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Superior Tribunal de Justiça

EDcl nos EDcl no RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 108.029 - DF


(2019/0028712-0)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
EMENTA
PENAL E PROCESSO PENAL. NOVOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1.
CAIXA DE PANDORA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
INÉPCIA DA DENÚNCIA. IMPUTAÇÃO EM CONCURSO DE
AGENTES. COMUNICAÇÃO DE CIRCUNSTÂNCIA
ELEMENTAR. NÃO OBSERVÂNCIA À TEORIA UNITÁRIA. 2.
ALEGAÇÃO DE QUE A OMISSÃO PERSISTE.
ESPECIFICIDADE NÃO ANALISADA. EXISTÊNCIA DE
JUSTA CAUSA. POSSIBILIDADE DE EMENDATIO.
MATÉRIAS DESIMPORTANTES À SOLUÇÃO DA
CONTROVÉRSIA. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. 3.
POSSIBILIDADE DE EMENDATIO LIBELLI. INSTITUTO QUE
NÃO CONVALIDA A IMPROPRIEDADE DO TIPO PENAL.
IMPUTAÇÃO DE CRIME PRÓPRIO. RÉU QUE NÃO É
FUNCIONÁRIO PÚBLICO. NECESSIDADE DE NORMA DE
EXTENSÃO. ARTS. 29 E 30 DO CP. EQUÍVOCO NA
ADEQUAÇÃO DA CAPITULAÇÃO LEGAL. 4. ELEMENTOS
DO TIPO PENAL. NECESSIDADE DE ADEQUADA
DESCRIÇÃO. AUSÊNCIA NA HIPÓTESE. OFENSA À AMPLA
DEFESA. PRECEDENTES. 5. POSSIBILIDADE DE CORREÇÃO
DA CAPITULAÇÃO NA SENTENÇA DE JAQUELINE RORIZ.
SITUAÇÃO AINDA NÃO VERIFICADA. ATUAÇÃO DO
JUDICIÁRIO. OFENSA AO DIREITO DE ACUSAR.
NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA AO ORDENAMENTO
JURÍDICO. POSSIBILIDADE DE NOVA DENÚNCIA. 6. NÃO
OBSERVÂNCIA À AUTORIDADE DA DECISÃO DO STF.
NÃO VERIFICAÇÃO. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA
CONTRA JAQUELINE RORIZ. INQ 3.113/DF. JULGADO
EFETIVAMENTE LEVADO EM CONSIDERAÇÃO. 7. OFENSA
AO PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL. NÃO
VERIFICAÇÃO. PRINCÍPIO QUE NÃO INVALIDA A CIÊNCIA
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DO DIREITO PENAL. IGUAL RELEVÂNCIA
CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. 8. AUSÊNCIA DOS
VÍCIOS DO ART. 619 DO CPP. MERA IRRESIGNAÇÃO COM
O MÉRITO DO RECURSO. NÃO CABIMENTO DE
EMBARGOS. 9. ACLARATÓRIOS REJEITADOS.
1. Deve ser registrado, mais uma vez, que o acórdão proferido no
presente recurso em habeas corpus apenas afirmou a inépcia da
inicial acusatória, em virtude de imputar um crime em concurso de
agentes e com comunicação de circunstância de caráter pessoal, sem
atentar para a teoria unitária. Cuida-se de matéria afeta à dogmática
penal, a princípios básicos relativos ao preenchimento do tipo penal,
que dispensa, por óbvio, o exame acerca dos fatos efetivamente
narrados na inicial acusatória.
2. Em nenhum momento se analisou qual crime foi efetivamente
descrito ou praticado, ou seja, não se examinou a existência de justa
causa nem a possibilidade de emendatio libelli, mas apenas a
equivocada imputação trazida, que, no caso dos autos, revela
manifesta atecnia do órgão acusador. Dessa forma, não revela omissão
a ausência de manifestação sobre temas completamente
desimportantes para a solução jurídica do recurso.
3. A possibilidade de alteração da capitulação jurídica trazida na inicial
acusatória, no momento da prolação da sentença, não convalida a
impropriedade da denúncia, pois não se trata de mero equívoco a
respeito da definição jurídica da descrição do fato contido na exordial.
Com efeito, se imputou ao recorrente crime próprio de funcionário
público, sem que possua essa qualidade, e para que fosse possível a
imputação nesses termos, imprescindível a utilização das normas de
extensão trazidas nos arts. 29 e 30 do Código Penal. Contudo, o erro
na utilização da norma de extensão do concurso de agentes,
invalida sua incidência e esvazia o tipo penal imputado, sendo,
portanto, manifesta a impropriedade da capitulação jurídica.
4. É imprescindível que os elementos do tipo penal imputado estejam
minimamente descritos, sob pena de patente inépcia. "Embora o réu se
defenda dos fatos e não da capitulação legal a ele atribuída pelo
Ministério Público, mister a adequada compreensão da imputação,
com a descrição de todos os elementos do tipo penal, sob pena de
a defesa ter que se defender de conduta que nem ao menos
preenche adequadamente a tipicidade penal. Anoto que não se
está a afirmar que as condutas imputadas são atípicas, mas sim que o
Ministério Público não se desincumbiu de narrar todas as
elementares do tipos penais, o que dificulta, sobremaneira, a
ampla defesa". (HC 485.791/SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da
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Fonseca, Quinta Turma, julgado em 07/05/2019, DJe 20/05/2019)
5. A possibilidade de plena conciliação, conforme defendido, só seria
possível acaso efetivamente corrigida a capitulação, quer por
aditamento quer por emendatio libelli na condenação de Jaqueline
Roriz, mas em momento anterior ao exame do judiciário acerca da
aptidão da denúncia, pois o "direito de acusar" deve observar o
ordenamento jurídico e não pode se sobrepor ao direito à ampla
defesa. Ressalto, por oportuno, que o trancamento da ação penal, por
inépcia da inicial acusatória, não revela, por óbvio, "cerceamento do
direito de acusar", conforme afirma o embargante, pois se trata de
hipótese em que pode ser apresentada nova denúncia, desde que
observado o regramento legal, conforme expressamente ressalvado no
acórdão embargado.
- Vale a pena recordar, uma vez mais, que qualquer peça inicial, no
cível ou na esfera penal, deve preencher requisitos e deve ser
examinada pelo Estado-Juiz. As peças iniciais do MP estão
submetidas, igualmente, ao mesmo controle judicial. O não
preenchimento dos comandos normativos correspondentes provoca a
inépcia da vestibular. O órgão de acusação não está fora de tal
diretriz!
6. A hipótese dos presentes autos não revela também, ainda que
minimamente, situação que autorize o ajuizamento de reclamação
perante o STF. Com efeito, a decisão proferida pelo Pretório Excelso
diz respeito ao recebimento da denúncia contra Jaqueline Roriz, no
Inquérito n. 3.113/DF, por crime de peculato. O presente recurso diz
respeito unicamente à denúncia oferecida contra seu marido, Manoel
Costa de Oliveira Neto, que em nenhum momento teve sua situação
analisada pelo STF. Ademais, o entendimento trazido nos presentes
autos não se contrapõe ao juízo realizado por aquela Corte para
receber a inicial acusatória contra Jaqueline Roriz, mas antes o leva
efetivamente em consideração. De igual forma, a argumentação do
Relator do STF, a respeito da possibilidade de os fatos narrados
configurarem, ao final, crime diverso, também nunca foi contrariada
por esta Corte. Com efeito, permanece a possibilidade de emendatio
libelli, com relação a Jaqueline Roriz, assim como permanece a
existência de capitulação atécnica na presente hipótese. Portanto, não
há afronta à autoridade da decisão da Suprema Corte.
7. Quanto à apontada ofensa ao princípio da independência funcional,
é oportuno destacar que se trata de importante princípio constitucional,
o qual, entretanto, não invalida a ciência do direito penal. Assim,
plenamente independentes os órgãos do Ministério Público para
imputar a conduta que melhor lhes aprouver, desde que efetivamente
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narrados os elementos do tipo imputado, com o adequado
preenchimento da tipicidade penal. Relevante reafirmar, ainda, que a
inépcia efetivamente se deu "na comparação com a capitulação que se
fez em outra denúncia", porquanto a imputação em concurso de
agentes deve observar a dogmática penal, não sendo possível, é
lógico, que a independência funcional suplante as regras de direito
penal a respeito da adequada imputação, em respeito ao princípio da
ampla defesa, que também possui relevância constitucional.
8. Manifesta, portanto, a impossibilidade de acolhimento dos presentes
aclaratórios, porquanto não demonstrada a ocorrência de nenhuma das
hipóteses do art. 619 do Código de Processo Penal. De fato, não se
verificando ambiguidade, omissão, contradição ou obscuridade, mas
mera irresignação do embargante com a solução apresentada por esta
Corte Superior, fica inviabilizada a utilização dos embargos de
declaração.
9. Embargos rejeitados.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, "Prosseguindo no julgamento, a
Turma, por maioria, rejeitar os embargos." Votou vencido o Sr. Ministro Leopoldo de Arruda
Raposo (Desembargador convocado do TJ/PE) (voto-vista).
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Jorge Mussi.

Brasília (DF), 10 de dezembro de 2019(Data do Julgamento)

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

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RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
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INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):


Trata-se de novos embargos de declaração opostos pelo MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL contra acórdão, da minha relatoria, que rejeitou os primeiros
embargos, nos termos da seguinte ementa:

PENAL E PROCESSO PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1. OMISSÃO QUANTO AO INQ
3.113/DF DO STF. MATÉRIA EFETIVAMENTE EXAMINADA.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. MERA
IRRESIGNAÇÃO. NÃO CABIMENTO DE ACLARATÓRIOS. 2.
MOTIVAÇÃO SATISFATÓRIA E SUFICIENTE AO DESLINDE DA
CAUSA. IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO EM
ACLARATÓRIOS. 3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. O embargante aponta omissão, "em razão do texto expresso do
acórdão do STF e peças processuais dos autos do Inq n° 3113/DF,
que deixam clara a possível imputação de Jaqueline Roriz no crime
de corrupção passiva". Contudo, não há se falar em omissão, uma
vez que o acórdão recorrido se manifestou de forma expressa a
respeito do recebimento da denúncia contra a esposa do
recorrente, pelo STF. Foi exatamente em razão da imputação
atribuída a Jaqueline Maria Roriz que se verificou a inépcia da
inicial acusatória apresentada contra o recorrente. Ademais, a
decisão embargada apenas afirmou a inépcia da inicial acusatória,
em virtude de imputar um crime em concurso de agentes, sem
atentar para a teoria unitária, não tendo se manifestado, em
nenhum momento, a respeito de qual crime foi efetivamente descrito
ou praticado.
2. Resolvidas as questões com fundamentação satisfatória, acaso a
parte não se conforme com as razões declinadas ou considere a
existência de algum equívoco ou erro de julgamento, não são os
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embargos, que possuem função processual limitada, a via própria
para impugnar o julgado ou rediscutir a causa. De fato, "os
embargos de declaração têm como objetivo sanar eventual
existência de obscuridade, contradição, omissão ou erro material
(CPC/2015, art. 1.022), de modo que é inadmissível a sua oposição
para rediscutir questões tratadas e devidamente fundamentadas no
acórdão embargado, já que não são cabíveis para provocar novo
julgamento da lide" (EDcl nos EDcl no AgInt nos EDcl no AREsp n.
1.076.319/MG, Rel. Ministro Lázaro Guimarães, DJe 22/8/2018).
3. Embargos de declaração rejeitados.

Nos presentes aclaratórios, o Ministério Público Federal afirma que os


primeiros embargos de declaração foram rejeitados sob o fundamento de que os pontos dados
como omissos já tinham sido examinados no julgamento de mérito do recurso em habeas
corpus. Contudo, assevera que "os específicos aspectos tratados pelo parquet em seus
primeiros aclaratórios não foram de fato tocados naquele acórdão original, como tampouco o
foram na decisão colegiada que rejeitou os primeiros embargos ministeriais".

Aduz que "nada foi dito quanto à especificidade de haver o Min. Luís
Roberto Barroso, Relator do Inq 3113 no Supremo Tribunal Federal, conforme se vê às fls.
496/497, referir explicitamente a existência de passagens da denúncia que imputam a Jaqueline
Roriz o crime de corrupção passiva". No mais, afirma que "existe a franca possibilidade,
mesmo diante da capitulação pelo órgão acusatório no tipo do peculato, de que, mediante a
aplicação do art. 383 do Código de Processo Penal, a condenação dela se dê, ao final,
mediante nova definição jurídica do fato, pela prática da corrupção passiva, o que excluirá
qualquer possível violação ou inadequação à teoria monista".

Conclui, assim, que a denúncia por tipos distintos "encontra a possibilidade


de plena conciliação, em sede de futura e eventual condenação, mesmo tendo em conta a
teoria monista da ação". Nesse contexto, entende que fica excluída a possibilidade de inépcia
vislumbrada por esta Corte, pois "a capitulação dada pela acusação é provisória, eventual
descompasso com a teoria monista da ação apenas poderia ser vista no confronto de duas
condenações, mas não de duas imputações".

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Afirma, também, que o não enfrentamento da questão, como posta pelo
Ministério Público Federal, viola o art. 93, inciso IX, da Constituição Federal. No mais,
entende que o julgamento dos primeiros embargos permite o ajuizamento de reclamação
perante o Supremo Tribunal Federal, uma vez que se desrespeitou a autoridade da decisão
que recebeu a denúncia contra Jaqueline Roriz e "pronunciou a tipicidade dos fatos a ela
imputados, chegando mesmo a vislumbrar, como se disse, imputação coerente com a prática
de corrupção passiva – e, pois, capaz de dar ensejo a futura emendatio libelli (art. 383 do
Código de Processo Penal) que deslocasse a capitulação para o art. 317 do Código Penal –,
de tal maneira que, ao não se reconhecer tal possibilidade extraída da decisão do Supremo
Tribunal Federal, estar-se-á negando a autoridade dela (dessa decisão)".

Ressalta, ainda, que a decisão "acaba por gerar violação ao princípio da


independência funcional dos órgãos do Ministério Público envolvidos, assegurada pelo art.
127, § 1º, da Constituição Federal, a obrigatoriedade que a decisão embargada impõe de que
o MPDFT e o MPF/PGR – em caso de concurso de agentes com excepcional necessidade de
oferta de denúncia em desfavor dos coautores em feitos e órgãos judiciários diversos em razão
de prerrogativa de foro e desmembramento – adotem a mesmíssima classificação penal, sob
pena de inépcia".

