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FACULDADE ALDETE MARIA ALVES

LETICIA MARIA SILVA


VITORIA TORRACA ROCHA

MARCO CIVIL DA INTERNET


RESPONSABILIDADE CIVIL NOS AMBIENTES DIGITAIS

Iturama, MG
2019
LETICIA MARIA SILVA
VITORIA TORRACA ROCHA

MARCO CIVIL DA INTERNET


RESPONSABILIDADE CIVIL NOS AMBIEMTES DIGITAIS

Artigo científico apresentado ao curso de


bacharel em Direito da Faculdade Aldete
Maria Alves, como requisito parcial para
aprovação na disciplina de Trabalho de Curso
II.

Orientador: Prof. Especialista Patrícia Cardoso


Medeiros

Iturama, MG
2019
FACULDADE ALDETE MARIA ALVES

Instituição Ituramense de Ensino Superior

PARECER DE ADMISSIBILIDADE - TC II

À Coordenação do Curso de _______________________________

Informo a esta Coordenação que o Trabalho de Curso com o Título

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

dos(as) alunos(as) ____________________________________________________________

___________________________________________________________________________

tem parecer ____________________________ para apresentação em banca.

Iturama, ............. de .................de 20.......

______________________________________

Orientador: Prof(a).

Ciência dos(as) alunos(as): _________________________________

_________________________________

Em ____/____/____
3

MARCO CIVIL DA INTERNET: RESPONSABILIDADE CIVIL NOS AMBIENTES


DIGITAIS

INTERNET CIVIL MILESTONE: CIVIL LIABILITY IN DIGITAL


ENVIRONMENTS

Letícia Maria Silvai


Vitoria Torraca Rochaii
Patrícia Cardoso Medeirosiii

RESUMO

Trata-se o presente artigo de uma análise da lei 12.965/2014, conhecida como o “Marco civil
da internet”, o qual estabelece os princípios e garantias, direitos e deveres para o uso da
internet no Brasil. Conforme evidenciado, o texto legal, de fato, elencou uma série de
princípios e fundamentos que visam regulamentar o uso da internet, todavia, baseou-se quase
que inteiramente em direitos que já são amparados pela Constituição Federal do Brasil, que
tem como pressuposto básico o resguardo à dignidade da pessoa humana. E, nesse sentido,
existe até uma certa irresignação por parte da doutrina e bibliografia explorada nesse artigo
acerca da real necessidade de se regulamentar a internet, haja vista que o ordenamento
jurídico vigente, até a data de promulgação da lei, seria suficiente para resolver maior parte
dos empasses jurídicos. Ademais, no que diz respeito a responsabilidade civil nos ambientes
digitais, a qual é o foco central do artigo, a lei isenta de responsabilidade os provedores de
conexões quando do uso de seus sistemas forem disponibilizados conteúdos que causem
danos a terceiros. Ao passo que, os provedores de aplicativos somente serão responsabilizados
civilmente, caso sejam notificados judicialmente a retirar um conteúdo de seus servidores e
permaneçam inertes.
Palavras-chave: Marco civil da internet. Lei 12.965/2014. Responsabilidade civil nos
ambientes digitais.

ABSTRACT

Keywords: (3 palavras-chave do artigo na língua inglesa)

1 INTRODUÇÃO
Os crescentes avanços da tecnologia têm influenciado diretamente na forma como as
pessoas se relacionam no mundo. O surgimento da internet, bem como o fenômeno das redes
sociais e informativos digitais, tem proporcionado as pessoas uma liberdade de expressão
4

jamais imaginada. A velocidade que as notícias se propagam é enorme, seu acesso é imediato
e quase irrestrito.
Nesse contexto, a internet e demais redes públicas e privadas, assim como os
provedores de aplicativos, que serão objeto de estudo nesse artigo, compõem um acervo
gigantesco de dados, informações, notícias, mídias digitais dentre outros. No qual, qualquer
usuário devidamente habilitado pode acessar esses conteúdos, assim como manifestar-se
acerca de qualquer tema, redigir e editar textos, compartilhar fatos, notícias, arquivos e
imagens.
Ocorre que, até meados de 2014, poucas eram as leis que evidentemente
regulamentavam a internet, e as que existiam possuíam aplicação por analogia ou
subsidiariedade as demais normas de nosso ordenamento jurídico.
Nesse sentido, a lei do marco civil da internet foi sancionada com a finalidade de
regulamentar os princípios e garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil,
representando um grande avanço frente a toda a legislação vigente até o momento.
Dentre os diversos dispositivos jurídicos abordados pela lei, merece verdadeiro
destaque a responsabilidade jurídica dos provedores de aplicativos, na busca de se determinar
a medida de sua responsabilidade civil quando realizada uma publicação de arquivos de
imagem, vídeo ou escrita que ofenda a privacidade ou honra de um terceiro. Assim sendo,
será objeto de estudo aprofundado neste artigo a responsabilidade civil dos provedores, a
interpretação e motivações jurídicas dos legisladores no processo de elaboração da Lei
12.965/2014, visto que, no que diz respeito a responsabilidade civil, esta diverge totalmente
do sistema adotado nas demais leis infraconstitucionais.

2 PRINCIPIOS E FUNDAMENTOS DO MARCO CIVIL DA INTERNET LEI


12.965/2014
O Marco Civil da Internet, conforme previsto em seu Art. 1º foi elaborado com
a finalidade de regulamentar os princípios e garantias, direitos e deveres para o uso da internet
no Brasil. Sendo que, desde que seu texto legal foi aprovado, este foi considerado como uma
espécie de “Constituição” na tutela da internet no país.
Nesse sentido, o legislador estabeleceu no art. 3º da lei, uma série de fundamentos a
serem observados pelos usuários e empresas que atuam no ramo da internet, bem como
também princípios que devem servir como norte para solução de possíveis conflitos no âmbito
jurídico, tais como: I - garantia a liberdade de expressão, comunicação e manifestação de
pensamento; II - proteção da privacidade de seus usuários; III - proteção dos dados pessoais;
5

