Você está na página 1de 8

11/01/2017 Esta maravilhosa máquina que nos faz humanos: Princípios do funcionamento do sistema nervoso­ um texto para educadores­por Elisabete Caste…

Esta maravilhosa máquina que nos
Neurociências em Debate
faz humanos: Princípios do
funcionamento do sistema nervoso­
um texto para educadores­por
Elisabete Castelon Konkiewitz
13/11/2016

Compartilhar 206

2   Tweetar   0   0   Share

Noções de neurofisiologia

Vamos agora nos arriscar numa tentativa de compreensão de como funciona
o nosso sistema nervoso. Existem algumas “leis” de funcionamento que valem
para todas as células e para todos os circuitos neurais, sejam eles
responsáveis pela motricidade, sensibilidade, pensamento abstrato,
sentimento de raiva, etc.

Em primeiro lugar é importante saber que todas as células se comunicam com
outras. Seja um estímulo doloroso, ou o comando para a contração de um
músculo, ou uma idéia genial_ por trás de todos estes fenômenos está a
comunicação entre células nervosas (neurônios). São cerca de 100 bilhoes de
neurônios, sendo que cada um se comunica com mais de 10.000 outros.

Neurônio

Como veremos adiante com mais detalhes, cada vez que um deles é
estimulado, mandará uma mensagem para os outros seus vizinhos, através
de impulso elétrico e de mensageiros químicos. Quanto maior a freqüência,
na qual dois neurônios “conversam um com o outro”, mais “amigos” eles ficam
e mais eficientemente trabalham em conjunto. O aprendizado e a memória
dependem da formação desta amizade.

Temos que imaginar este sistema como uma rede, um emaranhado enorme
de fios de condução elétrica com vários circuitos paralelos trabalhando
simultaneamente.

Um circuito pode ser independente de um outro, mas estar em íntima relação
com outros. Assim, por exemplo, os circuitos relacionados à sensação de dor
e os circuitos relacionados às emoções influenciam­se mutuamente, ambos,
porém, não interferem (pelo menos, não diretamente) no circuito relacionado à
compreensão da linguagem.
Como exposto acima, a base da comunicação
é elétrica e química. Assim, um estímulo, seja
uma picada dolorida, um cheiro agradável, ou
uma música, será sempre levado da periferia
(órgão sensorial : pele, olhos, narinas, papilas
gustativas, ouvidos) até o SNC por um nervo,
que funciona como um fio condutor.

As células receptoras da periferia (por
exemplo, as células da retina) têm a
capacidade de mudar a sua polarização
http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333 1/8
11/01/2017 Esta maravilhosa máquina que nos faz humanos: Princípios do funcionamento do sistema nervoso­ um texto para educadores­por Elisabete Caste…
capacidade de mudar a sua polarização
devido a um estímulo específico. Existem na
sua superfície receptores para este tipo de
estímulo, os quais, quando estimulados,
desencadeiam uma seqüência de fenômenos
relacionados à entrada de íons sódio para o
sinapse entre dois neurônios interior da célula, tornando­o positivo em
relação ao meio extracelular. Este fenômeno
é chamado despolarização. Quando a
despolarização acontece em intensidade suficiente para atingir um limiar de
positividade no interior da célula, um mecanismo autônomo e irreversível é
desencadeado: de repente uma quantidade enorme de sódio entra na célula
até um “ponto de saturação”, quando então os mesmos canais de sódio que
se abriram começam a se fechar sozinhos, revertendo todo o processo e
trazendo a célula para a sua polaridade inicial de repouso. Neste momento,
no entanto, esta despolarização já está se propagando, caminhando ao longo
da fibra nervosa e despolarizando outros segmentos, sempre no mesmo
sentido. Este potencial capaz de se propagar é o potencial de ação.

