos fixados retroagem à data da citação". Como há a
determinação de incidência dessa lei às ações de separação, de
anulação de casamento e às revisionais, em todas as demandas
em que há a fixação de verba alimentar, o encargo tem como
termo inicial o ato citatório.
Porém, muitos doutrinadores não concordam com essa posição,
entendendo que esse dispositivo estimula a fuga da citação. O
melhor seria que os alimentos fossem devidos a partir da
propositura da ação. Porém, tem sido aplicado o dispositivo da Lei
de alimentos, e os efeitos da sentença que fixa os alimentos
retroagem à data da citação.
Exceção se faz à concessão de alimentos provisórios e
provisionais, que por sua natureza, devem ser pagos assim que
concedidos. Eis nesse sentido o entendimento de Maria Berenice
Dias:
Os alimentos provisórios devem ser pagos desde o momento em
que o juiz os fixa. Equivocado o entendimento que, invocando o §
2º do art. 13 da Lei de Alimentos, sustenta que os alimentos
provisórios se tornam exigíveis somente a partir da citação do
devedor. Não há como sujeitar o pagamento dos alimentos ao ato
citatório. Mantendo o devedor vínculo empregatício, ao fixar os
alimentos, o juiz oficia ao empregador para que ele dê início ao
desconto da pensão na folha de pagamento do alimentante. Os
descontos passam a acontecer mesmo antes da citação do réu.
Não dispondo o devedor vínculo laboral, não há como lhe
conceder distinto prazo e admitir que comece a pagar os
alimentos somente após ser citado. Descabido tratamento
discriminatório: além de deixar o credor desassistido, estar-se-ia
incentivando o devedor a esquivar-se da citação e esconder-se do
Oficial de Justiça. (Em http://www.mbdias.com.br/hartigos.aspx?
10,3, consulta em junho 2014)
Nos casos regulares, a decisão judicial retroagirá à data da
citação, sendo este o termo inicial para pagamento dos alimentos.
Já o termo final dos alimentos ocorre com o término da
necessidade alimentar. É bom frisar que, nem sempre o término da
necessidade coincide com o início da maioridade. Por essa razão, e
em função da grande polêmica sobre o assunto, assim se
posicionou o STJ:

Súmula 358 – O cancelamento de pensão alimentícia de filho que


atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante
contraditório, ainda que nos próprios autos.

A orientação do STJ é a que vem sendo seguida pelos Tribunais.


Pode terminar também a obrigação alimentar nos casos em que
houve pré-fixação de prazo, como nos casos de divórcio ou
dissolução de união estável.

A prisão civil do alimentante


A prisão civil do alimentante está prevista no art. 733 do CPC, que
regula a questão da seguinte maneira:
“Art. 733. Na execução de sentença ou de decisão, que fixa os
alimentos provisionais, o juiz mandará citar o devedor para, em 3
(três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a
impossibilidade de efetuá-lo.
§ 1o Se o devedor não pagar, nem se escusar, o juiz decretar-lhe-á
a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.
§ 2 º O cumprimento da pena não exime o devedor do pagamento
das prestações vencidas ou vincendas; mas o juiz não lhe imporá
segunda pena, ainda que haja inadimplemento posterior.
§ 2o O cumprimento da pena não exime o devedor do pagamento
das prestações vencidas e vincendas. (Redação dada pela Lei nº
6.515, de 26.12.1977)
§ 3o Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o
cumprimento da ordem de prisão.”

De acordo com o artigo em comento, o devedor não será preso se


apresentar justificativa plausível ao juiz. Também ficará livre da
prisão o devedor que efetuar o pagamento das três últimas
prestações vencidas, sob alegação de que a urgência no
pagamento não existe mais.
Nesse sentido, foi editada a súmula 309 pelo STJ:

“O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o


que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da
execução, e as que se vencerem no curso do processo.”

É bom que se interprete corretamente o texto da súmula 309. Se a


citação do devedor for demorada, para afastar a prisão será
necessário pagar não apenas as três últimas parcelas que
venceram antes de ajuizada a ação, mas também as prestações
vencidas no curso do processo. Assim, se por exemplo, o devedor
demorar um ano para ser citado, deverá pagar quinze parcelas
para não ser preso e não três (doze parcelas vencidas no curso do
processo e mais três parcelas anteriores ao ajuizamento da ação).
A prisão do devedor poderá ser decretada pelo prazo máximo de
60 dias. Caso haja o pagamento o devedor será liberado antes. A
cada atraso no pagamento, é possível nova execução, e novo
pedido de prisão do devedor.

