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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RP
Nº 70057609323 (N° CNJ: 0485559-93.2013.8.21.7000)
2013/CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALVARÁ.


DESBLOQUEIO DE VALORES. CUSTEIO DE
DESPESAS DO INTERDITADO.

Viável deferir liberação de valores


pertencentes ao interditado em prol do curador,
para que este possa arcar e pagar as comprovadas
despesas do incapaz, com posterior prestação de
contas.

DERAM PROVIMENTO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO OITAVA CÂMARA CÍVEL

Nº 70057609323 (N° CNJ: 0485559-


93.2013.8.21.7000) COMARCA DE ITAQUI

.R.P. AGRAVANTE;
.

.J.R.P. AGRAVADO.
.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Oitava Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento
ao agravo de instrumento.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os
eminentes Senhores DES. ALZIR FELIPPE SCHMITZ E DES. RICARDO
MOREIRA LINS PASTL.
Porto Alegre, 27 de fevereiro de 2014.

DES. RUI PORTANOVA,


Relator.
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portanova@tj.rs.gov.br

R E L AT Ó R I O

DES. RUI PORTANOVA (RELATOR)


Inicialmente, adoto o relatório de fls. 69 e verso:

Trata-se de recurso de agravo de instrumento


interposto por LABIENO ROSSES PINTO contra
a decisão do Juízo da 1ª Vara Judicial da
Comarca de Itaqui que, nos autos da ação de
habilitação de crédito, movida em face de
CLARIMUNDO JOSÉ ROSES PINTO, indeferiu o
pedido de desbloqueio dos valores que foram
depositados judicialmente no processo de
interdição até que sobrevenha sentença com
trânsito em julgado (fl. 13).

Em suas razões (fls. 02/11), o agravante alega


que, na qualidade de irmão e curador do
agravado, que é interditado, pretende o
desbloqueio de valores depositados judicialmente
no processo de interdição para sanar os
compromissos e obrigações em nome do
interditado. Sustenta que vem buscando a
liberação dos valores há mais de um ano,
ressaltando que as contas por ele prestadas
forram consideradas boas. Refere a existência de
uma dívida de aproximadamente R$ 24.487,55 na
clínica geriátrica na qual o irmão realiza
tratamento. Requer a antecipação da tutela
recursal e, ao final, o provimento do recurso, com
a reforma da decisão recorrida.

O agravado apresentou suas contrarrazões (fls.


64/67), pugnando pelo provimento do recurso.

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O Ministério Público opinou pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTOS

DES. RUI PORTANOVA (RELATOR)


Adianto, o recurso merece provimento, na linha do despacho
liminar, nos seguintes termos:

Vistos etc.

O agravante é irmão e curador do agravado, que


é interditado.

Ele tem um crédito contra o irmão/agravado,


constituído em época na qual ainda não era o
curador.

Esse crédito que o agravante tem contra o


agravado é objeto de pedido de habilitação de
crédito. Com tal pedido o agravante quer
autorização para levantar valores do irmão
interditado e saldar o seu crédito.

Já há decisão determinando reserva de valores


em prol do agravante.

O que se debate aqui e agora, porém, é outra


questão.

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Com efeito, como dito o agravante é curador do


irmão.

E nessa qualidade de curador ele pediu agora


alvará para levantar quantias depositadas em
juízo em nome do agravado, não para saldar seu
crédito, mas ao invés para custear despesas do
interditado.

Não custa dizer de logo, há boas razões a


justificar esse pedido.

Com efeito, há indicativo de que o agravado está


internado em clínica geriátrica, sendo que só com
aquela instituição noticia-se uma dívida superior a
20 mil reais.

E ainda que não fosse assim, é evidente que toda


e qualquer pessoa tem despesas com sua
manutenção, de forma que não é difícil projetar
que o agravado tenha despesas, e que portanto
necessite dos valores depositados judicialmente
em seu nome para supri-las.

Não se vai olvidar que o fato do agravante ser


curador do irmão não significa que tenha
obrigatoriedade de custear com seus próprios
recursos as despesas do irmão.

Se o irmão/agravado tem despesas, e se tem


valores depositados em juízo para satisfazer tais
despesas, é justo que sejam utilizados para tal
fim, sem que o agravante tenha que ser onerado
pagando as despesas do irmão com recursos
próprios, e tenha que aguardar sabe-se lá até
quando para poder se ressarcir.

Enfim, parece haver bons motivos, no contexto,


para o agravante, na qualidade de curador do
irmão interditado, estar pedindo a liberação de
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valores por alvará, para custear despesas do


irmão.

E para além disso não há razões para duvidar do


agravante, porque ao menos até agora, ao menos
pelo que consta, as contas que ele vem
apresentando tem sido homologadas.

Ainda assim, o pedido foi indeferido na origem.