Quando a fibra nervosa termina e chega o momento de transmitir a
mensagem para o próximo neurônio, a transmissão do potencial de ação se
encerra, pois os neurônios não estão “grudados” uns nos outros. Existe uma
fenda que os separa: a fenda sináptica. A comunicação acontece não mais
elétrica, e sim quimicamente, ou seja, o neurônio libera na sua terminação
uma substância para o interior da fenda sináptica, sendo que o próximo
neurônio tem na sua superfície vários receptores, nos quais esta substância
se encaixa.  Uma vez encaixada (é como se um pé entrasse no sapato) esta
substância faz com que o seu receptor se deforme e desencadeie reações
dentro deste próximo neurônio, transmitindo assim a mensagem “para frente”.
Esta comunicação química entre os neurônios recebe o nome de sinapse. As
substâncias são os neurotransmissores, dos quais há diversos tipos com as
mais diferentes ações, podendo eles ser excitatórios ou inibitórios. Dopamina,
noradrenalina, serotonina, substância p, beta­endorfina, acetilcolina,
aspartato, glutamato, glicina, ácido gama­amino­butírico (GABA) são apenas
alguns exemplos de substâncias que atuam no sistema nervoso como
neurotransmissores.

Mas, se a passagem de informação sempre se dá da mesma maneira através
do mesmo tipo de impulso elétrico, como pode o nosso SNC saber quando se
tratou de um estímulo visual, doloroso, térmico, auditivo, etc?

Isto só é possível, porque cada tipo de estímulo tem a sua via própria e chega
ao seu ponto final específico, ou seja, a uma área do cérebro que interpreta
tudo que chega até ela como correspondente a este estímulo. Por exemplo, o
córtex somatosensorial mostra­se dividido em colunas de células, sendo que
os neurônios de uma determinada coluna, quando estimulados, levam sempre
a um mesmo tipo de sensação (tato, ou vibração, ou calor, etc) em uma
determinada área.  Este é o processo de percepção.

As diferentes percepções são integradas para, num resultado final, compor a
representação de um objeto. Assim, a imagem de um objeto é constituída por
vários elementos apreendidos em partes diferentes do cérebro e então unidas
como num quebra­cabeça. Por exemplo, a imagem de um rosto: as
informações de cor, profundidade, tamanho, distância vão para áreas distintas
do córtex visual e de lá para uma segunda região (córtex visual associativo),
onde todas elas
montam em conjunto a
representação mental
do objeto visto. Esta
representação pode
então ir para uma outra
instância, onde será
elaborada uma resposta
a este estímulo visual.
Por exemplo, caso se
trate da imagem de um
leão, as diferentes
informações compõem gráfico mostra mudança da diferença de potencial
uma representação em (voltagem) entre o meio intracelular (interior do
forma de imagem visual, neurônio) e o meio extra­celular no decorrer do
que então é, por sua tempo. Ocorre geração do potencial de ação a
vez, transmitida para partir do repouso (despolarização) e depois
uma outra área (córtex repolarização.

associativo têmporo­occipto­parietal),
que realiza todo um processo
complexo de comparação, no qual a
http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333 2/8
11/01/2017 Esta maravilhosa máquina que nos faz humanos: Princípios do funcionamento do sistema nervoso­ um texto para educadores­por Elisabete Caste…
complexo de comparação, no qual a
imagem presente é comparada a
representações mentais pré­
existentes e àquilo que delas se
sabe. Somente então é que o leão é
apreendido no seu significado como
animal selvagem e perigoso. Mas,
para que haja a reação de fuga,
ainda é preciso que esta informação atinja regiões do cérebro responsáveis
pela motricidade. Aqui também ocorre uma hierarquia em termos de
complexidade, sendo que algumas áreas são diretamente responsáveis por
movimentos musculares, enquanto outras se relacionam com a elaboração de
padrões de movimentação. São estas áreas que já têm todo o programa da
sequência de movimentos necessária para a corrida, ou o pedalar, ou o nadar,
etc.

É fascinante ter consciência da velocidade com
a qual todas estas informações são
transmitidas, de quão pouco tempo decorre
entre a visão do leão e o início da fuga!

Houve neste breve período sensação visual,
percepção de objeto, reconhecimento do seu
significado e resposta motora adequada.