Transação dos alimentos


Ninguém pode transigir sobre alimentos futuros, podendo ser
objeto de transação apenas alimentos pretéritos. A transação dos
alimentos encontra amparo legal especificamente no caso de
idosos, mas não há impedimento para que se realize em outras
situações, desde que sobre alimentos pretéritos.
O art. 13 do Estatuto do Idoso regulamenta a transação relativa
aos alimentos aos idosos, permitindo a sua celebração perante o
promotor de justiça ou defensor público, que a homologar, sem a
necessidade de homologação judicial, tendo o acordo força de
título executivo extrajudicial nos termos da lei processual em
vigor.
Alimentos: Os Alimentos
Gravídicos
Os alimentos gravídicos foram introduzidos em nosso
ordenamento pela Lei 11.804 de 05 de novembro de 2.008.
Os Alimentos gravídicos se constituem em verba de caráter
alimentar, e destinam-se às despesas adicionais do período de
gravidez e as decorrentes dessa condição, do momento da
concepção ao parto, incluindo as referentes à alimentação
especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais
necessidades prescritivas e terapêuticas indispensáveis à
gestante, de acordo com o que o médico julgar necessário e o juiz
julgar adequado.
A Constituição Federal de 1.988 assegura ao menor os direitos
fundamentais à vida, saúde, alimentação, encargos estes que
deverão ser providos pelos pais. Esses deveres devem ser supridos
para que ocorra o pleno desenvolvimento da criança ainda no
ventre materno. Daí a intenção de legislador ao conceder a lei de
alimentos gravídicos.
A norma visa proteger a mãe e o nascituro. A lei garante o direito
aos alimentos desde o momento da concepção, bastando para isso
que tenha indícios da paternidade para o requerimento da
obrigação, que permanecerá após o nascimento com vida da
criança, convertendo-se então, em pensão de alimentos a favor do
filho. Essa conversão dependerá do reconhecimento da
paternidade.
Tem legitimidade para propor a ação de alimentos gravídicos a
mulher gestante. Os alimentos serão devidos durante toda a
gravidez.
É importante lembrar que a gestante, ao propor Ação de Alimentos
em face do futuro pai, deve aduzir provas contundentes, que
convençam o Juiz da paternidade alegada. Denunciadas as provas,
e convencido dos indícios da paternidade, o juiz deverá fixar os
alimentos gravídicos.
Esse é o teor do artigo 6º da mencionada Lei:
Art. 6º Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz
fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da
criança, sopesando as necessidades da parte autora e as
possibilidades da parte ré.
Percebe-se que a segunda parte do artigo 6º acima mencionado
deixa bem claro que os alimentos concedidos devem observar as
necessidades da gestante e os recursos financeiros do suposto pai.
Não há dúvida que se trata de importante inovação em nosso
Direito De Família, pois até então, o nascituro não tinha essa
ampla proteção e garantia de subsistência

Tutela
Embora a tutela e curatela sejam institutos independentes entre
si, possuem um ponto em comum: ambos têm por objetivo a
proteção de pessoas incapazes, de fato e de direito, que
necessitam da presença de outrem que possam agir em nome
delas. A tutela é múnus público, e tem caráter personalíssimo.
A tutela é o poder conferido por lei ou pela vontade de terceiros,
no caso, os pais de um menor, à uma pessoa capaz, para que esta
proteja e administre bens de menor que esteja fora do poder
familiar de seus pais.
Nos termos do artigo 932, II do Código Civil, o tutor é responsável
pela reparação civil pelos atos cometidos pelo tutelado que estiver
sob sua autoridade, e em sua companhia.
É permitido aos pais, com exclusividade e em conjunto, o direito
de nomear tutor, conforme dispõe o artigo 1.719 do Código Civil:

"Art. 1.729. O direito de nomear tutor compete aos pais, em


conjunto.
Parágrafo único: A nomeação deve constar de testamento ou de
qualquer outro documento autêntico."
O art. 1.728 do Código Civil estabelece as situações em que um
menor será colocado sob tutela:

“Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela:


I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;
II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.”

