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UN-BC / RH / DRH

Galileu Paulo HenkeCopyright


Alves ©de2003 Petrobras
Oliveira
Elevação Natural

Elevação Natural de Petróleo

2ª Edição

Galileu Paulo Henke Alves de Oliveira

PETROBRAS Atualizado em: 02/02/2020 Página 2


Gestor: UNBC/RH/DRH Grau de Classificação: Corporativo
Elevação Natural

Elevação Natural de Petróleo

Copyright © 2004 PETROBRAS


Impresso no Brasil / Printed in Brazil

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Ficha Técnica

Especialista Técnico / Instrutor


 Galileu Paulo Henke Alves de Oliveiva

Programador Web
■ Elaine Aparecida Siqueira

Equipe de EAD / Campus Virtual


 Maurizete Barroso Winter
 Maria Cristina Rodrigues de Almeida
 Renato Errichelli de Sousa

Editoração
■ Equipe EAD – UN-BC/RH/DRH

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Índice

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................................... 6

1 PRIMEIROS CONCEITOS .............................................................................................................................................. 7

1.1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................. 7
1.2 – ETAPAS DE ESCOAMENTO ............................................................................................................................................... 8

2 NATUREZA E PROPRIEDADES DOS FLUIDOS .................................................................................................. 10

2.1 – DEFINIÇÕES.................................................................................................................................................................. 10
2.1.1 – Fases e componentes .......................................................................................................................................... 10
2.1.2 – Pressão de saturação .......................................................................................................................................... 13
2.1.3: Condições padrão................................................................................................................................................. 14
2.2 – PROPRIEDADES BÁSICAS ............................................................................................................................................... 14
2.3 – MODELO BLACK-OIL..................................................................................................................................................... 18
2.3.1 – Conceituação ...................................................................................................................................................... 18
2.3.2 – Propriedades ...................................................................................................................................................... 19
2.4 - RELAÇÕES ÚTEIS ........................................................................................................................................................... 22

3 INTERFACE POÇO-RESERVATÓRIO..................................................................................................................... 24

4 ESCOAMENTO MONOFÁSICO ............................................................................................................................. 31

4.1 – ESCOAMENTO INCOMPRESSÍVEL.................................................................................................................................... 31


4.1.1 – Perfil e gradiente de pressão .............................................................................................................................. 33
4.1.2 – Equacionamento ................................................................................................................................................. 36
4.2 – ESCOAMENTO COMPRESSÍVEL ....................................................................................................................................... 40
4.3 –PRESSÃO REQUERIDA E PRESSÃO DISPONÍVEL ................................................................................................................. 43

5 ESCOAMENTO MULTIFÁSICO ............................................................................................................................... 47

5.1 - GENERALIDADES........................................................................................................................................................... 47
5.2 - PADRÕES DE ESCOAMENTO ............................................................................................................................................ 48
5.3 – HOLD-UP ...................................................................................................................................................................... 51
5.4 – ESCORREGAMENTO ...................................................................................................................................................... 52
5.5 – PERFIL DE PRESSÃO ...................................................................................................................................................... 53
5.6 – CURVA DE PRESSÃO REQUERIDA ................................................................................................................................... 62

6 EQUILÍBRIO POÇO-RESERVATÓRIO .................................................................................................................. 66

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................ 70

GLOSSÁRIO .......................................................................................................................................................................... 71

LINKS EXPLICATIVOS ...................................................................................................................................................... 74

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................... 75

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Apresentação

Você está iniciando o estudo do curso Elevação Natural de Petróleo que faz parte da
capacitação e aperfeiçoamento dos profissionais envolvidos com a operação e o
gerenciamento das plataformas. Este curso também faz parte do currículo mínimo do
operador.

O curso tem a duração máxima de 2 meses, e carga horária total de 40 horas


compreendendo a leitura individual dos módulos, participação no fórum de discussão, a
realização dos exercícios e da avaliação final. Está estruturado em 2 MÓDULOS de estudo
e cada MÓDULO dividido em AULAS, disponibilizadas em hipertexto através da Web,
o que vai possibilitar uma aprendizagem mais interativa.

Fóruns, acesso a outros links para leituras complementares e glossário são


recursos que apoiarão os seus estudos e contribuirão para ampliar os seus conhecimentos
sobre a área de Petróleo.

Vejamos os símbolos disponibilizados e o que significam. Para acessá-los basta


apontar ou clicar neles.

 - Indica o significado de palavras, termos e expressões.


(no.) - Indica a referência bibliográfica daquela citação ou esquema.
palavra ou expressão – Indica que há um link explicativo daquela palavra ou expressão.

E tudo isto à distância, através do Campus Virtual, onde você estudará de forma
diferente, com mais autonomia e no seu próprio ritmo, contando ainda com o auxílio de
monitores para esclarecer suas dúvidas e verificar o seu desempenho ao longo do curso.

E, como você será avaliado neste curso?

Ao final de cada módulo você realizará atividades de auto-avaliação e ao término do


curso uma avaliação final, onde é esperado um aproveitamento mínimo de 60%.

Além disso, a sua participação nos fóruns de discussão também será importante.
Agora, planeje seus estudos, organize o seu tempo e mãos à obra!

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1 Primeiros conceitos

1.1 – Introdução

As empresas de petróleo, através de seu segmento de exploração e produção – E&P


– buscam agregar reservas de hidrocarbonetos, delimitá-las e produzi-las de forma
economicamente viável. Toda esta atividade tem seu ponto culminante na produção, quando
o trabalho das inúmeras equipes envolvidas se materializa na forma de óleo e gás,
entregues para refino e consumo. A produção dos fluidos – óleo e gás – consiste numa
notável série de atividades cujo objetivo primordial é sua extração a partir da rocha porosa,
seu tratamento e condicionamento em plantas de processamento e, finalmente, seu
transporte até os pontos de coleta.
Neste processo, a atividade de Elevação e Escoamento - EE tem o papel de
viabilizar o transporte dos fluidos desde o fundo do poço até a planta de processamento
primário e posteriormente até os pontos de coleta de óleo e gás. Elevação e escoamento
eficientes significam maior vazão de óleo e gás, além de menor gasto de energia e recursos.
Ordinariamente o foco da atividade de EE está em assuntos como eficiência do transporte,
otimização da energia e desempenho de equipamentos, para citar alguns. A atividade é
orientada para a busca de soluções economicamente e tecnicamente viáveis.
Este curso pretende mostrar os aspectos básicos da elevação natural, que é um dos
tópicos inclusos no gênero elevação e escoamento. O estudo da elevação natural visa
compreender os fenômenos envolvidos no processo de escoamento do óleo e do gás desde
o reservatório até a planta de processo sem a utilização de qualquer fonte adicional de
energia. Ou seja, não vamos considerar a existência de bombas ou de gas-lift como forma
de auxiliar a elevação dos fluidos, mas tão-somente nos ateremos à forma como os fluidos
são transportados tendo como fonte motriz apenas a energia do próprio reservatório.
Antes de descrevermos as variáveis e fenômenos de nosso interesse, convém
localizarmos a elevação natural na cadeia de processos pela qual passa o óleo e o gás.

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1.2 – Etapas de escoamento

No segmento E&P existem diferentes etapas de escoamento do óleo desde a rocha


reservatório até o terminal de recebimento. São elas: recuperação, elevação, coleta e
exportação. Entre os três primeiros e a exportação existe o processamento primário que,
em essência, separa líquidos e gás e os condiciona para a exportação.

Figura 1: Desenho esquemático dos processos de recuperação, elevação e coleta


de óleo e gás.

Por que dividir o escoamento em etapas? Porque em cada uma delas, diferentes
fenômenos se manifestam e, eventualmente, até mesmo os modelos utilizados para
descrever cada fase têm importantes diferenças. Exemplificando algumas das
características de cada fase, tem-se:

► ► Recuperação: é a etapa de escoamento do fluido que ocorre no meio poroso, dentro

da rocha reservatório. É um escoamento em baixa velocidade; o tamanho dos poros e


gargantas por onde fluem óleo, gás e água são usualmente muito pequenos, e a
viscosidade e a tensão interfacial entre fluidos são propriedades muito relevantes.

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► ► Elevação: é a etapa de escoamento do fluido que ocorre na tubulação que fica dentro

do poço de petróleo. Muito importante neste escoamento é a energia utilizada para elevar o
fluido contra a gravidade. Ou seja, trazê-lo do fundo do poço à superfície consome uma
quantidade considerável de energia1, da mesma forma que ocorre a um homem que
pretenda levantar um peso: quanto maior o peso e maior a altura, maior o gasto de energia.
E de onde provém esta energia necessária para executar a tarefa de elevar os fluidos?
Provém exatamente do reservatório e se manifesta na forma de pressão: quanto maior a
pressão do reservatório, mais energia há para elevar os fluidos. As variáveis mais
importantes nesta etapa são a altura da elevação (isto é, a profundidade do poço) e a
densidade média dos fluidos.

► ► Coleta: é a etapa de escoamento do fluido que ocorre nas linhas e tubos que

interligam o poço até a planta de processo. Embora possa haver também uma componente
de elevação nesta etapa (por exemplo, no riser) o fenômeno mais significativo é a
dissipação de energia mecânica dos fluidos devido ao atrito com as paredes da tubulação.
Também é nesta etapa em que ocorre a maior parte do resfriamento dos fluidos.

► ► Exportação: esta etapa é subseqüente ao tratamento dos fluidos, ao bombeamento

dos líquidos e à compressão do gás na planta de processo. As características desta etapa


são as mesmas da coleta, exceto pelo fato de envolver apenas escoamento monofásico, isto
é, líquido ou gás, exclusivamente, em cada tubulação. Isto simplifica consideravelmente o
estudo. Por outro lado, este escoamento freqüentemente faz parte de uma rede que envolve
várias unidades de produção, o que aumenta a complexidade.
Destas quatro etapas, dizem respeito à elevação natural as três primeiras. Estudá-las
requer um pouco mais de conhecimento sobre reservatórios, escoamento monofásico
compressível e incompressível e escoamento multifásico, o que será objeto dos próximos
capítulos. Antes, porém, é necessário reforçar nossos conhecimentos sobre as propriedades
dos fluidos.

1 Quando se fala em gasto ou perda de energia, este termo deve ser tomado com reservas. Isto porque, a rigor,
não há perda ou consumo, mas transformação de um tipo de energia em outro.
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2 Natureza e propriedades dos fluidos

O estudo das propriedades dos fluidos é o termo que designa um conjunto de


teorias, procedimentos experimentais, modelagens e simulações com o objetivo de
conhecer e prever o comportamento de fluidos, isto é., suas características físicas,
reológicas e termodinâmicas, sob o efeito de condições impostas como pressão,
temperatura (além de outras, como campos gravitacionais ou magnéticos, num caso mais
geral).
Óleo, gás natural e água são fluidos comumente associados na produção. A correta
compreensão do seu comportamento em diferentes condições de pressão e temperatura do
reservatório, além da precisa interpretação dos valores (medidas) a eles associados são de
grande importância no estudo do escoamento em meios porosos e tubulações e constituem,
portanto, o objeto de estudo deste capítulo da produção de petróleo.
As reservas de hidrocarbonetos no meio poroso (reservatório) podem se apresentar
na forma líquida, gasosa ou simultaneamente nas duas fases. Esse estado depende
essencialmente da pressão e da temperatura, além da composição do fluido (se existem
muitos componentes leves, há uma maior tendência a se apresentar no estado gasoso etc.).
À medida que o fluido escoa do meio poroso em direção ao poço e à planta de
processamento primário, ocorrem alterações na pressão e temperatura que promovem uma
mudança da composição das fases. Assim, alteram-se todas as propriedades das fases. Ou
seja, a densidade, a viscosidade, a massa de cada fase etc., variam à medida que
temperatura e pressão sofrem alterações.

2.1 – Definições

2.1.1 – Fases e componentes

O petróleo tem uma composição variada constituindo-se principalmente de


hidrocarbonetos e pequenas quantidades de nitrogênio e gás carbônico. Componentes
como dióxido de enxofre, gás sulfídrico, metais etc., também podem estar presentes em
pequenas quantidades. Esta mistura se apresenta sob a forma líquida ou gasosa, a
depender da pressão, da temperatura e do peso molecular de seus constituintes.

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A seguir são apresentadas algumas definições, eventualmente sem grande rigor, de


termos usualmente empregados no estudo das propriedades dos fluidos.
Os fluidos são normalmente divididos em duas classes, quais sejam, líquido e gás
(ou vapor), cujas características próprias são amplamente conhecidas do cotidiano: o líquido
tem massa específica e viscosidade mais altas. Em oposição, o gás é um fluido altamente
compressível.

► ► Denomina-se fase qualquer porção de material com características uniformes

em toda a sua extensão. As principais fases presentes nas misturas de interesse são:
i) fase gasosa, ou simplesmente gás, constituída por hidrocarbonetos leves além de
nitrogênio, gás sulfídrico etc.
ii) fase líquida, usualmente denominada óleo, formada principalmente por hidrocarbonetos
de cadeia mais longa. Normalmente há uma segunda fase líquida constituída
exclusivamente por água;
iii) fase sólida constituída por hidrocarbonetos de cadeia muito longa que dão origem aos
depósitos de parafinas e asfaltenos.
De interesse real no momento são as fases gás e óleo, cujo comportamento exige
grande atenção. A fase aquosa, por apresentar propriedades pouco variáveis, não será
abordada.

► ► Denomina-se componente a cada uma das substâncias presentes em uma

mistura e que apresentam propriedades bem definidas. Os componentes encontrados nas


misturas de óleo e gás são, por exemplo, metano (CH4), etano (C2H6), propano (C3H8) e
demais hidrocarbonetos, além de dióxido de carbono(CO2), nitrogênio(N2) etc.
A tabela 1 mostra um exemplo de composição de petróleo. Embora chamemos este
fluido de petróleo, a rigor ele freqüentemente é constituído de duas fases: líquida (óleo) e
gasosa, a depender da pressão e da temperatura. Nesta tabela a coluna %molar indica a
composição total do fluido. As colunas seguintes mostram a composição da fase líquida e da
fase gasosa, respectivamente, quanto este fluido está submetido a 1 atm e 15,56 oC.

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componente Nome % molar % molar % molar


total líquido vapor
N2 Nitrogênio 0.49 0 0.75
CO2 dióxido de carbono 0.14 0 0.21
C1 Metano 50.44 0.48 76.90
C2 Etano 6.04 0.35 9.05
C3 propano 5.62 1.19 7.97
iC4 isobutano 0.98 0.48 1.24
nC4 normal-butano 2.12 1.40 2.50
iC5 isopentano 0.56 0.72 0.47
nC5 normal-pentano 0.76 1.14 0.56
C6 hexano 0.52 1.19 0.17
C7 heptano 0.85 2.31 0.08
C8 octano 1.33 3.75 0.05
C9 nonano 2.30 6.59 0.03
C10 decano 2.68 7.71 0.01
C11 undecano 2.02 5.83 0
C12+ dodecano e outros 23.15 66.85 0
mais pesados
total 100 34.63 65.37

Tabela 1: composição típica de um petróleo da Bacia de Campos (RJS-383).

Cabe observar que cada fase é normalmente constituída de vários componentes. A


título de exemplo, a tabela 1, na quarta coluna, mostra a composição do líquido; nela se
observa que a fase líquida contém muito pouco metano, etano, nitrogênio e outros
componentes leves, mas tem alta quantidade de componentes mais pesados. Já a fase
gasosa, como se vê na quinta coluna da mesma tabela, contém em grande quantidade os
componentes metano, etano e propano, e apenas pequenas proporções dos demais.

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2.1.2 – Pressão de saturação

Sabemos que as duas fases normalmente encontradas nos fluidos de nosso


interesse são óleo e gás. Mas eles estarão sempre presentes? Não necessariamente. Pode
ocorrer apenas uma das fases ou ambas, a depender de três coisas: composição da
mistura, pressão e temperatura.
Quanto à primeira – a composição – é mais ou menos intuitivo que, se uma mistura
contém grande quantidade de componentes leves, ou toda ela estará na fase gasosa, ou
haverá uma quantidade grande de gás e apenas um pouco de líquido. O inverso é também
verdadeiro: em havendo muitos componentes pesados, toda ou quase toda a mistura estará
na fase líquida. Pode-se recorrer à quarta e à quinta coluna da tabela 1 como exemplos da
composição do óleo e do gás que saem do surge-tanque de uma planta de processo.
A pressão e a temperatura atuam de forma inversa: quando as duas fases estão
presentes e em contato, um aumento de pressão faz com que uma parcela do gás seja
absorvida pelo líquido, causando uma redução do volume de gás e um aumento do volume
do líquido; diz-se que o gás está dissolvido no líquido. Já um aumento da temperatura
promove o efeito contrário, isto é, a evolução de gás a partir do líquido ou, de outra forma, a
redução da quantidade de gás dissolvido. Há, porém limites de pressão (e também de
temperatura) para que as duas fases coexistam. Estes limites são o ponto de bolha e o
ponto de orvalho.

► ► Denomina-se pressão de bolha de um fluido a menor pressão na qual não

existe fase vapor. É a pressão limite para o surgimento da fase vapor. De modo semelhante
define-se a pressão de orvalho como a pressão limite para surgimento da fase líquida, ou
seja, é a pressão a partir da qual um gás começa a condensar. Tanto a pressão de bolha
quanto a de orvalho são denominadas pressão de saturação.

Como ilustração, imaginemos um processo de despressurização de um fluido


realizado num cilindro com pistão, como ilustra a figura 2. Inicialmente temos o fluido em alta
pressão e todo ele na fase líquida; na segunda etapa, já com uma pressão menor, surge a
primeira bolha de gás. Esta é a pressão de bolha. O processo segue com a redução da
pressão, aumento progressivo da quantidade de gás e redução da quantidade de líquido,
até o ponto em que resta apenas a última gotícula de líquido. Este é o ponto de orvalho, a
partir do qual a redução da pressão só faz expandir o gás.

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PRESSÃO DIMINUI

Somente Surge a primeira Desaparece a última Somente


líquido bolha de gás gota de líquido gás

Figura 2: processo de expansão de uma mistura de hidrocarbonetos.

O exemplo mostra um caso genérico, e ocorre efetivamente para determinados


fluidos. Contudo, para os petróleos comumente encontrados nas bacias brasileiras, para
temperaturas usuais, o ponto de orvalho não chega a ser observado. Ou seja, mesmo
reduzindo-se a pressão à atmosférica, ainda restará uma grande quantidade de líquido.
Tanto a pressão de bolha quanto à de orvalho são freqüentemente denominadas
pressão de saturação e são necessariamente função da temperatura.

2.1.3: Condições padrão

Toda e qualquer medição ou expressão de valores de propriedades dos fluidos é


necessariamente referida a condições de pressão e temperatura perfeitamente
determinadas. De outra forma, não haveria possibilidade de comparação entre valores.
As condições padrão de pressão e temperatura variam de um país para outro, mas
no Brasil há basicamente 2 padrões de interesse:

Padrão PETROBRAS pressão 1 atmosfera = 1.03323 kgf/cm 2 = 1.01325 bar


temperatura 20 oC = 68 oF = 293.15 K
Padrão internacional (API) pressão 1 atmosfera = 1.03323 kgf/cm 2 = 1.01325 bar
temperatura 15,56 oC = 60 oF = 288.71 K

2.2 – Propriedades básicas

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As propriedades básicas e facilmente mensuráveis dos fluidos de interesse são:

► ► Grau API

O grau API (American Petroleum Institute) é um parâmetro adimensional relacionado


à densidade do óleo morto (em condições padrão) e definido por:

141,5
API   131,5
d

onde d é a densidade do óleo em relação à água. Esta densidade é definida por

massa específica do óleo  o


d 
massa específica da água  w

Segundo esta definição de grau API, uma substância com massa específica 1,0 (como a
água) teria um grau API de 10; substâncias mais leves teriam um grau API
progressivamente maior.

► ► Based Sediments and Water - BSW

É o parâmetro adimensional que indica a quantidade de água e sedimentos contidos


na fase líquida do petróleo (sempre medida na condição padrão), geralmente expresso em
base percentual. Normalmente é utilizado com sinônimo de fração de água, embora isto não
seja rigorosamente correto.

Vwsc Q scw Q scw


BSW  * 100  * 100  *100
Vosc  Vwsc o  Qw
Q sc sc
Q sc
L

Nesta definição Qwsc é a vazão de água, Qosc é a vazão de óleo e QLsc é a vazão de
líquido, todas medidas em condições padrão. A equação define o BSW em termos de
volume ou, o que é absolutamente equivalente, em termos de vazão volumétrica de água
(subscrito w) e óleo (subscrito o), sempre nas condições padrão de pressão e temperatura
(indicadas pelo superscrito sc).

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► ► Razão gás–óleo - RGO

Define a quantidade relativa de gás existente num petróleo e é dada por:

Vgsc Q sc
RGO  
g

Vosc Q sc
o

Esta equação também é dada em termos de volume ou de vazão de gás e óleo em


condições padrão. Os subscritos e superscritos são os mesmos aplicados anteriormente.

► ► Razão gás-líquido - RGL

De modo semelhante a RGO, a RGL estabelece a quantidade relativa de gás num


petróleo, mas em comparação ao líquido total (óleo e água). É dada por:

Vgsc Q sc
RGL  
g

VLsc Q scL

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Exercícios

1) Um poço produz as seguintes vazões de óleo, água e gás, medidos em condições


padrão:
Qosc = 300 m3/d
Qwsc = 200 m3/d
Qgsc = 25000 m3/d
Determine o BSW, a RGO e a RGL
Resposta:

Q scw 200
BSW  *100  *100  40%
Qo  Q w
sc sc
300  200

Q scw 200
BSW  *100  *100  40%
Qo  Q w
sc sc
300  200

Q sc 25000 3
RGO    83,3 m 3
g
sc
Q o 300 m

Q sc 25000 3
RGL    50 m 3
g

Q scL 500 m

2) Um poço produziu 90 m3 de água com BSW = 20% e RGL=120 m3/ m3. Determine a
vazão de óleo e a RGO.
Solução:

Q scw sc 100  BSW 100  20 m3


BSW  sc * 100  Q sc
 Q  90 *  360
Q o  Q scw D
o w
BSW 20
Q sc 
RGL 
g
sc 
QL  Q sc 360 3
sc 
 RGO  RGL o
 120 *  96 m 3
Qg  QLsc
360  90 m
RGO  sc 
Qo 

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2.3 – Modelo black-oil

2.3.1 – Conceituação

Dentre os modelos para o estudo do comportamento de fases de misturas de


hidrocarbonetos, o mais simples é o modelo black-oil. Consiste essencialmente na
suposição de que a mistura de hidrocarbonetos é constituída por apenas dois componentes:
óleo (ou black-oil) e gás. Define-se óleo como conjunto de hidrocarbonetos que permanece
na fase líquida quando a mistura é levada à condição padrão de temperatura e pressão (1
atm e 15,5 ou 20 oC). Igualmente, o gás é considerado como o conjunto de substâncias que
permanece na fase gasosa nas mesmas condições padrão. Observe que o óleo, a rigor, é
composto de inúmeros componente (metano, etano etc.), mas supomos que todos eles
juntos formam um único componente, que denominamos óleo. O mesmo se aplica ao gás.
Para condições de pressão e temperatura diferentes da condição padrão admite-se que a
fase gasosa seja constituída exclusivamente pelo componente gás, e a fase líquida seja
formada por uma mistura dos componentes gás e líquido. A figura 3 mostra
esquematicamente o que acabamos de dizer.

PRESSÃO = 1 atm
TEMPERATURA = 20 ºC ALTA PRESSÃO

Fase gasosa:
Fase gasosa: componente gás
componente gás

Compressão dos
fluidos

Fase líquida: óleo +


Fase líquida: gás dissolvido
componente óleo

Figura 3: Desenho esquemático mostra os componentes e as fases, segundo o modelo


black-oil.

A caracterização destes componentes é feita de modo bastante simples: óleo e gás


são classificados apenas por sua densidade ou, no caso do óleo, pelo seu equivalente grau
API.

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2.3.2 – Propriedades

Sabemos que o gás pode se dissolver no óleo, a depender das condições de


pressão e temperatura. Logo, é fácil compreender que o volume de gás e o volume de
líquido existentes numa mistura varie, à medida que variam a pressão e a temperatura. Para
quantificar essas variações, algumas propriedades serão definidas com auxílio do desenho
da Figura 4. Neste desenho, uma quantidade de fluido é mostrada em duas situações
distintas: inicialmente está submetido a uma pressão P e temperatura T, apresentando-se
na forma de uma fase líquida com gás dissolvido e uma fase de gás livre; na segunda
situação encontra-se expandido, já nas condições padrão de temperatura e pressão, onde o
gás dissolvido na fase líquida foi liberado e o gás inicialmente livre sofreu uma expansão.
Nas condições padrão os valores são denotados pelo superscrito (sc).
Na pressão P e temperatura T, quase todo o gás está dissolvido no óleo, mas é
sabido que algum gás também está dissolvido na água. O volume de gás dissolvido no óleo
é aqui denominado Vgdosc e o dissolvido na água é Vgdwsc. O volume total de gás dissolvido é
a soma dos dois, isto é, Vgdsc = Vgdosc + Vgdwsc.

óleo vivo
óleo morto Vgfsc
gás
água

Vg

Vgd sc

Vo
Vo sc

Vw
Vwsc

P, T 1 atm, 20 oC

Figura 4: Desenho esquemático do processo de expansão de uma mistura óleo, gás e água.

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► ► Razão de Solubilidade do gás no óleo – Rso

É a relação entre o volume do gás dissolvido na fase óleo (a P e T) e o volume da


fase óleo, ambos medidos em condições padrão. Utilizando como referência a Figura 4,
temos que a razão de solubilidade é data por:
sc
Vgdo volume de gás dissolvido no óleo (cond.padrão)
Rso  sc

V o volume de óleo (cond.padrão)

Quanto maior a pressão, maior a quantidade de gás dissolvido no óleo e,


conseqüentemente, maior a razão de solubilidade.

► ► Razão de Solubilidade do gás na água – Rsw

É a relação entre o volume do componente gás dissolvido na fase aquosa (a P e T) e


o volume da fase aquosa, ambos medidos em condições padrão. Tem-se então que:
sc
Vgdw volume de gás dissolvido na água (sc)
Rsw  sc

V w volume de água (sc)

Muitas vezes a Rsw é negligenciada por ser muito baixa. Nestes casos, admite-se
que todo o gás está dissolvido exclusivamente no óleo.
Freqüentemente usa-se o termo razão de solubilidade e se denota por Rs sem
especificar se trata de solubilidade no óleo ou na água. Este é o termo utilizado para indicar
a razão de solubilidade total, isto é, Rs = Rso + Rsw.

► ► Razão Gás-óleo – RGO

É a mesma variável definida anteriormente, porém com uma nova formulação. Trata-
se simplesmente da relação entre a quantidade de gás total e óleo, em condições padrão.
Assim,

Vgdsc  Vgfsc volume de gás total (sc)


RGO  sc

V o volume de óleo (sc)

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De modo semelhante pode-se definir a RGL.

► ► Fator Volume de Formação do óleo – Bo

O Bo é uma medida da variação de volume que se observa no líquido quando o gás


sai de solução. É definido como a relação entre o volume da fase óleo na pressão e
temperatura desejadas e o seu volume nas condições padrão, i.e.,

Vo
Bo 
Vosc

► ► Fator Volume de Formação da água– Bw

É a relação entre o volume da fase aquosa na pressão e temperatura especificadas e


o seu volume nas condições padrão, i.e.,

Vw
Bw 
Vwsc

Da mesma forma que ocorre com o Rsw, freqüentemente as variações de volume da


água são negligenciadas, o que significa adotar Bw = 1.

► ► Fator Volume de Formação do gás (Bg)

Este termo se aplica exclusivamente ao gás livre, sendo definido como:

Vg
Bg 
Vgfsc

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A figura 5 mostra curvas típicas de dependência de Bo e Rs com a pressão .

Rs Bo

Rs - Razão de Solubilidade

Bo - Fator Volume de Formação


do óleo.
pressão pressão

pressão de pressão de
saturação saturação

Figura 5: Comportamento qualitativo de Bo e Rs com a pressão para uma dada temperatura.

Notar que as relações acima são dadas em termos de volumes das fases, mas são
igualmente aplicadas se o volume for substituído por vazão volumétrica.

2.4 - Relações úteis

Algumas relações úteis envolvendo as definições acima permitem o cálculo das


massas específicas do óleo e do gás:

sc
o  R so gd
sc
 sc
o  g 
g

Bo Bg

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Exercícios:
1) Com base na figura abaixo, calcular os valores de Rso, Rsw, Bo, Bw, Bg, RGO, RGL e
BSW. Considere que o gás dissolve-se apenas no óleo e nunca na água.
sc sc
Vgdo 150 m 3 Vgdw 0 Vo 16,5 m 3
Rso    10 Rsw   0 Bo    1,1
Vosc 15 m 3 Vwsc 1m 3 Vosc 15 m 3

Vw 1,02 m 3 Vg10 m 3
B w  sc   1,02 Bg  sc   0,0125
Vw 1m 3 Vgf 800 m 3

RGO 
Vgdsc  Vgfsc

150  800m 3  63,33 RGL 
Vgdsc  Vgfsc

150  800m 3  59,38
Vosc 15 m 3 Vosc  Vwsc 15  1m 3

óleo vivo
óleo morto 800m3
gás
água

10m3
150m3

16,5m3
15m3

1 m3
1,02m3

80 kgf/cm2, 35 oC 1 atm, 20 oC

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3 Interface poço-reservatório

A primeira etapa do escoamento dos fluidos produzidos se dá no meio poroso das


rochas. Este meio poroso ou formação produtora ou ainda reservatório é geralmente
constituída de rocha porosa e permeável, saturada com óleo e/ou gás e/ou água, como
esboçado na figura 5. Nesta figura estão mostrados, numa ampliação esquemática, alguns
grãos constituintes da matriz da rocha e os poros, que são os interstícios entre os grãos.

Figura 5: Calcarenito poroso da Formação Macaé (poros em azul)

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Numa projeção horizontal, o escoamento se dá esquematicamente na forma


mostrada na figura 6. O primeiro desenho desta figura mostra as linhas de fluxo num
escoamento radial, do interior da formação para o poço. O segundo desenho mostra um
típico desvio do escoamento radial em função da existência de uma barreira de
permeabilidade ou fronteira do reservatório.

Figura 6: escoamento radial no meio poroso e desvio do escoamento radial em


função da existência de barreira de permeabilidade.

Também numa forma esquemática, a figura 7 mostra o perfil de pressão no


reservatório numa projeção vertical. A pressão nas proximidades do poço é sempre mais
baixa que no restante do reservatório (a função da elevação é justamente manter essa
pressão baixa). Como conseqüência, ocorre um movimento dos fluidos no reservatório em
direção ao poço. A linha que representa o perfil de pressão tem um valor aproximadamente
constante e alto longe dos poços. Este valor corresponde à pressão estática do
reservatório. Nas regiões onde há drenagem de fluidos (próximo aos poços) a pressão sofre
considerável redução e, na posição exata do poço, seu valor corresponde à pressão de
fundo em fluxo.

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O perfil de pressão no reservatório é função das propriedades dos fluidos e as da


própria rocha, tais como viscosidade, permeabilidade, porosidade etc. A pressão de fundo
em fluxo é uma característica do poço e depende de diversos fatores, inclusive da vazão
que o poço produz; por outro lado, a pressão estática é uma característica do reservatório2 e
é absolutamente independente das características dos poços. Observa-se que os dois
poços representados nesta figura, mesmo tendo o mesmo valor de pressão estática,
produzem com diferentes valores de pressão de fundo em fluxo.

Poço 1 Poço 2

Rocha impermeável

Pressão

Rocha produtora

Distância

Rocha impermeável

Figura 7: perfil de pressão ao longo do reservatório com 2 poços produtores.

A diferença entre a pressão estática e a pressão de fundo constitui a energia que faz
com que o óleo, a água e o gás migrem do interior do reservatório em direção ao poço.
Logo, quanto maior a pressão estática ou menor a pressão de fundo, maior deve ser a
vazão escoada para o poço.
Para quantificar esta perda de carga seria necessário conhecer, além das leis que
governam o escoamento dos fluidos em meios porosos, algumas propriedades da rocha e
dos fluidos como, por exemplo, viscosidade, permeabilidade, saturação, porosidade e
espessura do reservatório. Este enfoque, porém, sob a ótica da elevação e escoamento, é
difícil e impreciso. Uma abordagem muito mais simples, direta e precisa é estabelecer um
índice de produtividade (IP) do poço. Para definir o IP tome-se como exemplo o

2 Mais precisamente, a pressão estática é característica de uma determinada região do reservatório e pode
apresentar valores diferentes para diferentes regiões. Isto, porém, não será abordado aqui em detalhes.
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esquemático da Figura 8. Neste exemplo admite-se que o poço esteja produzindo uma
vazão de líquidos QL. Este escoamento é causado por uma diferença de pressão P entre a
pressão estática de reservatório (Pe) e a pressão de fundo de poço (Pwf). Assim, o índice de
produtividade é definido como

QL QL
IP  
P Pe  Pwf

Figura 8: desenho esquemático de um corte transversal num reservatório. Os fluidos escoam


do interior do reservatório (região de alta pressão) em direção ao poço (região de
baixa pressão).

Através de testes de campo e modelagem do escoamento, observou-se que o índice


de produtividade é razoavelmente constante, independentemente da vazão de produção.
Em outros termos, a relação explicitada pela equação acima pode ser considerada válida
para muitas situações. Disto resulta que a vazão pode ser considerada uma função linear do
P, como mostra a figura 10. Esta curva representa o desempenho da formação produtora
na região do poço e é comumente denominada IPR. Também pode ser encontrada com a
denominação curva de pressão disponível do reservatório (CPD).

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Em resumo, os principais parâmetros de reservatórios de interesse são pressão estática de


reservatório (Pe) e índice de produtividade (IP). Ambos podem ser medidos durante um
teste de produção. Estes parâmetros se relacionam com a pressão de fundo em fluxo
através da equação que define o IP, que também podem aparecer nas formas abaixo.