Concluindo, o córtex cerebral é dividido em
áreas. Existem as áreas motoras e as
cortex parietal sensoriais, que podem ser primárias e
secundárias. Assim existe o córtex visual
primário e o córtex visual secundário. O primeiro recebe todas as informações
visuais e o segundo as reúne. Da mesma forma existe o córtex auditivo
primário, onde cada coluna de células reage a uma freqüência de som e o
córtex auditivo secundário, que reúne as informações auditivas, como ritmo,
tonalidade, frequência, melodia, etc. Em relação às áreas motoras, como foi
explicado acima, há também uma hierarquia, onde o córtex motor secundário
(área motora suplementar, córtex pré­motor) planeja os movimentos e o
primário determina sua execução.

O princípio de localização (localizacionismo), ou melhor , da organização
modular das funções cerebrais:

areas­do­cortex­cerebral

Cada área do SNC tem uma função específica. Mas, atenção! Não existe uma
área da linguagem, outra do amor, outra da memória. Como o exemplo acima
já mostrou, os processos complexos são divididos em partes. Por exemplo, a
linguagem é composta pela compreensão do significado das palavras,
http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333 3/8
11/01/2017 Esta maravilhosa máquina que nos faz humanos: Princípios do funcionamento do sistema nervoso­ um texto para educadores­por Elisabete Caste…
linguagem é composta pela compreensão do significado das palavras,
expressão verbal, melodia, etc. Com isto cada área estará relacionada a um
aspecto da linguagem e é preciso que elas trabalhem simultaneamente e
estejam interligadas (conectividade)

Wernicke descobriu que existe uma organização modular da linguagem no
cérebro, constituída de centros de processamento em série e em paralelo com
funções mais ou menos independentes. Agora reconhecemos que todas as
habilidades cognitivas resultam da interação de muitos mecanismos de
processamento simples distribuídos em diversas regiões do cérebro. Assim as
regiões do cérebro não estão relacionadas com faculdades mentais, mas com
operações de processamento elementares. ). O sistema nervoso é então
como uma grande fábrica, dividida em diferentes departamentos, cada um
responsável por um tipo de produção. Cada departamento, por sua vez possui
várias linhas de montagem, as quais trabalham simultaneamente , mas
também seqüencialmente. Existe então hierarquia, comunicação entre as
partes, mas ao mesmo tempo uma separação e uma especificidade nas
tarefas.

A lesão de uma única área não necessariamente resulta na perda total de
uma faculdade. Mesmo que um comportamento desapareça no início, ele
pode retornar parcialmente assim que as partes ilesas do cérebro
reorganizem as suas conexões.

http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333 4/8
11/01/2017 Esta maravilhosa máquina que nos faz humanos: Princípios do funcionamento do sistema nervoso­ um texto para educadores­por Elisabete Caste…

areas­do­cortex­cerebral­corte­sagital­visao­medial

Assim não é conveniente representar processos mentais como uma série de
ligações em cadeia, porque em tais arranjos o processo entra em colapso
quando uma única ligação é quebrada. A comparação melhor e mais realista
é pensar nos processos mentais como várias linhas de trem que desembocam
num mesmo terminal. Se houver um bloqueio na estação São Joaquim, a sua
comunicação com a praça da Sé ficará interrompida, mas seria então possível
criar uma nova linha que unisse diretamente a Praça da Sé à Estação
Vergueiro. Deste modo, um problema em uma única ligação na via afeta as
informações levadas por ela, mas não necessariamente interfere de forma
permanente no sistema. As partes restantes do sistema podem sofrer
modificações para acomodar o tráfego extra depois do colapso de uma linha.

Hoje sabemos que as funções cognitivas, o desempenho intelectual, não se
relacionam com o tamanho, ou o peso do cérebro e sim com a densidade das
conexões sinápticas. Assim um grande gênio da matemática pode ter um
cérebro de tamanho mediano. O seu córtex parietal (área associada às
funções viso­espaciais), no entanto poderá perfazer uma área maior, ou seja,
haverá mais neurônios ativos e participantes do processamento de operações
matemáticas e estes apresentarão maior número de sinapses entre si, estas
serão mais ativas, mais efetivas e terão um nível metabólico mais alto.

