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Prova

I. Princípios gerais
1. Princípio da investigação - art. 340.º CPP
Este princípio determina que o juiz tem o poder-dever de tomar as iniciativas
necessárias, ainda que oficiosamente, para descobrir a verdade material (n.º 1). O juiz do
processo penal não é, assim, um puro árbitro, sendo participativo na produção da prova.
Levanta dúvidas quanto à imparcialidade do julgador pois ao procurar prova num
determinado sentido está a favorecer um dos oponentes. Assim, este princípio deve ser
utilizado com contenção, só entrando em cena quando for estritamente necessário como
se retira, por exemplo, do art. 348.º n.º 5 CPP.
Decorre deste princípio que, por força deste princípio é possível concluir que em
processo penal não existe um ónus da prova pois ainda que os sujeitos processuais não
produzam ou apresentem as provas necessárias a provar os factos, não fica o Tribunal
impedido de as mandar produzir.
Limite: proibição da alteração substancial dos factos - art. 359.º CPP - ao juiz, nos
seus poderes de investigação, não são conferidos poderes para investigar factos que não
compreendam o objeto do processo.
2. Princípio da livre apreciação da prova (sistema da prova livre) - art.
127.º CPP
A questão que está aqui em causa é a de saber de que forma pode o Tribunal chegar
à convicção de que determinados factos ocorreram. Tal ocorre através dos meios de
prova, recolhidos através de métodos de obtenção de prova. Ora, decorre do art. 127.º
CPP que, salvo quando exista disposição especial em contrário, a prova é apreciada
segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente, não estando
o valor a atribuir-lhe predeterminado pela lei.
Há um dever de fundamentação da decisão quanto à decisão da matéria de facto -
art. 374.º n.º 2 CPP.
 Ac.TC n.º 680/98 - julgou inconstitucional a interpretação deste preceito no
sentido de se bastar com a enumeração dos meios de prova utilizados e não o processo
decisório.
O Tribunal só pode dar como provado um facto incriminatório quando se
convencer dele para além da dúvida razoável.
Este princípio é aplicável aos OPC (medidas cautelares), MP (acusação), JIC
(pronúncia e medidas de coação) e ao Juiz de julgamento (sentença);
Limites a este princípio:
 Em sede de declarações do arguido:
 Não pode o silêncio ser valorado, seja o mesmo total - art. 343.º n.º 1 CPP - ou
parcial - art. 345.º n.º 1 CPP;
 Quando o arguido preste declarações, e destas resulte a negação dos factos que
lhe são imputados vale o princípio da livre apreciação da prova enquanto que se resultar
a afirmação dos mesmos é aplicável o regime da confissão previsto no art. 344.º CPP. Se
o arguido efetuar uma confissão integral e sem reservas, não suspeitando o juiz da
liberdade da mesma (n.º 3 al. b), sendo os factos confessáveis (não o são se exigem prova
pericial) e sendo o crime punível com pena de prisão inferior a 5 anos (n.º 3 al. c), é
aplicável o n.º 2 prescindindo-se da prova; se efetuar uma confissão parcial ou faltar um
daqueles requisitos é aplicável o n.º 4 sendo a mesma apreciada livremente pelo Tribunal;
 No âmbito da prova pericial - art. 151.º a 163.º CPP
 Nos termos do art. 163.º CPP, em regra, o juiz está vinculado à perceção e ao
juízo seguido pelo perito. Mas para tal é necessário que em causa esteja a prova pericial,
produzida nos termos do procedimento do art. 151.º CPP, e não qualquer juízo técnico,
científico ou artístico;
 No entanto, pode o juiz divergir desse entendimento, fundamentando-o, desde
logo quando também seja especialista nessa matéria ou quando haja um erro crasso e
notório que a perícia incorre em erro;
3. Princípio in dubio pro reo
Havendo uma dúvida inultrapassável sobre a verificação de um facto, deve o
Tribunal solucionar essa dúvida a favor do arguido, dando como provado um facto que
lhe é favorável e como não provado um que lhe é desfavorável. Não entram neste artigo:
 Dúvidas de direito;
 Prova indiciária;
 Por vezes há factos que são dados como provados, não porque há uma perceção
direta dos mesmos, mas porque se provaram outros dos quais aqueles são
possíveis deduzir;
 Ac. TC n.º 521/2018;
 Ex: A entra algemada num carro de policia sem qualquer hematomas e, no fim
da viagem, surge com vários hematomas, dentes partidos... é possível inferir
destes factos que foi a única pessoa, além do condutor, que a agrediu;
Este princípio não pode funcionar à primeira dúvida pois nesta o Tribunal deve
investigar mais e melhor ao abrigo do princípio da investigação sob pena de aplicação do
art. 410.º n.º 2 al. a) e 120.º n.º 2 al. d) CPP.
No âmbito dos crimes contra a honra, o legislador faz intender sobre o
agente/arguido, a prova da verdade da imputação nos termos do art. 180.º n.º 2 al. b) CP.
 Consagra-se assim um desvio ao princípio em análise como entendeu o Ac.
TRP de 10/12/2008;
A violação do princípio do in dubio pro reo é uma questão de direito pelo que é
suscetível de recurso de revista.