Q L  IPPe  Pwf 

QL
Pwf  Pe 
IP

250
P = Pressão estática

200
pressão

150

100
Q = A.O.F.
Absolute Open Flow
50

0
0 200 400 600 800 1000

vazão

Figura 9: curva de desempenho a formação – IPR.

Esta relação linear entre pressão de fundo em fluxo e vazão não é absolutamente
verdadeira para qualquer situação. Em particular, quando existe gás livre presente no
reservatório essa relação deixa de ser válida e deve ser substituída por outros modelos mais
adequados. Contudo, estes modelos constituem uma sofisticação desnecessária no
momento.

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Ao longo do tempo a pressão estática do reservatório e o índice de produtividade podem


sofrer alterações. Os efeitos dessas alterações sobre a curva de pressão disponível do
reservatório podem ser observados na figura 10 e na figura 11. Em resumo, o IP
determina a inclinação das curvas, já que mesmo variando a pressão estática e
mantendo-se o IP as curvas se mostram paralelas. Já na situação que mostra diferentes
valores de IP, nota-se a diferente inclinação das curvas.

Efeito da pressão estática 200 160 120

250

200
pressão

150

100

50

0
0 200 400 600 800 1000

vazão

Figura 10: curvas de IPR (ou CPD) para diferentes valores de pressão estática e mesmos
valores de IP.

Efeito do IP 40 10 5

250

200
pressão

150

100

50

0
0 200 400 600 800 1000

vazão

Figura 11: curvas de IPR (ou CPD) para diferentes valores de IP, mas com o mesmo valor de
pressão estática.

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Exercício

1. Assinale verdadeiro ou falso nas afirmativas abaixo.


a) (F) Diferentes curvas de IPR, porém paralelas, correspondem à mesma pressão estática.
b) (V) Uma mudança na pressão estática não altera a inclinação da curva de IPR.

c) (V) Uma alteração na inclinação da curva de IPR corresponde a uma alteração do IP.
d) (V) A AOF (absolute open flow) é a vazão que o poço produziria com pressão de fundo
igual a zero.

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4 Escoamento monofásico

Alguns conceitos envolvendo perda de carga em escoamento monofásico serão


discutidos a seguir. A perda de carga é a medida da diferença de pressão entre dois pontos
de uma tubulação, ou seja, é a diferença de pressão entre montante e jusante do
escoamento.
Será apresentado o equacionamento para cálculo da pressão ao longo de uma
tubulação. Embora não seja aqui explicitado em detalhes, estas equações podem ser
obtidas com aplicação do princípio da conservação da quantidade de movimento a um
fluido.

4.1 – Escoamento incompressível

O escoamento é dito incompressível quando os fluidos não sofrem significativa


variação de densidade ao longo do processo. Consideremos a figura 12, abaixo.

P2

g
P1

Figura 12: esquemático de um trecho de tubulação com escoamento ascendente.

Neste esquema, o escoamento se dá a partir do ponto inferior da tubulação em


direção ascendente. Admitindo que se trata de um fluido incompressível, a perda de carga
tem duas componentes distintas: friccional e gravitacional.

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A primeira – fricção – é promovida pelo atrito entre o fluido e a parede da tubulação.


A Figura 13 mostra um típico perfil de velocidades numa tubulação de seção circular com
escoamento monofásico, onde se observa que próximo à parede a velocidade do fluido é
pequena e cresce progressivamente em direção ao centro. Pode-se entender o fenômeno
como se a parede “freasse” o fluido, causando assim uma perda de energia devido ao atrito
(ou fricção).

A perda de carga por fricção é dependente de algumas variáveis, sendo que as de


efeito mais facilmente observável são:
 Viscosidade: quanto mais viscoso o fluido, mais difícil é deformá-lo. Para visualizar este
efeito o singelo exemplo doméstico do escoamento de mel numa colher é ilustrativo,
principalmente se comparado com o escoamento de água, que é um fluido pouco viscoso,
nas mesmas circunstâncias.
 Velocidade: maior velocidade significa maior força de atrito com a parede da tubulação;
logo, maior a perda de carga.


velocidade

Figura 13: perfil de velocidades numa tubulação.

A segunda componente da perda de carga é causada pela força gravitacional e


equivale à energia necessária para mover uma porção de fluido contra a força da gravidade.
Esta componente é função da inclinação da tubulação. Assim, a componente gravitacional
da perda de carga no desenho esquemático da

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Figura 12 é proporcional ao seno de . Se  for 90º, significando uma tubulação vertical, a


perda de carga gravitacional seria a máxima possível. Caso ela seja horizontal, isto é,  = 0,
esta componente seria nula. Além disso, a perda de carga por gravidade depende da massa
específica, ou densidade do fluido.

4.1.1 – Perfil e gradiente de pressão

A representação gráfica da pressão ao longo de uma tubulação (poço ou linha) é


denominada perfil de pressão.
A diferença de pressão entre dois pontos de uma tubulação é denominada perda de
carga e é usualmente denotada por P.

A inclinação da curva do perfil de pressão, ou seja, a relação entre a variação da


pressão para um trecho de tubulação e o comprimento deste trecho, é denominada
gradiente de pressão. Em notação matemática, temos:

P
gradiente de pressão 
L

Esses conceitos podem ser melhor fixados através de um exemplo como o da


Figura 14. Mostra-se ali o perfil de pressão numa tubulação horizontal para três valores
distintos de vazão; a pressão na entrada da tubulação (pressão a montante) é PM. A pressão
na saída (pressão a jusante) tem três valores, um para cada vazão, PA, PB e PC. A origem da
diferença de pressão (perda de carga) entre a entrada e a saída da tubulação é o atrito do
fluido com as paredes do duto. Para o caso A, em que a vazão é nula, observa-se que a
pressão na saída é igual à pressão na entrada. Portanto P é nulo e o gradiente de pressão
também. Para o caso B a pressão a jusante é menor, significando que o gradiente de
pressão é:

P P  PM
 B 0
L B L

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Nota-se que, pela definição acima, o gradiente de pressão é negativo, significando


simplesmente que a pressão diminui na medida em que se avança na tubulação. Porém, por
questão de praticidade, usa-se negligenciar o sinal e expressar o gradiente de pressão
sempre como módulo. Em notação matemática:

 P  P  PM
gradiente de pressão     B 0
 L  B L

No caso C, finalmente, em que a vazão é a maior de todas, a perda de carga na


tubulação é máxima e o gradiente de pressão em módulo é também maior. Ou seja,

 P   P 
   
 L  C  L  B

Em resumo, o gradiente de pressão é nulo para o caso de vazão nula e seu valor
absoluto cresce à medida que a vazão aumenta.

PM PA
QA = 0
PB
Pressão
QB
Q A < QB < QC

PC

QC

comprimento

Figura 14: perfil de pressão numa tubulação horizontal.

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A figura 15 mostra uma situação semelhante, mas com escoamento vertical ascendente.
Neste caso, consideramos apenas um valor de pressão a jusante (PJ) e diferentes valores
para a pressão a montante (no fundo do poço), a depender da vazão. Observa-se que o
valor do gradiente de pressão embora aumente (em módulo) com o aumento de vazão, ao
contrário do que ocorre com o escoamento horizontal, não é nulo para vazão zero. Isto se
deve ao fato de haver desde o início um gradiente de pressão resultante do próprio peso do
fluido (gradiente gravitacional). Para valores de vazão diferentes de zero, nota-se que a
pressão de fundo aumenta, o que se deve à existência de uma perda de carga por fricção,
além da gravitacional já mencionada.

PJ

Q A < Q B < QC

comprimento
QA = 0

QB

QC

Pressão PA PB PC

Figura 15: perfil de pressão numa tubulação vertical.

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4.1.2 – Equacionamento

O cálculo do gradiente de pressão (P/L) é modelado separadamente para suas


duas componentes: fricção e gravitacional. O termo para cálculo do gradiente de pressão
por fricção em tubulações é mostrado na equação abaixo, onde f é o fator de atrito de
Fanning, d é diâmetro da tubulação, v é a velocidade e  é a massa específica do fluido. O

termo v corresponde ao módulo ou valor absoluto da velocidade; é um valor sempre

positivo.

P fv v
 2
L ATRITO d

Alguns importantes parâmetros do escoamento estão presentes nesta equação.


Primeiramente, temos a velocidade média do fluido na seção transversal da tubulação (v).
Este termo pode ser calculado simplesmente como a relação entre a vazão volumétrica (Q)
e a área da tubulação (A), ou seja,

Q
v
A

É compreensível que a perda de carga por atrito seja dependente da velocidade, já


que quanto maior esta, maior deve ser a perda de energia do fluido por fricção com as
paredes do tubo. Além disso, a relação de dependência entre perda de carga e velocidade é
quadrática, o que a torna o parâmetro mais importante da equação. Cabe lembrar que, na
definição de velocidade da equação acima, a vazão é dada em condições locais, e não em
condições padrão.
Outro termo importante é o fator de fricção (f), que é dependente da velocidade, da
viscosidade, do diâmetro da tubulação, da massa específica do fluido e da rugosidade da
parede interna da tubulação. Embora seja objeto dos cursos específicos de escoamento
monofásico, mais adiante será apresentada uma das formas de cálculo de f.

Observando-se mais atentamente a equação acima, nota-se que, caso a velocidade


seja positiva, isto é, caso o fluido escoe no sentido da tubulação que consideramos positivo,
o gradiente de pressão é negativo. Isto significa, simplesmente, que a pressão diminui na
direção do escoamento.

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O termo para cálculo do termo gravitacional é mostrado na equação abaixo. Os


únicos fatores a influir neste termo são a massa específica do fluido () e da inclinação da
tubulação () em relação à horizontal.

P
  gsen  
L GRAVIDADE

Também aqui há que se averiguar o sinal do termo. Se considerarmos que o sentido


positivo da tubulação é o que aponta para cima, temos que o ângulo  é positivo, logo sen()
também o é e, conseqüentemente, o gradiente de pressão é negativo. Em outras palavras a
pressão diminui à medida que subimos na tubulação. Veja que não importa a direção em
que o fluido se movimenta, mas apenas a inclinação da tubulação em relação à horizontal. A
figura 16 Ilustra o que acabamos de dizer.

P1

P2



P1
P2


 > 0  P1 > P2  P < 0  < 0  P1 < P2  P > 0

Figura 16: ilustrativo do sinal de P em função da inclinação da tubulação.

O gradiente de pressão total é simplesmente a soma destes dois termos, isto é,

P P P
 
L TOTAL L ATRITO
L GRAVIDADE
P fv v
  2  gsen  
L TOTAL d

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Um fato significativo nestas equações é que o termo gravitacional é independente da


vazão produzida. Já o termo de fricção é função quadrática da vazão. Assim, por exemplo,
ao se dobrar a vazão, deve-se esperar que o termo gravitacional permaneça invariável, mas
o de atrito quadruplique (aproximadamente).
Finalmente, a perda de carga numa tubulação é obtida diretamente do gradiente e do
comprimento da tubulação, na forma abaixo, onde L é o comprimento total da tubulação.