IV - preservação e garantia da neutralidade da rede; V - preservação da estabilidade, VI -


segurança e funcionalidade da rede; VII - responsabilização dos agentes; preservação da
natureza participativa da rede; VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na
internet.
Assim sendo, é importante destacar que os princípios elencados no art. 3º, em sua
maior parte, já se encontram tutelados em plano normativo superior, e seus respectivos incisos
nada mais estabelecem do que a ratificação do conteúdo jurídico dos princípios fundamentais
de nossa Constituição, precisamente a garantia de “dignidade da pessoa humana”.
Veja, como exemplo a garantia de liberdade de expressão, comunicação e
manifestação do pensamento (art.3°, I) que já existe como direito e garantia fundamental
conforme previsto no art. 5º, inciso IV de nossa Carta Magna. A proteção da privacidade
(art.3°, II), entendida como proteção a vida privada, possui previsão legal por meio do art. 5º,
inciso X da Constituição Federal. Igualmente, a proteção de dados pessoais (art.3°, III), trata-
se de uma extensão da proteção da vida privada, e também tem amparo legal por meio do art.
5°, XII da CF, que verte sobre a proteção ao sigilo das comunicações de dados, e que
recentemente foi sancionado texto legal especifico 13.709/2018 – Lei Geral da Proteção de
Dados Pessoais, e que deve entrar em vigor a partir de 2020. Da mesma forma ocorre com a
liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet (art.3°, VIII) que diz respeito ao
direito de “livre iniciativa” prevista no art. 1°, inciso IV da CF.
Sendo que, o princípio da neutralidade da rede (art. 3°, IV) juntamente com os incisos
subsequentes (que serão abordados posteriormente), são os únicos que guardam relação
especificamente à internet, e que inovam a legislação do ponto de vista jurídico.
Acerca desse viés “constitucionalista” que o marco civil da internet recebeu, o
professor Willis Santiago Guerra Filho que contribuiu para obra o Marco Civil da Internet –
Lei 12.965/2014, faz a seguinte observação:

A Lei do Marco Civil traz em seu conteúdo uma legislação que traça como norte
uma conformação constitucional ao estabelecer princípios e garantias voltados para
as relações na internet, princípios e garantias estes que já estão, em sentido amplo,
apresentados em nossa Constituição, dai, antes de tudo, a importância de realmente
se reforçar a necessidade de se compreender e utilizar uma adequada metodologia
constitucional para sua aplicação [...].

Segundo o autor, a internet segue ditames próprios, possui termos técnicos inerentes a
informática, bem como regras de comportamentos e condutas distintas das de nosso convívio
6

social, e, portanto, é necessário que alguns dos princípios constitucionais sejam


“conformados”, “adaptados” ao contexto dos ambientes digitais.
Ademais, a metodologia que melhor atenderia essa conformação de princípios entre a
Constituição Federal e o Marco Civil da Internet, de acordo com os autores, deveria ocorrer
com base no “princípio da proporcionalidade” em sentido estrito, pelo qual toda disposição
normativa e suas consequências jurídicas devem ser proporcionais, razoáveis ao fim que se
busca, evitando o risco de excessos contra os direitos e garantias dos usuários e provedores de
internet.
Contudo, ainda que o Marco Civil da Internet tenha esse conteúdo principiológico abrangente,
e cabe dizer aqui, que o presente artigo não tem como objetivo exaurir todos eles, existem três
princípios, e são eles: (i) liberdade de expressão; (ii) privacidade de usuários; (iii)
neutralidade da rede, que merecem particular destaque em virtude de sua elevada importância
constitucional, bem como são indispensáveis para entendermos a forma como foi estabelecida
a responsabilidade civil dos provedores de conexões e aplicativos nos termos desta lei.

2.1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Conforme já citado, a lei 12.965/2014 foi estruturada em um sistema normativo que


assegura o princípio fundamental da “dignidade da pessoa humana” e traz como pressuposto
intransponível o respeito a liberdade de expressão, nos termos em que foi estabelecido pela
própria Constituição Federal, assim veja:

Art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza[...]
IV – é livre a manifestação do pensamento[...]
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independente de censura ou licença.

Professora jurista Nathalia Masson, em sua obra “Manual de Direito Constitucional”,


define “liberdade de expressão como:

Sendo dotado de um grau mínimo de discernimento e saúde mental, o indivíduo


possui a liberdade de pensamento, prerrogativa ínsita a própria existência[...]
Não raro, todavia, o indivíduo deseja expressar suas convicções intimas, comunicar
suas ideias e opiniões formatadas internamente. Nesse contexto surge a importância
do Direito, que vai ampara-lo no exercício da liberdade de manifestar seu
pensamento.
7

Nathalia Masson em sua obra cita os sábios ensinamentos do hoje Ministro do STF,
Gilmar Mendes (2009, p.402 apud Masson, 2018, p.283), “ao titular dessa liberdade permite-
se expressar sentimentos, ideias e impressões de variadas formas, seja por mensagens faladas
ou escritas, como também por gestos, expressões corporais, imagens e etc.”
Desta forma, observa-se que o legislador no “caput” do art. 2° da Lei 12.965/2014
buscou rigorosamente orientar que questões relativas à liberdade de expressão na internet, ou
dito ambientes digitais, deveriam ser equiparadas à todas as outras formas de manifestação de
pensamento que já ocorriam naturalmente nos ambientes físicos em nossa sociedade, e na
mesma essência como foi concebida por nossa Carta Magna em 1988.
Ocorre que, com o avanço das tecnologias, da informática especificamente, foi
possível reproduzir em ambientes digitais (comunidades e redes sociais) as mesmas
ferramentas artísticas (de maneira genérica) que se tem nos ambientes coletivos físicos.
Nesse sentido, pode não parecer óbvio para muitos dos usuários da internet, mas as
redes sociais e demais ambientes digitais passaram a seguir as mesmas diretrizes jurídicas que
se tem na sociedade. E, portanto, qualquer expressão de pensamento abusiva está sujeita a
represálias, assim como, em contrapartida, a livre manifestação de seus usuários é digna de
proteção quando evidenciada uma potencial censura por parte de qualquer indivíduo ou
entidade jurídica.
Assim sendo, o marco civil da internet foi criado, não tão somente para gerar
represálias ou identificar e responsabilizar usuários ou pessoas jurídicas que atuam na
internet, mas sim, sobretudo para garantir que a liberdade de expressão e manifestação dos
indivíduos fossem preservadas nesses ambientes digitais. De forma que fosse garantido o
pleno direito aos usuários da internet de expor suas opiniões e pensamentos mais íntimos
acerca de qualquer tema.
Contudo, é pertinente expor que a presente lei não afasta a aplicação de dispositivos
legais específicos previstos em nosso ordenamento, como por exemplo, os casos de danos
decorrentes de atos ilícitos, perpetrados a imagem ou a honra de um indivíduo na internet que
são disciplinados pelos artigos 186 e 927 do Código Civil, bem como as matérias pertinentes
a violação de direitos autorais e seus desdobramentos que possuem legislação própria - Lei
9610/1998 ou até mesmo a publicidade abusiva em ambientes digitais que é regulamentada
pelo Código de defesa do consumidor – Lei 8.078/1990.
Portanto, no que tange a lei 12.965/2014 esta disciplina especificamente a
responsabilidade civil dos provedores de conexões e provedores de aplicativos pela exposição
de conteúdos que foram gerados por terceiros em seus servidores. E, nesse ponto, fica nítido
8

