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Curso/Disciplina: Atualizações de Direito Civil

Aula: Parte Geral: Capacidade. Atualização devido ao Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº
13.146/2015).
Professor (a): Rafael da Mota Mendonça
Monitor (a): Lívia Cardoso Leite

Aula 01

CAPACIDADE

Houve alterações extremamente relevantes na legislação.

1. Espécies de Capacidade

Temos 2 espécies de capacidade:


- Capacidade de direito ou capacidade genérica ou capacidade jurídica;
- Capacidade de fato ou capacidade de exercício.

Capacidade de direito, genérica ou jurídica

Qual o conceito de capacidade de direito, genérica ou jurídica?


Se confunde com o conceito de personalidade, que está elencado no art. 1º do CC.

Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

De acordo com o art. 1º, personalidade é a aptidão genérica para a aquisição de direitos e
deveres na ordem civil, ou seja, é a capacidade que a pessoa tem de adquirir direitos e deveres no âmbito
cível.
Quando há personalidade, aptidão, capacidade de adquirir direitos e deveres na ordem civil, o
que há é a capacidade de direito. O conceito de capacidade de direito se confunde com o conceito de
personalidade.
A capacidade de direito é a capacidade que se tem de ser titular de direitos e deveres, ou seja,
é o simples fato de se poder titularizar personalidade jurídica. Personalidade é a capacidade para adquirir
direitos e deveres na ordem civil. Os conceitos se confundem.
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Um recém-nascido de 1 mês e meio de idade tem personalidade, pois nasceu com vida.
Também tem capacidade de direito. Os conceitos se confundem.

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Podemos traçar uma diferença entre personalidade e capacidade de direito?
A personalidade não pode sofrer qualquer tipo de limitação, diferentemente da capacidade de
direito, que pode sofrer limitação.

A idade núbil, idade mínima para casar, de acordo com o art. 1517 do CC, é de 16 anos.

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos
os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.

O menor com 16 anos, desde que autorizado por seus pais, pode casar.
Um menor de 15 anos tem personalidade, pois nasceu com vida; tem capacidade de direito,
mas não para casar. Para casamento a sua capacidade de direito sofre uma limitação.
Um menor de 17 anos tem personalidade e capacidade de direito, mas não tem capacidade de
direito para adotar uma criança. Só pode adotar aos 18 anos.

A capacidade de direito pode sofrer limitações, o que não ocorre com a personalidade.

Qual a diferença entre personalidade jurídica, capacidade jurídica e legitimação?


Não se trata da legitimação no âmbito processual, mas sim da legitimação no âmbito do direito
material.
Legitimação é a possibilidade que a pessoa tem de integrar determinada relação jurídica.
A capacidade de direito está mais relacionada com o aspecto interno e a legitimação com o
aspecto externo.

Os conceitos de personalidade e capacidade de direito se confundem um pouco, mas o de


legitimação é completamente diferente. Esta é a possibilidade que o ser humano tem de integrar
determinada relação jurídica.
Ex: menor de 17 anos de idade tem personalidade, capacidade de direito, capacidade de
direito para casar, mas não tem legitimação para casar com a sua própria irmã. Ele não pode integrar essa
relação jurídica específica. Casamento entre colaterais de 2º grau é nulo, de acordo com o art. 1521 do CC.

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
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VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.

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Conceito de capacidade de direito se confunde com o de personalidade.

Capacidade de fato ou de exercício

É a possibilidade, a aptidão que a pessoa tem para praticar PESSOALMENTE atos jurídicos.
Possibilidade que se tem de sozinho praticar atos jurídicos.
Quem não tem essa aptidão, quem não pode pessoalmente, quem não pode sozinho praticar
atos jurídicos, é chamado de incapaz. A incapacidade pode ser ABSOLUTA ou RELATIVA.

Os absolutamente incapazes não têm aptidão para sozinhos, para pessoalmente praticar atos
jurídicos, mas podem praticá-los se estiverem representados.
Os relativamente incapazes também não têm aptidão para praticarem pessoalmente atos
jurídicos, mas podem praticá-los se estiverem assistidos.

O absolutamente incapaz está no art. 3º do CC:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
(dezesseis) anos.

O relativamente incapaz está no art. 4º do CC:

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:


I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.

Importante conhecer o rol de absolutamente e relativamente incapazes. Isso é de extrema


importância porque há repercussões na parte geral do Direito Civil, no Direito Obrigacional, no Direito
Contratual, no Direito das Coisas, no Direito de Família etc.
Ex: quando um absolutamente incapaz celebra um negócio jurídico, este é nulo. Quando um
relativamente incapaz o celebra, ele é anulável.
O prazo prescricional não corre contra o absolutamente incapaz, mas corre contra o
relativamente incapaz.
O casamento celebrado entre absolutamente incapazes é nulo, mas entre relativamente
incapazes é anulável.
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Tempo de posse contra absolutamente incapaz não é contado para fins de usucapião, mas é
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contado contra relativamente incapaz.

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A Lei nº 13146/20151 alterou o rol de absolutamente incapazes e o de relativamente
incapazes. Essa lei é o nosso Estatuto do Deficiente. Ele não visa estabelecer mais instrumentos de
proteção ao deficiente. O CC já possui todo um rol de instrumentos protetivos da pessoa portadora de
necessidades especiais. A intenção da Lei nº 13146/15 não é estabelecer mais instrumentos de proteção,
mas sim estabelecer instrumentos emancipatórios do portador de algum tipo de deficiência, permitindo
que ele tenha mais autonomia para integrar e participar das relações sociais.

Lei nº 13146/15, art. 1º - É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto
da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos
direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho
de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no §3º do art. 5º da Constituição da República Federativa
do Brasil, em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados
pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no plano interno.

Esse art. traça os objetivos da lei. É um estatuto de inclusão da pessoa portadora de


deficiência, e não um estatuto de proteção da pessoa portadora de deficiência. A ideia da lei é dar mais
autonomia ao deficiente, para que ele possa participar de forma mais qualitativa das relações sociais. É um
estatuto de inclusão. O que se quer é incluir nas práticas sociais o deficiente. Para isso outorga-se maior
autonomia. Por isso o rol de absolutamente e o de relativamente incapazes foi reduzido. O número de
incapazes diminuiu, pois a ideia do estatuto é dar maior autonomia às pessoas portadoras de deficiência.

Devemos ler o art. 3º antes do Estatuto do Deficiente e o art. 3º após o Estatuto do Deficiente.

o
Art. 3 São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a
prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

o
Art. 3 São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
(dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
III - (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)

Hoje, o único absolutamente incapaz do art. 3º é o menor de 16 anos. O que aconteceu com
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os outros absolutamente incapazes?

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Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).

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O antigo inciso II falava sobre “os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário discernimento para a prática desses atos”. Estes deixaram de ser absolutamente incapazes e
passaram a ser plenamente capazes.
O antigo inciso III trazia “os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade”. Estes deixaram de ser absolutamente incapazes e passaram a ser relativamente incapazes.

Art. 4º do CC antes e depois do Estatuto do Deficiente:

o
Art. 4 São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei
nº 13.146, de 2015)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento
reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação
dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela
Lei nº 13.146, de 2015)

Saíram do inciso II “os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido”. Estes
passaram a ser plenamente capazes.
No inciso III estão “’aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir
sua vontade”. Estes estavam no antigo art. 3º, inciso III. O inciso novo ganhou a palavra “permanente”.
Agora todos são relativamente incapazes.
O antigo art. 4º, inciso III, que falava sobre “os excepcionais, sem desenvolvimento mental
completo”, não mais existe, pois estes passaram a ser plenamente capazes.
O inciso IV continua o mesmo e fala sobre os pródigos.

