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2ª Edição
Ficha Técnica
Programador Web
■ Elaine Aparecida Siqueira
Editoração
■ Equipe EAD – UN-BC/RH/DRH
Índice
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................................... 6
1.1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................. 7
1.2 – ETAPAS DE ESCOAMENTO ............................................................................................................................................... 8
2.1 – DEFINIÇÕES.................................................................................................................................................................. 10
2.1.1 – Fases e componentes .......................................................................................................................................... 10
2.1.2 – Pressão de saturação .......................................................................................................................................... 13
2.1.3: Condições padrão................................................................................................................................................. 14
2.2 – PROPRIEDADES BÁSICAS ............................................................................................................................................... 14
2.3 – MODELO BLACK-OIL..................................................................................................................................................... 18
2.3.1 – Conceituação ...................................................................................................................................................... 18
2.3.2 – Propriedades ...................................................................................................................................................... 19
2.4 - RELAÇÕES ÚTEIS ........................................................................................................................................................... 22
3 INTERFACE POÇO-RESERVATÓRIO..................................................................................................................... 24
5.1 - GENERALIDADES........................................................................................................................................................... 47
5.2 - PADRÕES DE ESCOAMENTO ............................................................................................................................................ 48
5.3 – HOLD-UP ...................................................................................................................................................................... 51
5.4 – ESCORREGAMENTO ...................................................................................................................................................... 52
5.5 – PERFIL DE PRESSÃO ...................................................................................................................................................... 53
5.6 – CURVA DE PRESSÃO REQUERIDA ................................................................................................................................... 62
GLOSSÁRIO .......................................................................................................................................................................... 71
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................... 75
Apresentação
Você está iniciando o estudo do curso Elevação Natural de Petróleo que faz parte da
capacitação e aperfeiçoamento dos profissionais envolvidos com a operação e o
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E tudo isto à distância, através do Campus Virtual, onde você estudará de forma
diferente, com mais autonomia e no seu próprio ritmo, contando ainda com o auxílio de
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1 Primeiros conceitos
1.1 – Introdução
Por que dividir o escoamento em etapas? Porque em cada uma delas, diferentes
fenômenos se manifestam e, eventualmente, até mesmo os modelos utilizados para
descrever cada fase têm importantes diferenças. Exemplificando algumas das
características de cada fase, tem-se:
► ► Elevação: é a etapa de escoamento do fluido que ocorre na tubulação que fica dentro
do poço de petróleo. Muito importante neste escoamento é a energia utilizada para elevar o
fluido contra a gravidade. Ou seja, trazê-lo do fundo do poço à superfície consome uma
quantidade considerável de energia1, da mesma forma que ocorre a um homem que
pretenda levantar um peso: quanto maior o peso e maior a altura, maior o gasto de energia.
E de onde provém esta energia necessária para executar a tarefa de elevar os fluidos?
Provém exatamente do reservatório e se manifesta na forma de pressão: quanto maior a
pressão do reservatório, mais energia há para elevar os fluidos. As variáveis mais
importantes nesta etapa são a altura da elevação (isto é, a profundidade do poço) e a
densidade média dos fluidos.
► ► Coleta: é a etapa de escoamento do fluido que ocorre nas linhas e tubos que
interligam o poço até a planta de processo. Embora possa haver também uma componente
de elevação nesta etapa (por exemplo, no riser) o fenômeno mais significativo é a
dissipação de energia mecânica dos fluidos devido ao atrito com as paredes da tubulação.
Também é nesta etapa em que ocorre a maior parte do resfriamento dos fluidos.
1 Quando se fala em gasto ou perda de energia, este termo deve ser tomado com reservas. Isto porque, a rigor,
não há perda ou consumo, mas transformação de um tipo de energia em outro.
PETROBRAS Atualizado em: 02/02/2020 Página 9
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Elevação Natural
2.1 – Definições
em toda a sua extensão. As principais fases presentes nas misturas de interesse são:
i) fase gasosa, ou simplesmente gás, constituída por hidrocarbonetos leves além de
nitrogênio, gás sulfídrico etc.
ii) fase líquida, usualmente denominada óleo, formada principalmente por hidrocarbonetos
de cadeia mais longa. Normalmente há uma segunda fase líquida constituída
exclusivamente por água;
iii) fase sólida constituída por hidrocarbonetos de cadeia muito longa que dão origem aos
depósitos de parafinas e asfaltenos.