que as pessoas jurídicas que se proponham a atuar no ramo da internet, como provedoras de
conexões e aplicativos devem se adequar no sentido de zelar pelos conteúdo que são expostos
em suas redes, resguardando sempre o direito de livre manifestação de seus usuários, bem
como restringindo conteúdos que se mostrem ofensivos a àqueles que a utilizam.
Outrossim, a lei, por meio do art. 3°, inciso III, também estabeleceu a importância dos
provedores enquanto guardiões dos milhares de dados que são gerados por usuários que
trafegam em suas redes, e que devem ser tratados com total privacidade e segurança. Sendo
que, esta foi recém complementada por meio da lei 13.709/2018 – Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais.

2.2 PRIVACIDADE DE USUÁRIOS

A lei do Marco Civil da Internet por meio do seu art. 3°, inciso II, estabeleceu como
princípio indisponível a proteção a privacidade de seus usuários, tendo como base, inclusive o
que já é previsto por nossa Constituição. O artigo 5° da Constituição Federal, que trata dos
direitos e garantias fundamentais, estabelece no seu inciso X, que são invioláveis a
intimidade, vida privada, honra e imagem dos indivíduos, assegurando também, em caso de
violação, a indenização pelo dano material ou moral.
Em igual sentido, o inciso XII, do mesmo artigo constitucional, traz uma proteção
mais específica ás correspondências, comunicações telegráficas, de dados e telefônicas, neste
último caso, exceto na hipótese de ordem judicial, que deve atender a forma estabelecida no
tipo legal para investigações criminais ou instruções no processo penal.
O professor José Afonso da Silva, em sua obra Curso de Direito Constitucional
Positivo, considera a privacidade como sendo:

O conjunto de informação acerca do indivíduo que ele pode decidir manter sob seu
exclusivo controle, ou comunicar, decidindo a quem, quando e onde e em que
condições, sem a isso poder sem legalmente sujeito. (...) A esfera da inviolabilidade,
assim, é ampla, abrange o modo de vida doméstico, nas relações familiares e
afetivas em geral, fatos, hábitos, local, nome, imagem, pensamentos, segredos, e,
bem assim, as origens e planos futuros do indivíduo.

Desta forma, o legislador do marco civil buscou reafirmar as questões relativas à


inviolabilidade da privacidade, trazendo para o seu texto legal um caráter constitucional,
ressaltando sobretudo que internet deveria ser regulamentada em consonância a esse
princípio. E, nesse sentido, a partir da definição de “privacidade” citada pelo professor José
Afonso, é possível observar que esta é universal, aplicada a qualquer ramo do Direito que tem
9

por objetivo fundamental assegurar a vida privada de seus indivíduos, inclusive no âmbito da
internet.
Ocorre que, nos tempos em que vivemos é cada vez maior a exposição de situações
pessoais e cotidianas na internet, o surgimento dos provedores de aplicativos que permitem a
produção de textos, imagens, vídeos, dentre outros, só contribuem para essa interação entre
pessoas, informações e conteúdo. Contudo, os indivíduos tem particularidades que necessitam
ser conservadas, conteúdos que podem facilmente serem distorcidos por pessoas mal-
intencionadas, históricos, acessos e interesses pessoais que ficam registrados na rede.
Nesse contexto, o princípio da proteção á privacidade representa para o Marco Civil da
Internet uma garantia aos usuários de que estes estão em um ambiente seguro, fato que
contribui para o crescimento e até mesmo credibilidade da internet e seus aplicativos, que
diante de alguns escândalos que ocorrem ao longo do tempo envolvendo a divulgação
indevida de conteúdos pessoais, geram certa insegurança por parte dos usuários, que
repensam se realmente o ambiente digital seria uma continuação do ambiente real que
vivemos.
Portanto, o marco civil da internet busca garantir não tão somente a proteção da
privacidade dos usuários em face a possíveis conteúdos que sejam gerados por terceiros e
possam causar danos a imagem ou a honra destes, mas também disciplina a responsabilidade
dos provedores de conexões e aplicativos enquanto guardiões de todos os dados particulares
de seus usuários.
Podemos citar como exemplo dessa proteção a vida privada dos usuários, o art. 7° do marco
civil, encontrado no capítulo dos direitos e garantias dos usuários que estabelece, inclusive, a
possibilidade de reparação dos danos perpetrados a intimidade dos usuários, assim veja:

Art. 7° - O acesso a internet é essencial ao exercício da cidadania, e aos usuários são


assegurados os seguintes direitos:
I – Inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação.

Em igual sentido são os incisos II e III do artigo acima citado, o qual apresenta como
direito intransponível dos usuários, a inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações
privadas, bem como de todo o conteúdo dessas comunicações que estejam armazenados nos
provedores, trazendo como única exceção quando houver ordem judicial, na forma da lei.
Vejamos também, o art. 10°, da Lei 12.965/2014 que trata da proteção e dos registros,
dados pessoais e comunicações privadas por parte dos provedores de internet e aplicações:
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Art. 10 – A guarda e disponibilização dos registros de conexão e de acesso a


aplicações a internet de que trata essa Lei, bem como de dados pessoais e do
conteúdo de comunicações privadas, devem atender à preservação da vida privada,
da honra e da imagem das partes diretas ou indiretamente envolvidas.

Contudo, cabe acrescentar que a proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios
digitais tem sido matéria de diversos debates na Câmara dos Deputados e no Senado Federal,
com intuito de ser aprovada a Lei Geral de Proteção dos Dados Pessoais – Lei 13.709/2018,
que deve regulamentar especificamente o tema.
Observa-se ainda que a Lei 12.965/2014 se atentou ao grande prejuízo que tal violação
pode gerar e em seus artigos seguintes trouxe a responsabilização dos provedores de
aplicações frente á alguma negligência nesse sentido por parte destes, matéria esta que será
amplamente abordada nesse artigo.

