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DE REVISÃO
Método auscultatório
TABELA 1
O método auscultatório é o procedimento mais comum Fases, características e significados dos sons de Korotkoff
para verificar as medidas da PA24. Esse método utiliza um
estetoscópio e um aparelho denominado esfigmomanôme- Fases dos sons Característica e significado
tro, composto por um manguito inflável de braço conecta- de Korotkoff
do a uma coluna de mercúrio ou a um marcador aneróide Fase 1 Primeira aparição de ruídos rítmicos, de
(ponteiro). A medida ocorre através da oclusão arterial pela forma clara e repetitiva, coincidindo apro-
inflação do manguito, correlacionando a ausculta dos bati- ximadamente com a identificação do pulso
mentos cardíacos com o valor registrado na coluna de mer- palpável. Corresponde ao valor da pressão
cúrio ou pelo ponteiro. Os sons ouvidos durante o procedi- sistólica.
mento de medida são denominados ruídos de Korotkoff, Fase 2 Os ruídos são mais leves e longos, com a
sendo classificados em cinco fases, conforme a tabela 1. qualidade de um murmúrio intermitente.
O método auscultatório é de caráter intermitente, ou seja, Fase 3 Os ruídos tornam-se novamente firmes e
a verificação de uma nova medida requer que todo o pro- altos.
cedimento seja refeito. Verril et al.9 relataram que esse
Fase 4 Ruídos abafados, pouco distintos e leves.
método para medir a PA imediatamente após o ECR pode Corresponde ao valor da pressão diastóli-
não ser acurado, devido ao rápido decréscimo de seus va- ca.
lores. Esse fato foi corroborado por Wiecek et al.11, em
Fase 5 O som desaparece completamente
estudo no qual observaram que, imediatamente após o tér-
mino de ECR em 15 repetições submáximas, em um a dois Adaptado de Perloff et al. Human blood pressure determination by sphygmomano-
metry. Circulation 1993;88:2460-67.
segundos os valores pressóricos reduziam-se próximo aos
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dados e equipamentos pouco acessíveis e pressupõe técni- em comparação com o método direto, sendo que a pressão
cas que poderiam ser consideradas cirúrgicas. arterial média não se mostrou diferente em ambos os pro-
cedimentos. Em pesquisa conduzida por Parati et al.47, o
COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE Finapres mostrou-se compatível com as medidas realiza-
AFERIÇÃO DA PA EM ECR das pelo método direto, tanto em repouso quanto em al-
Em levantamento realizado no Medline entre os anos guns testes de laboratório (preensão manual e manobra de
1966 e 2002, utilizando as palavras-chaves blood pressu- Valsalva). No entanto, nas conclusões de Silke e McAu-
re, acute responses, hemodynamics responses, cardiovas- ley65, que revisaram 20 publicações, o Finapres foi consi-
cular responses, dynamic exercise, resistance exercise, derado acurado para estimar a pressão diastólica, mas apre-
weight training, direct measurement, indirect measurement, sentaria aparente imprecisão sobre o valor sistólico.
invasive, non-invasive, Finapres e sphygmomanometer, Um estudo de Silke et al.44 foi dividido em três partes.