De interesse real no momento são as fases gás e óleo, cujo comportamento exige
grande atenção. A fase aquosa, por apresentar propriedades pouco variáveis, não será
abordada.
existe fase vapor. É a pressão limite para o surgimento da fase vapor. De modo semelhante
define-se a pressão de orvalho como a pressão limite para surgimento da fase líquida, ou
seja, é a pressão a partir da qual um gás começa a condensar. Tanto a pressão de bolha
quanto a de orvalho são denominadas pressão de saturação.
PRESSÃO DIMINUI
► ► Grau API
141,5
API 131,5
d
Segundo esta definição de grau API, uma substância com massa específica 1,0 (como a
água) teria um grau API de 10; substâncias mais leves teriam um grau API
progressivamente maior.
Nesta definição Qwsc é a vazão de água, Qosc é a vazão de óleo e QLsc é a vazão de
líquido, todas medidas em condições padrão. A equação define o BSW em termos de
volume ou, o que é absolutamente equivalente, em termos de vazão volumétrica de água
(subscrito w) e óleo (subscrito o), sempre nas condições padrão de pressão e temperatura
(indicadas pelo superscrito sc).
Vgsc Q sc
RGO
g
Vosc Q sc
o
Vgsc Q sc
RGL
g
VLsc Q scL
Exercícios
Q scw 200
BSW *100 *100 40%
Qo Q w
sc sc
300 200
Q scw 200
BSW *100 *100 40%
Qo Q w
sc sc
300 200
Q sc 25000 3
RGO 83,3 m 3
g
sc
Q o 300 m
Q sc 25000 3
RGL 50 m 3
g
Q scL 500 m
2) Um poço produziu 90 m3 de água com BSW = 20% e RGL=120 m3/ m3. Determine a
vazão de óleo e a RGO.
Solução:
2.3.1 – Conceituação
PRESSÃO = 1 atm
TEMPERATURA = 20 ºC ALTA PRESSÃO
Fase gasosa:
Fase gasosa: componente gás
componente gás
Compressão dos
fluidos
2.3.2 – Propriedades
óleo vivo
óleo morto Vgfsc
gás
água
Vg
Vgd sc
Vo
Vo sc
Vw
Vwsc
P, T 1 atm, 20 oC
Figura 4: Desenho esquemático do processo de expansão de uma mistura óleo, gás e água.
Muitas vezes a Rsw é negligenciada por ser muito baixa. Nestes casos, admite-se
que todo o gás está dissolvido exclusivamente no óleo.
Freqüentemente usa-se o termo razão de solubilidade e se denota por Rs sem
especificar se trata de solubilidade no óleo ou na água. Este é o termo utilizado para indicar
a razão de solubilidade total, isto é, Rs = Rso + Rsw.
É a mesma variável definida anteriormente, porém com uma nova formulação. Trata-
se simplesmente da relação entre a quantidade de gás total e óleo, em condições padrão.
Assim,
Vo
Bo
Vosc
Vw
Bw
Vwsc
Vg
Bg
Vgfsc
Rs Bo
Rs - Razão de Solubilidade
pressão de pressão de
saturação saturação
Notar que as relações acima são dadas em termos de volumes das fases, mas são
igualmente aplicadas se o volume for substituído por vazão volumétrica.
sc
o R so gd
sc
sc
o g
g
Bo Bg
Exercícios:
1) Com base na figura abaixo, calcular os valores de Rso, Rsw, Bo, Bw, Bg, RGO, RGL e
BSW. Considere que o gás dissolve-se apenas no óleo e nunca na água.
sc sc
Vgdo 150 m 3 Vgdw 0 Vo 16,5 m 3
Rso 10 Rsw 0 Bo 1,1
Vosc 15 m 3 Vwsc 1m 3 Vosc 15 m 3
Vw 1,02 m 3 Vg10 m 3
B w sc 1,02 Bg sc 0,0125
Vw 1m 3 Vgf 800 m 3
RGO
Vgdsc Vgfsc
150 800m 3 63,33 RGL
Vgdsc Vgfsc
150 800m 3 59,38
Vosc 15 m 3 Vosc Vwsc 15 1m 3
óleo vivo
óleo morto 800m3
gás
água
10m3
150m3
16,5m3
15m3
1 m3
1,02m3
80 kgf/cm2, 35 oC 1 atm, 20 oC
3 Interface poço-reservatório
Poço 1 Poço 2
Rocha impermeável
Pressão
Rocha produtora
Distância
Rocha impermeável
A diferença entre a pressão estática e a pressão de fundo constitui a energia que faz
com que o óleo, a água e o gás migrem do interior do reservatório em direção ao poço.
Logo, quanto maior a pressão estática ou menor a pressão de fundo, maior deve ser a
vazão escoada para o poço.
Para quantificar esta perda de carga seria necessário conhecer, além das leis que
governam o escoamento dos fluidos em meios porosos, algumas propriedades da rocha e
dos fluidos como, por exemplo, viscosidade, permeabilidade, saturação, porosidade e
espessura do reservatório. Este enfoque, porém, sob a ótica da elevação e escoamento, é
difícil e impreciso. Uma abordagem muito mais simples, direta e precisa é estabelecer um
índice de produtividade (IP) do poço. Para definir o IP tome-se como exemplo o
2 Mais precisamente, a pressão estática é característica de uma determinada região do reservatório e pode
apresentar valores diferentes para diferentes regiões. Isto, porém, não será abordado aqui em detalhes.
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Elevação Natural
esquemático da Figura 8. Neste exemplo admite-se que o poço esteja produzindo uma
vazão de líquidos QL. Este escoamento é causado por uma diferença de pressão P entre a
pressão estática de reservatório (Pe) e a pressão de fundo de poço (Pwf). Assim, o índice de
produtividade é definido como
QL QL
IP
P Pe Pwf
Q L IPPe Pwf
QL
Pwf Pe
IP
250
P = Pressão estática
200
pressão
150
100
Q = A.O.F.
Absolute Open Flow
50
0
0 200 400 600 800 1000
vazão
Esta relação linear entre pressão de fundo em fluxo e vazão não é absolutamente
verdadeira para qualquer situação. Em particular, quando existe gás livre presente no
reservatório essa relação deixa de ser válida e deve ser substituída por outros modelos mais
adequados. Contudo, estes modelos constituem uma sofisticação desnecessária no
momento.
250
200
pressão
150
100
50
0
0 200 400 600 800 1000
vazão
Figura 10: curvas de IPR (ou CPD) para diferentes valores de pressão estática e mesmos
valores de IP.
Efeito do IP 40 10 5
250
200
pressão
150
100
50
0
0 200 400 600 800 1000
vazão
Figura 11: curvas de IPR (ou CPD) para diferentes valores de IP, mas com o mesmo valor de
pressão estática.
Exercício
c) (V) Uma alteração na inclinação da curva de IPR corresponde a uma alteração do IP.
d) (V) A AOF (absolute open flow) é a vazão que o poço produziria com pressão de fundo
igual a zero.
4 Escoamento monofásico
P2
g
P1
velocidade
P
gradiente de pressão
L
P P PM
B 0
L B L
P P PM
gradiente de pressão B 0
L B L
P P
L C L B
Em resumo, o gradiente de pressão é nulo para o caso de vazão nula e seu valor
absoluto cresce à medida que a vazão aumenta.
PM PA
QA = 0
PB
Pressão
QB
Q A < QB < QC
PC
QC
comprimento
A figura 15 mostra uma situação semelhante, mas com escoamento vertical ascendente.
Neste caso, consideramos apenas um valor de pressão a jusante (PJ) e diferentes valores
para a pressão a montante (no fundo do poço), a depender da vazão. Observa-se que o
valor do gradiente de pressão embora aumente (em módulo) com o aumento de vazão, ao
contrário do que ocorre com o escoamento horizontal, não é nulo para vazão zero. Isto se
deve ao fato de haver desde o início um gradiente de pressão resultante do próprio peso do
fluido (gradiente gravitacional). Para valores de vazão diferentes de zero, nota-se que a
pressão de fundo aumenta, o que se deve à existência de uma perda de carga por fricção,
além da gravitacional já mencionada.
PJ
Q A < Q B < QC
comprimento
QA = 0
QB
QC
Pressão PA PB PC
4.1.2 – Equacionamento
positivo.
P fv v
2
L ATRITO d
Q
v
A
P
gsen
L GRAVIDADE
P1
P2
P1
P2
P P P
L TOTAL L ATRITO
L GRAVIDADE
P fv v
2 gsen
L TOTAL d
P
P L
L TOTAL
Exemplo:
Admita-se água (densidade = 1) escoando por uma tubulação inclinada com ângulo de –8o
(descendente) de 10 cm de diâmetro e 1000 m de comprimento, numa vazão de 2500 m3/d. Considerar
f = 0.005. Determinar a perda de carga (P) na tubulação.
Solução:
As equações utilizadas requerem que se trabalhe num sistema de unidades coerente, ou seja,
num sistema de unidades onde cada grandeza seja representada por apenas uma unidade. Por
simplicidade, escolheremos o Sistema Internacional (SI), onde as grandezas são o metro (m), o
kilograma (kg) e o segundo (s).