A decisão agravada tomou os seguintes termos:

Vistos.
Acolho o parecer do Ministério
Público (fl. 21).
1 – Com a finalidade resguardar os
interesses do incapaz, indefiro, por
ora, o pedido de desbloqueio dos
valores que foram depositados
judicialmente no processo principal
até que sobrevenha sentença com
trânsito em julgado.
2 – Ao cartório para que certifique no
presente feito a data da interdição
provisória de Luiz Mário Pinto
decretada no processo de nº
054/1.07.0004162-1, conferindo-se
nova vista ao Ministério Público em
seguida.
Intimem-se.
Diligências legais. (fl. 13)

O parecer ministerial acolhido como razões de


decidir veio nos seguintes termos:

De plano, observa-se que o


Ministério Público não exarou
parecer de mérito acerca da
habilitação de crédito pretendida

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pelo autor em desfavor do requerido,


apenas exarou parecer no sentido
de que fossem separados valores
suficientes à satisfação do crédito
alegado, salientando que tais
valores deverão permanecer
depositados judicialmente nos autos
da interdição até que sobrevenha
sentença transitada em julgado (fls.
10/12).

Assim, o Parquet manifesta-se pelo


indeferimento do pedido de
desbloqueio de valores depositados
judicialmente nos autos da
interdição, tendo em vista que em
atenção à preservação dos
interesses do incapaz, já havia
opinado no sentido de que a
importância permanecesse
depositada judicialmente, embora
reservada em favor do autor até o
final da demanda com trânsito em
julgado. (fls. 41 e verso)

Guardada a devida vênia, não vejo na leitura da


decisão agravada ou do parecer ministerial de
origem tomado como razões de decidir, algum
enfrentamento mais expresso ou específico das
razões que haviam sido suscitadas para o pedido
de alvará.

Com efeito, não consta nem na decisão agravada


e nem no parecer ministerial alguma referência
mais clara ou mais expressa às razões pelas
quais o levantamento pretendido não seria no
melhor interesse do interditado, ou quais
elementos de prova teriam sido utilizados para a
formação de tal convencimento.

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Temo, aliás, que possa ter havido alguma


confusão no enfrentamento dos pedidos.

Com efeito, tanto quanto consigo alcançar, o


parecer ministerial acolhido pela decisão
agravada como razões de decidir parece ter
opinado pelo indeferimento do pedido de alvará,
por considerar que a pretensão era para saldar
crédito do agravante, o que já se viu que não é o
que ocorre no caso.

Isso me faz cogitar da possibilidade da decisão


agravada não guardar a melhor adequação em
relação ao contexto fático e probatório do caso.
(fls. 59 à 60, verso)

O agente ministerial opinou no mesmo sentido:

Assiste razão ao agravante.

Pelo que se depreende dos autos, o agravante


Labieno é irmão e curador de Clarimundo, o qual
foi interditado no ano de 1988, conforme se
verifica do termo de compromisso de fl. 19.

O agravante, na qualidade curador, requereu


alvará para levantar as quantias depositadas em
juízo em nome do agravado, para custear as
despesas deste.

No caso, há indicativo de que o interditado


encontra-se internado em clínica geriátrica, na
qual possui uma dívida que, no mês de setembro
de 2013, totalizava R$ 24.487,55 (fl. 49).

Ademais, é consabido que toda e qualquer


pessoa possui despesas para a sua manutenção,
razão pela qual se mostra demonstrada a
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necessidade dos valores depositados


judicialmente em seu nome para supri-las.

Dessa forma, se o agravado possui despesas e


tem valores depositados em juízo para satisfazê-
las, entende-se que devem ser utilizados para tal
fim, sem que o irmão, ora agravante, tenha que
ser onerado pagando as despesas do irmão com
recursos próprios, para depois ser ressarcido.

Outrossim, cumpre ressaltar que não há razões


para s duvidar do agravante, já que até o
momento, ao que consta, as contas que ele vem
apresentando vêm sendo homologadas (fls. 44 e
46).

Esse egrégio Tribunal de Justiça já se pronunciou


nesse sentido:

APELAÇÃO. INTERDIÇÃO.
CURATELA. PRESTAÇÃO DE
CONTAS. ALVARÁ. EXPEDIÇÃO. O
curador que não é casado com o
curatelado pelo regime da
comunhão universal de bens tem o
dever de prestar contas pelo
exercício do encargo. Inteligência do
artigo 1.783 do CCB. Viável sejam
expedidos imediatamente alvarás
para a curadora nomeada poder
levantar valores devidos ao
curatelado, e necessários ao
sustento dele. DERAM PARCIAL
PROVIMENTO. (Apelação Cível Nº
70032166068, Oitava Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Rui Portanova, Julgado em
15/10/2009)

Nesse contexto, é de ser reformada a decisão


recorrida para o fim de ser deferido o desbloqueio
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dos valores requeridos. (fls. 69, verso, à 70,


verso)

Vale destacar, por fim, que após a expedição do alvará em prol


do agravante, ele deverá prestar contas das despesas do interditado que
foram ou serão supridas com os valores levantados.

ANTE O EXPOSTO, dou provimento ao agravo de instrumento,


para o fim de deferir a expedição do alvará em prol do agravante.

DES. ALZIR FELIPPE SCHMITZ - De acordo com o(a) Relator(a).


DES. RICARDO MOREIRA LINS PASTL - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. RUI PORTANOVA - Presidente - Agravo de Instrumento nº


70057609323, Comarca de Itaqui: "DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: ANTONIO CARLOS DE CASTRO NEVES TAVARES

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