A tutela como está definida no CC tem três objetivos básico: a


administração dos bens, os cuidados com a pessoa do menor e a
sua representação para os atos e negócios da vida civil.
São três os tipos de tutela previstos em nosso ordenamento
jurídico atual:
· Tutela testamentária: quando o tutor é nomeado pelos
pais em disposição de última vontade;
· Tutela legítima: quando recai sobre parentes
consanguíneos em decorrência da lei e na falta de tutor nomeado
pelos pais.
· Tutela dativa: quando o tutor é nomeado pelo juiz.
O tutor tem a obrigação de prestar contas, pois é ele o
responsável pela pessoa do menor e pela administração de seu
eventual patrimônio.
O tutor deve prestar contas de dois em dois anos, e também
quando, por qualquer motivo, tiverem que deixar o exercício da
tutela, ou ainda, quando o juiz achar conveniente (art. 1757 do
CC).
Cessa a tutela para o tutelado nos casos previsto nos art. 1763 do
CC:

“Art. 1.763. Cessa a condição de tutelado:


I - com a maioridade ou a emancipação do menor;
II - ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de
reconhecimento ou adoção.”
Para o tutor, cessa a tutela nos casos previstos no artigo 1.764 do
CC:

“Art. 1.764. Cessam as funções do tutor:


I - ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;
II - ao sobrevir escusa legítima;
III - ao ser removido."

Algumas pessoas não podem exercer a tutela, seja por questões


morais, pessoais ou mesmo para evitar a suspeição sobre os atos
a serem praticados no exercício da tutela. O art. 1.735 do CC
elenca esses grupo de pessoas:

“Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela,


caso a exerçam:
I - aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
II - aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se
acharem constituídos em obrigação para com o menor, ou tiverem
que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou
cônjuges tiverem demanda contra o menor;
III - os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por
estes expressamente excluídos da tutela;
IV - os condenados por crime de furto, roubo, estelionato,
falsidade, contra a família ou os costumes, tenham ou não
cumprido pena;
V - as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e
as culpadas de abuso em tutorias anteriores;
VI - aqueles que exercerem função pública incompatível com a
boa administração da tutela.”

A tutela, como já dissemos, é um múnus público, e portanto, a


pessoa só pode se escusar de exercer a tutela nos casos
expressamente previstos em lei. Não havendo previsão legal, a
pessoa está obrigada a exercer o encargo que lhe foi confiado. Os
casos em que a lei permite a escusa da tutela estão dispostos no
artigo 1.736 do CC:

“Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:


I - mulheres casadas;
II - maiores de sessenta anos;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
IV - os impossibilitados por enfermidade;
V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer
a tutela;
VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII - militares em serviço.”

As disposições sobre a tutela estão previstas no Código Civil, nos


artigos 1.728 a 1.765. Os dispositivos são bastante claros, não
exigindo interpretação extensiva sobre o assunto.

CURATELA
PESSOAS SUJEITAS À CURATELA
A curatela recai sobre os maiores incapazes. O artigo 1.767 do CC
dispõe sobre às pessoas sujeitas a curatela:

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:


I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade; (redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015)
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (redação dada
pela Lei nº 13.146, de 2015)
V - os pródigos.
Art. 1.779 . Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando
grávida a mulher, e não tendo o poder familiar.
Parágrafo único. Se a mulher estiver interdita, seu curador será o
do nascituro.
Ressalta-se que os incisos II e IV do artigo 1767 foram revogados
pela Lei nº 13.146, de 2015. Neste caso, observa-se que o Estatuto
da Pessoa com Deficiência regulamenta a Convenção de Nova
York, tratado internacional de direitos humanos do qual o Brasil é
signatário, e que gera efeitos como emenda constitucional (art. 5º,
§ 3º, da CF/1988 e Decreto 6.949/2009).

Assim, nos termos do seu art. 1º, o propósito da Convenção "é


promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de
todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as
pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade
inerente", sendo o melhor caminho é mesmo a dignidade-
liberdade, ao invés da anterior dignidade-vulnerabilidade das
pessoas portadoras de necessidades especiais.

2. PROCESSO DE INTERDIÇÃO: mudanças pelo Estatuto das


Pessoas com Deficiência de 2015 e o Código de Processo
Civil de 2015
Pois bem, em matéria de interdição, consideráveis foram as
mudanças engendradas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência
de 2015 (Lei 13.146 de 2015), estando presentes
vários “atropelamentos legislativos” pelo Novo Código de Processo
Civil de 2015, em vigor desde março de 2016.
Por certo é que o art. 1.768 do Código Civil previa que "a
interdição será promovida"; e passando a enunciar pelo Estatuto
supracitado que "o processo que define os termos da curatela
deve ser promovido". O grande problema é que esse dispositivo
material foi revogado expressamente pelo art. 1.072, inciso II, do
CPC/2015. Sendo assim, pelo menos aparentemente, ficou em
vigor por pouco tempo, entre janeiro e março de 2016 (período
entre o início da vigência do Estatuto de Pessoas com Deficiência
até a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil de 2015).
Cumpre observar que a expressão “deve” que constava no Código
Civil de 2002 em seu artigo 1.768 era criticada por ser uma
obrigação, tendo sido substituída pelo termo “pode”, pelo Novo
Código de Processo Civil. Conforme o art. 747 do CPC/2015, que
supostamente unificou o tratamento do tema. Vejamos:

"Art. 747 do NCPC - a interdição pode ser promovida:


I – pelo cônjuge ou companheiro;
II – pelos parentes ou tutores;
III – pelo representante da entidade em que se encontra abrigado
o interditando;
IV – pelo Ministério Público.
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por
documentação que acompanhe a petição inicial".
Observação: Repise-se que essa é a norma que prevalece desde
março de 2016, perdendo vigência, aparentemente, o preceito
incluído pelo Estatuto das Pessoas com Deficiência, que
estabelece também a legitimidade ao próprio sujeito
(autointerdição).

a) Manifestação do Ministério Público no processo de


interdição
O mesmo deve ser dito em relação ao art. 1.769 do Código Civil,
que passou a prever, com o Estatuto das Pessoas com Deficiência,
que o Ministério Público somente promoverá o processo que define
os termos da curatela: a) nos casos de deficiência mental ou
intelectual; b) se não existir ou não promover a interdição alguma
das pessoas designadas nos incisos I e II do artigo 1.768; e c) se,
existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas no inciso
antecedente.
Nota-se novamente que o Novo Código de Processo Civil revoga
esse preceito (art. 1.072, inciso II). Aperfeiçoando a redação do
art. 1.178 do CPC/1973, o art. 748 do Novo Codex passa a
estabelecer que o Ministério Público só promoverá interdição em
caso de doença mental grave:
I - se as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não
existirem ou não promoverem a interdição; e
II - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas nos
incisos I e II do art. 747.
O que se percebe é que a legitimidade do MP é
somente subsidiária e extraordinária, funcionando como substituto
processual, seja por uma ou por outra norma. De toda sorte, o
texto alterado pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência é mais
amplo, ao mencionar a sua legitimidade em caso de deficiência
mental ou intelectual, o que não consta do Novo CPC.

b) O papel do perito e do juiz na curatela


Nos termos do art. 751 do Novo Código de Processo Civil de 2015,
que igualmente concentrou o tratamento da situação e que
prevalecerá ao final, o interditando será citado para, em dia
designado, comparecer perante o juiz, que o entrevistará
minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, vontades,
preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe
parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade
para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as
perguntas e respostas. Não podendo o interditando deslocar-se, o
juiz o ouvirá no local onde estiver (§ 1º). A entrevista poderá ser
acompanhada por especialista (§ 2º).
Durante a entrevista, é assegurado o emprego de recursos
tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o interditando a
expressar suas vontades e preferências e a responder às
perguntas formuladas (§ 3º). A critério do juiz, poderá ser
requisitada a oitiva de parentes e de pessoas próximas (§ 4º do
art. 751 do CPC/2015).
Por fim, cumpre observar que o art. 753, § 2º, do CPC/2015 define
que "O laudo pericial indicará especificadamente, se for o caso, os
atos para os quais haverá necessidade de curatela".

c) Possibilidade da curatela compartilhada


Estabelece o artigo 1.775-A do Código Civil que na nomeação de
curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer
curatela compartilhada a mais de uma pessoa. Portanto, trata-se
de uma novidade que está de acordo com a solidaredade familiar,
mediante a cooperação fraterna dos curadores.

d) Registro da curatela no cartório


Terminado o processo de interdição, é expedido o mandado de
interdição, que deverá ser registrado no livro “E” do Cartório de
Registro Civil do 1º Subdistrito da comarca onde o interditado
reside. O referido Cartório deverá expedir comunicação ao registro
civil que registrou o nascimento e o casamento (se houver) do
interditado, de acordo com o art. 92 da Lei de Registros Públicos
(Lei 6.015/73).
Aplicam-se à curatela, no que couber, as disposições referentes à
tutela, observadas as seguintes peculiaridades sobre à curatela:
I - O cônjuge ou companheiro não separado de fato ou de direito
do interditando, será o seu curador;
II - Na falta de cônjuge ou companheiro, será curador legítimo o
pai ou a mãe do interditando, e na falta destes, o descendente
mais apto. Ausentes tais pessoas, competirá ao juiz a escolha de
um curador;
III - A autoridade do curador se estende à pessoa e aos bens dos
filhos do curatelado;