Podemos notar, com as alterações vistas, que após o Estatuto do Deficiente passaram a ser
plenamente capazes “os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos”, “os que, por deficiência mental, tenham o discernimento
reduzido”, e “os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo”. Todos passaram a ser plenamente
capazes. Em resumo, os deficientes mentais passaram a ser plenamente capazes. Ex: pessoas com
síndrome de Down, Alzheimer, algum grau de autismo etc. Todas passaram a ser plenamente capazes.
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O bisavô com Alzheimer é capaz? Sim. Plenamente capaz. E se o Alzheimer for muito avançado
e ele não conseguir praticar atos da vida civil? Ele pode ser interditado. Nada impede que os familiares
movam contra ele uma ação de interdição.

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Para os deficientes mentais, que agora são plenamente capazes, a sentença em uma ação de
interdição deixa de ter natureza declaratória, e passa a ter natureza CONSTITUTIVA, uma vez que a lei, após
o Estatuto do Deficiente, alterou a sua presunção. A presunção agora é a de que os deficientes mentais são
capazes. Mas se no caso concreto o deficiente mental não puder praticar os atos da vida civil, é a decisão
judicial que deverá constituir a sua incapacidade. A incapacidade vem da decisão judicial, e não da lei.
Para todos os outros incapazes, dos arts. 3º e 4º, a ação de interdição ou a ação de tutela para
o menor de 16 anos e para os menores entre 16 e 18 anos, continuam tendo natureza meramente
declaratória, uma vez que a incapacidade decorre da lei. Para os deficientes mentais, a lei presume que
todos eles são capazes. Portanto, a decisão judicial é que constitui a incapacidade. A incapacidade deles
não vem mais da lei, mas sempre de uma decisão judicial.

As pessoas com síndrome de Down exemplificam muito bem a intenção legislativa. Temos
graus diferentes da síndrome. Há pessoas que foram mais estimuladas na infância, tiveram educação e
estímulos apropriados ao seu tipo de deficiência, e outras que não tiveram, por inúmeras razões. Há
pessoas com síndrome de Down com plena autonomia, que podem trabalhar, se casar, constituir uma
família, podem integrar as relações sociais. Já outras portadoras da síndrome possuem maiores
dificuldades. Para estas, nada impede que sejam interditadas, que haja a nomeação de um curador para
elas.
Assim, o que temos é uma lei que tenta dar maior autonomia aos portadores de deficiência
mental.

Estatuto do Deficiente, art. 6º - A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive
para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas
sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

Os deficientes mentais hoje são capazes. A intenção do legislador foi dar maior autonomia às
pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, as tornando plenamente capazes para a prática dos atos
da vida civil.

Há um novo rol de incapazes.


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Há repercussões do tema em todo o Direito Civil.

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2. Capacidade do Indígena

Está regulada no art. 4º, parágrafo único do CC:

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.

O dispositivo também foi alterado pelo Estatuto do Deficiente. Foi uma alteração mais formal,
mas que chama a atenção pelo grau inclusivo da legislação. O parágrafo único dizia: “A capacidade dos
índios será regulada por legislação especial”. A palavra índio foi mudada para indígena. A palavra
“indígena” é menos vexatória, mais inclusiva. A palavra índio pode ter um cunho pejorativo.

A capacidade dos indígenas é regulada por legislação especial. Essa legislação é o Estatuto do
Índio, agora Estatuto do Indígena, Lei nº 6001/732.

Lei nº 6001/73, art. 9º - Qualquer índio poderá requerer ao Juiz competente a sua liberação do
regime tutelar previsto nesta Lei, investindo-se na plenitude da capacidade civil, desde que preencha os requisitos
seguintes:
I - idade mínima de 21 anos;
II - conhecimento da língua portuguesa;
III - habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional;
IV - razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional.
Parágrafo único. O Juiz decidirá após instrução sumária, ouvidos o órgão de assistência ao índio e o
Ministério Público, transcrita a sentença concessiva no registro civil.

O artigo diz que o indígena é ABSOLUTAMENTE incapaz.


