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Pedagogia Criticosocial
Pedagogia Criticosocial
Por sua vez, a pedagogia crítico-social dos conteúdos surgiu como uma versão
da pedagogia histórico-crítica voltada para a didática. A denominação ficou conhecida
com a publicação do livro Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social
dos conteúdos (Libâneo, 1985)2. O livro apareceu no contexto de um movimento muito
forte em defesa da escola pública, no estado de São Paulo, liderado por educadores
ligados à Associação Nacional de Educação–ANDE. Esse movimento, do qual também
fazia parte Saviani, tinha um posicionamento muito afirmativo em relação à escola,
como instância auxiliar de democratização da sociedade. Em torno dessa Associação,
foram se desenvolvendo estudos e pesquisas sobre os fatores históricos e sociais
determinantes da escola pública brasileira, a influência de fatores extra e intra-
escolares na marginalização escolar de crianças pobres, as propostas de escolarização
na perspectiva de um ensino voltado para os interesses populares. Esse movimento
pretendia juntar a análise crítica mais global da problemática da escola brasileira com
propostas concretas de intervenção pedagógica, tendo como referencial teórico o
marxismo. Em 1985 eu escrevi: “a ênfase desse movimento recai sobre o papel da
escola enquanto determinada historicamente, mas, também, enquanto campo de luta
para a eliminação das contradições sociais” (Libâneo, 1985). Ou seja, os militantes da
ANDE não queriam apenas fazer a crítica, mas a intervenção no cotidiano real das
escolas do ponto de vista curricular, metodológico, visando uma educação crítica.
Desse modo, a pedagogia crítico-social pretendeu, ao lado de outras correntes, dar
respostas mais específicas a questões pedagógicas e didáticas da escola pública.
Caracterização
No Brasil a pedagogia crítico-social é uma das correntes da pedagogia crítica
que propõe uma educação vinculada à realidade econômica e sócio-cultural dos
educandos, ligando ensino e ação transformadora da realidade, ação e reflexão, prática
e teoria. Sustenta a idéia de que o conhecimento está comprometido com a
emancipação das pessoas, com a liberdade intelectual e política. Por isso, associa as
tarefas do ensino a uma análise crítica sócio-histórico-cultural do contexto em que as
pessoas vivem.
A pedagogia crítico-social defende, com muita determinação, que o papel da
escola é o de formação cultural, de difusão do conhecimento científico. Formula
princípios e orientações para a conversão do saber cientifico em saber escolar. Entende
que a ação pedagógica está carregada de intencionalidade e que o ensino da ciência
pressupõe interesses que são sociais, políticos, daí a ideia de aprender uma cultura
crítica.
Na prática, significa uma abordagem crítica dos conteúdos, crítica no sentido de
tratar os conteúdos escolares dentro de uma análise concreta das relações
econômicas, sociais, culturais que envolvem a prática escolar. A pedagogia crítico-
social quer contribuir efetivamente para a formação sujeitos pensantes e críticos. Por
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Em 1990 defendi a tese de doutorado intitulada Fundamentos teóricos e práticos do trabalho docente - Introdução à
pedagogia e à didática. Nela pretendi formular bases teóricas mais consistentes da pedagogia crítico-social, investigando a
obra de Marx naquilo que poderia ser aplicado à educação e a obra de autores como G. Snyders, B. Suchodolski, M.
Manacorda e S. Kowarzik. Em 1990 foi publicada a 1 a. edição do livro Didática, decorrente das investigações realizadas
para aquela tese de doutorado. O livro hoje é utilizado em muitas escolas de formação de professores.
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2;4. O desenvolvimento humano ocorre em sua atividade sobre o meio natural e social,
atividade está que assume a forma de práxis social. Em face de determinadas relações
sociais que impedem a atividade livre e consciente do ser humano devido à alienação,
a pedagogia posiciona-se frente à práxis social de modo radicalmente crítico. As
práticas educativas visam enriquecer, teórica e praticamente, a atividade humana.
2.5. Em coerência com as teses anteriores, entende-se que a pedagogia estuda a
educação nos seus vínculos materiais e sociais, isto é, na sua historicidade, na sua
transformação. Ela não pode fundamentar-se a si própria a não ser enquanto referida
às exigências de humanização da práxis humana em suas determinações econômico-
sociais. Por essa razão, o objeto de estudo da Pedagogia é um objeto sempre em
construção, i.e., a pedagogia vai intervindo na prática educativa e, com isso, formando
seu conteúdo.
O caráter “pedagógico” refere-se às formas de prática social, mormente as
práticas educativas, que promovem e ampliam o desenvolvimento cognitivo, afetivo e
moral dos sujeitos. Tais formas de prática social referem-se a fatores sociais, culturais,
históricos, institucionais que afetam o ensino e a aprendizagem. Nesse sentido, o
contexto sócio-cultural é fonte para o desenvolvimento, transformando-se em
mediação cultural para as aprendizagens.
2.6. O ensino consiste dos modos e condições de apropriação das capacidades
formadas historicamente e objetivadas na cultura material e espiritual. O papel central
do ensino é a promoção do desenvolvimento mental pela interiorização de signos, isto
é, formação de conceitos abstratos para além da experiência sensível imediata.
O ensino atua como mediação, como intervenção pedagógica, na relação ativa
do sujeito com os objetos de conhecimentos, visando à formação e desenvolvimento de
ações mentais unidas a uma realidade concreta. O caráter do “pedagógico” se define
na dialética entre a direção dada pelo professor à atividade de aprendizagem do aluno
e sua autoatividade de aprender.
3. Pedagogia crítico-social: uma didática para a formação de sujeitos
pensantes e críticos: aportes da teoria histórico-cultural
3.1. Frente às necessidades educativas presentes, a escola consolida-se como lugar de
mediação cultural, visando à assimilação e reconstrução da cultura. A pedagogia, ao
viabilizar a prática educativa escolar, constitui-se como prática cultural, como forma de
trabalho cultural, intencional, de produção e internalização de significados.
Consequentemente, a função da escola é promover e ampliar o desenvolvimento
mental e a personalidade. pela mediação cultural. A mediação cultural consiste em
ações pedagógicas destinadas ao domínio dos conteúdos e, ao mesmo tempo, ao
desenvolvimento das capacidades cognitivas e operativas (pela formação de conceitos
como processo de reflexão dialética dos objetos).
3.2. A concepção histórico-cultural prioriza o papel do contexto sócio-cultural no
desenvolvimento das funções psicológicas humanas. O desenvolvimento das
capacidades de pensamento se realiza ao se utilizar a cultura humana (no sentido de
experiência sócio-histórica da humanidade), o que podemos chamar “mediação
cultural”. Os indivíduos tornam-se cada vez mais humanos à medida que adquirem as
bases da cultura humana. Ou seja, a dimensão cultural é constitutiva do
desenvolvimento individual.
Essa constituição depende da aprendizagem que, por sua vez, depende do uso
de signos culturais (enquanto representação simbólica da realidade) como
instrumentos da atividade humana para a construção de processos mentais superiores.
A internalização dos signos é requisito para os indivíduos organizarem seu
comportamento e suas ações. A educação e o ensino escolar são meios fundamentais
de promover a interiorização (“apropriação”) dos signos. A interiorização dos signos
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REFERÊNCIAS
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experimental psychological research. (Capítulos 1, 2, 5 e 6). Soviet Education, New
York, Aug. 1998.
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LIBÂNEO, José C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos
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MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo:
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SAVIANI, Dermeval. Pedagogía histórico-crítica. Campinas: Autores Associados, 2008
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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.