Esquematicamente, temos:
2500 m3/d
10 cm
1000 m
Sentido positivo da
tubulação
P 2f 2 0.005 kg Pa
v v 1000 3.6842 1357 2 2 1357
L fricção d 0.1 ms m
O resultado acima nos diz que a cada metro a pressão se reduz (valor negativo) em 1357 Pa, devido
exclusivamente à fricção.
O termo gravitacional é:
P
g sen 1000 9.807 sen 8o 1365
Pa
L gravitacional m
Este valor assim calculado nos mostra que a cada metro a pressão aumenta em 1365 Pa
devido à ação da gravidade. Isto deve ser intuitivo, já que no escoamento descendente espera-se que a
pressão aumente à medida que o fluido caminha na tubulação.
O gradiente de pressão total é a soma dos dois anteriores, ou seja,
P Pa
1357 1365 8
L total m
Desta forma, tem-se que a perda de pressão total é o produto do gradiente calculado pelo comprimento
da tubulação, ou seja,
P kgf
P L 8 1000 8000 Pa 0.08 bar 0.082
L total cm 2
Este resultado mostra que, embora haja uma considerável redução da pressão devido ao atrito,
há também um considerável ganho de pressão devido à gravidade, de modo que os dois quase se
compensam totalmente. Como resultado prático, a perda de carga efetiva na tubulação é quase nula,
mas positiva, significando que há um pequeno aumento de pressão do início até o final da tubulação.
vd
N Re
Para escoamento laminar (NRe abaixo de 2000) e tubo liso (rugosidade nula) f toma a
forma:
16
f
N Re
Para escoamento turbulento pode-se adotar a relação dada por Drew (1) (referencia)
válida para 3000 < NRe < 106.
0.32
0.0056 0.5N Re
f
4
Ou ainda a equação de Blasius (2) (referencia) válida para 3000 < NRe < 105.
0.25
0.316N Re
f
4
P v
v
L ACELERAÇÃO L
P P P P
L L ATRITO L GRAVIDADE L ACELERAÇÃO
P fv 2 v
2 gsen v
L d L
Deve-se notar que os cálculos já não são tão simples neste tipo de escoamento.
Primeiramente porque a massa específica () não é constante ao longo da tubulação, mas
depende da pressão. Em segundo lugar porque é necessário conhecer o perfil de
velocidade (v) ao longo da tubulação, mas esta velocidade também depende do perfil de
pressão.
Exercício
Com base no desenho da Figura 17, responda as seguintes questões:
a) o gradiente de pressão é maior no início ou no final da tubulação? Por que?
b) Num determinado trecho da tubulação o gradiente de pressão para a vazão QB é maior ou menor
que o da vazão QC?
Respostas:
a) é maior no final da tubulação porque, para uma mesma distância, tem-se maior variação de pressão.
Ou seja, a curva que representa o perfil de pressão é mais inclinada no final da tubulação.
b) é maior para a vazão Qc, já que para a mesma distância observa-se para esta vazão uma maior
variação de pressão.
5 Escoamento multifásico
5.1 - Generalidades
Diz-se que um escoamento é multifásico quando existe deslocamento simultâneo de
fluidos que se apresentam em mais de uma fase. Água e ar escoando através de uma
tubulação, por exemplo, formam uma mistura bifásica, isto é, com duas fases: uma líquida e
uma gasosa. O escoamento normalmente encontrado na produção de petróleo é, porém, o
trifásico, com duas fases líquidas e uma gasosa – água, óleo e gás. Para efeito de
simplicidade, porém, este escoamento é freqüentemente tratado como bifásico, com uma
fase líquida (óleo + água) e uma fase gasosa (gás natural). Neste texto o termo multifásico
se refere exatamente a este tipo de escoamento, ou seja, bifásico líquido-gás.
Na produção de petróleo o escoamento multifásico aparece em duas situações: a
primeira é no meio poroso (reservatório) e seu estudo e compreensão é objeto de matéria
específica; na segunda – geralmente denominada pelo termo genérico produção - o
escoamento se dá na coluna de produção e na linha de surgência, e seu conhecimento
permite o dimensionamento das tubulações, dos equipamentos de elevação artificial e a
determinação das vazões de operação de um poço ao longo de sua vida produtiva, além de
ser conhecimento básico para a solução de problemas diversos.
A maior parte da pressão disponível em um reservatório de petróleo, usada para elevar
os fluidos até os separadores de produção, é perdida no fluxo vertical multifásico – F.V.M.
