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Ana minha irmãzinha… Continuo com febre em Gramado, é o quinto dia já sem ver a

Julia, com o Rodrigo sozinho, coitado, tendo que se virar, mas mesmo assim de algum
modo eu fico tranquila, pois não pode existir nesse mundo um pai melhor pra ela, não
que ele saiba tudo, ao contrário, tem tanta coisa que ele não sabe, toda hora ele
escreve ou liga querendo saber como dá o banho, como dá a sopa, como tratar a
assadura, como botar pra arrotar; mas mesmo sem saber tanta coisa, ele sabe o
principal… que é amar a filha acima de tudo, e se comprometer com esse amor.
Como é que se faz uma festa sem você Ana? Eu me fiz essa pergunta enquanto
preparava os doces, entregava os convites, enchia os balões de gás, inventava as
brincadeiras. Como é que se dá uma festa sem você minha irmã? A resposta é
simples: Não se dá, pois você esteve ao nosso lado o tempo todo, em cada sorriso da
Julia, em cada criança correndo cheia de vida, em cada laço colorido de presente que
chegava prometendo uma surpresa boa.
Essa festa serviu para comemorar, mais que tudo, a sua coragem em ter presenteado
esse mundo com a Julia.
Essa festa foi uma homenagem á sua vida… a vida que brinca, que sorri, ta cada dia
mais linda, mais doce, mais parecida com você.
A Julia deu seus primeiros passos dois messes depois de completar um ano de idade,
em uma quinta-feira de céu azul no meio do parque, ela me olhou espantada como se
não acreditasse no que tinha acabado de acontecer.
A Julia teve a sorte de ter algo que nós duas não tivemos Ana… um Pai! Um pai
maravilhoso, que apesar da correria entre a faculdade e o trabalho fez questão de
estar presente no primeiro dia de aula da filha.
Ontem foi a primeira festa Junina. A vovó fez questão de encomendar o vestidinho
dela sob medida. E você sabe que eu não sou de contar vantagem, mas a Julia era a
caipirinha mais linda da festa, sem brincadeira, todo mundo se virava pra olhar.
Nos últimos tempos Ana, a Julia deu pra me chamar de mãe, que me deixou triste e
feliz ao mesmo tempo, mas principalmente confusa. O Rodrigo e eu fomos até uma
psicologa que disse que era pra gente deixar, mas sempre explicando que ela tem
uma mãe de verdade e outra mãe de criação, e que as duas amam ela pra valer.
Dizem que na vida a gente se acostuma com tudo… Não é verdade! Anos se
passaram e eu não me acostumei. Ninguém esquece uma saudade, nem substitui um
amor. Nessas datas então, como eu poderia não me lembrar.
Ainda sim no aniversário da Julia eu sabia que era eu quem estava recebendo o
melhor presente… um presente de uma irmã tão generosa, que antes de ir embora
deixou uma parte dela comigo, pra que eu nunca me sentisse sozinha, para que a
saudade não me matasse.

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