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A Questão Importante - John Wesley

"A Questão Importante"


John Wesley

'Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que
dará o homem em recompensa da sua alma?' (Mateus 16:26)

1. Existe uma observação célebre para este efeito (eu penso nas obras do Sr. Pascal),
que, se um homem de condição inferior fala de coisas mais nobres, como o que se
refere aos reis e reinos, não é fácil para ele encontrar expressões adequadas, já que
ele está tão pouco familiarizado com as coisas desta natureza; mas, se alguém da
real ascendência fala das coisas reais; do que concerne ao seu próprio reino, ou ao
reino de seu pai, sua linguagem será livre e fácil, uma vez que essas coisas são
familiares aos seus pensamentos. De igual maneira, se um mero habitante de seu
mundo terreno fala, concernente às coisas do reino de Deus, dificilmente ele será
capaz de encontrar expressões adequadas à grandeza do assunto. Mas, quando o Filho
de Deus fala das coisas mais sublimes, concernentes ao seu reino celeste, todo o seu
vocabulário é fácil e espontâneo; suas palavras naturais e simples; visto que,
conhecidas junto a Ele são todas essas coisas desde toda eternidade.
2. Quão fortemente este comentário é exemplificado, na passagem diante de nós! O
Filho de Deus, o grande Rei dos céus e terra, usa aqui das mais simples e mais fáceis
palavras: Mas quão sublimes e profundas são as coisas que ele expressa nelas!
Nenhum dos filhos dos homens pode concebê-las totalmente, até que, emergindo da
escuridão do mundo presente, ele se torne um habitante da eternidade.
3. Mas nós podemos conceber um pouco dessas coisas profundas, se nós
considerarmos:
I. Primeiro, o que está inserido naquela expressão: 'Um homem ganhar o mundo
todo'.
II. Em Segundo Lugar, o que está implícito em perder a sua própria alma: Nós
devemos então...
III. Em Terceiro Lugar, ver, sob uma luz mais forte, no que aproveita, aquele que
ganha o mundo, e perde a própria alma.
I
1. Primeiro, nós vamos considerar o que está inserido, em um homem ganhar o
mundo todo. Talvez, num primeiro momento, isto possa parecer a alguns, o
equivalente a conquistar o mundo todo. Mas não existe relação com isto, afinal: Na
verdade, ninguém que tenha nascido de uma mulher, pode conquistar o mundo todo;
mesmo que fosse apenas, porque a vida curta do homem não é suficiente para tão
fantástico empreendimento. Assim sendo, nenhum homem, alguma vez, conquistou a
metade; não, nem a décima parte do mundo. Mas o que quer que outros possam
fazer, não existe perigo que algum dos ouvintes de nosso Senhor tenha alguma
intenção disto. Em meio a todos os pecados da nação judaica, o desejo do Império
universal nunca foi encontrado. Mesmo em seus tempos mais prósperos, eles nunca
buscaram estender suas conquistas, além do rio Eufrates. E no tempo de nosso
Senhor, toda a ambição deles havia terminado. 'O cetro partiu de Judá'; e a Judéia
foi governada por um Procurador Romano, como uma extensão do Império Romano.
2. Fora isto, nós podemos encontrar um sentido mais fácil e natural da expressão. O
ganhar o mundo todo, pode propriamente significar, ganhar todos os prazeres que o
mundo pode dar. Por conseguinte, pode-se supor que o homem de quem falamos,
ganhou tudo o que irá gratificar seus sentidos. Em particular, tudo que pode
aumentar seu prazer do paladar; toda a distinção de carne e bebida: igualmente, o
que quer que possa gratificar o olfato e tato; tudo que ele possa desfrutar em comum
com seus camaradas brutos. Ele pode ter toda a plenitude e toda a variedade desses
objetos que o mundo pode dispor.
3. Nós podemos supor, mais além, que ele ganhou tudo o que gratifica 'o desejo dos
olhos'; o que quer que (através do sentido da visão, principalmente) transmita algum
prazer à imaginação. Os prazeres da imaginação surgem de três fontes: grandeza,
beleza e novidade. Assim sendo, nós nos certificamos, através de experiência, que
nossa imaginação é gratificada por avaliar objetos grandes, bonitos, assim como,
incomuns. Permita que ela seja rodeada, então, com as maiores, mais bonitas, e
mais novas coisas que podem ser encontradas em algum lugar. Porque tudo isto está
manifestadamente inserido no homem ganhar o mundo todo.
4. Mas existe também uma coisa implícita nisto, que os homens de espíritos mais
soberbos têm preferido, antes de todos os prazeres do sentido, e da imaginação,
colocados juntos; ou seja, a honra, glória e renome: "Virum volitare per ora" -
"Elevar-me às alturas, e conduzir meu vôo para a fama" (tradução de Dryden de uma
citação de Virgilio - Editor). Parece que, dificilmente, algum princípio, na mente
humana é de maior força do que isto. Ele triunfa sobre as mais fortes inclinações da
natureza, sobre todos os nossos apetites e afeições. Se Brutus verte o sangue de seus
filhos; se nós podemos ver um outro Brutus, a despeito de toda a obrigação possível,
desafiando toda a justiça e gratidão, adulando, enquanto ele golpeia seu amigo; se
um homem superior mesmo a estes, Paschal Paoli, desistiu do conforto, prazer, tudo
por uma vida de constante labuta, dor, e sobressalto; qual princípio poderia
estimulá-los: Eles poderiam falar do amor de seu país; mas isto nunca os teria levado
adiante, não tivesse sido também 'pela imensa sede de louvor'. Agora, o homem de
quem falamos, ganhou abundância disto: Ele é elogiado, se não, admirado, por todos
que estão à sua volta. Mais do que isto, seu nome segue adiante em terras distantes,
como se fosse, para os confins da terra.
5. Acrescente a isto, que ele ganhou abundância de riqueza; que não existe um fim
para seus tesouros; que ele ajuntou prata como pó, e ouro como as areias do mar.
Agora, quando um homem obteve todos esses prazeres, tudo que irá gratificar tanto
os sentidos, quanto a imaginação; quando ele conseguiu um nome honrado, e,
também ajuntou muitos tesouros por muitos anos; então, pode-se dizer que ele, em
um sentido simples e natural da palavra, 'ganhou o mundo todo'.
II
1. O próximo ponto que temos de considerar é o que está inserido em um homem
perder sua alma. Mas aqui nós desenhamos um panorama mais profundo, e temos a
necessidade de uma atenção mais firme. Porque é fácil calcular o que está inserido
em um homem 'ganhar o mundo todo'; mas não é fácil entender tudo que está
implícito em ele 'perder a sua alma'. De fato, ninguém pode calcular completamente
isto, até que ele tenha passado do tempo para a eternidade.
2. A primeira coisa que inegavelmente implica, é o perder todos os prazeres
presentes da religião; todos esses que se permite aos homens verdadeiramente
religiosos, mesmo, na vida presente. 'Se existe algum Cristo consolador; algum
conforto de amor', -- no amor de Deus, e de toda humanidade; se existe alguma
'alegria no Espírito Santo'; se existe uma paz de Deus, -- uma paz que ultrapassa todo
entendimento; se existe algum se regozijar, no testemunho da boa consciência, em
direção a Deus; pode-se afirmar que, tudo isto, está totalmente perdido, através do
homem que perde sua alma.
3. Mas a vida presente logo chegará ao fim: Nós sabemos que ela desaparece como
uma sombra. A hora é chegada, quando o espírito será convocado para retornar para
Deus, que o deu. Naquele momento terrível, deixando o antigo, ambos os mundos,
imediatamente eles visualizam, quem se situa no limiar do novo. E, quer olhe para
trás ou para frente, quão prazerosa é a perspectiva para aquele que salva a sua
alma! Se ele olha para trás, ele tem 'a calma lembrança da vida que ele viveu bem'.
Se ele olha para frente, existe uma herança incorruptível, inviolável, e que não
desaparece; e ele vê a escolta de anjos pronta para levá-lo ao seio de Abrão. Mas
como é isto, naquela hora solene, para o homem que perde sua alma? Ele olha para
trás? Que conforto existe nisto? Ele nada vê, a não ser cenas de horror, motivo de
vergonha, remorso e autocondenação; uma antecipação do 'verme que nunca morre'.