E o indígena que está completamente integrado às tradições da civilização branca? Ele dirige,
tem um time de futebol, assiste a programas de televisão, ou seja, está completamente integrado à
dinâmica da sociedade. Não é a esse indígena a que o Estatuto se refere. Tanto que o art. 9º, da Lei nº
6001/73, diz que o indígena é absolutamente incapaz, salvo os que já estão integrados à civilização, à
dinâmica da civilização constituída. Aqueles que ainda vivem como civilização indígena, sem nenhum
contato com a nossa, são absolutamente incapazes, a nosso ver. Quem os representa é a Fundação
Nacional do índio - FUNAI, autarquia especial destinada à assistência dos indígenas.

3. Atos Que o Menor Entre 16 e 18 Anos Pode Praticar Sem Assistência

Menor entre 16 e 18 anos é relativamente incapaz. O relativamente incapaz, via de regra,


para a prática de qualquer ato da vida civil tem de ser assistido. Mas há alguns atos que ele pode praticar
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sem assistência. Que atos são esses? Quais atos o menor entre 16 e 18 anos pode praticar sem assistência?
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Dispõe sobre o Estatuto do Índio.

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1º - Pode depor como testemunha. CC, art. 228, I:

Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:


I - os menores de dezesseis anos;

2º - Pode ser mandatário. CC, art. 666:

Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o
mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas
por menores.

O que causa estranheza é que para ser mandante a pessoa tem de ser maior e capaz, mas
para ser mandatária pode ter entre 16 e 18 anos. Essa dinâmica decorre do próprio conceito de mandato.
O mandatário atua em nome e como se fosse o mandante. O que é de extrema relevância é que o
mandante seja maior e capaz. O mandatário pode ser relativamente incapaz. Se o mandante confia em
um relativamente incapaz, entre 16 e 18 anos, para praticar atos em seu nome, não há problema. Porém,
depois ele não pode alegar a menoridade para se negar à prática do ato. Vai ter que praticar o ato. Não
pode se utilizar da menoridade para se negar.

3º - Pode celebrar testamento. Nada impede que um menor entre 16 e 18 anos celebre um
testamento. CC, art. 1860, parágrafo único:

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno
discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.

4º - Pode votar. A legislação eleitoral permite que se vote com 16 anos.

5º - Pode servir às Forças Armadas. A legislação específica afirma que o alistamento deve ser
feito no ano em que se completa 18 anos. Assim, muitas vezes o alistamento é feito aos 17 anos.

4. Hipóteses de Antecipação da Capacidade Plena do Menor

Adquire-se capacidade plena aos 18 anos. Porém, há algumas hipóteses em que o menor tem
a sua capacidade plena antecipada. Essas hipóteses são chamadas de emancipação.
As espécies de emancipação estão no art. 5º, parágrafo único do CC:
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Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:


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I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público,
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis
anos completos;

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II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em
função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

Quais são as espécies de emancipação? São 3 espécies:


- Emancipação voluntária: inciso I, 1ª parte;
- Emancipação judicial: inciso I, 2ª parte;
- Emancipação legal: incisos II a V.

Emancipação voluntária

É aquela que os pais realizam em favor dos seus filhos.

Quais são os requisitos para que um pai emancipe por vontade própria os seus filhos?
- O menor tem de ter no mínimo 16 anos;
- Vontade de ambos os pais;
- Instrumento público.

O menor de no mínimo 16 anos pode ser emancipado pela vontade manifestada de ambos os
pais por instrumento público. Assim, os pais podem antecipar a capacidade plena do menor.
Se um dos pais estiver morto ou ausente, basta a vontade do pai vivo ou presente. Se os 2
tiverem vivos e presentes, e um não quiser emancipar o filho, o menor, representado pelo outro, que
autorizou a emancipação, pode propor uma ação de suprimento judicial de vontade, ação de substituição
de vontade.