Neuroplasticidade, aprendizado e memória: 

Como o próprio termo indica, neuroplasticidade é a capacidade do sistema
nervoso central de reorganizar­se, remodelar­se, adquirir novas capacidades,
novos conteúdos, ou realizar uma função utilizando novos circuitos neuronais.

“Plasticidade cerebral refere­se a alterações funcionais e estruturais nas
sinapses como resultado de processos adaptativos do organismo.” (M.
L. Brandão).

A neuroplasticidade é a base do aprendizado. Tomando um exemplo
concreto: uma pessoa é treinada a datilografar. O comportamento observado
é o de aumento gradativo da rapidez e da precisão dos movimentos dos
dedos. Esta melhora de desempenho é resultado de mudanças na estrutura e
no funcionamento de áreas do cérebro. Assim as sinapses das áreas ligadas
à coordenação e aos movimentos assimétricos das mãos tornam­se mais
ativas, mais rápidas e também em número maior. Isto faz com que estas
áreas de fato cresçam !!! ATENÇÃO: isto não significa nascimento de novos
neurônios, mas sim recrutamento de neurônios já existentes desde o
nascimento para participarem desta atividade. Os mecanismos envolvidos
nestas alterações são bastante complexos, mas a grosso modo, podemos
expor o seguinte:

Sinapse

Um treinamento se inicia
(datilografia). Isto faz com que
determinadas vias sinápticas
comecem a ser bastante
requisitadas. Então, os genes que
codificam as enzimas necessárias
para a formação das substâncias
neurotransmissoras utilizadas
http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333 5/8
11/01/2017 Esta maravilhosa máquina que nos faz humanos: Princípios do funcionamento do sistema nervoso­ um texto para educadores­por Elisabete Caste…
neurotransmissoras utilizadas
nestas sinapses, assim como os
genes que codificam as proteínas
neuroreceptoras (as moléculas nas neuroplasticidade sináptica
quais os neurotranmissores se
encaixam) serão lidos mais intensamente, ou seja serão mais expressos. Com
isso, ocorrerá maior formação de neurotransmissores, assim como de
receptores para os mesmos. O resultado é que a sinapse torna­se cada vez
mais eficaz e mais rápida, pois um único potencial de ação leva à liberação de
maior número de neurotransmissores, que por sua vez dispõem de maior
número de receptores, onde podem se encaixar. Este é o mecanismo de
facilitação.
Os neurônios vão também expandindo suas ramificações para outros
neurônios, que até então não estavam envolvidos com esta função. São como
as raízes de uma árvore, cujos ramos vão crescendo e se subdividindo. A
área envolvida na coordenação dos movimentos das mãos vai então
aumentando.

Exatamente o oposto à facilitação ocorre na habituação. Aqui a sinapse vai se
tornando cada vez mais “fraca”, dispondo de menor quantidade de
neurotransmissores e receptores. É o caso de um estímulo que causa no
início uma reação intensa e que aos poucos vai sendo cada vez mais
ignorado. Um exemplo seria o de uma pessoa que, do seu escritório de
trabalho, ouve um tiroteio bem próximo. Este som desencadeia várias reações
emocionais, pois é associado a um perigo iminente. Após ser informada,
porém, de que se trata de um estúdio de cinema, que acaba de alugar a sala
ao lado, esta pessoa vai se acostumando com o ruído, até que passa a
ignorá­lo.

A memória está intimamente relacionada ao aprendizado, sendo o
armazenamento também resultante da facilitação de vias sinápticas.

Linguagem

áreas responsáveis pelo processamento da linguagem

A linguagem verbal é uma habilidade inata dos seres humanos. Sua aquisição
já está prevista geneticamente no nascimento, havendo áreas e circuitos
cerebrais específicos para o seu processamento, sendo estes em mais de
90% das pessoas localizados no hemisfério esquerdo. As áreas análogas do
hemisfério direito se relacionam aos aspectos e não­verbais da fala, como a
entonação, o colorido emocional e o ritmo.