2.3 NEUTRALIDADE DA REDE

A lei 12.965/2014 em seu art. 3°, inciso IV, inova, do ponto de vista jurídico, ao
apontar como um de seus princípios basilares “a preservação e garantia da neutralidade da
rede”, tendo sido incluída, seção específica (seção I), por meio do art. 9° que estabelece regras
jurídicas destinadas para assegurar a referida neutralidade da rede.
O termo “neutralidade da rede”, por si, já era empregado em diversos textos legais
relacionados a telecomunicação, todavia, como já dito, somente a partir da criação do marco
civil da internet é que houve uma regulamentação específica de sua abrangência e aplicação
em nosso ordenamento jurídico. Ocorre que, até então, não existia evidente interesse em
normatizar a “matéria”, ou por parte de muitos legisladores, sequer havia o conhecimento das
reais implicações acerca do tema.
Desta forma, a partir da iniciativa de projeto de lei da criação do marco civil, o tema
da neutralidade da rede foi fomentado no Brasil, sendo objeto de diversas discussões acirradas
no Congresso Nacional, seja pelo vasto potencial econômico a ser explorado e que foi
finalmente vislumbrado, ou pelo aumento de casos no judiciário relacionados ao impedimento
de acesso a algumas aplicações pelos usuários ou a degradação de conexões da rede, de forma
que provedores de serviços ou usuários visam garantir o acesso a aplicações sem qualquer
tipo de filtro ou diferenciação.
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Feito esses apontamentos, segundo a professora Silvia Regina Barbuy Melchior


participe da obra “Marco Civil da Internet – lei 12.905/2014”, trata-se a neutralidade da rede,
como o:
O tratamento isonômico dado aos pacotes de dados que transitam na rede mundial
de internet, e na infraestrutura de suporte da forma que referidos dados sejam
tratados de forma isonômica, independente do seu conteúdo, da sua origem ou
destino, da aplicação ou serviço acessado, tecnologias e padrões técnicos
desenvolvidos.

Em igual sentido são os ensinamentos do professor Celso Pacheco Fiorillo, “O Marco


Civil da Internet e o meio ambiente digital na sociedade da informação: Comentários à lei n
12.965/2014”, segundo o qual, o princípio da neutralidade da rede, tem como principal
objetivo:

[...] assegurar que todas as informações que trafegam na rede devem ser tratadas da
mesma forma, navegando a mesma velocidade, sendo o referido princípio que
garantiria o livre acesso a qualquer tipo de informação na rede.

Assim sendo, o princípio da neutralidade, trata em essência ao direito de livre


expressão dos usuários da internet, de ter livre acesso a qualquer conteúdo disponibilizado na
rede, independente da sua forma de tráfego (imagem, dados, voz), e que estes conteúdos não
serão restringidos, direcionados ou manipulados por parte de um provedor a fim de alcançar
um interesse particular ou atingir um público específico.
Seguindo a mesma ideia, a neutralidade da rede busca garantir que as pessoas jurídicas
que atuam como provedoras de internet e de aplicativos (terminologias estas que serão
devidamente abordadas em tópico especifico) tenham iguais direitos a exposição de conteúdo.
Trata-se aqui, basicamente, ao direito a livre iniciativa e concorrência, conforme previsto no
art. 2° inciso V do marco civil e art. 1°, inciso IV de nossa Constituição Federal.
Desta forma, caso não fosse adotado essa “neutralidade” nas redes, os usuários da
internet teriam o seu direito de escolha de produtos e serviços drasticamente reduzidos e
ficariam reféns de conteúdos que fossem disponibilizados apenas por determinados
provedores, bem como prejudicaria diretamente provedores de menor capacidade financeira,
que não tivessem condições similares de concorrer na oferta de produtos e serviços na
internet.
Portanto, a discussão acerca da neutralidade da rede, representa antes de qualquer
coisa, um forte interesse econômico por parte de empresas ou pessoas físicas que atuam no
ramo da internet e que tem como objetivo explorar esse vasto ambiente comercial. Isto
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exposto, o direito de utilizar de forma comercial os ambientes digitais, seja por meio dos
provedores de conexões ou aplicativos, pode até parecer algo distante de nosso cotidiano, e
que a “neutralidade da internet” seja vista somente como mais um termo jurídico, contudo
você pode se surpreender com a quantidade de publicidade direcionada que recebe em seu e-
mail, seus navegadores ou redes sociais. Não obstante, ao impacto que o filtro ou manipulação
de informações na internet tem em criar tendências, formar opiniões, gerar empatia ou
desprezo por determinada “coisa” ou pessoa.
Colocadas essas observações, o art, 9°, diz respeito expressamente ao dever legal que
os provedores de conexões e aplicativos tem em garantir a “neutralidade da rede”, bem como
o parágrafo 1º,estabelece situações especificas, em caráter exceção, que os dados na internet
podem sofrer degradação ou discriminação por parte dos provedores, assim veja:

Art. 9º O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de


tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo,
origem e destino, serviço, terminal ou aplicação.

§ 1º A discriminação ou degradação do tráfego será regulamentada nos termos das


atribuições privativas do Presidente da República previstas no inciso IV do art. 84 da
Constituição Federal, para a fiel execução desta Lei, ouvidos o Comitê Gestor da
Internet e a Agência Nacional de Telecomunicações, e somente poderá decorrer de:

I - Requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos serviços e


aplicações;

II - Priorização de serviços de emergência.

É possível observar que o “caput” do art. 9°, traz em sua essência a ideia central do
princípio da neutralidade, conforme abordamos acima. Ao passo que, o parágrafo 1°, incisos I
e II, estabelecem que a discriminação ou degradação de trafego, será regulamentada por lei
especifica, e que somente decorrerá em razão de requisitos técnicos indispensáveis à prestação
adequada dos serviços de aplicações, assim como será priorizado tendo em vista serviços a
serem realizados com emergência. Percebe-se aqui que o legislador trouxe situações
inequívocas, relacionadas exclusivamente a manutenção da própria atividade dos provedores
de internet e aplicativos.
Na sequência, o §2° e demais incisos do artigo acima referido, prevê ainda que os
provedores de conexões e aplicativos, no que diz respeito a discriminação e restrição de
conteúdos devem: I – Abster-se de causar danos aos usuários (a discriminação do conteúdo
não deve causar quaisquer danos, nos termos do art. 927, do Código Civil); II – agir com
proporcionalidade, transparência e isonomia; III – informar previamente de forma
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transparente os usuários acerca das práticas gerenciamento e mitigação de tráfego; IV –


oferecer serviços em condições comerciais não discriminatórias, e abster-se de praticar
condutas anticoncorrenciais.