encontraram-se relativamente poucos artigos disponíveis Primeiramente, foram comparados no repouso os valores
sobre a medida da pressão arterial em exercício contra-re- obtidos pelo Finapres e pelo método direto. Observaram-
sistência. O mesmo ocorreu em pesquisa na base de dados se nos registros do Finapres valores da pressão média e
Scielo. sistólica mais elevados e diastólicos mais baixos do que na
Foi verificado que os estudos internacionais, na maioria medida direta. No entanto, a reprodutibilidade das medi-
dos casos, utilizam o método direto de aferição da PA em das foi, em percentuais, semelhante. A segunda parte
respostas agudas do ECR12,25,28-34, em alguns casos o méto- comparou os mesmos métodos de medidas na situação de
do indireto através do Finapres6,19,35-38 e, em poucos casos, esforço em bicicleta, durante quatro minutos. Os resulta-
o método auscultatório10,39-41. Ainda em relação ao ECR, al- dos mostraram que o Finapres superestimou os valores sis-
guns estudos comparam o método direto com o ausculta- tólico e diastólico (p = 0,02 para ambos) em relação à me-
tório11,42,43. Outras pesquisas compararam o método direto dida direta. Porém, no steady state, não houve diferença
com o Finapres em situações de repouso44 ou durante tes- entre os métodos. Finalmente, foram cruzados, em repou-
tes ortostáticos45,46, de preensão manual47 ou de caráter ae- so, os valores obtidos pelo Finapres e pelo método auscul-
róbio48, o mesmo aplicando-se à comparação com o méto- tatório, verificando-se valores sistólicos mais elevados e
do auscultatório durante o trabalho aeróbio49,50. As pesquisas diastólicos mais baixos para a medida do Finapres.
nacionais que estudaram as respostas agudas do ECR não No que diz respeito ao ECR, os autores consultados pare-
utilizaram o método direto ou o Finapres51-54. De qualquer cem considerar o equipamento como válido na obtenção
modo, verificou-se, tanto em nível internacional quanto de dados sobre o comportamento da PA. Em alguns estu-
nacional, um número maior de pesquisas em que o exercí- dos19,35, os resultados parecem não se diferenciar daqueles
cio observado foi do tipo aeróbio, medindo-se a PA através obtidos pelo procedimento direto, podendo servir como
dos métodos direto28,55-57, indireto com o Finapres36,48,58-60 referências para o aprimoramento do conhecimento sobre
e auscultatório61-64. as alterações da PA na vigência do esforço.
Alguns dados são interessantes para discutir sobre a com-
Comparação do método direto com o auscultatório
paração dos métodos de mensuração da PA, quando se exa-
mina mais a fundo a literatura. Mesmo sendo relativamen- Numa pesquisa comparando simultaneamente os méto-
te pequena a quantidade de pesquisas comparando os dos auscultatório e direto, Sagiv et al.43 estudaram a pres-
diferentes métodos, principalmente em relação ao ECR, po- são arterial em cinco homens saudáveis nas condições de
dem-se observar algumas evidências sobre a margem dos repouso e durante contração isométrica, através de hand-
erros associada à forma de medida e ao tipo de solicitação grip (preensão manual) e deadlift (levantamento terra). Os
física. achados dessa pesquisa sugerem que a medida indireta da
pressão sistólica apresenta alta correlação com o método
Comparação do método direto com o Finapres direto no repouso (r = 0,80) e nos exercícios observados (r
Esse equipamento foi comparado, em alguns casos, ao = 0,90 e 0,91, respectivamente, para o handgrip e o dead-
método direto em situações não necessariamente envolven- lift). Em outro estudo, também conduzido por Sagiv et al.42,
do o ECR. Imholz et al.46 não encontraram diferenças sig- tanto em repouso quanto durante o exercício máximo anae-
nificativas entre o Finapres e a medida direta em situação róbio, diferenças entre o método direto e o método indire-
de estresse ortostático – mudanças de posições. Porém, to – através de ausculta – foram reportadas, apesar de isso
Idema et al.48 reportaram aumento significativo no valor não se ter dado da mesma forma para as pressões sistólica
sistólico medido pelo Finapres durante exercício máximo e diastólica. Comparando-se as medidas de pressão arte-
em cicloergômetro (26 ± 20mmHg, média ± erro padrão) rial simultaneamente em 14 homens saudáveis (idade = 23
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± 2 anos), os autores encontraram alta correlação com o alta. Em termos práticos, isso significa que não se deve
método direto nos valores da pressão arterial sistólica afe- confiar na medida obtida pelo método auscultatório para
ridos pelo método indireto, tanto em repouso (r = 0,68; estimar valores absolutos, sistólicos e diastólicos, próxi-
média de 107 ± 7 e 101 ± 6mmHg, respectivamente) quan- mos dos valores reais. Por outro lado, o fato de as medidas
to durante o exercício (r = 0,87; média de 197 ± 11 e 191 ± obtidas pelos métodos direto e auscultatório apresentarem
9mmHg, respectivamente). A pressão arterial diastólica boa correlação sugere que a apreciação das tendências de
também exibiu boa correlação com o método indireto no elevação da PA no exercício seja válida, o que abre interes-
repouso (r = 0,62; média de 84 ± 11 e 77 ± 9mmHg, res- santes possibilidades de utilização deste método no acom-
pectivamente). No entanto, durante o exercício, o coefi- panhamento do treinamento contra-resistência em situa-
ciente de correlação entre os métodos direto e indireto foi ções de terreno.