3. TOMADA DE DECISÃO APOIADA


Por determinação do artigo 116 do Estatuto de Pessoas com
deficiência, insere-se no Código Civil, através do recém-criado
artigo 1783-A, novo modelo alternativo ao da curatela, que é o da
tomada de decisão apoiada. Vejamos:
Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual
a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas
idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua
confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos
da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações
necessários para que possa exercer sua capacidade. (Incluído
pela Lei nº 13.146, de 2015)
Como visto no texto legal acima, neste novo sistema da tomada
de decisão apoiada, por iniciativa da pessoa com deficiência são
nomeadas pelo menos duas pessoas idôneas "com as quais
mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe
apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-
lhes os elementos e informações necessários para que possa
exercer sua capacidade." Note-se que a tomada de decisão
apoiada não se relaciona, necessariamente, com o portador de
transtorno mental, podendo ser requerida por qualquer sujeito
classificável como deficiente nos termos do Estatuto.

a) Objetivos da tomada de decisão apoiada


Privilegia-se, assim, o espaço de escolha do portador de transtorno
mental, que pode constituir em torno de si uma rede de sujeitos
baseada na confiança que neles tem, para lhe auxiliar nos atos da
vida. Justamente o oposto do que ocorre em algumas situações de
curatela fixadas à revelia e contra os interesses do portador de
transtornos mentais.
A adoção de medidas diferentes da curatela é algo que pode ser
encontrado na experiência estrangeira como na França. Contudo,
em outros países já houve a exclusão da curatela à revelia do
portador de transtornos mentais, tais como: sistema da Áustria e
Alemanha.
Cumpre observar que trata-se de regime que, à semelhança da
curatela, se constituirá também pela via judicial. O juiz, antes de
decidir, deverá ouvir não apenas o requerente, como também os
apoiadores, o Ministério Público e equipe multidisciplinar (artigo
1783-A, §3°).
Note-se que a tomada de decisão apoiada é medida cuja
legitimidade ativa cabe somente ao sujeito que dela fará uso
(artigo 1783-A, §2°), o que reforça o papel da autonomia do
portador de transtorno mental. Possuirá apoiadores não porque lhe
foram designados, mas porque assim o quis.
Este respeito à autonomia do apoiado prossegue presente no
próprio termo em que se faz o pedido do estabelecimento de
tomada de decisão apoiada. Em tal termo, firmado pelo apoiado e
pelos apoiadores, é necessário conforme prevê o artigo 1783-A,
§1° que “constem os limites do apoio a ser oferecido e os
compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do
acordo e o respeito a̿ vontade, aos direitos e aos interesses da
pessoa que devem apoiar” (REQUIÃO, 2015).
Destaque-se, portanto, que a tomada de decisão apoiada poderá
ser diferente para cada sujeito, já que o termo que for
apresentado é que especificará os limites do apoio. Um
questionamento que pode surgir no que toca ao “prazo de
vigência do acordo” é se pode ele ser indeterminado. Paula Távora
Vítor, analisando na legislação europeia medidas que seguem a
mesma lógica da tomada de decisão apoiada, afirma que a
determinação mais comum nelas é pelos prazos determinados,
embora, na prática, haja tendência em perpetuá-las (VÍTOR, 2008,
p. 175-176).
Vale ressaltar que o artigo 1783-A, § 4 o define que “a decisão
tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros,
sem restriçoÌ¿es, desde que esteja inserida nos limites do apoio
acordado. Contudo, terceiro com quem a pessoa apoiada
mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores
contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito,
sua função em relação ao apoiado (§ 5 o).

b) Possíveis problemas e soluções legais para a tomada de


decisão apoiada
O legislador pátrio, em conformidade com o Estatuto, estabeleceu
que em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo
relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa
apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério
Público, decidir sobre a questão (artigo 1783-A, §6º do Código
Civil). Ademais, se o apoiador agir com negligência, exercer
pressão indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá
a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao
Ministério Público ou ao juiz (§7º). Desta forma, caso seja
procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará,
ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa
para prestação de apoio (§8º).

c) Fim da decisão apoiada


O artigo 1783-A, §9º estabelece que “a pessoa apoiada pode, a
qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em
processo de tomada de decisão apoiada.
Outrossim, o próprio apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de
sua participação do processo de tomada de decisão apoiada,
sendo seu desligamento condicionado aÌ¿ manifestação do juiz
sobre a matéria (§9º).

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