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Cuidar do marketing pessoal contribui para o sucesso

Um mercado executivo menos aquecido significa que oportunidades de promoção e propostas


com salários inflacionados já não aparecem com a mesma frequência de alguns anos atrás. Nesse cenário,
é fundamental que profissionais se destaquem no que fazem e garantam que seu trabalho seja visto. Mas,
equilibrar-se na linha tênue entre buscar reconhecimento para suas realizações e ser encarado como
alguém que só quer se vender não é tarefa fácil.
Na correria do dia a dia pode ser complicado se dedicar a mais esse aspecto do trabalho - seja
garantir que seus resultados fiquem visíveis dentro da empresa onde trabalha ou para o mercado como um
todo -, mas especialistas reforçam que essa é uma habilidade essencial para profissionais atualmente.
Claudia Monari, diretora de outplacement da consultoria C areer Center, diz que a capacidade de fazer
marketing pessoal é um dos maiores "pontos fracos" nos profissionais que a procuram. "A maioria acha
que fazer o mínimo exigido pelo trabalho é suficiente para que seja vista. Mas o sucesso não chega para
essas pessoas", diz.
Para Daniela Lopes, da empresa de recrutamento executivo Red, muitos erram ao se preocupar
com esse tipo de exposição apenas durante a busca por uma recolocação. "É preciso trocar experiências,
processos e se tornar referência em sua área", diz. Dentro da empresa, é essencial manter a interação com
outros departamentos e se relacionar com profissionais que não trabalham diretamente com você. Já fora,
a estratégia é estar conectado a formadores de opinião e ter uma rede de contatos robusta.
Na opinião de Irene Azevedo, diretora de negócios da LHH|DBM, o primeiro passo é o
autoconhecimento. "O profissional tem que estar completamente ciente dos seus pontos fortes e do que
falta melhorar. A partir disso, pode traçar um plano como se fosse um produto", diz.
Uma boa saída, diz Irene, é manter um banco de dados de si mesmo, uma espécie de "caixinha
do eu me amo", onde se deve registrar as principais realizações profissionais. Claudia, da Career Center,
costuma sugerir um exercício: pedir que a pessoa enumere 15 projetos que a diferenciam no mercado.
"Não adianta só falar, é preciso se preparar para conseguir mostrar exemplos do que já fez", diz. Além de
deixar a pessoa munida de informações para esse tipo de conversa, o exercício ajuda na autoestima, diz a
consultora.
Um aspecto importante dessa estratégia é o equilíbrio entre expor a própria marca e não ser visto
como um interesseiro, que só quer se vender - um dos pontos, inclusive, que fazem muitos virarem a cara
para os conceitos de marketing pessoal. "Essa fórmula não existe, o termômetro precisa ser interno", diz
Irene. É impossível fugir desse risco se a intenção única do profissional for, de fato, aparecer. Por isso, os
especialistas destacam a importância de encarar o processo como uma troca - se você não tiver o que
oferecer além de um currículo vazio, dificilmente será visto como mais do que isso.

O primeiro passo é garantir que o crédito seja recebido por quem merece. "Como executivo,
você tem que mostrar resultado ao mesmo tempo em que lidera pessoas. A abertura de apresentação de
um projeto, por exemplo, tem que ser sua, mas o crédito é da equipe", diz Irene, da LHH. O headhunter
Darcio Crespi, sócio-diretor da Heidrick & Struggles, destaca que, toda vez que ouve um executivo falar
demais sobre o que "ele" fez, já desconfia de que se trata de um líder ruim. "Ninguém faz nada sozinho
em uma empresa grande. Falar da equipe é demonstração de boa liderança", diz.
Estar disposto a ajudar é mais um ponto que deve permear todo o processo de exposição do seu
trabalho. "É fundamental sempre pensar no outro. Qual a consequência positiva para quem está ouvindo?
Ser uma referência no mercado para ajudar em projetos semelhantes, por meio de palestras e artigos, é
uma boa forma de se tornar conhecido", diz Claudia, da Career Center.
Nenhuma rede de relacionamentos se mantém se você não se dispor a ajudar aqueles com quem
fala - é assim, normalmente, que se consegue ajuda de volta. Há cerca de três meses, Dijalma Lima
começou em um novo emprego como diretor em uma empresa de logística. A oportunidade surgiu
quando um amigo foi chamado para a posição e não aceitou a oferta, mas o indicou. Ao longo dos 20
anos de carreira na área de supply chain, todas as suas movimentações de empresas aconteceram por meio
da rede de contatos que ele mantém de forma bastante organizada.
A prática começou quando fez um MBA, em 2001, e passou a encontrar a turma com que se
formou uma vez a cada seis meses. Hoje, ele se organiza para participar com regularidade de eventos da
sua área, está em grupos de estudos e se esforça para manter ativa uma agenda de cerca de 800 pessoas.
Entre almoços, cafés e telefonemas - que ele faz diariamente, num espaço de 30 minutos separado
especificamente para isso - consegue manter o contato com pelo menos 120 pessoas mensalmente. "Isso
solidifica a rede não só para mim, mas para os outros que fazem parte dela", diz. Esse gerenciamento é
feito em uma tabela de Excel organizada por prioridades, para garantir que nenhum nome seja deixado de
lado.
Mas, para o executivo, não adianta apenas falar - o mais importante é a troca de informações e
experiências. Assim como ele foi chamado para o cargo atual em razão da indicação de amigos,
recentemente Lima sugeriu o nome de dois colegas para headhunters que o abordaram com propostas.
Quando ele e sua equipe embarcam em projetos novos, existe também a liberdade de acionar profissionais
de outras empresas para pedir ajuda e vice-versa. "Essa troca é sempre saudável e enriquece o
networking", diz. Além disso, ajuda na formação de uma imagem profissional. Um estudo de professores
da Harvard Business Review e da Wharton School, que será publicado na próxima edição da revista
"Management Science", apontou que profissionais costumam ser vistos como mais competentes quando
pedem ajuda e conselhos para colegas e superiores.