Tome-se, por exemplo, um poço de petróleo produzindo de um reservatório com as
seguintes características:
Profundidade.................................... 3000 m
Pressão estática do reservatório........ 210 kgf/cm2
Razão gás–óleo............................... 130 m3/m3
Diâmetro da coluna............................. 3 ½ pol
Pressão na cabeça do poço................ 14 kgf/cm2
Também o escoamento horizontal apresenta diferentes arranjos de fase, porém, com maior
diversificação. A figura 23 apresenta esses padrões. Embora haja diversas classificações,
aqui eles são divididos em quatro classes, a saber, segregado, intermitente anular e bolha,
cada um com subdivisões.
Na classe anular o líquido ocupa as paredes da tubulação e o gás, o núcleo. Podem haver
gotas de líquido dispersas no meio gasoso. Apresenta basicamente dois padrões, que são o
anular, propriamente dito, e o anular com ondas.
Finalmente, o padrão bolhas se assemelha ao de mesmo nome do escoamento
vertical e consiste num grande número de bolhas dispersas de modo mais ou menos
homogêneo num meio líquido.
5.3 – Hold-up
Numa seção transversal de uma tubulação multifásica, num determinado tempo,
normalmente parte do espaço é ocupado por líquido e o restante por gás, como mostrado na
figura 24. Define-se, assim, a fração de residência da fase como a fração da área da
seção transversal ocupada pela fase em questão. As frações de residência das fases
gasosa e líquida são mostradas nas equações abaixo. Obviamente, variam entre zero e 1.
A G área ocupada pelo gás
HG
A área da tubulação
A L área ocupada pelo líquido
HL
A área da tubulação
Esta equação estabelece a massa específica da mistura (m) como uma média
entre a massa específica do líquido (L) e a do gás (G), ponderada pelo hold-up.
Fase gasosa
Área da fase
gasosa
Fase líquida
5.4 – Escorregamento
Líquido e gás não escoam por uma tubulação (e nem mesmo num meio poroso) com
a mesma velocidade. De fato, há o efeito denominado escorregamento, que consiste em
velocidades diferenciadas para cada fase sendo que, em geral, a velocidade do gás é mais
alta. A quantificação deste escorregamento, isto é, da diferença de velocidades entre as
fases, é necessária para a determinação dos perfis de pressão e temperatura ao longo das
linhas. Por outro lado o escorregamento é função do padrão de escoamento (figuras acima)
e do hold-up. E, adicionando um pouco mais de complexidade, o padrão de escoamento
também é função da pressão e da temperatura locais. Assim, estabelece-se uma relação de
interdependência entre padrão de escoamento, hold-up, escorregamento, pressão,
temperatura e propriedades dos fluidos, onde cada uma dessas quantidades é função das
demais.
Pwh Pressão
Pwh
P P
pequeno
L Pwh – Pressão na cabeça
L
Pwf – Pressão de fundo
ELEVAÇÃO
Pe – Pressão estática da formação
Perfil de pressão
Profundidade
dinâmico multifásico
P
P
grande
L
L
Pe Pwf Pwf
QUANTIDADE
DE GÁS LIVRE MASSA PERDA DE CARGA
PRESSÃO HOLD-UP ESPECÍFICA DEVIDA À GRAVIDADE
DA MISTURA
VOLUME DO GÁS
Figura 26: esquemático do que ocorre com as variáveis do escoamento vertical à medida
que o fluido sobe na tubulação e seu efeito sobre a perda de carga por gravidade.
A componente de fricção (atrito) da perda de carga também sofre variação ao longo da coluna.
À medida que ocorre a expansão dos fluidos, a velocidade do escoamento aumenta. Assim, no
fundo do poço a velocidade é menor que próximo à superfície e, por conseguinte, a perda de
carga por atrito aumenta no trajeto. A figura 27 ilustra esta afirmação. Observe que, embora a
massa específica da mistura diminua, o que tende a reduzir a perda de carga por atrito, a
velocidade aumenta. Como a perda de carga varia linearmente com a massa específica, mas
quadraticamente com a velocidade, esta variável se torna preponderante.
MASSA
HOLD-UP ESPECÍFICA
DA MISTURA
QUANTIDADE
DE GÁS LIVRE PERDA DE CARGA
PRESSÃO DEVIDA AO ATRITO
VOLUME DO GÁS
VELOCIDADE
Figura 27: esquemático do que ocorre com as variáveis do escoamento vertical à medida que o
fluido sobe na tubulação e seu efeito sobre a perda de carga por atrito.