Considera, outrossim, que "a inépcia pronunciada da denúncia ofertada e


recebida contra o paciente, que se perfaz não no exame da denúncia em si, mas na sua leitura
em conjunto com outra, de diverso órgão do Ministério Público brasileiro, termina por dar
ensejo a cerceamento do direito de acusar, como consectário do devido processo legal,
albergado no art. 5º, inc. LIV, da mesma Carta Magna".

Aduz que chama a atenção que "o acórdão embargado despreza a


possibilidade de que, na ação penal recebida em desfavor de Jaqueline Roriz, haja a emendatio
libelli e a capitulação do fato no crime de corrupção passiva – como indiretamente aventado no
voto do Min. Luís Roberto Barroso –, frente às possibilidades oriundas da própria narração
fática na denúncia e no aditamento ofertados contra a mencionada ré, que contêm as
elementares do crime do art. 317 do Código Penal". Afirma que, inclusive, se pediu a

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condenação por corrupção passiva na origem.

Dessa forma, entende que "a unificação de tratamento dada pelo Superior
Tribunal de Justiça neste habeas corpus, optando por trancar a ação penal contra o paciente
como se a capitulação dos fatos na denúncia e aditamento contra Jaqueline Roriz fosse
definitiva, invade, com a devida vênia, a competência do Juízo Criminal de primeiro grau, que,
em sentença, onde se dará a capitulação definitiva nas duas ações penais, pode fazer a
conciliação devida dos casos, com o que o acórdão embargado, se mantido, viola o art. 105
da Constituição Federal".

Pugna, assim, pelo acolhimento dos aclaratórios, com efeitos infringentes,


para que seja negado provimento ao recurso em habeas corpus.

É o relatório.

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(2019/0028712-0)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):


Os aclaratórios não merecem acolhimento.

Reitero que os embargos de declaração possuem fundamentação vinculada.


Dessa forma, para seu cabimento, é necessária a demonstração de que a decisão embargada
se mostrou ambígua, obscura, contraditória ou omissa, conforme disciplina o art. 619 do
Código de Processo Penal. A mera irresignação com o entendimento apresentado na decisão,
que deu provimento ao recurso, não viabiliza a oposição dos aclaratórios.

Nos presentes embargos de declaração, opostos contra a rejeição dos


primeiros aclaratórios, o Ministério Público Federal afirma, em um primeiro momento, que a
omissão referida nos primeiros embargos permanece, uma vez que os "específicos aspectos"
trazidos "não foram de fato tocados no acórdão original, como tampouco o foram na decisão
colegiada que rejeitou os primeiros embargos ministeriais".

No ponto, rememoro que o Parquet Federal apontou, nos primeiros


embargos, as seguintes omissões: "a) em razão do acórdão do STF de recebimento da
denúncia contra Jaqueline Roriz, nos autos do Inq n. 3113/DF, em que o Ministro Luís
Roberto Barroso afirma expressamente que há passagens da denúncia que narram
especificamente o crime de corrupção passiva; b) a denúncia e o respectivo aditamento feito
pela PGR em desfavor da corré Jaqueline Roriz em que há a narração do crime de corrupção
passiva, apesar de manter a capitulação como peculato; e c) as alegações finais do
GAECO/DF em desfavor de JAQUELINE RORIZ com pedido de condenação pelo crime de
corrupção passiva".

A Quinta Turma, ao rejeitar os primeiros embargos, considerou que o


acórdão recorrido se manifestou de forma expressa a respeito do recebimento da denúncia
contra a esposa do recorrente, pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos do Inquérito n.

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3.113/DF.

Por oportuno (e-STJ fls. 779/780):

A propósito, transcrevo ementa do acórdão do Supremo Tribunal


Federal, que recebeu a denúncia oferecida contra Jaqueline Maria
Roriz, que à época, por estar exercendo mandato de deputada
federal, possuía foro por prerrogativa de função naquela Corte:
Inquérito. Requisitos de validade da denúncia. Descrição fática
consistente. Material probatório que impede o reconhecimento da
atipicidade da conduta. Denúncia recebida. 1. O exame da
admissibilidade da denúncia se limita à existência de substrato
probatório mínimo e à validade formal da inicial acusatória. 2. A
acusada se defende dos fatos descritos pela acusação e não
propriamente da classificação jurídica dos fatos. Precedentes. 3.
Não é inepta a denúncia que, ao descrever fato certo e
determinado, permite à acusada o exercício da ampla defesa.
Precedentes. 4. O fato de a acusada não ser funcionária pública
não impede que seja denunciada pela prática de peculato, se,
consciente dos atos praticados pelos supostos autores do crime, é
beneficiada pela apropriação ou pelo desvio. 5. Na hipótese de que
se trata, a denunciada, antes mesmo do episódio retratado no vídeo
aportado aos autos (recebimento de valores em espécie),
conscientemente, aderiu às ações dos demais agentes, contribuindo,
portanto, para a produção do resultado lesivo, de modo a
configurar a sua condição de partícipe no delito funcional
praticado pelo funcionário público. 6. O acolhimento das alegações
da defesa redundaria na caracterização do recebimento, em
proveito próprio e para o fim de obter proveito ilícito, de coisa
sabidamente produto de crime (art. 180, § 6º, do Código Penal),
não sendo possível rejeitar a denúncia por suposta atipicidade das
condutas. 7. Denúncia recebida. (Inq 3113, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 02/12/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-025 DIVULG 05-02-2015 PUBLIC
06-02-2015)

No entanto, o Parquet Federal, ao opor novos embargos, afirma que o


Superior Tribunal de Justiça, deveria ter se manifestado sobre a “especificidade de haver o
Min. Luís Roberto Barroso, Relator do Inq 3113 no Supremo Tribunal Federal, conforme se
vê às fls. 496/497, referir explicitamente a existência de passagens da denúncia que imputam a
Jaqueline Roriz o crime de corrupção passiva” (e-STJ fl. 938).

Dessarte, registro mais uma vez que o acórdão proferido no presente


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recurso em habeas corpus apenas afirmou a inépcia da inicial acusatória, em virtude de
imputar um crime em concurso de agentes e com comunicação de circunstância de caráter
pessoal, sem atentar para a teoria unitária. Portanto, em nenhum momento se analisou qual
crime foi efetivamente descrito ou praticado, ou seja, não se examinou a existência de
justa causa nem a possibilidade de emendatio libelli, mas apenas a equivocada imputação
trazida, que, no caso dos autos, revela manifesta atecnia do órgão acusador.

A matéria trazida ao conhecimento desta Corte, por meio do presente


recurso, diz respeito unicamente ao equívoco existente na capitulação de crime imputado, em
concurso de agentes e com comunicação de circunstância de caráter pessoal, com
inobservância da teoria monista. Cuida-se de matéria afeta à dogmática penal, a princípios
básicos relativos ao preenchimento do tipo penal, que dispensa, por óbvio, o exame acerca
dos fatos efetivamente narrados na inicial acusatória.

Dessa forma, não revela omissão a ausência de manifestação sobre temas


completamente desimportantes para a solução jurídica do recurso.

Relevante anotar que a possibilidade de alteração da capitulação jurídica


trazida na inicial acusatória, no momento da prolação da sentença, não convalida a
impropriedade da denúncia, pois não se trata de mero equívoco a respeito da definição jurídica
da descrição do fato contido na exordial. Com efeito, se imputou ao recorrente crime próprio
de funcionário público, sem que possua essa qualidade, e para que fosse possível a imputação
nesses termos, imprescindível a utilização das normas de extensão trazidas nos arts. 29 e 30 do
Código Penal. Contudo, o erro na utilização da norma de extensão do concurso de
agentes, invalida sua incidência e esvazia o tipo penal imputado, sendo, portanto,
manifesta a impropriedade da capitulação jurídica.

Para que a inicial acusatória se mostre apta a dar início à ação penal, é
imprescindível que os elementos do tipo penal imputado estejam minimamente descritos, sob
pena de patente inépcia. Conforme já tive a oportunidade de me manifestar em outro caso,
"embora o réu se defenda dos fatos e não da capitulação legal a ele atribuída pelo Ministério
Público, mister a adequada compreensão da imputação, com a descrição de todos os

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elementos do tipo penal, sob pena de a defesa ter que se defender de conduta que nem ao
menos preenche adequadamente a tipicidade penal. Anoto que não se está a afirmar que
as condutas imputadas são atípicas, mas sim que o Ministério Público não se desincumbiu de
narrar todas as elementares do tipos penais, o que dificulta, sobremaneira, a ampla
defesa". (HC 485.791/SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado
em 07/05/2019, DJe 20/05/2019)

Dessa forma, verificando-se que a capitulação trazida na denúncia não


preenche a adequada tipicidade penal, a solução trazida pelo Ministério Público Federal não se
revela consentânea com a dogmática penal, porquanto os institutos da emendatio e da
mutatio libelli dizem respeito apenas à adequação dos fatos ao tipo penal. Assim, não se
pode aguardar a sentença para se corrigir a capitulação penal apresentada, uma vez que as
elementares do tipo penal não se encontram corretamente preenchidos, em nítida ausência de
observância às normas de extensão dos arts. 29 e 30 do Código Penal.

Destaco, outrossim, que, de fato, eventual condenação da corré Jaqueline


Roriz pela prática de corrupção passiva, excluiria "qualquer possível violação ou inadequação
à teoria monista" (e-STJ fl. 941). Da mesma forma que o aditamento da sua denúncia, para
corrigir a imputação, também autorizaria a manutenção da ação penal quanto ao recorrente.
Contudo, não houve condenação nem aditamento, motivo pelo não houve convalidação ou
correção do erro antes da atuação do judiciário, que não pode fechar os olhos para a
manifesta atecnia analisada nos presentes autos.

Assim, a possibilidade de plena conciliação, conforme defendido, só seria


possível acaso efetivamente corrigida a capitulação, quer por aditamento quer por emendatio
libelli na condenação de Jaqueline Roriz, mas em momento anterior ao exame do judiciário
acerca da aptidão da denúncia, pois o "direito de acusar" deve observar o ordenamento
jurídico e não pode se sobrepor ao direito à ampla defesa.

Ressalto, por oportuno, que o trancamento da ação penal, por inépcia da


inicial acusatória, não revela, por óbvio, "cerceamento do direito de acusar", conforme afirma o
embargante, pois se trata de hipótese em que pode ser apresentada nova denúncia, desde que

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Superior Tribunal de Justiça
observado o regramento legal, conforme expressamente ressalvado no acórdão embargado.

Em homenagem aos memoriais apresentados pelo nobre representante do


Ministério Público Federal, registro, ainda, que a hipótese dos presentes autos, não revela,
ainda que minimamente, situação que autorize o ajuizamento de reclamação perante o
Supremo Tribunal Federal. Com efeito, a decisão proferida pelo Pretório Excelso diz respeito
ao recebimento da denúncia contra Jaqueline Roriz, no Inquérito n. 3.113/DF, por crime de
peculato.

O presente recurso diz respeito unicamente à denúncia oferecida contra seu


marido, Manoel Costa de Oliveira Neto, que em nenhum momento teve sua situação analisada
pelo Supremo Tribunal Federal. Ademais, o entendimento trazido nos presentes autos não se
contrapõe ao juízo realizado por aquela Corte para receber a inicial acusatória contra Jaqueline
Roriz, mas antes o leva efetivamente em consideração.

De igual forma, a argumentação do Relator do Supremo Tribunal Federal, a


respeito da possibilidade de os fatos narrados configurarem, ao final, crime diverso, também
nunca foi contrariada por esta Corte. Com efeito, permanece a possibilidade de emendatio
libelli, com relação a Jaqueline Roriz, assim como permanece a existência de capitulação
atécnica na presente hipótese. Portanto, não há afronta à autoridade da decisão da Suprema
Corte.

Igualmente, quanto à apontada ofensa ao princípio da independência


funcional, destaco que se trata de importante princípio constitucional, o qual, entretanto, não
invalida a ciência do direito penal. Assim, plenamente independentes os órgãos do Ministério
Público para imputar a conduta que melhor lhes aprouver, desde que efetivamente narrados os
elementos do tipo imputado, com o adequado preenchimento da tipicidade penal.

Relevante destacar, ainda, que a inépcia efetivamente se deu "na


comparação com a capitulação que se fez em outra denúncia", porquanto a imputação em
concurso de agentes deve observar a dogmática penal, não sendo possível, a meu ver, que a
independência funcional suplante as regras de direito penal a respeito da adequada imputação,
em respeito ao princípio da ampla defesa, que também possui relevância constitucional.
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 13 de 11
Superior Tribunal de Justiça
Manifesta, portanto, a impossibilidade de acolhimento dos presentes
aclaratórios, porquanto não demonstrada a ocorrência de nenhuma das hipóteses do art. 619
do Código de Processo Penal. De fato, não se verificando ambiguidade, omissão, contradição
ou obscuridade, mas mera irresignação do embargante com a solução apresentada por esta
Corte Superior, fica inviabilizada a utilização dos embargos de declaração.

Nesse sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM HABEAS CORPUS. OMISSÃO.


INEXISTÊNCIA. REDISCUSSÃO DO JULGADO.
IMPOSSIBILIDADE. ACLARATÓRIOS REJEITADOS.
PREQUESTIONAMENTO. JUNTADA DE MÍDIAS DA SESSÃO DE
JULGAMENTO. NÃO CABIMENTO. 1. O recurso de embargos de
declaração presta-se, tão somente, a sanar ambiguidade,
contradição, obscuridade ou omissão do julgado, consoante dispõe
o art. 619 do Código de Processo Penal, ou, então, retificar,
quando constatado, erro material do julgado. 2. A pretexto de
omissão, busca o embargante a rediscussão do julgado, o que não
se harmoniza com o escopo da medida integrativa, conforme
iterativa jurisprudência desta Corte. 3. Mesmo para fins de
prequestionamento, os embargos de declaração têm suas hipóteses
de cabimento restritas ao art. 619 do CPP, ausentes na espécie. 4.
Incabível a juntada das cópias de áudio da sessão de julgamento,
sequer prevista regimentalmente, pois à unanimidade acolhido o
voto do Relator unânime, devidamente juntado aos autos, onde
esclarecido que a pretensão de desclassificação do crime de
homicídio doloso para a figura culposa demandaria revaloração de
prova, incabível na via estreita do habeas corpus. 5. Embargos de
declaração rejeitados. (EDcl no HC 97.421/SP, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, Sexta Turma, julgado em 30/6/2015, DJe 7/8/2015).