4. Princípio da oralidade – art. 96.º n.º 1 CPP
Para garantir a espontaneidade e a melhor avaliação da credibilidade, as
declarações são prestadas oralmente.
5. Princípio da imediação – art. 355.º e 328.º-A CPP
Decorre do princípio da imediação que as provas com base nas quais o Tribunal
vai tomar a sua decisão deverão ser produzidas e examinadas exclusivamente no
julgamento (sentido objetivo) e a decisão deve ser proferida por um juiz perante o qual
foi produzida a prova (sentido subjetivo).
 A violação do sentido objetivo do princípio da imediação acarreta uma
proibição de prova – art. 355.º CPP;
Em qualquer uma destas vertentes o princípio da imediação sofre limitações
excecionais:
 Art. 356.º CPP – reprodução ou leitura permitidas de autos (n.º 1) e declarações
(n.º 2 a 6) prestadas em fases anteriores do processo por testemunhas, assistentes
e partes civis em determinadas circunstâncias;
 N.º 2 al. a) – declarações para memória futura;
# Ac. STJ de UJ n.º 8/2017 – “as declarações para memória futura,
prestadas nos termos do artigo 271.º CPP, não têm de ser obrigatoriamente lidas
em audiência de julgamento para que possam ser tomadas em conta e constituir
prova validamente utilizável para a formação da convicção do tribunal, nos termos
das disposições conjugadas dos art. 355.º e 356.º n.º 2 al. a), do mesmo Código”;
 Art. 357.º CPP – reprodução ou leitura permitidas de declarações do arguido
prestadas em fases anteriores;
 Pode ser requerido pelo arguido (n.º 1 al. a) ou por qualquer outro sujeito
processual (n.º 1 al. b) independentemente da vontade do arguido;
 A lei admite a leitura das declarações prestadas anteriormente pelo arguido
independentemente da vontade deste e ainda que o mesmo se remeta
posteriormente ao silêncio na audiência de julgamento ou o mesmo se realize na
sua ausência desde que:
# As declarações anteriores tenham sido prestadas perante uma autoridade
judiciaria;
# Tenha sido efetuada a advertência ao arguido de que o que vai dizer pode
ser utilizado posteriormente (art. 141.º n.º 4 al. b) CPP);
# Tem de ter prestado as declarações assistido por defensor pois tal é
obrigatório nos termos do art. 64.º n.º 1 al. b) sob pena de nulidade do ato;
O STJ fixou jurisprudência no Ac. STJ de UJ n.º 8/2017 no sentido de a
reprodução das declaração não ser necessariamente efetuada em julgamento. Ainda que
especificamente para as declarações para memória futura, pode-se estender esse
entendimento aos demais casos.
Decorre do art. 328.º-A n.º 1 CPP que só podem intervir na sentença os juízes que
tenham assistido a todos os atos de instrução e discussão praticados na audiência de
julgamento, salvo o disposto nos números seguintes. Assim, se um juiz que integre um
Tribunal coletivo deixa de poder continuar a exercer poderes de juiz naquele processo e
tem de ser substituído, ter-se-á de constituir novo Tribunal e voltar a produzir toda a prova
(n.º 1) a não ser que:
 Não estiver em causa um juiz presidente e as circunstâncias do caso não
aconselhem a repetição de algum ou alguns dos atos já praticados – n.º 2 1.ª Parte;
 Este juízo é decidido, em despacho fundamentado, pelo juiz que deva presidir
à continuação da audiência, ouvido o juiz substituto nos termos do n.º 2 in fine;
 A impossibilidade pode ser por morte (n.º 1), transferência, promoção ou
aposentação (n.º 5), assim como qualquer outra causa (n.º 1);
 Esteja em causa um impossibilidade temporária – n.º 3;
 Neste caso interrompe-se a audiência pelo tempo indispensável, a não ser que
as circunstâncias aconselhem a substituição do juiz impossibilitado;
 Esta decisão é efetuada em despacho fundamentado, pelo juiz que deva
presidir à continuação da audiência;
Este preceito não é aplicável se em causa estiver o juiz presidente ou se for
substituído mais do que 1 juiz. Nessa situação ter-se-á de constituir novo Tribunal e voltar
a produzir toda a prova.
6. Concentração temporal – art. 328.º CPP
A audiência de julgamento deve ser contínua, decorrendo interruptamente. No
entanto nem sempre tal é possível podendo haver lugar a interrupções ou adiamentos.
O adiamento entre duas sessões não pode ser superior a 30 dias (n.º 6).
 E se esse limite não for respeitado? Não há qualquer sanção para o seu
incumprimento;
II. Produção da prova na audiência de julgamento
Uma vez aberta a audiência de julgamento, são realizadas as questões
introdutórias, estabelecidas no art. 342.º CPP, passando-se depois à produção da prova
seguindo-se a ordem do art. 341.º CPP:
 Declarações do arguido – art. 343.º e ss CPP;
 Declarações do assistente – art. 346.º CPP;
 Prova indicada na acusação;
 Prova indicada pela defesa;
Pode ocorrer que, fruto da prova produzida em julgamento, surja a necessidade de
produzir prova suplementar o que é admissível, a requerimento ou oficiosamente, nos
termos do art. 340.º CPP.

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