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PARECER JURÍDICO nº 001/2019

CONSULENTE:
CONSULTADOS: Raíssa Sena de Lucena
TEMA: NULIDADE DA TCFA EM VIRTUDE DA AUSÊNCIA DE FISCALIZAÇÃO IN
LOCO

PARECER

I – RELATÓRIO

Consulta-nos a Empresa A LTDA, CNPJ n° 01.234.765/000-00, a respeito da


legalidade do auto de infração recebido em razão do não recolhimento da Taxa de Controle e
Fiscalização Ambiental (TCFA), referente ao período de 2018, tendo em vista que não ocorreu
fiscalização in loco no empreendimento empresarial pelo IBAMA.

É o que importa relatar. Segue a análise do caso apresentado.

II – DA FUNDAMENTAÇÃO

A Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, estabelece a Política Nacional do


Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação; constitui o Sistema
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental,
com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 225 da Constituição Federal.
Pela importância para o estudo do caso, transcreve-se o art. 225 da CF, que
trata sobre o direito dos cidadãos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

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V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e
o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade.

A mencionada Lei representou um marco para o nosso país, colocando em


pauta a importância da preservação do meio ambiente para futuras gerações, apoiando
empreendimentos sustentáveis e diminuindo a degradação ambiental.
Passou-se, nesse sentido, a propagar uma política de desenvolvimento
econômico-social aliada com a sustentabilidade ambiental, buscando tanto a adoção de
condutas preventivas de maior preservação da biodiversidade e dos ecossistemas
naturais, como repressivas, no intuito de reparar ou indenizar os danos causados ao
meio ambiente.
A Política Nacional Ambiental foi instituída dentro desse contexto de maior
conscientização ambiental, destacando-se a necessidade das atividades econômicas
serem desenvolvidas com um olhar mais atento ao equilíbrio ecológico, adaptando-se,
assim, a nova realidade exigida pela legislação ambiental.
A Lei n° 6.938/1981, no seu art. 2°, traz os objetivos da Política Nacional do
Meio Ambiente:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico,
aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida
humana, atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando
o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente
poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente.

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Com a adoção de uma política voltada ao meio ambiente, houve sensível
aumento na fiscalização e no controle do uso dos recursos ambientais. O licenciamento
para o desenvolvimento das atividades econômicas passou a ser uma necessidade com o
intuito de avaliar se os empreendimentos estão aptos a operar de forma sustentável e se
estão constituídos dentro das exigências legais.
Além disso, são verificadas periodicamente se as medidas relativas ao controle
e à manutenção da qualidade do meio ambiente estão sendo cumpridas adequadamente
nos termos da legislação.
Nesse panorama que se insere a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental
(TCFA), prevista no artigo 17-B da Lei nº 6.938/1981, redação dada pela Lei nº
10.165/2000, decorrente do poder de polícia exercido pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com o desiderato de custear o
controle e a fiscalização de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de
recursos naturais.
Cabe aqui nesse ponto trazer algumas considerações relevantes sobre a espécie
tributária denominada taxa. A taxa, disposta no art. 145, II, da CF, é um tributo
vinculado a uma atuação estatal diretamente referida ao sujeito passivo e cobrada pela
União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas
respectivas atribuições.
Nos termos do art. 77 do CTN, as taxas têm como fato gerador o exercício
regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público
específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.
As taxas são, portanto, tributos retributivos ou contraprestacionais, não
podendo ser cobradas sem que o Estado exerça o poder de polícia ou preste ao
contribuinte, ou coloque à sua disposição, um serviço público específico e divisível.
Harada (2014, p. 330) conceitua a taxa como um tributo que surge da atuação
estatal diretamente dirigida ao contribuinte, quer pelo exercício do poder de polícia,
quer pela prestação efetiva ou potencial de um serviço público específico e divisível,
cuja base de cálculo difere, necessariamente, da de qualquer imposto.
Para Sabbag (2018, p. 469) a taxa é um tributo imediatamente vinculado à ação
estatal, atrelando-se à atividade pública, e não à ação do particular. É assim, um
gravame com hipótese de incidência plasmada em atividade da Administração Pública,
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que se refere, direta e imediatamente, ao contribuinte, destinatário daquela investida do
Estado.
Conforme o disposto nas normas legais, as taxas podem ser de duas espécies:
taxa de serviço e taxa de polícia. A primeira é cobrada em razão da prestação estatal de
um serviço público específico e divisível, sendo estes requisitos cumulativos.
Kfouri Jr. (2012, p. 96) destaca que duas características importantes distinguem
a taxa: a especificidade e a divisibilidade, ou seja, para que possa ser cobrada é
obrigatório que o serviço prestado possa ser segregado, quantificado e divisível, sob
pena de inconstitucionalidade da cobrança, ferindo o disposto no inciso II do art. 145 da
CF.
O CTN, no seu art. 79, esclarece a questão da especificidade e divisibilidade
dos serviços públicos:

Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se:


(...)
II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de
intervenção, de utilidade, ou de necessidades públicas;
III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de
cada um dos seus usuários.

É importante ressaltar que além dos atributos da especificidade e divisibilidade,


o serviço público apto a ensejar a cobrança por meio de taxa deverá ser de utilização
efetiva ou potencial pelo contribuinte. Segundo o CTN, em seu art. 79, são utilizados
efetivamente pelo contribuinte quando por ele usufruídos a qualquer título; e
potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição
mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento.
A taxa de polícia tem como fato gerador o exercício regular do poder de
polícia, sendo cobrada em virtude de atos de polícia realizados pelo Estado, pelos mais
diversos órgãos ou entidades fiscalizadores, em nome do princípio da supremacia do
interesse público sobre o interesse privado.
O CTN assim destaca em seu art. 78:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública


que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a
prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes
de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
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Segundo Schoueri (2011, p.171) o conceito de poder de polícia é bastante
amplo, no sentido de um Estado que busca garantir o bem comum, intervindo quando
necessário e assegurando o convívio social, limitando abusos.
Assim, o bem comum, o interesse público, o bem-estar geral podem justificar a
restrição ou o condicionamento do exercício de direitos individuais em prol da
coletividade.
Analisando o caso específico, verifica-se que a TCFA é enquadrada como uma
taxa de polícia, cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao
IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e
utilizadoras de recursos naturais.
A taxa em tela remunera o exercício do poder de polícia do Estado. Desse
modo, impõe-se reconhecer que aqueles que exercem atividades de impacto ambiental
tipificadas na lei sujeitam-se à fiscalização do IBAMA, pelo que são contribuintes da
taxa decorrente dessa fiscalização, fiscalização que consubstancia, vale repetir, o poder
de polícia estatal.
O Anexo VIII da Lei nº 6.938/1981, incluído pela Lei nº 10.165, de 27 de
dezembro de 2000, elenca as atividades consideradas potencialmente poluidoras para
fins de pagamento da exação, a qual é cobrada trimestralmente. O seu valor é calculado
em observância com o “potencial de poluição (PP)” e o “grau de utilização (GU)” dos
recursos naturais de cada uma das atividades sujeitas à fiscalização do IBAMA.
Vale salientar que os valores cobrados a título de TCFA não eram atualizados
desde a edição da Lei nº 10.165/2000. Entretanto, com a entrada em vigor da Lei nº
13.196/2015 que, em seu artigo 3º, autorizou o Poder Executivo a atualizar
monetariamente, até o limite do valor acumulado do IPCA/IBGE, o valor da taxa,
mediante a Portaria Interministerial MMA/MF nº 812/2015, sofreu um reajuste de
158%.
Importante frisar que os recursos arrecadados com a TCFA terão utilização
restrita em atividades de controle e fiscalização ambiental, por ser um tributo de
natureza vinculada.
No que diz respeito à natureza jurídica da Taxa de Controle e Fiscalização
Ambiental, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a hipótese de incidência da taxa em
destaque decorre da fiscalização de atividades poluidoras e utilizadoras de recursos
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ambientais, ou seja, remunera o exercício do poder de polícia do Estado exercido pelo
IBAMA. Segue alguns julgados da Corte Suprema:

EMENTA: AMBIENTAL. TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO


AMBIENTAL – TCFA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
INEXISTÊNCIA. PODER DE POLÍCIA. FISCALIZAÇÃO. AGENTES DO
IBAMA. PRECEDENTES DO STJ E DO STF SOBRE O TEMA.
1. Trata-se, na origem, de Mandado de Segurança com o escopo de debater a
cobrança da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA). A sentença
concessiva da Segurança foi reformada pelo Tribunal local.
2. O Tribunal a quo julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia,
tal como lhe foi apresentada. Não é o órgão julgador obrigado a rebater, um a
um, todos os argumentos trazidos pelas partes em defesa da tese que
apresentaram. Deve apenas enfrentar a demanda, observando as questões
relevantes e imprescindíveis à sua resolução, o que foi feito na origem.
3. "A atividade fiscalizatória desempenhada pelo IBAMA é autorizada
expressamente pela Lei n. 10.165/2000, que teve sua constitucionalidade
declarada pelo STF, da qual decorre a legitimidade da autarquia federal para
cobrança da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental". (AgRg. no Ag.
1.233.775/MG, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe
6/4/2010). Confiram-se ainda REsp 695.368/RJ, Rel. Ministro José Delgado,
Primeira Turma, DJ 11/4/2005; STF, RE-AgR. 401.071/SC, Rel. Min. Carlos
Britto, Primeira Turma, DJ 23/6/2006; RE 465.371, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence; RE 440.890, Rel. Min. Gilmar Mendes; 464.006, Rel. Min. Celso
de Mello; e RE 433.025, Rel. Min. Carlos Britto.
4. Agravo Regimental não provido. (AgRg no Ag 1.4189.767/MG, Rel. Min.
Herman Benjamin, DJ de 01/08/2012).

EMENTA: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. TCFA - TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO
AMBIENTAL. LEIS 10.165/2000, ART. 1º E 6.938/81. COBRANÇA PELO
IBAMA. POSSIBILIDADE. EXERCÍCIO REGULAR DO PODER DE
POLÍCIA. ADEQUADA FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC.
COMPETÊNCIA DO STF PARA EXAME DE OFENSA A DISPOSITIVOS
CONSTITUCIONAIS.
1. Trata-se de recurso especial interposto por empresas (postos) revendedores
de combustível, objetivando" declarar a inexistência de relação jurídica
tributária que obrigue os apelantes ao recolhimento da TCFA e o seu
cadastramento junto ao IBAMA, devolvendo-se as quantias depositadas
judicialmente pelos apelantes a esse título...". O apelo, em síntese, alega que
o acórdão impugnado violou dispositivos legais e constitucionais, vez que a
norma que autoriza a cobrança da taxa em referência (Lei 10.165 de
27/10/2000), ao conferir nova redação ao art. 17-B da Lei 6.938, de
31/08/1981, reproduziu a Taxa de Fiscalização ambiental, criada pela Lei
9.960/2000, cuja exigibilidade foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal
(ADIN nº 2.178-8 /DF).
2. Não se verifica o apontado óbice legal, vez que a Lei 10.165/2000, ao
conferir nova redação à Lei 6.938/81, autorizou de modo expresso, direto e
induvidoso o munus público exercitado pelo IBAMA: "Art. 17-B. Fica
instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA, cujo fato
gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama

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para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e
utilizadoras de recursos naturais." (Lei 10.165/2000, Art. 1º)
3. Adequadamente fundamentado o acórdão e enfrentada as questão
insdispensáveis à solução da lide, não se reconhece violação dos arts. 458, II
e 535 do CPC.
4. A via processual do recurso especial não autoriza a alegação de ofensa a
dispositivos constitucionais, cujo julgamento compete ao Supremo Tribunal
Federal.
5. Recurso especial conhecido em parte, e, nessa, desprovido.
(REsp 695.368/RJ, Rel. Min. José Delgado, DJ de 11/04/2005).