Assim, resolvidas as questões com fundamentação satisfatória, acaso a parte


não se conforme com as razões declinadas ou considere a existência de algum equívoco ou
erro de julgamento, não são os embargos, que possuem função processual limitada, a via
própria para impugnar o julgado ou rediscutir a causa.

De fato, "os embargos de declaração têm como objetivo sanar eventual


existência de obscuridade, contradição, omissão ou erro material (CPC/2015, art. 1.022), de
modo que é inadmissível a sua oposição para rediscutir questões tratadas e devidamente

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 14 de 11
Superior Tribunal de Justiça
fundamentadas no acórdão embargado, já que não são cabíveis para provocar novo
julgamento da lide" (EDcl nos EDcl no AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.076.319/MG, Rel.
Ministro LÁZARO GUIMARÃES, DJe 22/8/2018).

Em resumo:

PENAL E PROCESSO PENAL. NOVOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1.
CAIXA DE PANDORA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
INÉPCIA DA DENÚNCIA. IMPUTAÇÃO EM CONCURSO DE
AGENTES. COMUNICAÇÃO DE CIRCUNSTÂNCIA
ELEMENTAR. NÃO OBSERVÂNCIA À TEORIA UNITÁRIA. 2.
ALEGAÇÃO DE QUE A OMISSÃO PERSISTE.
ESPECIFICIDADE NÃO ANALISADA. EXISTÊNCIA DE
JUSTA CAUSA. POSSIBILIDADE DE EMENDATIO.
MATÉRIAS DESIMPORTANTES À SOLUÇÃO DA
CONTROVÉRSIA. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. 3.
POSSIBILIDADE DE EMENDATIO LIBELLI. INSTITUTO QUE
NÃO CONVALIDA A IMPROPRIEDADE DO TIPO PENAL.
IMPUTAÇÃO DE CRIME PRÓPRIO. RÉU QUE NÃO É
FUNCIONÁRIO PÚBLICO. NECESSIDADE DE NORMA DE
EXTENSÃO. ARTS. 29 E 30 DO CP. EQUÍVOCO NA
ADEQUAÇÃO DA CAPITULAÇÃO LEGAL. 4. ELEMENTOS
DO TIPO PENAL. NECESSIDADE DE ADEQUADA
DESCRIÇÃO. AUSÊNCIA NA HIPÓTESE. OFENSA À AMPLA
DEFESA. PRECEDENTES. 5. POSSIBILIDADE DE CORREÇÃO
DA CAPITULAÇÃO NA SENTENÇA DE JAQUELINE RORIZ.
SITUAÇÃO AINDA NÃO VERIFICADA. ATUAÇÃO DO
JUDICIÁRIO. OFENSA AO DIREITO DE ACUSAR.
NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA AO ORDENAMENTO
JURÍDICO. POSSIBILIDADE DE NOVA DENÚNCIA. 6. NÃO
OBSERVÂNCIA À AUTORIDADE DA DECISÃO DO STF.
NÃO VERIFICAÇÃO. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA
CONTRA JAQUELINE RORIZ. INQ 3.113/DF. JULGADO
EFETIVAMENTE LEVADO EM CONSIDERAÇÃO. 7. OFENSA
AO PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL. NÃO
VERIFICAÇÃO. PRINCÍPIO QUE NÃO INVALIDA A CIÊNCIA
DO DIREITO PENAL. IGUAL RELEVÂNCIA
CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. 8. AUSÊNCIA DOS
VÍCIOS DO ART. 619 DO CPP. MERA IRRESIGNAÇÃO COM
O MÉRITO DO RECURSO. NÃO CABIMENTO DE
EMBARGOS. 9. ACLARATÓRIOS REJEITADOS.
1. Deve ser registrado, mais uma vez, que o acórdão proferido no
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 15 de 11
Superior Tribunal de Justiça
presente recurso em habeas corpus apenas afirmou a inépcia da
inicial acusatória, em virtude de imputar um crime em concurso de
agentes e com comunicação de circunstância de caráter pessoal, sem
atentar para a teoria unitária. Cuida-se de matéria afeta à dogmática
penal, a princípios básicos relativos ao preenchimento do tipo penal,
que dispensa, por óbvio, o exame acerca dos fatos efetivamente
narrados na inicial acusatória.
2. Em nenhum momento se analisou qual crime foi efetivamente
descrito ou praticado, ou seja, não se examinou a existência de justa
causa nem a possibilidade de emendatio libelli, mas apenas a
equivocada imputação trazida, que, no caso dos autos, revela
manifesta atecnia do órgão acusador. Dessa forma, não revela omissão
a ausência de manifestação sobre temas completamente
desimportantes para a solução jurídica do recurso.
3. A possibilidade de alteração da capitulação jurídica trazida na inicial
acusatória, no momento da prolação da sentença, não convalida a
impropriedade da denúncia, pois não se trata de mero equívoco a
respeito da definição jurídica da descrição do fato contido na exordial.
Com efeito, se imputou ao recorrente crime próprio de funcionário
público, sem que possua essa qualidade, e para que fosse possível a
imputação nesses termos, imprescindível a utilização das normas de
extensão trazidas nos arts. 29 e 30 do Código Penal. Contudo, o erro
na utilização da norma de extensão do concurso de agentes,
invalida sua incidência e esvazia o tipo penal imputado, sendo,
portanto, manifesta a impropriedade da capitulação jurídica.
4. É imprescindível que os elementos do tipo penal imputado estejam
minimamente descritos, sob pena de patente inépcia. "Embora o réu se
defenda dos fatos e não da capitulação legal a ele atribuída pelo
Ministério Público, mister a adequada compreensão da imputação,
com a descrição de todos os elementos do tipo penal, sob pena de
a defesa ter que se defender de conduta que nem ao menos
preenche adequadamente a tipicidade penal. Anoto que não se
está a afirmar que as condutas imputadas são atípicas, mas sim que o
Ministério Público não se desincumbiu de narrar todas as
elementares do tipos penais, o que dificulta, sobremaneira, a
ampla defesa". (HC 485.791/SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca, Quinta Turma, julgado em 07/05/2019, DJe 20/05/2019)
5. A possibilidade de plena conciliação, conforme defendido, só seria
possível acaso efetivamente corrigida a capitulação, quer por
aditamento quer por emendatio libelli na condenação de Jaqueline
Roriz, mas em momento anterior ao exame do judiciário acerca da
aptidão da denúncia, pois o "direito de acusar" deve observar o
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 16 de 11
Superior Tribunal de Justiça
ordenamento jurídico e não pode se sobrepor ao direito à ampla
defesa. Ressalto, por oportuno, que o trancamento da ação penal, por
inépcia da inicial acusatória, não revela, por óbvio, "cerceamento do
direito de acusar", conforme afirma o embargante, pois se trata de
hipótese em que pode ser apresentada nova denúncia, desde que
observado o regramento legal, conforme expressamente ressalvado no
acórdão embargado.
- Vale a pena recordar, uma vez mais, que qualquer peça inicial, no
cível ou na esfera penal, deve preencher requisitos e deve ser
examinada pelo Estado-Juiz. As peças iniciais do MP estão
submetidas, igualmente, ao mesmo controle judicial. O não
preenchimento dos comandos normativos correspondentes provoca a
inépcia da vestibular. O órgão de acusação não está fora de tal
diretriz!
6. A hipótese dos presentes autos não revela também, ainda que
minimamente, situação que autorize o ajuizamento de reclamação
perante o STF. Com efeito, a decisão proferida pelo Pretório Excelso
diz respeito ao recebimento da denúncia contra Jaqueline Roriz, no
Inquérito n. 3.113/DF, por crime de peculato. O presente recurso diz
respeito unicamente à denúncia oferecida contra seu marido, Manoel
Costa de Oliveira Neto, que em nenhum momento teve sua situação
analisada pelo STF. Ademais, o entendimento trazido nos presentes
autos não se contrapõe ao juízo realizado por aquela Corte para
receber a inicial acusatória contra Jaqueline Roriz, mas antes o leva
efetivamente em consideração. De igual forma, a argumentação do
Relator do STF, a respeito da possibilidade de os fatos narrados
configurarem, ao final, crime diverso, também nunca foi contrariada
por esta Corte. Com efeito, permanece a possibilidade de emendatio
libelli, com relação a Jaqueline Roriz, assim como permanece a
existência de capitulação atécnica na presente hipótese. Portanto, não
há afronta à autoridade da decisão da Suprema Corte.
7. Quanto à apontada ofensa ao princípio da independência funcional,
é oportuno destacar que se trata de importante princípio constitucional,
o qual, entretanto, não invalida a ciência do direito penal. Assim,
plenamente independentes os órgãos do Ministério Público para
imputar a conduta que melhor lhes aprouver, desde que efetivamente
narrados os elementos do tipo imputado, com o adequado
preenchimento da tipicidade penal. Relevante reafirmar, ainda, que a
inépcia efetivamente se deu "na comparação com a capitulação que se
fez em outra denúncia", porquanto a imputação em concurso de
agentes deve observar a dogmática penal, não sendo possível, é
lógico, que a independência funcional suplante as regras de direito
penal a respeito da adequada imputação, em respeito ao princípio da
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 17 de 11
Superior Tribunal de Justiça
ampla defesa, que também possui relevância constitucional.
8. Manifesta, portanto, a impossibilidade de acolhimento dos presentes
aclaratórios, porquanto não demonstrada a ocorrência de nenhuma das
hipóteses do art. 619 do Código de Processo Penal. De fato, não se
verificando ambiguidade, omissão, contradição ou obscuridade, mas
mera irresignação do embargante com a solução apresentada por esta
Corte Superior, fica inviabilizada a utilização dos embargos de
declaração.

Ante o exposto, rejeito os aclaratórios.

É como voto.

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 18 de 11
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

EDcl nos EDcl no


Número Registro: 2019/0028712-0 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 108.029 / DF
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 0040655252012807 00406552520128070001 07152642020188070000 08190022893


081900228931001 20120111480347 20140110518102 20140110518560
20150110309258 20150110340889 3029582015 406552520128070001
7152642020188070000

EM MESA JULGADO: 18/06/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MÔNICA NICIDA GARCIA
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
CORRÉU : DURVAL BARBOSA RODRIGUES
CORRÉU : JOSÉ ROBERTO ARRUDA
ADVOGADO : NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO - RJ023532

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra a Administração em
Geral - Corrupção passiva

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto do Sr. Ministro Relator rejeitando os embargos, pediu vista,
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 19 de 11
Superior Tribunal de Justiça
antecipadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer."
Aguardam os Srs. Ministros Ribeiro Dantas e Jorge Mussi.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Joel Ilan Paciornik.

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 20 de 11
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

EDcl nos EDcl no


Número Registro: 2019/0028712-0 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 108.029 / DF
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 0040655252012807 00406552520128070001 07152642020188070000 08190022893


081900228931001 20120111480347 20140110518102 20140110518560
20150110309258 20150110340889 3029582015 406552520128070001
7152642020188070000

EM MESA JULGADO: 19/09/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HUGO GUEIROS BERNARDES FILHO
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
CORRÉU : DURVAL BARBOSA RODRIGUES
CORRÉU : JOSÉ ROBERTO ARRUDA
ADVOGADO : NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO - RJ023532

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra a Administração em
Geral - Corrupção passiva

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, acolheu requerimento de prorrogação do prazo para proferir
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 21 de 11
Superior Tribunal de Justiça
voto-vista, nos termos do art. 162, § 1º, do RISTJ."
Aguardam os Srs. Ministros Jorge Mussi, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik.

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 22 de 11
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

EDcl nos EDcl no


Número Registro: 2019/0028712-0 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 108.029 / DF
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 0040655252012807 00406552520128070001 07152642020188070000 08190022893


081900228931001 20120111480347 20140110518102 20140110518560
20150110309258 20150110340889 3029582015 406552520128070001
7152642020188070000

EM MESA JULGADO: 22/10/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
CORRÉU : DURVAL BARBOSA RODRIGUES
CORRÉU : JOSÉ ROBERTO ARRUDA
ADVOGADO : NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO - RJ023532

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra a Administração em
Geral - Corrupção passiva

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
QUESTÃO DE ORDEM:
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 23 de 11
Superior Tribunal de Justiça
"A Turma, por unanimidade, acolheu requerimento de prorrogação do prazo para proferir
voto-vista."
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Leopoldo de Arruda Raposo
(Desembargador convocado do TJ/PE) e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 24 de 11
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

EDcl nos EDcl no


Número Registro: 2019/0028712-0 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 108.029 / DF
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 0040655252012807 00406552520128070001 07152642020188070000 08190022893


081900228931001 20120111480347 20140110518102 20140110518560
20150110309258 20150110340889 3029582015 406552520128070001
7152642020188070000

EM MESA JULGADO: 21/11/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. LUCIANO MARIZ MAIA
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
CORRÉU : DURVAL BARBOSA RODRIGUES
CORRÉU : JOSÉ ROBERTO ARRUDA
ADVOGADO : NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO - RJ023532

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra a Administração em
Geral - Corrupção passiva

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
QUESTÃO DE ORDEM:
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 25 de 11
Superior Tribunal de Justiça
" A Turma, por unânimidade, deferiu o pedido de adiamento do julgamento, a realizar-se
às 14h do dia 26 de novembro de 2019 (terça-feira), na sala de sessão desta Quinta Turma."

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 26 de 11
Superior Tribunal de Justiça
EDcl nos EDcl no RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 108.029 - DF
(2019/0028712-0)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE): Conforme relatado, trata-se de
embargos de declaração, nos embargos de declaração, no recurso ordinário em habeas
corpus, opostos pelo d. Ministério Público Federal, em face de v. acórdão prolatado por esta
Quinta Turma, que não acolheu os primeiros aclaratórios, os quais, por sua vez, mantinham
intacto o provimento ao recurso ordinário, de forma a trancar a ação penal em relação a
MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO, aqui embargado.

No presente recurso (fls. 932-944), em suma, o d. Ministério Público Federal


busca sanar omissão em relação a três pontos, que enumera: "a) o recebimento pelo
Supremo Tribunal Federal da denúncia antes ofertada pela Procuradoria Geral da
República em desfavor de JAQUELINE RORIZ, nos autos do Inq 3113/DF, oportunidade
em que o Ministro Relator Luís Roberto Barroso afirmou expressamente que figuravam
da exordial acusatória passagens que narravam especificamente o crime de corrupção
passiva; b) a efetiva imputação, no âmbito da narração fática, nessa denúncia e em seu
posterior aditamento, do delito de corrupção passiva, muito embora a capitulação final,
pela acusação, haja sido feita no crime de peculato; e c) a concreta existência de pedido
de condenação de JAQUELINE RORIZ pelo crime de corrupção passiva, por parte do
MPDFT (GAECO/DF), em sede de alegações finais, na ação penal resultante da baixa
dos autos do antigo Inq 3113/DF ao primeiro grau de jurisdição após a perda da
prerrogativa de foro, com a consequente declinação de competência" (fl. 937).