P
P  L
L TOTAL

Exemplo:
Admita-se água (densidade = 1) escoando por uma tubulação inclinada com ângulo de –8o
(descendente) de 10 cm de diâmetro e 1000 m de comprimento, numa vazão de 2500 m3/d. Considerar
f = 0.005. Determinar a perda de carga (P) na tubulação.
Solução:
As equações utilizadas requerem que se trabalhe num sistema de unidades coerente, ou seja,
num sistema de unidades onde cada grandeza seja representada por apenas uma unidade. Por
simplicidade, escolheremos o Sistema Internacional (SI), onde as grandezas são o metro (m), o
kilograma (kg) e o segundo (s).
Esquematicamente, temos:
2500 m3/d


10 cm
1000 m

Sentido positivo da
tubulação

d  0.1 m (diâmetro da tubulação)


d 2
A  0.007854 m 2 (área da secção transversal da tubulação)
4
m3 m3 m3
Q  2500  2500  0.02894 (vazão volumétrica nas unidades do SI)
d 86400  s s
m3
Q 0.02894 s  3.684 m (velocidade média na seção transversal)
v 
A 0.007854 m 2 s
A densidade do fluido é 1. Logo, sua massa específica é

  d   wsc  1 1000 kg 3  1000 kg


m m3
O termo de fricção é

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 P  2f 2 0.005 kg Pa
    v v   1000 3.6842  1357 2 2  1357
 L  fricção d 0.1 ms m

O resultado acima nos diz que a cada metro a pressão se reduz (valor negativo) em 1357 Pa, devido
exclusivamente à fricção.

O termo gravitacional é:
 P 
   
   g sen  1000 9.807 sen  8o  1365
Pa
 L  gravitacional m

Este valor assim calculado nos mostra que a cada metro a pressão aumenta em 1365 Pa
devido à ação da gravidade. Isto deve ser intuitivo, já que no escoamento descendente espera-se que a
pressão aumente à medida que o fluido caminha na tubulação.
O gradiente de pressão total é a soma dos dois anteriores, ou seja,

 P  Pa
   1357  1365  8
 L  total m

Desta forma, tem-se que a perda de pressão total é o produto do gradiente calculado pelo comprimento
da tubulação, ou seja,

 P  kgf
P    L  8  1000  8000 Pa  0.08 bar  0.082
 L  total cm 2

Este resultado mostra que, embora haja uma considerável redução da pressão devido ao atrito,
há também um considerável ganho de pressão devido à gravidade, de modo que os dois quase se
compensam totalmente. Como resultado prático, a perda de carga efetiva na tubulação é quase nula,
mas positiva, significando que há um pequeno aumento de pressão do início até o final da tubulação.

O fator de atrito pode ser determinado de várias formas. Freqüentemente está


associado ao número de Reynolds (NRe), definido por:

vd
N Re 

onde  é viscosidade dinâmica do fluido,  é a massa específica, v é a velocidade e d é o


diâmetro interno da tubulação. Todas estas grandezas devem estar expressas num sistema
coerente de unidades.

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Para escoamento laminar (NRe abaixo de 2000) e tubo liso (rugosidade nula) f toma a
forma:

16
f
N Re

Para escoamento turbulento pode-se adotar a relação dada por Drew (1) (referencia)
válida para 3000 < NRe < 106.
0.32
0.0056  0.5N Re
f
4

Ou ainda a equação de Blasius (2) (referencia) válida para 3000 < NRe < 105.
0.25
0.316N Re
f
4

4.2 – Escoamento compressível

O escoamento compressível é aquele em que ocorrem significativas variações da


massa específica do fluido durante o percurso ao longo das tubulações ou restrições.
Tipicamente isto ocorre em escoamento de gás, já que à medida que a pressão varia ao
longo do escoamento, naturalmente a massa específica varia na mesma proporção. Logo,
se há alteração de massa específica, ou seja, se o gás está mais ou menos comprimido, há
também uma variação da vazão volumétrica e, conseqüentemente, da velocidade do gás.
Notar que isso não significa, em absoluto, um aumento da vazão mássica de gás, ou seja, a
quantidade de gás (em kg/s, por exemplo) que atravessa uma determinada seção
transversal da tubulação é a mesma que atravessa qualquer outra seção, mesmo distante;
apenas a velocidade terá mudado porque no trajeto o gás se tornou mais ou menos
rarefeito.

Desta forma, as variações de massa específica, de velocidade e de viscosidade do


fluido afetam as componentes da perda de carga por fricção e gravitacional. Ou seja, o
gradiente de pressão não é mais constante ao longo da tubulação, mas pode variar de
acordo com as condições locais.

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Rigorosamente, no escoamento compressível há um terceiro componente de perda


de carga. Como ilustração, vamos utilizar o esquema da figura 12; admitamos ainda que o
fluido seja gás e a pressão no início da tubulação, P1, seja mais alta que P2. Neste caso o
gás no início da tubulação está mais comprimido (alta massa específica), e sofre expansão
em direção ao ponto 2, o que implica em aumento da velocidade. O aumento de velocidade
(aceleração) implica na existência de uma força que atua sobre o fluido na direção do
escoamento. Esta força atuando na área da tubulação corresponde a um gradiente de
pressão adicional, assim chamado gradiente de pressão por aceleração. A equação que
descreve este termo adicional é:

P v
  v
L ACELERAÇÃO L

A primeira quantidade que aparece nesta definição é a massa específica (),


significando que quanto maior esta, maior será o gradiente de pressão por aceleração (em
módulo). Isto deveria ser intuitivo, já que, quanto maior a massa (ou seja, quanto mais
“pesado”) for um fluido, tanto mais difícil deve ser acelerá-lo. Em seguida aparece a
velocidade (v) e sua variação ao longo da tubulação (v/L), significando que quanto maior
a velocidade ou quanto mais se deseja que esta varie ao longo da tubulação, tanto maior
será o gradiente de pressão necessário.
Desta forma, considerando todas as parcelas de perda de carga já vistas, o gradiente
de pressão total numa tubulação onde escoa um fluido compressível é:

P P P P
  
L L ATRITO L GRAVIDADE L ACELERAÇÃO
P fv 2 v
  2  gsen    v
L d L

Deve-se notar que os cálculos já não são tão simples neste tipo de escoamento.
Primeiramente porque a massa específica () não é constante ao longo da tubulação, mas
depende da pressão. Em segundo lugar porque é necessário conhecer o perfil de
velocidade (v) ao longo da tubulação, mas esta velocidade também depende do perfil de
pressão.

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Para situações ordinárias a perda de carga por aceleração é pequena quando


comparada aos outros termos. Por esta razão, é freqüentemente desprezada e o problema é
tratado com a mesma equação do escoamento incompressível. Isto, porém, não reduz muito
significativamente o esforço de cálculo, porque o valor da massa específica continua
dependente da pressão. Geralmente, exceto para casos muito particulares, este tipo de
problema é resolvido por um método numérico, geralmente iterativo, segmentando a
tubulação em pequenos trechos. Os simuladores de escoamento geralmente empregam
esta técnica.
A figura 17 mostra perfil de pressão típico para o escoamento horizontal
compressível. A diferença entre este e o do escoamento incompressível é a curvatura
negativa do perfil de pressão. Isto ocorre principalmente (mas não exclusivamente) pelo
aumento da perda de carga por fricção. De fato, à medida que o fluido caminha na
tubulação, ele se expande. Esta expansão gera um aumento da velocidade que, por sua
vez, causa um aumento da fricção com o conseqüente aumento da perda de carga total.

Figura 17: perfil de pressão no escoamento horizontal compressível.

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Exercício
Com base no desenho da Figura 17, responda as seguintes questões:
a) o gradiente de pressão é maior no início ou no final da tubulação? Por que?
b) Num determinado trecho da tubulação o gradiente de pressão para a vazão QB é maior ou menor
que o da vazão QC?
Respostas:
a) é maior no final da tubulação porque, para uma mesma distância, tem-se maior variação de pressão.
Ou seja, a curva que representa o perfil de pressão é mais inclinada no final da tubulação.
b) é maior para a vazão Qc, já que para a mesma distância observa-se para esta vazão uma maior
variação de pressão.

4.3 –pressão requerida e pressão disponível

O gradiente de pressão, como se observa pelas equações anteriores, depende de


diversas variáveis; todavia, uma das mais importantes é a vazão (ou velocidade, já que
ambas estão relacionadas). Para verificar esta dependência considere-se o escoamento
horizontal de um fluido incompressível como mostrado na fFigura 18 para uma tubulação de
1000 m de comprimento. Observa-se que diferentes valores de velocidade resultam em
valores de gradiente de pressão também diferentes. Logo, considerando que a pressão a
montante (no início) da linha é sempre constante e igual a 10 kgf/cm2, resulta que a pressão
a jusante (no final) da linha é dependente da velocidade (ou vazão). Esta relação de
dependência pode ser expressa graficamente na forma mostrada na f Figura
19. A abscissa desta figura é a vazão, ao invés de velocidade, meramente por conveniência.

Figura 18: escoamento horizontal de fluido incompressível. Pressão a


montante constante de 10 kgf/cm2.

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Figura 19: curva de pressão disponível vs Vazão.

A curva apresentada nesta figura é denominada curva de pressão disponível


(CPD). Ela indica o quanto “sobra” de pressão no final da linha para cada valor de vazão.
Quanto maior a vazão, menor a pressão disponível no final da linha, ou seja, para maior
vazão o fluido “perde” mais energia na tubulação e chega ao final com energia mais baixa
(menor pressão).
O mesmo tipo de raciocínio pode ser desenvolvido no sentido inverso, ou seja,
considerando que a pressão de jusante é constante. Nesta situação, a pressão de montante
pode ser calculada e se torna dependente da vazão, como mostra a Figura 20. De fato, o
valor da pressão a montante da tubulação pode ser entendido como o valor necessário para
que o fluido chegue ao final com uma pressão ainda de 10 kgf/cm2, considerando a perda de
energia ao longo da tubulação. Como anteriormente, a dependência entre vazão e pressão
pode ser expressa na forma gráfica o que mostra a Figura 21. Esta curva é denominada
curva de pressão requerida (CPR) e indica qual a pressão necessária no início da linha
para fazer com que o fluido chegue ao final com uma pressão especificada (neste caso, 10
kgf/cm2).

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Figura 20: escoamento horizontal de fluido incompressível. Pressão a


jusante constante de 10 kgf/cm2.

Figura 21: curva de pressão requerida.

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O mesmo tipo de raciocínio se aplica ao escoamento vertical para geração das


curvas de pressão requerida e disponível. Embora os exemplos anteriores fossem restritos
ao escoamento monofásico incompressível, os conceitos de pressão requerida e disponível
podem ser estendidos facilmente para fluxo multifásico e compressível.
As curvas de pressão requerida e disponível são classificadas como curvas de
sistema. Elas apresentam a pressão num determinado ponto da tubulação em função da
vazão (P vs. Q). Ao contrário, as curvas de perfil, vistas anteriormente, mostram a pressão
em todo a extensão da tubulação para um determinado valor de vazão (P vs. L).

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5 Escoamento multifásico

5.1 - Generalidades
Diz-se que um escoamento é multifásico quando existe deslocamento simultâneo de
fluidos que se apresentam em mais de uma fase. Água e ar escoando através de uma
tubulação, por exemplo, formam uma mistura bifásica, isto é, com duas fases: uma líquida e
uma gasosa. O escoamento normalmente encontrado na produção de petróleo é, porém, o
trifásico, com duas fases líquidas e uma gasosa – água, óleo e gás. Para efeito de
simplicidade, porém, este escoamento é freqüentemente tratado como bifásico, com uma
fase líquida (óleo + água) e uma fase gasosa (gás natural). Neste texto o termo multifásico
se refere exatamente a este tipo de escoamento, ou seja, bifásico líquido-gás.
Na produção de petróleo o escoamento multifásico aparece em duas situações: a
primeira é no meio poroso (reservatório) e seu estudo e compreensão é objeto de matéria
específica; na segunda – geralmente denominada pelo termo genérico produção - o
escoamento se dá na coluna de produção e na linha de surgência, e seu conhecimento
permite o dimensionamento das tubulações, dos equipamentos de elevação artificial e a
determinação das vazões de operação de um poço ao longo de sua vida produtiva, além de
ser conhecimento básico para a solução de problemas diversos.
A maior parte da pressão disponível em um reservatório de petróleo, usada para elevar
os fluidos até os separadores de produção, é perdida no fluxo vertical multifásico – F.V.M.
Tome-se, por exemplo, um poço de petróleo produzindo de um reservatório com as
seguintes características:
 Profundidade.................................... 3000 m
 Pressão estática do reservatório........ 210 kgf/cm2
 Razão gás–óleo............................... 130 m3/m3
 Diâmetro da coluna............................. 3 ½ pol
 Pressão na cabeça do poço................ 14 kgf/cm2

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A tabela 2 ilustra a percentagem da pressão disponível perdida no reservatório, no fluxo


vertical e no fluxo horizontal.
IP Vazão de óleo % de queda de pressão
m3/d/kgf/cm2 m3/d Reservatório Elevação Coleta
2,5 2700 36 57 7
5,0 2700 26 68 7
10,0 4500 15 78 7
15,0 4800 11 82 7
Tabela 2: percentagem de queda na pressão estática durante o escoamento
do fluido do reservatório até a planta de processo.