3 TERMOS TÉCNICOS DA INFORMÁTICA

Conforme já citado, a Lei 12.965/2014 foi criada com o intuito de regulamentar a


internet no Brasil, e logo de início, o legislador elencou uma série de princípios e garantias já
consagrados no âmbito Constitucional, entretanto, somente a partir do art. 5° da referida lei,
foram apontados termos técnicos oriundos da informática, que evidentemente pudessem
delimitar seu objeto de tutela, sua abrangência e finalidade.
Obviamente, o presente artigo não tem por objetivo se aprofundar em questões
técnicas particulares a informática, mas sim trazer os conceitos básicos abordados no marco
civil, que somente a partir de sua caracterização legal é possível identificar e responsabilizar
civilmente os agentes que compõem os ambientes digitais.
Desta forma, o art. 5°, estabelece:

I - internet: o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em


escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de
dados entre terminais por meio de diferentes redes;

A palavra “internet” tem origem inglesa, proveniente da palavra “internacional” e “net”


(ou rede, em português), significando uma rede mundial de computadores interligados, que
possibilitam o acesso ou troca de informações em qualquer lugar do mundo.

II - terminal: o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet;

Como exemplo, também pode ser considerado como “terminal”, todo e qualquer
smartphone ou tablet com acesso a internet.

III - endereço de protocolo de internet (endereço IP): o código atribuído a um terminal


de uma rede para permitir sua identificação, definido segundo parâmetros internacionais;

Na internet, cada terminal (computador, smartphone ou tablet) possui um endereço


único que é o IP, sigla para expressão inglesa “Internet Protocol”. Através do IP, os terminais
conseguem se comunicar e trocar informações. Grosso modo, o IP é similar ao endereço
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residencial de pessoas físicas onde recebem suas correspondências. No Brasil, o ente


responsável pelo IP deverá ser cadastrado no Registro de Endereçamento da Internet para
América Latina e Caribe (LACNIC).

IV - administrador de sistema autônomo: a pessoa física ou jurídica que administra


blocos de endereço IP específicos e o respectivo sistema autônomo de roteamento,
devidamente cadastrada no ente nacional responsável pelo registro e distribuição de endereços
IP geograficamente referentes ao País;

O sistema autônomo também conhecido como AS, é um conjunto de prefixos unidos


por um IP, cujo controle fica na mão de um administrador (pessoa física ou jurídica).

V - conexão à internet: a habilitação de um terminal para envio e recebimento de


pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP;

É a forma como computadores, tablets ou celulares se conectam a internet. Desde o


inicio da internet até hoje, houve uma notada evolução no tipo de tecnologia empregada (Dial
modem, XDSL, cabo, WIFI, Satélite, WAP, Edge, 3G, 4G, dentre outras).

VI - registro de conexão: o conjunto de informações referentes à data e hora de início e


término de uma conexão à internet, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal para o
envio e recebimento de pacotes de dados;

O registro de conexão é o que permite identificar quais os sites acessados, qual terminal
foi utilizado e qual a data e hora do acesso – informações importantes principalmente na
repressão de crimes cibernéticos.

VII - aplicações de internet: o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por
meio de um terminal conectado à internet;

Diferente de um site, em que um usuário apenas apreende informações dele, nas


aplicações, os usuários podem inserir informações que serão processadas, como por exemplo
sites de compras ou redes sociais.

VIII - registros de acesso a aplicações de internet: o conjunto de informações referentes


à data e hora de uso de uma determinada aplicação de internet a partir de um determinado
endereço.
15

4. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES

4.1 INTRODUÇÃO

A evolução tecnológica, especificamente o advento da internet, tem proporcionado


uma exponencial interação entre os seres humanos jamais imaginada por gerações anteriores.
Não é exagero algum fazermos a afirmação de que atualmente as pessoas tem se relacionado
primordialmente por meio da internet, ao passo que o contato presencial tem sido cada vez
mais deixado de lado.
Não obstante os incalculáveis benefícios proporcionados pela internet, o aumento da
interação entre as pessoas tem gerado diversos conflitos, sobretudo aqueles que são de
interesse direto ao Direito. Por vezes, o ser humano, se perde, praticando atos ilícitos, e a
imensa acessibilidade propiciada pela internet só contribui para propagação massiva desses
danos, atingindo de forma brutal as vítimas, originando abalos materiais e morais
permanentes.
Diante de tal cenário, quando provedores de aplicações de internet, especificamente
aqueles que apenas servem de meio para atividades e exposições de conteúdos por seus
usuários, como redes sociais de texto, foto, vídeo, dentre outras espécies de portais, são
utilizados para a prática de atos ilícitos, torna-se necessário a discussão do presente estudo,
qual seja, a responsabilidade civil dos referidos prestadores de serviços por danos decorrentes
de conteúdos gerados por terceiros.

4.2 RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL

A responsabilidade tem sua origem na raiz latina spondeo, pela qual se vinculava o
devedor, solenemente, nos contratos verbais do direito romano. A responsabilidade civil, da
forma como é concebida por nosso ordenamento jurídico, remete a ideia de restaurar o
equilíbrio material e moral provocado pelo autor de um dano.
Assim sendo, a partir da prática de um ato ilícito em face a um indivíduo, com a
consequente perpetração de um dano, surge o dever de reparação a vítima. Sendo múltiplas as
atividades humanas, inúmeras são também as espécies de responsabilidade, que abrangem
todos os ramos do direito e extravasam os limites da vida jurídica.
O Código Civil de 2002, contudo, dedicou poucos dispositivos à responsabilidade
civil, sendo que por meio do art. 186 e 187, estabeleceu a espécie de responsabilidade
16

extracontratual, denominada também como aquiliana, que se origina, em regra, na modalidade