A linguagem é um comportamento presente em todas as culturas. Desde os
aborígenes da Austrália aos esquimós do Alasca, não há cultura humana sem
ela. As crianças adquirem a língua de seu meio por simples exposição, sendo
que o processo de aprendizagem segue uma sequência universal de
desenvolvimento neuropsicomotor. Os passos são os mesmos,
independentemente da língua a ser aprendida.  Por volta do primeiro
aniversário, as crianças falam suas primeiras palavras. No entanto, o
processamento lingüístico se inicia no neonato, que já consegue diferenciar
vozes masculinas e femininas e já reconhece a voz de sua mãe. Os sons
emitidos por um bebê de 4­6 meses na fase de lalação já possuem
características fonéticas de sua língua materna. A compreensão verbal
aparece bem antes da expressão.

Por volta do segundo aniversário a velocidade de aquisição de novas palavras
aumenta tremendamente, chegando a uma média de 7 a 9 ao dia ! Aos
poucos, as crianças começam a combiná­las, formando aos 3­ 4 anos de
idade sentenças completas.

Esta aquisição é espantosa, posto que acontece sem o menor esforço. As
crianças não apenas aprendem novos signos e apreendem o seu significado,
mas também assimilam estruturas gramaticais. Assim uma criança alemã de 5

http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333 6/8
11/01/2017 Esta maravilhosa máquina que nos faz humanos: Princípios do funcionamento do sistema nervoso­ um texto para educadores­por Elisabete Caste…

anos já domina naturalmente as regras de sua língua, tarefa esta que pode
custar anos de estudo a um adulto.

A explicação para tamanha diferença de desempenho se encontra no
neurodesenvolvimento. Como já foi abordado na introdução, existem janelas
do desenvolvimento, sendo estas fases específicas, nas quais determinados
circuitos cerebrais estão particularmente ativos, ávidos e moldáveis. A janela
da linguagem começa a se fechar por volta dos 5­6 anos. É claro que isto não
significa que o aprendizado de uma língua não seja mais possível, porém vai
exigindo cada vez mais esforço consciente. Esta é a razão de uma criança,
via de regra, aprender sem sotaque mais de uma língua quando exposta a
elas nos primeiros anos de vida. A nossa percepção auditiva_ a nossa
capacidade de distinguir os fonemas_ também sofre mudanças, enquanto o
bebê é equipado geneticamente com o potencial para diferenciar todos os
sons de todas as línguas, o adulto já moldou o seu cérebro para focar apenas
nas diferenças fonéticas que têm importância na compreensão da sua. Assim
os chineses não distinguem o “r” do “l”, pois seus circuitos cerebrais
apresentam o mesmo padrão de despolarização ao ouvirem os dois fonemas.
Sua percepção filtra a diferença.

Embora se trate de uma aquisição natural da criança, os transtornos de
linguagem são comuns na infância, podendo envolver os aspectos fonéticos,
gramaticais, ou semânticos. A criança deve ser avaliada por
otorrinolaringologista, neurologista e fonoaudiólogo, pois várias podem ser as
suas causas. O tratamento deve se iniciar precocemente, pois os transtornos
de linguagem geralmente comprometem a alfabetização.

Transtornos da linguagem

Os transtornos da linguagem falada englobam o Transtorno da Linguagem
Expressiva e o Transtorno Misto da Linguagem Receptivo­Expressiva.

A característica diagnóstica essencial do Transtorno da Linguagem
Expressiva é um prejuízo no desenvolvimento da linguagem expressiva com
desempenho acentuadamente abaixo do esperado para a capacidade
intelectual não­verbal da criança  e do seu desempenho referente à
compreensão linguística (desenvolvimento da linguagem receptiva). As
dificuldades podem ocorrer na comunicação que envolve a linguagem tanto
verbal quanto de sinais. As dificuldades de linguagem interferem
significativamente no desempenho escolar ou profissional ou na comunicação
social.