Importante! Quando há decisão judicial substituindo a vontade do pai ou da mãe que não
autorizou a emancipação, a emancipação não deixa de ser voluntária. Continua sendo voluntária mesmo
com o pai ou a mãe negando e com a vontade substituída por decisão judicial. Não passa a ser
emancipação judicial só pelo fato de a vontade de um deles ter sido substituída.

Se os pais manifestarem a sua opinião por instrumento particular, ou seja, emanciparem por
instrumento particular, a emancipação é NULA, uma vez que a forma exigida no inciso I, 1ª parte, é a
pública, e o art. 166, inciso IV, do CC diz que quando o ato não cumpre com a forma prescrita em lei, temos
a nulidade absoluta dele.
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CC, art. 166 - É nulo o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

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III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

Emancipação judicial

É aquela que precisa de sentença.

Quando uma emancipação precisa de sentença?


A sentença é exigida quando um tutor quiser emancipar o seu tutelado. É aquela que o tutor
realiza em favor do seu tutelado. Para evitar qualquer tipo de benefício pessoal e próprio, é imprescindível
que o Judiciário participe dessa emancipação.

Emancipação legal

Hipóteses de emancipação que independem de vontade dos pais e de decisão judicial.


Decorrem da lei. Quais são elas?

- Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:


II - pelo casamento;

O casamento emancipa. A idade núbil, idade para casar, nos termos do art. 1517 do CC, é de
16 anos. Menor com 16 anos pode casar, desde que tenha autorização dos seus pais. Os pais não estão
emancipando, mas autorizando o casamento e é este que, por força de lei, emancipa.
Se um dos pais não quiser autorizar o casamento, o menor, representado pelo outro, pode
propor a ação de suprimento judicial de vontade.

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos
os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.

Lembrar do art. 1520 do CC:

Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil
(art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.
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A única hipótese em que o menor pode casar com idade inferior a 16 anos é a hipótese de
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gravidez. Mesmo assim é imprescindível a autorização dos pais.

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Com menos de 18 anos, para casar, a autorização dos pais é sempre imprescindível. Com
menos de 16 anos é possível somente na hipótese de gravidez, também com autorização dos pais.

- Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:


III - pelo exercício de emprego público efetivo;

Quando passa no concurso público está emancipado. Emprego público deve ser lido como
serviço público em sentido lato.
A redação do parágrafo único foi copiada do CC de 1916. A maioridade no CC/16 era aos 21
anos, de forma que o inciso tinha muita relevância. Às vezes, com 18 anos já se podia fazer concursos
públicos e passar antes dos 21 anos. Portanto, estaria emancipado. Hoje são pouquíssimos os concursos
que se faz com menos de 18 anos e a maioridade é aos 18 anos. Assim, o dispositivo perdeu um pouco da
importância.

- Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:


IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

Também perdeu a relevância com a maioridade aos 18 anos. Quando a maioridade era aos 21
anos, até se poderia colar grau com menos de 21 anos.

- Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:


V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em
função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

A economia própria emancipa. Como se prova, na prática, que há economia própria para, por
força de lei, estar emancipado?
Isso é muito peculiar. Por isso que muitas vezes, nessas situações específicas, há necessidade
de propositura de uma ação declaratória, que é uma ação que busca uma sentença que declara uma
determinada situação jurídica, como por exemplo a economia própria. Com essa decisão judicial se faz
prova nos lugares de que há a economia própria e a possibilidade da prática de atos sem assistência. No
caso é assistência porque tem de ter no mínimo 16 anos.

Dois enunciados do Conselho da Justiça Federal são importantes no que diz respeito à
emancipação em geral:

Nº 3 – Art. 5º: A redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não
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altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/913, que regula específica situação de dependência econômica
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para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial.

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Lei que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.

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A doutrina orienta a não aplicar qualquer tipo de alteração do regime de capacidade em razão
da idade nas questões de benefício previdenciário.

Nº 397 – Art. 5º: A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à
desconstituição por vício de vontade.