subjetiva, oriunda de um ato ilícito:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Sobre o assunto, Caio Mario da Silva Pereira, leciona que o autor do ato ilícito
responderá civilmente pelos prejuízos causados, cabendo ao lesado o ônus de comprovar
todos os elementos: o dano, a infração da norma e o nexo de causalidade.
Por sua vez, o art. 927, “caput”, dispõe sobre a obrigação de reparação do dano
causado e decorrente de um ato ilícito praticado dolosamente (ação ou omissão voluntária),
quando o agente pratica o ato com vontade e consciência de prejudicar, ou culposamente,
quando há a negligência ou imprudência do agente, o que configura a culpa no sentido estrito.
Além da responsabilidade subjetiva, o nosso diploma Civil, mais precisamente em seu
art. 927, “paragrafo único”, dispõe sobre responsabilidade civil objetiva, isto é, quando
independe da comprovação de culpa do agente, que somente ocorre nos casos previstos em
lei, como, por exemplo, a responsabilidade do dono do animal por seus ataques (art. 936 do
CC), coisas caídas de uma habitação (art. 938 do CC), danos causados na relação de consumo
(arts. 12 e 14 do CDC), ou então quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, em riscos para o direito de outrem.
Ocorre que, o legislador do marco civil por meio da seção III da lei, artigos 18 a 21,
criou uma modalidade de responsabilidade civil em total contrassenso a defesa de seus
usuários e aos princípios e garantias constitucionais, visto que limita a responsabilidade dos
provedores de aplicativos a simples hipótese de indenização quando da sua inércia, bem como
condiciona os usuários “vitimas” de atos ilícitos ao ingresso de medida judicial com a
finalidade de cessar o dano, que por si só consiste em uma pratica morosa dado o volume de
pendências de nosso judiciário, e que, só contribui para permanência do dano.
Outrossim, o marco civil da internet é completamente incongruente ao que prevê os
demais dispositivos infraconstitucionais supracitados, vez que ignora a hipótese de
responsabilidade civil objetiva em razão do risco a atividade (art.927, “PU”) adotada pelo
Código de Defesa do Consumidor, já que para muitos doutrinadores os usuários e provedores
de internet e aplicativos deveriam ser responsabilizados pelos atos ilícitos cometidos por seus
usuários, e seria este o ônus do exercício da atividade.
17

Feitas essas considerações, passaremos a análise minuciosa dos artigos 18 ao 21 que


evidentemente tratam da responsabilidade civil dos provedores de aplicativos, tendo em vista
as inúmeras divergências doutrinarias e jurisprudências acerca do tema.

4.3 PROVEDORES DE CONEXÃO

Os provedores de conexão, também conhecidos como de “acesso”, conforme definido


pelo art. 5°, inciso IV, que constituem nas pessoas físicas ou jurídica, que por meio de suas
estruturas prestam a atividade econômica de fornecimento de acesso à internet à seus
usuários, receberam tratamento juridicamente diferenciado pelo legislador do marco civil no
que tange a sua responsabilidade civil.
Encontram-se caracterizados aqui, os provedores que prestam o serviço de mero
provimento (backbone) ou acesso a internet, bem como também os provedores de
hospedagem de conteúdos ou de correios eletrônicos, e possuem como similaridade o fato de
que são apenas intermediários que provem o acesso a internet ou disponibilizam servidores
remotos para o armazenamento de dados, e por sua essência não realizam atividades de
controle ou discriminação do conteúdo de seus usuários. Trata-se de empresas do setor de
telecomunicações tais como a ALGAR Telecom, NET CLARO, Brasil Telecom, GVT e
operadoras de telefonia celular como VIVO, TIM, OI, dentre outras que fornecem serviço de
3G e 4G.
O art. 18, “caput” do marco civil, estabelece expressamente que os provedores de
conexão à internet não serão responsabilizados civilmente por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiros. Segundo entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência os
provedores de conexão são apenas meros intermediários entre o usuário (agente do dano) e as
vítimas, sendo sua atividade primordial fornecer o acesso à internet, e em razão disso não
seriam responsáveis pelos danos decorrentes de conteúdos gerados por terceiros a partir do
uso de seus servidores.
O professor Augusto Marcacini em sua obra, Aspectos Fundamentais do Marco Civil
da Internet, faz os seguintes esclarecimentos:

Parece claro que o provedor de conexão não é responsável por quaisquer atos
praticados pelos terceiros que usam os canais de comunicação por eles fornecidos.
Assim como companhia de telefones não são responsáveis, por exemplo, pela
extorsão que alguém cometesse por telefone, não se pode responsabilizar o provedor
de conexão pelos ilícitos praticados pelos seus usuários.
18

Vejamos também os ensinamentos dos professores Carlos Affonso Souza e Ronaldo


Lemos, em sua obra “Marco Civil – Construção e Aplicação”, que segundo eles, dois tem sido
os argumentos usualmente elencados para se reconhecer a ausência de responsabilidade dos
provedores de conexão por atos de terceiros, no caso, seus usuários que venham a causar
dano, e são eles:

O primeiro argumento reside na impossibilidade técnica por parte dos provedores


em evitar comportamentos lesivos de seus usuários. Vale ressaltar que essa conduta
dos provedores de conexão não apenas é impossível como também indesejada, já
que levaria fatalmente ao aumento de práticas de monitoramento e massa e de
adequação legal controvertida.
O segundo argumento, por sua vez transcende o aspecto tecnológico, ao enfocar a
quebra de nexo causal existente entre o dano causado a terceiro e o ato de
simplesmente disponibilizar o acesso a rede para um usuário. A conexão a internet
não parece ser causa direta e imediata do dano sofrido pela eventual vítima, mas sim
o comportamento concretamente desempenhado pelo usuário que gerou o conteúdo
ilícito.

A título exemplificativo, vejamos também a decisão do Tribunal de Justiça do Paraná,


em que uma empresa provedora de conexão, foi colocada no polo passivo de ação de
indenização por danos morais juntamente com o titular de uma página virtual ao qual fornecia
acesso e hospedagem ao seu site na internet. Devendo ser ressaltado que, muito embora a
decisão tenha sido proferida anteriormente a promulgação da Lei 12.965/2014, esta já
antecipava o entendimento da ausência de responsabilidade civil dos provedores de conexão
por danos a usuários decorrentes de conteúdos gerados por terceiros na internet.

Civil – Dano Moral – Internet – Matéria ofensiva a honra inserida em página virtual
– Ação movida pelo ofendido em face do titula desta e do hospedeiro –
Corresponsabilidade – Não caracterização – Extensão – Pertinência subjetiva quanto
ao provedor – Ausência – Sentença que impõe condenação solidária – Reforma.
Em contrato de hospedagem de página da internet, ao provedor incumbe abrir ao
assinante o espaço virtual de inserção na rede, não lhe competindo interferir na
composição da página e seu conteúdo, ressalvada a hipótese de flagrante ilegalidade.
O sistema jurídico brasileiro atual não preconiza a responsabilidade civil do
provedor hospedeiro, solidária ou objetiva, por danos morais decorrente de inserção
pelo assinante, em sua página virtual, de matéria ofensiva a honra de terceiro.

No caso em tela, não obstante na data do processo não haver dispositivo legal em
nosso ordenamento que previsse a responsabilidade civil dos provedores de conexão, o
magistrado decidiu pela ausência de responsabilidade solidaria ou objetiva sob o argumento
de que o provedor de conexão apenas disponibilizava o espaço virtual para o assinante de seus
serviços, e não realizava qualquer interferência no conteúdo da página.