Ao instituir a TCFA, a Lei nº 10.165/2000, em seu art. 17-B, disciplinou como


sujeito ativo da relação obrigacional o IBAMA, tendo este o poder para controlar e
fiscalizar as atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais.
Outrossim, em atenção à competência comum autorizada pela legislação em
espeque, a celebração de convênios do IBAMA com os Estados, os Municípios e o
Distrito Federal para desempenharem atividades de fiscalização ambiental, permite
repassar-lhes parcela da receita obtida com a TCFA, nos termos do art. 17-Q da Lei nº
6.938/1981.
Além disso, no mesmo diploma normativo há a possibilidade de compensação
do montante pago pelo estabelecimento ao Estado, Município ou Distrito Federal em
razão de taxa de fiscalização ambiental com o valor devido a título de TCFA (art.17-P).
Desta feita, ainda que outros tributos sejam cobrados pelos demais entes
federados em decorrência de fiscalização ambiental, tal situação não vai importar dupla
incidência, tendo em vista tratar-se de competência comum, não havendo, pois, invasão
de competência.
Inclusive, cabe assinalar que o Supremo Tribunal Federal enfrentou a questão
da cobrança da TCFA em inúmeras oportunidades, ratificando a sua
constitucionalidade. Por ocasião do julgamento do leading case RE nº 416.601/DF do
Recurso Extraordinário nº 416.601, da relatoria do Ministro Carlos Velloso, o Plenário
do Supremo Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade da TCFA. A propósito,
a ementa do referido julgado pela Suprema Corte:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IBAMA: TAXA DE


FISCALIZAÇÃO. Lei 6.938/81, com a redação da Lei 10.165/2000, artigos
17-B, 17-C, 17-D, 17-G. C.F., art. 145, II. I. - Taxa de Controle e
Fiscalização Ambiental - TCFA - do IBAMA: Lei 6.938, com a redação da
Lei 10.165/2000: constitucionalidade. II. - R.E. conhecido, em parte, e não
provido.
(RE 416601, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado

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em 10/08/2005, DJ 30-09-2005 PP-00005 EMENT VOL-02207-3 PP-00479
RIP v. 7, n. 33, 2005, p. 237-252)

O voto condutor do Recurso Extraordinário em tela assentou:

As taxas, portanto, decorrem do poder de polícia do Estado, ou são de


serviço, resultantes da utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição
(C.F, art. 145, 1). O poder de polícia está conceituado no art. 78, CTN.
No caso, tem-se uma taxa decorrente do poder de polícia exercido pelo
IBAMA. Este, assevera Sacha Calmon Navarro Coelho, no parecer transcrito
às fls. 374 e seguintes, forte na Lei 6. 938/81, art. 10, §§ 1º a 4º ocupa-se de
duas atividades:
"(...) o licenciamento das atividades poluidoras ou utilizadoras de recursos
naturais, atividade que realiza em caráter supletivo, quando os Estados não o
fazem (art. 10, caput), concorrente com estes (art. 10, § 20), ou exclusivo,
para as atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito
nacional ou regional (art. 10, § 4' ); a fiscalização dessas mesmas atividades,
para verificar se se desenvolvem nos termos em que autorizadas, o que faz
em caráter supletivo, quando Estados e Municípios não a empreendem. (...)."
(Fl. 375)
A hipótese de incidência da taxa é a fiscalização de atividades poluidoras e
utilizadoras de recursos ambientais, exercida pelo IBAMA (Lei 6.938/81, art.
17-B, com a redação da Lei 10. 165/2000).
Tem-se, pois, taxa que remunera o exercício do poder de polícia do Estado.
Não há invocar o argumento no sentido de que a taxa decorrente do poder de
polícia fica “restrita aos contribuintes cujos estabelecimentos tivessem sido
efetivamente visitados pela fiscalização”, por isso que, registra Sacha
Calmon - parecer, fl. 377 - essa questão “já foi resolvida, pela negativa, pelo
Supremo Tribunal Federal, que deixou assentada em diversos julgados a
suficiência da manutenção, pelo sujeito ativo, de órgão de controle em
funcionamento (cf., inter plures, RE 116518 e RE 230.973). Andou bem a
Suprema Corte brasileira em não aferrar-se ao método antiquado da vistoria
porta a porta, abrindo as portas do Direito às inovações tecnológicas que
caracterizam a nossa era”.
Destarte, os que exercem atividades de impacto ambiental tipificadas na lei
sujeitam-se à fiscalização do IBAMA, pelo que são contribuintes da taxa
decorrente dessa fiscalização, fiscalização que consubstancia, vale repetir, o
poder de polícia estatal.

