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PT recorre à rivalidade com PSDB, na contraofensiva para remover os riscos à

reeleição de Dilma

Contra o estrago do julgamento do mensalão, partido se escora nas realizações


sociais dos governos Lula e Dilma e no confronto com os oito anos de FHC

21/2/2013 - 02:13 - Antonio Machado

A pretexto de festejar 10 anos à frente do executivo federal, o PT deflagrou a


contraofensiva contra o estrago devido ao julgamento do mensalão no Supremo Tribunal
Federal, escorando-se nas realizações, em especial na área social, dos governos Lula e
Dilma Rousseff e no confronto de tais resultados com os oito anos de FHC e PSDB.

O plano envolve a realização de 13 seminários em algumas capitais, o primeiro dos quais,


em São Paulo, contou com a presença de Dilma, além do ex-presidente Lula, que estará
em todos. E a distribuição de cartilhas, com fotos de ambos na capa e uma penca de
ilustrações exaltando o modo petista de governar, apresentado como responsável por um
tempo “glorioso” e “desenvolvimentista”, em contraponto ao do PSDB, desancado como
um “período neoliberal” e “regressivo”.

O programa, na prática, antecipa a empreitada eleitoral de 2014 do PT, ancorando-se na


campanha à reeleição de Dilma, na volta de Lula aos palanques e em mais uma a duas
linhas de ação. A primeira, com Lula à frente, visa conter defecções de partidos da base
de apoio ao governo e a eventual candidatura de um de seus membros ilustres, o
governador de Pernambuco e líder do PSB, Eduardo Campos.

Habilidoso politicamente, bem avaliado no Nordeste, aprovado pelos pernambucanos


(eles elegeram um desconhecido, em primeiro turno, no Recife, desalojando o PT da
cidade, confiando só no padrinho), cada vez mais cortejado pelo empresariado, jovem,
neto de Miguel Arraes (um mito da esquerda brasileira), Campos pode não derrotar Dilma
em 2014, mas dará trabalho, como reconhecem dirigentes petistas, mesmo que concorra
apenas para fixar sua imagem para a eleição de 2018.

Lula, pernambucano de Garanhuns, facilitou a aprovação de grandes projetos


empresariais e de infraestrutura em Pernambuco, investindo em Campos inclusive como
opção a voos maiores. Ele lhe é grato, mas soube dissociar tal relação do PT. Visto como
expressão do lulismo, sem os ônus do PT, penalizado pela condenação de ex-dirigentes
pelo STF, Campos tem potencial para despontar como a evolução do petismo - algo que
Lula não pode fazer ou não viu necessidade.

Dessas contradições emerge a outra linha de ação: tirar a oposição representada pelo
PSDB da apatia, pichando-a de inimiga do povo. É o mesmo método vencedor nas
eleições de 2002, 2006 e 2010.

FHC reage com sarcasmo

Como estratégia política, parece competente, já que a área social é o que Lula, Dilma e o
PT têm de melhor. E é conveniente a todos.

Lula e Dilma ganham tempo à espera da decisão de Campos, enquanto preparam o


terreno para combatê-lo, se necessário. Campos também quer tempo para apreciar o
andamento da economia. Crescimento baixo e risco de inflação ameaçam a percepção de
bem-estar, sobretudo dos setores sociais sensíveis à renda e, hoje, mais simpáticos ao
PT.

Os tucanos talvez reclamem de o PT tirá-los do sossego, mas também são beneficiados


pela oportunidade de voltarem ao centro político. O ex-presidente Fernando Henrique
postou nota em seu site troçando o método petista de contrapor o que faz, já com dez
anos no poder, ao que ele fez tocado pela insolvência pública e hiperinflação. “Isso é
coisa de criança, parece picuinha”, escreveu.

Sem intenção de inovar

Ao contrário do que diz FHC, a cartilha petista, incrementada pelo marqueteiro do partido,
João Santana, nada tem de infantil, embora também revele a intenção de não ousar. O
proselitismo sustentado na denuncia de adversários reais ou supostos de um cenário
idealizado poupa o candidato de defender iniciativas que desagradem interesses
estabelecidos.

É mais fácil culpar o FMI, como se fazia no passado, a guerra cambial, como se faz
agora, e a “subordinação nacional aos desejos dos grandes detentores de riqueza
financeira e dos grupos geradores de divisas internacionais” à época de FHC, como se lê
na cartilha do PT. Sobre questões não resolvidas nos dez anos de Lula e Dilma,
especialmente a conciliação da expansão dos investimentos com o avanço social, temas
caros ao governo, nada foi dito.

Ruptura ou ponto final?

Há mais pedra lapidada no governo que a trivialidade trazida à luz pela cartilha do PT.

As mulheres assistidas pelo Bolsa Família, por exemplo, terão acesso a cursos
profissionalizantes, segundo projeto do Ministério da Educação. A promoção da
Eletrobras numa holding capitalizada e com direção sem vicio de nomeações políticas
voltou à pauta. Aguardam-se reformas a qualquer momento para fortalecer o mercado de
capitais.

O traço reformista do governo Dilma não tem espaço nas linhas programáticas do PT.
Talvez por ser considerado muito técnico. Mas talvez porque o PT ainda idealiza seus
governos de coalizão como meio de passagem para a ruptura sonhada na origem, não o
ponto final sujeito a melhorias.

É governo. E é oposição

As idiossincrasias entre o partido no poder e o governo que elegeu não fazem bem a
ninguém. O presidente se vê induzido a governar sem o partido na antessala, mas tenta
satisfazê-lo com nacos do poder, gerando acomodação e confrontos ao estilo do “fogo
amigo”, para não falar de coisas mais graves. O país também só tem a perder.

O malabarismo do governo nas concessões de serviços públicos, para não caracterizá-las


como privatização, ainda anátema ao PT, revelam constrangimentos mal resolvidos.
Tanto quanto o crédito subsidiado aos novos concessionários para compensar a
rentabilidade do negócio negada pela cobrança das tarifas. As contradições se avolumam.

Ainda agora, na discussão da nova Lei dos Portos, o braço sindical do PT, a CUT, decidiu
opor-se à reforma proposta pela presidente. É cômodo ser dublê de governo e oposição.
Só não o é para o país.

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