Se ele olha adiante, o que ele vê? Nenhuma alegria, nenhuma paz! Nenhum vislumbre
da esperança de algum ponto do céu! Alguns anos antes, alguém que retrocedeu,
como um cão volta para seu vômito foi golpeado, em sua meio carreira de pecado.
Um amigo, visitando-o, orou: 'Senhor tenha misericórdia desses que estão para
deixarem o corpo, e não sabem o que deverá encontrá-los, em sua entrada no outro
mundo, um anjo, ou um demônio'. O homem moribundo emitiu um grito perfurante:
'Um demônio! Um demônio', e morreu. Tal fim, a menos que ele morra como um boi,
pode esperar qualquer homem que tenha perdido sua alma.
4. Mas em que condição está o espírito de um homem bom, em sua entrada para a
eternidade? Veja, uma escolta o recebe; o anfitrião representante dos amigos
invisíveis. Eles recebem o espírito recém-nascido, e o conduzem a salvo para o seio
de Abrão; para os deleites do Paraíso; os jardins de Deus, onde a luz de seu
semblante brilha perpetuamente. Um, dos milhares de encargos desta antecâmara do
céu, é que, 'o pecaminoso cesse de agitar-se; e o cansado, encontre repouso'. Porque
lá, eles têm inúmeras fontes de felicidade que eles não poderiam ter na terra. Lá
eles se encontram com 'os mortos gloriosos dos tempos antigos'. Eles conversam com
Adão, o primeiro dos homens; com Noé, o primeiro do novo mundo; com Abraão, o
amigo de Deus; com Moisés e os Profetas; com os Apóstolos do Cordeiro; com os
santos de todas as épocas; e, acima de tudo, eles estão com Cristo.
5. Mas, meu Deus! Quão diferente é o caso daquele que perde sua alma! No momento
em que ele pisa na eternidade, ele se encontra com o diabo e seus anjos. Triste
escolta até o mundo dos espíritos! Triste garantida do que está para chegar! Quer ele
seja limitado pelas algemas da escuridão, e reservado para o julgamento do grande
dia; ou, na melhor das hipóteses, perambule, para cima e para baixo, buscando
descanso sem encontrar algum. Onde toda a natureza se estende em ruínas. E possui
seu soberano, a morte! Pouco conforto ele pode encontrar aqui, uma vez que tudo
contribui para aumentar, e não para remover a expectativa terrível da indignação
causticante, que irá devorar o descrente.
6. Porque, mesmo isto é para ele, a não ser o começo das tristezas. Mesmo que por
pouco tempo, e ele veja 'o grande trono branco vindo do céu, e o que está sentado
nele, de cuja face os céus e terra fogem, e não exista lugar para eles'. E 'o morto -
pequeno e grande - será julgado, diante de Deus, segundo as suas obras'. 'Então, o
Rei dirá a eles, em seu trono à direita', (Deus concedeu que eu pudesse assim dizer a
vocês!) 'Venham, vocês que são abençoados de meu pai, herdeiros do reino,
preparado para vocês, desde a fundação do mundo'. E os anjos deverão afinar suas
harpas e cantar: 'Ergam suas cabeceiras, Ó, vocês, portões; e ergam-se, vocês, portas
eternas, para que os herdeiros da glória possam entrar'. E, então, eles poderão
'brilhar como o brilho do firmamento, e como as estrelas para todo o sempre'.

7. Quão diferente, será a sorte daquele que perde a sua alma! Nenhuma sentença
agradável será pronunciada sobre ele, mas alguma que irá perfurá-lo com
inexprimível horror: (Deus proíbe que mesmo isto possa ser proferido a qualquer um
de vocês que esteja aqui diante de Deus!) 'Afastem-se, vocês, miseráveis, para o fogo
eterno, preparado para o diabo e seus anjos!'. E quem poderá duvidar, que esses
espíritos infernais irão executar imediatamente a sentença; irão instantaneamente
arrastar esses desamparados de Deus, para seu lugar de tormento! Nessas regiões de
tristeza; e sombras dolorosas, onde a paz e o descanso nunca habitam! Esperança
nunca chega; é o que resta para todos os filhos dos homens que estão deste lado da
eternidade. Mas não para eles: o abismo está agora fixado, e sobre o qual eles não
podem passar. Do momento em que eles forem, imediatamente, mergulhados no lago
de fogo, queimando com enxofre, seus tormentos não serão apenas sem intermissão,
mas, igualmente, não terão fim. Porque 'eles não terão descanso, dia ou noite; mas a
fumaça de seu tormento ascenderá para todo o sempre'.