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 27 de 11
Superior Tribunal de Justiça
Destacou, em especial, que "a decisão desse Egrégio Superior Tribunal de
Justiça, [...] acabou por resultar em desrespeito à autoridade da decisão do Supremo
Tribunal Federal, a permitir eventual e futura impetração de reclamação ao Pretório
Excelso pela Procuradoria Geral da República [...] É que a Suprema Corte, ao receber
a denúncia contra JAQUELINE RORIZ, pronunciou a tipicidade dos fatos a ela
imputados, chegando mesmo a vislumbrar, como se disse, imputação coerente com a
prática de corrupção passiva – e, pois, capaz de dar ensejo a futura emendatio libelli
(art. 383 do Código de Processo Penal) que deslocasse a capitulação para o art. 317 do
Código Penal –, de tal maneira que, ao não se reconhecer tal possibilidade extraída da
decisão do Supremo Tribunal Federal, estar-se-á negando a autoridade dela (dessa
decisão)" (fl. 942).

No mais, o acórdão embargado, "no sentido de fazer com que a suposta


inépcia não se veja no exame puro e simples da denúncia, senão na comparação com a
capitulação que se fez em outra denúncia, ofertada por outro órgão do Ministério
Público, evidencia cabalmente a violação à independência funcional que os aclaratórios
primeiros do MPF pretenderam afastar" (fl. 942).

Por fim, o julgado recorrido "optando por trancar a ação penal contra o
paciente como se a capitulação dos fatos na denúncia e aditamento contra JAQUELINE
RORIZ fosse definitiva, invade, com a devida vênia, a competência do Juízo Criminal de
primeiro grau, que, em sentença, onde se dará a capitulação definitiva nas duas ações
penais, pode fazer a conciliação devida dos casos, com o que o acórdão embargado, se
mantido, viola o art. 105 da Constituição Federal" (fl. 944).

Requer, portanto, "sejam conhecidos e acolhidos os presentes embargos de


declaração, com excepcionais efeitos infringentes, com o fim de que, supridas as
omissões apontadas, seja o recurso ordinário em habeas corpus desprovido" (fl. 944).

Decido.

Os embargos devem ser acolhidos.

Compulsando novamente os autos, verifica-se que, no anterior recurso


ordinário em habeas corpus, dois foram, basicamente, os argumentos do ora embargado para
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Superior Tribunal de Justiça
requerer o trancamento da ação penal na origem: inépcia da denúncia e atipicidade dos fatos.

Naquele recurso, manifestara a d. Defesa a existência de verdadeira “denúncia


alternativa”, consistente na capitulação diversa, embora sobre os mesmos fatos, praticados
supostamente em coautoria por JAQUELINE MARIA RORIZ, esposa do embargado
denunciada por peculato, e pelo próprio MANOEL, denunciado por corrupção passiva.

Sustentara que nem MANOEL e nem JAQUELINE, esta então apenas


candidata à Deputada Distrital, eram funcionários públicos.

Aduzira que o suposto “apoio político” não passaria de "ato de candidato" e,


portanto, sequer configuraria ato de ofício ou próprio de servidor público. Como
consequência, não se materializando a elementar "em razão" da função no crime de
corrupção passiva (Art. 317, caput, do CP: "Solicitar ou receber, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem").

Por fim, alegara que não poderia ter, contra si, imposta a elementar
correspondente à condição pessoal exclusiva da esposa. Tudo, com base no art. 30 do
Código Penal, uma vez que JAQUELINE foi denunciada por peculato, e amparo na teoria
monista da ação.

Pois bem.

Inicialmente, sobre a capitulação na denúncia, não se pode olvidar que este eg.
Tribunal Superior admite o concurso de agentes entre funcionários públicos (ou equiparados) e
terceiros, desde que estes tenham ciência da condição pessoal daqueles, quando elementar do
crime.

Aliás, esta é a redação do art. 30 do Código Penal: "Art. 30 - Não se


comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime".

No mesmo sentido, julgado deste eg. Superior Tribunal de Justiça:

"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PENAL.


INSTITUTO CANDANGO DE SOLIDARIEDADE. FUNCIONÁRIO
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Superior Tribunal de Justiça
PÚBLICO POR EQUIPARAÇÃO. PECULATO. CONCURSO DE
PESSOAS. CABIMENTO. CIÊNCIA DA CONDIÇÃO PESSOAL DOS
CORRÉUS. ELEMENTAR DO CRIME. ARTIGO 30 DO CÓDIGO PENAL.
1. No que toca ao delito de peculato admite-se o concurso
de agentes entre funcionários públicos (ou equiparados, nos termos do
art. 327, § 1º, do Código Penal) e terceiros, desde que esses tenham
ciência da condição pessoal daqueles, pois referida condição é elementar
do crime em tela (artigo 30 do Código Penal).
2. Tendo as instâncias ordinárias concluído que restou
inequívoco o conhecimento, pelo agravante, da condição pessoal de
Presidentes do Instituto Candango da Solidariedade dos corréus,
condenados pelo crime de peculato por equiparação a funcionário público,
não há falar em ocorrência de erro de tipo na espécie.
3. Agravo regimental improvido" (AgRg no REsp n.
1.459.394/DF, Sexta Turma, Relª. Minª. Maria Thereza de Assis Moura,
DJe de 07/10/2015, grifei).

Não obstante, como alegado pelo embargante, deve-se mencionar também os


demais institutos jurídicos em voga no debate do caso aqui posto, como a) in dubio pro
societate; b) emendatio libelli; e c) autonomia do Ministério Público com
independência funcional de seus Membros.

Quanto ao in dubio pro societate, notório que esta eg. Corte Superior, em
incontáveis julgados, considerou o trancamento da ação penal medida excepcionalíssima.

Exemplificativamente: "Nos termos do entendimento consolidado desta


Corte, o trancamento da ação penal por meio do habeas corpus é medida excepcional,
que somente deve ser adotada quando houver inequívoca comprovação da atipicidade
da conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de
indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito" (AgRg no HC n.
466.216/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 16/09/2019, grifei).

No que concerne à emendatio libelli, está assim prescrita no art. 383 do


Código de Processo Penal:

"Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia


ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência,
tenha de aplicar pena mais grave.
§ 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver
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Superior Tribunal de Justiça
possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de
acordo com o disposto na lei.
§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão
encaminhados os autos."

Neste ponto, muito bem arrazoado pelo embargante a possibilidade "real" de


acontecer a emendatio libelli na ação penal contra JAQUELINE.

Insta consignar que, recebida a denúncia em face de JAQUELINE pelo col.


Supremo Tribunal Federal, este acabou por declinar de sua competência ao eg. Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e Territórios (Processo n. 2015.01.1.030925-8), em
23/02/2015, haja vista a perda do foro especial.

Diante disso, a emendatio libelli no Processo n. 2015.01.1.030925-8


somente será possível perante o d. Juízo da 7ª Vara Criminal de Brasília/DF (onde,
atualmente, tanto o processo de JAQUELINE quanto o do embargado se encontram
apensados).

Tudo, em respeito ao princípio do juiz natural, nos termos do julgado abaixo


citado, proferido pelo col. Supremo Tribunal Federal:

"AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIME


TIPIFICADO NO ART. 305 DO CÓDIGO PENAL (SUPRESSÃO DE
DOCUMENTO). PLEITO DE RECLASSIFICAÇÃO DA IMPUTAÇÃO
PARA O CRIME DO ART. 356 DO MESMO DIPLOMA (SONEGAÇÃO DE
PAPEL OU OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO). INEXISTÊNCIA DE
FLAGRANTE EQUÍVOCO NA CAPITULAÇÃO POSTA NA DENÚNCIA.
1. Nos termos do Código de Processo Penal, o momento
apropriado, em regra, para o ajuste da tipificação trazida na denúncia
ocorre por ocasião da sentença, quando o magistrado pode proceder à
emendatio ou à mutatio libelli (arts. 383 e 384). Conforme dispõe o § 1º
do art. 383, se, em consequência de definição jurídica diversa, houver
possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz
procederá de acordo com o disposto em lei; a significar, portanto, que o
regular trâmite da ação penal, no presente caso, não implica qualquer
constrangimento ilegal ao direito de locomoção do ora agravante.
2. Ademais, é da competência do juiz processante, sob o
crivo do contraditório e da ampla defesa, examinar os elementos de
prova colhidos durante a instrução criminal e conferir definição
jurídica adequada para os fatos apurados. O exame antecipado desta
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Superior Tribunal de Justiça
Corte Suprema a respeito da matéria, em rigor, implicaria clara afronta
ao juízo natural da causa penal. Precedentes.
3. Agravo Regimental a que se nega provimento" (HC n.
164.907 AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe de
26/02/2019, grifei).

Aqui, em resumo, repriso as razões do embargante para justificar a alegada


possibilidade "real" de emendatio libelli:

a) menção expressa, pelo Exmo. Min. Rel. Luís Roberto


Barroso, no recebimento da denúncia no então Inq n. 3113/DF, da narrativa de
fatos que correspondiam à corrupção passiva;

b) realização de aditamento à denúncia para o crime de


corrupção passiva; e
c) existência de pedido de condenação, em alegações finais,
pelo crime de corrupção passiva.

Em tempo, verificou-se, em consulta ao sítio eletrônico do eg. TJDFT, que o


Processo n. 2012.01.1.148034-7, em face do embargado, teve as alegações finais juntadas
em 16/09/2019; já o Processo n. 2015.01.1.030925-8 (apenso), em face de JAQUELINE,
teve as alegações finais juntadas ainda em 18/10/2018, ambos atualmente aguardando
sentença.

Nesse quadro, de fato, há sim a possibilidade "real" de emendatio libelli no


processo de JAQUELINE (antigo Inq n. 3113/DF no STF, hoje, Processo n.
2015.01.1.030925-8 no TJDFT).

Não obstante, as alegações defensivas nos moldes aqui ofertados já foram


refutadas pelo col. Supremo Tribunal Federal no processo de JAQUELINE, o qual teve a
sua denúncia recebida, nos seguintes termos:

"Inquérito. Requisitos de validade da denúncia. Descrição


fática consistente. Material probatório que impede o reconhecimento da
atipicidade da conduta. Denúncia recebida.
1. O exame da admissibilidade da denúncia se limita à
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Superior Tribunal de Justiça
existência de substrato probatório mínimo e à validade formal da inicial
acusatória.
2. A acusada se defende dos fatos descritos pela acusação e
não propriamente da classificação jurídica dos fatos. Precedentes.
3. Não é inepta a denúncia que, ao descrever fato certo e
determinado, permite à acusada o exercício da ampla defesa.
Precedentes.
4. O fato de a acusada não ser funcionária pública não
impede que seja denunciada pela prática de peculato, se, consciente dos
atos praticados pelos supostos autores do crime, é beneficiada pela
apropriação ou pelo desvio.
5. Na hipótese de que se trata, a denunciada, antes mesmo
do episódio retratado no vídeo aportado aos autos (recebimento de valores
em espécie), conscientemente, aderiu às ações dos demais agentes,
contribuindo, portanto, para a produção do resultado lesivo, de modo a
configurar a sua condição de partícipe no delito funcional praticado pelo
funcionário público.
6. O acolhimento das alegações da defesa redundaria na
caracterização do recebimento, em proveito próprio e para o fim de obter
proveito ilícito, de coisa sabidamente produto de crime (art. 180, § 6º, do
Código Penal), não sendo possível rejeitar a denúncia por suposta
atipicidade das condutas.
7. Denúncia recebida" (Inq n. 3.113, Primeira Turma, Rel.
Min. Roberto Barroso, DJe de 06/02/2015, grifei).

Por fim, no que atine à autonomia do Ministério Público e a independência


funcional de seus Membros, tem-se que são constitucionalmente consagradas, de forma
que, além de serem observadas como princípios gerais, não devem representar obstrução às
persecuções penais.

Verbis, o art. 127, § 1º, da CF/88:

“Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à


função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
§ 1º - São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional".

Ademais, não se pode olvidar que o próprio Tribunal Guardião da Constituição


entende que manifestações divergentes, até mesmo colidentes, emanadas de Membros do
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Superior Tribunal de Justiça
Ministério Público diferentes são mera consequência do princípio do promotor natural e da
independência intelectual, inerentes ao cargo.

Vejamos:

"HABEAS CORPUS' – JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL CONSOLIDADA QUANTO À MATÉRIA
VERSADA NA IMPETRAÇÃO – POSSIBILIDADE, EM TAL HIPÓTESE,
DE O RELATOR DA CAUSA DECIDIR, MONOCRATICAMENTE, A
CONTROVÉRSIA JURÍDICA – COMPETÊNCIA MONOCRÁTICA
DELEGADA, EM SEDE REGIMENTAL, PELA SUPREMA CORTE
(RISTF, ART. 192, 'CAPUT', NA REDAÇÃO DADA PELA ER Nº 30/2009)
– ATRIBUIÇÃO ANTERIORMENTE CONSAGRADA NO
ORDENAMENTO POSITIVO BRASILEIRO (LEI Nº 8.038/90, ART. 38;
CPC, ART. 557, § 1º-A) – AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA
COLEGIALIDADE – IMPETRAÇÃO FUNDADA, EM PARTE, EM
RAZÕES NÃO APRECIADAS PELO TRIBUNAL APONTADO COMO
COATOR – INCOGNOSCIBILIDADE, NO PONTO, DO REMÉDIO
CONSTITUCIONAL – ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PROVAS
NECESSÁRIAS À PRONÚNCIA DO PACIENTE – CONTROVÉRSIA QUE
IMPLICA EXAME APROFUNDADO DE FATOS E PROVAS –
INVIABILIDADE DESSA ANÁLISE NA VIA SUMARÍSSIMA DO 'HABEAS
CORPUS' – PROMOTOR NATURAL – POSTULADO QUE SE
REVELA IMANENTE AO SISTEMA CONSTITUCIONAL
BRASILEIRO – A DUPLA VOCAÇÃO DESSE PRINCÍPIO:
ASSEGURAR AO MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO O
EXERCÍCIO PLENO E INDEPENDENTE DE SEU OFÍCIO E
PROTEGER O RÉU CONTRA O ACUSADOR DE EXCEÇÃO (RTJ
150/123-124) – OCORRÊNCIA DE OPINIÕES COLIDENTES
MANIFESTADAS, EM MOMENTOS SUCESSIVOS, POR
PROCURADORES DE JUSTIÇA OFICIANTES NO MESMO
PROCEDIMENTO RECURSAL – POSSIBILIDADE JURÍDICA
DESSA DIVERGÊNCIA OPINATIVA – PRONUNCIAMENTOS
QUE SE LEGITIMAM EM FACE DA AUTONOMIA INTELECTUAL
QUE QUALIFICA A ATUAÇÃO DO MEMBRO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO – SITUAÇÃO QUE NÃO TRADUZ OFENSA AO
POSTULADO DO PROMOTOR NATURAL – SIGNIFICADO DOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA UNIDADE E DA
INDIVISIBILIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO – RECURSO DE
AGRAVO IMPROVIDO" (HC n. 102.147 AgR, Segunda Turma, Rel. Min.
Celso de Mello, DJe de 30/10/2014, grifei).