5.2 - Padrões de escoamento


O primeiro fato notável a respeito do escoamento multifásico gás-líquido é que os
dois fluidos não escoam com a mesma velocidade. No escoamento ascendente (como na
coluna de produção) e no horizontal (como nas linhas) o gás tende a adquirir velocidade
mais alta que o líquido e isto tem conseqüências sobre o comportamento de pressão nas
tubulações.
Outro fato diz respeito à topologia do escoamento, ou seja, à forma como gás e
líquido se arranjam e se interpõem no interior da tubulação. Inúmeros experimentos
realizados ao longo de algumas décadas detectaram alguns arranjos básicos dos fluidos em
escoamento e os classificaram de acordo com seu aspecto. Esses arranjos, denominados
arranjos de fases ou padrões de escoamento, são diferentes para o escoamento
horizontal e vertical. Sua classificação depende do investigador, mas usualmente admite-se
uma divisão geral conforme mostrada a seguir.
Para o escoamento vertical os arranjos normalmente encontrados são mostrados
esquematicamente na figura 22. Os arranjos que se observam num determinado poço são
função de diversos parâmetros de escoamento, principalmente das velocidades do líquido e
do gás. É usual ocorrerem diferentes padrões em diferentes partes de um mesmo poço.

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BOLHAS GOLFADAS TRANSIÇÃO ANULAR

Figura 22: arranjo de fases para escoamento vertical bifásico líquido-gás.

No primeiro tipo de escoamento – bolhas – a fase contínua é a líquida e o gás flui na


forma de bolhas dispersas. Exceto pela baixa densidade, é pouca a influência do gás no
gradiente de pressão. É tipicamente o padrão de escoamento encontrado com baixa
velocidade de gás.
No escoamento em golfadas a fase contínua também é a líquida. O gás flui em
bolhas com formato de projétil (bolha de Taylor) seguido por um pistão de líquido, além de
uma grande quantidade de pequenas bolhas dispersas na massa líquida. Ambas as fases
tem forte influência no gradiente de pressão.
O escoamento no padrão de transição ou caótico ocorre para velocidades altas de
gás e moderadas de líquido. Ambas as fases são descontinuas e tem grande impacto no
gradiente de pressão. Neste padrão, não existem formas características das porções de
líquido e de gás.
Finalmente no último padrão – anular – o gás passa a ser a fase contínua, ficando o
líquido na forma de gotas dispersas no núcleo central gás, além de um filme aderido a
parede. O gás tem influência predominante no gradiente de pressão. Este padrão é
observado para altas velocidades de gás.

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Também o escoamento horizontal apresenta diferentes arranjos de fase, porém, com maior
diversificação. A figura 23 apresenta esses padrões. Embora haja diversas classificações,
aqui eles são divididos em quatro classes, a saber, segregado, intermitente anular e bolha,
cada um com subdivisões.

Figura 23: padrões de fluxo para escoamento horizontal bifásico líquido-gás.

A classe de escoamento segregado apresenta as fases líquida e gasosa ocupando


espaços bem definidos da tubulação e divide-se em dois padrões, estratificado e
ondulado. Em ambos a fase líquida ocupa a parte inferior da tubulação, havendo uma
completa separação entre líquido e gás; a diferença é apenas o grau de ondulação da
interface.
O escoamento intermitente divide-se em dois padrões, a saber, bolha alongada e
golfada. Em ambos observa-se a alternância entre fases.

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Na classe anular o líquido ocupa as paredes da tubulação e o gás, o núcleo. Podem haver
gotas de líquido dispersas no meio gasoso. Apresenta basicamente dois padrões, que são o
anular, propriamente dito, e o anular com ondas.
Finalmente, o padrão bolhas se assemelha ao de mesmo nome do escoamento
vertical e consiste num grande número de bolhas dispersas de modo mais ou menos
homogêneo num meio líquido.

5.3 – Hold-up
Numa seção transversal de uma tubulação multifásica, num determinado tempo,
normalmente parte do espaço é ocupado por líquido e o restante por gás, como mostrado na
figura 24. Define-se, assim, a fração de residência da fase como a fração da área da
seção transversal ocupada pela fase em questão. As frações de residência das fases
gasosa e líquida são mostradas nas equações abaixo. Obviamente, variam entre zero e 1.
A G área ocupada pelo gás
HG  
A área da tubulação
A L área ocupada pelo líquido
HL  
A área da tubulação

A fração de residência da fase líquida (HL) também é denominada hold-up, que é um


termo mais difundido na indústria. O melhor meio de se determinar o hold-up é realizar
medições diretamente na tubulação. Porém, isto é quase sempre tecnicamente e
economicamente inviável, o que requer uma forma alternativa para sua determinação. De
uma forma mais simples, o hold-up pode ser calculado através de correlações
especialmente elaboradas para este fim a partir de algumas variáveis, onde as principais
são as velocidades do líquido e do gás. Porém, essas correlações são função do padrão de
escoamento. Ou seja, deve-se primeiramente conhecer o arranjo de fases de um
escoamento para depois determinar o hold-up.
O hold-up é uma variável de grande importância porque permite calcular as
propriedades médias do fluido. Assim, propriedades como densidade, viscosidade, etc. da
mistura são calculadas como média das propriedades individuais de cada fase, ponderada
pelo hold-up.
A massa específica de uma mistura líquido-gás deve ser calculada com base no
hold-up, conforme a equação abaixo.
 m   L H L   G 1  H L 
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Esta equação estabelece a massa específica da mistura (m) como uma média
entre a massa específica do líquido (L) e a do gás (G), ponderada pelo hold-up.

Fase gasosa
Área da fase
gasosa

Fase líquida

Área da fase líquida

Figura 24: separação entre fases numa tubulação.

5.4 – Escorregamento
Líquido e gás não escoam por uma tubulação (e nem mesmo num meio poroso) com
a mesma velocidade. De fato, há o efeito denominado escorregamento, que consiste em
velocidades diferenciadas para cada fase sendo que, em geral, a velocidade do gás é mais
alta. A quantificação deste escorregamento, isto é, da diferença de velocidades entre as
fases, é necessária para a determinação dos perfis de pressão e temperatura ao longo das
linhas. Por outro lado o escorregamento é função do padrão de escoamento (figuras acima)
e do hold-up. E, adicionando um pouco mais de complexidade, o padrão de escoamento
também é função da pressão e da temperatura locais. Assim, estabelece-se uma relação de
interdependência entre padrão de escoamento, hold-up, escorregamento, pressão,
temperatura e propriedades dos fluidos, onde cada uma dessas quantidades é função das
demais.

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O escoamento multifásico é modelado por equações muito semelhantes à do


monofásico. Entretanto, o padrão de escoamento passa a ter importância porque auxilia no
cálculo da diferença de velocidades entre fases. Essa diferença de velocidade, por sua vez,
é necessária para calcular as frações de líquido e gás na tubulação e, por conseguinte,
determinar a massa especifica, viscosidade, além de outras características da mistura
líquido-gás.
O nível de complexidade envolvido nos cálculos de perda de carga em escoamento
multifásico é bastante elevado. Numa visão simplificada, pode-se dizer que são necessárias
uma equação para o líquido (escoamento incompressível), outra para o gás (escoamento
compressível) e uma adicional para a interação entre ambos.
Hoje são disponíveis programas de computador capazes de realizar estes cálculos
num tempo relativamente curto. Assim, grande parte do esforço de cálculo é eliminado. O
detalhamento destas correlações, mapas de fluxo, cálculo de hold-up etc. são objetos de um
curso específico.

5.5 – Perfil de pressão


Mesmo não recorrendo a equações para calcular a perda de carga e demais
parâmetros do escoamento, deve-se compreender o comportamento qualitativo da perda de
carga em escoamento multifásico. Isto será feito através dos conceitos anteriormente
estudados de perfil de pressão e de gradiente de pressão.
O perfil de pressão é a representação gráfica da pressão em função da posição na
tubulação. A figura 25 mostra um típico perfil de pressão numa tubulação vertical (poço) em
escoamento multifásico.
O principal ponto a ressaltar é a curvatura do perfil. Ou seja, o gradiente de pressão,
definido como P/T, representando a inclinação da curva, não é constante. No fundo do
poço o gradiente de pressão é maior (curva mais inclinada) do que próximo à superfície.

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Pwh Pressão
Pwh

P P
 pequeno
L Pwh – Pressão na cabeça
L
Pwf – Pressão de fundo

ELEVAÇÃO
Pe – Pressão estática da formação

Perfil de pressão

Profundidade
dinâmico multifásico

P
P
 grande
L
L

Pe Pwf Pwf

Figura 25: perfil de pressão em escoamento multifásico.

Ao contrário do escoamento monofásico de fluido incompressível, neste caso a curva


de perfil de pressão não é uma reta. Para compreender as razões deste comportamento há
que se analisar o que ocorre com cada componente da perda de carga.
Primeiramente, à medida que o fluido caminha na tubulação, ocorre uma redução da
pressão, o que promove liberação do gás que está em solução no óleo, além de expansão
do próprio gás livre. Assim, ocorre também uma diminuição do hold-up econseqüentemente,
uma redução na massa específica média do fluido. Em outras palavras, como gás é mais
leve que o líquido, o aumento do volume de gás causa uma redução na densidade média, o
que reduz ao longo da coluna a componente gravitacional da perda de
carga.Esquematicamente, a figura 26 mostra o que acontece com o fluido à medida que
ele caminha na tubulação no sentido ascendente.

QUANTIDADE
DE GÁS LIVRE MASSA PERDA DE CARGA
PRESSÃO HOLD-UP ESPECÍFICA DEVIDA À GRAVIDADE
DA MISTURA
VOLUME DO GÁS

Figura 26: esquemático do que ocorre com as variáveis do escoamento vertical à medida
que o fluido sobe na tubulação e seu efeito sobre a perda de carga por gravidade.

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A componente de fricção (atrito) da perda de carga também sofre variação ao longo da coluna.
À medida que ocorre a expansão dos fluidos, a velocidade do escoamento aumenta. Assim, no
fundo do poço a velocidade é menor que próximo à superfície e, por conseguinte, a perda de
carga por atrito aumenta no trajeto. A figura 27 ilustra esta afirmação. Observe que, embora a
massa específica da mistura diminua, o que tende a reduzir a perda de carga por atrito, a
velocidade aumenta. Como a perda de carga varia linearmente com a massa específica, mas
quadraticamente com a velocidade, esta variável se torna preponderante.

