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Psicologia jurídica

PSICOLOGIA JURÍDICA
Aula 7: Intervenções com adolescentes em
conflito com a lei

AULA 7: INTERVENÇÕES COM ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI


Psicologia jurídica

Intervenções com adolescentes em conflito com a lei.

AULA 7: INTERVENÇÕES COM ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI


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Breve histórico

O Código Criminal do Império, de 1830, e o primeiro Código Penal da República, de 1890, fizeram as
primeiras referências à responsabilidade penal de menores de 21 anos de idade. (LIBERATI, 2012)

Código Criminal do Império de 1830

Determinava que os menores de 14 anos de idade encontravam-se isentos da imputabilidade pelos


atos praticados (que fossem considerados criminosos).

Entretanto, os menores de 14 anos que tinham discernimento sobre o


ato cometido deveriam ser recolhidos às Casas de Correção, até que
completassem 17 anos – Teoria da Ação com Discernimento
(consciência em relação à prática da ação criminosa).

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Entre os 14 e 17 anos, os menores seriam considerados cúmplices, sujeitos a pena de dois terços da que
cabia ao adulto infrator, e os maiores de 17 e menores de 21 anos gozavam de atenuante da menoridade.

Código Penal da República de 1890

Declarou a irresponsabilidade de pleno direito dos menores de 9 anos de idade – não eram considerados
criminosos (inimputáveis )

Os maiores de 9 e menores de 14 anos que não tivessem discernimento – também eram inimputáveis.

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Se os de idade entre 9 e 14 anos tivessem praticado o ato com discernimento, seriam recolhidos em
estabelecimentos disciplinares industriais, pelo tempo determinado pelo juiz, desde que não
ultrapassasse os 17 anos de idade.

Com discernimento = recolhidos estabelecimentos disciplinares industriais


até os 17 anos;
 Entre 14 e 17 anos eram impostas as penas de cúmplice.

Observação: A Lei 4.242/1921 eliminou o critério do discernimento e fixou


em 14 anos a inimputabilidade.

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Código Mello Matos de 1927

Conhecido como Código de Menores “Mello de Matos”, o decreto nº 17.943-A, de 12 de outubro de 1927,
consolidou as leis de assistência e proteção aos menores.

O Código dividia os menores em duas categorias:


Os abandonados, que incluíam os vadios, mendigos e libertinos;
Os delinquentes, desde que menores de 18 anos de idade, que estariam amparados e disciplinados pelas
normas contidas no Código.

Classificação menorista – os menores de 18 anos classificados como abandonados e/ou delinquentes.

Aos 14 anos de idade era vedada a prisão comum, entretanto, eram submetidos a um processo especial de
apuração de sua infração.

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Código Mello Matos de 1927

Código de Menores – a da lei penal com referência aos menores (Veronese, 1999):

Menos de 14 anos – improcessável, com internamento, porém, se tratar de menor pervertido ou doente;
Mais de 14 anos e menor de 18 anos – processo especial;
Mais de 16 anos e menos de 18 anos – evidenciando periculosidade, internação em estabelecimento
especial;
Mais de 18 e menos de 21 anos – atenuante de menoridade.

Medida de internação ao delinquente era imposta por todo o tempo necessário à sua educação (3 a 7
anos de duração).

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Código Penal de 1940 (Código Penal Atual)


 Responsabilidade penal aos 18 anos.

Código de Menores de 1979

Insere o conceito de menor em situação irregular, pois considerava que muitas


crianças, sem família e/ou provenientes de lares pobres estavam na situação de
infância em perigo.

“Menor em Situação Irregular” – Referia-se ao menor de 18 anos de idade que se encontrava


abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral, desassistido juridicamente, com
desvio de conduta e ainda o autor de infração penal. (Veronese, 1999)

O Código de Menores, no art. 14, apresentava seis medidas aplicáveis a todos os menores
considerados em situação irregular, cabendo à autoridade judiciária adequá-las ao caso concreto.

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Art. 14. São medidas aplicáveis ao menor pela autoridade judiciária:


I - advertência;
II - entrega aos pais ou responsável, ou a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade;
III - colocação em lar substituto;
IV - imposição do regime de liberdade assistida;
V - colocação em casa de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional, ocupacional, psicopedagógico, hospitalar, psiquiátrico ou
outro adequado.

Praticada a infração penal ou uma conduta desviante, o juiz aplicava a medida, não na forma de pena, mas
como forma de proteção, vigilância e prevenção. O juiz tinha a autoridade judiciária, a faculdade de
escolher, entre as medidas arroladas, a que melhor atendesse ao caso concreto. (VERONESE, 1999).

