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RESUMO
ABSTRACT
This work proposes a parallel between Sanford Meisner's scenic truth and
Aristotle's verissimilitude concepts. This seeks to find clues about the elements
that, according to these two references, cause the effect of real in the viewer's
perspective, making the scenic experience credible enough that his attention can
immerse in the narrative. And, in a post-dramatic narrative, how this reality, truth,
belief or faith effect is manifested in what is presented before the viewer's eyes?
Meisner perece dizer que você é aquilo que você faz. É a forma como
você interfere no mundo ao seu redor que te define enquanto persona e que,
consequentemente, define a realidade perceptível. Desta forma, de fato, não há
grande diferença entre uma realidade concreta e uma realidade cênica, exceto
quando a tentativa de se criar essa realidade da cena fracassa e o ator se coloca,
mentalmente, do lado de fora da cena, se observando fazer e não estando
imerso no fazer. Nos momentos de maior força de nossas vidas estamos em
estado de total imersão no fazer, estamos experimentando a inteireza do estado
de fluxo. Isso acontece muito entre artistas, atletas e artesãos. O mundo para
além da ação do momento presente desaparece e a tarefa executada chama por
completo sua atenção e você experiência um estado de imersão total. Bom lugar
para entrar o conceito de imersão cênica. De quem? E a arte trata exatamente
deste momento. Geralmente não é um momento qualquer na vida da
personagem, mas um momento limite, um momento de transformação. Nenhum
personagem termina o espetáculo ou o filme do mesmo jeito que começou.
Mesmo que o dramaturgo tente novamente apresentar o personagem como tal,
o espectador acompanhou uma trajetória e algo já se transformou na maneira
como ele é capaz de enxergar esta personagem. Há algo na fala de Maria
Ouspenskaya, citada por CANTON (2019, p.60) que parece reverberar a Técnica
de Meisner:
Quando Meisner diz, citando Michael Chekhov, que a verdade está longe
da verdade inteira, entende-se que ele quer dizer que a verdade cênica está bem
longe da verdade da vida. Provavelmente porque as circunstâncias dadas pela
cena são imaginárias e há, na cena, uma esfera de controle que não existe no
mundo real. Mas o ator, vive as duas realidades da mesma maneira, embora
uma seja aparentemente mais segura do que a outra. Este estado de presença
do ator é o que Stanislavski chamava de “eu estou sendo” ou, na tradução de
Elena Vássina, “eu existo”, como explicitado por ela:
Stanislavski, que não era desleixado, tinha uma expressão que ele
chamava de solidão pública. Ele falava que quando você está sozinho
num quarto e ninguém o observa – você está apenas em frente do
espelho penteando o cabelo –, o relaxamento, a completude com a
qual você faz isso é poético. Ele chama de solidão pública esse
comportamento relaxado no palco. No palco, solidão pública é o que
queremos. Você só tem um elemento para se desfazer para que possa
chegar na área onde sua real personalidade de ator está, e esse
elemento é você mesmo. (MEISNER; LONGWELL, op. cit., p.
43-44)
2. O EFEITO DE VEROSSIMILHANÇA
Por outro lado, Aristóteles em sua obra “Poética”, que possui 26 seções,
irá retirar a mímesis desse lugar suspensivo. Ao contrário de Platão que parte de
questões ético-políticas, Aristóteles interessa-se por assuntos normativos.
Enquanto Platão era um filósofo essencialista, idealista, Aristóteles foi um
filósofo formalista. E é importante destacar que a obra aristotélica nos chegou
incompleta, com vários trechos recortados e provavelmente não conta com seu
segundo livro sobre a comédia. Além disso, se em Platão encontramos,
sobretudo diálogos conduzidos por meio do método dialético e da própria
hermenêutica socrática, este livro de Aristóteles é de cunho escolar – uma
compilação de notas para auxiliá-lo em suas exposições orais. A partir dessas
considerações iniciais, fica evidente que para Aristóteles o que interessa é o
modus operandi do poema mimético, ou seja, esmiuçar como ele é estruturado,
logo, como realizá-lo a contento. A “Poética”, portanto, pode ser entendida
também como um manual de arte.
Assim, Aristóteles evoca a mímesis como forma humana privilegiada de
aprendizado, afinal, é próprio do homem o ato de imitar, inclusive, ele se
distingue dos demais animais por tal característica.
Duas causas, ambas naturais, parecem ter dado origem à arte poética
como um todo. De fato, a ação de mimetizar se constitui nos homens
desde a infância, e eles se distinguem das outras criaturas porque são
os mais miméticos e porque recorrem à mimese para efetuar suas
primeiras formas de aprendizagem, e todos se comprazem com as
mimeses realizadas. (ARISTÓTELES, 2017, p. 57)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS