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Sobre se “Há movimentos reais”, de Henri Bergson.

História da Filosofia Contemporânea II.

Prof.ª Cintia Vieira da Silva.

Por: Juliano Gustavo Ozga.

Filosofia UFSM-UFOP.

Sobre o movimento na perspectiva matemática: “Se o movimento se reduz portanto a


uma mudança de distância, o mesmo objeto torna-se móvel ou imóvel conforme os pontos de
referência aos quais é relacionado, e não há movimento absoluto”.

No campo da física há outra pespectiva, quando passamos “do estudo abstrato do


movimento à consideração das mudanças concretas que se realizam no universo”. No campo
físico, “o movimento, qualquer que seja sua natureza íntima, torna-se uma incontestável
realidade”.

O exemplo de Descartes, onde “todo o movimento é relativo para o geômetra”, ou seja,


“que não há símbolo matemático capaz de exprimir que é o móvel que se move e não os eixos
ou pontos aos quais está relacionado”, no qual os símbolos destinados a medidas, somente são
capazes de exprimir distâncias. Porém, contestar o movimento real seria afirmar que “nada
mudaria no universo, e sobretudo não se percebe o que significaria a consciência que temos de
nossos próprios movimentos”.

Após inferir se há um movimento absoluto, indaga-se sobre a persistência em ver no


movimento apenas uma mudança de lugar, onde o problema gerado seria a necessidade de
“erigir a diversidade de lugar em diferença absoluta, e distinguir posições absolutas num espaço
absoluto.”. Porém o que é exposto é a indagação de ser possível imaginar ou conceber essa
hipótese. Nesse ponto, Henri Bergson expõe um argumento referente à qualidade do lugar, ou
por sua relação ao conjunto do espaço, e seria esse aspecto que distinguiria um lugar
absolutamente de outro, onde, “o espaço se tornaria, nessa hipótese, ou composto de partes
heterogêneas ou finito.” No entanto, isso implica outro problema referente ao limite do espaço
finito, onde partes homogêneas de espaço poderia haver um espaço homogêneo como suporte,
donde Henri Bergson expõe sua afirmação de que “em ambos os casos, é ao espaço homogêneo
e indefinido que retornaríamos necessariamente.”, do qual decorre a conclusão de que não há
possibilidade de aceitar todo lugar com relativo, muito menos crer no movimento absoluto.

A exposição seguinte diz respeito ao movimento real se distinguir do movimento


relativo, pelo fato daquele possuir uma causa real, onde há a indagação sobre qual força lhe
emana. Para explicar isso, Henri Bergson expõe a definição de força elaborada pelas ciências da
natureza, onde a mesma “não é mais que uma função da massa e da velocidade”, onde seu
cálculo é efetuado pela aceleração, donde só podemos conhecer e avaliar-lhe através dos
movimentos que ela supostamente produz no espaço, onde havendo solidariedade a esses
movimentos, a força participa de sua relatividade.

Assim sendo, quando os físicos buscam “o princípio do movimento absoluto na força


assim definida”, através da lógica interna de seu sistema são reconduzidos “à hipótese de um
espaço absoluto que desejavam evitar de início.”. Disso decorre a necessidade de retorno ao
conceito metafísico da palavra, e o apoio ao “movimento percebido no espaço em causas
profundas, análogas às que nossa consciência acredita perceber no sentimento do esforço.”.
Aqui se evidencia o problema de fundamentar a realidade do movimento sobre uma causa
distinta do mesmo, onde a conclusão segue-se do fato de que sempre retornamos ao próprio
movimento após haver a análise do mesmo fato.

Outro problema exposto por Henri Bergson refere-se ao repouso ou ao movimento


proveniente do ponto alternado que a sua linha percorre, conforme a origem com que o mesmo é
relacionado, onde o mesmo não ocorre se extrairmos a essência do movimento, ou seja, sua
mobilidade. Com a justificação de que é através dos olhos que possuímos a sensação real de um
movimento, Henri Bergson declara que “com mais razão ainda estou seguro da realidade do
movimento quando o produzo após ter desejado produzi-lo.”, donde a consciência do
movimento é proporcionada pelo sentido muscular.

Portanto, a realidade do movimento se expressa interiormente ao indivíduo como uma


mudança de estado ou qualidade. O exemplo citado é sobre o som diferir absolutamente do
silêncio, bem como a luz da obscuridade, onde essa passagem de estado para qualidade é
igualmente um fenômeno absolutamente real.

Assim, os pontos extremos são as sensações musculares e as qualidades sensíveis fora


de mim, onde o movimento não é percebido em nenhum dos dois casos, e se há realmente
movimento como simples relação, trata-se antes de tudo, de um movimento absoluto. A
inferência decorrente é a de que “entre essas duas extremidades vêm colocar-se os movimentos
dos corpos exteriores propriamente ditos.”.

Desse modo há duas possibilidades de resolver a questão referente ao fato de


distinguirmos um movimento aparente de um movimento real. Ao admitirmos “que a
descontinuidade estabelecida pelo senso comum entre objetos independentes uns dos outros,
tendo cada um sua individualidade, comparáveis a espécies de pessoas”, defendemos que a
mesma é uma distinção fundada. Porém na hipótese contrária, já não saberíamos como se
produzem as mudanças de posição em tais partes determinadas da matéria, e sim saberíamos,
como se realiza na totalidade “uma mudança de aspecto, mudança cuja natureza, aliás, restaria
por determinar.”.

Referência Bibliográfica: Bergson, Henri. Matéria e Memória. Ensaio sobre a relação


do corpo com o espírito. 2ª Edição. Trad. Paulo Neves. Ed. Martins Fontes. São Paulo, 1999.

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