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Superior Tribunal de Justiça
Diante disso, apenas porque capitulações diversas (mas ambas plenamente
viáveis) foram ofertadas nas duas ações penais em face de réus diferentes, as quais
tramitavam (até há pouco tempo) em Tribunais distintos e foram promovidas por Membros do
Ministério Público funcionalmente independentes, isso não torna a denúncia de uma delas
inepta, tampouco alternativa (como alegado pela d. Defesa).

No mais, cercear o jus accusationis do Estado sem a demonstração cabal, no


caso, tanto da atipicidade quanto da inépcia da denúncia, não se mostra a medida mais
adequada, no entendimento desta própria Quinta Turma.

Verbis: "Para o oferecimento da denúncia, exige-se apenas a descrição da


conduta delitiva e a existência de elementos probatórios mínimos que corroborem a
acusação. Mister se faz consignar que provas conclusivas acerca da materialidade e da
autoria do crime são necessárias apenas para a formação de um eventual juízo
condenatório. Embora não se admita a instauração de processos temerários e levianos
ou despidos de qualquer sustentáculo probatório, nessa fase processual deve ser
privilegiado o princípio do in dubio pro societate. De igual modo, não se pode admitir
que o Julgador, em juízo de admissibilidade da acusação, termine por cercear o jus
accusationis do Estado, salvo se manifestamente demonstrada a carência de justa causa
para o exercício da ação penal, o que não se depreende na hipótese em apreço" (AgRg no
HC n. 466.216/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 16/09/2019, grifei).

Aliás, em análise da alegação do embargado de denúncia alternativa, o


doutrinador Guilherme de Souza NUCCI (2011) esclarece que a mesma denúncia "contra o
mesmo réu" não pode conter capitulação alternativa, assim, estando o Ministério Público em
dúvida, deve optar por uma das hipóteses cabíveis no caso concreto.

In verbis: "Denúncia ou queixa alternativa: entendemos ser inviável essa


modalidade de denúncia ou queixa. Se o órgão acusatório está em dúvida quanto a
determinado fato ou quanto à classificação que mereça, deve fazer sua opção antes do
oferecimento, mas jamais apresentar ao juiz duas versões contra o mesmo réu, deixando
que uma delas prevaleça no final (NUCCI, G. S. Código de Processo Penal Comentado.
São Paulo. Ed. Rev. dos Tribunais, 2011, p. 163, grifei).

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Portanto, tratando-se de réus diferentes e também diante de todas as demais
peculiaridades concretas narradas, não há falar em denúncia alternativa.

Adiante, o mesmo doutrinador (NUCCI, 2011) explica que "o acusado terá a
ampla defesa assegurada desde que os fatos, com todas as circunstâncias que os
envolvem, estejam bem descritos na denúncia" e exemplifica: "Se o promotor denuncia
um roubo quanto aos fatos narrados, mas o classifica, indevidamente, no art. 155 do
Código Penal, que cuida do furto, a denúncia não é inválida, nem prejudica o correto
desenvolvimento do processo" (NUCCI, G. S. Código de Processo Penal Comentado.
São Paulo. Ed. Rev. dos Tribunais, 2011, p. 164-165, grifei).

Isso porque o réu se defende de fatos, e não de meras capitulações.

Exemplificativamente: "Nos termos da jurisprudência assente deste


Sodalício, o réu se defende dos fatos e não da capitulação legal trazida na denúncia.
Logo, o momento adequado para o ajuste da tipificação é o da prolação da sentença,
porquanto o juiz, após percuciente análise dos fatos e provas carreados aos autos,
poderá entender que o fato criminoso descrito na inicial acusatória merece outra
definição jurídica e, valendo-se da emendatio libelli, conforme disposto no art. 383 do
Código de Processo Penal, aplicará o adequado tipo penal à conduta perpetrada" (AgRg
no AgRg no AREsp 1374826/SC, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 06/06/2019,
grifei).

Portanto, repita-se: o momento adequado ao eventual reparo no


enquadramento legal dos fatos é a sentença.

Neste sentido, já fora o r. parecer do d. Ministério Público Federal, da lavra da


Dra. Luíza Cristina Fonseca Frischeisen, que opinou pelo desprovimento do recurso
ordinário em habeas corpus, bem pontuando a questão (fl. 747): "[...] pacífico o
entendimento perante o STJ de que o acusado se defende dos fatos narrados da denúncia
e não da capitulação nela contida, já que existe a possibilidade da emendatio libelli,
desde que não haja inovação quanto aos fatos descritos na denúncia".

Por fim, para consolidar o debatido, trago à colação a denúncia e manifestação


sobre o aditamento nos autos de origem (Processo n. 2012.01.1.148034-7 no TJDFT)
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Superior Tribunal de Justiça
como forma de ilustrar o devido cumprimento dos requisitos do art. 41 do Código de
Processo Penal ("Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso,
com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos
quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas") - fls. 26-36 e 80-87:

“O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, por seus


Promotores de Justiça lotados no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado GAECO, vem, com fulcro no artigo 129, inciso 1, da Constituição Federal c
artigo 24 do Código de Processo Penal, em razão de fatos apurados nos autos à epígrafe
e outros, promover, mediante a presente denúncia, em face de:

1. JOSÉ ROBERTO ARRUDA, brasileiro, casado, engenheiro eletricista,


filho de José Arruda de Carvalho e Maria Aparecida Campos Arruda, nascido aos
05.01.1954, em Itajubá-MG, RG n° 590.415 SSP-DF, CPF nº 215.195.796-91, residente
e domiciliado no [...], Brasilia-DF, telefones [...];

2. MANOEL BATISTA DE OLIVEIRA NETO, brasileiro, casado,


portador do CPF n° 516064021- 53 e da CIRG n° 1225282, filho de Oldina Eustorgio da
Silva Oliveira e Carlos Sidney de Oliveira, nascido no dia 15/07/1972, na cidade de
Brasília, com domicilio na [...] ou [...], Telefone: [...];

3. DURVAL BARBOSA RODRIGUES, brasileiro, casado, portador da


CIRG n° 209.888 SSP/DF e do CPF n° 054.840.811-49, filho de Frutuoso Barbosa de
Miranda e de Maria dos Anjos de Jesus, nascido aos 25/10/1951, na cidade de Canto do
Buriti/PI, residente no [...];

I. SÍNTESE DA IMPUTAÇÃO

Em setembro de 2006, na cidade de Brasília-DF, o denunciado Manoel


Batista de Oliveira Neto, juntamente com sua esposa, Jaqueline Maria Roriz', com
vontade livre e consciente, receberam para ambos, em razão da condição de Jaqueline
Maria Roriz de candidata à deputada distrital no pleito eleitoral de 2006, vantagem
indevida, oferecida pelo denunciado José Roberto Arruda, em troca de apoio político,
paga pelo denunciado Durval Barbosa Rodrigues.

II. BREVE CONTEXTO FÁTICO

No dia 16 de setembro de 2009, o então Secretário de Estado de Assuntos


Institucionais do Governo do Distrito Federal, Durval Barbosa Rodrigues, prestou
depoimento perante o Núcleo de Combate às Organizações Criminosas - NCOC do

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Superior Tribunal de Justiça
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, no qual o ex-Secretário revelou a
existência e o funcionamento de uma organização criminosa então instalada no
Governo do Distrito Federal.
Narrou o depoente que a organização criminosa era chefiada pelo ora
denunciado José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal, e seu vice, Paulo
Octávio, e contava com a relevante participação de diversos Secretários de Estado,
Deputados Distritais, servidores públicos e empresários.
Além de descrever com riqueza de detalhes o funcionamento da
organização criminosa, o ex-Secretário Durval Barbosa entregou diversas provas que
corroboram suas afirmações, culminando com a deflagração da Operação Caixa de
Pandora e, consequentemente, com a ampla comprovação de diversos fatos criminosos e
com a produção de farto material probatório quanto à existência da organização
criminosa.
Dentre os diversos episódios criminosos descortinados pelo denunciado -
colaborador, ficou evidenciado o pagamento de propina a vários Deputados Distritais,
candidatos e representantes partidários em troca de apoio político. Além de detalhado
depoimento, Durval Barbosa, na condição de colaborador da Justiça, entregou diversos
vídeos que comprovam o esquema criminoso.
A presente ação tem por objeto, especificamente, o recebimento de
vantagem indevida por Manoel Neto, juntamente com sua esposa, Jaqueline Roriz,
paga pelo então Secretário de Estado Durval Barbosa, a mando de José Roberto
Arruda.

III. DESCRIÇÃO FÁTICA DO ATO CRIMINOSO PRATICADO


PELOS DENUNCIADOS

Ao prestar depoimento perante o Ministério Público, no dia 16 de


setembro de 2009, Durval Barbosa descreveu o funcionamento da organização
criminosa instalada dentro do GDF, declarando o seguinte:
[...]
No mesmo depoimento, o denunciado Durval Barbosa narra que José
Roberto Arruda, após obter o beneplácito do então Governador Joaquim Roriz, passou a
angariar vantagens ilícitas, através das empresas contratadas pela CODEPLAN, a fim
de iniciar a arrecadação de dinheiro para sua campanha ao Governo do DF, verbis:
[...]
Posteriormente a essas declarações, Durval Barbosa passou a detalhar o
funcionamento da organização criminosa e indicar diversos integrantes e beneficiários
das condutas criminosas do grupo.
A fim de comprovar as declarações de que havia um esquema criminoso
de pagamento de propina a agentes públicos incrustado no GDF, Durval Barbosa
entregou diversos vídeos nos quais políticos, servidores públicos e empresários aparecem
recebendo ou entregando dinheiro ilícito, amealhado junto a prestadores de serviços ao
GDF.
Além disso, o denunciado-colaborador aceitou participar de ação
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controlada autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça, na qual, utilizando
equipamento de gravação instalado pela Policia Federal, gravou conversa sua com o
ex-Governador José Roberto Arruda e o ex-Secretário de Estado José Geraldo Maciel.
Neste episódio, fica evidente que uma das práticas da quadrilha era comprar o apoio de
candidatos, deputados, agentes públicos e dirigentes de partidos políticos com o intuito
de manter-se no poder.
Desse modo, na campanha eleitoral do ano de 2006, os valores
arrecadados pelo denunciado Durval Barbosa passaram então a financiar a campanha
do denunciado José Roberto Arruda a Governador do Distrito Federal e, por ordem
deste, parte da propina recebida também era dividida entre alguns candidatos a
deputado distrital, com vistas a formar, mesmo antes do inicio do mandato eletivo,
uma sólida base aliada.
Com relação aos fatos específicos tratados na presente ação penal, Durval
Barbosa prestou as seguintes declarações ao Ministério Público:

'(...) que, cm setembro de 2006, em seu Gabinete localizado nas


dependências da Secretaria de Estado de Assuntos Sindicais, o depoente
recebeu as pessoas de Jaqueline Roriz e seu marido Manoel Neto, para que
fossem repassados valores recolhidos a título de propina junto aos prestadores
de serviços de informática ao complexo administrativo do Distrito Federal;
que, naquela oportunidade, repassou cerca de R$50.000,00 (cinquenta mil
reais) em espécie ao casal; que nessa oportunidade o casal solicitou ao
depoente o fornecimento de 3 a 5 rádios NEXTEL, para serem utilizados na
campanha eleitoral; que é possível conferir no vídeo gravado que o depoente
determina a um funcionário de nome Francinei que prepare os rádios
NEXTEL; que esses rádios eram alugados pelo Governo junto à empresa
LINKNET;que as contas decorrentes da utilização dos rádios também eram
pagas pelo Governo; que em outra oportunidade, em data que não se recorda,
Manoel Neto, representando Jaqueline Roriz, compareceu ao gabinete do
depoente, oportunidade em que recebeu entre R$30.000,00 (trinta mil reais) e
50.000,00 (cinquenta mil reais) das mãos do depoente, valores que também
haviam sido recolhidos junto aos prestadores de serviços de informática ao
Governo; que nessa oportunidade, Manoel Neto ainda recebeu os rádios
NEXTEL que havia sido solicitado em data anterior, quando foi gravado o
vídeo; que esses valores e os equipamentos repassados a Jaqueline Roriz
foram uma retribuição determinada pelo então candidato José Roberto
Arruda, tendo em conta o compromisso de que Jaqueline Roriz não pediria
votos a favor da coligação da candidata Maria de Lourdes Abadia; que
Jaqueline Roriz era do mesmo partido da candidata Maria de Lourdes
Abadia; que essa tratativa foi ajustada entre Arruda e Manoel Neto, marido
de Jaqueline Roriz; que, além disso, Jaqueline Roriz ainda foi contemplada
com a possibilidade de indicação de um Administrador Regional ao tempo do
Governo Arruda; que isso acabou sendo concretizado com a nomeação de
José Luiz Vieira Naves para a Administração Regional de Samambaia,
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Superior Tribunal de Justiça
cidade -satélite de influencia da família Roriz.' (fls. 06/08 dos Autos n°
2015.01.1.030925-8)