Não obstante, as medidas aplicadas aos infratores menores de 18 anos guardavam caráter punitivo.

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Os jovens entre 18 e 21 anos que eram submetidos a medidas de internação, não eram reinseridos em
sociedade, por entender que ainda possuíam desvio de conduta, permanecendo, assim, sob os cuidados do
Juízo de Menores.

O Código de Menores trouxe a preocupação com os jovens-adultos (entre 18 e 21 anos) que, mesmo
atingindo a maioridade, não podiam ser inseridos na sociedade. Esses jovens permaneciam sob a jurisdição
dos juízes de menores, portanto, sujeitos, ainda, às previsões do Código de Menores.

Constituição Federal de 1988

Art. 228 – São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação
especial.

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Estatuto da Criança e Adolescente de 1990

Ato Infracional (art. 103 ECA) – é a conduta descrita como crime ou contravenção penal praticado por
crianças e adolescentes.

Inimputabilidade Infanto-Juvenil (art. 104 ECA) – os menores de 18 anos, que estão sujeitos a medidas
socioeducativas, considerando a idade do adolescente (12 anos completos até 18 anos incompletos) à data
do fato.

Ato Infracional Praticado por Criança – Crianças até 12 anos de idade incompletos que cometerem
infrações análogas às penais, o ECA as excluiu da aplicação de Medida Socioeducativa. O artigo 105 ECA
determina que sejam aplicadas as medidas de proteção do artigo 101 ECA.

Medidas Socioeducativas (arts. 112 a 125 ECA) – São medidas com caráter pedagógico, visando a
reintegração do jovem em conflito com a lei à vida social, assim como caráter sancionatório, como resposta à
sociedade pela lesão provocada pelo adolescente.

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Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as
seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as
medidas adequadas de contenção e segurança.

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O papel do psicólogo e a intervenção

Algumas informações sobre os Direitos da Criança e do Adolescente e as práticas psicológicas referentes aos
adolescentes em atos infracionais:

Início do Século XX
Menores infratores Doutrina da Situação Irregular Doutrina da Proteção Integral

Causalidade: moral Causalidade: presença de patologias Causalidade: múltipla; deficiências


institucionais.
Critérios: verificação da situação moral Critérios: avaliação de anomalias Critérios: avaliação segundo os direitos
dos jovens e familiares médicas, psicológicas e sociais listados no ECA.
Intervenção: reformatórios Intervenção: clínico-terapêutica Intervenção: socioeducativa, visando à
promoção do desenvolvimento

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O papel do psicólogo e a intervenção

Início do Século XX
Doutrina da Proteção Integral

Fim do ciclo: sit. irregular, patologias, med. terapêuticas (sem apoio à família).
Sujeito de direitos = em desenvolvimento.
Educação para cidadania à Justificativa estruturante.
Suporte social para internalização das leis (humanização / domesticação).

Direitos elencados: Convivência familiar e comunitária, educação, lazer etc.


Proposta de: pleno desenvolvimento dos menores de idade.

Formação do sujeito social.

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O papel do psicólogo e a intervenção

Início do Século XX
Doutrina da Proteção Integral
Internação (art.124 – direitos do adolescente privado de liberdade).
Art. 121 §2 – medida deve ser reavaliada.
Intervenção educativa em substituição à autoridade parental.
Estratégias: não mais de adestramento e sim de conteúdo socioeducativo.
Convivência familiar – desenvolvimento acompanhado pelos pais.
Convivência comunitária – novos parceiros.

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Basseto e Silva (s/d) em sua pesquisa abordam, sob uma ótica Fenomenológico-Existencial, os motivos que os
adolescentes alegam para estarem em conflito com a lei.

As autoras relatam pesquisas realizadas por Levisky (2000) e Gomide (1990) que dizem que o comportamento
antissocial e ato delinquencial dos menores podem ser resultados de uma construção social, familiar (lares
desfeitos, violência, álcool, drogas, negligência etc.), escolar e econômica.

Entretanto, os próprios adolescentes não são questionados sobre os motivos que os


impulsionaram a agir de tal modo.

Os comportamentos de cada individuo não são resultantes de uma


mesma condição, uma vez que os adolescentes são seres únicos, com
histórias singulares e projetos de vida diferentes.

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• As autoras apresentam alguns dos motivos alegados pelos adolescentes:


• Falta de dinheiro e/ou para ajudar a família;
• Ideia de Destino, ou seja, foram coisas da vida, destino;
• Falta de emprego;
• Influência das amizades;
• Olhar excludente da sociedade;
• Noção de que a lei (no caso o ECA) os impede de atingir certos objetivos (ex: restrições ao emprego do
trabalho de adolescentes; então, como não têm como trabalhar, eles roubam).