O diretor de clientes públicos da empresa de energia AES Eletropaulo, Artur Tavares, reforça
que qualquer processo motivado pelo interesse acaba sendo percebido pelos outros e tem menos valor. "É
preciso interagir e gostar genuinamente de pessoas", diz. Nascido na Venezuela, Tavares veio para o
Brasil há sete anos como expatriado, para atuar na área de transformação de negócios da AES. Sua
trajetória no Brasil destaca também outra regra bastante importante sobre o processo: conhecer bem o
ambiente onde vai expor o seu trabalho. "Os paradigmas que você tem ao se relacionar com pessoas
precisam ser atualizados em cada país e em cada empresa", diz.
No início, Tavares estranhou que os brasileiros estivessem sempre tão dispostos a fazer convites
informais, mas logo percebeu que depois não marcavam nada. Resolveu, então, inverter o jogo: o
executivo começou a convidar as pessoas que conhecia para reuniões em sua casa. Após o jantar,
terminavam a noite com sessões de dança, uma paixão que sempre manteve com a família. O resultado foi
uma rede de contatos e amigos em crescimento constante. "Até o presidente da empresa já esteve lá e
disse que, em 12 anos em São Paulo, só duas pessoas o haviam convidado para jantar em casa."
Compartilhar suas experiências, no entanto, é o que o tornou reconhecido em seu meio - o que o
levou a ganhar prêmios como o recente de profissional do ano no Prêmio Latam, que reconhece melhores
práticas no setor de telesserviços no Brasil, Argentina, Colômbia e México. "Vim para implementar
melhores práticas comerciais, e fizemos transformações no serviço da empresa desde 2009", explica
Lima.
Iniciativas como atendimento de denúncias via SMS, transformação do site da empresa e
presença nas redes sociais geraram redução de custos e melhora no relacionamento com clientes, diz
Tavares. Ele passou a compartilhar esses resultados em grupos, redes de contatos e mídias sociais como o
LinkedIn, o que fez com que instituições o chamassem para palestras sobre o trabalho na AES e ele fosse
convidado a se tornar membro de organizações como a Amcham.
O executivo, contudo, destaca dois fatores que considera fundamentais para que seu trabalho
ganhe visibilidade. O primeiro é tomar a iniciativa para ajudar outros. Ele conta que dias atrás, por
exemplo, ficou sabendo durante uma reunião que a empresa com quem lidava estava preparando um
processo de internacionalização, e enviou livros e artigos sobre o assunto, além de se mostrar disponível
para falar sobre seu trabalho no Brasil.
O outro é compartilhar experiências mesmo quando elas caracterizam erros, como forma de
expor também o que faria diferente hoje. "Na cultura latina, damos muita ênfase ao que é bom e não
tratamos da mesma forma o que é ruim. Quando você tem a humildade de conversar também sobre o que
fez de errado, ganha uma credibilidade muito grande", diz.

Referências: http://www.valor.com.br/carreira/3681790/cuidado-com-o-marketing-pessoal-
ajuda-ter-sucesso

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