Esse enunciado também tem grande repercussão. Os vícios de consentimento podem tornar
nula ou anulável a emancipação, sobretudo no que diz respeito aos pais, quando os pais emancipam os
filhos e o consentimento de um dos pais está viciado. Nesses casos é possível a revisão.
Isso está muito presente quando se está diante de questões inerentes à responsabilidade civil.
Há grandes repercussões.

Quando falamos em responsabilidade civil por atos praticados por menores ou por incapazes,
vem à cabeça o art. 932 do CC:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho
que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro,
mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

O art. fala sobre a responsabilidade civil por fato de outrem ou por fato de terceiro. Nem
sempre quem causa o dano é que responde por ele. Muitas vezes uma pessoa causa um dano e é outra que
responde por ele.
Quem responde pelos atos praticados pelo incapaz são seus representantes. Por um filho
menor são os pais, por um tutelado é o tutor, por um curatelado é o curador etc.

O art. 933 do CC diz que as pessoas referidas no art. 932 do CC respondem de forma objetiva
pelos ilícitos praticados. Isso não exclui a necessidade de se provar a conduta culposa de quem praticou o
ilícito. A conduta culposa de quem praticou o ilícito é imprescindível. Não precisa provar a conduta culposa
das pessoas responsáveis, elencadas no art. 932. Destas não há de ser demonstrada conduta culposa. Elas
respondem objetivamente, diferente daqueles que praticaram o ilícito, que têm de ter a culpa provada.
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Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I
- o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e
um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015)

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CC, art. 933 - As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa
de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

O art. 942, parágrafo único, diz que a responsabilidade é solidária. As pessoas indicadas no art.
932 respondem de forma objetiva e solidária pelos ilícitos, objetiva e solidária com aqueles que praticaram
os ilícitos.

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à
reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela
reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas
designadas no art. 932.

Essa observação se dá por conta dos incisos I e II do art. 932 do CC. O inciso I fala de ilícitos
praticados por filhos menores e o inciso II fala de ilícitos praticados por tutelados e curatelados.
O que é que filhos menores, tutelados e curatelados têm em comum? Todos são incapazes. O
CC traz institutos de proteção ao incapaz. Quando um incapaz pratica um ilícito, o art. 928 do CC diz que ele
responderá não de forma solidária, mas sim de forma subsidiária. Os incapazes responderão de forma
subsidiária pelos ilícitos por eles praticados. A responsabilidade é subsidiária, e não solidária. Sistema de
proteção. Os incapazes responderão apenas na hipótese de os seus representantes não terem condições de
fazê-lo e eles próprios tiverem patrimônio para tanto.

CC, art. 928 - O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se
privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

Trazendo essa perspectiva para a questão da emancipação, os filhos menores emancipados


voluntariamente pelos seus pais e os tutelados emancipados judicialmente deixaram de ser incapazes. Se
estão emancipados voluntariamente ou judicialmente deixaram de ser incapazes. O art. 928 não pode mais
ser aplicado e a responsabilidade deles não pode mais ser subsidiária. A maioria da doutrina e da
jurisprudência sustenta que a responsabilidade deve ser solidária. A responsabilidade dos pais e tutores em
relação a ilícitos praticados por filhos menores e tutelados emancipados deixa de ser subsidiária e passa a
ser solidária. Por que os menores e tutelados não respondem de forma direta? Para que se evite
emancipações fraudulentas, emancipações em que aqueles pais e tutores querem apenas se livrar do
problema. O filho menor causa um problema atrás do outro, pratica ilícitos, causa danos a todos. O pai
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pode querer emancipar para se livrar da responsabilidade. Para evitar emancipações fraudulentas, o
instituto é interpretado de modo a fazer com que a responsabilidade seja solidária.
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Esse é um panorama geral. O estudo deve ser aprofundado no módulo de responsabilidade


civil.

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Obs: Curatelado é o maior incapaz. Logo, não pode ser emancipado.

Prestar atenção nas alterações trazidas pelo Estatuto do Deficiente!


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