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A intervenção

Quanto à intervenção propriamente dita, é inegável que existe uma carência de soluções de intervenção
para adolescentes em conflitos com a lei, e o que se verifica na literatura brasileira é um número reduzido
de programas voltados para o seu atendimento.

Portanto, este é ainda um dos temas que merece a maior atenção por parte do psicólogo que atua junto ao
judiciário, principalmente nas instituições destinadas aos adolescentes em conflito com a lei.

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A intervenção

Os serviços psicológicos oferecidos e praticados nas Varas de Infância e Juventude:

Atendimento – individual e em grupo, aos adolescentes e seus familiares visando avaliar, orientar,
estimular a reflexão e, quando necessário, encaminhar para tratamento especializado.

A presença da família é fundamental na compreensão da história do adolescente e oportunamente a


equipe técnica atua facilitando a integração familiar.

Os estudos de caso e avaliações são realizados a pedido do Juiz, anteriormente à


audiência ou do plantão interdisciplinar, quando há necessidade de esclarecimento
ou parecer psicológico.

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A intervenção

O primeiro contato dos adolescentes é por meio da dinâmica do grupo de recepção. Nesta ocasião, os
psicólogos explicitam as formas de atendimento e as possibilidades de encaminhamentos possíveis, dentro e
fora do Juízo.

O Serviço de Psicologia acompanha diretamente os seguintes projetos sociais:


Curso Antidrogas;
Programa Especial para Usuário de Drogas – Proud;
Grupo de Pais em conjunto com o Serviço Social;
Grupo de Pais (Junto com o Serviço Social).

Constitui-se em um espaço de reflexão, orientação e troca de experiências


entre os responsáveis pelos adolescentes atendidos neste Juízo.

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A intervenção

Tem como objetivos:


Discutir temas relacionados com a adolescência e as imbricações no cotidiano da família;
Fornecer informações e orientações sobre os procedimentos judiciais e as medidas legais;
Estimular a participação da família no processo socioeducativo visando a redução da reincidência dos atos
infracionais.

Os participantes são convidados a integrar a atividade ou são inscritos por determinação judicial.

A Vara tem como parceiros neste programa – a Defensoria Pública e a AMÃES – Associação de Mães com
Filhos em Conflito com a Lei.

Curso Antidrogas
*Curso Antidrogas – Tem como objetivo trabalhar a motivação do adolescente para seu engajamento ao
tratamento da dependência química.

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A intervenção

Programa Especial para Usuário de Drogas – PROUD

É uma unidade de Justiça Terapêutica – oferece a possibilidade do tratamento compulsório em alternativa


ao processo e à ação sócio-educativa propriamente dita – cujo ato infracional sem violência, tenha
vinculação com o uso ou dependência de drogas ou alguma relação com o consumo.

O ingresso no PROUD, que deve ser voluntário, é precedido por uma avaliação da equipe técnica com vistas
a verificar se os adolescentes possuem o perfil necessário para a inserção no Programa. Sua equipe é
composta por um médico, psicólogos, assistentes sociais e um conselheiro em dependência química.

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Tratamento compulsório para adolescentes usuários de drogas e o PROUD
citado anteriormente

O provimento 20/2001 da Corregedoria de Justiça/RJ trouxe grandes modificações para a prática psico-
jurídica nos tribunais do estado.

A ordem de serviço número 02/01, editada pela 2ª Vara da Infância e Juventude dispõe, entre outras coisas,
sobre o Programa especial para Usuários de Drogas (PROUD RJ), em seu art. 4º que:

O Programa Especial para Usuários de Drogas, além da supervisão judicial, proporcionará tratamento
médico, psicológico e de assistência social de adolescentes usuários de drogas e suas família.
§1º - exige-se do integrante do Programa comparecimento regular às audiências, conforme determinação
judicial, frequência às sessões de terapia individual, familiar ou em grupo, realização de testes periódicos e
aleatórios para detecção de substâncias ilícitas e comparecimento às reuniões de grupo de ajuda mútua
(AI-Anon, NA, Nar-Anon etc.).
§2º - os participantes do Programa deverão receber treinamento profissionalizante, educação regular e
ajuda para inserção no mercado de trabalho.

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VAMOS AOS PRÓXIMOS PASSOS?

Estatuto do Idoso.

AVANCE PARA FINALIZAR


A APRESENTAÇÃO.
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