Componente da perda de
Efeito Por que?
carga
Gravitacional Diminui Maior volume de gás
Fricção Aumenta Velocidade aumenta
Aceleração Aumenta Variação da velocidade aumenta
TOTAL Diminui Gravidade é a mais importante
Exercício:
No escoamento horizontal multifásico:
(V) A pressão diminui na direção do escoamento
(F) O gradiente de pressão diminui na direção do escoamento
(F) A componente gravitacional da perda de carga aumenta na direção do escoamento
(V) A componente de fricção da perda de carga aumenta na direção do escoamento
(F) A componente de aceleração é nula na direção do escoamento.
P crescente
Pressão
P
L
P
pequeno
L
Perfil de
pressão L
P
P
grande
L
Comprimento
Para ilustrar esses efeitos pode-se recorrer a um exemplo numérico. O caso exemplo
é um poço submarino em lâmina d’água de 1000 m. Tem profundidade de 2500 m em
relação ao nível do mar, sendo 1500 m de coluna, 1500 m de linha e mais 1000 m de riser,
conforme mostra a figura 29.
Plataforma
Base do
riser
Pressão Estática
de reservatório
Árvore
submarina Pressão de fundo
em fluxo
Fundo do
poço
Exercício:
Com base nos valores de perda de carga abaixo, calcule o gradiente de pressão em cada
trecho.
Poço: = 99 kgf/cm2
Linha: = 5 kgf/cm2
Riser: = 42 kgf/cm2
Considere os seguintes comprimentos:
Poço: = 1500 m
Linha: = 1500 m
Riser: = 1000 m
Respostas
Poço:
P 99 kgf / cm 2
gradiente 0,066
L 1500 m
Linha:
P 5 kgf / cm 2
gradiente 0,0033
L 1500 m
Riser:
P 42 kgf / cm 2
gradiente 0,042
L 1000 m
de razão gás-óleo e fração de água. Todas as curvas foram calculadas considerando uma
mesma vazão de líquido e pressão na superfície de 10 bara3.
Analisemos primeiramente o efeito da razão gás-óleo de produção. Nota-se que os
perfis de pressão no riser e no poço (escoamento vertical) são muito influenciados pela
RGO, sendo que valores mais altos deste parâmetro implicam em gradientes de pressão
menores (curvas mais verticais). A primeira curva, com RGO = 0, corresponde ao
escoamento monofásico de óleo. Naturalmente, os perfis de pressão são praticamente retas
(gradiente de pressão constante) em todos os trechos. Para RGO de 50 e 200 o gradiente
de pressão é progressivamente reduzido nos trechos verticais (poço e riser), ou seja, tem-se
menor P para um mesmo L. A explicação para isto é que, com valores de RGO mais
altos, a quantidade de gás livre escoando pelas tubulações causa uma diminuição do hold-
up, o que promove uma redução da massa específica média do fluido e, conseqüentemente,
a perda de carga por gravidade. Há, contudo, uma exceção: para o valor mais alto de RGO
(500 m3/m3) o gradiente de pressão se torna maior que para RGO = 200. Este efeito é
resultante do aumento da velocidade dos fluidos ao longo das tubulações, o que causa um
aumento da perda de carga por atrito. Embora a perda de carga por gravidade diminua,
como anteriormente, o aumento da perda por fricção é ainda maior, e o resultado líquido é
um aumento da perda de carga geral. Já no escoamento horizontal (linha) o efeito da RGO é
sempre o mesmo: piora o escoamento, ou seja, quanto maior a RGO maior o gradiente de
pressão e maior a perda de carga devido ao atrito nas paredes da tubulação. Note que, os
valores de pressão na linha não necessariamente são mais altos para RGO mais alta,
porque isto depende da perda de carga no riser, mas o gradiente de pressão, este sim, é
maior. Por exemplo, para RGO nula os valores de pressão na linha estão ao redor de 100
bar e o gradiente de pressão é muito pequeno (curva praticamente paralela ao eixo das
ordenadas); para RGO = 50 a pressão na linha é mais baixa – em torno de 64 bar – mas o
gradiente de pressão é mais pronunciado, o que se observa pela inclinação da curva.
3 bar é a unidade de pressão equivalente a 1.01325 atm. bara é a mesma unidade, porém faz referência a
pressão absoluta.
PETROBRAS Atualizado em: 02/02/2020 Página 60
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Elevação Natural
Figura 32: poço exemplo. Sensibilidade do perfil de pressão à fração de água (BSW ou WCUT).