As características lingüísticas do  Transtorno da Linguagem Expressiva
variam de acordo com sua gravidade e a idade da criança. Essas
características incluem uma fala de quantidade limitada, vocabulário restrito,
dificuldade em adquirir novas palavras, erros na busca da palavra correta ou
de vocabulário, frases abreviadas, estruturas gramaticais simplificadas,
variedades limitadas de estruturas gramaticais (por ex., formas verbais),
variedades limitadas de tipos de frases (por ex., imperativas, interrogativas),
omissões de partes críticas das frases, uso de uma ordem inusitada das
palavras e desenvolvimento lento da linguagem. O funcionamento não­
lingüístico (medido por testes de inteligência de execução) e as habilidades
de compreensão da linguagem em geral estão dentro dos limites normais. O
Transtorno da Linguagem Expressiva pode ser adquirido ou evolutivo. No tipo
adquirido, um prejuízo na linguagem expressiva ocorre após um período de
desenvolvimento normal, em conseqüência de uma condição neurológica ou
outra condição médica geral (por ex., encefalite, traumatismo craniano,
irradiação).

A característica essencial do Transtorno Misto da Linguagem Receptivo­
Expressiva é um prejuízo no desenvolvimento das linguagens receptiva e
expressiva, com desempenho acentuadamente abaixo daquele obtido a partir
de medições padronizadas da capacidade intelectual não­verbal. Pode haver
dificuldades na comunicação envolvendo tanto a linguagem falada quanto a
linguagem por sinais. As dificuldades de linguagem interferem no
desempenho escolar ou profissional ou na comunicação social. Em presença
de Retardo Mental, déficit motor da fala ou sensorial, ou privação ambiental,
as dificuldades de linguagem excedem aquelas habitualmente associadas
com esses problemas..

Um indivíduo com este transtorno apresenta as dificuldades associadas com o
Transtorno da linguagem expressiva (por ex., um vocabulário
acentuadamente limitado, erros nos tempos verbais, dificuldade para evocar
palavras ou produzir frases com a extensão ou complexidade apropriadas em
termos evolutivos, e dificuldade geral para expressar idéias), juntamente com
um prejuízo no desenvolvimento da linguagem receptiva (por ex., dificuldade
para compreender palavras, frases ou tipos específicos de palavras).
http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333 7/8
11/01/2017 Esta maravilhosa máquina que nos faz humanos: Princípios do funcionamento do sistema nervoso­ um texto para educadores­por Elisabete Caste…
para compreender palavras, frases ou tipos específicos de palavras).

Em casos leves, a dificuldade pode restringir­se à compreensão de
determinados tipos de palavras (por ex., termos espaciais) ou enunciados (por
ex., orações complexas do tipo “se­então”). Em casos mais severos, pode
haver múltiplas deficiências, incluindo uma incapacidade de compreender o
vocabulário básico ou frases simples, além de déficits em várias áreas do
processamento auditivo (por ex., discriminação de sons, associação,
armazenagem, recordação e seqüenciamento de sons e símbolos).

Uma vez que o desenvolvimento da linguagem expressiva na infância se
baseia na aquisição das habilidades receptivas, um transtorno puramente da
linguagem receptiva praticamente jamais é visto.

O Transtorno Misto da Linguagem Receptivo­Expressiva pode ser adquirido
ou evolutivo. No tipo adquirido, ocorre um prejuízo na linguagem receptiva e
expressiva após um período de desenvolvimento normal, em conseqüência de
uma condição neurológica ou outra condição médica geral (por ex., encefalite,
traumatismo craniano, irradiação).

No tipo evolutivo, existe um prejuízo na linguagem receptiva e expressiva não
associado com um agravo neurológico de origem conhecida. Este tipo
caracteriza­se por um desenvolvimento lento da linguagem, no qual a fala
pode começar tarde e atravessar vagarosamente os estágios de
desenvolvimento da linguagem.

Link permanente para este artigo:
http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333

http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=3333 8/8

Você também pode gostar