MASSA
HOLD-UP ESPECÍFICA
DA MISTURA
QUANTIDADE
DE GÁS LIVRE PERDA DE CARGA
PRESSÃO DEVIDA AO ATRITO
VOLUME DO GÁS

VELOCIDADE

Figura 27: esquemático do que ocorre com as variáveis do escoamento vertical à medida que o
fluido sobe na tubulação e seu efeito sobre a perda de carga por atrito.

Por razões semelhantes às expostas acima a terceira componente da perda de carga


– a aceleração – também aumenta à medida que o fluido sobe na tubulação. Isto deve ser
intuitivo, já que o fluido aumenta de velocidade ao longo da coluna. Logo, está sendo
acelerado.
Resumidamente, a tabela 3 mostra o que ocorre com cada componente da perda de
carga ao longo da tubulação. Observa-se que, conforme mostrado anteriormente no gráfico,
o gradiente de pressão total diminui à medida que o fluido caminha, porque a componente
gravitacional geralmente é a que tem maior efeito no escoamento vertical multifásico.

Componente da perda de
Efeito Por que?
carga
Gravitacional Diminui Maior volume de gás
Fricção Aumenta Velocidade aumenta
Aceleração Aumenta Variação da velocidade aumenta
TOTAL Diminui Gravidade é a mais importante

Tabela 3: alteração nas componentes da perda de carga à medida que o fluido


ascende na tubulação.

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No escoamento horizontal os mesmos efeitos podem ser observados, com


algumas modificações. A figura 28 mostra um típico perfil de pressão em escoamento
horizontal. Ao contrário do vertical, vê-se que o gradiente de pressão aumenta à medida que
o fluido caminha pela tubulação. Nesta situação a componente gravitacional da perda de
carga é nula, existindo apenas as componentes de fricção e aceleração. À medida que o
fluido percorre seu caminho, ocorre diminuição da pressão e conseqüentemente liberação
de parte do gás em solução, além da expansão do próprio gás livre. O aumento da
velocidade resultante causa o aumento do gradiente de pressão por fricção. O mesmo se dá
com a aceleração. Desta forma, o gradiente de pressão total é sempre crescente na direção
em que o fluido escoa. A título de comparação, se os fluidos fossem incompressíveis
(apenas óleo morto ou água, por exemplo) a curva apresentada na figura seria
praticamente reta, sem a concavidade que se observa.

Exercício:
No escoamento horizontal multifásico:
 (V) A pressão diminui na direção do escoamento
 (F) O gradiente de pressão diminui na direção do escoamento
 (F) A componente gravitacional da perda de carga aumenta na direção do escoamento
 (V) A componente de fricção da perda de carga aumenta na direção do escoamento
 (F) A componente de aceleração é nula na direção do escoamento.

No escoamento horizontal de água


 (F) A pressão aumenta na direção do escoamento
 (V) O gradiente de pressão é constante em qualquer ponto da tubulação
 (F) A componente de fricção da perda de carga aumenta na direção do escoamento
 (V) A componente de aceleração é nula na direção do escoamento.

No escoamento vertical multifásico ascendente:


 (V) A componente de fricção aumenta na direção do escoamento
 (F) A componente gravitacional aumenta na direção do escoamento
 (F) A pressão aumenta na direção do escoamento
 (F) O gradiente de pressão total (gravidade + fricção + aceleração) aumenta na direção do
escoamento.

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P crescente
Pressão

P
L
P
 pequeno
L

Perfil de
pressão L

P
P
 grande
L

Comprimento

Figura 28: perfil de pressão em escoamento multifásico horizontal.

Para ilustrar esses efeitos pode-se recorrer a um exemplo numérico. O caso exemplo
é um poço submarino em lâmina d’água de 1000 m. Tem profundidade de 2500 m em
relação ao nível do mar, sendo 1500 m de coluna, 1500 m de linha e mais 1000 m de riser,
conforme mostra a figura 29.

Figura 29: esquema de poço exemplo.

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A figura 30 mostra o perfil de pressão no sistema poço-linha-riser. A pressão de


reservatório é (ordenada zero) é 164 kgf/cm2; este valor decresce para 156 kgf/cm2 do
interior do reservatório até os canhoneados (ainda na ordenada zero). A pressão decresce
em direção à árvore de natal, onde atinge 57 kgf/cm2. Neste ponto inicia-se a linha de
produção e há uma mudança na inclinação da curva: ela se torna mais vertical, significando
que gradiente de pressão é menor. Ao final da linha, onde a pressão é de 52 kgf/cm2, inicia-
se o riser e novamente o perfil de pressão volta a ser mais inclinado; vale dizer, aumenta o
gradiente de pressão, chegando à superfície com a pressão de 10 kgf/cm2.

Plataforma

Base do
riser

Pressão Estática
de reservatório

Árvore
submarina Pressão de fundo
em fluxo

Fundo do
poço

Figura 30: perfil de pressão no poço exemplo. A ordenada zero corresponde ao


fundo do poço; a ordenada 1500 m à cabeça do poço (árvore de natal); a base do
riser está na ordenada 3000 m e em 4000 m está a plataforma de produção.

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Temos, então, que a perda de carga nos diversos trecho é a seguinte:


Reservatório: 164 – 156 = 8 kgf/cm2
Poço: 156 – 57 = 99 kgf/cm2
Linha: 57 – 52 = 5 kgf/cm2
Riser: 52 – 10 = 42 kgf/cm2

Exercício:
Com base nos valores de perda de carga abaixo, calcule o gradiente de pressão em cada
trecho.
Poço: = 99 kgf/cm2
Linha: = 5 kgf/cm2
Riser: = 42 kgf/cm2
Considere os seguintes comprimentos:
Poço: = 1500 m
Linha: = 1500 m
Riser: = 1000 m

Respostas
Poço:

P 99 kgf / cm 2
gradiente    0,066
L 1500 m
Linha:

P 5 kgf / cm 2
gradiente    0,0033
L 1500 m
Riser:

P 42 kgf / cm 2
gradiente    0,042
L 1000 m

Naturalmente, o perfil de pressão sofre direta influência dos parâmetros de produção,


tais como vazão, RGO, BSW, densidade do gás, grau API do óleo, viscosidades,
temperaturas, diâmetros de tubulação etc. Dentre estas, dois parâmetros particularmente
importantes são a RGO e o BSW por serem variáveis ao longo da vida produtiva do poço. A
figura 31 e a figura 32 apresentam exemplos de perfis de pressão para diferentes valores

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de razão gás-óleo e fração de água. Todas as curvas foram calculadas considerando uma
mesma vazão de líquido e pressão na superfície de 10 bara3.
Analisemos primeiramente o efeito da razão gás-óleo de produção. Nota-se que os
perfis de pressão no riser e no poço (escoamento vertical) são muito influenciados pela
RGO, sendo que valores mais altos deste parâmetro implicam em gradientes de pressão
menores (curvas mais verticais). A primeira curva, com RGO = 0, corresponde ao
escoamento monofásico de óleo. Naturalmente, os perfis de pressão são praticamente retas
(gradiente de pressão constante) em todos os trechos. Para RGO de 50 e 200 o gradiente
de pressão é progressivamente reduzido nos trechos verticais (poço e riser), ou seja, tem-se
menor P para um mesmo L. A explicação para isto é que, com valores de RGO mais
altos, a quantidade de gás livre escoando pelas tubulações causa uma diminuição do hold-
up, o que promove uma redução da massa específica média do fluido e, conseqüentemente,
a perda de carga por gravidade. Há, contudo, uma exceção: para o valor mais alto de RGO
(500 m3/m3) o gradiente de pressão se torna maior que para RGO = 200. Este efeito é
resultante do aumento da velocidade dos fluidos ao longo das tubulações, o que causa um
aumento da perda de carga por atrito. Embora a perda de carga por gravidade diminua,
como anteriormente, o aumento da perda por fricção é ainda maior, e o resultado líquido é
um aumento da perda de carga geral. Já no escoamento horizontal (linha) o efeito da RGO é
sempre o mesmo: piora o escoamento, ou seja, quanto maior a RGO maior o gradiente de
pressão e maior a perda de carga devido ao atrito nas paredes da tubulação. Note que, os
valores de pressão na linha não necessariamente são mais altos para RGO mais alta,
porque isto depende da perda de carga no riser, mas o gradiente de pressão, este sim, é
maior. Por exemplo, para RGO nula os valores de pressão na linha estão ao redor de 100
bar e o gradiente de pressão é muito pequeno (curva praticamente paralela ao eixo das
ordenadas); para RGO = 50 a pressão na linha é mais baixa – em torno de 64 bar – mas o
gradiente de pressão é mais pronunciado, o que se observa pela inclinação da curva.

3 bar é a unidade de pressão equivalente a 1.01325 atm. bara é a mesma unidade, porém faz referência a
pressão absoluta.
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Figura 31: poço exemplo. Sensibilidade do perfil de pressão à RGO da formação.

Figura 32: poço exemplo. Sensibilidade do perfil de pressão à fração de água (BSW ou WCUT).

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Vejamos agora o efeito da fração de água sobre o escoamento. Como se observa na


Figura 32 os maiores valores de BSW resultam em pressões de fundo mais altas; porém,
não necessariamente em gradientes de pressão mais alto. Tome-se como exemplo os
valores de BSW de 0 e 80%: nos trechos verticais o gradiente de pressão é maior para o
BSW de 80%; isto ocorre porque a água, por ser mais “pesada” (maior massa específica) do
que o óleo, aumenta o gradiente de pressão por gravidade. Já no trecho horizontal este
efeito (gravitacional) não existe, sendo a perda de carga gerada apenas por fricção.
Contudo, com atenção pode-se observar na figura que o gradiente de pressão (inclinação da
curva) no trecho horizontal é ligeiramente maior para o BSW nulo do que para 80%. Ou seja,
maior BSW gera menor perda de carga no escoamento horizontal. Este efeito é devido à
menor viscosidade da água, o que promove menor atrito entre o fluido e a parede da
tubulação.

5.6 – Curva de pressão requerida


Como visto anteriormente, a curva de pressão requerida é uma representação
gráfica da dependência entre a pressão no início da tubulação (fundo do poço) e da vazão
de líquido. Como exemplo, tome-se a série de perfis de pressão mostrados na figura 33.
Cada curva corresponde a uma vazão de líquido diferente, mas a todas correspondem os
mesmos valores de RGO e BSW.

Figura 33: poço exemplo. Perfis de pressão para diferentes valores de vazão de líquido. RGO

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e BSW constantes.

A cada valor de vazão de líquido corresponde uma pressão requerida no fundo do


poço. Tomando, portanto, os valores de vazão de líquido e a pressão na ordenada zero da
figura anterior, tem-se a relação entre pressão e vazão denominada curva de pressão
requerida (CPR), mostrada na figura 34. De modo similar ao que se observou no
escoamento monofásico, a pressão requerida, em geral, aumenta com a vazão, exceto para
vazões muito baixas4.

Figura 34: poço exemplo, curva de pressão requerida no fundo.

Da mesma forma que o perfil de pressão é alterado pelos parâmetros de produção,


também o é a curva de pressão requerida. A razão gás-óleo, a fração de água, o diâmetro
da coluna etc. têm grande efeito sobre as curvas e, às vezes, com tendências não muito
óbvias. A figura 35 e a figura 36 mostram as CPR em função de RGO e BSW,
respectivamente. Cabe observar que nem sempre um valor de RGO mais alto resulta em

4 Ao contrário do que ocorre com o escoamento monofásico, no multifásico, para vazões de líquido muito baixas,
a pressão requerida diminui com o aumento da vazão (trecho descendente da CPR). Isto ocorre em função do
pronunciado escorregamento entre fases que ocorre nestas vazões. Este efeito faz com que, em baixa
velocidade, o hold-up diminua rapidamente com o aumento da vazão, o que resulta na diminuição do gradiente
por gravidade, embora haja um aumento não muito significativo do gradiente por fricção.
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pressão de fundo mais baixa. No presente exemplo, a curva para RGO igual a 200 m3/m3 só
é mais baixa que a de 100 m3/m3 para vazões menores que 1240 m3/d.
Na literatura e entre os profissionais da área, as curvas de pressão requerida são
freqüentemente denominadas TPR, significando tubing performance relationship.

