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de juros e a
elevação dos
passivos pós-
emprego (CPC 33)
Por Fabrízio Krapf Costa,
diretor de serviços atuariais da Mirador
Sempre quando participo de reunião com algum dos nossos
INTRO
clientes na Mirador e tenho que dar uma notícia não muito
agradável (“precisamos alterar uma premissa”, “o plano
DUÇÃO
apresenta um déficit”, “os investimentos não renderam conforme
o esperado”, etc.), lembro do conhecido provérbio latino ne
nuntium necare – “não mate o mensageiro”. Às vezes, peço
inclusive a nossos clientes que lembrem disso, à procura de
alguma descontração antes ou após a entrega de tal notícia.
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Se esta é realmente a origem da expressão, não posso afirmar. Mas
me permita utilizá-la e, ainda, realizar um “pequeno” adendo:
DUÇÃO
informando sobre o alto impacto no balanço patrimonial da sua
empresa em decorrência da queda da taxa de juros .
Para tanto, resolvi escrever este texto, aos “48 min do segundo
tempo” (escrevo em 15/12/2019), de forma bem objetiva, para ajudá-
lo a melhor compreender a notícia que seu atuário certamente vai ter
que levar neste encerramento de exercício:
a queda da taxa de juros no Brasil e o reflexo nos passivos pós-
emprego, apurados conforme o pronunciamento técnico CPC 33 (R1)
– Benefícios a Empregados.
3
A
A apuração dos passivos pós-emprego das empresas é realizada por meio de cálculos
atuariais, com o objetivo de projetar os compromissos futuros da empresa com os
PREMISSA
planos de benefícios oferecidos a seus empregados. Este cálculo pode ser resumido,
de forma muito simplificada, a duas etapas:
DA TAXA
q Primeira etapa: realiza-se a projeção do fluxo de caixa
DE esperado para pagamento dos benefícios.
DESCONTO q Segunda etapa: apura-se o valor presente do fluxo projetado
na primeira etapa.
(caro leitor atuário: OK, sabemos que essa é a apuração do valor presente da obrigação de
benefício definido, e não do passivo, mas vamos deixar esta diferença para mais tarde...).
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Em decorrência da natureza de longo prazo das
A obrigações de pós-emprego, considera-se que não há
PREMISSA mercado ativo de títulos ou obrigações corporativas de
DA TAXA alta qualidade no Brasil que possam ser utilizados como
referência. Daí a utilização dos “rendimentos de
DE mercado” dos títulos do Tesouro Nacional. Considerando
DESCONTO ainda a necessidade de consistência de moeda e que as
projeções atuariais são realizadas em termos reais (ou
seja, desconsiderando o efeito da inflação), na prática
utilizam-se, como taxas de referência, as taxas de
mercado das NTN-Bs na data a que se referem as
demonstrações contábeis.
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Aqui temos o cerne do “problema” (por favor, permita-me colocar
entre aspas, pois entendo ser apenas um reflexo de uma mudança
A QUEDA estrutural da nossa economia, e não um problema propriamente
NAS TAXAS dito): as taxas de mercado das NTN-Bs, utilizadas para definição das
taxas de desconto dos passivos pós-emprego, estão caindo de
DAS forma vertiginosa em 2019!
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
,6 1,4 2,4 3,1 4,1 5,6 6,9 8,2 10,9 13,2 15,2 16,9 18,5
-0,50
DURATION, EM ANOS
8
A queda das taxas não é
uma novidade – já
observamos este fenômeno Taxa indicativas de longo prazo
no encerramento dos 8,00
exercícios de 2017 e 2018,
7,00
porém, em patamares muito
inferiores (aprox. 0,25 p.p. e 6,00
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Então, qual o “problema” desta vez?
Primeiramente, esta é a maior queda observada nos últimos anos em termos relativos. Em segundo
lugar, o que estamos observando, no caso de passivos previdenciários, são taxas em nível muito
inferior ao geralmente adotado nas avaliações atuariais realizadas pelos atuários dos planos de
previdência complementar, administrados pelas Entidades Fechadas de Previdência Complementar
(EFPCs)¹ . Em 2016, as taxas das NTN-Bs de longo prazo saíram de taxas reais acima de 7% a.a. para
taxas entre 5% e 6% a.a., intervalo compatível com as utilizadas na gestão dos planos de previdência
pelas EFPCs. Ocorre que, agora, as empresas patrocinadoras devem adotar, na apuração de seus
passivos, taxas de desconto em patamar bem abaixo das utilizadas na gestão dos planos de
previdência.
Este gap acaba por criar situações de difícil compreensão para quem não tem familiaridade com o
assunto. Por exemplo, casos em que a EFPC indica não haver necessidade de aportes extraordinários
pelos participantes e pelas empresas patrocinadoras do plano de previdência, reportando que não há
deficit no plano (ou seja, situação de equilíbrio técnico), mas que ainda assim a empresa patrocinadora
necessitará contabilizar um passivo em seu balanço patrimonial.
¹ Um plano de previdência administrado por uma EFPC possui seu passivo avaliado conforme normas específicas (emitidas pelo CNPC e pela
PREVIC), que são diferentes das que precisam ser observadas pelas empresas no registro de passivos (ou ativos) com seus empregados (CPC 33-
R1).
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Não vou abordar os motivos dessa diferença – que,
vamos deixar claro, existem e são consistentes,
desde diferenças no próprio objetivo das
avaliações (e valores reportados) até diferenças
normativas e técnicas. Talvez um bom assunto
para um próximo texto.
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O EFEITO
AMPLIFICA
Como o passivo é a diferença entre a obrigação e o
DOR NOS patrimônio existente para “cobertura” desta obrigação, o
PLANOS impacto no seu valor deve ser ainda maior do que o
DE impacto estimado do valor presente da obrigação!
CIA
16
E
X
E
M
P
L
O
17
Em 31/12/2018, uma empresa reconheceu um passivo pós-emprego no
montante de R$ 300 milhões. Este passivo, decorrente de plano de
previdência complementar oferecido a seus empregados, foi apurado
como a diferença entre o valor presente da obrigação (pagamento de
benefícios vitalícios), de R$ 1 bilhão, e o valor de mercado do patrimônio
do plano de previdência, de R$ 700 milhões. No encerramento do
exercício de 2019, a queda da taxa de juros (e, consequentemente, da
premissa de taxa de desconto) resultou em uma elevação do valor
presente da obrigação em 20%, aumentando para R$ 1,2 bilhão. Porém,
o valor de mercado do patrimônio apresentou um aumento de somente
15%, passando para R$ 805 milhões.
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Desta forma, gostaria de concluir este texto com duas pequenas regras de
bolso a serem consideradas neste encerramento de exercício:
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A queda das taxas de
juros e a elevação dos
passivos pós-emprego
(CPC 33)
Por Fabrízio Krapf Costa,
diretor de serviços atuariais da Mirador
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