III
Junto a este panorama, sempre tão superficial, qualquer um poderia ficar pasmo,
que um homem, uma criatura dotada de raciocínio, pudesse voluntariamente
escolher - e eu digo que escolhe, -- porque Deus não obriga homem algum a uma
condenação inevitável; ele nunca destinou uma alma por nascer, ao inferno. Ou
condenou alguém, desde o útero de sua mãe, a que pudesse, assim, perder sua alma,
ainda que fosse para ganhar o mundo todo! No que um homem deverá ter proveito
nisto, ao final das contas? Para diminuir um pouco nosso espanto, diante disto,
permita-nos observar as suposições que um homem geralmente faz, antes que ele
possa reconciliar-se para esta escolha fatal.
1. Ele supõe, primeiro, que 'uma vida de religião é uma vida de miséria'. Que religião
é miséria! Como é possível que alguém possa ter tal estranho pensamento? Algum de
vocês poderia imaginar isto? Se você pode, a razão é clara: você não sabe o que é a
religião. 'Não! Mas eu sei, tanto quanto você! - Então, do que ela se trata? 'Trata-se
de não causar mal algum a alguém'. Não precisamente; muitos pássaros e animais não
causam dano algum, e, ainda assim, não têm religião. 'Então, é ir à igreja e praticar
os sacramentos'. Na verdade, não é. Isto pode ser uma ajuda excelente para a
religião; e quem quer que deseje salvar sua alma deve atendê-los, em todas as
oportunidades; mas, mesmo que seja possível que você possa atendê-los todos os
seus dias, ainda assim, não terá religião, afinal. Religião é uma coisa mais sublime e
mais profunda do que qualquer ordenança exterior.
2. O que é religião, então? Fica fácil responder, se nós consultarmos os oráculos de
Deus. De acordo com esses ela se estende em um ponto singular; não é nem mais,
nem menos do que o amor; é o amor que 'é o cumprimento da lei, a finalidade do
mandamento'. Religião é o amor de Deus e nosso próximo; ou seja, de todo homem
debaixo do céu. Este amor, dirigindo toda a vida, animando todos os nossos
temperamentos e paixões, direcionando todos os nossos pensamentos, palavras, e
ações, é 'a religião pura e imaculada'.
3. Agora, alguém será tão duro, a ponto de dizer que amor é miséria? É miséria amar
a Deus? Dar a Ele meu coração, que é o único merecedor dele? Mais do que isto, ele é
a felicidade maior; de fato, a única felicidade verdadeira, encontrada debaixo do
sol. Assim, toda a experiência prova a justeza daquela reflexão que foi feita há
muitos anos: 'Tu nos tem feito para Ti mesmo; e nossos corações não podem
descansar, até que descansem em Ti'. Ou alguém pode imaginar que amar nosso
próximo é miséria. Mesmo o amar cada homem, como sua própria alma? Longe disto é
que, depois do amor de Deus, isto proporciona a felicidade maior de que somos
capazes. Portanto, não permita que o estóico elogie sua mente impassível; o filósofo
bruto que nunca provou a alegria do amor, ou de ser amado. (Estóico vem de
estoicismo, um sistema filosófico. Seu fundador, o grego de Chipre, Zenão de Cítio -
342-270 AC - aconselhava a indiferença e o desprezo pelos males físicos e morais-
editor).
4. Tanto quanto todo homem razoável deva permitir. Mas ele pode objetar: 'Existe
muito mais do que isto na religião. Isto implica não apenas o amor de Deus e homem
(contra o que não tenho objeção alguma), mas também uma grande concordância em
fazer e sofrer. E como isto pode ser consistente com felicidade?'.
Existe certamente alguma verdade nesta objeção. Religião implica ambos o fazer e o
sofrer. Vamos, então, considerar calmamente, se isto diminui ou aumenta nossa
felicidade.