Em igual sentido é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo


acerca da ausência de responsabilidade civil dos provedores de conexão em razão de danos a
19

usuários decorrentes de conteúdos gerados por terceiros, em decisão agora a luz do art.18º,
“caput” da Lei 12.965/2014.

RESPONSABILIDADE CIVIL Autor que figurava como parte ré em ações judiciais


Disponibilização em internet pelas rés em sites de buscas informações de domínio
público – Não configuração de ato ilícito Aplicação do art. 18 da lei n° 12.965/2014
Improcedência da ação Sentença confirmada Aplicação do disposto no artigo 252 do
Regimento Interno do Tribunal de Justiça – RECURSO NÃO PROVIDO. (TJ-SP,
Apelação com Revisão n° 0002006-30.2012.8.26.0011, Relator Elcio Trujillo, Data
de julgamento: 9-9-2014, 10ª Câmara de Direito Privado).

Cautelar. Produção Antecipada de Prova. Informação. Internet. Origem de


mensagem eletrônica (e-mail). Identificação de usuário. Legitimidade passiva.
Pretendendo os autores, em cautelar preparatória obter informações a respeito da
origem de mensagens eletrônicas recebidas – e-mails – a direcionarem futura ação
indenizatória, não assume legitimidade a demandada que somente prestou serviço de
transporte de telecomunicações – SRTT – Servindo tão somente de meio físico a
interligar o usuário final ao provedor do serviço de conexão à Internet. Agravo
provido. (TJRS, 10ª Câm. Direito Civil, Agravo de Instrumento n° 70003736659,
julgado em 9-5-2002).

Desta forma, tanto a doutrina quanto a jurisprudência são unanimes no entendimento


da ausência de responsabilidade civil dos provedores de conexão com base em danos a
usuários decorrentes de conteúdos gerados por terceiros, e afastam totalmente a possibilidade
de aplicação da responsabilidade civil objetiva nos termos em que é previsto pelo Código de
Defesa do Consumidor que adota como base a Teoria do Risco da atividade.
Contudo, deve ficar claro aqui, que a lei do marco civil da internet não exime
totalmente de responsabilidade os provedores de conexão, obviamente as questões
consumeristas relativas a correta prestação de serviço de fornecimento de acesso à internet,
tais como queda de conexão, manutenção, disponibilização adequada do plano e da
velocidade contratada, dentre outras, estão sujeitos ao sistema de reparação de danos
abordado pela - Lei 8.078/90.

4.4 PROVEDORES DE APLICAÇÃO

Inicialmente, para entendermos no que consiste os provedores de aplicações, o art.5°,


inciso VII, traz a definição de aplicação de internet que trata-se de um sistema, no qual reúne-
se um conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal
(computadores, tablets, smartphones) conectado à internet. Diferentemente dos provedores de
conexões, que basicamente fornecem o acesso à internet, as aplicações permitem que seus
usuários apreendam informações dos usuários ao seus sistema, por meio de uploads e
downloads de arquivos de imagem, vídeo, áudio, bem como permitem o processamento
20

dessas mídias, preencham cadastros, façam buscas, subtilizem-se de softwares de localização


como o caso dos gps, dentre diversas outras funcionalidades disponíveis. E, aqui destacam-se
as redes socias, os portais de conteúdo, as contas de email, aplicativos de mensagens
instantâneas (Youtube, Facebook, Twitter, LinkedIn, Instagram, Netflix, Spotify, Outlook,
Gmail, Whatsapp, Telegram, Waze, etc...).

Nesse sentido, o art. 15, “caput” do marco civil, complementa a definição de provedor
de aplicações, o qual, segundo este seria, a pessoa jurídica, que exerce a atividade de
administração desses sistemas de aplicações, de forma organizada, profissionalmente e com
fins lucrativos. Vale ressaltar aqui que “a finalidade lucrativa” conforme definido pelo marco
civil, evidentemente não está ligada ao fato do provedor de aplicativo cobrar os usuários para
utilizar das funcionalidades de seu sistema, mas sim considerando que este obtenha lucro de
suas atividades, seja ele por meio da venda de produtos e serviços, propagandas, dentre
outros.
Feitas essas considerações, o art. 19, “caput” é o único dispositivo legal que
especificamente regulamenta a responsabilidade dos provedores de aplicações no âmbito do
marco civil, assim veja:

Art. 19, “caput” - Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a


censura, o provedor de aplicações da internet somente poderá ser responsabilizado
civilmente por danos decorrentes de conteúdos gerados por terceiros se, após ordem
judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos
do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar disponível o conteúdo apontado
como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.

Destarte, como o provedor de aplicações que o presente artigo trata, não modera, filtra
ou controla diretamente o conteúdo gerado por terceiros, devemos estudar sua
responsabilidade objetiva e subjetiva.
Cabe ressaltar mais uma vez aqui, que dá análise do art. 19, “caput” fica claro que este
disciplina especialmente a responsabilidade civil dos provedores de aplicativos por danos a
usuários decorrentes de conteúdos gerados por terceiros em seus sistemas, fato este que não
afasta a incidência de demais normas infraconstitucionais que regulamentam por exemplo, a
qualidade da prestação de seu serviço, o acesso e manutenção ao seu sistema e demais
matérias relativas ao Código de Defesa do Consumidor – Lei 8.078/1990, e portanto não se
aplica a regra da responsabilidade civil objetiva.
O fato é que, de acordo com a quantidade de usuários e, consequentemente, da
receita dos provedores oriundos das informações registradas nas funcionalidade como
21

contrapartida de um serviço gratuito, poderiam caracterizar as respectivas atividades como de