Um dos fatos descritos foi registrado no vídeo que acompanha a presente


ação e que mostra a então candidata a Deputada Distrital Jaqueline Roriz e Manoel
Neto, seu marido, recebendo maços de dinheiro das mãos de Durval Barbosa, a mando
de José Roberto Arruda, para que Jaqueline Roriz não fizesse campanha a favor de
Maria de Lourdes Abadia e passasse a compor a base aliada do Governo, caso José
Roberto Arruda e Jaqueline Roriz fossem eleitos.
O pagamento de propina foi feito como retribuição pelos favores políticos
da então candidata ao denunciado José Roberto Arruda, apoiando-o de forma indireta
ao pleito eleitoral de 2006 e no futuro Governo eleito.
Dessa forma, Jaqueline Roriz e Manoel Neto foram beneficiados com
dinheiro ilícito, arrecadado junto a prestadores de serviço do Distrito Federal, em
troca do apoio político dado à organização criminosa chefiada por José Roberto
Arruda e Paulo Octávio. (Laudo n° 743/2011, acompanhado da respectiva mídia com
o vídeo entregue por Durval Barbosa fls. 38/47, Autos n" 2015.01.1.030925-8)
Note-se que a então candidata a Deputada Distrital fazia parte de partido
de oposição (PSDB) à candidatura ao Governo de José Roberto Arruda e Paulo Octávio
(DEM) e, ao vender o apoio político ao adversário, deixando de pedir votos para a sua
coligação, traiu a candidata de seu próprio partido, Maria de Lourdes Abadia.
Confira-se:
[...]
O dinheiro que abastecia o esquema criminoso era proveniente dos
empresários contratados pelo GDF, os quais repassavam a propina aos integrantes da
organização criminosa.
Além dos valores em espécie, as vantagens criminosas também eram
obtidas por outros meios, como, no presente caso, em que Durval Barbosa entrega
aparelhos de comunicação Nextel pagos pelo Distrito Federal a Jaqueline Roriz e
Manoel Neto.
Além do dinheiro e dos aparelhos "Nextel"' recebidos, Jaqueline Roriz
e Manoel Neto também exigiram, em troca do apoio político, a indicação do
Administrador Regional de Samambaia, o que acabou de fato ocorrendo, com a
nomeação de José Luis Vieira Naves para o cargo, o que fortalecia politicamente a
agora eleita Deputada Distrital Jaqueline Roriz naquela região administrativa'. Este
personagem, vale destacar, conhecido como "Professor Naves", também aparece em
dois dos vídeos recebendo propina de Durval Barbosa (mídias e respectivos laudos em
anexo Doc. 2).
Destaque-se que o próprio José Luis Vieira Naves, em depoimento judicial
como testemunha na ação de improbidade administrativa proposta em relação aos
mesmos fatos da presente ação penal, confirmou haver sido surpreendido com o
convite de integrar o governo do então governador José Roberto Arruda, evidenciando
a compra do apoio político de Jaqueline Maria Roriz, então eleita deputada distrital,
in verbis:
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Superior Tribunal de Justiça
[...]
Ademais, o nome da corre Jaqueline Maria Roriz consta de planilha
(formato excel extensão xls) localizada em HD de computador apreendido em
27/11/2009, nas dependências da Casa Civil da Governadoria do Distrito Federal,
durante cumprimento de mandado de busca no gabinete de José Geraldo Maciel'.
Na planilha, são associados nomes de deputados distritais a cargos em
comissão, pessoas indicadas à nomeação por cada parlamentar e os correspondentes
salários (aba denominada "Analítico"), bem como o que seria a quantidade ("cota -base
parlamentar") e a soma ("cota -base parlamentar R$") máximas de cargos e salários,
respectivamente de 50 (cinquenta) e R$ 95.000,00 (noventa e cinco mil reais), havendo,
ao lado de uma classificação de deputados distritais por categoria ("parlamentar na
administração regional", "parlamentar", "parlamentar da base de campanha" e
"parlamentar na secretaria") um fator de multiplicação, denominado "peso", variando
entre 1,00 e 1,50 (aba denominada "Peso").
O nome da corré Jaqueline Maria Roriz consta da classificação "PBC"
que significa "Parlamentar da Base da Campanha", ou seja, estava classificada como
uma parlamentar que havia participado da campanha, a demonstrar que Jaqueline
Maria Roriz, na campanha eleitoral de 2006, havia prestado apoio político ao então
candidato José Roberto Arruda, em consonância com as declarações do colaborador
processual.
Na mesma planilha, atrelados ao nome da então deputada distrital
Jaqueline Maria Roriz, constam 20 (vinte) cargos da Administração Regional de
Samambaia, totalizando o valor de R$ 31.557,34.
Fica evidente, portanto, a conduta ilícita dos codenunciados José Roberto
Arruda e Durval Barbosa Rodrigues no sentido de comprar o apoio politico da
parlamentar Jaqueline Maria Roriz, a qual contou com a participação do denunciado
Manoel Neto, seu marido, para aceitação e recebimento da vantagem indevida.
Destaque-se que os ora denunciados foram condenados, pelos mesmos
fatos, por ato de improbidade administrativa em sentença confirmada pelo E.
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (Autos n° 2011.01.1.045401-3
Doc. 5).

IV. CONCLUSÃO E PEDIDOS

Assim agindo, estando os denunciados JOSÉ ROBERTO ARRUDA e


DURVAL BARBOSA RODRIGUES, incursos nas penas do art. 333, do Código Penal
Brasileiro, por duas vezes, e MANOEL BATISTA DE OLIVEIRA NETO, nas penas do art.
317, § 1°, em combinação com art. 30 (ou 29), ambos do CPB, por duas vezes, o
Ministério Público requer: [...]" (grifei)

“O MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS,


por intermédio de seus Promotores de Justiça lotados no Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado GAECO, no uso de suas atribuições legais e
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constitucionais, promove, nesta data, mediante denúncia que segue em separado, ação
penal pública contra JOSÉ ROBERTO ARRUDA e DURVAL BARBOSA
RODRIGUES, incursos nas penas do art. 333, do Código Penal Brasileiro, por duas
vezes, e MANOEL BATISTA DE OLIVEIRA NETO, nas penas do art. 317, § 1° do
CPB, por duas vezes.

1- DA CAPITULAÇÃO JURÍDICA

Os fatos na presente exordial foram narrados em consonância com a


descrição desenvolvida na denúncia oferecida em desfavor da corré JAQUELINE
MARIA RORIZ e já recebida pelo Supremo Tribunal Federal (INQ 3113, atualmente
Processo n° 2015.01.1.030925- 8). Embora a Suprema Corte tenha recebido a
denúncia pelo crime de peculato, consignou, expressamente, que 'a acusada se
defende dos fatos descritos pela acusação e não propriamente pela qualificação
jurídica dos fatos', reconhecendo a aptidão da descrição fálica da inicial para
instauração da respectiva ação penal.
Assim é que o devido enquadramento jurídico dos fatos narrados na
presente exordial acusatória e naquela em desfavor da corré poderá ser adequadamente
realizado, a tempo e modo, numa ou noutra conduta delitiva, por ocasião da análise das
provas produzidas ao longo do processo. [...]” (grifei)

Diante de todo o exposto, peço vênia para divergir dos r. votos anteriores, para
ACOLHER in totum os atuais EMBARGOS ACLARATÓRIOS nos EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO no RECURSO ORDINÁRIO, de forma a suprir a omissão
apontada, com efeitos infringentes, para votar no sentido de julgar o recurso ordinário em
habeas corpus DESPROVIDO.

É o voto.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

EDcl nos EDcl no


Número Registro: 2019/0028712-0 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 108.029 / DF
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 0040655252012807 00406552520128070001 07152642020188070000 08190022893


081900228931001 20120111480347 20140110518102 20140110518560
20150110309258 20150110340889 3029582015 406552520128070001
7152642020188070000

EM MESA JULGADO: 26/11/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MÔNICA NICIDA GARCIA
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
CORRÉU : DURVAL BARBOSA RODRIGUES
CORRÉU : JOSÉ ROBERTO ARRUDA
ADVOGADO : NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO - RJ023532

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra a Administração em
Geral - Corrupção passiva

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto do Sr. Ministro Relator rejeitando os embargos de declaração e o voto-vista
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antecipado do Sr. Ministro Leopoldo de Arruda Raposo acolhendo os embargos de declaração,
com efeitos infringentes, pediu vista regimental (vista coletiva) o Sr. Ministro Relator Reynaldo
Soares da Fonseca."
Aguarda o Sr. Ministro Ribeiro Dantas.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Jorge Mussi e Joel Ilan Paciornik.

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EDcl nos EDcl no RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 108.029 - DF
(2019/0028712-0)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS

ADITAMENTO AO VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA:


O presente Recurso em Habeas Corpus foi julgado pela Quinta Turma na
sessão de 11/4/2019, sendo provido à unanimidade. Opostos os primeiros embargos de
declaração pelo Ministério Público Federal, estes foram rejeitados, também à unanimidade, na
sessão de 21/5/2019. No entanto, ao levar a julgamento perante a Quinta Turma, na sessão de
18/6/2019, os segundos aclaratórios, opostos também pelo Ministério Público Federal, o
eminente Ministro Felix Fischer pediu vista antecipada.

Diante do afastamento do Ministro Felix Fischer, por motivo de saúde, o


Eminente Desembargador do TJ/PE Leopoldo de Arruda Raposo foi convocado para
substituí-lo, trazendo na sessão do dia 26/11/2019 o voto-vista nos Embargos de Declaração
nos Embargos de Declaração no Recurso em Habeas Corpus n. 108.029/DF, para acolhê-los
integralmente, "de forma a suprir a omissão apontada, com efeitos infringentes, para votar no
sentido de julgar o recurso ordinário em habeas corpus desprovido".

Diante do resultado proposto por Sua Excelência, pedi vista regimental, uma
vez que considero relevante destacar, em um primeiro momento, que, embora os efeitos
infringentes sejam, de fato, plenamente admitidos no julgamento de embargos de declaração, é
imprescindível a efetiva demonstração da existência de um dos vícios constantes do art. 619
do Código de Processo Penal - ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.

Caso contrário, não é possível se utilizar de segundos embargos de

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Superior Tribunal de Justiça
declaração para alterar o entendimento proferido no julgamento do Recurso em Habeas
Corpus, sob pena de afronta ao art. 619 do Código de Processo Penal pela própria Corte
responsável pela higidez do ordenamento infraconstitucional, com reversão do julgado em
desfavor do acusado.

A propósito:

RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO


PARA O NARCOTRÁFICO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
JULGAMENTO ULTRA PETITA. NULIDADE DO ACÓRDÃO.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Consoante o disposto no art.
619 do Código de Processo Penal, a oposição de embargos de
declaração enseja, em síntese, o aprimoramento da prestação
jurisdicional, por meio da retificação do julgado que se apresenta
omisso, ambíguo, contraditório ou com erro material. São
inadmissíveis, portanto, quando, a pretexto da necessidade de
esclarecimento, aprimoramento ou complemento da decisão
embargada, objetivam, em essência, o rejulgamento do caso. 2. Não
ocorre julgamento fora do pedido se o Tribunal decide questão que
seja reflexo do pleito formulado nos embargos de declaração. O
pedido formulado, na verdade, deve ser interpretado em
consonância com a pretensão deduzida nas razões recursais como
um todo, de maneira que o eventual acolhimento do que for
extraído da interpretação lógico-sistemática da peça inicial não
implica julgamento extra ou ultra petita. Quando isso ocorrer -
suprimento de omissão que, como consequência, altera a essência
do resultado do julgamento -, estar-se-á diante da função normal,
típica dos embargos. 3. O pedido dos primeiros embargos de
declaração opostos pelo Ministério Público limitou-se a sanar
omissão quanto ao veículo apreendido em decorrência da prática
criminosa. O Tribunal de Justiça estadual, no entanto, rejulgou
integralmente o mérito da causa, acabando por absolver três
acusados e reduzir a reprimenda de outra ré, o que extrapolou, em
muito, o que foi submetido ao seu provimento jurisdicional. 4. A
Corte estadual não concedeu habeas corpus, de ofício; na verdade,
reapreciou, novamente, toda a apelação do Ministério Público e a
apelação de todos os acusados, reexaminando, com ampla incursão
no material fático-probatório, se haveria ou não elementos
suficientes para a condenação e se a reprimenda imposta à
acusada Ana Meri estaria ou não suficiente e adequada para a
prevenção e a repressão do delito perpetrado. 5. Recurso especial
provido, para reconhecer a apontada violação dos arts. 619 e 620
do Código de Processo Penal, nos termos do voto do relator. (REsp
1374938/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 03/10/2017, DJe 09/10/2017).

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Superior Tribunal de Justiça

De fato, "a atribuição de efeitos infringentes aos declaratórios constitui


medida excepcional, cabível apenas nas situações em que, sanada a omissão, contradição ou
obscuridade, a alteração do julgado decorra como consequência natural da correção
então efetuada". (EDcl no HC 165.124/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA
TURMA, julgado em 25/06/2013, DJe 01/08/2013)

Nesse contexto, "é descabida a pretensão de rejulgamento da causa na


via estreita dos embargos declaratórios, máxime quando a tutela jurisdicional postulada foi
devidamente prestada, inexistindo vícios passíveis de serem sanados". (EDcl no AgRg nos
EDcl no REsp 1802185/MA, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
13/08/2019, DJe 20/08/2019)

No mesmo sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. CRIME DE GESTÃO FRAUDULENTA E DE
GESTÃO TEMERÁRIA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
OMISSÃO. CONTRARIEDADE. INEXISTÊNCIA. REEXAME DA
CAUSA. INVIABILIDADE. I - Os embargos declaratórios não
constituem recurso de revisão, sendo inadmissíveis se a decisão
embargada não padecer dos vícios que autorizariam a sua oposição
(obscuridade, contradição e omissão). Na espécie, à conta de
omissão e contradição no v. acórdão embargado, pretende o
embargante a rediscussão da matéria já apreciada. II - Não
compete a este eg. STJ se manifestar explicitamente sobre
dispositivos constitucionais, ainda que para fins de
prequestionamento. (Precedente). III - A reiteração do mesmo
expediente, para sustentar a continuidade do vício outrora
suscitado, enseja o reconhecimento do caráter meramente
protelatório da insurgência, postergando de forma indevida o
encerramento deste feito, o que não se admite no ordenamento
jurídico pátrio. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl nos Edcl
no AgRg no AgRg no AREsp 1261341/SP, Rel. Ministro LEOPOLDO
DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 26/11/2019)
(...). ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PROVA. NULIDADE.
OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. 1. O art. 619 do Código de Processo
Penal disciplina que "aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de
Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de
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Superior Tribunal de Justiça
declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação,
quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade,
contradição ou omissão", tendo a jurisprudência desta Corte os
admitido, também, com o fito de sanar eventual erro material na
decisão embargada. 2. Na hipótese, não se verifica nenhum dos
vícios na lei processual penal, mas sim a mera intenção de
rejulgamento da causa. 3. Consoante a jurisprudência desta Corte
Superior, "[os] embargos de declaração são inadmissíveis, quando,
a pretexto da necessidade de esclarecimento, aprimoramento ou
complemento da decisão embargada, objetivam, em essência, o
rejulgamento do caso" (EDcl no AgRg no RHC n. 109.952/SC, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado em 30/5/2019,
DJe 4/6/2019). 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp
1792407/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 24/09/2019, DJe 22/10/2019)
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO HABEAS CORPUS. ALEGADA
OBSCURIDADE. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. INVIÁVEL. EMBARGOS REJEITADOS. I - Nos termos
do art. 619 do CPP, serão cabíveis embargos declaratórios quando
houver ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão no
julgado. Podem também ser admitidos para a correção de eventual
erro material, consoante entendimento preconizado pela doutrina e
jurisprudência. Não constituem, portanto, recurso de revisão. II -
Não é possível o reexame da matéria já apreciada, na via dos
declaratórios, que não se prestam para modificar o julgado, em
vista do inconformismo do embargante. III - O julgador não é
obrigado a se manifestar sobre todas as teses expostas no recurso,
ainda que para fins de prequestionamento, desde que demonstre os
fundamentos e os motivos totalmente suficientes que justificaram
suas razões de decidir. Precedentes. Embargos de declaração
rejeitados. (EDcl no HC 513.790/PB, Rel. Ministro LEOPOLDO DE
ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE),
QUINTA TURMA, julgado em 17/10/2019, DJe 25/10/2019).