Observa-se que a referida taxa, decorrente do poder de polícia exercido pelo


IBAMA, abarca duas atividades: (a) o licenciamento das atividades poluidoras ou
utilizadoras de recursos naturais, e (b) a fiscalização dessas mesmas atividades, para
verificar se se desenvolvem nos termos em que autorizadas.
Outro ponto a ser mencionado é que para a configuração das taxas de polícia
basta que o exercício do poder fiscalizatório do Estado tenha sido necessário em razão
de fato do contribuinte. Por conseguinte, a referida exação não se limita, pois, às

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hipóteses em que o exercício do poder de polícia resulta em um ato administrativo
específico no interesse do contribuinte (um alvará, um laudo, uma licença, etc.).
Isto é, não se exige que o efetivo exercício seja materializado em atos
administrativos imbrincados ao sujeito passivo da exação, posto que o poder de polícia
deve ser exercido de forma contínua e permanente, não se exaurindo na concessão de
alvarás, laudos e outros atos certificatórios congêneres, que apenas espelham uma
situação de fato datada.
Há que se destacar, no entanto, que há uma corrente doutrinária que entende
que a taxa de polícia só poderia ser cobrada do sujeito passivo quando lhe fosse
prestado um “serviço de fiscalização” específico e divisível, de modo que somente
ocorreria o fato gerador no momento da vistoria da autoridade competente, mediante a
concessão de alvará, por exemplo, certificando estar em condições de atuar, sob a ótica
das condições ambientais.
Em que pese o Supremo Tribunal Federal em decisões mais recentes ter
presumido o exercício do poder de polícia quando existente o órgão fiscalizador, mesmo
que este não comprove haver realizado fiscalizações individualizadas no
estabelecimento de cada contribuinte (RE 416.601), entende-se que a lei claramente
definiu como fato gerador o exercício regular do Poder de Polícia, consubstanciado no
controle e fiscalização efetiva dos empreendimentos potencialmente poluidores e
utilizadores de recursos naturais.
Ademais, vale registrar que o princípio da legalidade tributária encontra
respaldo no art. 150, inciso I, da Constituição Federal, in verbis:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

Desse modo, não cabe ao referido órgão ambiental lavrar auto de infração sem
que realize a efetiva fiscalização da atividade empresarial do particular, sob pena de
ofensa ao princípio da legalidade.
É preciso que o IBAMA fundamente a autuação com base em análise concreta
e individualizada, não bastando uma presunção generalizada que trate de forma
equiparada todos os contribuintes, sem levar em conta as particularidades de cada
empreendimento e das atividades realizadas.
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Nesse sentido, orienta-se que o consulente ajuíze Ação Anulatória de Débito
Fiscal, buscando a anulação do auto de infração lavrado pelo IBAMA, no qual exigiu a
TCFA.
No entanto, diante da jurisprudência consolidada no âmbito do STF no sentido
da possibilidade de presunção do exercício de tal poder, quando existir órgão de
fiscalização devidamente criado e integrado por servidores legalmente competentes para
o exercício de certa atividade, permitindo a utilização da tecnologia e da inteligência
fiscal como meios de superar a arcaica prevalência da fiscalização ostensiva de porta em
porta, sugere-se que o contribuinte realize o depósito do montante integral para discutir
o mérito da ação, evitando a incidência de juros e correção monetária sobre o débito,
caso venha a ser julgada improcedente a demanda.
III – CONCLUSÃO

Da análise dos fatos suscitados neste parecer, conclui-se que a TCFA somente
pode ser cobrada pelo IBAMA quando houver fiscalização efetiva in loco do
empreendimento empresarial do contribuinte, com lastro no princípio da legalidade
tributária e do exercício concreto do poder de polícia, parte integrante do fato gerador
que compõe a definição da taxa em questão.
Desse modo, é cabível o ajuizamento de Ação Anulatória de Débito Fiscal
objetivando anular o auto de infração lavrado pela autarquia federal, tendo em vista
vícios materiais na autuação.
Para tanto, buscando evitar eventuais prejuízos ao contribuinte, recomenda-se
o depósito judicial prévio para discutir o mérito, suspendendo a exigência do crédito
tributário e afastando a incidência de juros e correção monetária sobre o débito.

Natal/RN, 14 de setembro de 2019.

Álvaro da Silva Freire de Melo


André Felipe Bandeira Cavalcante
Magda Bezerra de Medeiro
Rafaela Furtado Nogueira de Araújo
Raíssa Sena de Lucena

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REFERÊNCIAS

HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

JR. KFOURI, Anis. Curso de direito tributário. 2. ed. Saraiva, 2012.

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. 10. ed. São Paulo: Saraiva Jur,
2018.

SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2011.

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