Figura 33: poço exemplo. Perfis de pressão para diferentes valores de vazão de líquido. RGO
e BSW constantes.
4 Ao contrário do que ocorre com o escoamento monofásico, no multifásico, para vazões de líquido muito baixas,
a pressão requerida diminui com o aumento da vazão (trecho descendente da CPR). Isto ocorre em função do
pronunciado escorregamento entre fases que ocorre nestas vazões. Este efeito faz com que, em baixa
velocidade, o hold-up diminua rapidamente com o aumento da vazão, o que resulta na diminuição do gradiente
por gravidade, embora haja um aumento não muito significativo do gradiente por fricção.
PETROBRAS Atualizado em: 02/02/2020 Página 63
Gestor: UNBC/RH/DRH Grau de Classificação: Corporativo
Elevação Natural
pressão de fundo mais baixa. No presente exemplo, a curva para RGO igual a 200 m3/m3 só
é mais baixa que a de 100 m3/m3 para vazões menores que 1240 m3/d.
Na literatura e entre os profissionais da área, as curvas de pressão requerida são
freqüentemente denominadas TPR, significando tubing performance relationship.
Figura 35: poço exemplo. Curva de pressão requerida no fundo do poço para diferentes
valores de RGO.
Figura 36: poço exemplo. Curva de pressão requerida no fundo do poço para diferentes
valores de BSW.
Exercício
6 Equilíbrio poço-reservatório
O único ponto onde ambas as curvas coincidem é o ponto C, onde para uma mesma
vazão as pressões requerida e disponível são as mesmas. Assim, podemos dizer que o
ponto de equilíbrio deste poço corresponde a uma vazão de 600 m3/d e pressão de fundo de
222 bara.
Este conjunto de curvas de pressão disponível e requerida é o principal meio de se
determinar o ponto de equilíbrio de um poço. Além disso, o efeito de diversos parâmetros
sobre a produção pode facilmente ser visualizado num gráfico deste tipo. Foi visto em
figuras anteriores o efeito da RGO, BSW e diâmetro da coluna de produção sobre a curva
de pressão requerida. Logo, se estes parâmetros afetam a TPR, afetam também o ponto de
equilíbrio do sistema. Exemplificando este fato vê na figura 38 o efeito da RGO sobre a
produção do poço em questão. Cada uma das TPR foi traçada para diferentes valores de
RGO, resultando que sua interseção com a IPR ocorre em diferentes pontos do plano.
Esses pontos de interseção são justamente os pontos de operação, isto é, são os pares de
vazão e pressão de fundo em que o poço é capaz de produzir. Para cada valor de RGO
têm-se os seguintes valores aproximados de vazão de líquido:
RGO Vazão de líquido
130 580
200 770
300 800
500 760
Nota-se que o aumento de RGO de 130 para 200 promove um grande aumento de
vazão de líquido. De 200 para 300 resulta num aumento muito menos expressivo e,
finalmente o aumento de 300 para 500 resulta numa redução da vazão.
Outro efeito sempre presente durante a vida produtiva de um poço é o declínio
natural de vazão, conseqüência da gradual redução da pressão estática do reservatório.
Este efeito é mostrado na figura 39.
Como se observa neste caso, foram traçadas diversas curvas de pressão disponível
(CPD ou IPR), uma para cada valor de pressão estática. Todas as curvas têm a mesma
inclinação, significando que o índice de produtividade permaneceu inalterado nos três casos.
Estas curvas interceptam a TPR em diferentes pontos, resultando nas vazões de 730, 590 e
440 m3/d. Deve-se notar que isto é uma idealização do declínio de um poço, porque
admitimos que apenas a pressão estática muda com o tempo. De fato, ocorre na prática que
pressão estática, índice de produtividade, RGO, BSW, além de outras características dos
fluidos variam como o tempo e simultaneamente. Assim, o que se tem na prática é uma
sobreposição dos efeitos acima mencionados.
A determinação do ponto de equilíbrio, como apresentada acima, corresponde ao
ponto mais importante da elevação natural. É através desta abordagem que se determina a
vazão que um poço deve produzir, antes mesmo que ele seja completado, e quais os
valores de pressão esperados no fundo ou em outros pontos do sistema.
7 Considerações Finais
Pela sua relevância à boa formação da mão de obra e pela sua importância na
eficiência, segurança e economicidade da atividade de produção, este tema foi incluído no
Curso de Formação em Operações de Produção. Assim, este material foi elaborado para
abranger os conhecimentos essenciais do tema sem, contudo, abrir mão do rigor dos
conceitos. Repassar ao aprendiz os conceitos básicos da boa técnica é o objetivo deste
material que engloba basicamente três tópicos: elevação natural, elevação artificial por gas-
lift contínuo e elevação artificial por bombeio centrifugo submerso.