Religião implica, primeiro, o fazer muitas coisas. Porque o amor de Deus irá
naturalmente nos conduzir, em todas as oportunidades, a conversar com Ele que
amamos; a falar Dele em público ou em oração privada; e a ouvir as palavras de sua
boca que 'são mais caras a nós, do que milhares de ouro e prata'. Ela nos inclinará a
não perdermos oportunidade alguma de recebermos os memoriais preciosos de nosso
Senhor agonizante, para continuarmos, de imediato, em ação de graças; e de manhã,
à tarde, e ao meio dia, louvarmos a Ele. Mas suponha que façamos dessa forma; será
que isto significará diminuir nossa felicidade? Exatamente o contrário. É claro que
todos esses frutos do amor são meios de aumentar o amor do qual eles se originam;
e, em conseqüência, aumentar nossa felicidade na mesma proporção. Quem, então,
não tomaria parte neste desejo?
Subindo aos céus para cantar um louvor ao meu Senhor.
Que o teu louvor eu possa proclamar o dia todo.
E que tuas palavras preciosas da graça,
fluam de meu coração,
e preencham minha língua;
preencham minha vida, com o mais puro amor,
e que eu seja um só, com tua igreja acima!

5. Deve-se admitir também, que como o amor a Deus, naturalmente conduz às obras
de devoção; então, o amor ao nosso próximo, naturalmente conduz todos os que o
sentem às obras de misericórdia. Ele nos inclina a alimentar o faminto; a vestir o nu;
a visitar aqueles que estão doentes, ou na prisão; a sermos como os olhos do cego, e
os pés do aleijado; um marido para a viúva; um pai para o órfão. Mas, você pode
supor que o fazer isto irá impedir ou diminuir sua felicidade? Sim, embora você
fizesse tanto, como para ser um anjo guardião, para todos os que estão a sua volta?
Do contrário, é uma verdade infalível que todas as alegrias do mundo são menores do
que uma só alegria em fazer o bem. Um homem, que usufrui prazerosamente da
vida, foi questionado, alguns anos atrás: 'Capitão, qual o maior prazer que você
alguma vez teve?'. Depois de uma pequena pausa, ele respondeu: 'Quando estávamos
em nossa marcha para a Irlanda, em um dia muito quente, eu parei em uma
choupana na estrada e pedi um pouco de água. Uma mulher trouxe-me um copo de
leite. Eu dei a ela uma peça de prata; e a alegria que aquela pobre criatura
expressou, deu-me o maior prazer que eu tive em minha vida'. Agora, se fazer o bem
deu tanto prazer a alguém que agiu meramente de uma generosidade natural, quanto
mais ele deve dar a alguém que faz isto por um princípio mais nobre, -- unir o amor
de Deus e seu próximo! Permanece que o fazer tudo o que a religião requer, não irá
diminuir, mas aumentar consideravelmente nossa felicidade.
6. 'Talvez, isto também possa ser permitido. Mas religião implica, de acordo com o
relato cristão, não apenas fazer, mas sofrer. E como o sofrer pode ser consistente
com a felicidade?'. Perfeitamente bem. Foi observado por Chrysostom, muitos séculos
atrás, que 'O cristão tem suas tristezas, assim como suas alegrias: Mas sua tristeza é
mais doce do que a alegria'. Ele pode acidentalmente sofrer perda, pobreza, dor:
Mas, em todas essas coisas, ele é mais que vencedor. Ele pode testificar que o
trabalho é descanso, e a dor é doce, enquanto tu meu Deus estás aqui. Ele pode
dizer: 'O Senhor me deu; o Senhor tira: Abençoado seja o nome do Senhor!'. Ele deve
sofrer, mais ou menos, reprovação: Porque 'o servo não está acima de seu Senhor':
Mas quanto mais sofre, mais 'o Espírito da glória e de Deus está sobre ele'. Sim, o
próprio amor irá, em diversas ocasiões, ser a fonte de sofrimento: O amor a Deus
freqüentemente produz a dor prazerosa, o enternecer de corações quebrantados. E o
amor ao nosso próximo dará oportunidade à tristeza solidária: ele irá nos conduzir a
visitar o órfão e a viúva em suas aflições; a estarmos ternamente preocupados, por
causa do angustiado, e 'a unir nossas lágrimas compassivas com esses que
murmuram'. Mas nós não podemos bem dizer, que estas são 'as lágrimas que se
regozijam, e almejam aquele chamado para o céu?'. Tanto longe, então, estão todos
aqueles sofrimentos, de impedirem, assim como diminuírem nossa felicidade, que
eles grandemente contribuem para isto, e, de fato, não constituem parte
insignificante nela. Assim sendo, do todo, não pode existir uma suposição mais falsa,
do que a vida a religião é a vida da miséria; vendo-se que a verdadeira religião, se
considerada, em sua natureza, ou em seus frutos, é a felicidade verdadeira e sólida.
7. O homem que escolhe ganhar o mundo, perdendo a sua alma, supõe, em Segundo
Lugar, que a 'vida da pecaminosidade é a vida da felicidade!'. Que a maldade é a
felicidade! Mesmo um poeta pagão poderia tê-lo ensinado melhor. Mesmo Juvenal
descobriu que 'nenhum homem perverso é feliz'. E quão expressamente o próprio
Deus declara: 'Não existe paz no pecaminoso'. Nenhuma paz de mente: e, sem ela,
não pode existir felicidade. Mas para não nos aproveitamos da autoridade, vamos
pesar as coisas na balança da razão. Eu pergunto: O que pode tornar um homem
pecaminoso feliz?'. Você responde: 'Ele ganhar o mundo'. Nós admitimos isto; mas o
que isto implica? Que ele ganhou tudo que gratifica os sentidos: Em particular, tudo
que pode agradar o paladar; todas as iguarias de alimento e bebida. Verdade; mas
podem o comer e beber tornar um homem feliz? Eles ainda não fizeram isto: E é
certo que nunca farão. Trata-se de um alimento muito rude para um espírito imortal.
Mas suponha que eles dêem a ele uma forma de felicidade pobre, durante esses
momentos, em que ele está se servindo deles; o que ele fará com o resíduo de seu
tempo? Ele não irá enfastiá-lo? Ele não irá suspirar, nas muitas horas tediosas, e
pensar que o tempo de vôo rápido passa tão devagar? Se ele não estiver totalmente
ocupado, ele não irá freqüentemente queixar-se da falta de disposição? Uma
expressão inexpressiva: que o médico infeliz, usualmente, não entenderá mais do
que seu infeliz paciente. Nós sabemos que existem tais coisas como enfermidades
nervosas. Mas nós sabemos, igualmente, que o que é comumente chamado de
esgotamento nervoso, é uma reprovação secreta de Deus, uma espécie de
consciência de que nós não estamos em nosso lugar; que nós não somos o que Deus
gostaria que fôssemos: que nós estamos fora de nosso centro.
8. Para remover, ou, pelo menos, suavizar esta estranha inquietação, permita a ele
acrescentar os prazeres da imaginação. Permita que ele se enfeite exageradamente,
com prata e ouro, e adorne a si mesmo, com todas as cores do arco-íris. Que ele
construa esplêndidos palácios, e os mobílie da maneira mais elegante e cara. Que ele
disponha passeios e jardins, embelezados com tudo o que a natureza e a arte podem
oferecer. E por quanto tempo essas coisas darão a ele prazer? Apenas, por quanto
tempo elas estiverem novas. Tão logo a novidade passe, o prazer vai embora
também. Depois de observá-los, durante alguns poucos meses, ou anos, eles não
darão a ele mais satisfação. O homem que está salvando a sua alma tem vantagem
sobre ele, neste aspecto, porque ele pode dizer:
Nos prazeres, o homem rico dispõe suas posses,
Sem qualquer inveja, eu recuso minha parte;
Enquanto que cada objeto formoso,
Que meus olhos observam,
Contribuem para alegrar meu coração.
9. 'De qualquer modo, ele tem, ainda assim, um outro recurso: Aplauso, e glória. E
isto não irá fazê-lo feliz?'. Não irá: porque ele não pode ser aplaudido por todos os
homens: Nenhum homem alguma fez o foi. Alguns irão elogiá-los; talvez, muitos; mas
não todos. É certo que alguns irão acusá-lo: E ele que é apaixonado por aplausos, irá
sentir mais dor da censura de um, do que do aplauso de muitos. De maneira que,
quem quer que busque felicidade no aplauso, irá infalivelmente ficar desapontado, e
irá encontrar, em todo o caso, abundantemente mais dor do que prazer.
10. Mas, para trazer o assunto, para uma questão resumida, vamos tomar o exemplo
de alguém que ganhou mais deste mundo, do que provavelmente qualquer outro
homem, que agora vive, a menos que ele seja um príncipe soberano. Mas tudo o que
ele ganhou o fez feliz? Responda por você mesmo! Então, disse Haman, Ainda assim,
'tudo isto vale nada, enquanto eu vejo Mordecai sentado no portão'. Pobre homem!
Um temperamento pecaminoso: quer fosse orgulho, inveja, ciúme, ou revanche, deu
a ele mais dor, muito mais tormento de espírito, do que todo o mundo deu a ele em
prazer. E assim deve ser, na natureza das coisas; porque todos os temperamentos
pecaminosos são temperamentos infelizes. A ambição, a cobiça, a vaidade, a afeição
excessiva, a malícia, os espíritos vingativos, estes carregam sua própria punição com
eles, e castigam a si mesmos, na alma onde eles habitam. De fato, o que são estes,
mais especialmente, se combinados com uma consciência desperta, a não ser os cães
do inferno, já corroendo a alma, proibindo a felicidade de se aproximar? Até mesmos
os pagãos não vêem isto? O que mais significa a fábula de Tityus, preso a uma pedra,
com um abutre continuamente rasgando seu peito, e alimentando-se de seu fígado?
'Do que você ri?' - diz o poeta: 'É um outro nome; mas tu és o homem!'. A luxúria, os
desejos tolos, a cobiça, a malícia, ou a ira, agora rasgam teu peito: o amor ao
dinheiro, ou ao prazer, o ódio ou a vingança, estão agora alimentando teu pobre
espírito. Tal felicidade é uma imoralidade! Tão vã é a suposição de que a vida do
pecaminoso é a vida de felicidade!
11. Mas ele faz uma Terceira suposição: -- Que ele certamente viva quarenta,
cinqüenta, ou sessenta anos. Você confia nisto? Viver sessenta anos? Quem disse a
você que você poderia? Não é outro, se não o inimigo de Deus e do homem: é o
assassino das almas. Não acredite nele; ele é um mentiroso desde o início; desde o
início de sua rebelião contra Deus. Ele é eminentemente um mentiroso nisto: Porque
ele não lhe daria vida, se ele pudesse: O fôlego do homem não está em suas mãos.
Fosse Deus permitir, ele faria certamente o trabalho, e agora estaria apressando
você para o próprio lugar dele. Mas ele não daria vida a você, se ele pudesse: O
fôlego do homem não está em suas mãos. Não é ele quem dispõe da vida e morte:
Este poder pertence ao Altíssimo. É possível, certamente, que Deus possa, em
algumas ocasiões, permitir a ele, infligir morte. Eu não sei, mas foi um anjo do mal
que golpeou cento e oitenta e cinco mil Assírios em uma noite. Mas embora Satanás
possa algumas vezes infligir morte, eu não sei se ele poderia dar vida. Foi um dos
seus mais fiéis servos, que gritou alguns anos atrás: 'Uma semana de vida! Uma
semana de vida! Trinta mil libras por uma semana de vida!'. Mas ele não pode
comprar um dia de vida. Naquela noite, Deus requereu sua alma dele! Você está
certo de viver um ano, um mês, uma semana, um dia? Ó apresse-se para viver!
Certamente, o homem que pode morrer esta noite, pode viver hoje.
12. Absurdas, então, são todas as suposições feitas através daquele que ganha o
mundo e perde sua alma. Mas permita-nos imaginar, por um momento, que a
pecaminosidade é felicidade; e que ele deverá certamente viver sessenta anos; eu
ainda perguntaria: que proveito ele tem, se ganhar o mundo todo, por sessenta anos,
e, então, perder sua alma eternamente? Pode tal escolha ser feita, através de
alguém que pondera a respeito da eternidade? Philip Melanchthon, o mais ilustre de
todos os Reformados alemães, deu a seguinte narração: (Eu não faço qualquer
julgamento quanto a isto, mas coloco, proximamente em suas palavras):
"Quando eu estive, em Wirtemberg, caminhando com alguns de meus colegas
estudantes, em uma tarde de verão, ouvimos uma música singular, e seguimos o som,
e vimos um pássaro de um aspecto incomum. Alguém parou diante dele e perguntou:
em nome do Pai, Filho, e Espírito Santo, o que és tu?'. Ele respondeu, 'Eu sou um
espírito condenado'; e, desaparecendo, diante dos olhos, pronunciou estas palavras:
'Ó, Eternidade, Eternidade! Quem pode dizer o comprimento da Eternidade?".
13. De que maneira notável, isto é ilustrado por um dos antepassados! "Supondo-se
que existe uma esfera de areia, tão grande como toda a terra. Supondo-se que um
grão desta seja desperdiçado em mil de anos: o que seria mais desejável, - sermos
felizes, enquanto esta bola fosse definhando, na proporção de um grão, em mil anos,
e miseráveis para sempre, ou sermos miseráveis, enquanto definhando naquela
proporção, e felizes para sempre?". É certo que, um homem sábio, não hesitaria, um
momento, diante da escolha; vendo todo o tempo, em que esta esfera estaria
desperdiçando, carregando infinitamente menos proporção para a eternidade, do que
uma gota de água para todo o oceano, ou um grão de areia para toda a magnitude.
Admitindo-se, então, que a vida da religião fosse a vida da miséria; que a vida da
pecaminosidade fosse a vida da felicidade; e, que a um homem fosse afiançado
desfrutar daquela felicidade, por um período de sessenta anos; ainda assim, que
proveito ele teria, se ele fosse, então, miserável para toda a eternidade?
14. Mas tem sido provado que o caso é completamente o contrário, que a religião é
felicidade, que a maldade é miséria; e que nenhum homem está seguro de viver
sessenta anos: e, se for assim, existe algum tolo; algum maluco debaixo do céu, que
possa ser comparado àquele que joga fora sua alma, ainda que ele ganhasse o mundo
todo? Porque qual é o estado real deste caso? Qual é a escolha que Deus propõe para
suas criaturas? Não é esta, 'Vocês serão felizes, sessenta anos, e, então, miseráveis
para sempre; ou, vocês serão miseráveis, sessenta anos, e, então, felizes para
sempre?'. Não se trata desta, 'Vocês terão primeiro um céu temporário, e, então um
inferno eterno; ou, vocês terão, primeiro, um inferno temporário, e, então, o céu
eterno? Mas é simplesmente esta, 'Vocês serão miseráveis sessenta anos, e miseráveis
para sempre; ou, vocês serão felizes sessenta anos, e felizes para sempre? Vocês
terão um antegosto do céu agora, e, então, céu para sempre; ou vocês terão um
antegosto do inferno agora, e, então, inferno para sempre? Vocês terão dois céus, ou
dois infernos?'.
15. Alguém poderia pensar que não é preciso grande sagacidade, para responder esta
questão. E esta é a mesma questão, que eu agora proponho a vocês, no nome de
Deus. Vocês serão felizes aqui, e no futuro; no mundo que existe agora, e no que
virá? Ou vocês serão miseráveis aqui, e no futuro; no tempo e na eternidade? Qual é
a sua escolha? Que não haja demora: escolham uma, ou outra! Para registrar este
dia, eu disponho céu e terra, diante de vocês; vida e morte, bênção e maldição.
(Deuteronômio 11:26) 'Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição' Ó,
escolham a vida! A vida da paz e amor, agora; a vida da glória para sempre! Através
da graça de Deus; escolham, vocês, a melhor parte, que nunca deverá lhes ser
tirada! E, tendo, uma vez, fixado suas escolhas, nunca voltem atrás; sejam fiéis a
elas, em todos os eventos! Sigam, no nome do Senhor, a quem vocês escolheram, e
no poder de sua força! A despeito de toda oposição da natureza, do mundo, de todos
os poderes das trevas, ainda lutem a boa luta da fé, e garantam a vida eterna! E,
então, estará reservada para vocês uma coroa, que o Senhor, o justo Juiz, irá lhes
dar naquele dia!

(Editado por Brian Bartlow, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID),
com correções por George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.
Tradutor: garimpeirogospel@gmail.com - algumas correções por Nelson Galvão)

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