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.


INCÊNDIO NA BOATE KISS.HOMICÍDIOS CONSUMADOS E
HOMICÍDIOS TENTADOS. DUPLAMENTE QUALIFICADOS, POR
MOTIVO TORPE E POR EMPREGO DE MEIO CRUEL (FOGO E
ASFIXIA). PRONÚNCIA. MATERIALIDADE COMPROVADA E
INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. DOLO EVENTUAL NA
CONDUTA DOS RÉUS. COMPATIBILIDADE COM O CRIME DE
HOMICÍDIO TENTADO. QUALIFICADORAS AFASTADAS.
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE. EMPATE NA
VOTAÇÃO. PREVALÊNCIA DA DECISÃO MAIS FAVORÁVEL AOS
ACUSADOS. DESCLASSIFICAÇÃO PARA DELITOS QUE NÃO
SÃO DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. ART. 615, § 1º,
DO CPP. INAPLICABILIDADE. NECESSIDADE DE
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Superior Tribunal de Justiça
INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA COM OS ARTS. 74, § 1º, E 413,
AMBOS DO CPP. JUDICIUM ACCUSATIONIS. MANUTENÇÃO
DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA, EM
CONSONÂNCIA COM O DECIDIDO NA DECISÃO DE
PRONÚNCIA, OBSERVADA A EXCLUSÃO DAS
QUALIFICADORAS. OMISSÃO, OBSCURIDADE E
CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA DOS VÍCIOS. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. Consoante o disposto no art. 619 do Código de Processo Penal,
a oposição de embargos de declaração enseja, em síntese, o
aprimoramento da prestação jurisdicional, por meio da retificação
do julgado que se apresenta omisso, ambíguo, contraditório ou com
erro material. São inadmissíveis, portanto, quando, a pretexto da
necessidade de esclarecimento, aprimoramento ou complemento da
decisão embargada, objetivam, em essência, o rejulgamento do
caso.
2. O acórdão embargado não foi obscuro, omisso nem
contraditório, haja vista que a apreciação dos recursos especiais
do MPRS e da AVTSM ocorreu em face da observação de todos os
requisitos de admissibilidade recursal. Tampouco houve
infringência ao disposto nas Súmulas n. 283 e 284 do STF e n. 7 do
STJ.
.....................................
7. Resumindo-se a irresignação do embargante ao seu mero
inconformismo com o resultado do julgado, que lhe foi desfavorável,
não há nenhum fundamento que justifique a oposição dos
aclaratórios, os quais se prestam tão somente a sanar eventual
omissão, contradição, ambiguidade ou obscuridade do decisum, e
não a reapreciar a causa.
8. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no REsp 1790039/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/11/2019, DJe 29/11/2019)

A propósito: AgInt nos EDcl no AREsp 869.127/MG, Rel. Ministro


MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 30/09/2019, DJe
03/10/2019; EDcl no AgInt nos EDcl no AREsp 463.196/ES, Rel. Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe 03/09/2019; EDcl nos EDcl
nos EDcl no AgInt nos EDcl nos EDcl nos EDcl no RMS 56.060/RJ, Rel. Ministra REGINA
HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/08/2019, DJe 30/08/2019; EDcl
nos EDcl no AgInt no MS 24.477/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL,
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 49 de 11
Superior Tribunal de Justiça
julgado em 13/08/2019, DJe 22/08/2019; EDcl nos EDcl na APn 881/DF, Rel. Ministro OG
FERNANDES, CORTE ESPECIAL, julgado em 15/05/2019, DJe 29/05/2019; (EDcl nos
EDcl no AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 1224190/MG, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/07/2019, DJe
02/08/2019; EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp 1365761/SP, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/03/2019, DJe 08/04/2019 e
EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp 754.604/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 18/09/2018, DJe 26/09/2018.

Não é diferente o entendimento do Supremo Tribunal Federal:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – INOCORRÊNCIA DE


CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE, OMISSÃO OU AMBIGUIDADE
– PRETENDIDO REEXAME DA CAUSA – CARÁTER INFRINGENTE
– INADMISSIBILIDADE NO CASO – EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO REJEITADOS. OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
NÃO SE REVESTEM, ORDINARIAMENTE, DE CARÁTER
INFRINGENTE – Não se revelam cabíveis os embargos de
declaração quando a parte recorrente – a pretexto de esclarecer
uma inexistente situação de obscuridade, omissão, contradição ou
ambiguidade (CPP, art. 619) – vem a utilizá-los com o objetivo de
infringir o julgado e de, assim, viabilizar um indevido reexame da
causa. Precedentes. (ARE 715454 AgR-ED, Relator(a): Min. CELSO
DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 21/10/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO Dje 14/11/2016 PUBLIC 16/11/2016).

Com efeito, conforme esclarece a doutrina, "os embargos de declaração não


têm 'efeito regressivo ou iterativo'. Embora o próprio juiz ou turma que proferiu a decisão
embargada volte a analisar a questão, não se trata de juízo de retratação, mas julgamento
do recurso pela mesma autoridade jurisdicional que proferiu a decisão recorrida" (BADARÓ,
Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro: Campus: Elsevier, 2012. p. 637).

Quanto à atribuição de efeitos infringentes, elucida, outrossim, que:

Excepcionalmente, os embargos de declaração poderão ter efeitos


infringentes. Na ambiguidade ou na obscuridade, o novo
julgamento só aclara a decisão anterior, sem alterá-la. Todavia, no
caso de contradição, ao se eliminar a antinomia, há mudança do
julgado (p. ex.: fundamentação absolvia e o dispositivo
condenava). Da mesma forma, se havia omissão, a decisão que
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Superior Tribunal de Justiça
acolhe os embargos inova em relação à decisão anterior (p. ex.:
omissão sobre nulidade que afeta o mérito). Em suma, no limite da
coerência com o novo julgado, os embargos de declaração podem
ter efeitos infringentes. (BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de
Janeiro: Campus: Elsevier, 2012. p. 638).

Como visto, doutrina e jurisprudência são uníssonos a respeito do efeito


devolutivo limitado dos embargos de declaração, relativos apenas à perquirição da existência
de algum dos vícios constantes do art. 619 do Código de Processo Penal, cuja correção traga
elemento novo apto a atrair efeitos infringentes ao julgado.

Na presente hipótese, conforme consta do meu relatório, o Ministério


Público Federal opôs segundos embargos de declaração, ao argumento de que "os específicos
aspectos tratados pelo parquet em seus primeiros aclaratórios não foram de fato tocados
naquele acórdão original, como tampouco o foram na decisão colegiada que rejeitou os
primeiros embargos ministeriais".

Dessarte, pontuou que:

1) "Nada foi dito quanto à especificidade de haver o Min. Luís


Roberto Barroso, Relator do Inq 3113 no Supremo Tribunal Federal,
conforme se vê às fls. 496/497, referir explicitamente a existência de
passagens da denúncia que imputam a Jaqueline Roriz o crime de
corrupção passiva", o que, a seu ver, revela "a franca possibilidade,
mesmo diante da capitulação pelo órgão acusatório no tipo do
peculato, de que, mediante a aplicação do art. 383 do Código de
Processo Penal, a condenação dela se dê, ao final, mediante nova
definição jurídica do fato, pela prática da corrupção passiva, o que
excluirá qualquer possível violação ou inadequação à teoria monista";
2) A denúncia por tipos distintos "encontra a possibilidade de plena
conciliação, em sede de futura e eventual condenação, mesmo tendo
em conta a teoria monista da ação", o que, segundo afirma, exclui a
possibilidade de inépcia vislumbrada por esta Corte, pois "a
capitulação dada pela acusação é provisória, eventual
descompasso com a teoria monista da ação apenas poderia ser
vista no confronto de duas condenações, mas não de duas
imputações".
3) O julgamento dos primeiros embargos permite o ajuizamento de
reclamação perante o Supremo Tribunal Federal, uma vez que se
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Superior Tribunal de Justiça
desrespeitou a autoridade da decisão que recebeu a denúncia contra
Jaqueline Roriz e "pronunciou a tipicidade dos fatos a ela imputados,
chegando mesmo a vislumbrar, como se disse, imputação coerente
com a prática de corrupção passiva – e, pois, capaz de dar ensejo a
futura emendatio libelli (art. 383 do Código de Processo Penal) que
deslocasse a capitulação para o art. 317 do Código Penal –, de tal
maneira que, ao não se reconhecer tal possibilidade extraída da
decisão do Supremo Tribunal Federal, estar-se-á negando a
autoridade dela (dessa decisão)".
4) A decisão "acaba por gerar violação ao princípio da independência
funcional dos órgãos do Ministério Público envolvidos, assegurada
pelo art. 127, § 1º, da Constituição Federal, a obrigatoriedade que a
decisão embargada impõe de que o MPDFT e o MPF/PGR – em
caso de concurso de agentes com excepcional necessidade de oferta
de denúncia em desfavor dos coautores em feitos e órgãos judiciários
diversos em razão de prerrogativa de foro e desmembramento –
adotem a mesmíssima classificação penal, sob pena de inépcia".
5) "A inépcia pronunciada da denúncia ofertada e recebida contra o
paciente, que se perfaz não no exame da denúncia em si, mas na sua
leitura em conjunto com outra, de diverso órgão do Ministério Público
brasileiro, termina por dar ensejo a cerceamento do direito de acusar,
como consectário do devido processo legal, albergado no art. 5º, inc.
LIV, da mesma Carta Magna".
6) "O acórdão embargado despreza a possibilidade de que, na ação
penal recebida em desfavor de Jaqueline Roriz, haja a emendatio libelli
e a capitulação do fato no crime de corrupção passiva – como
indiretamente aventado no voto do Min. Luís Roberto Barroso –,
frente às possibilidades oriundas da própria narração fática na
denúncia e no aditamento ofertados contra a mencionada ré, que
contêm as elementares do crime do art. 317 do Código Penal". Afirma
que, inclusive, se pediu a condenação por corrupção passiva na
origem.
7) "A unificação de tratamento dada pelo Superior Tribunal de Justiça
neste habeas corpus, optando por trancar a ação penal contra o
paciente como se a capitulação dos fatos na denúncia e aditamento
contra Jaqueline Roriz fosse definitiva, invade, com a devida vênia, a
competência do Juízo Criminal de primeiro grau, que, em sentença,
onde se dará a capitulação definitiva nas duas ações penais, pode fazer
a conciliação devida dos casos, com o que o acórdão embargado, se
mantido, viola o art. 105 da Constituição Federal".

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 52 de 11
Superior Tribunal de Justiça
Em meu voto, esclareci que, nos primeiros embargos opostos, o Parquet
Federal apontou apenas as seguintes omissões:

"a) em razão do acórdão do STF de recebimento da denúncia


contra Jaqueline Roriz, nos autos do Inq n. 3113/DF, em que o
Ministro Luís Roberto Barroso afirma expressamente que há
passagens da denúncia que narram especificamente o crime de
corrupção passiva;
b) a denúncia e o respectivo aditamento feito pela PGR em desfavor
da corré Jaqueline Roriz em que há a narração do crime de
corrupção passiva, apesar de manter a capitulação como peculato;
e
c) as alegações finais do GAECO/DF em desfavor de JAQUELINE
RORIZ com pedido de condenação pelo crime de corrupção
passiva".

Observa-se, portanto, sem grandes esforços, que os segundos embargos de


declaração opostos pelo Ministério Público Federal, antes de buscar efetiva correção de algum
dos vícios constantes do art. 619 do Código de Processo Penal, objetiva, em verdade, o
exame inaugural de diversos temas que nem sequer foram trazidos nas contrarrazões ao
recurso em habeas corpus e muito menos nos primeiros embargos, revelando indevida
inovação recursal.

Como é de conhecimento, "no âmbito de agravo regimental e de embargos


de declaração, não se admite que a Parte, pretendendo a análise de teses anteriormente
omitidas, amplie objetivamente as causas de pedir e os pedidos formulados na petição
inicial ou no recurso. Desse modo, mostra-se indevida, no caso, a análise da tese de que é
possível a modificação do regime semiaberto para o aberto por aplicação do princípio da
proporcionalidade, por constituir nítida inovação recursal" (AgRg no HC 458.867/MG, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 15/08/2019, DJe 03/09/2019).