8 Glossário
A|B|C|D|E|F|G|H|I|J|L|M|N|O|P|Q|R|S|T|V
A
API – American Petroleum Institute
ATM – unidade de medida de ppressão que corresponde a 1,033 kgf/cm2
B
Bara – Bar é a unidade de pressão equivalente a 1.01325 atm. bara é a mesma unidade,
porém faz referência a pressão absoluta.
B - fator volume de formação
BSW - percentagem de água e sedimentos
D
d - densidade (adimensional)
D - diâmetro da tubulação
F
f - fator de atrito de Fanning
G
Gregos
- viscosidade
ρ - massa específica
H
Hold-up – fração (ou porcentagem) de líquido num determinado trecho da tubulação
I
IP - índice de produtividade
L
L - comprimento de uma tubulação
N
NRe - número de Reinolds
P
P - pressão
Pe - pressão estática da formação
Pwf - pressão de fundo de poço em fluxo
Pwh - pressão na cabeça de poço em fluxo
Q
QL - vazão de óleo e água medidos em condições padrão.
R
RGL - razão gás-líquido
RGO - razão gás-óleo
Rs - razão de solubilidade do gás no líquido (óleo + água)
Rso - razão de solubilidade do gás no óleo
Rsw - razão de solubilidade do gás na água
Riser – segmento de linha ou tubulação entre leito marinho e a plataforma de produção
S
Surge-tanque – vaso de separação de um planta de processo cuja pressão de opração é
pouco acima da pressão atmosférica.
Subscritos
d – dissolvido
g – gás
L – líquido
w – do inglês “water” - água
o – do inglês “oil” -óleo
sat- saturação
Superscritos
sc - do inglês standard conditions- condições padrão
T
T – temperatura
V
v - velocidade
V - volume
9 Links Explicativos
Densidade – Em princípio, o gás, mesmo dissolvido na fase líquida, tem sua densidade
invariável, ou seja, sua identidade não se altera quer esteja na fase líquida ou gasosa.
Entretanto, há uma sofisticação do modelo que permite estabelecer uma diferença entre as
densidades do gás dissolvido na fase líquida e o gás livre. Este recurso, quando se acopla o
modelo black-oil a um conjunto de equações de conservação, deve ser utilizado com o
cuidado de não provocar erros nas equações de balanço de massa.
Energia – Quando se fala em gasto ou perda de energia, este termo deve ser tomado com
reservas. Isto porque, a rigor, na há perda ou consumo, mas transformação de um tipo de
energia em outro.
Fator de atrito de Fanning – coeficiente que relaciona a perda de carga numa tubulação com
a rugosidade de sua parede interna, com a velocidade do fluido e algumas outras
propriedades.
índice de produtividade - medida da “facilidade” com que o óleo escoa do interior do
reservatório para o poço: quanto maior o IP, mais facilmente ele escoa e,
conseqüentemente, menor a perda de carga.
Perda de carga - Diferença entre pressão estática e pressão de fundo em fluxo
Pressão estática - Mais precisamente, a pressão estática é característica de uma
determinada região do reservatório e pode apresentar valores diferentes para diferentes
regiões. Isto, porém, não será abordado aqui em detalhes.
Reológicas – propriedades reológicas são aquelas que definem a facilidade com que um
fluido se deforma sob ação de forças do escoamento. A principal propriedade reológica é a
viscosidade.
Termodinâmica – as propriedades termodinâmicas são aquelas próprias de uma substância
e são função essencialmente da pressão e temperatura. Por exemplo, a massa específica.
Vazões muito baixas - Ao contrário do que ocorre com o escoamento monofásico, no
multifásico, para vazões de líquido muito baixas, a pressão requerida diminui com o
aumento da vazão (trecho descendente da CPR). Isto ocorre em função do pronunciado
escorregamento entre fases que ocorre nestas vazões. Este efeito faz com que, em baixa
10 Bibliografia
BENNETT, C.O. & MYERS, J.E. – Fenômenos de transporte. São Paulo, McGraw-Hill, 1978.
822p.
BRILL, J.P. & MUKHERJEE H. – Multiphase flow in wells. Richardson, Tx, Society of
Petroleum Engineers Inc., 1999. 156p.
DREW, T B , KOO, E C and MCADAMS, W H. (1932); The friction factor for clean round
pipes.