Figura 35: poço exemplo. Curva de pressão requerida no fundo do poço para diferentes
valores de RGO.

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Figura 36: poço exemplo. Curva de pressão requerida no fundo do poço para diferentes
valores de BSW.

Exercício

 (V) aumento da RGO pode causar aumento da pressão requerida


 (F) a pressão de fundo requerida é função somente da RGO e do BSW
 (V) aumento do BSW causa aumento do gradiente por gravidade
 (F) aumento da RGO sempre causa redução da pressão requerida
 (F) aumento do BSW causa aumento do gradiente por fricção
 (F) a pressão de fundo requerida é função somente da vazão de líquido

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6 Equilíbrio poço-reservatório

Até o momento dois conceitos fundamentais foram expostos: curva de pressão


requerida do poço (CPR ou TPR) e curva de pressão disponível do reservatório, esta
última também denominada CPD ou IPR. Estas duas relações estabelecem a dependência
de vazões em relação à pressão no fundo do poço.
Em termos práticos, a pressão no fundo e a vazão de um poço em produção são
determinados pela condição de equilíbrio em regime permanente. Esta condição exige
que, para uma dada vazão, a pressão que o poço exige para fazer fluir seja igual à pressão
para a qual o reservatório entregaria a vazão considerada. A figura 37 contém a curva de
pressão disponível do reservatório (CPD ou IPR) e a curva de pressão requerida do poço
(CPR ou TPR), para exemplificar o que foi dito. Admitindo-se inicialmente que o poço esteja
produzindo a vazão indicada pelo ponto A (aproximadamente 350 m3/d), observa-se que a
curva de pressão disponível mostra um valor mais alto de pressão que a curva de pressão
requerida, ou seja, o poço requer apenas 210 bara para fazer fluir esta vazão, mas o
reservatório entrega esta vazão com uma pressão de aproximadamente 228 bara. Já que o
poço exige apenas 210 bara, o reservatório tende a entregar uma vazão maior. É natural,
portanto, que a vazão de produção do poço seja maior que os 350 m3/d. Repetindo-se a
mesma análise para o ponto B (aproximadamente 850 m3/d) vê-se que a pressão requerida
(238 bara) é maior que a pressão disponível (205 bara). Logo, para 238 bara o reservatório
não consegue entregar 850 m3/d, mas apenas uma vazão menor.

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Figura 37: condição de equilíbrio.

O único ponto onde ambas as curvas coincidem é o ponto C, onde para uma mesma
vazão as pressões requerida e disponível são as mesmas. Assim, podemos dizer que o
ponto de equilíbrio deste poço corresponde a uma vazão de 600 m3/d e pressão de fundo de
222 bara.
Este conjunto de curvas de pressão disponível e requerida é o principal meio de se
determinar o ponto de equilíbrio de um poço. Além disso, o efeito de diversos parâmetros
sobre a produção pode facilmente ser visualizado num gráfico deste tipo. Foi visto em
figuras anteriores o efeito da RGO, BSW e diâmetro da coluna de produção sobre a curva
de pressão requerida. Logo, se estes parâmetros afetam a TPR, afetam também o ponto de
equilíbrio do sistema. Exemplificando este fato vê na figura 38 o efeito da RGO sobre a
produção do poço em questão. Cada uma das TPR foi traçada para diferentes valores de
RGO, resultando que sua interseção com a IPR ocorre em diferentes pontos do plano.
Esses pontos de interseção são justamente os pontos de operação, isto é, são os pares de
vazão e pressão de fundo em que o poço é capaz de produzir. Para cada valor de RGO
têm-se os seguintes valores aproximados de vazão de líquido:
RGO Vazão de líquido
130 580
200 770
300 800
500 760

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Figura 38: efeito da RGO sobre o ponto de equilíbrio.

Nota-se que o aumento de RGO de 130 para 200 promove um grande aumento de
vazão de líquido. De 200 para 300 resulta num aumento muito menos expressivo e,
finalmente o aumento de 300 para 500 resulta numa redução da vazão.
Outro efeito sempre presente durante a vida produtiva de um poço é o declínio
natural de vazão, conseqüência da gradual redução da pressão estática do reservatório.
Este efeito é mostrado na figura 39.

Figura 39: efeito do declínio da pressão estática sobre o ponto de equilíbrio.

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Como se observa neste caso, foram traçadas diversas curvas de pressão disponível
(CPD ou IPR), uma para cada valor de pressão estática. Todas as curvas têm a mesma
inclinação, significando que o índice de produtividade permaneceu inalterado nos três casos.
Estas curvas interceptam a TPR em diferentes pontos, resultando nas vazões de 730, 590 e
440 m3/d. Deve-se notar que isto é uma idealização do declínio de um poço, porque
admitimos que apenas a pressão estática muda com o tempo. De fato, ocorre na prática que
pressão estática, índice de produtividade, RGO, BSW, além de outras características dos
fluidos variam como o tempo e simultaneamente. Assim, o que se tem na prática é uma
sobreposição dos efeitos acima mencionados.
A determinação do ponto de equilíbrio, como apresentada acima, corresponde ao
ponto mais importante da elevação natural. É através desta abordagem que se determina a
vazão que um poço deve produzir, antes mesmo que ele seja completado, e quais os
valores de pressão esperados no fundo ou em outros pontos do sistema.

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7 Considerações Finais

A ELEVAÇÃO é um dos grandes tópicos da indústria do petróleo. Sua origem


remonta aos primeiros poços produtores do ocidente, há mais de um século. Operadores e
engenheiros atuando nos diversos segmentos da Exploração e Produção freqüentemente
recorrem aos conceitos elevação e escoamento de óleo, gás e água para compreender e
atuar sobre seus processos.

Pela sua relevância à boa formação da mão de obra e pela sua importância na
eficiência, segurança e economicidade da atividade de produção, este tema foi incluído no
Curso de Formação em Operações de Produção. Assim, este material foi elaborado para
abranger os conhecimentos essenciais do tema sem, contudo, abrir mão do rigor dos
conceitos. Repassar ao aprendiz os conceitos básicos da boa técnica é o objetivo deste
material que engloba basicamente três tópicos: elevação natural, elevação artificial por gas-
lift contínuo e elevação artificial por bombeio centrifugo submerso.

Muito do conhecimento e do trabalho de diversos profissionais da área está aqui


contido. Particularmente importantes foram os textos e apostilas produzidas pelos
engenheiros Sérgio Fonseca, Odair Santos e Marcelo Brennand, que em grande parte se
encontram aqui reproduzidas.

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8 Glossário

A|B|C|D|E|F|G|H|I|J|L|M|N|O|P|Q|R|S|T|V

A
API – American Petroleum Institute
ATM – unidade de medida de ppressão que corresponde a 1,033 kgf/cm2

B
Bara – Bar é a unidade de pressão equivalente a 1.01325 atm. bara é a mesma unidade,
porém faz referência a pressão absoluta.
B - fator volume de formação
BSW - percentagem de água e sedimentos

D
d - densidade (adimensional)
D - diâmetro da tubulação

F
f - fator de atrito de Fanning

G
Gregos
 - viscosidade
ρ - massa específica

H
Hold-up – fração (ou porcentagem) de líquido num determinado trecho da tubulação

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I
IP - índice de produtividade

L
L - comprimento de uma tubulação

N
NRe - número de Reinolds

P
P - pressão
Pe - pressão estática da formação
Pwf - pressão de fundo de poço em fluxo
Pwh - pressão na cabeça de poço em fluxo

Q
QL - vazão de óleo e água medidos em condições padrão.

R
RGL - razão gás-líquido
RGO - razão gás-óleo
Rs - razão de solubilidade do gás no líquido (óleo + água)
Rso - razão de solubilidade do gás no óleo
Rsw - razão de solubilidade do gás na água
Riser – segmento de linha ou tubulação entre leito marinho e a plataforma de produção

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S
Surge-tanque – vaso de separação de um planta de processo cuja pressão de opração é
pouco acima da pressão atmosférica.
Subscritos
d – dissolvido
g – gás
L – líquido
w – do inglês “water” - água
o – do inglês “oil” -óleo
sat- saturação

Superscritos
sc - do inglês standard conditions- condições padrão

T
T – temperatura

V
v - velocidade
V - volume

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9 Links Explicativos

Densidade – Em princípio, o gás, mesmo dissolvido na fase líquida, tem sua densidade
invariável, ou seja, sua identidade não se altera quer esteja na fase líquida ou gasosa.
Entretanto, há uma sofisticação do modelo que permite estabelecer uma diferença entre as
densidades do gás dissolvido na fase líquida e o gás livre. Este recurso, quando se acopla o
modelo black-oil a um conjunto de equações de conservação, deve ser utilizado com o
cuidado de não provocar erros nas equações de balanço de massa.
Energia – Quando se fala em gasto ou perda de energia, este termo deve ser tomado com
reservas. Isto porque, a rigor, na há perda ou consumo, mas transformação de um tipo de
energia em outro.
Fator de atrito de Fanning – coeficiente que relaciona a perda de carga numa tubulação com
a rugosidade de sua parede interna, com a velocidade do fluido e algumas outras
propriedades.
índice de produtividade - medida da “facilidade” com que o óleo escoa do interior do
reservatório para o poço: quanto maior o IP, mais facilmente ele escoa e,
conseqüentemente, menor a perda de carga.
Perda de carga - Diferença entre pressão estática e pressão de fundo em fluxo
Pressão estática - Mais precisamente, a pressão estática é característica de uma
determinada região do reservatório e pode apresentar valores diferentes para diferentes
regiões. Isto, porém, não será abordado aqui em detalhes.
Reológicas – propriedades reológicas são aquelas que definem a facilidade com que um
fluido se deforma sob ação de forças do escoamento. A principal propriedade reológica é a
viscosidade.
Termodinâmica – as propriedades termodinâmicas são aquelas próprias de uma substância
e são função essencialmente da pressão e temperatura. Por exemplo, a massa específica.
Vazões muito baixas - Ao contrário do que ocorre com o escoamento monofásico, no
multifásico, para vazões de líquido muito baixas, a pressão requerida diminui com o
aumento da vazão (trecho descendente da CPR). Isto ocorre em função do pronunciado
escorregamento entre fases que ocorre nestas vazões. Este efeito faz com que, em baixa

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10 Bibliografia

BENNETT, C.O. & MYERS, J.E. – Fenômenos de transporte. São Paulo, McGraw-Hill, 1978.
822p.

BLASIUS, H. (1913). Das Ähnlichkeitsgesetz bei Reibungsvorgängen in Flüssigkeiten,


Forschungs-Arbeit des Ingenieur-Wesens 131. (in German).

BRILL, J.P. & MUKHERJEE H. – Multiphase flow in wells. Richardson, Tx, Society of
Petroleum Engineers Inc., 1999. 156p.

DREW, T B , KOO, E C and MCADAMS, W H. (1932); The friction factor for clean round
pipes.

THOMAS, J.E. et alii – Fundamentos de engenharia de petróleo. Rio de Janeiro,


Ed.Interciência, 2001. 271p.

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