baixo (r = 0,36) com valores médios de 101 ± 12mmHg e
103 ± 9mmHg, respectivamente. Os autores sugerem que a ESTRATÉGIAS PARA DIMINUIÇÃO DO ERRO
pressão arterial diastólica aferida pelo método indireto não DA MEDIDA NO MÉTODO AUSCULTATÓRIO
representa validade para o exercício anaeróbio máximo. O objetivo desta seção é, assumindo que as medidas ob-
Possivelmente, o erro associado ao valor diastólico rela- tidas pelo método auscultatório tendem a subestimar os
ciona-se com a dificuldade de percepção do ruído de Ko- resultados aferidos pelo método direto da pressão arterial,
rotkoff para essa medida. mas que são a eles bem correlacionadas, sugerir algumas
Essa deficiência de concordância entre as medidas tam- estratégias que possam diminuir as discrepâncias. Para tan-
bém foi constatada por Wiecek et al.11, ao compararem o to, os dados obtidos em estudos que utilizaram o método
método direto e o auscultatório em exercícios contra-resis- direto são úteis para traçar caminhos a serem tomados e
tência submáximos. Os autores concluíram que, imediata- reduzir a possibilidade de medidas falhas. A opção por ave-
mente após o término de uma sessão de 15 repetições, a riguar o erro associado ao método auscultatório reside no
pressão arterial sistólica medida indiretamente subestimou fato de ser o procedimento mais usual e mais viável de
em mais de 30% a medida direta, sendo que a pressão dias- quantificar as variáveis associadas às respostas agudas car-
tólica não apresentou variações significativas. No entanto, diovasculares sobre o ECR. Assim, faz-se necessário levar
o exame da tabela de resultados do artigo indica que a as- em conta alguns pontos que podem influenciar os resulta-
sociação entre elas, em termos de tendência de comporta- dos da medida.
mento, foi mantida. Associação idêntica foi relatada para O momento adequado de medir a PA pelo método aus-
os valores sistólicos nos experimentos de Gould et al.49 e cultatório é fundamental para minimizar os possíveis erros
Rasmussen et al.50, durante o exercício aeróbio progressi- contidos nessa técnica. Sale et al.32 mediram diretamente a
vo até a exaustão, como se pode observar na tabela 2. pressão arterial em oito homens destreinados, a fim de com-
Através desses estudos, pode-se observar uma relação parar as respostas pressóricas durante o exercício leg-press,
interessante entre os dois métodos para a medida da pres- realizado em equipamento isocinético e com peso livre.
são sistólica. Em outras palavras, parece que a tendência à Pôde-se observar que os picos de pressão sistólica e dias-
subestimação dos valores absolutos de pressão arterial tólica foram significativamente maiores durante o trabalho
mantém certa coerência em diferentes situações de repou- com peso livre do que na ação isocinética. Os autores con-
so e exercício, inclusive o ECR – pode-se dizer que, se a cluíram que o grau de esforço voluntário seria o maior de-
concordância entre eles é baixa, a associação interclasse é terminante da resposta de pressão arterial, mais que o modo
TABELA 2
Diferença média da pressão arterial sistólica entre os métodos direto e
indireto (auscultatório) em cicloergômetro em dois protocolos diferentes