No mesmo diapasão:

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


HOMICÍDIO QUALIFICADO. ABERRATIO ICTUS. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. DECISÃO DOS JURADOS CONTRÁRIA
ÀS PROVAS DOS AUTOS. TENTATIVA. QUANTUM. ITER
CRIMINIS. VERIFICAÇÃO. REVOLVIMENTO DO ACERVO
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Superior Tribunal de Justiça
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA N. 7/STJ.
INCIDÊNCIA. I - O eg. Tribunal de Justiça não emitiu tese sobre o
alegado erro na execução (aberratio ictus). Nessa senda, o exame
de contrariedade aos arts. 70 e 73 do CP, como pretende o ora
recorrido, esbarra na Súmula 282/STF. Ressalte-se, por oportuno,
não ser aplicável à espécie o art. 1.025 do CPC (prequestionamento
ficto), pois a tese defensiva não foi ventilada em apelação e nos
primeiros aclaratórios, mas somente nos segundos embargos de
declaração, em evidente inovação recursal. Assim, examinar a tese
da defesa nessa instância importaria em indesejável supressão de
instância. II - A alegação do recorrente, de que houve violação ao
art. 593, inciso III, d, do CPP ao argumento de que a
condenação se deu de forma contrária às provas dos autos ,
reclama incursão no material fático-probatório, procedimento
vedado pela Súmula n. 7 desta Corte, e que não se coaduna com os
propósitos atribuídos à via eleita. III - Nos termos da reiterada
jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, o pleito atinente
ao quantum da fração de redução da pena em razão da tentativa
deve ser aplicado ao caso concreto não pode ser analisado em sede
de recurso especial, em razão da necessidade do reexame de
matéria fático-probatória. Agravo regimental desprovido. (AgRg no
AREsp 1041180/SE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA
TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe 14/03/2018).

Nada obstante, todos os temas trazidos ao conhecimento deste Relator pelo


Parquet Federal foram efetivamente analisados à exaustão, a despeito no não acolhimento das
teses trazidas, motivo pelo qual ambos os aclaratórios foram rejeitados.

No voto-vista do eminente Ministro Leopoldo de Arruda Raposo, verifico


que os embargos são acolhidos, com efeitos modificativos, em virtude do exame dos seguintes
institutos jurídicos: a) in dubio pro societate; b) emendatio libelli e c) autonomia do
Ministério Público com independência funcional de seus Membros.

Considera que o trancamento da ação penal somente é possível quando


houver inequívoca comprovação da atipicidade da conduta e que há "possibilidade real de
acontecer a emendatio libelli na ação penal contra Jaqueline". No mais, afirma que as
alegações trazidas no presente recurso já foram refutadas pelo Supremo Tribunal Federal por
ocasião do recebimento da denúncia contra a corré, no Inq. 3.113/DF, citando, inclusive, em
destaque, o seguinte trecho (fl. 7 do voto-vista):

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 54 de 11
Superior Tribunal de Justiça
4. O fato de a acusada não ser funcionária pública não impede que
seja denunciada pela prática de peculato, se, consciente dos atos
praticados pelos supostos autores do crime, é beneficiada pela
apropriação ou pelo desvio.

Faz menção, ainda, à autonomia do Ministério Público e à independência


funcional dos seus membros, afirmando se tratar de princípios que "são constitucionalmente
consagrados, de forma que, além de serem observadas como princípios gerais, não devem
representar obstrução às persecuções penais".

Afirma, também, que:

(...) apenas porque capitulações diversas (mas ambas plenamente


viáveis) foram ofertadas nas duas ações penais em face de réus
diferentes, as quais tramitavam (até há pouco tempo) em Tribunais
distintos e foram promovidas por Membros do Ministério Público
funcionalmente independentes, isso não torna a denúncia de uma
delas inepta, tampouco alternativa (como alegado pela d. Defesa).
No mais, cercear o jus accusationis do Estado sem a demonstração
cabal, no caso, tanto da atipicidade quanto da inépcia da
denúncia, não se mostra a medida mais adequada, no entendimento
desta própria Quinta Turma.

Segue em seu voto trazendo doutrina e jurisprudência, para afirmar que


"tratando-se de réus diferentes e também diante de todas as demais peculiaridades concretas
narradas, não há falar em denúncia alternativa" e que "o réu se defende de fatos, e não de
meras capitulações", concluindo, dessa forma, que "o momento adequado ao eventual reparo
no enquadramento legal dos fatos é a sentença".

Por fim, transcreve trechos da denúncia.

Da atenta leitura do substancioso voto-vista, não consegui identificar, data


venia, em que consistiria a omissão trazida no acórdão embargado. O que verifico, em
verdade, é o rejulgamento do recurso em habeas corpus em seu mérito, para simplesmente
considerar que a denúncia não é inepta. Contudo, o efeito infringente atribuído não provém do
reconhecimento de nenhum dos vícios listados no art. 619 do Código de Processo Penal.

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 55 de 11
Superior Tribunal de Justiça
Relevante consignar, outrossim, que o trancamento da ação penal ocorreu
por inépcia da denúncia e não por ausência de justa causa, motivo pelo qual não há se falar
em in dubio pro societate. Ademais, a possibilidade de emendatio libelli foi efetivamente
analisada, consignando-se que referido instituto não autoriza a manutenção de denúncia que
não traz a correta tipicidade do crime por manifesto erro jurídico, e não por mera
divergência a respeito da adequada tipificação.

A propósito:

Destaco, outrossim, que, de fato, eventual condenação da corré


Jaqueline Roriz pela prática de corrupção passiva, excluiria
"qualquer possível violação ou inadequação à teoria monista"
(e-STJ fl. 941). Da mesma forma que o aditamento da sua denúncia,
para corrigir a imputação, também autorizaria a manutenção da
ação penal quanto ao recorrente. Contudo, não houve condenação
nem aditamento, motivo pelo qual não houve convalidação ou
correção do erro antes da atuação do judiciário, que não pode
fechar os olhos para a manifesta atecnia analisada nos presentes
autos.
Assim, a possibilidade de plena conciliação, conforme defendido, só
seria possível acaso efetivamente corrigida a capitulação, quer por
aditamento quer por emendatio libelli na condenação de Jaqueline
Roriz, mas em momento anterior ao exame do judiciário acerca da
aptidão da denúncia, pois o "direito de acusar" deve observar o
ordenamento jurídico e não pode se sobrepor ao direito à ampla
defesa.

De igual forma, registrou-se que a Quinta Turma, ao rejeitar os primeiros


embargos, considerou que o acórdão recorrido se manifestou de forma expressa a
respeito do recebimento da denúncia contra a esposa do recorrente, pelo Supremo
Tribunal Federal, nos autos do Inquérito n. 3.113/DF. Nada obstante, considerou-se
desnecessário um exame mais aprofundado das alegações do embargante, no ponto, por
serem completamente desimportantes para a solução jurídica do recurso.

A propósito:

Dessarte, registro mais uma vez que o acórdão proferido no


presente recurso em habeas corpus apenas afirmou a inépcia da
inicial acusatória, em virtude de imputar um crime em concurso de
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Superior Tribunal de Justiça
agentes e com comunicação de circunstância de caráter pessoal,
sem atentar para a teoria unitária. Portanto, em nenhum momento
se analisou qual crime foi efetivamente descrito ou praticado, ou
seja, não se examinou a existência de justa causa nem a
possibilidade de emendatio libelli, mas apenas a equivocada
imputação trazida, que, no caso dos autos, revela manifesta atecnia
do órgão acusador.
A matéria trazida ao conhecimento desta Corte, por meio do
presente recurso, diz respeito unicamente ao equívoco existente na
capitulação de crime imputado, em concurso de agentes e com
comunicação de circunstância de caráter pessoal, com
inobservância da teoria monista. Cuida-se de matéria afeta à
dogmática penal, a princípios básicos relativos ao preenchimento
do tipo penal, que dispensa, por óbvio, o exame acerca dos fatos
efetivamente narrados na inicial acusatória.
Dessa forma, não revela omissão a ausência de manifestação sobre
temas completamente desimportantes para a solução jurídica do
recurso.

Ficou consignado, ainda, em meu voto, que "o trancamento da ação penal,
por inépcia da inicial acusatória, não revela, por óbvio, 'cerceamento do direito de acusar',
conforme afirma o embargante, pois se trata de hipótese em que pode ser apresentada nova
denúncia, desde que observado o regramento legal, conforme expressamente ressalvado no
acórdão embargado".

Por fim, quanto à autonomia do Ministério Público e à independência


funcional de seus Membros:

Igualmente, quanto à apontada ofensa ao princípio da


independência funcional, destaco que se trata de importante
princípio constitucional, o qual, entretanto, não invalida a ciência
do direito penal. Assim, plenamente independentes os órgãos do
Ministério Público para imputar a conduta que melhor lhes
aprouver, desde que efetivamente narrados os elementos do tipo
imputado, com o adequado preenchimento da tipicidade penal.
Relevante destacar, ainda, que a inépcia efetivamente se deu "na
comparação com a capitulação que se fez em outra denúncia",
porquanto a imputação em concurso de agentes deve observar a
dogmática penal, não sendo possível, a meu ver, que a
independência funcional suplante as regras de direito penal a
respeito da adequada imputação, em respeito ao princípio da ampla
defesa, que também possui relevância constitucional.

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 57 de 11
Superior Tribunal de Justiça

Diante de todo o exposto, considero que o entendimento trazido no


voto-vista causa, no mínimo, estranheza, uma vez que o eminente Ministro Felix Fischer esteve
presente tanto no julgamento do Recurso em Habeas Corpus quanto no dos primeiros
embargos, tendo acompanhado o entendimento deste Relator sem ressalvas.

Ademais, o voto-vista apresentado pelo seu eminente sucessor, Ministro


Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE), ao indicar, por mais de
uma vez, que os acórdãos embargados não fizeram menção ao acórdão proferido pelo
Supremo Tribunal Federal, relativo ao Inquérito n. 3.113/DF, incorre, a meu ver, em equívoco,
porquanto uma simples leitura dos acórdãos proferidos nos autos (e-STJ fls. 779 e
927/928) revela que desde o primeiro julgamento levou-se em consideração a
manifestação do Supremo Tribunal Federal, inclusive para se chegar à conclusão de
que houve ofensa à Teoria Monista.

A propósito (e-STJ fl. 928):

Anoto, por relevante, que foi exatamente em razão da imputação


atribuída a Jaqueline Maria Roriz que se verificou a inépcia da
inicial acusatória apresentada contra o recorrente. Ademais, a
decisão embargada apenas afirmou a inépcia da inicial acusatória,
em virtude de imputar um crime em concurso de agentes, sem
atentar para a teoria unitária, não tendo se manifestado, em
nenhum momento, a respeito de qual crime foi efetivamente descrito
ou praticado.

Como é de conhecimento, e conforme já explicitado no início do presente


aditamento, os embargos não se prestam ao rejulgamento do mérito recursal, a omissão que
autoriza o acolhimento dos aclaratórios diz respeito à efetiva ausência de exame, o que não
ocorre nos presentes autos, porquanto a todo momento se levou em consideração e se
guardou coerência com o que decidido pelo Supremo Tribunal Federal.

Nessa linha de intelecção, considero que o acolhimento dos presentes


embargos, sob a alegação de se estar suprindo a omissão apontada pelo Ministério Público

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 58 de 11
Superior Tribunal de Justiça
Federal revela verdadeiro rejulgamento do mérito do recurso em habeas corpus, modificando
anterior entendimento proferido pela Quinta Turma à unanimidade, situação não albergada
pelos estreitos limites devolutivos dos aclaratórios.

Ademais, ainda que se concorde com toda a argumentação trazida no


voto-vista, desconsiderando-se integralmente a fundamentação jurídica trazida no voto que
deu provimento ao recurso em habeas corpus, não é possível manter a imputação trazida na
denúncia, uma vez que o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal, sobre o qual se
afirmou haver omissão, não deixa dúvidas quanto ao "fato de a acusada não ser
funcionária pública".

Com efeito, no voto, tratei apenas da teoria monista, por considerar


suficiente a demonstrar a inépcia da denúncia. Contudo, ainda que prevaleça o entendimento
no sentido de que a denúncia não precisa observar a teoria monista, observo que não é
possível imputar crime funcional ao recorrente, porquanto ele não era funcionário
público à época dos fatos, nem sua esposa. Portanto, não há se falar em aplicação do art.
30 do Código Penal, uma vez que nenhum dos coautores ostentam a qualidade de funcionário
público, característica imprescindível à imputação de crime funcional.

Reafirmo que a decisão que deu provimento ao recurso em habeas corpus,


explicitou que "o recorrente foi denunciado por crime próprio, que exige do sujeito ativo, na
hipótese, a qualidade de funcionário público. Embora o recorrente não seja funcionário
público, considerou-se que referida elementar a ele se comunicaria, em virtude de ter cometido
crime em concurso com sua esposa. No entanto, sua esposa foi denunciada por peculato e
não por corrupção passiva". Referida circunstância, por si só, a meu ver, já torna a denúncia
inepta, por violação da teoria monista. Contudo, ainda que superada referida argumentação,
não há igualmente como se comunicar a ele circunstância também não ostentada pela
corré.

Assim, ainda que acolhidos os presentes embargos, para supostamente sanar


a omissão apontada pelo Ministério Público Federal e verificada pelo eminente Ministro
Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE), quanto ao voto

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 59 de 11
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proferido no Supremo Tribunal Federal, permanece a inépcia da denúncia, uma vez que
imputa crime funcional a quem não ostenta referida qualidade, em concurso com corré
que também não ostenta esta qualidade, conforme consta expressamente da ementa do
acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal, que recebeu a denúncia contra a corré
(e-STJ fl. 779):

4. O fato de a acusada não ser funcionária pública não impede que


seja denunciada pela prática de peculato, se, consciente dos atos
praticados pelos supostos autores do crime, é beneficiada pela
apropriação ou pelo desvio.

Ante o exposto, pedindo todas as vênias ao eminente Ministro Leopoldo de


Arruda Raposo (Desembargador Convocador do TJPE), mantenho meu voto, para rejeitar
os embargos de declaração nos embargos de declaração no presente recurso em habeas
corpus, com os presentes acréscimos.

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 60 de 11
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

EDcl nos EDcl no


Número Registro: 2019/0028712-0 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 108.029 / DF
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 0040655252012807 00406552520128070001 07152642020188070000 08190022893


081900228931001 20120111480347 20140110518102 20140110518560
20150110309258 20150110340889 3029582015 406552520128070001
7152642020188070000

EM MESA JULGADO: 10/12/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO FERREIRA LEITE
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
CORRÉU : DURVAL BARBOSA RODRIGUES
CORRÉU : JOSÉ ROBERTO ARRUDA
ADVOGADO : NÉLIO ROBERTO SEIDL MACHADO - RJ023532

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra a Administração em
Geral - Corrupção passiva

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMBARGADO : MANOEL COSTA DE OLIVEIRA NETO
ADVOGADOS : ROBERTO PODVAL - SP101458
DANIEL ROMEIRO E OUTRO(S) - SP234983
LARISSA RODRIGUES PETTENGILL - SP405151
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento, a Turma, por maioria, rejeitou os embargos."
Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 61 de 11
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Votou vencido o Sr. Ministro Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado
do TJ/PE) (voto-vista).
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Jorge Mussi.

Documento: 1841091 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 62 de 11

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