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B.I.4.

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Vimos que as distorções podem induzir uma polarização da fase nemática. Esta não é a
maneira mais comum de polarizar um meio. O método “normal” envolve colocar o nemático
entre as placas de um capacitor ao qual uma diferença de potencial é aplicada (Fig. B.I.17). Seja
E o campo elétrico dentro do capacitor. Este campo atua sobre o meio orientando as moléculas
paralelas a si mesmo e induzindo polarização molecular adicional. O resultado é uma polarização
P proporcional ao campo E:

com κ a suscetibilidade dielétrica do meio, supostamente isotrópico por enquanto.

O campo E é criado pela densidade de carga σ nos eletrodos

Estas cargas originam-se em parte da fonte empregada para produzir a diferença de


potencial elétrico (σext), e em parte na polarização do meio:

Um, portanto, tem:

Onde,

é o campo elétrico no capacitor vazio.

Fig. B.I.17 Meio dielétrico dentro de um capacitor.


A uma carga externa fixa σext, o dielétrico reduz o campo elétrico por um fator

conhecida como constante dielétrica do meio.


O campo E geralmente não é uniforme, então ao invés de eq. B.I.45 um tem:

com

o deslocamento elétrico e 𝜌 aumenta a densidade de carga livre.


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Em nemática, a polarização P induzida por um campo E e o deslocamento elétrico D


dependem da orientação de E em relação ao diretor n. As equações B.I.42 e B.I.49 devem então
ser modificadas de modo que D (E, n) e P (E, n) sejam lineares em E e mesmo em n (simetria da
fase nemática). A expressão mais geral desse tipo para D é:

ou

com

a parte isotrópica do tensor de constante dielétrica e

a parte anisotrópica e sem traços deste tensor.


Em uma base com o eixo z paralelo a n, o tensor εij é diagonal:

Por identificação, ε1 = εꓕ enquanto que ε2 é a diferença

entre as constantes dielétricas ε// e ε⊥ medidas com E paralelo e perpendicular a n,


respectivamente. Quanto ao coeficiente εiso, é a média dos autovalores dos tensores εij:

Entre essas grandezas, a anisotropia dielétrica εa é a mais útil para aplicações, pois fornece o
torque exercido pelo campo elétrico no direcionador em uma tela TNC (“célula nemática
torcida”) (veja o próximo capítulo)

onde a polarização P é geralmente dada por uma generalização da equação B.I.44 para meios
anisotrópicos:

Por analogia com a constante dielétrica, o tensor de susceptibilidade dielétrica κij pode ser
separado em duas partes, isotrópico e anisotrópico, respectivamente:

Um, portanto, tem:

Como Piso é paralelo a E, somente a parte anisotrópica da susceptibilidade κij pode dar um
torque. Porque

Consequentemente

e assim
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Para εa> 0, este torque tende a alinhar o diretor com o campo.


Para εa <0, o torque tende a alinhar o diretor normal ao campo (Fig. B. I.18).

Fig. B.I.18 Ação de um campo elétrico E no diretor n. a) Anisotropia dielétrica positiva: a


polarização P é inclinada em relação a E; o torque 𝚪 tende a alinhar o diretor ao longo do
campo. b) Anisotropia dielétrica negativa: a polarização P é inclinada em relação a E; o torque
torque 𝚪 tende a afastar o diretor do campo.

Para completar, a energia elétrica livre fE do sistema (a quantidade a minimizar sob campo
elétrico fixo) é dada por:

Manter apenas a parte anisotrópica da polarização macroscópica (eq. B.I.61), equivale a ignorar
os termos constantes, o que nos leva a:

confirmando que a energia é mínima quando E // n ou E ꓕ n para εa> 0 ou εa <0, respectivamente.


A anisotropia dielétrica εa depende da estrutura molecular e da freqüência do campo
elétrico.
Em um campo DC, a anisotropia na suscetibilidade dielétrica é principalmente devida ao
dipolo(s) permanente(s) das moléculas. Se a molécula transporta um dipolo longitudinal, a
polarização induzida na direção n é forte, devido ao alinhamento do dipolo ao longo do campo;
por outro lado, a polarização perpendicular ao diretor é fraca, sendo apenas devido à
polarizabilidade interna da molécula (eq. B.36). Para os dipolos transversais, a anisotropia muda
de sinal. A anisotropia devida a dipolos permanentes é muito forte. Em cianobifenilos, pode ser
tão alto quanto +10 ou até mesmo +15. Anisotropias negativas razoavelmente fortes podem ser
alcançadas com moléculas com dipolos permanentes transversais (ver figura B.11).
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Fig. B.I.19 Constantes dielétricas em função da temperatura a 1kHz em dois produtos


mesogênicos de anisotropia oposta (da ref. [18] para 7CB e ref. [19] para MBBA).

Em um campo elétrico AC, a resposta do meio depende da freqüência do campo. Numa


frequência baixa o suficiente, os dipolos permanentes podem adaptar-se às variações de campo
(isto é, alcançar o equilíbrio estatístico). Essa adaptação envolve a reorientação molecular, que
leva um certo tempo. Consequentemente, quando a freqüência é muito alta, como nas ondas
de luz, somente os movimentos intramoleculares são rápidos o suficiente para acompanhar a
evolução do campo. A anisotropia dielétrica é, portanto, muito mais fraca. Na fase nemática de
7CB, por exemplo, εa≈10 a 1kHz, mas εa≈0,5 em frequências ópticas (veja a próxima seção).
Notaremos aqui a existência de misturas nemáticas cujas alterações de anisotropia
dielétrica se assemelham a freqüências relativamente baixas (poucos kHz). Finalmente, a
anisotropia dielétrica εa varia com a temperatura e vai para zero descontinuamente acima de Tc
(Fig. B.I.19).

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