risco para direitos de outrem, passível da responsabilidade objetiva, sendo certo o cuidado que
devemos ter com tal interpretação sob pena de motivar controles e filtros preventivos de
conteúdo, o que poderia acarretar censura prévia.
Nesse sentido, Erica Brandini Bargalo alerta que “as atividades desenvolvidas pelos
provedores de serviços na internet não são atividades de risco por sua própria natureza, nem
implicam em riscos para terceiros maiores que os riscos de qualquer atividade comercial. E
interpretar a norma no sentido de que qualquer dano deve ser indenizado, independente do
elemento culpa, pelo simples fato de ser desenvolvida uma atividade, seria, definitivamente
onerar os que praticam atividades produtivas regularmente, e consequentemente atravancar o
desenvolvimento”.
O próprio STJ corrobora com tal entendimento, conforme julgado de dezembro de
2010, em razão da fiscalização prévia não ser atividade intrínseca ao serviço prestado: “1. A
exploração comercial da internet sujeita as relações de consumo dai advindas a Lei
8.078/1990. 2. O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de internet ser gratuito
não desvirtua a relação de consumo, pois o termo “mediante remuneração” contido no art.3°,
§ 2°, do CDC deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto do
fornecedor. 3. A fiscalização prévia, pelo provedor de conteúdo, do teor das informações
postadas na web por cada usuário não é atividade intrínseca ao serviço prestado, de modo que
não se pode reputar defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site que não examina e filtra
os dados e imagens nele inseridos. 4. O dano moral decorrente de mensagens com conteúdo
ofensivo inseridas no site pelo usuário não constitui risco inerente a atividade dos provedores
de conteúdo, de modo que não se lhes aplica a responsabilidade objetiva prevista no art. 927,
parágrafo único, do CC/2002.
Superada a questão da responsabilidade objetiva, passamos para analise da
responsabilidade subjetiva de tais provedores de aplicações, oriunda de sua omissão,
negligência ou imprudência, no caso de seus usuários praticarem atos ilícitos contra terceiros.
Primeiramente, é notório que a maioria dos grandes provedores de aplicações,
notadamente as pessoas jurídicas que exerçam essa atividade de forma organizada e
profissionalmente, usualmente não proveem os seus serviços filantropicamente, mas sim
gratuitamente, obtendo de seus usuários uma contrapartida valiosa, que é a permissão da
exploração comercial de todas as informações lá deixadas.
Acerca disso, o Marco Civil não veda tal prática, apenas prevê que os provedores de
aplicações deverão ser mais transparentes perante os seus usuários e que deverão obter
22

consentimento expresso para tais finalidades, o que na prática já ocorre na maioria dos casos
mediante anuência dos conhecidos Termos de Uso e Políticas de Privacidade.
Portanto, os provedores de aplicações, como o Marco Civil, têm a permissão legal,
mediante consentimento do usuário, de guardar e utilizar comercialmente todas as
informações de seus usuários, desde que não vedado expressamente por Lei, assim como,
desde que tais cláusulas estejam destacadas das demais (art. 7, inciso XI). Com o começo da
Internet e o aumento das técnicas eletrônicas de comunicação no país, a proteção ao direito
fundamental de privacidade ganhou maior atenção. As questões de maior divergência sobre a
falta de precauções com cookies, base de dados, prática de spaming e monitoramento de e-
mails. Diante de tal questão, considerando que o Código de Defesa do Consumidor já
determina que a prestação de serviços seja realizada com clareza, atualmente há uma lei
especificando tal questão no sentido de que as regras sensíveis devem ser destacadas das
demais, por esse ângulo, os provedores de aplicações poderão executar suas atividades
comerciais com maior segurança jurídica.
Além disso, ponderando que os provedores de aplicações que são utilizados para
práticas ilícitas são grandes grupos econômicos, já que quanto maior o numero de usuários
utilizando a função, maior a disseminação e exposição do conteúdo considerado ofensivo. Os
provedores tem o dever de, através de seus termos de uso, impor as regras para o emprego de
suas funcionalidades, conferindo sanções administrativas na hipótese de eventual
descumprimento. O contrato de prestação de serviço entre o provedor de funcionalidades de
internet e seus usuários em certas circunstancias pode impedir de forma eficiente
determinadas discussões, também esclarecer dúvidas e permitir condutas, sem se fazer
necessário a busca de um processo judicial, contanto que sejam observadas as normas de
ordem pública.
Por meio do contrato de prestação de serviços que é assinado pelo usuário de forma
eletrônica, é capaz de conter cláusulas individualizadas sobre o tratamento das atuações
ilícitas efetuadas dentro da plataforma, disciplinando os usuários por meio de cancelamento
dos serviços, suspensão ou advertência. É válido salientar que devem se tratar de casos em
que não exista duvidas sobre a ilicitude da conduta, casos em que além de aplicar sanções
administrativas ao usuário, o provedor tem o dever de retirar de forma urgente o conteúdo a
contar do momento de sua ciência, como por exemplo nos casos de racismo, violação da
propriedade intelectual e pornografia infantil.
Contudo, quando o provedor encontra um conteúdo que não é claramente ilegal,
existindo insegurança sobre a ilicitude ou não da conduta,
23

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta é a parte final do artigo, na qual se apresenta uma recapitulação do que já foi
tratado no desenvolvimento do trabalho, por isso não deve conter assuntos ou temas novos
que não tenham sido abordados ao longo do estudo.
Trata-se de uma recapitulação sintética dos resultados da pesquisa, ressaltando o
alcance de suas contribuições. Dessa forma, não se trata de um simples resumo da pesquisa,
mas uma síntese interpretativa dos principais argumentos abordados no desenvolvimento.
Se na Introdução foram apresentadas hipóteses, as mesmas deverão ser retomadas no
sentido de responder se conseguiu ou não chegar ao que havia sido proposto.

REFERÊNCIAS

As referências são obrigatórias e devem ser elaboradas conforme a NBR 6023, apresentadas
em ordem alfabética alinhadas à esquerda, em espaço simples (1,0 cm) e separados entre si
por um espaço simples (1,0 cm). Exemplo:

CORREIA, Larissa Costa; SOUZA, Nadia Aparecida de. Pesquisa bibliográfica ou revisão de
literatura: traçando limites e ampliando compreensões. In: XIX ENCONTRO ANUAL DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA. 2010, Guarapuava. Anais eletrônicos... Guarapuava, PR:
UNICENTRO, 2010, p. 1-4. Disponível em: <http://anais.unicentro.br/xixeaic/pdf/1262.pdf>.
Acesso em: 20 fev. 2017.

MACEDO, Neusa Dias de. Iniciação à pesquisa bibliográfica: guia do estudante para a
fundamentação do trabalho de pesquisa. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1994.

Apêndices e Anexos são opcionais.


- Apêndices são textos ou documentos elaborados pelo próprio autor;
- Anexos são textos ou documentos não elaborados pelo autor.
24

AGRADECIMENTOS (opcional)

Escreva aqui os agradecimentos (opcional).


i
Graduando ou Graduanda em .............................................., Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama/MG. e-
mail do aluno
ii
Graduando ou Graduanda em .............................................., Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama/MG. e-
mail do aluno
iii
Titulação/Formação do orientador. Docente da Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama/MG. e-mail do
orientador

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